View
4
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
ISABELA LOPES SCARPA
EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA
EM TAREFA DE COMPREENSÃO DE LEITURA
São Paulo
2011
ISABELA LOPES SCARPA
EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA
EM TAREFA DE COMPREENSÃO DE LEITURA
Dissertação apresentada para obtenção do
título de Mestre através do Programa de Pós-
Graduação Strito sensu em Distúrbios do
Desenvolvimento da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
Orientador: Prof. Dr. José Salomão Schwartzman
São Paulo
2011
S285e Scarpa, Isabela Lopes.
Efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua em
tarefa de compreensão de leitura / Isabela Lopes Scarpa.
155 f. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Distúrbios do desenvolvimento) -
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.
Bibliografia: f. 73-80.
1. Estimulação transcraniana por corrente contínua. 2.
Compreensão de leitura. 3. Movimentos oculares. Título.
CDD 153.93
ISABELA LOPES SCARPA
EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA
EM TAREFA DE COMPREENSÃO DE LEITURA
Dissertação apresentada para obtenção do
título de Mestre através do Programa de Pós-
Graduação Strito sensu em Distúrbios do
Desenvolvimento da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
Orientador: Prof. Dr. José Salomão Schwartzman
Aprovada em_______________
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Prof. Dr. José Salomão Schwartzman – Orientador
Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM.
___________________________________________________________________
Profª Dra. Alessandra Gotuzo Seabra
Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM.
___________________________________________________________________
Profª Dra. Ana Luiza Gomes Pinto Navas
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – FCMSC SP.
Dedico este trabalho aos pacientes que
me incentivaram no aprimoramento do
conhecimento sobre leitura.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, à minha mãe, Marlene Lopes Scarpa, que
participou direta e indiretamente deste trabalho, me apoiando nos aspectos
emocionais, bem como nas discussões científicas.
Ao meu pai, Luiz Scarpa Neto, por acreditar na minha capacidade, sempre me
incentivando e apoiando em todos os sentidos.
Agradeço ao meu esposo, Rossano Ambrozio, por deixar de ter para que eu
pudesse ter, estando ao meu lado em todos os momentos.
À Desirée Massetti, Elaine Biral, Eliza Hitomi Sakata, Rosemeire Silva e
demais colegas e amigas de trabalho da Clínica Cecop – Centro de Consultórios
Particulares, que compartilharam e me orientaram na construção deste trabalho.
À Patricia Dall’Agnoll que, além de uma grande companheira de Mestrado,
tornou-se uma verdadeira amiga.
Ao meu orientador, Prof. Dr. José Salomão Schwartzman, pela dedicação e
paciência na elaboração da pesquisa.
À Profª Dra. Alessandra Gotuzo Seabra e Profª Dra. Ana Luiza Gomes Pinto
Navas pelas contribuições oferecidas para o estudo.
Aos integrantes do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, principalmente Camila Campanhã, Darlene
Godoy de Oliveira e Anna Carolina Barbosa que estiveram dispostas e disponíveis
para a realização da coleta de dados e na orientação da pesquisa.
Agradeço ao Prof. Paulo Boggio, por ter ajudado.
Enfim, agradeço a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente
para a conclusão deste projeto.
“Um homem nunca deve sentir vergonha de admitir que
errou, o que é apenas dizer, noutros termos, que hoje ele
é mais inteligente do que era ontem. ”
(Alexander Pope)
RESUMO
A leitura, envolvendo tanto a decodificação como a compreensão, tem sido
objeto de estudos de pesquisadores. Atualmente, estudos neurológicos relacionam o
processamento semântico a estruturas cerebrais como córtex temporal, parietal e
occipital, e o envolvimento dessas estruturas para a compreensão da leitura.
Entretanto, a integração entre elas ainda é pouco entendida. Este trabalho propõe
estudar a compreensão de leitura através da diferenciação dos efeitos da
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua aplicadas em Córtex Temporal
Anterior Esquerdo. Para tanto, mensurou-se o padrão de movimentos oculares
durante a leitura em 12 sujeitos de pesquisa, universitários, do sexo masculino sem
dificuldades ou transtornos de aprendizagem relatados. Para avaliação da
compreensão de leitura foi utilizada uma prova de dez questões de cunho
interpretativo do Exame Nacional do Ensino Médio. Para mensuração da influência
da memória operacional foi utilizada a Prova de Dígitos da “Escala de Inteligência
Wechsler para Adultos”. Os dados foram tratados com testes e técnicas estatísticas
não paramétricas. Para comparação dos dados, foi obtido os p-valores (nível de
significância de 0,05 ‒ 5%). Embora não tenha sido observado efeito das
estimulações anódica, catódica e placebo na realização da prova de compreensão
de leitura, este estudo permitiu confirmar alguns fatos já descritos na literatura.
Estatisticamente, foi possível constatar que não existiu congruência entre o tipo de
estimulação aplicada e o número de acertos das alternativas apresentadas. Foi
constatado que se estabeleceu uma forte e constante relação de diminuição do
tempo e número de fixação da primeira para a terceira aplicação da prova de
compreensão, o que indica que houve um acesso cada vez mais rápido às redes
semânticas com prevalência do uso da memória. Investir em pesquisas relacionadas
ao aprofundamento dos conhecimentos referentes à leitura ajudará a encontrar
respostas importantes para a melhor compreensão do tema.
Palavras-chave: estimulação transcraniana por corrente contínua; compreensão de
leitura; movimentos oculares.
ABSTRACT
Reading, involving the decoding and comprehension, has been studied by
researchers. Currently, neurological studies related to semantic processing brain
structures such as temporal cortex, parietal and occipital lobes, and the involvement
of these structures in reading comprehension. However, the integration between
them is still poorly understood. This work proposes the study of reading
comprehension by differentiating the effects of transcranial direct current stimulation
(tDCS) applied in left anterior temporal cortex. To this end, was measured up the
pattern of eye movements during reading in 12 subjects, university students, male
and without learning difficulties or disorders reported. To assess the reading
comprehension was used a test with ten questions of interpretive nature extract from
ENEM (National Examination of Secondary Education). To measure the influence of
working memory was used in the "Wechsler Intelligence Scale for Adults”. Data were
compared with nonparametric statistical techniques. For comparison p-values wer
calculated (significance level of 0.05 ‒ 5%). Although it was not observed effect of
anode, cathode and placebo stimullation in reading comprehension, this study
allowed to confirm some facts described in the literature. Statistically, it was made
clear that there was no relation between the type of stimulation applied and the
number of hits presented. It was found a strong and constant decrease in Time and
Number of Fixations from first to third application of the Comprehension Reading
Test, which indicates that there has been an increasingly rapid access to semantic
networks with prevalence of the use of memory. To develop knowledge concerning
the reading could help to investigations on the theme.
Keywords: transcranial direct current stimulation; reading comprehension; eye
movements.
LISTA DE ABREVIATURAS
ETCC ‒ Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua
CTAE ‒ Córtex Temporal Anterior Esquerdo
CTA ‒ Córtex Temporal Anterior
ENEM ‒ Exame Nacional de Ensino Médio
Sisu ‒ Sistema de Seleção Unificada
RMF ‒ Ressonância Magnética Funcional
FDG-PET ‒ Tomografia por Emissão de Pósitrons com Fluorodeoxiglicose
FMRI ‒ Ressonância Magnética Funcional
BMP ‒ Bitmap
EEG ‒ Eletroencefalografia
PET ‒ Tomografia por Emissão de Pósitron
EMTr ‒ Estimulação Magnética Transcraniana
mA ‒ Miliampere
BALE ‒ Bateria de Leitura e Escrita
NIR-LED’s ‒ NearInfra-Red Light-Emitting Diodes
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Modelo de processamento da linguagem escrita. 6
Figura 2: Modelo das relações hierárquicas de memória no 8
processamento semântico.
Figura 3: Dois casos de ativação da área de Wernicke em 17
testes de fluência semântica.
Figura 4: Aparelho de Estimulação Transcraniana por Corrente 23
Contínua.
Figura 5: Equipamento Tobii®. 26
Figura 6: Sistema Internacional 10 – 20 EEG de posicionamento 33
de eletrodos.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Níveis de acerto relacionados com os tipos de ETCC 36
aplicadas
Figura 2: Níveis de acerto relacionados com a ordem de 36
aplicação das provas
Figura 3: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC 37
aplicadas na Questão B
Figura 4: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC 37
aplicadas na Questão F
Figura 5: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC 38
aplicadas na Questão G
Figura 6: Tempo de fixação relacionado com a ordem de 38
aplicação das provas na Questão A
Figura 7: Tempo de fixação relacionado com a ordem de 39
aplicação das provas na Questão I
Figura 8: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 40
na Questão B
Figura 9: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 40
na Questão E
Figura 10: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 41
na Questão F
Figura 11: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC 41
na Questão G
Figura 12: Número de fixações relacionado com a ordem de 42
aplicação das provas na Questão A
Figura 13: Relaciona desempenho em tarefa de memória 42
operacional com os tipos de ETCC aplicadas
antes da prova de compreensão de leitura
Figura 14: Relaciona desempenho em tarefa de memória 43
operacional com os tipos de ETCC aplicadas
depois da prova de compreensão de leitura
Figura 15: Relaciona desempenho em tarefa de memória 43
operacional com a ordem de aplicação das provas
antes da avaliação de compreensão de leitura
Figura 16: Relaciona desempenho em tarefa de memória 44
operacional com a ordem de aplicação das provas
depois da avaliação de compreensão de leitura
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Tipos de estimulação e de provas em cada dia de 34
experimento.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3
2.1. Leitura 3
2.2. Compreensão de leitura 5
2.3. Tipos de avaliação de compreensão de leitura 14
2.4. Estudos neurobiológicos na compreensão de leitura 16
2.5. Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua 20
2.5.1. ETCC em Córtex Temporal Anterior Esquerdo 20
2.5.2. Mecanismos de ação da ETCC 22
2.5.3. Equipamento utilizado para a ETCC 23
2.6. Movimentos oculares na leitura 24
2.6.1. Equipamento utilizado para registro dos movimentos oculares 25
3. OBJETIVOS 27
3.1. Objetivo geral 27
3.2. Objetivos específicos 27
4. MÉTODO 28
4.1. Desenho do estudo 28
4.2. Contexto 28
4.3. Definições 28
4.4. Critérios de inclusão e de exclusão 28
4.5. Instrumento de avaliação da compreensão de leitura 29
4.6. Instrumento de avaliação da memória operacional 30
4.7. Procedimentos 30
5. RESULTADOS 35
6. DISCUSSÃO 45
7. CONCLUSÃO 48
8. REFERÊNCIAS 49
9. ANEXOS 55
1
1. INTRODUÇÃO
A leitura, envolvendo tanto a decodificação como a compreensão, tem sido
objeto de estudos de pesquisadores. Giangiacomo & Navas (2008) relatam que
alguns fatores contribuem para a compreensão da leitura: a eficiência de
decodificação, domínio do conhecimento, vocabulário, memória, capacidade de
fazer inferências e fatores sociais. Assim, a compreensão é um processo ativo que
requer uma interação intencional e cuidadosa entre o leitor e o texto.
Atualmente, estudos neurológicos relacionam o processamento semântico a
estruturas cerebrais como córtex temporal, parietal e occipital, e o envolvimento
dessas estruturas para a compreensão da leitura. Entretanto, a integração entre elas
ainda é pouco entendida pela complexidade na qual a compreensão é dada.
Este trabalho propõe estudar a compreensão de leitura através da
diferenciação dos efeitos da Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua
(ETCC) aplicadas em Córtex Temporal Anterior Esquerdo (CTAE) através da
mensuração do padrão de movimentos oculares durante a leitura em indivíduos
universitários que não apresentam dificuldades ou transtornos de aprendizagem.
A ETCC é uma técnica de neuromodulação cortical não invasiva, indolor, de
fácil aplicação e baixo custo. Essa técnica começou com investigações de funções
cognitivas, visuais e motoras em voluntários saudáveis e, atualmente, vem
ganhando destaque em pesquisas na investigação dos seus efeitos em alterações
dessas funções.
Neste estudo, a mensuração dos movimentos oculares permitirá perceber as
diferenças existentes no padrão de leitura dos indivíduos mediante as variações de
excitabilidade cortical utilizadas na ETCC.
2
No intuito de inferir sobre os fenômenos linguísticos que subjazem a tarefa de
compreensão de leitura, o controle dos movimentos oculares tem sido um forte
instrumento de investigação em desenvolvimento cognitivo. (RAYNER et al., 1996).
Para Kleiman (2011), a compreensão da escrita através da leitura é uma
tarefa complexa que envolve a compreensão de frases em sentenças, de
argumentos, de provas formais e informais, de objetivos, de intenções, muitas vezes
de ações e de motivações, envolvendo várias áreas cerebrais.
A pesquisa sobre compreensão de leitura é desafiadora, e torna-se
imprescindível que estudos sejam feitos com intuito de compreender cada vez mais
esse processo.
3
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Leitura
A escrita forneceu aos seres humanos a possibilidade de conhecer as
culturas dos seus antepassados e seus modos de vida. Assim, a leitura denomina-se
essencial para a compreensão do universo.
Entre as primeiras formas de escrita, o desenho era feito em rochas e pedras
e sua leitura dependia do contexto e das circunstâncias do ambiente no qual os
humanos viviam. A escrita pictórica podia ser bastante sofisticada quanto àquilo que
transmitia (ELLIS, 1995).
Na escrita ideográfica através de desenhos, um único desenho podia ser lido
e entendido para diversas representações.
Os verdadeiros sistemas de escrita apareceram pela primeira vez quando os
símbolos de escrita utilizados representavam palavras da língua, em vez de objetos
ou conceitos. A maior parte dos sistemas de escrita utilizados atualmente é
alfabético, ou seja, usa-se uma letra ou grupo de letras para representar um som,
sendo que o sistema alfabético tornou o processo de leitura mais objetivo.
A leitura envolve ler sentenças que se ligam para formar passagens de textos
coerentes e conectados que informam, instruem ou apenas entretêm (ELLIS, 1995).
Segundo Gough & Tunmer (1986) a leitura consiste de dois componentes: a
decodificação e a compreensão. A decodificação se refere aos processos de
reconhecimento da palavra escrita. A compreensão é definida como o processo pelo
qual as palavras, sentenças ou textos são interpretados.
Os modelos de decodificação e compreensão de leitura são, geralmente,
divididos em bottom-up, top-down e interativos.
4
No modelo bottom-up, ou ascendente, observa-se que a compreensão da
linguagem escrita parte dos estímulos visuais recebidos do texto, que vão sendo
processados até chegar a unidades maiores. Esse modelo privilegia a forma. Para
Sternberg (2000), o modelo bottom-up assim é chamado porque se baseia no uso de
estratégias ascendentes, na qual o leitor decodifica a informação disponível no nível
dos aspectos de percepção sensorial. Carrell et al. (1990) refere-se ao processo a
partir da construção do significado de unidades menores para maiores, ligada à
decodificação de unidades linguísticas (fonemas, grafemas, palavras) modificando o
conhecimento já existente e as predições, tendo como base as informações
encontradas no texto.
O modelo top-down, ou descendente, enfatiza a importância dos
conhecimentos gerais que o leitor tem, para relacionar, prever e levantar hipóteses
sobre a informação que está recebendo. Para Sternberg (2000) as estratégias
descendentes resultam das experiências prévias adquiridas ao longo da vida que
utilizamos para fazer previsões acerca do conteúdo de um texto. Carrell et al. (1990)
refere-se ao modelo como a ativação de predições sobre o texto baseado em
experiências anteriores, passando ao texto para confirmar essas predições,
refutando-as ou aceitando-as. Salles et al. (2007) complementam que nos processos
descendentes, o contexto ortográfico e semântico intervém na identificação das
palavras.
O processo bottom-up é utilizado, por exemplo, ao se ler palavras isoladas ou
descontextualizadas; e o processo top-down facilita o reconhecimento da palavra e
sua compreensão.
Carrell (1990) afirma que leitores mais habilidosos utilizam ambos, top-down e
bottom-up, alternadamente ou simultaneamente dependendo do texto e da situação
5
na qual a leitura acontece. Já leitores com alguma dificuldade, utilizam-se de um ou
outro modelo de acordo com a possibilidade.
A leitura não envolve apenas o reconhecimento de palavras isoladas, mas o
objetivo principal é a compreensão do conteúdo lido. Identificar palavras é
necessário para compreender um texto, no entanto pode não ser suficiente
(ALÉGRIA, LEYBAERT & MOUSTY, 1997).
2.2. Compreensão de leitura
Ao fazer a leitura de um texto, o leitor acessa o significado das palavras e
conceitos que estão armazenados em sua memória. A memória semântica
compreende todo o nosso conhecimento e entendimento sobre o significado das
palavras, objetos, pessoas, conceitos e eventos (CARAMAZZA & MAHON, 2006;
PATTERSON, NESTOR & ROGERS, 2007; ROGERS et. al., 2004). Portanto, a
memória desempenha papel importante na compreensão da leitura.
Pesquisadores desenvolveram modelos de redes semânticas e modelos
conexionistas ou de Processamento Distribuído Paralelo com o objetivo de
compreender o processamento das informações relacionadas a palavras e
conceitos.
O modelo conexionista estuda a mente por uma perspectiva computacional e
consiste em descrever o processamento cognitivo à semelhança de um computador:
dados de entrada (input), processamento destes e dados de saída (output)
(RUMELHARD et al., 1986).
Adams (1991) criou um modelo de processamento da linguagem escrita
baseado no modelo conexionista de Seidenberg & McClelland (1989). A autora
descreve quatro processadores interligados e conectados entre si, realizando
6
processos em paralelo e/ou simultaneamente. Nesse modelo, os padrões de
comportamento são arquivados pelo ajuste das conexões entre as redes de
unidades simples de processamento com base na resposta sobre a adequação das
unidades de processamento.
Figura 1: Modelo de processamento da linguagem escrita. (Adaptado de Adams, 1991).
Na linguagem escrita, o processador ortográfico representa o conhecimento
visual das palavras escritas.
O processador semântico armazena significados das palavras familiares
como conjuntos de elementos de significados mais primitivos interassociados. A
compreensão da leitura depende da experiência de vida de cada leitor, portanto, a
compreensão da palavra seria representada pela interassociação das propriedades,
7
que, em conjunto, representam a sua história, direta ou indireta, no que se refere a
sua experiência real, como por exemplo, objeto, pessoa, ou animal.
O trabalho do processador contextual representa o conhecimento do
contexto em que o enunciado se insere.
O processador fonológico recebe as informações do meio externo, através
da fala, e o leitor pode ativá-lo utilizando a subvocalização para facilitar a
decodificação das palavras.
Morais (1996) refere que a análise sintática e de integração semântica dos
constituintes da frase e de integração das frases na organização textual são
processos importantes para a compreensão da leitura.
Collins e Quillian (1969) propõem um modelo de redes semânticas, no qual o
conhecimento semântico é sustentado por um conjunto de nós, cada um
representando uma determinada função ou conceito, que estão conectados uns aos
outros.
A figura a seguir ilustra a organização de tal estrutura da memória.
8
Figura 2: Modelo das relações hierárquicas de memória no processamento semântico. (Adaptado de Quillian, 1967).
Nesse modelo, cada nó representa uma palavra específica, como “pássaro”, e
cada nó é armazenado com um conjunto de propriedades, tais como “tem asas” ou
“pode voar”. Há uma representação hierárquica, pois as conexões ligam categorias.
Por exemplo, “pássaro” está ligado a “canário”. Características, como “pode voar”,
são armazenadas apenas no nível de categoria, como “pássaro”, no qual estão
representadas propriedades chave.
Para recuperar esse conhecimento, um estímulo ativa um conjunto de nós,
que, em seguida, ativa outros nós relacionados e ocorre, então, a propagação da
ativação.
9
As conexões entre os nós podem envolver a participação em categorias,
atributos ou alguma outra relação semântica. Assim, uma rede proporciona um meio
para organizar conceitos.
Para Collins (1975) conceitos correspondem a percepções particulares de
palavras ou frases. As pessoas têm um grande número de conceitos. Os conceitos
contêm uma infinidade de informações importantes e esses conceitos podem ter
estruturas muito complicadas.
Collins & Loftus (1975) refinaram esse modelo. Eles ponderaram as ligações
para explicar o efeito tipicidade e chegaram à conclusão de que instâncias típicas de
uma categoria são reconhecidas mais rapidamente.
Modelos de rede mais sofisticados foram desenvolvidos posteriormente. No
modelo de Cravo & Martins (1993), cada nó pode representar algum outro elemento,
como um conceito ou uma característica, e não apenas uma palavra. Além disso, as
ligações ou conexões podem representar uma variedade de relações, não apenas
hierárquicas.
Sternberg (2008) compara os modelos conexionistas com os modelos em
rede semântica. Na representação em rede semântica, um indivíduo constrói uma
base de conhecimento sobre um sabiá com o passar do tempo, à medida que mais e
mais informações são adquiridas sobre sabiás. A rede conexionista, por sua vez,
representa padrões de ativação. O conhecimento está nas conexões em lugar dos
nós. Por meio da ativação de certas conexões, o conhecimento sobre um sabiá é
construído. Uma conexão forte é aquela que é ativada muitas vezes, ao passo que
uma fraca só é ativada em ocasiões raras.
Smith, Shoben & Rips (1974) propõem que a memória semântica compõe-se
a partir de listas de características para cada conceito. Assim, as conexões entre
10
eles não representam as relações entre si. Segundo Meyer (1970) e Rips (1975),
para descobrir as relações entre os conceitos é necessário comparar os conjuntos
de suas características.
Raaijmakers & Schiffrin (1981) propõem um modelo associativo. Segundo
esse modelo, quando dois itens ocupam a memória de trabalho ao mesmo tempo,
aumenta a força de sua associação. Estímulos ou características que coincidem
estão ligados fortemente.
Alguns estudiosos como Caramazza et al. (1990) e Lambon Ralph, Patterson
& Rodges (1997) referem que o conhecimento semântico é representado por um
único sistema. Segundo os defensores dessa perspectiva, o conhecimento
semântico é representado como um sistema único e central, enquanto o
conhecimento perceptual é representado em locais que são específicos para essa
modalidade. Para Riddoch et al. (1988), um sistema representa apenas as
características perceptuais dos objetos, tais como sua forma, cor, peso e
intensidade. Esse sistema é utilizado para identificar o objeto, isto é saber quais as
características do estímulo que correspondem a um dos objetos. Quando o estímulo
é reconhecido, uma representação separada do objeto na memória semântica é
ativada. Essa representação abrange todas as características semânticas do objeto,
tais como sua utilidade, consequências, problemas e assim por diante.
Rogers et al. (2003) argumentam que as representações perceptuais e
semânticas dos objetos são representadas no mesmo sistema. Assim, as
representações físicas dos objetos em diferentes modalidades, tais como a
aparência, som, cheiro, ou o tamanho desses estímulos e as interações e
associações entre essas características se integram para gerar conhecimento
11
semântico, ou seja, o conhecimento semântico é obtido a partir das relações entre
as características perceptivas.
Farah et al. (1989); Humphreys & Forde (2001) e McCarthy & Warrington
(1988) afirmam que o conhecimento semântico pode ser representado em múltiplos
sistemas.
Alguns resultados de pesquisa contestam a tese de que a memória semântica
pode constituir sistemas múltiplos. Em pacientes com Doença de Alzheimer, por
exemplo, déficits semânticos em uma modalidade tendem a coincidir com as
mesmas deficiências semânticas em outras modalidades (HODGES et al., 1996).
Quando a compreensão do texto não é possível pela codificação semântica
porque o significado da palavra ainda não existe na memória, o sujeito precisa
encontrar outra forma de deduzir o significado a ser codificado, observando o
contexto no qual a informação está inserida.
Kintsch & Van Dijk (1978) desenvolveram um Modelo de Compreensão de
Textos. Nesse modelo, tenta-se manter o máximo possível de informações na
memória de trabalho para entender o que está sendo lido. Armazenam-se as ideias
fundamentais de uma forma representativa simplificada na memória de trabalho
devido suas limitações. A forma representativa para essas ideias fundamentais é a
proposição.
A memória de trabalho é utilizada para lembrar informações temporariamente,
distinta da memória de longo prazo que é usada para lembrar informações por
longos períodos (SQUIRE & KNOWLTON, 2000).
De acordo com Kintsch & Keenan (1973), a memória de trabalho contém
proposições e não palavras. As proposições mais importantes ao tema prevalecem
por mais tempo na memória de trabalho do que as proposições irrelevantes.
12
Para Kintsch (1998), proposições são unidades abstratas de significado e
implicam, no mínimo, a predicação de algo, que pode ser uma propriedade, ação ou
relação acerca de algo, objeto ou argumento.
Além disso, Giangiacomo & Navas (2008) afirmam que por meio da memória
evoca-se todo o conhecimento adquirido e armazenado (memória de longo prazo)
para que possa ser usado na compreensão de leitura. É na memória operacional
que as palavras lidas são armazenadas até haver o processamento do significado. A
memória operacional participa ativamente na aquisição de vários conhecimentos,
sendo necessária para o funcionamento cognitivo e efetivo das atividades coloquiais
como rendimento escolar e profissional.
A macroestrutura do texto é formada por um conjunto de proposições que
representa a estrutura global do texto e é derivada da microestrutura que são as
informações dadas por cada sentença.
Segundo Salles et al. (2002), a compreensão pode ser entendida como um
processo que permite elaborar a macroestrutura do texto a partir de sua
microestrutura. A macroestrutura pode-se apresentar diretamente no texto, mas
geralmente necessita ser inferida pelo leitor.
Van Dijk & Kintsch (1983) distinguem três níveis na representação do
discurso:
A estrutura de superfície: palavras e sintagmas utilizados no texto.
O conteúdo semântico local e global: microestrutura e macroestrutura,
respectivamente.
Modelo de situação: conhecimentos pré-estabelecidos do sujeito,
envolve a elaboração de inferências.
13
As inferências podem ser de diferentes tipos:
Inferência dedutiva: ocorre a partir de um ou mais enunciados com
relação ao que se sabe para chegar a uma conclusão logicamente certa.
Baseia-se em proposições lógicas. Para Sternberg (2008), o raciocínio
dedutivo é útil porque ajuda as pessoas a conectar várias proposições
com o intuito de tirar conclusões.
Inferência Indutiva: ocorre a partir de fatos ou observações específicas
para chegar a uma conclusão provável que possa explicar os fatos. Para
Sternberg (2008), quem raciocina indutivamente pode usar a conclusão
provável para tentar predizer casos específicos futuros.
A principal característica que distingue os raciocínios indutivo e dedutivo é
que, no primeiro, nunca se chega a uma conclusão logicamente certa, mas sim a
uma conclusão bem fundamentada ou provável.
Kintsch (1983) refere-se a inferências não só como silogismos lógicos, mas
inclui todas as classes de declarações, que aparecem na representação mental do
texto, mas não estão diretamente ligadas pela entrada linguística. Ele inclui as
inferências lexicais e as inferências de esquema. Numa inferência esquemática, um
esquema ativado pelo texto fornece valores padrões para os componentes do
esquema não cobertos pelo texto.
Sternberg (2008) relata que esquemas são muito semelhantes a redes
semânticas, exceto pelo fato de que costumam ser mais orientados a tarefas.Os
esquemas podem incluir outros esquemas, englobar fatos típicos e gerais e variar
em seu grau de abstração. Podem, ainda, incluir informações sobre relações entre
conceitos, atributos dentro de conceitos e contextos particulares, conceitos
14
específicos e conhecimentos gerais. São importantes as relações causais dentro de
esquemas, do tipo “se... então”.
Em resumo, a compreensão do que é lido depende de acessar o significado
das palavras, com base na memória ou com base no contexto; deduzir o significado
de ideias fundamentais; formar modelos mentais, ou seja, criar algum tipo de
representação mental que contenha em si os principais elementos do texto e extrair
as informações do texto para aplicar essas informações ao objetivo da leitura.
2.3. Tipos de avaliação de compreensão da leitura
Quando o leitor contextualiza e atribui significado à sua leitura, é considerado
proficiente porque atingiu um nível de compreensão satisfatório.
Witter (1997) fez uma análise do Annual Summary of Investigations relating to
Reading e, ao comparar com a produção brasileira, concluiu que há poucas
pesquisas sobre leitura no Brasil.
Além disso, a maior parte das pesquisas refere-se ao processo de
decodificação, enquanto que há poucas referências em relação à compreensão de
leitura.
Atualmente, alguns instrumentos para avaliação da compreensão em leitura
têm sido utilizados por pesquisadores. Instrumento corresponde ao recurso utilizado
na avaliação, e técnica é o meio que informa o que se pretende na avaliação
(ALMEIDA, 1992).
Oliveira et al. (2005) utilizaram textos preparados segundo a Técnica de Cloze
com objetivo de explorar a relação entre a compreensão de leitura, o
desenvolvimento acadêmico e a avaliação da aprendizagem.
15
Em 2006, Oliveira explica que a técnica Cloze foi criada por W.L.Taylor em
1953 e consiste na omissão sistemática de todos os quintos vocábulos do texto. O
aluno deve preencher o espaço com a palavra que ache mais adequada.
Silva & Santos (2004) realizaram pesquisa com aplicação do Teste de Cloze
com objetivo de avaliar a compreensão de leitura e o desempenho acadêmico de
universitários.
Carvalho (2009) utilizou a análise do reconto oral do texto narrativo lido
silenciosamente e das respostas a questões de múltipla escolha para estudar o
desempenho de escolares do Ensino Fundamental em tarefas de compreensão de
leitura.
Em estudo que procurou verificar a influência da memória operacional nas
habilidades de compreensão de leitura, Giangiacomo & Navas (2008) realizaram a
avaliação a partir de leitura e respostas às questões de dois textos, sendo que para
cada texto havia 11 questões que deveriam ser respondidas com sim e não, e a
criança ainda deveria completar as lacunas com as palavras adequadas
apresentadas em texto Cloze. Em ambas as provas, foi calculado o tempo de
realização da tarefa em minutos.
Coelho & Correa (2010) utilizaram o Teste de Cloze para fazer estudo que
teve como objetivo examinar o progresso da compreensão leitora através do
desenvolvimento da habilidade de monitoramento a partir do emprego do paradigma
de detecção de erros.
O monitoramento é uma habilidade metacognitiva que está relacionada com a
aprendizagem e a rememoração (BROWN, 1978; BROWN, BRANSFORD,
FERRARA & CAMPIONE, 1983).
16
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998 pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) do Ministério
da Educação, é um exame individual e de caráter voluntário, oferecido anualmente
aos concluintes e egressos do ensino médio, com o objetivo principal de possibilitar
uma referência para a autoavaliação, a partir das competências e habilidades que o
estruturam.
Posteriormente, o ENEM começou a ser utilizado como exame de acesso ao
Ensino Superior em universidades públicas brasileiras através do Sistema de
Seleção Unificada (Sisu).
Para cada uma das questões objetivas são apresentadas cinco alternativas,
sendo que somente uma responde corretamente a questão.
2.4. Estudos neurobiológicos na compreensão da leitura
A leitura é uma forma de linguagem. Para Kandel et al. (1997) a linguagem é
uma capacidade exclusivamente humana. Nas suas formas escrita e falada, ela
representa interações significativas entre pessoas, não apenas no presente, mas
fora das limitações do tempo. Muitos estudos neurológicos sobre linguagem partem
de lesões em diferentes partes do córtex cerebral. Alguns pacientes afásicos têm
dificuldade na compreensão da fala e da escrita – afasia de Wernicke. Outros têm
dificuldade de expressar os pensamentos por meio da língua escrita ou falada –
afasia de Broca.
A afasia de Wernicke é caracterizada por deficiência importante na
compreensão. A lesão afeta primariamente a área de Wernicke, embora muitas
vezes se estenda para as partes superiores do lobo temporal (áreas 40 e 39) e,
inferiormente, para a área 37.
17
Pereira et al. (2003), em seu Estudo da Anatomia das áreas ativas nos usuais
paradigmas em Ressonância Magnética Funcional (RMF), referem que a Área de
Wernicke localiza-se no segmento posterior do gyrus temporal superior, na sua face
dorsal, logo atrás da circunvolução de Heschl e adiante do gyrus angulares.
Corresponde às áreas 22, 37, 39 e 40 de Brodmann e constitui o componente léxico-
semântico da linguagem.
Figura 3: Dois casos de ativação da área de Wernicke em testes de fluência semântica. (PEREIRA et al., 2003).
Segundo Binder (2005), recentes estudos de RMF demonstram que os
processos léxico-semânticos envolvem um número de regiões no hemisfério
esquerdo, localizados nos lobos temporal, parietal e região pré-frontal. Num estudo
através de ressonância magnética funcional no qual os participantes identificaram
palavras concretas e abstratas, áreas no lobo temporal lateral foram igualmente
ativadas por ambos os tipos de palavras. Os resultados mostraram sobreposição de
áreas, mas também que o processamento de conceitos abstratos ocorre quase
exclusivamente no hemisfério esquerdo.
Investigações em pacientes com demência semântica indicam que ambos os
lobos temporais anteriores, incluindo o córtex perirrinal, estão envolvidos no
processamento semântico (CHAN FOX et al., 2001; DAVIES et al., 2004; NESTOR
PEREIRA & ROGERS, 2007).
18
Segundo Patterson, Nestor & Rogers (2007) os lobos temporais anteriores
podem funcionar como um núcleo da rede de distribuição semântica, ou seja, o
conhecimento semântico pode ser distribuído entre áreas corticais de associação.
Como os lobos temporais se conectam com todos os outros sistemas sensoriais,
podem integrar as informações.
Outras pesquisas sugerem que a memória semântica é basicamente
sustentada por circuitos localizados principalmente no hemisfério esquerdo. Zahn et
al. (2004) realizaram um estudo com tomografia por emissão de pósitrons com
fluorodeoxiglicose (FDG-PET) e mostraram que o hipometabolismo no temporal
anterior esquerdo, temporal posterior inferior, parietal e occipital medial foram
relacionados ao desempenho em tarefas semânticas verbal e não verbal.
Yarkoni (2008) realizou estudos de neuroimagens durante a compreensão de
narrativa. Identificou uma participação das regiões: frontal, temporal e occipital.
Os resultados da pesquisa de Humphries (2001) dão suporte para o ponto de
vista que o córtex temporal anterior tem importante papel na compreensão de
sentença.
Kandel et al. (1997) relata que na maioria dos indivíduos destros, o hemisfério
esquerdo é especializado na linguagem e no processamento seriado correlato das
informações, e o hemisfério direito é especializado para os processos não verbais,
inclusive a visualização tridimensional, a rotação mental, o reconhecimento das
faces, e a compreensão do significado das expressões faciais. Várias linhas de
evidências sugerem que os padrões de assimetria cerebral podem diferir nos dois
sexos.
O teste do amital sódico (Wada), realizado em pacientes sem lesão cerebral
com objetivo de determinar o hemisfério dominante para as funções da fala, ajudou
19
a explorar a relação entre a desteridade e a especialização hemisférica. O teste
confirma que quase todas as pessoas destras (96%) têm a fala no hemisfério
esquerdo. A maioria dos canhotos também, contudo um número significativo (15%)
de pessoas canhotas tem a fala no hemisfério direito. Além disso, em algumas
pessoas canhotas, a fala é controlada por ambos os hemisférios, direito e esquerdo
(RASMUSSEM & MILNER, 1977).
O hemisfério direito nas meninas não é especializado para uma função
cognitiva particular, e por isso pode manter uma plasticidade maior por um período
mais longo que nos meninos. Após lesão do hemisfério esquerdo na infância, as
funções da linguagem parecem se transferir mais facilmente para o hemisfério direito
no sexo feminino do que no masculino. A afasia do desenvolvimento e o autismo
infantil são mais frequentes nos machos e os déficits de linguagem são sintomas
proeminentes em todas essas síndromes (KANDEL et al., 1997).
Chapman (1995) realizou estudo focalizando diferenças no desempenho
acadêmico de universitários que possam estar relacionadas ao gênero. Os
resultados apontam para um melhor rendimento das mulheres em relação aos
homens.
Shaywitz et al. (1990) realizaram um estudo e os resultados indicaram que a
prevalência de distúrbios de leitura identificados na escola é duas a quatro vezes
mais comuns em meninos do que meninas. Esses achados estão de acordo com
outras pesquisas nas quais a média de meninos em relação à meninas com
dificuldades na leitura tem variado de 2:1 até 5:1.
Baxter et al. (2002) comparou através de FMRI (Functional Magnetic
Resonance Imaging) dez cérebros femininos e nove masculinos durante tarefa de
processamento semântico. Homens mostraram ativação do hemisfério esquerdo,
20
com grandes locais de ativação focal nos Gyrus frontal inferior esquerdo, gyrus
temporal superior esquerdo e região do cíngulo, enquanto ativação do hemisfério
direito foi geralmente ausente. Em contraste, mulheres mostraram ativação em
ambos os hemisférios, direito e esquerdo.
2.5. Estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC)
A ETCC é uma técnica de neuromodulação cortical não invasiva, indolor, de
fácil aplicação e baixo custo. Essa técnica começou com investigações de funções
cognitivas, visuais e motoras em voluntários saudáveis e, atualmente, vem
ganhando destaque em pesquisas na investigação dos seus efeitos em alterações
dessas funções e em patologias.
A ETCC tem se mostrado como técnica de modulação de função cortical
capaz de induzir mudanças reversíveis de excitabilidade cortical.
Nietsche et. al. (2008) combinaram ETCC com técnicas de imageamento e
métodos de mapeamento cerebral (ressonância magnética funcional [FMRI],
eletroencefalografia [EEG] ou tomografia por emissão de pósitron [PET]) concluindo
que a estimulação pode gerar mudanças significativas relacionadas a modificação
do comportamento e os processos subjacentes de base.
2.5.1. ETCC em Córtex Temporal Anterior Esquerdo
Apenas um estudo sobre ETCC em Córtex Temporal Anterior (CTA) foi
descrito recentemente.
Boggio et al.(2009) procuraram verificar as consequências da estimulação
cerebral em uma tarefa de falsa memória. Os resultados mostraram que falsas
memórias foram reduzidas significativamente após duas condições ativas
21
(estimulação unilateral e bilateral), em comparação com a estimulação placebo. Não
foram relatadas mudanças significativas nas memórias verídicas. O estudo provou
que as falsas memórias são reduzidas em 73% quando a ETCC anódica é aplicada
em CTA ao longo das etapas de codificação e recuperação, sugerindo uma possível
estratégia para melhorar certos aspectos da aprendizagem.
Em pesquisa realizada anteriormente, Gallate et al. (2009) concluiram que as
falsas memórias são reduzidas temporariamente interrompendo a atividade no CTA,
com baixa frequência de estimulação de impulsos magnéticos, através do uso de
Estimulação Magnética Transcraniana (EMTr).
Afirmou também que, após a estimulação ativa, os participantes tiveram 36%
a menos de falsas memórias do que tinham após a estimulação placebo, enquanto a
memória verídica não foi afetada.
Com o objetivo de investigar o papel da alça fonológica na compreensão de
sentenças, foram testadas as consequências comportamentais do rompimento da
atividade neural nas áreas 40 e 44 do córtex temporal esquerdo através da EMTr.
Lauro et al. (2010) avaliaram a compreensão por meio de duas tarefas: uma
tarefa de harmonização da frase para a imagem, com variação de tamanho e
complexidade sintática, e outra tarefa de verificação de sentença.
Sobre a área 40, a ETMr apresentou uma redução significativa na precisão de
compreensão para frases longas e complexas, e sentenças sintaticamente mais
simples, enquanto que sobre a área 44 foi reduzida a precisão somente nas
sentenças sintaticamente mais complexas.
A EMTr aplicada sobre a área 40 também foi prejudicial em sentenças em que
a ordem das palavras foi crucial. Nesse estudo, portanto, foi sugerido que os
correlatos neurais da alça fonológica, areas 40 e 44 do córtex temporal esquerdo,
22
estão ambos envolvidos na compreensão de sentenças sintaticamente complexas,
enquanto que apenas a área 40, correspondente ao armazenamento de curto prazo,
é utilizada para a compreensão do tempo e frases sintaticamente mais simples.
2.5.2. Mecanismos de ação da ETCC
Boggio (2006) refere que os efeitos da ETCC dependem da polaridade, da
região estimulada, do tempo de estimulação e da intensidade da corrente utilizada.
A densidade da corrente, que determina a força do campo elétrico de indução,
é responsável por induzir modificações agudas da polaridade da membrana.
Já o tempo de estimulação determina a ocorrência e a duração dos efeitos
posteriores à estimulação.
O posicionamento dos eletrodos define a orientação do campo elétrico.
O ânodo é definido como eletrodo de carga positiva, e o cátodo é de carga
negativa.
Lolas (1977) refere aumento do disparo neuronal espontâneo em pesquisa
utilizando estimulação anódica, melhorando a transmissão do impulso nervoso.
Na estimulação catódica, o disparo espontâneo de neurônios corticais é
reduzido, provavelmente devido à hiperpolarização do corpo celular, dificultando a
transmissão do impulso nervoso.
Para Nitsche & Cohen et al. (2008), o mecanismo de ação da ETCC é
baseado nas alterações da função da membrana neural.
Pode-se obter um efeito diferenciado de estimulação a partir do número de
eletrodos, combinação do posicionamento e direção do fluxo da corrente.
23
Também é recomendada a utilização de Solução Fisiológica (NaCl) nas
esponjas que cobrem os eletrodos, possibilitando melhor condutância de corrente e
minimizando o desconforto que a estimulação pode gerar.
2.5.3. Equipamento utilizado para a ETCC
O equipamento de ETCC é constituído por quatro componentes principais:
dois eletrodos, sendo um ânodo e um cátodo; um amperímetro para medir a
intensidade da corrente elétrica; um potenciômetro para controlar a intensidade da
corrente; e um jogo de baterias para a geração de corrente elétrica contínua com
intensidade máxima de corrente de 2 miliamperes (mA) (FIQUER et al., 2007).
Figura 4: Aparelho de Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua.
Estudos recentes demonstram que os efeitos da ETCC são cumulativos e que
a estimulação de 2 mA é segura e mais eficiente que a estimulação de 1 mA
(FREGNI et al., 2005a; IYER et al., 2005).
24
2.6. Movimentos oculares na leitura
O registro dos movimentos oculares tem sido usado em diferentes modelos,
como nas provas de leitura de palavras isoladas, nos textos dinâmicos em que as
palavras são precedidas ou seguidas de uma máscara e na apresentação de
sentença (MACEDO et al., 2007).
Nos estudos de leitura, as principais propriedades do movimento ocular
analisadas são as fixações e os movimentos sacádicos. As fixações são breves
períodos de tempo durante os quais o olho permanece examinando uma pequena
área do estímulo. O movimento que o olho executa para a área de fixação é
chamado de sacada. A função principal da fixação é analisar detalhadamente o texto
no campo foveal, no qual a informação é mais facilmente passível de ser obtida, ao
contrário das regiões parafoveal e periférica (RAYNER, 1998).
As fixações acontecem somente sobre algumas palavras do texto, sendo que
as palavras curtas com duas a três letras são geralmente omitidas, enquanto as
maiores podem ser fixadas mais de uma vez (RAYNER, 1998). Embora nem todas
as palavras sejam fixadas, todas recebem algum tipo de processamento visual, visto
que se o mesmo texto fosse elaborado sem as palavras não fixadas, este se tornaria
incompreensível para o leitor. (RAYNER et al., 1996).
Segundo Macedo et al. (2007), existe uma correlação entre o aumento da
habilidade de leitura e eficácia no padrão de movimento ocular. O tamanho das
sacadas aumenta de acordo com a melhora nas habilidades de leitura, enquanto a
duração da fixação, o número de fixações e a frequência de sacadas regressivas
diminuem.
Oliveira (2011) avaliou e comparou e desempenho de universitários através
da mensuração dos movimentos oculares na realização da BALE (Bateria de Leitura
25
e Escrita) on-line (MACEDO et al., 2005), que é uma bateria composta por 5 testes
que avaliam os componentes linguísticos relacionados à leitura e à escrita.
Lukasova (2007) registrou movimentos oculares durante a leitura de palavras
e concluiu que os sujeitos com dificuldades na leitura possuem diferentes padrões
em aspectos como maior duração de fixação e maior número de fixação nas
palavras.
2.6.1. Equipamento utilizado para registro dos movimentos oculares
O equipamento utilizado foi o EyeGaze® desenvolvido pela LC Technologies
Inc. O movimento ocular é registrado com base no reflexo corneano. É composto por
um monitor de 17 polegadas TFT 1280x1024 pixels, que tem embutidas duas
câmeras de alta resolução na sua parte inferior, junto com os diodos que emitem
raio infravermelho (NearInfra-Red Light-Emitting Diodes - NIR-LEDs), na direção de
ambos os olhos.
O reflexo corneano que é captado pelas filmadoras embutidas é captado
através da luz infravermelha, que atinge a retina, passando pela córnea. O registro
de movimento ocular é processado com software Eyegaze System® operando no
sistema Windows® NT/2000. O Eyegaze System gera informações sobre visibilidade
do olho, posição do olho (coordenadas nos eixos x e y), diâmetro da pupila, posição
3D do globo ocular, análise resumida de fixações e sacadas. O reflexo melhora a
iluminação da pupila, facilitando o registro da câmera de vídeo, além de refletir a luz
em direção da tela do computador, cujas coordenadas são também gravadas pelo
vídeo numa frequência de 60 Hz. As imagens da câmera e as coordenadas são
computadas e a partir do resultado é reconstruído o registro de traçado ocular.
Ambos os olhos são gravados simultaneamente e, por ser binocular, o equipamento
26
tem uma tolerância para o movimento livre da cabeça (30 x 15 x 20 cm). Um
computador Dell® com processador Pentium® 4 é conectado com o equipamento
Tobii®, sendo este o computador principal para a aplicação dos procedimentos e
para o controle de posicionamento ocular do sujeito. A interface do equipamento
com o computador e outros programas, assim como o cálculo e análise de dados, é
feita pelos programas TET Server (Tobii Eye Tracking Server) versão 2.8.5. e o
Clear View versão 2.5.1., operando em Windows XP®. Os programas geram
arquivos com as propriedades do movimento ocular. Os dados podem ser
exportados em arquivos Excel, como real time, em arquivo AVI ou como imagens do
tipo Hot Spot.
Figura 5: Equipamento Tobii®.
27
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo geral
Investigar os possíveis efeitos da ETCC aplicada em CTAE em tarefa de
compreensão de leitura em voluntários sem Transtornos de Aprendizagem.
3.2. Objetivos específicos
Verificar o número de acertos na prova de compreensão de leitura, levando
em consideração o tipo de estimulação (anódica, catódica ou placebo) e a ordem de
aplicação das provas.
Verificar o número de fixação dos movimentos oculares na realização de cada
questão, na prova de compreensão de leitura, levando em consideração o tipo de
estimulação (anódica, catódica ou placebo) e ordem de aplicação das provas.
Verificar o tempo de fixação dos movimentos oculares na realização de cada
questão, na prova de compreensão de leitura, levando em consideração o tipo de
estimulação (anódica, catódica ou placebo) e ordem de aplicação das provas.
Verificar, através da prova de dígitos, as influências da ETCC em tarefa de
memória operacional.
28
4. MÉTODO
4.1. Desenho do estudo
Trata-se de um estudo interventivo, prospectivo, randomizado e placebo-
controlado.
4.2. Contexto
As aplicações de ETCC em CTAE durante tarefa de compreensão de leitura
foram realizadas na sala em que se encontra o equipamento Tobii®,no Laboratório
de Neurociências da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil.
4.3. Definições
Participaram do estudo 12 universitários do curso de Psicologia da
Universidade Presbiteriana Mackenzie (idade média 23,5).
As aplicações de ETCC foram realizadas por equipe especializada, integrante
do Laboratório de Neurociências da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
4.4 Critérios de inclusão e de exclusão
Critérios de inclusão:
Sexo Masculino.
Ser destro.
Ser universitário.
Assinar termo de consentimento livre e esclarecido para participar
do estudo (ANEXO I).
29
Foram selecionados apenas sujeitos do sexo masculino e destros, dadas as
variações estruturais neurobiológicas presentes nos gêneros e as relações entre
desteridade e especialização hemisférica para a linguagem.
Critérios de exclusão:
História de dificuldades de aprendizagem.
História de epilepsia, neurocirurgia e implante de marca-passo.
Dependência química.
Ausência de indicativos de desordens mentais.
Uso de medicação psicoativa.
Os critérios de exclusão foram coletados através de questionário (ANEXO I).
4.5. Instrumento de avaliação de compreensão de leitura
Para avaliação da compreensão de leitura foi utilizada uma prova de dez
questões de cunho interpretativo do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
(ANEXO III).
As questões foram selecionadas pela autora da dissertação de acordo com os
seguintes critérios:
Número de palavras do enunciado.
A B C D E F G H I J TOTAL
Nº de palavras por questão 235 239 296 141 158 239 219 208 374 217 2326
Padrão de estética semelhante na estrutura da questão.
Enunciados que possibilitem a interpretação da leitura e evitem
conhecimento prévio sobre o assunto.
Não apresentação de fatos históricos.
30
Para cada uma das questões objetivas foram apresentadas cinco alternativas,
identificadas pelos números 1, 2, 3, 4 e 5. Apenas uma alternativa responde
corretamente a questão.
Os slides referentes a cada questão foram confeccionados em arquivos de
formato bitmap (BMP) com resolução 800 x 600 pixels. A fonte utilizada foi Calibri,
cor preta, tamanho 18 em fundo branco.
Após a apresentação de cada questão, apareceu na tela um ponto preto central
e, nesse momento, o sujeito emitiu a resposta considerada correta, que foi anotada pelo
examinador.
4.6. Instrumento de avaliação de memória operacional
Para mensuração da influência da memória operacional foi utilizada a Prova
de Dígitos da “Escala de Inteligência Wechsler para adultos – 3ª Edição – Adaptação
Brasileira – 1ª Edição – WAIS III”.
Para a realização dessa prova, o sujeito deveria repetir primeiramente os
números falados pelo examinador em Ordem Direta e, em seguida, em Ordem
Inversa. O grau de dificuldade de memorização dos números vai aumentando
progressivamente até que o sujeito não consiga mais repeti-los corretamente.
Essa avaliação foi realizada antes e depois da ETCC.
4.7. Procedimentos
O presente projeto de pesquisa, bem como a Carta de Informação ao Sujeito de
Pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram enviados ao Comitê
de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O projeto foi avaliado e aprovado no
CEO/UPM nº 1317/03/2011 e CAAE nº 0012.0.272.000-11 (ANEXO II). Os sujeitos
31
foram convidados para participação na pesquisa e receberam informações acerca dos
objetivos e aspectos éticos da pesquisa. Após a leitura e assinatura do Termo de
Consentimento, foi realizada a aplicação do questionário para verificação dos critérios
de inclusão e de exclusão. Para o registro de movimentos oculares, os sujeitos foram
acomodados numa cadeira à distância de 50 cm da tela do computador e foi realizada a
calibração do padrão ocular. Uma pesquisadora integrante do Laboratório foi chamada
para a colocação dos eletrodos em CTAE para início da ETCC. Após cinco minutos de
estimulação ativa os sujeitos foram instruídos a realizar a prova de dígitos. Após a
realização desta, foi dado início à avaliação de compreensão de leitura através da
mensuração dos movimentos oculares. O examinador presente foi anotando as
respostas consideradas corretas pelo participante da pesquisa em seu gabarito. Ao
término da realização das questões, foi realizada a prova de dígitos novamente. Ao final
das provas, o aparelho de ETCC foi desligado. Após uma semana, foi realizado novo
experimento, nos mesmos padrões, com o mesmo participante, porém a avaliação de
compreensão de leitura foi apresentada com as questões em nova ordem escolhida
aleatoriamente e houve a alteração do tipo de estimulação utilizada (ânodo, cátodo ou
placebo). Ao todo, cada participante recebeu os três tipos de estimulação com carga
de 2mA em sequência aleatória e contrabalanceada, com intervalos de aplicação de
uma semana.
A seguir, uma descrição sobre o posicionamento dos eletrodos e tipo de
estimulação utilizada:
ETCC anódica: ânodo posicionado em CTAE e cátodo em
músculo deltoide direito.
ETCC catódica: cátodo posicionado em CTAE e ânodo em
músculo deltoide direito.
32
ETCC placebo: ânodo posicionado em CTAE e cátodo em
músculo deltoide direito, entretanto o aparelho foi desligado após 5
minutos.
O aparelho utilizado possui ajuste para placebo, o que faz com que, mesmo
após o aparelho ser desligado, o amperímetro (que marca a intensidade de corrente
contínua) permaneça sinalizando que o equipamento está ligado. Dessa forma,
quando aplicada, a estimulação placebo produz sensações semelhantes, porém os
indivíduos não são estimulados.
A corrente elétrica foi aplicada através de dois eletrodos de borracha
condutora com 35 cm2 envoltos por esponjas embebidas em soro fisiológico. A
corrente elétrica foi gerada por um estimulador de corrente constante específico.
Um eletrodo foi colocado sobre o couro cabeludo, no ponto subjacente à
região do CTAE, classificada como Área 39 no Sistema Internacional para EEG 10-
20, e fixado com o auxílio de uma fita elástica; o outro foi colocado sobre o músculo
deltoide, também fixado com o auxílio de outra fita elástica. Na estimulação anódica,
a corrente contínua foi colocada na região do CTAE, e o eletrodo com a corrente
contínua catódica foi alocado sobre o músculo deltoide; na estimulação catódica,
ocorreu o inverso.
33
Figura 6: Sistema Internacional 10 – 20 EEG de posicionamento de eletrodos.
A seguir, um quadro com os dados das divisões dos tipos de estimulação e
das provas que foram aplicados nas datas previstas (A, B e C). A ordem de
aplicação de ETCC foi randomizada (escolhida aleatoriamente), sendo que o
participante da pesquisa não teve acesso ao tipo de estimulação que recebeu.
34
Quadro 1: Tipos de estimulação e de provas em cada dia de experimento.
SUJEITO DIA A DIA B DIA C
1 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo
2 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo
3 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo
4 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo
5 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo
6 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo
7 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo
8 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo
9 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo
10 P1 cátodo P2 ânodo P3 placebo
11 P2 placebo P3 cátodo P1 ânodo
12 P3 ânodo P1 placebo P2 cátodo
O número de 12 participantes para o estudo foi escolhido com o objetivo de
conseguir, na análise estatística, homogeneidade na formação dos grupos em
função das estimulações catódica, anódica e placebo.
Os dados obtidos foram transmitidos para o software Microsoft Excel® e,
então, organizados para a análise de dados.
Nessa analise estatística foram utilizados os softwares: SPSS V16, Minitab 15
e Excel Office 2007.
35
5. RESULTADOS
Os resultados obtidos na Prova De Compreensão de Leitura sob os efeitos da
ETCC foram analisados, considerando as seguintes variáveis independentes: tipo de
estimulação (anódica, catódica e placebo) e ordem de aplicação da Prova de
Compreensão de Leitura. Foram consideradas as seguintes variáveis dependentes:
acerto e erro; tempo de fixação durante a leitura; e número de fixações durante a
realização da prova.
Para a análise dos dados, utilizaram-se testes e técnicas estatísticas não
paramétricas, porque as condições para a utilização de técnicas e testes
paramétricos, como a normalidade (teste de Anderson-Darling, gráfico de
distribuição de normalidade, sigla AD) e homocedasticidade (homogeneidade das
variâncias, teste de Levene), não foram encontradas (principalmente a normalidade)
nesse conjunto de dados.
Quanto à distribuição da frequência relativa (percentuais) de acerto/erro de
cada uma das questões, foram realizadas duas comparações: entre os estímulos e
entre a ordem de aplicações. Para realização dessas análises foi aplicado o teste de
Igualdade de Duas Proporções.
Como a variável tipo de estimulação possui mais do que dois níveis de
resposta, a análise foi feita em duas etapas. A primeira etapa localizou a distribuição
proporcional entre todos os níveis de resposta, no entanto, para determinar se existe
ou não diferença entre eles, foi preciso compará-los dois a dois. Assim, foi obtido os
p-valores dessas comparações (ANEXO IV).
O p-valor é o valor considerado estatisticamente significativo perante o nível
de significância adotado, que neste trabalho é de 0,05 (5%).
36
Na análise da influência dos tipos de ETCC aplicadas em tarefa de
compreensão de leitura, verificamos que praticamente não existem diferenças entre
os estímulos e as aplicações, respectivamente. Somente uma exceção ocorreu na
comparação dos estímulos ânodo e placebo na Questão E (p-valor = 0,013). Nota-se
que em acerto, o estímulo ânodo teve 16,7% contra 66,7% do placebo. Já em
relação às aplicações (Figura 2), somente na Questão J apareceu a ocorrência de
um dado estatisticamente próximo do limite de aceitação (até 5 pontos percentuais
acima do p-valor adotado).
Figura 1: Níveis de acerto relacionados com os tipos de ETCC aplicadas
Figura 2: Níveis de acerto relacionados com a ordem de aplicação das provas
Para a análise dos valores quantitativos, iniciada pela variável tempo de
fixação na realização da prova, foi utilizado o teste de Friedman comparando os
83
,3%
10
0,0
%
33
,3%
16
,7%
16
,7%
75
,0%
75
,0%
10
0,0
%
0,0
%
75
,0%
10
0,0
%
10
0,0
%
33
,3%
33
,3%
50
,0%
75
,0%
75
,0%
83
,3%
8,3
%
91
,7%
91
,7%
10
0,0
%
33
,3%
33
,3%
66
,7%
66
,7%
66
,7%
91
,7%
0,0
%
91
,7%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Quest. A Quest. B Quest. C Quest. D Quest. E Quest. F Quest. G Quest. H Quest. I Quest. J
Anodo Catodo Placebo
10
0,0
%
10
0,0
%
25
,0%
25
,0%
50
,0%
75
,0%
66
,7%
83
,3%
8,3
%
75
,0%
83
,3%
10
0,0
%
41
,7%
33
,3%
41
,7%
66
,7%
75
,0%
10
0,0
%
0,0
%
83
,3%
91
,7%
10
0,0
%
33
,3%
25
,0%
41
,7%
75
,0%
75
,0%
91
,7%
0,0
%
10
0,0
%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Quest. A Quest. B Quest. C Quest. D Quest. E Quest. F Quest. G Quest. H Quest. I Quest. J
1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.
37
estímulos e as aplicações. Nesse teste, os dados foram pareados, ou seja, quando o
sujeito foi pesquisa e controle dele mesmo. Quando encontrada diferença em algum
dos fatores, foi realizado o teste de Wilcoxon (também pareado) para compararmos
todas as respostas daquele fator aos pares e mostrar com precisão entre quais
respostas ocorreu a diferença.
Segue abaixo as comparações dos fatores: estímulos e aplicações, para o
tempo de fixação nas questões e suas respostas. Os resultados apresentados
referem-se somente às questões em que foi possível estabelecer um nível de
significância.
Figura 3: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC aplicadas na Questão B
Na resposta da questão B5 houve efeito significativo na relação entre ânodo e
placebo relacionada ao tempo de fixação, mas não houve efeito significativo na
relação ânodo e cátodo.
Figura 4: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC aplicadas na Questão F
34
,27
3
2,3
07
2,0
65
1,1
80
2,4
33
2,3
15
31
,56
0
2,4
90
1,8
77
1,4
63
2,5
09
1,1
74
31
,66
7
2,6
75
1,4
18
1,4
32
2,4
04
1,0
98
0
10
20
30
40
50
60
Questão B Resp B1 Resp B2 Resp B3 Resp B4 Resp B5
Anodo Catodo Placebo
20
,45
9
7,8
41
2,5
54
5,2
70
3,3
10
2,8
82
23
,02
4
4,0
11
2,6
90
3,8
54
2,7
22
3,0
73
26
,01
4
7,3
59
2,3
50
4,7
37
1,9
71
7,8
92
0
10
20
30
40
50
60
Questão F Resp F1 Resp F2 Resp F3 Resp F4 Resp F5
Anodo Catodo Placebo
38
O resultado acima, na questão F1, refere-se à maior tempo de fixação em
ânodo do que em cátodo, não correlato à hipótese deste estudo.
No caso de uma estimulação de excitabilidade neural, deve-se esperar que o
tempo de fixação durante a leitura da prova seja inferior ao tempo utilizado durante a
estimulação inibitória da atividade neural.
Figura 5: Tempo de fixação relacionado com os tipos de ETCC aplicadas na Questão G
Na Questão G, alternativas 1 e 3, os resultados se mostraram dentro dos
padrões esperados nas relações entre tempo de fixação e tipo de estimulação:
foram apresentados menores tempos de fixação durante a estimulação anódica e o
inverso na estimulação catódica.
A seguir serão apresentados os resultados que comparam a ordem das
aplicações da prova de compreensão de leitura com o tempo de fixação coletados
através do Tobii®.
No total foram realizadas três aplicações da prova de compreensão de leitura,
espaçadas em intervalos de uma semana cada uma.
Figura 6: Tempo de fixação relacionado com a ordem de aplicação das provas na Questão A
43
,77
9
2,0
10
1,8
92
1,8
49
1,8
88
1,9
93
42
,85
9
3,5
06
3,0
61
2,3
45
3,7
19
1,9
99
41
,72
8
2,7
14
2,5
66
1,1
34
2,3
35
2,4
68
0
10
20
30
40
50
60
Questão G Resp G1 Resp G2 Resp G3 Resp G4 Resp G5
Anodo Catodo Placebo
40
,37
6
3,0
53
2,9
09
4,0
48
3,2
01
2,5
21
27
,38
8
1,7
76
1,6
94
3,1
49
1,6
99
1,9
48
25
,80
4
1,5
64
1,7
12
2,2
92
1,3
27
1,2
70
0
10
20
30
40
50
60
Questão A Resp A1 Resp A2 Resp A3 Resp A4 Resp A5
1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.
39
Os resultados indicam que se estabeleceu uma forte e constante relação de
diminuição de tempo de fixação da primeira para a terceira aplicação, o que sugere
que houve um acesso cada vez mais rápido às redes semânticas com prevalência
do uso da memória.
Nas figuras subsequentes, referentes à comparação das aplicações para
tempo de fixação com efeitos significativos, pode-se constatar que o mesmo ocorreu
para todas as questões (ANEXO V).
Ao exemplificar a comparação dos tipos de Aplicações na Questão I (Figura
7), a partir da constatação que existe diferença significativa entre aplicações para o
tempo na resposta I3 (p-valor = 0,046), percebe-se que essa diferença ocorreu entre
a primeira aplicação em relação às outras duas.
Figura 7: Tempo de fixação relacionado com a ordem de aplicação das provas na Questão I
A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que existem diversas
comparações entre os fatores estímulo e aplicação com relação ao tempo de
fixação. Analisando as figuras em todas as questões referentes ao tempo de fixação
verifica-se que o mesmo é maior na primeira aplicação da prova em relação às duas
subsequentes.
A seguir serão realizadas as mesmas comparações, considerando o número
de fixações durante a prova de compreensão de leitura.
36
,51
6
1,9
28
2,5
81
3,1
43
3,4
63
4,9
41
31
,26
6
1,5
13
1,7
82
1,4
55
1,7
17
2,7
31
26
,94
7
1,7
36
1,9
73
1,5
22
1,6
69
3,2
65
0
10
20
30
40
50
60
Questão I Resp I1 Resp I2 Resp I3 Resp I4 Resp I5
1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.
40
Figura 8: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão B
Na comparação dos tipos de estimulação com o número de fixação obtido
durante a realização da prova de compreensão de leitura, os resultados acima se
assemelham aos ocorridos na discussão da figura 4, no qual os sujeitos apresentam
um maior número de fixação em ânodo do que em cátodo e placebo, indicando que
a ETCC não teve influência na obtenção desses dados. Ainda assim, os dados com
efeito significativo referem-se ao cruzamento das estimulações anódica e placebo, o
que inviabiliza uma possível relação na presente comparação.
Figura 9: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão E
Na análise dos dados da figura 9 não houve relação entre ânodo e cátodo,
novamente indicando a falta de relação na comparação entre os tipos de
estimulação e o número de fixação.
15
5,3
10
,8
9,4
5,8
10
,5
10
,2
14
6,6
11
,5
8,6
6,8
11
,4
4,8
14
4,7
11
,0
6,7
7,3
10
,8
5,6
0
50
100
150
200
250
Questão B Resp B1 Resp B2 Resp B3 Resp B4 Resp B5
Anodo Catodo Placebo
16
1,8
16
,3
14
,9
10
,3
9,5
9,7
16
6,4
12
,6
16
,3
14
,2
13
,4
10
,3
17
1,7
16
,2
11
,8
14
,8
11
,3
11
,8
0
50
100
150
200
250
Questão E Resp E1 Resp E2 Resp E3 Resp E4 Resp E5
Anodo Catodo Placebo
41
Figura 10: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão F
O mesmo padrão de semelhança da figura 8 foi encontrado nos dados
apresentados acima, com maior número de fixações em ânodo. Novamente,
constata-se que não houve influência da ETCC no número de fixações.
Figura 11: Número de fixações relacionado com o tipo de ETCC na Questão G
Os resultados da figura 11, referentes à alternativa G1, indicam que existe
efeito significativo na relação entre ETCC anódica e o número de fixações. Esse
dado se revela importante, porque o nível de significância indica que houve maior
número de fixações durante a estimulação catódica, que é a hipótese deste estudo.
Na comparação a seguir, serão analisados os dados referentes ao
cruzamento das aplicações da prova de compreensão de leitura com o número de
fixação coletado.
A análise dos dados das questões que se seguiram (ANEXO V) refere-se à
comparação da ordem das aplicações com o número de fixações. Os resultados
assemelham-se aos resultados obtidos nas figuras que se referem à comparação da
86
,3
31
,5
11
,4
20
,2
13
,4
11
,8
99
,0
18
,2
10
,3
16
,8
10
,6
14
,4
11
5,0
29
,8
10
,3
21
,0
9,4
37
,1
0
50
100
150
200
250
Questão F Resp F1 Resp F2 Resp F3 Resp F4 Resp F5
Anodo Catodo Placebo
18
5,8
6,6
8,4
7,4
7,8
7,8
18
4,1
12
,9
10
,9
8,8
13
,1
8,3
18
6,3
9,7
9,6
5,0
9,7
10
,3
0
50
100
150
200
250
Questão G Resp G1 Resp G2 Resp G3 Resp G4 Resp G5
Anodo Catodo Placebo
42
ordem das aplicações com o tempo de fixações. O número de fixações diminui a
partir da primeira aplicação em relação a segunda e terceira, como no exemplo a
seguir.
Figura 12: Número de fixações relacionado com a ordem de aplicação das provas na Questão A
Na avaliação dos resultados obtidos na prova de dígitos efetuada antes e
depois da prova de compreensão de leitura, embora exista diferença na comparação
dos estímulos ânodo, cátodo e placebo, estas diferenças não foram consideradas
estatisticamente significantes, portanto pode-se afirmar que não existe efeito da
ETCC em CTAE, na memória operacional.
Figura 13: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com os tipos de ETCC
aplicadas antes da prova de compreensão de leitura
Na figura acima, o melhor desempenho dos participantes da pesquisa ocorreu
na estimulação catódica, demonstrando que não existiu efeito significativo durante a
estimulação anódica de excitabilidade neural.
17
6,4
12
,7
11
,8
16
,6
11
,5
11
,0
12
4,5
8,3
7,3
13
,2
6,8
7,9
11
5,0
6,7
8,4
9,9
6,0
5,8
0
50
100
150
200
250
Questão A Resp A1 Resp A2 Resp A3 Resp A4 Resp A5
1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.
10,1
7,1
17,2
10,7
7,2
17,8
10,2
7,3
17,4
0
5
10
15
20
25
Direita Inversa Total
Anodo Catodo Placebo
43
Na figura 14, percebe-se uma curva descendente adequada aos tipos de
estimulação empregados, porém os p-valores (0,148; 0,232; 0,164) obtidos indicam
que esses dados não podem ser considerados estatisticamente significativos.
Figura 14: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com os tipos de ETCC
aplicadas depois da prova de compreensão de leitura
As diferenças encontradas nas três aplicações antes e depois da prova de
compreensão de leitura foram semelhantes às descobertas na comparação da
ETCC da prova de dígitos relatada acima. De fato, também não foram encontrados
p-valores que propusessem fundamentos à hipótese de que este estudo viesse a
contribuir com resultados que indicassem que a ETCC anódica em CTAE causaria
melhor desempenho na memória operacional.
Figura 15: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com a ordem de aplicação das
provas antes da avaliação de compreensão de leitura
11,3
8,0
19,3
11,2
7,8
19,0
10,6
6,9
17,5
0
5
10
15
20
25
Direita Inversa Total
Anodo Catodo Placebo
10,1
7,1
17,2
10,2 7,3
17,4
10,7
7,2
17,8
0
5
10
15
20
25
Direita Inversa Total
1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.
44
Figura 16: Relaciona desempenho em tarefa de memória operacional com a ordem de aplicação das
provas depois da avaliação de compreensão de leitura
11,3
8,0
19,3
10,6
6,9
17,5
11,2
7,8
19,0
0
5
10
15
20
25
Direita Inversa Total
1ª Aplic. 2ª Aplic. 3ª Aplic.
45
6. DISCUSSÃO
Embora não tenha sido observado efeito das estimulações anódica, catódica
e placebo na realização da prova de compreensão de leitura, este estudo permitiu
confirmar alguns fatos já descritos na literatura.
De acordo com os dados estatísticos, foi possível evidenciar que, mesmo o
resultado da estimulação anódica tendo sido satisfatório na resolução de algumas
questões, não foram significativos e, na maioria das vezes, não existiu congruência
entre o tipo de estimulação aplicada e o número de acertos das alternativas
apresentadas. De forma geral, os resultados da ETCC não ocorreram conforme a
hipótese deste trabalho.
Boggio et al. (2009) provou em seu estudo que houve efeito da ETCC anódica
aplicada em CTA em falsa memória. Neste trabalho, ao relacionar a compreensão
de leitura envolvendo os aspectos semânticos, inferenciais e de memória com ETCC
em região semelhante, pode-se constatar que a mesma não potencializou ou
reduziu o desempenho dos participantes.
Estudos com EMTr (GALLATE et al., 2009; LAURO et al., 2010) concluíram
que a atividade neural pode ser modulada com resultados diferenciados na
estimulação ativa e placebo, tanto para as falsas memórias, quanto para a
compreensão de sentença em Córtex Temporal Esquerdo.
O tipo de estimulação pode ter influenciado nos resultados desta pesquisa. A
ETCC difere qualitativamente de outras formas de estimulação, como a EMTr, que
não induz potenciais de ação neuronal, porque campos estáticos nessa extensão
não provocam a rápida despolarização necessária para produzir tais potenciais
(NITSCHE, COHEN et al., 2008). A EMTr tem efeito mais pronunciado na atividade
46
cortical de sujeitos com transtornos neurológicos, do que em sujeitos normais. A
modulação da atividade em um cérebro patológico poderia restituir a atividade
cerebral normal, portanto mais resistente a possíveis efeitos compensatórios do
tecido nervoso (FREGNI & MARCOLIN, 2004).
A falta de efeito das estimulações anódica e catódica pode ser explicada pelo
fato dos sujeitos avaliados serem universitários bons leitores e sem histórico de
problemas de aprendizagem. Essa explicação poderá ser testada futuramente
através da elaboração de pesquisas com participantes que tenham diagnóstico de
dificuldades em leitura.
Uma limitação deste estudo parece ter sido o fato de que a compreensão de
leitura envolve a participação dos lobos temporais, parietal e região pré-frontal
(BINDER, 2005; CHAN FOX et al., 2001; DAVIES et al., 2004; NESTOR PEREIRA &
ROGERS, 2007) e a ETCC foi aplicada somente no CTAE.
Novas pesquisas envolvendo tarefas de múltipla escolha em compreensão de
leitura e EMTr possibilitarão uma maior compreensão dos efeitos desse tipo de
estimulação.
A partir da avaliação de múltipla escolha para a verificação da compreensão
de leitura não foram encontradas pesquisas que se utilizassem de neuromodulação.
Em tarefa de memória operacional realizada a partir da prova de dígito, a
ETCC aplicada em CTAE apresentou resposta negativa no que se refere a um
melhor desempenho cognitivo durante a estimulação anódica; ou sua diminuição em
estimulação catódica, assim como ocorrido na prova de compreensão de leitura.
O tamanho da amostra, de apenas 12 sujeitos, pode ter tido uma grande
influência nos resultados obtidos. Embora os resultados relacionados às aplicações
das provas de múltipla escolha tenham mostrado significância no que diz respeito à
47
compreensão de leitura, não ocorreu o mesmo com os efeitos da ETCC. É
interessante que novos estudos nesse sentido sejam feitos com ampliação da
amostra.
A análise estatística dos dados referent
Recommended