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o CULTIVO DA RAZÃO DIVERSA Marilina Conceição O. Bessa Sena PINTO I "Aq/l(:les ali eram. COIII í'féilO, os amigos hOJ/d, ISO.\'. se ajlldalldo 1I11.\' (lO.\' olllro.\' CO!ll sinceridade !lOS ohsl!CfIlÍo,l' e arriscada.\' garanlias. mes!IIo ni/o re/úgulldo (/ s(lcn/idos para .1 ocorro.\' ..\las. lIofalo, jlor 1I1gl/l11(/ ordem !7o!ífica. de .Ie dar tilg() L'Ol1lru () de.lulIlparo dL' 1/111 urraiul. dL' ol/tra gell/e, gel/re L'!)/I/(} /lfís, com madrinhCl.l e lIIae,1 .. eles lIc!W\'(1I11 (/II('sr!l(l lIulllrul, l/III.' podiwl/ ir salienteI/lente CIIII/pr;r por ohediênl'ia salldúl'('le regra dc se hCII/ () horror iI 111.' lIIe deli () sef/hor IIIC elllendc') Eu fillha medo do hO!llc'l11 hllmal/o" Il1U/lIIUrúes Rosa. Gral/de 5;erl</o. rí:reda\'} Resumo: O texto discute o problema da diversidade cultural e da intolerância como resultado da tàlsa antinomia entre identidade e diferença. Propõe ainda um diálogo entre o pensamento cientítico e outras t(}rmas de cognição. como um exercício de reJigação dos saberes. Palauas-cha\'e: di\'Crsidade cultural: intolerúncia: ciência: mito A mudança nos paradigmas que sustentavam a COSl1lo\isão do chamado mundo ocidental. que teve início por \'olta do s0nllo XVI e cuja ressonância ainda podemos sentir em pleno século XXI. criou no\'os campos de I Graduada em FilosofIa pela Universidade Federal do Amazonas. Mestrado em Filosofia do Conhecimento pela Universidade do Porto ·Portugal. Doutoranda em Antropologia Social pela PUCSP. . .IUIl :;005 7

e · f\las atinaI. em que consiste esse Icnômeno denominado de cultura') ... i instrumento de combate contra o etnocentrismo. por outro. diluiu as variações

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o CULTIVO DA RAZAtildeO DIVERSA

Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena PINTO I

Aql(les ali eram COIII iacutefeacuteilO os amigos hOJd ISO se ajlldalldo 1I11 (lO olllro COll sinceridade lOS

ohslCfIlIacuteol e arriscada garanlias mesIIo nio

reuacutegulldo ( s(lcnidos para 1 ocorrolas lIofalo

jlor 1I1gll11( ordem 7oiacutefica de Ie dar tilg() LOl1lru ()

delulIlparo dL 1111 urraiul dL oltra gelle gelre L)I(

lfiacutes com madrinhCll e lIIae1 eles lIcW(1I11 (II(srl(l

lIulllrul lIII podiwl ir salienteIlente CIIIIprr por ohediecircnlia sallduacutel(le regra dc se (spegll~(r hCII

() horror iI 111 lIIe deli () sefhor IIIC elllendc) Eu fillha

medo do hOllcl11 hllmalo Il1UlIIUruacutees Rosa Gralde

5erllto riacutereda

Resumo O texto discute o problema da diversidade cultural e da intoleracircncia

como resultado da tagravelsa antinomia entre identidade e diferenccedila Propotildee ainda

um diaacutelogo entre o pensamento cientiacutetico e outras t(rmas de cogniccedilatildeo como um

exerciacutecio de reJigaccedilatildeo dos saberes

Palauas-chae diCrsidade cultural intoleruacutencia ciecircncia mito

A mudanccedila nos paradigmas que sustentavam a COSl1loisatildeo do

chamado mundo ocidental que teve iniacutecio por olta do s0nllo XVI e cuja

ressonacircncia ainda podemos sentir em pleno seacuteculo XXI criou noos campos de

I Graduada em FilosofIa pela Universidade Federal do Amazonas Mestrado em Filosofia do Conhecimento pela Universidade do Porto middotPortugal Doutoranda em Antropologia Social

pela PUCSP

IUIl 005 7

inteligibilidade em funccedilatildeo das descobertas que na eacutepoca marcaram sobretudo

a civilizaccedilatildeo europeacuteia Dentre os fatos que provocaram mudanccedilas profundas

podemos citar o movimento das grandes navegaccedilotildees cuja consequumlecircncia imediata

foi colocar o problema da alteridade

Desta forma a modernidade histoacuterica t(uacute inaugurada trazendo em

si questotildees paradoxais Se por um lado a descoberta de novos continentes

eshoccedilava o projeto de um futuro promissor com a exploraccedilatildeo da natureza

ahundante que ora se apresentava por outro lado a cultura do outro descoherta

a pm1ir do contato com outras formas de coletividade foi igualmente um tato

impactante e perturhador A dicotomia construiacuteda a partir dos conceitos de

natureza e cultura e que vecircm sendo trahalhada pela ciecircncia foi colocada na

pauta das discussotildees que nortearam as mudanccedilas ocorridas na dinacircmica da

nova ordem mundial

O mundo sofreu uma alteraccedilatildeo profunda depois de ter constatado

que novas formas de pensar e interagir com o amhiente foram anunciadas no

horizonte da histoacuteria A teleologia que marcava os passos dos homens dentro de

um uninrso ordenado por princiacutepios eternos e metafiacutesicos uumllIacute substituiacuteda pela

instahilidade e a incel1eza que imadiram o imaginaacuterio da civilizaccedilatildeo europeacuteia

sem no entanto ahalar a sua auto - imagem construiacuteda soh os alicerces de uma

pretensa superioridade

A discussatildeo acerca do prohlema da diversidade cultural encontrashy

se na ordem das prioridades mundiais pelo tato de ser uma questatildeo sohretudo

poliacutetica e as relaccedilotildees poliacuteticas satildeo relaccedilotildees que pressupotildeem uma identificaccedilatildeo

com a alteridade Essa eacute a primeira condiccedilatildeo para o estahelecimento de um

pacto Pacto que eacute conveniente ateacute o momento que atende aos interesses das

partes ellolvidas A explicaccedilatildeo para o fato que leva os homens a estabelecerem

relaccedilotildees amistosas entre si pode estar situada no desejo de posse daquilo que

carecemos A incompletude eacute ainda uma das marcas do humano

8 A(st) iacute1middotSSt1 raccedilmuha ) n ~_ p 7 - 1J Jun 2005

(omccedilamos o seacuteculo XXI com um acontecimento qu ahalou ajuacute

hagilizada ordem mundial Todos os lugares interligados pela midia planetaacuteria

nln passaram inc(llumes uacutequelas imagens do acontecimento moITiclo 110 dia II

de sLtemhro de 001 110S Estados lnidos da Ameacuterica () desabamento do

complexo arquitltocircnico do Yorld Tracle Ce11tlr inaugurou lima nOa etapa nas

rdaccedilotildees poliacuteticas e de alguma t(mmt redesenhou c0I11111aior nitidez a geografia

do poder beacutelico mundial ()s Estaclos l iniclos aleacutem de toda sua forccedila econoacutemica

dom inanh I1H lStroU o lxcrc iacutecio da hegemonia guclTeira no ataque ao AtCganistlo

cinicamente chamado de ofensha armada contra o tlrrorismo A llgica que

domina a lol iacutetica llorte-allllrieana se tornou ostll1siamlnte lima klgiea III i I itar

dispt1sta a destruir plla rurccedila tudo o que lhe resist(o

Ista luacutegica dI guerra natildeo huacute lugar para os I1lutros I para os

111Idiadrls 1 gr~lL crisl eC(ll1lll11ica I a fragilidade das posiccedilotildels poliacutelicoshy

illloltlgicas ruacuteluiram os outros puiacuteslS a um silecircncio Lll forma consentida ()

assustador neste eSlltuacuteculo lk horrnrls eacute pensarmos I1eacute1Ljui lu quI SI InClll1tra

pur tr~is dlsse silecircncio lo SI trata aqui da ddiniccedilagraveo de uma postura eacutetica

illgtnua quI semprL polarizou a luta do nem contra o mal e lamel1tallmellle

ainda dUl11ina () paradigll1lt1 do plnsamento ocidental las se eacute que ainda nos

resta algum Il1HIacutell para nos inquietarmos com aquilo LjUI l1 hOI11lm eacute capaz de

t~ler purqul licarm()s clgos lm relaccedilatildeo ao s)ti-imenlo do tlutro1 consentirmos

Cllm a iolcncia produzida pelo desvario IJ p(Hkrnsos) A brutalidade d(l 11 lil

sltlmnro fUllcionou como um akl1a maacuteximo contra a intolcraacutencia Istrateacutegiashy

surprlsa plllsada pllos autorlS do atentado luacutei (1 tllto 11 tllTI11 englndrado algo

puomso que Il1olcu o sacri fiacutecil de milhares de Iacutetimlt1s ct~ia ftmtl de inspiraccedilagraven

parl a eeewagraveu da trama nlO eacute difiacuteci I imaginarmos de ondl surgiu

hUI11~Ulidade Istuacute cltlmIacutenhand() na conquista de Istiacutemulos conlt111os

salxlls e LpliacuteCeacutelCcediltcS quI nos separam dI algumas cplricncias rudimentares

0 cntanto a perpkiacutedadl e a iacutenquictaccedil1o plrmaneeem todos ISSIS

9

acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em

acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha

yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade

A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o

iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia

insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie

da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito

que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas

sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo

que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do

mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja

estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto

categoria produzida pclas ciecircncias humanas

Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas

na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de

encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a

dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo

XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo

e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS

dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se

() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas

humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares

de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo

cultural

2 Cultura c Estranhamento

flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)

- ~--~_-----------------

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Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a

cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o

tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos

nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas

instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da

exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura

seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu

que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia

da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo

que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees

criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico

O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois

legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e

quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas

contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a

dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e

conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento

desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a

tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada

Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das

culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo

devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima

situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade

eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto

essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte

dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy

lo

Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta

por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias

AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II

modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude

que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo

de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser

aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites

estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas

autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os

bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo

participem das virtudes ou mesmo da natureza humana

Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade

de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam

unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa

perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura

O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado

t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees

que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento

das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem

nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que

satildeo o local de produccedilatildeo das culturas

C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda

o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza

e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A

coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o

sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser

tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto

dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a

uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura

uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo

12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005

Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o

prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores

nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os

nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os

Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0

sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo

huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio

da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora

com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que

existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno

universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais

autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis

quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo

Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta

alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1

coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que

cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo

construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder

na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo

de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc

a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo

traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0

algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo

porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser

prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma

eacutetica

- lun ~()n~

~-~-----------------------

3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

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de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

inteligibilidade em funccedilatildeo das descobertas que na eacutepoca marcaram sobretudo

a civilizaccedilatildeo europeacuteia Dentre os fatos que provocaram mudanccedilas profundas

podemos citar o movimento das grandes navegaccedilotildees cuja consequumlecircncia imediata

foi colocar o problema da alteridade

Desta forma a modernidade histoacuterica t(uacute inaugurada trazendo em

si questotildees paradoxais Se por um lado a descoberta de novos continentes

eshoccedilava o projeto de um futuro promissor com a exploraccedilatildeo da natureza

ahundante que ora se apresentava por outro lado a cultura do outro descoherta

a pm1ir do contato com outras formas de coletividade foi igualmente um tato

impactante e perturhador A dicotomia construiacuteda a partir dos conceitos de

natureza e cultura e que vecircm sendo trahalhada pela ciecircncia foi colocada na

pauta das discussotildees que nortearam as mudanccedilas ocorridas na dinacircmica da

nova ordem mundial

O mundo sofreu uma alteraccedilatildeo profunda depois de ter constatado

que novas formas de pensar e interagir com o amhiente foram anunciadas no

horizonte da histoacuteria A teleologia que marcava os passos dos homens dentro de

um uninrso ordenado por princiacutepios eternos e metafiacutesicos uumllIacute substituiacuteda pela

instahilidade e a incel1eza que imadiram o imaginaacuterio da civilizaccedilatildeo europeacuteia

sem no entanto ahalar a sua auto - imagem construiacuteda soh os alicerces de uma

pretensa superioridade

A discussatildeo acerca do prohlema da diversidade cultural encontrashy

se na ordem das prioridades mundiais pelo tato de ser uma questatildeo sohretudo

poliacutetica e as relaccedilotildees poliacuteticas satildeo relaccedilotildees que pressupotildeem uma identificaccedilatildeo

com a alteridade Essa eacute a primeira condiccedilatildeo para o estahelecimento de um

pacto Pacto que eacute conveniente ateacute o momento que atende aos interesses das

partes ellolvidas A explicaccedilatildeo para o fato que leva os homens a estabelecerem

relaccedilotildees amistosas entre si pode estar situada no desejo de posse daquilo que

carecemos A incompletude eacute ainda uma das marcas do humano

8 A(st) iacute1middotSSt1 raccedilmuha ) n ~_ p 7 - 1J Jun 2005

(omccedilamos o seacuteculo XXI com um acontecimento qu ahalou ajuacute

hagilizada ordem mundial Todos os lugares interligados pela midia planetaacuteria

nln passaram inc(llumes uacutequelas imagens do acontecimento moITiclo 110 dia II

de sLtemhro de 001 110S Estados lnidos da Ameacuterica () desabamento do

complexo arquitltocircnico do Yorld Tracle Ce11tlr inaugurou lima nOa etapa nas

rdaccedilotildees poliacuteticas e de alguma t(mmt redesenhou c0I11111aior nitidez a geografia

do poder beacutelico mundial ()s Estaclos l iniclos aleacutem de toda sua forccedila econoacutemica

dom inanh I1H lStroU o lxcrc iacutecio da hegemonia guclTeira no ataque ao AtCganistlo

cinicamente chamado de ofensha armada contra o tlrrorismo A llgica que

domina a lol iacutetica llorte-allllrieana se tornou ostll1siamlnte lima klgiea III i I itar

dispt1sta a destruir plla rurccedila tudo o que lhe resist(o

Ista luacutegica dI guerra natildeo huacute lugar para os I1lutros I para os

111Idiadrls 1 gr~lL crisl eC(ll1lll11ica I a fragilidade das posiccedilotildels poliacutelicoshy

illloltlgicas ruacuteluiram os outros puiacuteslS a um silecircncio Lll forma consentida ()

assustador neste eSlltuacuteculo lk horrnrls eacute pensarmos I1eacute1Ljui lu quI SI InClll1tra

pur tr~is dlsse silecircncio lo SI trata aqui da ddiniccedilagraveo de uma postura eacutetica

illgtnua quI semprL polarizou a luta do nem contra o mal e lamel1tallmellle

ainda dUl11ina () paradigll1lt1 do plnsamento ocidental las se eacute que ainda nos

resta algum Il1HIacutell para nos inquietarmos com aquilo LjUI l1 hOI11lm eacute capaz de

t~ler purqul licarm()s clgos lm relaccedilatildeo ao s)ti-imenlo do tlutro1 consentirmos

Cllm a iolcncia produzida pelo desvario IJ p(Hkrnsos) A brutalidade d(l 11 lil

sltlmnro fUllcionou como um akl1a maacuteximo contra a intolcraacutencia Istrateacutegiashy

surprlsa plllsada pllos autorlS do atentado luacutei (1 tllto 11 tllTI11 englndrado algo

puomso que Il1olcu o sacri fiacutecil de milhares de Iacutetimlt1s ct~ia ftmtl de inspiraccedilagraven

parl a eeewagraveu da trama nlO eacute difiacuteci I imaginarmos de ondl surgiu

hUI11~Ulidade Istuacute cltlmIacutenhand() na conquista de Istiacutemulos conlt111os

salxlls e LpliacuteCeacutelCcediltcS quI nos separam dI algumas cplricncias rudimentares

0 cntanto a perpkiacutedadl e a iacutenquictaccedil1o plrmaneeem todos ISSIS

9

acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em

acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha

yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade

A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o

iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia

insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie

da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito

que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas

sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo

que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do

mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja

estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto

categoria produzida pclas ciecircncias humanas

Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas

na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de

encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a

dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo

XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo

e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS

dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se

() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas

humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares

de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo

cultural

2 Cultura c Estranhamento

flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)

- ~--~_-----------------

10

Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a

cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o

tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos

nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas

instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da

exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura

seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu

que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia

da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo

que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees

criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico

O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois

legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e

quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas

contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a

dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e

conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento

desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a

tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada

Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das

culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo

devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima

situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade

eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto

essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte

dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy

lo

Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta

por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias

AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II

modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude

que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo

de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser

aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites

estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas

autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os

bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo

participem das virtudes ou mesmo da natureza humana

Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade

de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam

unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa

perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura

O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado

t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees

que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento

das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem

nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que

satildeo o local de produccedilatildeo das culturas

C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda

o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza

e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A

coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o

sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser

tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto

dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a

uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura

uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo

12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005

Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o

prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores

nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os

nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os

Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0

sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo

huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio

da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora

com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que

existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno

universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais

autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis

quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo

Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta

alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1

coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que

cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo

construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder

na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo

de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc

a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo

traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0

algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo

porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser

prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma

eacutetica

- lun ~()n~

~-~-----------------------

3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

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autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

(omccedilamos o seacuteculo XXI com um acontecimento qu ahalou ajuacute

hagilizada ordem mundial Todos os lugares interligados pela midia planetaacuteria

nln passaram inc(llumes uacutequelas imagens do acontecimento moITiclo 110 dia II

de sLtemhro de 001 110S Estados lnidos da Ameacuterica () desabamento do

complexo arquitltocircnico do Yorld Tracle Ce11tlr inaugurou lima nOa etapa nas

rdaccedilotildees poliacuteticas e de alguma t(mmt redesenhou c0I11111aior nitidez a geografia

do poder beacutelico mundial ()s Estaclos l iniclos aleacutem de toda sua forccedila econoacutemica

dom inanh I1H lStroU o lxcrc iacutecio da hegemonia guclTeira no ataque ao AtCganistlo

cinicamente chamado de ofensha armada contra o tlrrorismo A llgica que

domina a lol iacutetica llorte-allllrieana se tornou ostll1siamlnte lima klgiea III i I itar

dispt1sta a destruir plla rurccedila tudo o que lhe resist(o

Ista luacutegica dI guerra natildeo huacute lugar para os I1lutros I para os

111Idiadrls 1 gr~lL crisl eC(ll1lll11ica I a fragilidade das posiccedilotildels poliacutelicoshy

illloltlgicas ruacuteluiram os outros puiacuteslS a um silecircncio Lll forma consentida ()

assustador neste eSlltuacuteculo lk horrnrls eacute pensarmos I1eacute1Ljui lu quI SI InClll1tra

pur tr~is dlsse silecircncio lo SI trata aqui da ddiniccedilagraveo de uma postura eacutetica

illgtnua quI semprL polarizou a luta do nem contra o mal e lamel1tallmellle

ainda dUl11ina () paradigll1lt1 do plnsamento ocidental las se eacute que ainda nos

resta algum Il1HIacutell para nos inquietarmos com aquilo LjUI l1 hOI11lm eacute capaz de

t~ler purqul licarm()s clgos lm relaccedilatildeo ao s)ti-imenlo do tlutro1 consentirmos

Cllm a iolcncia produzida pelo desvario IJ p(Hkrnsos) A brutalidade d(l 11 lil

sltlmnro fUllcionou como um akl1a maacuteximo contra a intolcraacutencia Istrateacutegiashy

surprlsa plllsada pllos autorlS do atentado luacutei (1 tllto 11 tllTI11 englndrado algo

puomso que Il1olcu o sacri fiacutecil de milhares de Iacutetimlt1s ct~ia ftmtl de inspiraccedilagraven

parl a eeewagraveu da trama nlO eacute difiacuteci I imaginarmos de ondl surgiu

hUI11~Ulidade Istuacute cltlmIacutenhand() na conquista de Istiacutemulos conlt111os

salxlls e LpliacuteCeacutelCcediltcS quI nos separam dI algumas cplricncias rudimentares

0 cntanto a perpkiacutedadl e a iacutenquictaccedil1o plrmaneeem todos ISSIS

9

acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em

acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha

yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade

A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o

iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia

insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie

da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito

que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas

sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo

que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do

mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja

estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto

categoria produzida pclas ciecircncias humanas

Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas

na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de

encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a

dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo

XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo

e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS

dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se

() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas

humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares

de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo

cultural

2 Cultura c Estranhamento

flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)

- ~--~_-----------------

10

Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a

cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o

tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos

nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas

instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da

exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura

seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu

que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia

da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo

que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees

criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico

O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois

legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e

quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas

contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a

dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e

conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento

desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a

tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada

Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das

culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo

devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima

situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade

eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto

essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte

dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy

lo

Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta

por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias

AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II

modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude

que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo

de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser

aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites

estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas

autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os

bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo

participem das virtudes ou mesmo da natureza humana

Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade

de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam

unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa

perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura

O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado

t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees

que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento

das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem

nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que

satildeo o local de produccedilatildeo das culturas

C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda

o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza

e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A

coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o

sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser

tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto

dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a

uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura

uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo

12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005

Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o

prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores

nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os

nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os

Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0

sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo

huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio

da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora

com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que

existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno

universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais

autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis

quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo

Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta

alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1

coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que

cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo

construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder

na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo

de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc

a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo

traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0

algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo

porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser

prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma

eacutetica

- lun ~()n~

~-~-----------------------

3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

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autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

acomecimtntos nos remettm ao questionamento de temas que insistem em

acompanhar () homem nesta caminhada Perguntamos o que detona tamanha

yiolencia Como explicar essa predisposiccedilatildeo para a crueldade

A crueldade de uma foacuterma mais complexa natildeo enyolve apenas o

iacutekrramamento de sangue Ela eacute sinocircnimo de impiedade intransigecircncia

insensibilidade O inexoraacutevel que compocirce um dos sentidos do ocaacutebulo fuacutez palie

da praacutetica humana O haacutebito eacute a marca da maldade Fazemns da vida um haacutehito

que nos impele uacute compulsatildeo e agrave repeticcedilatildeo Fomos programados para dar respostas

sempre ao mesmo n emharaccedilo criado diante do din~rso eacute sempre um ohstaacuteculo

que fere de mortc () ciacuterculo icioso criado pelo haacutehito e que acaha por tagravezer do

mal uma hanaliacutedade O haacutehito j()ssiliza aquilo que cresceu c se multiplicou ou seja

estamos I~llando aqui daquilo que ycm sendo chamado de cultura enquanto

categoria produzida pclas ciecircncias humanas

Retomando ao seacuteculo XVI e ao cenaacuterio das transtixmaccedilotildees ocolTidas

na (middoturopa foi a partir daiacute que comeccedilou a esboccedilar-sc um Jl1Oimcntll huacutesico de

encontro com o outro Momento marcante a exigir que se comeccedilasse a pensar a

dilaacuteenccedila e as formas pdas quais a alteridade passou a ser formulada No seacuteculo

XX quando a Antropologia supera os csquemas simplificadores do holucionismo

e amplia scu campo de cstudos sobre essa questagraveo da dirsidade cultural atraiS

dtl Relatiisll1o a sociedade nesse processo comeccedila a pensar-se

() Relativismo cultural complexi ficou ainda mais 1 estudo das culturas

humanas ao perceher a impol1agravencia da ohscnaccedilagraveo de cel10s aspectos pal1Iacuteculares

de cada coktiidade enlagravetizando os processos de mudanccedila de troca e empreacutestimo

cultural

2 Cultura c Estranhamento

flas atinaI em que consiste esse Icnocircmeno denominado de cultura)

- ~--~_-----------------

10

Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a

cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o

tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos

nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas

instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da

exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura

seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu

que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia

da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo

que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees

criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico

O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois

legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e

quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas

contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a

dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e

conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento

desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a

tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada

Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das

culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo

devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima

situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade

eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto

essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte

dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy

lo

Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta

por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias

AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II

modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude

que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo

de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser

aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites

estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas

autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os

bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo

participem das virtudes ou mesmo da natureza humana

Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade

de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam

unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa

perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura

O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado

t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees

que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento

das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem

nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que

satildeo o local de produccedilatildeo das culturas

C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda

o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza

e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A

coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o

sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser

tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto

dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a

uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura

uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo

12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005

Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o

prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores

nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os

nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os

Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0

sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo

huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio

da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora

com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que

existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno

universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais

autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis

quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo

Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta

alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1

coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que

cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo

construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder

na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo

de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc

a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo

traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0

algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo

porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser

prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma

eacutetica

- lun ~()n~

~-~-----------------------

3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

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ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

Ela se impotildee de fato como condiccedilatildeo exclusiva do humano Se pensamlos a

cultura metaforicamente como uma teia de ramificaccedilotildees que englobam todo o

tagravezer humano a existecircncia os saberes a arte a religiatildeo moral etc poderemos

nos desviar de um erro que vem sendo cometido propositadamente pelas

instituiccedilotildees reprodutoras do conhecimento e da infomlaccedilatildeo que eacute a praacutetica da

exclusatildeo do outro As elites pensantes sempre enfagravetizaram a ideacuteia de que a cultura

seria produzida especialmente num niacutevel mais elUdito O erro cometido impediu

que a cultura tosse vista como um sistema totalizante O homem nagraveo se dissocia

da cultura qualquer coacutedigo sistecircmico empobrece o objeto de qualquer estudo

que tenha a pretensatildeo de desvendar o que eacute o homem nas suas manifestaccedilotildees

criativas O problema da diversidade eacute tambeacutem um problema tilosoacutefico

O questionamento claacutessico feito pela tilosofia e que foi depois

legitimado pela antropologia eacute o seguinte por que as culturas variam tanto e

quais satildeo os sentidos de todas essas variaccedilotildees A resposta a essas perguntas

contribui no combate a preconceitos oferecendo uma base para () respeito e a

dignidade nas relaccedilotildees humanas A histoacuteria sempre tt)i marcada pelos contatos e

conflitos entre os diferentes modos de organizar a vida social O aceleramento

desses contatos eacute recente e os grupos isolados vatildeo desaparecendo com a

tendecircncia agrave tt)Jll1accedilagraveo de uma civilizaccedilatildeo cada vez mais globalizada

Haacute vaacuterios marcadores que pautam o estudo da diversidade das

culturas Cm deles diz respeito agrave dinacircmica desse processo As sociedades nagraveo

devem ser concebidas de maneira estaacutetica porque nenhuma delas viC lima

situaccedilagraveo de isolamento completo as culturas comunicam entre siA diversidade

eacute um fenocircmeno natural resultante das relaccedilotildees entre as sociedades e no entanto

essas diferenccedilas sempre causaram um cel10 estranhamento do qual haacute por parte

dos meios produtores do conhecimento uma preocupaccedilatildeo displicente em refutaacuteshy

lo

Esse estranhamento eacute o ponto de pat1ida para a intoleracircncia e esta

por mais que seja lima postura ingeacutenua e que tenha sido superada pelas teorias

AcsiO a~stilt ra~atuha_ 3 n 3 p jlllJ 21111 II

modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude

que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo

de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser

aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites

estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas

autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os

bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo

participem das virtudes ou mesmo da natureza humana

Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade

de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam

unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa

perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura

O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado

t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees

que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento

das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem

nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que

satildeo o local de produccedilatildeo das culturas

C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda

o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza

e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A

coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o

sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser

tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto

dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a

uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura

uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo

12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005

Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o

prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores

nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os

nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os

Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0

sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo

huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio

da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora

com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que

existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno

universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais

autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis

quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo

Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta

alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1

coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que

cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo

construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder

na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo

de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc

a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo

traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0

algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo

porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser

prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma

eacutetica

- lun ~()n~

~-~-----------------------

3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

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de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

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Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

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noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

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Presenccedila 1996

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de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

modernas da cultura encontra-se profundamente enraizada nos homens atitude

que tende a rejeitar o outro para fora da noccedilatildeo de humanidade A proacutepria noccedilatildeo

de humanidade sem distinccedilatildeo de raccedilas eacute uma noccedilatildeo nova e estaacute longe de ser

aceita pela maioria do senso comum A humanidade acaba sempre nos J im ites

estreitos da toleracircncia de cada um O fato pode ser ilustrado nas

autodenomiacutenaccedilotildees utilizadas em vaacuterias coletividades que satildeo os homens os

bons os excelentes os perfeitos implicando assim que os outros grupos natildeo

participem das virtudes ou mesmo da natureza humana

Uma grande ilusagraveo inventada no mundo moderno toi a necessidade

de se proclamar uma igualdade natural entre todos os homens que deveriam

unir-se em laccedilos tratemos a religiatildeo e a tilosofia tlacassaram nessa tarefa Essa

perspectiva humanista serviu para consolidar a oposiccedilatildeo entre natureza e cultura

O conceito de humanidade passou a ser um operador eticaz que se por um lado

t()i instrumento de combate contra o etnocentrismo por outro diluiu as variaccedilotildees

que constituem a diversidade cultural O tracasso deveu-se ao negligenciamento

das diferenccedilas A declaraccedilatildeo dos direitos do homem esqueceu que o homem

nagraveo realiza sua natureza numa humanidade abstrata mas nas coJetividades que

satildeo o local de produccedilatildeo das culturas

C ada coletiviacutedade produz a sua cultura em pm1ieular o que relerenda

o humano eacute a proacutepria variaccedilatildeo cultural A variaccedilatildeo pertence ao mundo da natureza

e ao Inundo da cultura sua compreensatildeo tem sido um uesalio inquietante A

coletividaue eacute arbitraacuteria porque cria haacutebitos que podem ser estendiuos ateacute o

sentido mais lato do ternlO como por exemplo os haacutebitos bioloacutegicos daiacute ser

tambeacutem o corpo o loacutecus da cultura A cultura compreende assim o conjunto

dos haacutebitos e dos costumes de um deternlinado grupo social o pertencimento a

uma comuniuade eacute o sentimento que preserva a autonomia do grupo e instaura

uma dimensatildeo de sentido que eacute o seu ser-no-mundo

12 Avesso lt1(1 Araccedilatuha n 3 r i 2J JlIIl 2005

Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o

prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores

nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os

nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os

Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0

sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo

huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio

da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora

com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que

existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno

universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais

autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis

quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo

Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta

alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1

coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que

cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo

construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder

na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo

de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc

a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo

traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0

algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo

porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser

prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma

eacutetica

- lun ~()n~

~-~-----------------------

3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

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Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

Toleracircncia versus intoleracircncia espaccedilos linguumliacutesticos distintos o

prohlema religioso os poderes hegemocircnicos e constituiacutedos Todos esses t~1tores

nos Ieam a pensar na qucstatildeo dos valores uniersais Seriam eles de t~lt() os

nOl1eadores da possihilidade de uma comivecircncia mesmo aacuterida entre os 10 os

Operadores universais satildeo operadores estruturantcs o fenoacutemeno da cultura 0

sempre unin~rsaL p0l1anto a antinomia entre o peculiar e o unimiddotcrsaI0 Jalsa natildeo

huacute essecircncia alguma a serdescohel1a esse foi durante muito tempo o corolaacuterio

da pruumltiea ctnograacutelica Os criacuteticos da etnologia atinmll11 que sua prltica cOITohora

com o discurso colonial porque trahalha comum princiacutepio epistecircmico de que

existiria um etno-pensamento A cultura ao mesmo tempo em que eacute um fenoacutemeno

universal eacute tamh0m a expressatildeo de um si-proacuteprio qualquer Os traccedilos mais

autecircnticos de uma cultura satildeo os que se prestam a serem mais 1111 itrsaIiluacuteeis

quilo que tem roacuterccedila pode ser uniersalizaLlo

Na anuacutelise dos proCessos culturais deem ser kados elll conta

alguns rdercllciais ontnluacutegicos ()UCIl1 somos Cultura e idiacutentidadiacute satildeo a tniacuteSl11lt1

coisa () sentimcnto de pcrtcncimento natildeo eacute uma identidadc cle 011111 iacutenculo que

cada coletiidade cstabelece e que perdura os iacutenculos de pertencimento satildeo

construiacutedos Quais sagraveo os limites dc uma coletiidadc ( necessuacuterio proceder

na dirc~atildeo da desconstruccedilatildeo do conceito de identidade ou seja a UIll processo

de transculturaccedilagraveo A aculturaccedilagraveo implica em adquirir uma nOl cultura e pncedc

a transcllltura~atildeo O proacuteprio eacute o que nos singulariza fiente agraves outras culturas sagraveo

traccedilos que satildeo compartilhados nu natildeo com lima outra cultura a pccul iaridade 0

algo contesluacuteeL ()lIal seria o ethos de um POo 1agraveo eacute possiacute(~l encontraacute-lo

porque ele natildeo eXiste () conceito de identidade nagraveo eacute operativo eacute precisa ser

prohlematizado por isso cada cz mais cresce LI Cigtllcia da construccedilatildeo de uma

eacutetica

- lun ~()n~

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3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

3 O Mito da Razatildeo

A tradiccedilatildeo iluminista do pensamento poliacutetico ocidental entagravetiza o

Estado como a matriz racional e progressista da organizaccedilatildeo social O Estado

seria o YeIacuteculo de uma uacutenica naccedilatildeo sem o elemento complicador de diisotildees

eacutetnicas Nessa perspectia a questatildeo eacutetnica minaria o Estado-naccedilatildeo por ser

uma questatildeo sectaacuteria e excludente A questatildeo eacutetnica estaria destinada a

desaparecer sohrepujada pela modernizaccedilatildeo Essas teorias ocidentais natildeo

conseguiram prever ) futuro ao contruacuterio a glohalizaccedilatildeo da economia mundial

expressa sentimentos agudos de nacionalismo e intensifica os conflitos eacutetnicos

O fracasso dessas teorias eacutetnicas tradicionais fez o mundo acordar para () t~lt()

de que natildeo eacute posshel ignorar ou negar a questatildeo eacutetnica ateacute mesmo porque ela

eacute extremamente ditkil de ser suprimida O desenohimento ua teoria sobre

estadns lllultieacutetnicos constituiu um passo necessaacuterio para uma muuanccedila de

pensamento do puacuteblico cm geral do ocidente O ljacasso da esquerda nas elciccedilocirces

de alguns paiacuteses da Europa coloca em eidecircncia a diliculdade em liuarmos com

todos l)S perigos da sociedade de riscos em que vivemos

( )s indi iacuteduos aleacutem ue estarem negociando com as nonnas sociais

iacuteJaliando se eacute antajoso ou n10 segui-las enllmiddotentam tnll1beacutem a questagraveo de sua

pn)pria idcntidade indIacuteidual ciil politica e assim por diante IloUe um

desequiliacutebrio promoddo pelo conflito entre ricos e pobres quer seja entre gl11pOS

ou naccedilocirces que acabou prumo endo toda sorte lk micro-iolecircncias no nIacutecl dos

relacionamentos inteq1essoais

Toda essa io10ncia organizada deria da aposta escatol()gica no

progresso da razatildeo No texto denominado middotRazatildeo e Cultura de (iclner eacute

discutido o papel histoacuterico da racionalidade e do racionalismo O prohlema da

diersidade cultural estaacute relacionado com o Relativismo que implica a ideacuteia de

uma racionalidade A questatildeo da racionalidade soacute pode ser resolida no plano

I~

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

da eacutetica enquanto um conjunto de regras que satildeo compartilhadas por uma

coletividade

A anaacutelise da diversidade cultural eacute um problema posto pelo mundo

de hoje que pensa a questatildeo da anti-holl1ogenizaccedilatildeo A cultura eacute plaacutestica e

maleaacutenl daiacute a dificuldade de ser definida O que eacute a cultura Satildeo muitas coisas

o fenocircmeno social se oferece como um campo a ser analisado e interpretado as

categorias analiacuteticas estatildeo todas em discussatildeo as teorias podem ser retomadas

e os conceitos podem ser recriados A razatildeo eacute um modo de pensar proacuteprio do

mundo ocidental na histoacuteria do pensamento ocidental foi o filoacutesofo Reneacute

DesCal1es o responsaacuteel pela sistematizaccedilatildeo do meacutetodo racional A oposiccedilatildeo

entre razatildeo e cultura corresponde agrave oposiccedilatildeo entre a razatildeo e o costumc que eacute

um haacutehito compartilhado coetiamentc Desc3l1es t()i um criacutetico da cultura porque

li considera a um erro sistemaacutetico o racionalismo cm1esiano eacute individualista a

dll ida eacute um ato indiidual daiacute o pensamento cartesiano natildeo ser capu de lidar

com ii cultura as hrechas () costumc Cada costumc prcecirc UIll plano para os

indiyiacuteduos A construccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo roi planejada o homem ocidental 0

a cultura como lima ilustraccedilatildeo no sentido de que ela eacute algo de refinado A

autncriaccedilatildeo cogniti a eacute hurguesa () autor conclui o texto demonstrando que a

oposiccedilatildeo entre razatildeo e cultura natildeo existe procura mostrar tamheacutem o contionto

entn autoridade c tradiccedilatildeo neste confronto a ciecircncia passa a desempenhar ()

papel de autoridade

O racionalismo sistematizado no ocidente ao adotar o rigor e a

construccedilatildeo de um meacutetod0 na husca da erdade Iacutemiahilizou todas as outras

j(Hl1l1S de percepccedilatildeo da realidade que nagraveo c0rrespondesscm agraves exigecircncias dos

caacutenones instituiacutedos a cultura enquanto um conjunto de ideacuteias produzidas dentro

de um contexto restrito a tempo c espaccedilo especiacute ticos tndo aquelc conjunto de

sahcres acumulados atran~s de uma gama de cxperiecircnccedilias t()j reduzido ao plano

do imcrossiacutemil No ccedilaso do costume os requisitos cognitios que natildeo se

15

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

enquadravam ao meacutetodo racionalista toram invalidados Quem seraacute o verdadeiro

aacuterbitro da nossa capacidade de perceber o mundo A razatildeo ou a experiecircncia

Essa antinomia que fiJi objeto de inuacutemeras poleacutemicas n o campo da filosofia da

psicologia e outras aacutereas do saber foi e continua sendo a origem de teorias

equivocadas e preconceituosas

Aqui cabe uma criacutetica agravecultura ocidental que elegeu a razatildeo como

um iacutecone a ser cultuado e apostou na revoluccedilatildeo tecnoloacutegica como soluccedilatildeo de

tudo o que se constituiacutea como entrave para o homem A cultura cientiacutefica que

gerou a hiperespecial izaccedilagraveo conseguiu silenciar expericllcias mais total izantes ()

mito do ocidente eacute omito do progresso sonho do controle total e esquecimento

das condiccedilotildees que nos bzem humano l fma sociedade que reconhece e impotildee

uma Fonte de Autoridade seja ele uma Pessoa um Texto um Evento ou uma

Instituiccedilatildeo eacute muitiacutessimo dilerente de uma sociedade que reconhece apenas uma

bculdade seja ela qual tix localizada em princiacutepio em todos os homens

Poderiacuteamos questionar se a intuiccedilatildeo e a ateriidade que se aplicam

muito mais uacutes expericllcias esteacuteticas natildeo teriam tambeacutem validade na asserccedilatildeo

dos nossos requisitos cognitios Dentro do projeto kantiano do conhecimento

somente a razatildeo seniria como reguladora das duas criacuteticasNul11l11undo regido

pelajusta medida natildeo haCria espaccedilo para o acidental o contingente e a ariaccedilagraveo

lma das maiores aspiraccedilotildees do racionalismo eacute a autonomia do

sujeito enquanto ser que se pensa e pensa o mundo sem estar na dependecircncia

de nenhuma heranccedila cultural No entanto sahemos que essa empresa eacute

Iacutempossiacute1 () racionalismo natildeo conseguiu transcender a cultura como havia

prekndido mas criou e coditicou uma cultura distinta de grande It)rccedila cognitiva

Instaurar lima cultura racional implicou a tormulaccedilagraveo de uma epistemologia

exclusiista pautada sobre a crenccedila na posse da verdade em nome dessa verdade

tt)ram cometidas toda s0I1e de dominaccedilotildees guelTas exploraccedilatildeo rebaixamentos

e dcsqualiticaccedilatildeo do outro A tilosofia racionalista assentou as hases do progresso

16

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

tecno-cientiacutefico do qual somos hoje testemunhos a natureza nessa forma de

enquadramento seria perfeitamente cognosciacutevel e obviamente dominada No

entanto a simetria das paixotildees humanas eacute um desafio pem1anente para aqueles

que se esfoacuterccedilam por conduzir a ida racionalmente ignorando que o homem eacute

possuiacutedo tambeacutem por impulsos iacutentimos e inconscientes A vida psiacutequica tanto a

niacutevel coletiacutevo C0l110 indiuacutedual eacute um campo novo a ser explorado Haacute aspectos

inconscientes na nossa percepccedilatildeo da realidade que natildeo podemos ignorar sob

pena de sermos viacutetimas permanentes da dissociaccedilatildeo e da confusatildeo psicoloacutegica

que geraram a enorme coleccedilagraveo de neuroses que tagravezem parte da vida moderna

Construindo uma Nova Epistemologia

Aquilo que chamamos consciecircncia ciilizada nagraveo tem cessado de

al~lstar-se dos nossos instintos baacutesicos mas nem por isso os instintos

desapareceram eles perderam contato com a consciecircncia sendo obrigados a

afirmarem-se de maneira indinta () l~ltO da espeacutecie humana nagraveo ser dotada de

preacute-programaccedilagrave~) geneacutetica fez surgir a necessidade da normatizaccedilagraveo de regras e

compol1amentos a fim de equi lihrar ti grande plasticidade e yariaccedilatildeo da presen(a

humana no planeta hm1 A pul i funcionalidade da cultura eacute o que tomou posshel

a diersidade ou seja a maneira criatia de lidar com a razatildeo onde cada

coleliidade possui a sua 101111a proacutepria

A outra lagravece da moeda mostrou que a razatildeo eacute impotente para

garantir seu dClmiacutenio sohre toda a realidade huacute forccedilas que controlam e dirigem o

homem forccedilas complexas e que ainda estagraveo longe de serem compretndidas ou

dominadas pelo humano 1 impotecircncia do raciociacutenio eacute () i11 erso da capacidadt

ttcnoloacutegica liagilidadedaedilicaccedilatildeo racional seryiudidaticamente a nos ensinar

que natildeo podemos ser iacutetimas de UIll modelo de identidade baseada no sentimento

de contianccedila que 1~IZ da razatildeo um lugar seguro A instahil idade a incerteza as

17

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

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leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

mudanccedilas a que estamos sujeitos mostram que um novo estilo de pensamento

comeccedila a se delinear

Neste peliodo da histoacuteria hW11ana em que toda a energia disponiacutevel

eacute dedicada ao estudo e agrave investigaccedilatildeo da natureza damos pouca atenccedilatildeo agrave

psique humana enquanto multiplicam-se as pesquisas sobre as suas funccedilotildees

conscientes No entanto as regiotildees verdadeiramente complexas e desconhecidas

da mente onde satildeo produzidos os siacutembolos ainda continuam virtualmente

inexploradas

lluacute ainda um enorme preconceito em relaccedilatildeo a essa dimensatildeo

inconsciente do homem postura que desqualiJica um outro tipo de conhecimento

mais intuitin) e emotivo mas que natildeo deixa de ser um ekmento importank da

estrutura mtntal humana e tambeacutem forccedila ital na edificaccedilatildeo da socitdade

Imaginaccedilatildeo e intuiccedilatildeo sagraveo auxiliares indispensaacutet~is ao nosso entendimccedilnto Apesar

da opiniatildeo do senso comum atil111arque satildeo rccedilquisitos valiosos sobretudo para

poetas e a11istas a verdade eacute que satildeo igualmentccedil vitais em todos os altos escalotildees

da ciecircncia extrcem neste campo um papel de suplemento da intel ig0ncia racional

na sua aplicaccedilagraveo ti problemas cspeciacuteticos

Predsamos comeccedilar a perceber que ateacute mesmo as teorias clntiacuteticas

sagraveo ulneruacuteccedilis na medida em que tamheacutem nagraveo passam de um esforccedilo mental

para explicar os UumllIos ou seia satildeo tambeacutem construccedilocirces sujeitas uacute t~llhas e deleitos

Por outro lado eacute imperioso dUl1l1oS mais atenccedilatildeo aos siacutemholos que satildeo elementos

que conlenm signiticado agrave nossa existecircncia A capacidade de simbolizar eacute a

matriz de todas as atiidades humanas reunidas naquele conjunto denominado

dccedil cultura Quando nos estixccedilamos para compreender os siacutembolos conlhl1tamoshy

nos com a totalidade do indiiacuteduo que o produziu Nessa totalidade inclui-st um

estudo do seu unierso cultural processo em que se aeaha por preencher muitas

das lacunas da nossa proacutepria educaccedilatildeo Estamos agrave mercecirc do nosso submundo

psiacutequico tanto indiidual como coletiamente porque fCllnos afetados em nossa

IH

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

capacidade de reagir a ideacuteias e siacutembolos numinosos Nada eacute mais sagrado e

nem misterioso nesse mundo regido pela razatildeo A esquizofrenia da eacutepoca em

que vivemos demonstrou o que acontece quando se abrem as portas deste

mundo subterracircneo a brutalidade das guerras e holocaustos tornaram-se um

ingrediente comum nas telas do nosso entretenimento cotidiano

Os siacutembolos estatildeo presentes nos mitos estes compreendem um

conjunto de nanativas que foram acumuladas ao longo da histoacuteria da civilizaccedilatildeo

humana Estas narratints foram sendo trabalhadas e reelaboradas nos mais

di(~rsos contextos culturais e constituem uma ponte entre a maneira como

transmitimos conSCIentemente os nossos pensamentos e uma t()J1mt de expressatildeo

mais primitia mais colorida e pIctoacuterica Essas associaccedilotildees satildeo o elo entre o

mundo racional da conscicncia e o mundo dos instintos A linguagcm e as ideacuteias

do homem moderno deixaram de causar uma impressatildeo profunda e acabaram

perdendo a sua eficaacutecia simhoacutelica Na erdade () siacutembolo nagraveo era pensado

masviido

As ideacuteias sagraveo uma descoherta tardia do homem Primeiro ele foi

levado por fatores inconscientes a agir e somente depois eacute que comeccedilou a

refletir sohre as causas que motivaram a sua accedilatildeo Compreender como luncionam

estruturas representatinls do psiquismo humano eacute UIll caminho que pode nos

har ao entendimento social izado dos nossos problemas individuais numa escala

dimensionada cosmicamente l 111a ahorclagem criacutetica sobre o mito aponta para

a necessidade de conscnaccedilagraveo dessa matriz do pensamento como vital para a

manutenccedilatildeo das raiacutezes culturais de qualquer povo

A teoria simholista desenvolvida por alguns estudiosos da cultura

considera o mito como um tipo de linguagem coletia rica e emotiva que exprime

o que nagraveo pode ser expresso diretamente na linguagem corrente O mito eacute J(mml

que cria significado apoiando-se sohre uma IltJrccedila positiva que eacute a da contil-ruraccedilatildeo

e da imaginaccedilatildeo em ez de ser uma deficiecircncia do espiacuterito como fora pensado

19

------------- -shy

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

equivocadamente O imaginaacuterio deve ser valorizado como um COl1ilU1to de imagens

que constituem o grande denominador fundamental em que se agrupam todos os

procedimentos do pensamento humano

O mito enquanto extrato cultural eacuteum vetor possiacutevel entre os vaacuterios

existentes para o entendimento de qualquer colctividade onde ele se apresenta

porque foacutem1a uma estrutura de sentido na medida em que se traduz o reftrencial

simboacutelico situa nosso ser no mundo No campo epistemoloacutegico as relaccedilotildees de

identidade e de diferenccedila mostram o mito como uma forma de alteridade ao

pensamento cientiacutetico Enquanto o primeiro eacute conjuntivo propotildee a reuniatildeo das

partes ocultas ou perdidas para que h~ia uma harmonizaccedilatildeo do todo o segundo

eacute disjuntio opera com a separaccedilatildeo das partes e a especializaccedilatildeo do

conhecimento O pensamento miacutetico vai agravecontra-matildeo da ciecircncia daiacute haver uma

postura preconceituosa quanto agrave tentativa de um aprofundamento maior em seus

domiacutenios

a ordem das ideacuteias o siacutemboln eacute um elemento de ligaccedilatildeo pleno de

internnccedilatildeo e de analogia lne o que eacute contraditoacuterio e reduz as oposiccedilocirces Natildeo

podemos comunicar e nem compreender nada sem a sua participaccedilatildeo A oposiccedilatildeo

entre o trabalho manual e o trabalho intelectual eacute artiticial os modos de pensar

sagraveo diwrsos mas sagraveo igualmente at1esanais Entre a coisa e a ideacuteia ) siacutembolo

tece um simulacro ressuscita um tempo apagado ou desaparecido () homem

encontra-se limitado ao mundo que a sua cultura explora e lhe penl1ite nomear

()s proacuteprios siacutembolos tecircm portanto os seus limites Mas antes de serem fixadas

estas imagens mentais satildeo o nosso guia interior a proacutepria mateacuteria da nossa vida

A normalizaccedilatildeo desse coacutedigo que sagraveo os mitos ritos e siacutembolos eacute o que detine

uma ciilizaccedilatildeo

Seria interessante que as diferenccedilas pudessem dialogar ciecircncia e

mito devem estabelecer uma relaccedilatildeo de afinidade O paradigma do ocidente

que eacute a ambivalecircncia de valores e de conceitos deve ser superada haacute vaacuterias

20 1l1ll WiI

~----_-----------------------

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

ofrelinking knOmiddotledge

Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

) _)

leituras possiacuteveis do mundo em que vivemos e eacute chegado o momento de

entrecruzarmos todas essas cosmovisotildees para que daiacute possa emergir uma

perspectiva de cooperaccedilatildeo entre as culturas Natildeo se trata aqui de acreditarmos

de f0n11a ingecircnua nas promessas do projeto filosoacutefico do Iluminismo OcidentaL

pois basta citar alguns acontecimentos deste final de seacuteculo para mostrar que o

racionalismo natildeo foi capaz de estender seus benefiacutecios a toda humanidade O

que a histoacuteria tem provado eacute que a intoleracircncia se encontra em todos os povos

em todas as sociedades em todos os sistemas porque ela preexiste no homem

Ontologicamente tendemos a natildeo conferir existecircncia plena agravequele que natildeo

corresponde agraves nossas expectativas A intoleracircncia eacute a ausecircncia de linguagem

ou melhor de diaacutelogo que Ica ineitan~lmente agrave humilhaccedilatildeo do outro e p0l1anto

Uacute negaccedilatildeo do homem e de suas possibilidades de realizaccedilatildeo

A abertura para o diaacutelogo com vetores epistemoloacutegicos novos e

inauditos talvez pudesse atenuar os abismos cavados entre os homens as

sociedades as culturas que no momento coexistem no planeta terra Quanto ii

intoleracircncia quase natildeo haacute nada a fazer mas quanto agrave toleracircncia podemos eleger

um projeto pedagoacutegico onde ela esteja incluiacuteda Como diria Umberto Eco

Aprendemos a toleragravencia pouco a pouco como aprendemos a controlar o

esfiacutencter Intelizmente se conseguimos controlar bastante bem o nosso proacuteprio

corpo a toleruacutencia exige a permanente educaccedilatildeo dos adultos

O prohlema da alteridade que passou a t~lzer parte da histuacuteria do

ocidente de uma f(1I111lt1 mais expl iacutecita a partir do seacuteculo XVI poderaacute ser minimizado

de acordo com a mudanccedila de algumas posturas arrogantes que fazem parte do

discurso cientiacutefico pelo menos no que diz respeito ao campo do conhecimento

(Tma das funccedilotildees das novas bases epistemoloacutegicas que estagraveo surgindo eacute o

empenho em desfazer preconceitos como eacute o caso por exemplo do estudo

das t(mnas simhoacutel icas antes raramente visitadas por apenas alguns curiosos

Essas fomlas curiosas de manitestaccedilatildeo de um certo tipo de conhecimento natildeo

IlIn 2005 21

-----------------------_ --~_ shy

satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

utilizadora Devemos nos manifestar contra a pretensatildeo que faz com que a

construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

planta importante para compor o estudo de tese da minha interlocutora (o local

onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

estaacutevamos) Indaguei se o nome daquelas pessoas encabuladas e sempre prontas

a colahorar com a ciecircncia natildeo constaa como praxe da finalizaccedilatildeo dos

trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

a result orthe false antinomy betveen identity and difterence It proposes a

dialogue beteen scientific thought and other f0l111S 01 cognitioll as an exercise

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~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

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satildeo de modo algum uma forma atenuada de intelectualidade A vida

principalmente eacute a fonte mais tecunda destes procedimentos e a sua mais antiga

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construccedilatildeo do saber seja uma via de matildeo uacutenica O impulso que tende a

homogeneizar a cultura planetaacuteria desembarcou em nosso continente como um

dos inuacutemeros iacutecones do colonialismo europeu desconstruir essa tendecircncia

aprender a dialogar com a diversidade e dela poder extrair todas as liccedilotildees a

sercm ensinadas eacute a grande provocaccedilatildeo deste iniacutecio de seacuteculo

A propoacutesito este ano fiz uma visita agrave Reserva Florestal Adolpho

Ducke que eacute um espaccedilo de estudos e pesquisas de um importante centro de

referecircncias na Amazocircnia Conversava com uma doutoranda da aacuterea de Botacircnica

que estava aguardando o mateiro ela havia ido agrave floresta buscar uma espeacutecie de

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onde estava a planta ficava a 15 quilocircmetros de distacircncia do centro onde noacutes

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trahalhos Fia me respondeu com muita naturalidade que natildeo

PINTO Marilina Conceiccedilatildeo O Bessa Sena The cultiation ofthe diverse reason

Avesso do Avesso Revista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha v3 n3 p 7 - ~3

jun 2005

Abstract The text discusses the issue ofthe cultural diversity and intolerance as

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Key words cultural diersity intolerance science l11)th

~~--~-_-------------------

Referecircncias Bibliograacuteficas

BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

CAMPS Victoacuteria EI derecho a la diferencia ln Eacutetica y diversidad cultural

Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

de abril de 2002 Suplemento MAIS seccedilatildeo + cinema p 03

ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

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BENOIST Luc Signos Siacutembolos e Mitos Traduccedilatildeo Paula Taipas Lisboa

Ediccedilotildees 701999

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Leon Olivt (org) Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1993

CARVALHO Edgardlnfernos da Diferenccedilaln Revista Margem - Faculdade

de Ciecircncias Sociais ds puesp n II Satildeo Paulo EducFapesp 1992

COSTA Jurandir O uacuteltimo Dom da ida Folha de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 28

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ECO l mbcrto Definiccedilotildees Leacutexicas ln A lntolcruacutencia Foro Internacional

sobre a lntoleruumlncia Unesco27 de marccedilo de 1997 La Sorbonne 28 de marccedilo

de 1997 Acadcmia l ni(~rsal das Culturas publicaccedilatildeo Franccediloise Ducrocq

traduccedilatildeo Eloaacute Jacobina - Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2000

GELLNER Ernesl Razatildeo e Cultura Papel Histoacuterico da Racionalidade e

do Racionalismo Traduccedilatildeo TeIma Costa Teorema

Il 1NG Carl O Homem e seus Siacutembolos Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Pinho Rio

de Janeiro NOa Fronteira 1992

LEWIS David Conilendo com a questatildeo eacutetnica a necessidade de um

noo paradigma ln As dimensotildees culturais da transformaccedilatildeo global Org

Lourdes Arizpe Brasiacutelia tr1ESCO 2001

IIvI-STRAUSS ClaudeRaccedila e Histoacuteria Traduccedilatildeo Inuacutecio Canelas Lisboa

Presenccedila 1996

TOURAINE Alan Da dominaccedilatildeo econocircmica agrave poliacutetica guerreira Folha

de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 05 de maio dc 2002 Suplemento MAIS seccedilagraveo +

autores p 03

ROSA Guimaratildees Grande Sertatildeo Veredas ln Ficccedilatildeo Completa Vo 2 Rio

dcJaneiroNoaAguiacutelarSA1995pl0a385

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