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Edição 24 da revista de quase todos os relógios.
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| P r i m a v e r a 2 0 0 7 I
Director• Hubert de Haro • hubert.deharo@torresdistrib.com
Editor • Paulo Costa Dias • costa.dias@torresdistrib.com
Design gráfico • Paulo Pires • paulo.pires@torresdistrib.com
Fotografia • Nuno Correia
Editor técnico • Miguel Seabra • cronopress@hotmail.com
Colaboraram nesta edição• Dody Giussani (L’Orologio)• Fernando Campos Ferreira• Fernando Correia de Oliveira• François-Paul Journe• Frederico Van Zeller• Nysse Arruda• Rui Cardoso Martins• Rui Santos• Science & Vie
Traduções • Maria Vieira • marie.vieira@torresdistrib.com
Contabilidade • Elsa Filipe • elsa.filipe@torresdistrib.com
Coordenação de publicidade e assinaturas • Patrícia Simas • patricia.simas@torresdistrib.com
Revisão • Letrário - Serviços de Consultoria e Revisão de Textos letrario@mail.telepac.pt • www.letrario.com
03Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
[ Editorial ]
ParceirosAir France • Ass. Jog. Praia d’El Rey • Belas Clube de Campo
• Beloura Golfe • Casa da Calçada • Casa Velha do Palheiro
• Clube de Golf Pinta/Gramacho • Clube de Golfe Miramar
• Clube VII • Clube de Golfe de Vilamoura • Estalagem Melo
Alvim • Golfe Aroeira • Golfe Paço do Lumiar • Golfe Quinta
da Barca • Hotel Convento de São Paulo • Hotel Fortaleza do
Guincho • Hotel Golfe Quinta da Marinha • Hotel Melia – Gaia
• Hotel Méridien Lisboa • Hotel Méridien Porto • Hotel Palácio
Estoril • Hotel Quinta das Lágrimas • Hotéis Tivoli
• Lisbon Sports Club • Morgado do Reguengo Golfe • Museu
do Relógio de Serpa • Palácio Belmonte • Penha Longa Golf
Club • Pestana Hotels & Resorts • Portugália Airlines • Quinta
do Brinçal, Clube de Golfe • TAP Portugal • Tróia Golf • Vidago
Palace Hotel, Conference & Golf Resort • Vila Monte Resort
• Vintage House
Ficha técnicaCorrespondência: Espiral do Tempo, Av. Almirante Reis, 391169-039 Lisboa • Fax: 21 811 08 92espiraldotempo@torresdistrib.comPropriedade: todos os artigos, desenhos e fotografias estão sobre a protecção do código de direitos de autor e não podem ser total ou parcialmente reproduzidos sem a permissão prévia por escrito da empresa editora da revista: Company One, Lda sito na Av. Almirante Reis, 39 – 1169-039 Lisboa. A revista não assume, necessariamente, as opiniões expressas pelos colabo radores.
• Digitalização: ZL - Zonelab • Distribuição: VASP • Impressão: Soctip Periodicidade: trimestral• Tiragem: 52.000 exemplares • Registo pessoa colectiva: 502964332• Registo no ICS: 123890• Depósito legal Nº 167784/01
Não tem nada a ver com alguma imperativa resposta à concorrência, à semelhança da luta
fratricida entre Visão e Sábado. Muito menos com eventuais comentários dos nossos leitores!
Simplesmente a vontade de continuar a apresentar o nosso conteúdo com a maior modernidade
possível, sem nunca esquecer o nosso primeiro propósito: pesquisar em Portugal, e pelo mundo
fora, temas “quentes” da relojoaria, contando histórias vividas pelos vários actores deste sector.
Os “contadores de histórias” poderão ser peritos na bela relojoaria (como é incontestavelmente o
caso do nosso Editor Técnico Miguel Seabra) ou convidados nossos que sempre tiveram grande
fascínio pela alta-relojoaria sem, no entanto, alguma vez terem visitado uma verdadeira manufac-
tura de relógios. É o caso nesta edição do jornalista desportivo Rui Santos que nos deu o prazer
da sua companhia durante uma visita à Franck Muller, Genthod (prazer confirmado na leitura do
seu excelente texto); bem como do piloto Paulo Pires durante a visita aos ateliers da Fortis em
Grenchen, que soube escrever sobre a marca e a série limitada dedicada aos pilotos da sua TAP
Portugal com uma paixão inesperada por parte de um neófito.
Esses dois colaboradores de luxo confirmaram que o interesse pela bela relojoaria no nosso País
ultrapassa hoje o círculo limitado dos grandes coleccionadores. Esta constatação levou-nos a ce-
lebrar um novo acordo de circulação com a prestigiada organização Pestana Hotels & Resorts. O
leitor poderá, a partir desta edição, encontrar a Espiral do Tempo em qualquer uma das Pousadas
de Portugal.
Na iminência das duas principais feiras do sector (Basileia de 12 a 19 de Abril; e Genebra de 16
a 23 de Abril), decidimos não divulgar nenhuma novidade para podermos realizar um dossier
completo na próxima edição. Por isso, mantenha-se atento(a)!
De resto, toda a equipa da Espiral se junta a mim para lhe desejar uma óptima leitura!
Hubert de HaroDirector
Este número 24 assinala uma mudança significativa do grafismo
da “revista de quase todos os relógios”.
Onde fomos Edição 24 | Primavera 2007
Percorremos um pouco da Europa para levar até si este número da Espiral do Tempo, edição de Primavera.
Em Portugal realizámos a nossa rúbrica habitual Saborear o Tempo, seguimos para Espanha onde
vivemos de perto os preparativos para a America’s Cup e de seguida para o país do Swiss Made
onde recolhemos algumas histórias para partilhar nas páginas que se seguem.
Valência
Reportagem Alinghi - America’s Cup
50
Azeitão
Saborear o Tempo Quinta de Catralvos
116
Cascais
Entrevista Patrick Monteiro de Barros
Lisboa
Perfil Torres Joalheiros
108
Alcácer do Sal
Saborear o Tempo Pousada D. Afonso II
112
Azeitão
Saborear o Tempo Quinta da Bacalhôa
114
Genthod
Cicerone Rui Santos em Watchland
58
Le Sentier
Reportagem Master Tourbillon Jaeger-LeCoultre
70
Grenchen
ReportagemFortis TAP Pilot
64
Genéve
Entrevista Miguel Seabra entrevista Eric Loth
74
La Chaux-de-Fonds
Reportagem Novidades TAG Heuer
80
Sumário
Grande Plano 08
Entrevista - Patrick Monteiro de Barros 18
Crónica Science & Vie 26
Crónica Fançois-Paul Journe 28
Crónica Rui Cardoso Martins 30
Correio do Leitor 32
Variedades 34
Breves 36
Reportagens
Alinghi - America’s Cup 50
Cicerone - Rui Santos em Watchland 58
Fortis TAP Pilot 64
Master Tourbillon - Jaeger-LeCoultre 70
Entrevista - Eric Loth 74
Novidades TAG Heuer 80
Técnica
Em Foco
A. Lange & Söhne
Tourbillon pour Le Mérite 88
Audemars Piguet
Tourbillon Chronograph 90
Chopard
L.U.C. Chrono One 92
Franck Muller
Secret Hours 94
Jaeger-LeCoultre
Master Geographic 96
TAG Heuer
Carrera 360 98
Laboratório
Porsche Design Dashboard 100
Técnica
Master Tourbillon - Jaeger-LeCoultre 104
Prazeres
Perfil
Torres Joalheiros 108
Saborear o Tempo
Pousada D. Afonso II 112
Quinta da Bacalhôa 114
Quinta de Catralvos 116
Acontecimentos 118
Livros 126
Internet 128
Assinaturas 129
Crónica Fernando Campos Ferreira 130
09Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
O barco que veio do frioDas montanhas suíças às águas mediterrânicas
Dificilmente outra imagem poderá sugerir melhor o
ambiente de verdadeira guerra fria que antecipa as
grandes batalhas que se vão viver, de meados de
Abril até ao início de Julho, nas águas quentes do
Leste de Espanha. Prodígio tecnológico construído
no maior secretismo em Vevey, nas margens suíças
do lago Lèman, cada delicada fracção do Alinghi
SUI 100 que vai defender o troféu America’s Cup, foi
cuidadosamente transportada até ao seu destino,
Valência, um pouco a norte de Trafalgar...
11Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Making of...Shooting no seminário da Torres Distribuição
No dia 15 e 16 de Março realizou-se no hotel Farol
Design, em Cascais, mais um seminário da Torres
Distribuição, direccionado exclusivamente para os
clientes retalhistas, onde se realizaram várias apre-
sentações subordinadas, cada uma delas, a uma
única marca. Uma das singularidades deste encon-
tro foi proporcionar aos presentes a possibilidade
de assistir a uma sessão fotográfica com relógios de
senhora das múltiplas marcas que fazem parte do
portefolio da Torres.
Frederico Van Zeller para Krypton Photo
13Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Indicator - Porsche Design Forma e função
São unânimes os elogios feitos a este magnífico
re ló gio. Das soluções inovadoras como a indicação
digital mecânica da função cronógrafo ou o ver-
melho/verde da indicação da reserva de corda, às
soluções estéticas previligiando claramente a legi-
bilidade sem nunca esquecer a facilidade de manu-
seamento, esta peça não poderia ter sido pensada
e executada por outra casa relojoeira que não fosse
o atelier Porsche Design. O Indicator é a materia-
lização da máxima do design Porsche: A forma
segue a função. O resultado? Pura beleza!
15Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Making of... Captar a essência da mulher
O fotógrafo Joël von Allmen troca ideias com a mo-
delo Natalia durante a sessão fotográfica para a nova
campanha feminina da Raymond Weil. Numa época
extremamente visual como a que vivemos, uma
imagem não poderá ser apenas mais uma imagem.
Responsáveis pelas fotografias da nova campanha
da Raymond Weil estes profissionais deram rosto
às novas colecções da marca. Procura-se a mulher
misteriosa, a mulher moderna e sensual. Mais que
uma imagem, o que se procura, é a materialização
de um conceito.
17Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Empresário de sucesso e navegador experiente, Patrick Monteiro de Barros já cumpriu dois percursos à volta do mundo
e prepara-se para voltar ainda este ano ao Oceano Pacífico, onde pretende visitar as ilhas Galápagos e desfrutar dois
meses de férias na Polinésia Francesa. Num encontro na sua casa em Cascais, mesmo à beira-mar, contou as suas
experiências náuticas e os esforços que efectuou na candidatura de Cascais a sede da America’s Cup 2007,
um evento náutico centenário que será, entretanto, disputado em Valência, em Espanha.
Nysse Arruda – Começou a velejar aos sete anos de ida-
de com o seu tio, aos 13 anos, cometeu um acto de ex-
trema ousadia ao velejar sozinho num pequeno veleiro
de 3,5 metros de comprimento de Cascais até Setúbal.
Conte-nos, por favor, esta história com mais detalhes.
Patrick Monteiro de Barros – Ia participar no meu primeiro Campeonato de Portugal de Juniores e, por causa das minhas más notas na escola, os meus pais recusaram-se a levar o meu barco de ca-mioneta até lá. Parti, então, de Cascais sozinho e naveguei até Setúbal, dobrando o Cabo Espichel. Primeiro enfrentei a clássica nortada e depois uma calmaria ao largo de Sesimbra, para onde fui rebocado por um pescador. Quando cheguei ao cais, o meu tio estava à espera e disse-me que eu tinha faltado ao respeito ao mar! O episódio po-dia ter termina do aí, mas, dois meses mais tarde, o meu tio, que era almirante, levou-me a Norfolk
para visi tar a frota norte-americana e também o na vio-hospital Gil Eanes, que integrava a frota bacalhoeira portuguesa na Terra Nova. Ao ter-minarmos a visita a bordo do bacalhoeiro Santa Maria Manuela o meu tio disse que eu iria ficar no barco por mais uma semana para aprender a respeitar o mar.
E assim fiquei a bordo, a trabalhar como to-dos os outros nos dories de pesca do bacalhau, no meio do nevoeiro e ao frio, a preparar os equi-pamentos, a cortar e salgar os peixes. A vida é ex-tremamente dura no mar e aprendi imen so com esta experiência. Aprendi o respeito pelo mar!!!!!
NA – Sempre teve o sonho de fazer grandes viagens
de barco à vela, um sonho que se concretizou entre
1996 e 2001, quando foi pela primeira vez ao Taiti e à
Po linésia Francesa, depois de comprar o clássico veleiro
Seljm de 115 pés. Como foi essa primeira experiência
oceânica?
PMB – A minha primeira volta ao mundo à vela decorreu por etapas. Comecei a rota na Europa, de pois segui para as Caraíbas e para a Costa Les-te dos Estados Unidos e então para o Pací fico, com a minha mulher e amigos. Fizemos várias escalas por ali, nas ilhas Marquesas, Tua motú e Taiti. Depois fomos para as ilhas Fiji, Tonga, Va-nuatu, Nova Caledónia e Cook, em cruzeiros de verão e, em 2000, alcancei o porto de Auckland, na Nova Zelândia, para assistir à America’s Cup, que se disputava nesta cidade pela primeira vez, depois da vitória neozelandesa em 1995.
Foi a concretização de um sonho de criança e mar cou a minha carreira na vela. Até então, eu só tinha participado em provas de alta competi-ção nas classes Finn e Star como por exemplo
entrevista de Nysse Arruda | fotos de Nuno Correia
19Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
[ Grande Entrevista ]
A passagem do Cabo Horn por Patrick
Mon teiro de Barros registada para a pos-
teridade por Daniel Foster.
Uma imagem do jovem velejador quan-
do ganhou o seu primeiro Nacional, em
Setúbal, com o veleiro de 3,5 metros o
mesmo usado na “aventura” de Cascais
a Sesimbra.
Imagem de 1988 com Patrick Monteiro
de Barros empunhando a bandeira por-
tuguesa aquando da participação nacio-
nal nos Jogos Olímpicos de Seul.
20 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
nas campanhas para os Jogos Olímpicos de 1968, 1972, 1984, 1988 – quando alcancei um 12.º lu-gar na classe Star –, e 1992. Participei, depois, nos anos de 1993 e 1994 em provas oceânicas a bordo dos maxi boats em especial, o Boomerang, em re-gatas na Flórida, EUA, e na Sardenha, Itália. Fui também vice-campeão mundial na classe Half Tonners no meu iate, Portuguese Connection. Este sonho só se pôde concretizar porque encon-trei, em 1995, o veleiro ideal para tal empreitada – o Seljm, um clássico veleiro em teca, desenha-do por Anselmo Boretti, construído na Itália, em 1980, no estaleiro Sangermani, e que estava qua-se esquecido numa marina italiana.
Com cerca de 35 metros de comprimento, com dois mastros, uma grande área vélica e muito espaço interior, é um barco perfeito para gran- des viagens oceâni cas. Estou agora a compi- lar com o jornalista americano Alexander Wardwell todas as memórias desta primeira via-gem num livro.
NA – A sua segunda volta ao mundo incluiu um percur-
so especial com as duas passagens pelo Cabo Horn,
no extremo sul da América do Sul. Como decorreu esta
viagem?
PMB – Aportámos primeiramente em Punta Are-nas, no Chile, e depois seguimos para o Cabo Horn, num dia de muito mau tempo, com chu-va e ventos fortes, um cenário típico nesta re-gião oceânica, onde o Pacífico se encontra com o Atlântico Sul e onde muitos barcos se perde-ram ao longo dos tempos. É um sítio tão mítico que toca o imaginário de todos os velejadores do mundo que sonham cruzar essas águas pelo me-nos uma vez na vida e entrar para o exclusivo clu-be de navegadores que ali traçaram uma rota. Foi tudo muito rápido; parecia que o tempo estava a encolher nas poucas horas que ali estivemos, mas é uma das minhas melhores memórias no mar, a realização de um desejo de miúdo que esperou tanto tempo para se concretizar. Circundámos o Cabo Horn uma vez mais, para fazermos foto-
“Foi tudo muito rápido; parecia que o tempoestava a enconlher nas poucas horas que ali estivemos, mas é uma das minhas
melhores memórias no mar, a realização de um desejo de
miúdo que esperou tanto tempo para se concretizar.”
Patrick Monteiro de Barros
grafias do barco com o famoso fotógrafo ame-ricano Daniel Foster. O tempo estava melhor e pudemos descer até terra, carimbar os nossos passaportes e passar a noite numa baía abri gada. O Daniel chegou mesmo a viajar num helicópte-ro para conseguir registar as vistas aéreas da nossa passagem pelo local.
NA – No seu rol de boas memórias no mar, há também
outras experiências que o marcaram em todos esses
anos dedicados ao desporto à vela. Quais foram elas?
PMB – Outro momento belo e perfeito de que me lembro foi a vitória na regata final na série de pro-vas comemorativas do 75.º Aniversário da classe Dragão em St. Tropez, França, frente a uma frota de 260 barcos de mais de 40 países. Aliás, esta classe, que foi olímpica até 1972, é uma das mi-nhas mais queridas. Sinto-me orgulhoso por ter sido o mentor do renascimento desta classe em Portugal, especialmente em Cascais, onde o meu clube tem hoje um troféu perpétuo, doado pelo Rei D. Juan Carlos de Espanha, que se disputa todos os anos na classe Dragão.
Tenho também outras memórias significa- ti vas das minhas várias campanhas nos Jogos Olím pi cos, um evento no qual a participação é por si só o apogeu para qualquer desportista. Uma coisa que não esqueço é a emoção de entrar num estádio olímpico envergando as cores do País com a delegação nacional.
Os glaciares da Patagónia registados por Daniel Foster durante a viagem que levou à dobragem do Cabo Horn. O homem do leme, Antigua 2006.
21Grande Entrevista Patrick Monteiro de Barros
NA – É também um grande fã da America’s Cup, ten-
do acompanhado de perto várias edições. Foi também
o responsável pela candidatura de Cascais a sede do
evento em 2007. Conte-nos um pouco todo esse seu
envolvimento com o mais antigo troféu náutico.
PMB – Acompanho a disputa da América’s Cup desde sempre e estive presente em Newport, EUA, em 1980, tendo participado nos treinos do Team Freedom com o Dennis Conner e, em 1983, com o Liberty. Depois estive em Perth, na Aus-trália, em 1987, e ainda em San Diego, EUA, em 1992, e em Auckland, Nova Zelândia, em 2000, tendo sido um dos sponsors do Team Young Amé-rica do New York Yacht Club, e, finalmente, em 2003. Quando percebi que a equipa suíça Alinghi estava prestes a ganhar o troféu e a trazê-lo para a Europa, depois de 156 anos de história do evento, achei que podia lançar a candidatura de Lisboa/Cascais. Apresentei de imediato a ideia a Ernesto Bertarelli, patrão do Alinghi, bem como ao ski
pper neozelandês Russell Coutts, um dos maiores expoentes do desporto à vela mundial e também meu amigo pessoal.
Reuni, então, uma equipa composta de pro fis-sio nais e voluntários para elaborar a nossa candida-tura e trabalhei durante mais de sete meses em pesquisas e preparação. Foi uma experiência for-midável e tivemos muito apoio e muita solidarie-dade. Chegámos a figurar entre as ci dades fina-listas, mas, infelizmente, perdemos para Valência.
Acredito que Valência ganhou apenas pelas condi-ções materiais postas à disposição dos organizado-res, apesar de os suíços terem justificado a escolha pe las excelentes condições de mar e vento naquela cidade espanhola. Este é um perfil que Cascais preenche plenamente segundo as declarações dos melhores velejadores do mundo, incluindo Rus-sell Coutts, que, entretanto, foi afastado desta competição por divergências com Bertarelli sobre esta decisão.
NA – A sua relação de amizade com Russell Coutts per-
dura até hoje e está a ajudá-lo na criação do mais ino-
vador circuito mundial de vela, a World Sailing League.
Qual foi o seu contributo neste projecto?
PMB – Quando o Russel Coutts e o americano Paul Cayard me apresentaram a ideia de um novo circuito anual global para novos iates catamarãs de 70 pés, tipo Fórmula 1, com um prémio de dois milhões de euros, achei o projecto muito ino -vador. Apresentei-os, então, ao João Lagos, da Lagos Sports, o maior promotor desportivo de Portugal, que imediatamente aderiu ao pro jecto e está à frente da organização desta empreita-da náutica mundial. O objectivo é equipará-lo à America’s Cup e à regata à volta do mundo Volvo Ocean Race. Espero poder organizar um team por-tuguês para esta prova e torço para que Portugal fique com a sede permanente do circuito. Seria uma excelente desforra da America’s Cup!!! ET
Nome: Patrick Monteiro de Barros
Idade: 62 anos
Formação: Universidade de Paris Diplomas de Economia e Gestão
Local ideal: Minha casa na Virgínia, EUA
Defeito mais deplorável: Demasiado frontal
Defeito menos tolerável: Demasiado exigente
Virtude: Culto da amizade
Herói: Winston Churchill
Ídolo: Nelson Mandela
Vilão: Adolf Hitler
Sonho: Paz no mundo
Morte: É igual para todos
Religião: Católico praticante
Cor: Verde
Escultura: Vênus de Milo
Literatura: ‘Animal Farm’, de George Orwell
Quadro: A ronda da noite, de Rembrandt
Passatempo: Desporto à vela e caça
Vício secreto: Toblerone preto
“A minha primeira volta ao mundoà vela decorreu por etapas, entre os meus afazeres profissionais.
Comecei na rota na Europa, depois segui para as Caraíbas e costa
leste dos Estados Unidos e então para o Pacífico,
com a minha mulher e amigos.”
Patrick Monteiro de Barros
Patrick Monteiro de Barros com o seu Audemars Piguet
Offshore Alinghi, edição limitada comemorativa da vitória
na America’s Cup em 2003.
O Seljm construído em 1980 no estaleiro italiano Sanger-
mani, e desenhado por Anselmo Boretti, foi adquirido em
1995 por Patrick Monteiro de Barros. Foi com este veleiro
que o navega dor português cruzou o Cabo Horn.
auto-retrato
22 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Foto de Daniel Foster do veleiro Seljm
aquando da vitória na Antigua Classic
Regatta em Abril de 2006.
A participação de Patrick Monteiro de
Barros em St. Tropez nas provas co me-
mo rativas do 75º Aniversário da Classe
Dragão foi coroada com a vitória na re-
gata final. Foto de Francisco Lino.
Alguns dos grandes momentos da car-
rei ra desportiva de Patrick Monteiro de
Barros foram as participações nos Jogos
Olímpicos. Na imagem, Seul 1988, onde
concorreu na Classe Star.
23Grande Entrevista Patrick Monteiro de Barros
Science & Vie: Como é que um físico define o tempo?
Etienne Klein: Esta noção tem algo de primitivo, de
‘originário’, neste sentido em que não é derivável de
nenhum outro conceito. E qualquer que seja a tenta-
tiva para a definir, torna-se ainda mais complicada,
pelo simples facto de que, na língua corrente, a pala-
vra ‘tempo’ se tornou exageradamente polissémica.
Pode designar a duração, a mudança, o provir, a es-
pera, o desgaste, o envelhecimento, a velocidade...
No entender dos físicos, o tempo não passa de uma
espécie de ‘prisão com rolamentos’: prisão, por não
sermos livres de escolher a nossa posição no tempo
(pois não podemos furtar-nos ao presente); com ro-
lamentos, dado que o tempo prossegue (leva-nos
do presente para o futuro). A questão prende-se,
obviamente, com saber o que realmente faz avançar
o tempo. Prosseguirá assim, por si só? Ou haverá
alguns fenómenos que o movem?
S&V: O que se sabe acerca da sua origem?
EK: As ciências apreendem apenas as origens rela-
tivas: datas de início ou contextos de primeiras apa-
ri ções. Deparam com dificuldades tremendas peran-
te a noção de origem no sentido absoluto, isto é,
quando considerada como uma criação pura a partir
do nada. Efectivamente, toda a ciência para se con-
struir precisa de um ‘já lá (estava)’. Ora, a origem
absoluta corresponde à emergência de algo por
ausência deste mesmo algo: ainda nada é, e, depois,
de repente, em algo se torna. Como é que a ciência
havia de dar um estatuto à tamanha singularidade?
Falar da origem do tempo deveria conduzir-nos a lo-
calizar o tempo no “não-tempo”. Semelhante aporia
parece, antes, algo inultrapassável. Porém, fazemos
conta de que a resolvemos recorrendo a jogos de
linguagem. Ao contar não a sua origem, mas, sim, o
seguimento de nascimentos que se lhe sucederam.
S&V: Poder-se-á acelerar ou abrandar o tempo?
EK: A relatividade restrita de Einstein enuncia que
existem tantos outros tempos quantos os observa-
dores que se dedicam a observarem-nos, estando
estes ligados a referenciais ‘de Galileu’, ou seja, em
translação rectilínea e uniforme uns em relação aos
outros. Cada observador encontra-se submetido ao
seu ‘próprio tempo’, diferente do dos demais. Neste
caso de figura, a duração de um fenómeno já não é
idêntica para todos.
S&V: Existem um ou vários tempos? Pode o tempo
da física ser o tempo da história ou da biolo gia?
EK: Tendemos, naturalmente, a confundir o tempo
e os fenómenos temporais: por exemplo, ao aperce-
bermo-nos de que à nossa volta existem fenómenos
cíclicos, afirmamos, sem dúvida alguma, que o pró-
prio tempo é cíclico. Assim, ao supormos que o
tem po se parece com aquilo que inclui, estamos a
admitir, implicitamente, a existência de uma multipli-
cidade de tempos: existiriam outros tantos tempos
diferentes quantas temporalidades diferentes há. Este
procedimento organiza, portanto, em redor da diver-
sidade dos fenómenos, uma espécie de proliferação
do tempo, que resulta, principalmente, numa con-
fusão de linguagem. Pessoalmente, defen do antes a
ideia de que talvez apenas exista um es pécime de
tempo: o tempo físico, e, no seu inte rior, coexistem
tem poralidades múltiplas ligadas aos fenómenos.
Revista Science & Vie - Janeiro de 2007
Exclusivo Science & Vie
O tempo físico
Sabe muito mais acerca da sua relação com o tempo...mas o que esconderá esta noção? A ciência ainda não acabou de pesquisar a questão,
tal como lembra o físico e filósofo Etienne Klein.
[ Crónica ]
26 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A indústria do aço laminado constituiu uma
das grandes aventuras do século XIX. Produzido em
grandes quantidades por alturas de 1845, o metal
foi utilizado em caminhos de ferro, pontes, torres e
edifícios inovadores; a moda alargou-se a todos os
domínios da indústria, incluindo a relojoaria.
A excepcional colecção revelada neste livro foi reu-
nida por um entusiasta coleccionador. Durante mais
de 20 anos, este aficionado conhecedor e dedicado
procurou pacientemente e foi adquirindo mais de
220 relógios, cada exemplar com o seu próprio fas-
cínio e carisma. As ilustrações em sépia não fazem
parte da colecção; representam relógios de importân-
cia histórica ou estilística.
Montres Journe S.A. tem o privilégio de ser a guardiã
de tão importante colecção e escolheu dedicar-lhe
um livro escrito pelos mais notáveis especialistas da
actualidade. O seu estudo revela como estes instru-
mentos do tempo, apesar de partilharem as caixas de
metal como denominador comum, revelam uma alar-
gada variedade de estilos e técnicas que prefiguram
o relógio de pulso. Os autores descrevem as técnicas
empregues na criação destes relógios ‘comuns’, pes-
quisando a história correspondente até ao século
XVII. Pintam também um cativante cenário acerca de
um novo tipo de relógio que era, ao mesmo tempo,
equalitário... e divertido. Raramente se viu tamanha
alegria no campo da relojoaria, muito menos no sec-
tor restrito da alta relojoaria.
O aço tem sido geralmente empregue na indústria
relojoeira devido ao seu baixo custo. Aproveito a
oca sião para apresentar o único relógio da colecção
F. P. Journe dotado de caixa de aço. Este relógio,
que paradoxalmente é o mais caro da colecção, é
um ‘Grande Sonnerie’ de excepcional exigência téc-
nica; foram necessários seis anos para o seu desen-
volvimento e as respectivas inovações implicaram na
menos de dez patentes. Está integrado numa caixa
de aço, simplesmente porque o aço – que, ao con-
trário da platina, é cristalino na sua estrutura – é
um melhor condutor do som e porque a caixa, para
que seja resistente à água, não pode ter aberturas.
Foi assim que o aço foi escolhido pelas suas quali-
dades físicas e mecânicas; como todos os relógios
F. P. Journe, a platina e as pontes do mecanismo
são exclusivamente concebidas em ouro rosa de 18
quilates.
Os exemplares relojoeiros revelados neste livro fazem
parte de uma herança comum. Em vez de os man-
ter escondidos, escolhi mostrá-los ao público. Tenho
a modesta esperança de que todos aqueles que se
inspirem neles para as suas futuras criações possam
dar a César o que é de César.
François-Paul Journe
François-Paul Journe
Steel Time
A excepcional colecção revelada neste livrofoi reunida por um entusiasta coleccionador. Durante mais de 20 anos, este aficionado conhecedor
e dedicado procurou pacientemente e foi adquirindo mais de 220 relógios, cada exemplar
com o seu próprio fascínio e carisma.
[ Crónica ]
28 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Uma das vantagens dos relógios biológicos é
nascerem dentro de nós, e, portanto, saírem-nos mais
baratos do que na loja. Por outro lado, quando ele pára,
morremos.
Não é o seu único problema: os ‘relojoeiros’ que
tentam arranjar um relógio biológico são, parece-me,
pessoas com vocações suspeitas, como médicos, psiq-
uiatras, die tistas, antitabagistas... em suma, profission-
ais que se dedicam a sacar-nos o dinheiro ou a alegria
de viver ou, se possível, as duas coisas.
Numa avaria realmente grave do nosso relógio
biológi co, não se muda a espiral interna, mudamos
para o contrário de estar vivo, como diz a Dr.ª Lili
Caneças. Um relógio biológico tem, normalmente, en-
tre 50 e 80 quilos, alguma adiposidade no ventre ou
nas coxas, e não aguenta quedas do terceiro andar, até
grita no caminho. Também não resiste a submersões a
200 metros de profundidade em mar aberto, como o
meu Omega Promaster (quando eu mergulhava, dizia-
-me, com aquele ponteiro laranja, «só desces 30 metros,
lingrinhas, não aguentas a pressão...?» A pilha acabou e
mantenho-o calado).
Por falar em pilha: um relógio biológico, por vezes
conhecido como estômago, precisa de tanta atenção
como um relógio automático — um bichinho interno
sempre a tremer, a pedir movimento — pois precisa da
corda da comida e da bebida todos os dias. Uma boa
solução é alimentarmos o estômago com o garfo na
mão e o automático a abanar no mesmo pulso, para
que nenhum tenha problemas de pontualidade.
Mas o relógio biológico precisa de ir à casa de
banho. Se um relógio normal deve olear as peças de
dois em dois anos, um relógio biológico precisa de
‘mudar a água às azeitonas’, para usar uma expressão
doutros tempos, várias vezes ao dia.
Estamos a chegar a questões muito interessantes.
Um relógio biológico começa a ser menos fiável
com o passar dos anos, principalmente o feminino.
A este tipo de relógio alguns chamam «útero».
Todos conhecemos relógios biológicos femininos
que trabalharam na perfeição durante 35 anos, anun-
ciando a todos «não quero ter filhos», com a precisão
de um tique-taque, e, passada esta idade, parece que
acordam, estridentes como despertadores de cabeceira,
viram os ponteiros para o lado, e dedicam todos os
segundos a tentar ter filhos. Será da mola?
E há os relógios biológicos masculinos que, com
frequência, quando atingem os 50 anos e sentem os
primeiros problemas de rotação do ponteiro dos minu-
tos, por assim dizer, salta-lhes o carrilhão do sítio e
começam a interessar-se por relógios biológicos muito
mais novos.
Os relógios biológicos despertam grande interesse
entre os cientistas, pela sua complexidade. Há dias li
um artigo, citando a revista Science, sobre a esquisita
descoberta da Universidade de Cornell, nos Estados
Unidos. Durante muito tempo, pensou-se que a luz e
a visão eram as ferramentas que regulavam o nosso
relógio biológico. Seria a luz solar, através dos olhos,
a desencadear o efeito ‘jet lag’. Isto é, a troca do dia
pela noite, que nos faz chegar às oito da manhã a
Sidney, por exemplo, não como tendo vindo dentro de
um Jumbo, mas a carregá-lo às costas por três continen-
tes e dois mares.
O problema desta teoria é que os cegos tam-
bém têm ‘jet lag’. Ficam com os sonos trocados como
qualquer outra pessoa. Então os senhores de Cornell,
não sei como, descobriram que o nosso relógio pode
ser modificado incidindo uma lanternazinha na parte de
trás dos nossos joelhos! Só posso imaginar a mente
perturbada que descobriu isto.
Aliás, não custa nada: uma colega com pernas boni-
tas, que não conseguia dormir, chega ao laboratório de
madrugada; o jovem e feio cientista incide-lhe um foco
na zona suave da pele, debaixo da saia, mas de costas,
para ela não ver, e ela diz:
— Olha, agora passou-me o cansaço...
A explicação é científica: a hemoglobina do sangue
deverá reagir à luz como a clorofila nas plantas, e é na
pele mais fina das pálpebras e da zona atrás do joelho,
que o sangue vai buscar a informação para o processo
químico.
Há muitos anos, ajudei a entrevistar um português
que fora cobaia numa experiência científica em Itália:
estivera semanas numa gruta localizada a mais de cem
metros de profundidade, com um grupo de homens e
mulheres. Em poucos dias, sem luz natural, disse ele,
havia mulheres a quem faltava a menstruação ou a que
tinham várias de seguida. Mais tarde, ninguém sabia se
era dia ou se era noite. Todos andavam baralhados e
com delírios e incongruências, naquela gruta italiana.
O relógio biológico enlouquecera.
Só não percebi porque gastaram dinheiro numa ex-
periência que podia ter sido feita cá, na Queima das
Fitas, com universitários portugueses, e a partir da qual
de podia ter obtido os mesmos resultados.
Rui Cardoso Martins
Rui Cardoso Martins
Sobre relógios biológicos
E há os relógios biológicos masculinos que, com frequência,quando atingem os cinquenta anos, e sentem os primeiros problemas de rotação do ponteiro dos minutos, por assim
dizer, salta-lhes o carrilhão do sítio e começam a interessa-se por relógios biológicos muito mais novos.
30 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
[ Crónica ]
32 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
[ Correio do Leitor ]
Relógio Celestial
Antes de mais, os meus parabéns a todos aque les que tornam possível
con ceber, núme ro após número, a Espiral do Tempo. Descobri-a logo de-
pois de me apaixonar pelo mara vi lhoso mundo da alta-relojoaria mecânica.
É uma revista indispensável para todos os que querem mergu lhar nes-
te universo. Gostava que me falassem um pouco sobre um modelo da
Patek Philippe, o ‘Celestial Wristwatch’, nomeadamente como funciona
o seu mapa celes te e o preço do relógio. Agradeço antecipadamente a
aten ção dispensada.
ROBERTO ALEXANDRE, VIA E-MAIL
Caro Roberto,
Tem um excelente gosto. De facto, o relógio Celestial 5102G não só é um
instrumento do tempo excepcional (até rima com celestial...) como também
tem o selo de qualidade de uma marca (a Patek Philippe) que por si só é
um garante de valorização. Há muito que se tentam fazer relógios celestiais
devidamente exactos, sendo que essa precisão se torna bem mais difícil de
concretizar num relógio de pulso – e a referência 5102G da Patek Philippe
é considerado simplesmente o melhor relógio do seu género existente no
mercado. Para conceber um relógio que medisse com exactidão as fases
lunares e o tempo solar, os mestres relojoeiros da Patek Philippe usaram
um sofisticado programa computorizado para chegarem à combinação
certa saída de 25 triliões de combinações para se atingir uma precisão tal
que a diferença é de apenas 38 segundos por século! A característica prin-
cipal do relógio é o seu inconfundível mostrador, que mostra o céu como
ele é visto a partir de Genebra – a elipse central enquadra a parte angular
do céu visível na latitude 46’20’’; três discos em vidro de safira rodam
separadamente no mostrador; o céu nocturno do hemisfério norte roda no
sentido contrário aos ponteiros do relógio, mostrando a passagem do céu
relativamente ao meridiano de Sirius (a estrela mais brilhante, logo após o
Sol); o dia sideral de 23 horas, 56 minutos e 4,09892 segundos é medido
pela passagem da estrela Sirius (indicada no mostrador através de uma
seta especial); as fases da lua são mostradas num mostrador secundário,
que revela tanto a lunação (o tempo entre duas luas cheias, que em média
é de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 2,82 segundos) como o dia lunar
(o tempo entre duas passagens da lua através do seu meridiano, que é
de 24 horas, 50 minutos e 28,328 segundos). Cada modelo 5102G requer
18 meses de construção e só 35 exemplares são produzidos anualmente;
todas as suas 301 peças são acabadas e decoradas à mão; a caixa é em
ouro branco de 18 quilates e o mini-rotor do mecanismo é de 22 quilates.
O preço andará à volta dos 150 mil euros.
Acesso a Feiras
Visitei há alguns meses a Portojóia, mas está muito pior do que a úl-
tima vez que lá fui, em 2000. Tenho lido muito sobre as grandes feiras
de relojoaria, nomeadamente as de Genebra e Basileia, que devem ser
bem melhores do que a Portojóia! É possível o acesso a essas feiras
para mero visitante como eu?
VASCO MOUTINHO, VIA E-MAIL
Caro Vasco,
De facto, a Portojóia, no que diz respeito aos expositores montados pelas
empresas importadoras de relógios (presumimos que fala apenas de reló-
gios, e não de joalharia/bijuteria), já teve os seus tempos áureos. Quanto
às feiras de Basileia e Genebra, são exposições de características dife-
rentes: a de Basileia também pode ser visitada pelo público mediante
a compra de um bilhete, enquanto a de Genebra está reservada a
pro fissionais (importadores, clientes, imprensa e seus convidados).
Se estiver verdadeiramente interessado, pode já começar a marcar
na sua agenda de 2007: de 12 a 19 de Abril tem lugar a universalista
Baselworld, que inclui representações de marcas relojoeiras de todos
os níveis e múltiplas indústrias relacionadas (mecanismos, braceletes,
estojos, etc); de 16 a 23 do mesmo mês realiza-se o exclusivo Salão
Internacional de Alta Relojoaria de Genebra. Pelo meio e paralelamente
vão decorrendo exibições de várias marcas a solo ou em grupo, como
a que decorre em Watchland (Grupo Franck Muller) sensivelmente ao
mesmo tempo do SIHH de Genebra.
Contrafacção
Um amigo trouxe-me recentemente de Xangai uma réplica de um
cronógrafo Carrera da TAG Heuer. É uma excelente réplica, diga-se de
passagem, muito parecida com o original. Tem mecanismo automático
e até está dotada de um vidro de safira. O relógio funciona perfeita-
mente, embora as funções do cronógrafo sejam apenas para inglês
ver. No entanto, e apesar de funcionar bem, alguma coisa parece estar
solta dentro do relógio. A minha pergunta é: sendo uma réplica, posso
levar o relógio a um relojoeiro para que seja arranjado sem correr o
risco de ser apreendido?
LUCIANO VIRIATO, VIA E-MAIL
Caro Luciano,
Bom, a sua questão é surpreendente – e a única resposta que temos
para lhe dar é: tente encontrar um relojoeiro que lhe arranje o relógio,
mas não passe perto de um agente autorizado da TAG Heuer! Prepare-
-se para que esse relógio não tenha uma vida muito longa e cuidado
com a respectiva fiabilidade: pode dar-se o caso de falhar um com-
promisso importante porque subitamente o relógio começa a trabalhar
mal, ou perder o relógio porque a correia ou a bracelete de escassa
qualidade se rompem num momento de maior tensão! E aqui fica um
conselho final: invista num relógio bom e legítimo, verá que a dife-
ren ça – para melhor – é abissal e que o investimento valerá a pena.
Fala-se muito, ultimamente, da controvérsia gerada à volta do conceito
e da terminologia swiss made. Gostaria de compreender o que se pas-
sa. Que garantia dá aos consumidores o termo? Qualquer relógio com a
designação swiss made é comparável a um outro produzido numa das
grandes manufacturas?
RICARDO MOURA VIEIRA, TORRES VEDRAS
Caro Ricardo,
A questão do swiss made está a ser amplamente debatida no importante
sector relojoeiro suíço mas, também, onde quer que hajam amantes quer
das virtudes da relojoaria tradicional, quer da justeza das denominações
de origem. Daí a pertinência e actualidade da sua pergunta.
E a verdade é que a resposta é mais complexa do que parece! Pri-
meiro, porque hoje é difícil aplicar aos produtos, quaisquer que sejam, um
critério de proveniência unívoco e estritamente regional. Depois, porque
na nova dimensão global da indústria e do comércio, há um papel de
enorme relevo representado pela China.
Por um lado, é um país onde há uns 300.000 milionários (com capital
pessoal superior a 1 milhão de dólares), cerca de 50.000 fortunas pes-
soais de 10 milhões de dólares e perto de 250 fortunas superiores a 100
milhões de dólares, representando para as exportações suíças taxas de
crescimento na ordem dos 70%.
Por outro lado, das importações feitas pela indústria relojoeira suíça,
9% são provenientes do Império do Meio. Não será preciso, por isso, ser
um génio para presumir que alguns destes componentes acabam a equi-
par produtos ... swiss made!
Ora a questão é, justamente, se um relógio que tenha parte dos seus
componentes de proveniência chinesa – ou outra – pode ser considerado
swiss made.
Segundo a revista l’Orologio, referência fundamental para os aman-
tes da relojoaria fina, “um relógio é swiss made quando o mecanismo é
colocado na caixa na Suíça, o controlo final do produto é feito na Suíça
e, sobretudo, se o seu movimento é suíço - um movimento é considerado
suíço se for montado na Confederação Helvética, se o controlo final for
feito pelo fabricante e se for de fabricação suíça pelo menos 50% do total
do valor de todos os seus componentes (...)”.
Posto isto, é evidente que a maior parte de um relógio pode ser
fabricada fora da Suíça e o produto final ostentar a terminologia swiss
made. O que não constitui nenhum escândalo, convenhamos. É apenas
o fruto da globalização da economia a nível mundial. Há, aliás, certos
componentes, como por exemplo as peles usadas no fabrico das correias,
que têm necessariamente que ser importadas, sendo suíços, no entanto,
os grandes ateliers que as transformam, como já demos conta na Espiral
do Tempo Ed. 21.
Objectivamente, a diferença entre um produto feito 100% numa de-
terminada origem referenciada e outro fabricado parcialmente noutro(s)
país(es) não é muita, desde que a ideia, o projecto, a industrialização, a
montagem final e o controlo de qualidade sejam garantidos pelo mercado
de referência que lhe está na origem.
Mas há naturalmente outras questões que se colocam, nomeadamente
quando os países fornecedores não respeitam regras laborais e éticas
consideradas essenciais no mercado europeu...
Por tudo isto, para os puristas – e são muitos nesta área – natural-
mente que não é negligenciável a diferença entre determinados relógios
ou marcas que ostentam o titulo swiss madev e o tipo de produção que
sai dos mais conceituados fabricantes suíços.
Estes continuam a fazer gáudio de os seus relógios serem idealiza-
dos, desenvolvidos, produzidos, montados e aferidos “dentro de portas”
por técnicos altamente qualificados, extraordinariamente bem pagos, que
usufruem e trabalham com equipamentos e materiais de ponta, com uma
enorme formação especifica e que trabalham em empresas que gastam
fortunas no desenvolvimento e investigação tecnológicas. Tudo isto as-
sociado ao gosto e importância atribuídos ao requinte e ao pormenor dos
acabamentos, a uma tradição com dezenas ou centenas de anos e a um
passado incompatível com “modernices” mercantilistas.
A questão do “swiss made”
33Espiral do Tempo 24 Correio do Leitor
34 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
[ Variedades ]
«O amor conquista o tempo.
Para os amantes, um momento pode ser uma eternidade e a eternidade pode ser o tique-taque de um relógio.»
Mary Parrish
Número 11O número de relógios galardoado na última edição do Grande Prémio de Re lo joaria de Genebra. O júri
distinguiu a seguinte ‘equipa’: F.P. Journe Sonnerie Souveraine (Grande Prémio Ponteiro de Ouro), A.
Lange & Söhne Tourbograph Pour le Mérite (Prémio Especial do Júri), Patek Philippe Gondolo Gemma
(Prémio do Relógio de Senhora), Roger Dubuis Excalibur EX45 (Prémio do Relógio Masculino), Cartier
Santos Mystérieuse (Prémio do Relógio Design), Piaget Limelight Party (Prémio do Relógio Joalharia de
Senhora), H. Moser & Cie. Moser Perpetual 1 (Prémio do Relógio Complicado), TAG Heuer Calibre 360
(Prémio do Relógio Desportivo), Chopard L.U.C Extra-Plate (Prémio do Relógio Extra-Plano), Seiko Elec-
tronic Ink Watch (Prémio do Relógio Electrónico), Breguet Classique 5177 (Prémio do Público).
A tendência actual para relógios cada vez maiores não é apenas uma ten-
dência: os relógios grandes vieram para ficar, embora sem desalojar com-
pletamente os relógios de dimensões médias – os relógios pequenos é
que parecem pertencer ao passado. Actualmente, os tamanhos aceitáveis
situam-se entre os 36 e os 46 centímetros de diâmetro; no entanto, é neces-
sário ter em atenção que o tamanho de um relógio pode ser despropositado
relativamente ao tamanho da pessoa e do seu pulso. Para uma escolha mais
estruturada, e apesar de os gostos serem subjectivos, eis alguns conselhos
alicerçados em diversos parâmetros a considerar aquando da compra:
Altura: Se a pessoa é de elevada estatura, os relógios grandes afiguram-se
como sendo os mais indicados; em casos de baixa estatura, aconselham-se
tamanhos médios.
Espessura: Para pessoas de pulsos estreitos ou estrutura óssea mais fina,
o uso de relógios grandes pode revelar-se desconfortável e fará com que os
pulsos pareçam ainda mais pequenos.
Cor: Relógios dotados de um mostrador preto ou escuro aparentam ser mais
pequenos do que o são; o inverso aplica-se aos relógios com mostradores
claros.
Vocação: Relógios de diâmetro especialmente grande (a partir dos 42 mm)
apresentam um carácter mais desportivo e assentam melhor em mangas
curtas ou arregaçadas; quando usados com punhos apertados, fatos ou
blusões podem tornar-se inconvenientes.
Visibilidade: Em casos de problemas de visão, é sempre preferível optar por
mostradores de maiores dimensões.
Os relógios têm lunetas (o anel à volta do vidro) fixas ou lunetas rotativas. As lunetas rotativas podem
ser bidireccionais ou unidireccionais, de modo a poder oferecer informação sobre um determinado
número de funções. Geralmente, podem proporcionar a relógios simples o cálculo da duração de um
evento como se de um cronógrafo se tratasse: por exemplo, roda-se a luneta de modo a que o 0
localizado no anel exterior fique em cima da hora exacta do início do evento e mais tarde, quando o
evento termina, basta calcular a duração desde o momento assinalado pela luneta até essa altura. Há
lunetas que só rodam num sentido, de modo a prever qualquer deslocação inadvertida – como no caso
dos relógios de mergulho, em que a luneta ajuda o utilizador a calcular quanto tempo de ar ainda tem
nas botijas.
Léxico - Luneta rotativa
O tamanho certo
Desafio TAG HeuerPara America’s Cup
Para celebrar a histórica parceria com o desafio chinês para a conquista da 32.ª America’s
Cup, a TAG Heuer lançou uma edição limitada a 2000 exemplares do Aquaracer Calibre
S China Team. Este modelo é personalizado com as cores do China Team na luneta e o
dragão da equipa gravado no fundo. O Calibre S é caracterizado, principalmente, por ter
a função de contagem decrescente, através de totalizadores semicirculares situados às
cinco e às sete horas. Se a função ‘tempo’ estiver em uso, estes dois ponteiros indicarão
a data. Basta pressionar uma vez a coroa para passar à função ‘cronógrafo’, com o pon-
teiro bidireccional da direita a indicar os décimos de segundo suplementares à in di cação
central das horas, dos minutos e dos segundos passados. Com duas pressões da coroa,
entra em acção a função regatta countdown de dez minutos até ao tiro de partida.
Preço sob consulta [www.tagheuer.com]
Fecho genialR8land Iten com F.P. Journe
François-Paul Journe é um dos mais reputados mestres-relojoeiros do planeta e
as suas originais criações têm-lhe granjeado múltiplos galardões. Grande parte do
seu sucesso reside, também, na escolha criteriosa dos parceiros, e a sua recente
associação ao criador de acessórios de luxo, Roland Iten, só podia ser frutuosa.
Ins pirando-se no formato redondo e na assimetria dos mostradores dos relógios
F. P. Journe, Roland Iten criou um sensacional fecho de báscula – baptizado R8LAND
ITEN com F. P. JOURNE –, em ouro, para as correias de pele, que permite um ajuste
manual preciso através de um engenhoso mecanismo de rotação. A diferença pode ir
até aos 8 mm, ideal para ajustes rápidos, no caso de mudanças de temperatura ou
maior actividade. Preço: sob consulta [www.fpjourne.com]
“Temos uma estratégia montada a partir de cinco linhas– Formula 1, Aquaracer, Link, Carrera e Monaco – e a cada uma corresponde um estilo diferente,
com primeiros preços que atraem as gerações mais novas, com menos poder aquisitivo
mas desejo de afirmação.”
Jean-Christophe BabinCEO da TAG Heuer
[ Breves ]
36 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Porsche DesignSempre a acelerar
Denominada Flat Six, a última colecção de instrumentos do tempo da Porsche Design foi inspi-
rada nos motores de seis cilindros que contribuíram para a excelente reputação da escuderia
alemã em todo o mundo – e que continuam a alimentar os lendários bólides Porsche 911. O
motor que serve de inspiração é um boxer, cujos cilindros estão colocados em duas séries
opostas de três. O facto de os pistons se moverem de forma horizontal inspirou a criação
do termo flat. Na nova colecção de relógios, os anéis são usados como elementos de design
nos lados da caixa de cada modelo. A colecção Flat Six inclui um relógio automático, um
cronógrafo automático e um cronógrafo de quartzo, disponíveis nas seguintes cores: preto,
antracite e vermelho. Preço: a partir de € 1.680
Dupla DinâmicaCom assinatura Graham
Considerada uma das marcas intelectualmente mais apelativas para uma nova geração de
gos tos originais e contemporâneos, a Graham tem como principais protagonistas da sua
colecção os emblemáticos cronógrafos Chronofighter (com a sua alavanca de accionamento
das funções cronográficas através do dedo polegar) e Swordfish (com dois óculos sobre os
totalizadores do cronógrafo). Entre os novos mostradores para ambos os modelos, destacam-
-se o Chronofighter R.A.C Black Fighter de mostrador negro e o Swordfish Silver Knight Left
Version, com algarismos alaranjados.
Preço: Chronofighter R.A.C. Black Fighter € 5.850 • Swordfish Silver Knight: € 5.080
37Espiral do Tempo 24 Breves
“A moda tem ditado relógiosgrandes e, por isso, fizemos um relógio de grandes
dimensões numa linha mais provocadora,
mais desafiadora e mais masculina.”
Georges-Henri MeylanCEO da Audemars Piguet
O pulso orgulhosode Rubens Barrichello
É uma das grandes vedetas da Audemars Piguet
nos últimos meses: o Royal Oak Offshore Rubens
Barrichello, fruto da parceria entre o piloto brasi-
lei ro e a manufactura de Le Brassus. Verdadeiro
ins trumento temático da Formula 1, o novo cronó-
grafo é lançado numa série limitada a 1650 peças
e conhece três versões diferentes: 1000 peças
em titânio e luneta em cerâmica; 500 peças em
ouro rosa de 18 quilates e lu neta em cerâmica;
um terceiro modelo de 150 peças em platina. É
assumidamente um relógio des portivo e as carac-
terísticas de design dos botões de cronógrafo e
dos parafusos e a cerâmica ultra-resistente e anti -
-choque da luneta ligam-no à Fórmula 1.
Preço: € 23.200
DV One com carismaAo estilo Versace
A linha de joalharia DV One mistura tradição
com tecnologia, metal precioso com mate-
rial exclusivo: a Versace utiliza a cerâmica
associada ao ouro (ouro amarelo com ce râ -
mica negra; ouro branco com cerâmica bran-
ca) num inovador conjunto de acessórios de
estilo moderno com o clássico ftiso gre go.
Em pendentes, anéis e botões de punho.
Preço: (botões de punho) € 1.770
(pendente) € 1.330
Erwin SättlerInstrumentos náuticos
Conhecida pela excelente qualidade da sua relo-
joaria de médio porte (relógios de pé, mesa ou
parede), a companhia Erwin Sättler é também es-
pecialista em instrumentos de bordo de precisão –
como o Nautis, um relógio de baixa manutenção e
grande longevidade, honrando os cronómetros da
marinha que resolveram a equação da longitude e
estiveram na génese da relojoaria de precisão, no
século XVIII. Dotado de um belo mostrador régu-
lateur com ponteiros azulados, o Nautis apresenta
uma reserva de corda de 15 dias e está inserido
numa colecção que inclui o Nautis Thermometer, o
Nautis Barometer e o Nautis Hygrometer.
Preço: sob consulta [www.erwinsattler.com]
[ Breves ]
38 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Hautelence HL06Uma exibição de poder
A aposta de reputadas marcas de alta-relojoaria
em mostradores téc nicos, no sentido de se direc-
cionarem para o me canismo: a ‘alta-tecnorelo-
joa ria’ seduz cada vez mais os aficionados, mas
ne nhu ma outra marca personifica tão bem esta
expressão como a Hautlence. Os modelos desta
marca são dotados de um formato de écrã origi-
nal e exi bem um fascinante mostrador es tru turado
que fo menta um novo conceito da leitura do
tempo. A emergente casa de Neuchatel surpreen-
deu com o seu inaugural HL 06, modelo em ouro
branco com disco de horas saltantes, minutos
retrógrados e pequenos segundos. Cada versão
está limitada a 88 exemplares. Preço: € 44.000
“Trata-se de criar a nossa própriahistória e uma nova identidade, o importante
é que lançámos algo que não existe.”
Renaud de RetxFundador da Hautelence
“A sobriedade da linha Senator é o resultadode um exigente trabalho, quer de design, quer técnico. Pretendíamos focar
a nossa atenção apenas no essencial e retirar tudo o que pudesse colocar
em causa a perfeita legibilidade dos relógios.”
Christian SchmiedchenMaster movement designer Glashütte Original
Glashütte OriginalLinha senatorial
A linha Senator da manufactura Glashütte Original
é constituída por modelos sóbrios, elegantes, que
valorizam o que é verdadeiramente essencial num
relógio. O Senator Automatic é de uma pureza ex-
trema, sendo dotado de um mostrador perfeita-
mente ‘limpo’, numa elegante caixa redonda de
40,1 milímetros. O Senator Karree Data assume
uma forma mais geométrica e apresenta uma data
panorâmica descentrada de grande legibilidade.
Preço: € 13.900 (Senator Karree Data)
€ 11.400 (Senator Automatic)
[ Breves ]
40 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A escolha de ‘il dottore’Master Compressor Extreme World Chronograph
A Jaeger-LeCoultre alargou a sua colecção até um novo extremo, com o Extreme World Chronograph.
Este portentoso cronógrafo de indicação instantânea dos 24 fusos horários é o maior relógio de pulso
(46,3 mm de diâmetro) jamais saído dos ateliers da manufactura de Le Sentier – que recentemente
lançou uma nova versão personalizada fruto da associação com o campeão de motociclismo Valentino
Rossi, apelidado de ‘Il Dottore’. O Extreme World Chronograph ‘46’ está injectado com o melhor da tec-
nologia relojoeira contemporânea, e inclui detalhes personalizados, que comemoram a parceria entre
o já lendário piloto e a mítica casa relojoeira suíça: disco dos segundos estilizado como a bandeira
da vitória, botões do cronógrafo revestidos a PVD negro, número da sorte do Valentino Rossi (o 46)
gravado no fundo, como uma gravura lacada, acompanhado da assinatura do ‘Príncipe das Motos’.
Além disto, o Extreme World Chronograph tem uma caixa em ouro rosa que reveste uma outra caixa em
titânio e uma larga panóplia de virtudes técnicas. Preço: € 18.600
Master Date de Franck MullerCalendário triplo
Com belos mostradores dotados de indicações a vermelho
que contrastam com o fundo, o Master Date apresenta um
sensacional calendário triplo apresentado sob três diferen-
tes sistemas: digital para a data, numa janela panorâmi-
ca às 12 horas; retrógrado para o dia da semana, com o
pon teiro a saltar para trás após percorrer um semicírculo;
e ana lógico para o mês, num submostrador às 6 horas
par tilhado com os pequenos segundos. Tudo embalado
na in confundível caixa Cintrée Curvex idealizada por
Franck Muller. Preço: € 27.310
Buben & ZörwegPythagoras World Time Tourbillon
A casa germânica Buben & Zörweg, especiali-
zada em relógios de mesa, apresentou uma pe-
que na obra prima baptizada com o nome do
ma te mático grego que ofereceu ao mundo um
con ceito geométrico revolucionário: o Pythagoras
Worl Time Tourbillon também é revolucionário, já
que é o primeiro relógio de mesa turbilhão com
indicação das horas do mundo e indicador de au-
tonomia de corda. Trata-se de um instrumento de
prestígio dotado de uma bela estética, excelentes
acabamentos e uma mecânica superlativa as-
sente num mecanismo Erwin Sättler Calibre 1385
com pêndulo de precisão de 15 dias apoiado por
um turbilhão volante de um mi nu to com escape
suíço. O opulento mostrador argenté contrasta
com a luxuosa caixa em ébano de Macassar e
aplicações em metal.
Preço: € 27.800
“O carácter de pioneira estádesde sempre associado à Jaeger-LeCoultre,
e é essa capacidade de inovar que, aliada
à tradição, nos dá a capacidade de ter
uma visão mais moderna.”
Jérôme LambertCEO da Jaeger-LeCoultre
Jaeger-LeCoultreAMVOX2 Chronograph
Incluído na prestigiada linha que comemora a
associação entre a manufactura relojoeira de Le
Sentier e a escuderia britânica Aston Martin, o
AMVOX2 Chronograph Concept é um novo e revo-
lucionário modelo cronográfico que não necessita
dos tradicionais botões laterais. Tal deve-se ao
fac to de a cronometragem ser accionada e trava-
da mediante uma pressão directa sobre o vidro
do relógio! Um sistema de rolamentos permite à
caixa e à luneta bascularem relativamente à base
do relógio, numa acção que activa uma série de
alavancas que, por sua vez, transmitem os impul-
sos que controlam as funções do cronógrafo. O
surpreendente mostrador e a bracelete em tela
técnica com efeitos ópticos acentuam todo o tec-
nicismo da peça, disponível em titânio, titânio ne-
gro e platina e titânio Preço: € 12.700
EBELNo caminho certo
A Ebel, histórica assinatura relojoeira está de vol ta
ao seu melhor: a nova colecção 1911 BTR exi be
de modo contemporâneo o DNA da marca de La
Chaux-de-Fonds e afigura-se particularmente feliz
na conjugação da estética desportiva com a me câ-
nica tradicional. O calibre cronográfico de manufac-
tura que alimenta o 1911 BTR tem certifica ção COSC
e complementa um mostrador poderoso inte grado
numa caixa de 44 milímetros. Preço: € 5.100
Royal Oak Dual TimePara tempo a dobrar
Hoje em dia, parte significativa dos habitantes do
Planeta está já habituada a lidar, frequentemente,
com mais do que um meridiano horário. Assim
sen do, o Royal Oak Dual Time é uma natural adi-
ção à inconfundível linha da Audemars Piguet.
O mostrador inclui um submostrador com um se-
gun do fuso horário às seis horas, acompanhado
de um sempre útil indicador de reserva de corda
e outro submostrador com data analógica. Um de-
talhe: o pequeno círculo, colado ao segundo fuso
horário que indica o dia ou a noite, é a verdadeira
cereja no topo do bolo. Preço: € 13.550
[ Breves ]
42 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
[ Breves ]
Reverso SquadraClássico & Moderno
O 75.º aniversário do Reverso inspirou a Jaeger-LeCoultre a dotar o seu emblemático modelo reversível
de uma nova versão de geometria mais quadrada e personalidade mais contemporânea. Assim, o tra-
dicional código genético do Reverso foi manipulado, de modo a contribuir para o nascimento de um
modelo Reverso Squadra, de maiores dimensões e, sobretudo, mais quadrado. O Squadra Hometime é
o paradigma de legibilidade. O mostrador ostenta beleza e equilíbrio, com os seus grafismos muito pró-
prios e com a decoração em estrias horizontais: uma janela indica a data, a outra janela se é referente a
manhã ou tarde no segundo fuso horário, indicado por um ponteiro suplementar ao centro.
Preço: € 4.600
Raymond WeilLança linha RW Sport
Abrindo um novo segmento na sua colecção, a Ray-
mond Weil apresenta uma linha dinâmica e contempo-
rânea. A RW Sport é composta por modelos de carac-
terísticas excepcionais a um preço atrac tivo. Assentes
numa poderosa e ergonómica cai xa com 44 milíme-
tros de diâmetro, são dotados de: fundo e coroa de
rosca, luneta de rebordos canelados com 12 indicado-
res, pon teiros e índices luminescentes, vidro de safira
anti-reflexo com 2 milímetros de espessura, bracelete
em cauchu com fecho de báscula e estanques a 200
metros. Preço: desde € 990
Royal Oak OffshoreEm modelo muito quente
Quase 35 anos após a sua estreia, a linha
Royal Oak não pára de crescer – nem a sua
versão mais extrema, a gama Royal Oak Off-
shore. Uma das últimas propostas da Aude-
mars Piguet é o Royal Oak Offshore Volcano,
dotado de detalhes ‘incandescentes’: o con-
traste entre o mostrador preto e os pontei-
ros, os algarismos e o anel do taquímetro
ala ranjados oferece ao cronógrafo um toque
decididamente fogoso. Até a correia, em
pele de crocodilo cosida à mão, é embeleza-
da por pespontos cor de laranja, dotado de
todas as características tradicionais.
Preço: € 16.050
“Não se pode ser dono de uma empresa sem a dose de adrenalina
que nos faz ter vontade de empreender.
Em francês dizemos: quem nada tenta,
nada tem.”
Olivier BernheimCEO da Raymond Weil
44 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
“Feito à medida do homemEm constante deslocação, permite dominar
num piscar de olhos as principais horas dos
destinos do viajante. O Master Banker oferece
ao seu proprietário a vantagem de conhecer,
de forma instantânea, as horas de um dos
mercados mundiais à sua escolha.”
Franck Muller
Versão Long IslandPara Master Banker Lune
O Master Banker está dotado de um mecanismo
em que os dois fusos horários suplementares es-
tão sincronizados com a hora central; os pontei-
ros dos minutos dos fusos horários avançam de
meia em meia hora porque existem décalages de
30 minutos em algumas localizações no mundo.
Além da disposição horizontal do mostrador, a
nova versão do Master Banker osten ta mais duas
novidades: o submostrador às 6 horas que inclui
data analógica e uma janela para as fases da lua;
dois pequenos orifícios por baixo de cada um dos
submostradores para indicação se é dia ou noite
(azul escuro) no respectivo fuso horário.
Preço: € 28.500
A. Lange & SöhneO regresso à simplicidade
Enquanto todas as outras manufacturas de pres-
tígio insistem em relógios ultracomplicados, a A.
Lange & Söhne – que também tem no seu catálogo
complexos prodígios da micromecânica – resolveu
apresentar um relógio puro, de três pon teiros. O
Lange Richard Lange ostenta um mos trador ele-
gan te que reúne apenas o essencial. Mas se o
mos trador é despojado, o mecanismo de corda
ma nual não é tão simples – apresenta um elevado
grau de tecnicismo, com uma espiral exclusiva-
mente concebida pela Lange & Söhne, com sis-
tema de fixação à espera de patente e regulação
fina através de parafusos laterais. A caixa é de
40,5 mm e está disponível em ouro ou platina.
Preço: sob consulta [www.alange-soehne.com]
Glashütte OriginalUma evocação histórica
O Senator Navigator evoca os históricos relógios
de aviação germânicos com o seu mostrador preto
a contrastar com ponteiros e indicadores lumines-
centes; um botão reset ajuda a fazer o ajuste rá-
pi do e preciso das horas. Os três exemplares são
alimentados por calibres automáticos exclusivos
da manufactura, todos eles ricamente acabados
e decorados segundo a secular tradição relojoeira
de Glashütte. Preço: € 5.250
Panerai em desafios extremosLuminor GMT North Pole
Robusto por dentro e por fora: o Panerai Lumi-
nor GMT North Pole é mais um instrumento do
tempo saído dos ateliers da Officine Panerai
para ser testado em ambiente de aventura – seja
em ambiente urbano, seja em ambiente ártico.
O GMT North Pole, dotado do calibre OP VIII de
corda au to mática com segundo fuso horário, ap-
resenta mesmo uma adicional caixa interna em
ferro suave para proteger o mecanismo da influ-
ên cia do campo magnético da Terra.
Preço: sob consulta [www.officinepanerai.com]
Novidade Patek PhilippeÍcone Nautilus em cronógrafo
É uma das grandes novidades da lendária manu-
factura Patek Philippe: o modelo Nautilus. Criado
pelo famoso designer Gerald Genta na década
de 70 e recentemente readaptado ao século XXI,
está agora disponível numa sensacional versão
em cronógrafo. A mesma robusta caixa geométrica
com bracelete integrada em metal foi redimensio-
nada para um tamanho mais contemporâneo (44
mm) e alberga agora o novo calibre cronográfico
automático de roda de colunas CH 28-520 C, com
um monototalizador para a contabilização das ho-
ras e dos minutos. Certificado com o Punção de
Genebra, este relógio atesta a mais ele vada quali-
dade técnica e estética. Preço: € 27.687
Mille MigliaCom “tanque de gasolina”
A Chopard continua a alargar a sua emblemática
colec ção Mille Miglia devido ao enorme sucesso
que estes modelos têm tido, equipando o mostra-
dor do Mille Miglia Gran Turismo GT XL Power
Con trol com um atractivo indicador de reserva de
corda semelhante aos manómetros de gasolina
dos painéis de instrumentos. Localizado às 6 ho-
ras o indicador inclui as letras F (full) e E (empty).
A ligação ao mundo automóvel sai assim reforçada
num relógio cheio de personalidade que antecede
a novidade seguinte: o cronógrafo Mille Miglia
Gran Turismo GT XL. Preço: € 4.030
“O envolvimento com o rali Mille Miglia foi o catalizador que nos levou
a produzir os primeiros relógios relacionados
com o desporto motorizado e os modelos Mille
Miglia têm tido um grande sucesso.”
Karl-Friedrich ScheufelePresidente da Chopard
[ Breves ]
46 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
DeslumbranteOriginal gargantilha De Grisogno
A casa joalheira De Grisogono apresenta mais uma criação verdadeiramente
sensacional: uma gargantilha em galuchat negro, com uma liana enroscada à
volta e folha de videira em ouro branco escurecido. Esta gargantilha é também
abrilhantada por 879 esmeraldas (12,41 quilates), 173 diamantes brancos (2,26
quilates) e por um cacho de uvas composto por 35 pranites verdes (310,42
quilates). O fecho, em ouro branco, inclui também esmeraldas e diamantes
brancos. Ideal para ofuscar qualquer outra jóia numa soirée, vernissage ou em
qualquer outra ocasião.
Preço: sob consulta [www.degrisogno.com]
Shine no femininoRaymond Weil
Eis um relógio-jóia extremamente feminino que brilha
no pulso de qualquer mulher e que torna qualquer
circunstância mais preciosa, com a assinatura da
Ray mond Weil: o Shine. Este relógio apresenta uma
caixa geométrica com 48 brilhantes (0,34 quilates),
mostrador em madrepérola, com algarismos árabes
estilizados e duas braceletes alternáveis (uma em
cetim e a outra em aço), graças a um rápido sistema
patenteado de mudança.
Preço: € 4.030
“A mulher Cavalli é uma mulher forte no interior mas delicada por fora. É como uma gueisha
por fora e uma guerreira por dentro.”
Roberto CavalliEstilista
ValentinoNew Logo
Este modelo da Valentino impõe-se pelo destaque que dá ao
logótipo da linha de acessórios Valentino. Tem uma correia
beige de pele de lagarto, corais e o célebre “V” do logo com-
posto de uma baguette com múltiplos cristais Swarowski a
emprestarem-lhe distinção. Sem especial surpresa este relógios
tor nou-se um dos ícons da colecção de relógios da Valentino,
re presentando os valores da marca e do estilista.
Preço: € 520
Eva SnakeRoberto Cavalli
Criado especialmente para um público jovem e irreverente, a Cavalli continua a
dar nome a relógios marcantes como é o caso deste Eva Snake, desenhado pela
mulher do estilista, Eva. Cobra, é um tema recorrente na obra do criador italiano
que consegue apresentar um relógio com contornos nada usuais, como é timbre
das suas criações relojoeiras. Preço: € 320
47Espiral do Tempo 24 Breves
CiceroneRui Santos em Watchland [58]
ReportagemAlinghi - America’s Cup [50]
ReportagemMaster Tourbillon [70]
ReportagemFortis TAP Pilot [64]
ReportagemNovidades TAG Heuer [80]
EntrevistaEric Loth [74]
49Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Os números da grandiosidade da campanha suíça Alinghi para a manutenção do troféu da America’s Cup não deixam margem para dúvidas: 120 pessoas de mais de 21 países estão envolvidas no projecto, e os investimentos, apesar de serem quase um segredo de estado, não devem ficar por menos de 200 milhões de dólares, em dois anos de campanha. Este valor foi angariado junto a exclusivos patrocinadores, como a UBS, a BT Infonet, e a co-patrocinadores como a Audemars Piguet, a SGS, a Nespresso, a MSC Cruises e a North Sails, que não só investi-ram financeiramente como criaram verdadeiras parcerias empresariais com a equipa suíça.
Sob a batuta do magnata suíço Ernesto Berta relli, e levando as cores da Sociedade Náu-tica de Genebra, uma nova competição foi deli-
neada com a criação de uma série de pré-rega-tas – as Louis Vuitton Acts –, a terem lugar em várias localidades europeias ao longo dos anos de 2005 e 2006 e em Abril de 2007. Foi todo um preâmbulo para divulgar mundialmente o even to e atrair as atenções para a disputa da Louis Vuitton Cup – a série qualifi ca tória dos iates desafiantes – e da 32.ª America’s Cup, a batalha final entre apenas dois iates, o defensor e um único de sa fiante, a partir de Junho de 2007.
Esta foi uma das muitas novidades introduzi-das por Ernesto Bertarelli, juntamente com os directores do novo organismo que governa o even-to, a AC Management, para divulgar melhor a mais antiga competição náutica do calendário in-ternacional e para permitir um maior confronto entre os onze iates desafiantes, oriundos de nove
A equipa suíça Alinghi, que arrebatou o mais antigo troféu náutico – o da
America’s Cup – na sua primeira tentativa, em 2003, em Auckland, Nova
Zelândia, está agora a preparar-se para o manter, a partir de Junho, numa
competição que arrancará no porto de Valência, em Espanha. Na mais
complexa e dispendiosa campanha náutica internacional, a Alinghi mudou
o perfil da competição, elevando a fasquia desportiva deste evento.
texto de Nysse Arruda | fotos de Ivo Rovira e Thierry Martinez
É este troféu, conquistado em 2003, que
a equipa Alinghi irá defender. Um autên-
tico ícone da vela e do desporto mundial
que desperta paixões por todo o mundo
e que a equipa suíça trouxe de volta à
Europa, algo que não acontecia desde
1851.
Peter Holmberg (à esquerda) natural de
St. Thomas nas Bermudas cumprimenta
o seu rival na equipa Alinghi, Ed Baird.
Um destes timoneiros irá ter a responsa-
bi lidade de ser o timoneiro do SUI 100
na America’s Cup. Por enquanto prosse-
guem os treinos...
[ Reportagem ]
50 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
51Reportagem Alinghi
dos desafiantes, que já testavam modelos da nova geração de veleiros America’s Cup Class (ACC).
EMPRESÁRIO DE SUCESSO E NAVEGADOR DEDICADO
Ernesto Bertarelli não é só um bem-sucedido mag na ta da indústria farmacêutica suíça, en-quanto CEO da Serono, mas também um aficio-nado do desporto à vela, desde a infância. Com-binando alta tecnologia com velocidade, criou todo um novo estilo de liderança em campanhas náuticas. A sua carreira culminou em 2003, com a conquista do troféu America’s Cup, trazendo-o para a Europa pela primeira vez desde 1851, data do primeiro evento, realizado na Inglaterra.
A colecção de vitórias do seu currículo é notá- vel, a começar pelos cinco títulos obtidos na Bol d’Or, um disputado evento náutico no Lago de Ge nebra, a vitória na Sardinia Cup, em 1998, e o terceiro lugar na Fastnet Race, uma das mais di fí-ceis provas oceânicas em águas inglesas. Em 1999, construiu um dos catamarãs com melhor per for
mance do mundo – o Alinghi IV, com 12,5 metros de comprimento, apenas 1850 quilos e uma área vélica de mais de 376 metros quadrados.
Em 2001, Bertarelli venceu o campeonato mundial da Classe 12M e uma etapa do circuito internacional de match racing na Swedish Match Cup, bem como o campeonato mundial de iates Farr 40 pés. Agora, a bordo do Alinghi é, além de presidente do sindicato suíço, um activo tripu-lante que não se coíbe de trabalhar com afinco na regulagem das velas.
UMA EQUIPA MULTINACIONAL Uma constelação de talentos internacionais foi reunida para compor a equipa desportiva, a téc-nica e a logística do sindicato defensor Alinghi, com mais de 120 pessoas de 21 países, inclusive Portugal, representado por João Cabeçadas. Este velejador, natural de Setúbal e navegador experi-ente, com três regatas à volta do mundo no seu currículo, cuida de todos os trabalhos de manu-tenção do aparelho (mastros e cabos) dos veleiros Alinghi, incluindo o novíssimo SUI 100.
Os maiores nomes do desporto à vela mundial fazem parte das duas equipas desportivas criadas para os treinos, nomeadamente o neozelandês Brad Butterworth, que assume o posto de skip
per e táctico, e soma no seu palmarés três vitórias na America’s Cup e duas circum-navegações; o alemão Jochen Shuemann, director desportivo, tricampeão olímpico, tetracampeão mundial e heptacampeão europeu nas classes Soling e Finn. Fazem também parte destas equipas os experi-mentados timoneiros Peter Holmberg, natural de St. Thomas, nas Bermudas, campeão olímpico na classe Finn e veterano em match racings; e o ameri-cano Ed Baird, número um no ranking mundial de match racing em 1995-96 e em 2004-05, além de tricampeão mundial na modalidade e veterano de duas regatas à volta do mundo.
UM IATE EXCEPCIONAL A equipa de design do iate reúne, também, expres-sivos nomes da arquitectura naval internacio nal,
Ernesto Bertarelli empresário e entusias ta
dos desportos náuticos tem um pal marés
invejável na vela mundial. Na imagem
ergue a America’s Cup em 2003 da qual a
Alinghi foi vencedora.
O trabalho árduo dentro e fora da embarca-
ção revela o empenho dos membros da
equipa neste projecto.
Os treinos das duas tripulações decorre-
ram no Dubai antes da partida para Va-
lên cia de onde vai partir a 32.ª edição da
America’s Cup.
países, e o iate defensor Alinghi. Ao contrário das anteriores edições, nas quais o iate defensor só se encontrava com um único iate desafiante seleccionado na Louis Vuitton Cup, agora todos os iates estão em constante batalha náutica nos pré-actos da Louis Vuitton, chegando mesmo a navegar em frota em algumas regatas, uma novi-dade sem precedentes na história do evento.
E os resultados não se fizeram esperar. Cri-ou-se um campeonato mundial da classe Ameri-ca’s Cup em 2004, 2005 e 2006, cuja pontuação obtida era válida para o ranking dos iates desafi-antes. A equi pa defensora do Alinghi não deixou de pisar o pódio, classificando-se em terceiro lugar em 2004, vencendo cinco dos seis pré-ac-tos da Louis Vuitton em 2005, e assegurando o segundo posto em 2006. A tripulação utilizou o antigo barco para as competições, ao contrário
52 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
“Uma constelação de talentosinternacionais foi reunida para compor as equipas desportiva,
técnica e logística do sindicato defensor Alinghi, somando
mais de 120 pessoas de 21 países, inclusive Portugal.”
Ed Baird é um dos dois experientes timo-
neiros que estão a disputar o lugar no SUI
100 para a America’s Cup.
Brad Butterworth natural da Nova Zelândia
é mais do que o “skipper” e o táctico desta
equipa, é uma lenda viva, vencedor de 3
America’s Cup.
53Reportagem Alinghi
54 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
como sejam os de Grant Simmer, director, e Rolf Vrolijk, um dos principais designers do iate vence-dor em Auckland, em 2003. No total, são 16 ar-quitectos navais a trabalhar nas mais complexas questões de hidrodinâmica e aerodinâmica, a fim de produzir o mais rápido veleiro ACC, já na sua versão actual, 5.0, para a defesa do troféu. Como classe exclusiva da America’s Cup desde 1989, os novos iates ACC têm 24 metros de comprimen-to, um máximo de 4,5 metros de largura, um mas tro de 35 metros de altura, 24 toneladas de des locamento, sendo que 22 toneladas estão con-
O novo iate Alinghi SUI 100foi lançado em Valência em Janeiro de 2007, depois de ter somado
mais de 20.000 horas de trabalho de construção, além de
quase quatro anos de desenvolvimento de projectos
no estaleiro suíço Decision S.A.
O cuidadoso trabalho de montagem do
novo Royal Oak contrasta com as condi-
ções de uso a que vai ser sujeito durante
a America’s Cup.
O novíssimo Royal Oak Offshore Alinghi
em plena acção no pulso de um veleja-
dor. Resistência e fiabilidade são caracte-
rísticas que o tornam excepcional.
Jochen Schuemann, director desportivo
da equipa é detentor de um currí culo ao
nível de muito poucos.
Em baixo uma belíssima imagem das das
sessões de treino em que se pode ver a
coordenação dos tripulantes durante as
manobras.
centradas no bulbo da quilha, e uma área vélica que soma entre os 350 e os 700 metros quadrados com as várias velas – vela grande, vela genoa e vela balão. Estas são o que de mais inovador e high
tech se pode encontrar na arquitectura naval de alta competição.
Tripulados por uma equipa de 17 velejadores, dis tribuídos em posições específicas ao longo do convés, os iates ACC, versão 5.0, são velei-ros monocascos velozes e estão aptos a realizar ma nobras complexas em questão de segundos. O novo iate Alinghi SUI 100 foi lançado em Valên-cia, em Janeiro de 2007, depois de mais de 20 000 horas de trabalho de construção, além de quase quatro anos de desenvolvimento de projectos no estaleiro suíço Decision, S. A.
A BASE SUÍÇA EM VALÊNCIA Situada numa área renovada do porto de Valên-cia, a base do Alinghi é um espaço gigantesco com de mais de 6800 metros quadrados de cons-trução e tem uma área descoberta com mais de 2480 metros quadrados. Aí, além dos pontões, dos travel lifts e dos hangares onde estão guar-dados os iates, há uma construção de três andares de altura onde a equipa Alinghi trabalha todos os dias. Um ginásio, um sail loft, salas de escritórios, um amplo terraço na cobertura do edifício, lounge e restaurante compõem as áreas centrais, O piso térreo é uma área para o público usufruir e con-tactar de perto com os trabalhos da equipa.
55Reportagem Alinghi
AUDEMARS PIGUET E ALINGHI PARCERIA DE SUCESSO
Em 1972 a marca relojoeira suíça Audemars Piguet revolucionava os códigos da alta-relojoa-ria existentes ao criar o modelo Royal Oak, o pri meiro relógio desportivo de luxo em aço. Foi o início de uma nova era na alta-relojoaria in-ternacional e o primeiro passo para a criação de uma nova colecção – Royal Oak – inspirada nos desafios suíços inerentes ao mais antigo troféu náu tico internacional.
Com a vitória da equipa Alin ghi em Au-ck land, Nova Zelândia, em 2003, a marca Au de mars Piguet também tomou parte nas ce le brações. Tendo apoiado, desde o primeiro mo mento, a equipa suíça Alinghi, criada por Er nesto Bertarelli, a Audemars Piguet consoli-dava o seu consistente interesse pelo meio náu-tico de alta competição, forjando uma forte alian -ça com os vencedores da America’s Cup. Nascia, assim, uma nova e luxuosa colecção de relógios Audemars Piguet dedicada aos veleja do res de alta competição, especialmente à equi pa do Alinghi, com o lançamento Royal Oak City of Sails 2002, um cronógrafo equipado com um movimento de corda automático, inteiramen te novo. Com a vitória suíça em 2003, a Audemars Piguet lan çou mais uma peça exclusiva de alta-relojoaria – o Royal Oak Offshore Alinghi, edição comemora-tiva. Desenhado para suportar condições extrem-as, e estanque até 100 m, este novo cronógrafo integra dois materiais ino vadores. O mostrador
56 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
octogonal é revestido por platina 950, um metal precioso mais resisten te que o ouro, enquanto a caixa e a bracelete incorporam titânio, um mate-rial leve e resistente.
Em 2005, inspirados pelos procedimentos náu ticos das regatas da America’s Cup, os mes-tres relojoeiros suí ços inovaram mais uma vez, com a criação de um novo e complexo mecanis-mo – o cronógrafo flyback, especificamente de-se nhado para a cronometragem do início das
re ga tas. E este novo modelo dá ainda outra in-dicação: a representar os últimos dez minutos de contagem regressiva está um disco em vermelho que, progressivamente, aparece através de uma abertura posicionada às 12 horas no mostrador do relógio. Este excepcional cronógrafo recebeu o nome Royal Oak Offshore Alinghi Polaris e também faz parte de uma edição limitada. Agora, a equipa suí ça Alinghi prepara-se para defender o troféu com a realização da série de melhor de
nove match racings da 32.ª América’s Cup con tra o iate desafiante seleccionado. A Audemars Piguet conti nua associada ao Alinghi e à America’s Cup e lan çou mais recentemente a nível mundial, numa cerimónia rea lizada na base suíça em Va- lência, o Royal Oak Offshore Alinghi Team, em edi ção limitada de 2007 peças, com caixa e lu-neta em fibra de carbono e correia em borracha vulcanizada, além do dispositivo flyback e conta- gem regressiva. ET
Numa área renovada do porto de Valência, a base do
Alinghi é um espaço gigantesco com de mais de 6.800
metros quadrados de construção e uma área descoberta
com mais de 2.480 metros qua-drados. Aí, além dos
pontões, dos travel lifts e dos hangares onde estão
guardados os iates, há uma construção de três andares
de altura onde a equipa Alinghi trabalha todos os dias.
Um ginásio, um sail loft, salas de escritórios, um amplo
terra-ço na cobertura do edifício, lounge e restaurante
compõem as áreas centrais, enquanto o piso térreo foi
concebido para recepcionar o público com um espaço
dedicado às exibições áudio-visuais, jogos interactivos,
loja e um simulador – uma réplica do iate SUI 64 para
que os fãs possam experimentar a verdadeira emoção
que é velejar um iate Classe América.
O público registado no clube Alinghi Friends pode ain-
da vislumbrar todo o trabalho de pré-paração de uma
equipa na America’s Cup através dos programas da
Academia Alinghi, uma inédita experiência que inclui
um dia de actividades como velejar a bordo de um iate
Beneteau 7.5, treinar no ginásio e no simulador e as-
sistir a palestras e conferências dos principais directores
do sindicato.
O CALENDÁRIO DA AMERICA’S CUP
16 a 23 Abril – Round Robin 1 – Louis Vuitton Cup
25 Abril a 6 de Maio – Round Robin 2 – Louis Vuitton Cup
14 a 25 de Maio – Semi-finais – Louis Vuitton Cup
1 a 12 de Junho – Final – Louis Vuitton Cup
23 de Junho a 7 de Julho – 32ª America’s Cup
A base suíça em Valência
O novo Royal Oak Offshore Alinghi perpetuaa tradição da Audemars Piguet superando-se em cada nova edição. O processo de
fabrico deste portentoso cronógrafo torna cada exemplar verdadeiramente único.
texto de Rui Santos - Watchland - Genthod - Suíça
[ Cicerone ]
É o tempo que marca as nossas vidas. Há o tempo de nascer, e o tempo de morrer. No intervalo, há o tempo de viver. São as pessoas que marcam o tempo e os tempos. Há pessoas adian-tadas no tempo e pessoas que param no tempo. Nada que o tempo não resolva.
Na fracção de um minuto, fazem-se fortu-nas e declaram-se falências. Decreta-se a guerra e a paz. Celebra-se o casamento, e assume-se o divórcio. Arrota-se, em silêncio, os excessos do banquete, e morre-se à fome. Descobre-se a cura e promove-se a extinção por falta dela. Atingem--se os cumes mais altos da humanidade e mer-gulha-se na profundidade dos mares das nossas contradições. O ar, o mar, a rarefacção, o tempo. Outra vez o tempo. Sempre o tempo.
O tempo do princípio, da infância, da ado-lescência, da velhice e o tempo da eternidade.
O turbilhão do tempo, como se a lonjura do tem-po se perdesse na sua efemeridade.
A modernidade encurtou o tempo? Por que escassa razão ouvimos, todos os dias, a quase to-das as horas, a quase todos os minutos e segun-dos, a uma cadência que irrompe pelos rios de sangue que atravessam os coágulos incrustados das veias da vida, a comunidade inteira, essa col-meia colectiva que somos todos nós, proclamar não ter tempo para nada?
«Hoje, não tenho tempo!»
«Amanhã, não tenho tempo!»
«Esta semana, não tenho tempo!»
«Só tenho tempo para o mês que vem!»
Já o filósofo grego Plutarco dizia que «ter tem po é possuir o bem mais precioso para quem aspira a grandes coisas».
Pois. Aspirar a grandes coisas. Marcar o golo mais rápido no Campeonato do Mundo de Fute-bol, e ficar na história. Marcar o tempo que o tempo há-de decidir da descoberta da vacina con-tra a Sida e ficar na História. Recordar o tempo da chegada à Lua, onde o tempo só é contado por quem chega. As roldanas históricas da Humani-dade fazem parte de um mecanismo tão simples quanto complexo. Exactamente como um relógio. A estética pode estar mais ou menos presente. O belo é infinito. Não tem hora para parar. Por fora, o relógio pode ser altivo, majestático, arrojado, arrogante até. Mas pode denotar, tam-bém, apenas simplicidade. Quem o vê por fora, normalmente, não o vê, nem o sente, por dentro;
59Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
“Até os génios da criação têm, entre folhasde papel vegetal, respeitadas pela modernidade das mais altas tecnologias, uma palavra a dizer.
Palavras simples. Palavras sábias de quem se realiza no pleno saber que consagra a obra.
O tempo passa e repassa mas eles serão sempre mestres do tempo.”
Rui Santos
60 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A tecnologia de mão dada com o saber
fazer ancestral. Pierre Michel-Golay o mes-
tre relojoeiro entre os seus planos do reló-
gio de pulso mais complicado do mundo:
o Aeternitas.
Watcland parece saído de um conto de fa-
das. Na tranquilidade absoluta trabalha-se
o tempo, sente-se o tempo.
não imagina a quantidade e a especificidade de pe-quenos e delicados gestos que são feitos no tem po, para que o tempo dê (matematicamente) certo.
Foi inspirado no pensamento de Plutarco que parti à descoberta da Watchland, uma espécie de ‘Francklândia dos Relógios’, situada em Genthod, à beirinha de Genebra. Se os gnómones falassem, diriam, através dos seus relógios de sol , que o dia acordara maravilhoso. Não havia clepsidras nem
ampulhetas no meu caminho. Apenas o tempo mar cado pelo próprio tempo, reflectido nas águas tran quilas do Lago Leman e assinalado pelos flo-cos de neve que ainda dormitavam no alto do Monte Branco. Quantos segundos cabiam na-quele meu regaço, de tão ampla e profunda tran-quilidade? Andaram por ali piratas, eu sei. Mas as fragrâncias do jardim que me abriram as portas do grande mestre-relojoeiro, não me despertaram
apenas a pituitária, mas também todos os outros sininhos capazes de me dizer que este ia ser um tempo de prazer.
A Watchland, esta mágica criação do Franck Muller, é, toda ela, uma aguarela. Ao fundo, as montanhas e o lago. Na fronteira da Suíça com a França, o traço avivado por um pincel de artista. Aquilo não é um pedaço de terra. Aquilo é um pedaço de cor. Cor da alma. Cor da vida, da qual emana uma leve sinfonia. É preciso saber ouvir o ‘coração’ do relógio. Um bater longínquo, ins-pirado na determinação de Galileu. Um pedaço de cor, tirado de três formas de chocolate. Aque-las três ‘casinhas de chocolate’ que constituem a ‘Francklândia’ são hoje um mundo que concilia e aquieta o bom gosto e a perfeição. Nos seus in-teriores, desde o manejar banal de uma placa de aço até ao minucioso cravejamento de diamantes, tudo se passa durante o passar do tempo. Peças
61Cicerone Rui Santos
“Um relógio pode custar 1 milhão de euros.É muito ou pouco? Não sei, pelo que vi. É relativo. Só sei que, a partir deste minuto, vou passar
a dar mais valor a quem nos permite olhar para as horas. Porque percebi aquilo que é possível
perceber. Percebi, até certo ponto, como se faz.”
Rui Santos
Pormenores do turbilhão do modelo Revolution 2
da Franck Muller, um relógio cujo valor ascende a
mais de 800 mil euros.
62 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Visita também ao coração das má-
quinas do tempo. Rui Santos e as
explicações de Pierre Michel-Golay.
Vartan Sirmakes, Rui Santos e Pierre
Michel-Golay.
“O tempo passa e repassa mas eles serãosempre mestres do tempo. Como Pierre Michel-Golay, orgulhoso das dezasseis complicações
que o Aeternitas alimenta com os seus mais de 1000 componentes. Os tambores
batem numa contagem perpétua.”
Rui Santos
tão finas e pequenas, que só se vislumbram atra-vés de um óculo ou do microscópio, dão corpo a um projecto desenhado na cabeça do criador. O sólido, o líquido e o gasoso combinam-se na estanquicidade relativa de quem opera. São for-migas muito delicadas, conscientes do seu papel no carreiro da produção. Tudo se faz, tudo se ex-plica. Até os génios da criação têm, entre folhas de papel vegetal respeitadas pela modernidade das mais altas tecnologias, uma palavra a dizer. Palavras simples. Palavras sábias de quem se real-iza no pleno saber que consagra a obra. O tempo passa e re-passa, mas eles serão sempre mestres do tempo. Como o Pierre-Michel Golay, orgulhoso das dezasseis complicações que o Aeternitas ali-menta, com os seus mais de 1000 componentes. Os tambores batem numa contagem perpétua.
As delicadas formigas da produção não ves- tem batas brancas. A quem visita a ‘Francklândia’ não se lhe depara nem uma ‘prisão de relojoaria’, tipo fábrica de massa oscilante em platina, nem uma boutique com reserva de corda. Os ‘for-migueiros’ são muito seleccionados. São autên-ticas obras de uma engenharia selectiva. Abre-se uma porta e descobre-se um novo mundo. Abre--se outra porta, e logo outro mundo se revela. Quase sempre complementar. Tudo se encaixa. São mundos mágicos de perfeição, prepara-dos para reparar algo que possa correr mal. As
perfeições impõem-se sobre as residuais imper-feições, entretanto geradas. Faz parte da cadeia de alimentação deste tempo, que nunca é dado como perdido. Nesta incursão labiríntica, é pos-sível perceber como o halo de complexidade re-sulta, para os seus operadores, na combinação de gestos tornados muito simples.
Quando Santos Dumont, nas suas múltiplas manobras aéreas, percebeu que não era cómodo nem funcional utilizar um relógio de bolso, já há muito que havia a noção do quão importante era marcar o tempo. Lidar com ele a todo o momen-to. Deixar de o calcular para passar a observá-lo, como na I Guerra Mundial. Só o Raul Solnado, com a sua incontornável verve humorística, era ca-paz de mandar parar a guerra, olhar para o relógio e dizer ao inimigo que são horas de almoçar.
Vartan Sirmakes, um dos ponteiros deste universo temporal, recebe-me para uma conversa de cortesia. Grandes estrelas da moda, da música, do cinema e do desporto sabem muito, de uma maneira ou de outra, deste universo. Nomes consagrados por aquilo que representam para os seus públicos. O Eusébio já conhece esta ‘tarte de chocolate’ que é a Watchland e as suas ‘cozinhas laboratoriais’. O futebol, que marca os tempos de muitos cidadãos do Mundo, apegados a uma das suas menos domesticáveis paixões, tinha de en-trar na conversa. O Sporting acabara de registar,
em casa, um empate-surpresa, se é que ainda po-demos falar de resultados-surpresa no campeo- nato Português. O Vartan Sirmakes mostra-se conhecedor do futebol cá da paróquia, e desnove-la uma teoria sobre o clube de Alvalade:
«É um clube que, quando parece que está a atingir o objectivo da vitória, não consegue lá chegar.»
Disse-o com um leve e simpático sorriso nos lábios. Concordei. O problema do futebol Por-tuguês também é de tempo. Do tempo que per-deu. Do tempo que desperdiçou. Do tempo em que desafiou a esfericidade da bola. Do tempo do ‘quadradismo’. Do tempo que não é dinheiro. Do tempo que não estagia nas academias das más formações.
O futebol foi apenas um pretexto para dar ainda mais valor à arte que está subjacente à alta-relojoaria. O dinheiro é relativo. O tempo é absoluto. Um minuto tem 60 segundos. Um reló-gio pode custar um milhão de euros. É muito ou pouco? Não sei, pelo que vi. É relativo. Só sei que, a partir deste minuto, vou passar a dar mais valor a quem nos permite olhar para as horas. Porque percebi aquilo que é possível perceber. Percebi, até certo ponto, como se faz. Como se alcança a fábrica do tempo. A barriga dá horas. O pulso dá horas. E há sempre um momento em que desco-brimos novos prazeres. Com assinatura. ET
63Cicerone Rui Santos
«O tempo não tem respeito pelo que se faz sem ele» é uma expressão muito proferida pe-los profissionais de relojoaria, de forma a ilustrar o valor, por vezes esquecido, de que sem tempo a obra nunca será eterna. Prova disso são as mag-níficas obras arquitectónicas que através dos anos se tornaram intemporais.
No mundo da relojoaria também existem al-guns exemplos. Não querendo ferir susceptibili-dades aos mais puristas, comparar este projecto com essas obras deu a um grupo de pilotos – e a mim em particular – um sentido de tempo bem empregue.
Tudo começou por uma pequena conversa entre colegas que deu origem a uma pergunta: «E porque não?». Desde esse dia, quase dois anos se passaram entre reuniões, discussões, pla-neamentos e alegrias. Sei hoje que valeu a pena. Tendo participado em projectos similares ante-riormente, este foi, indiscutivelmente, o que me deu maior prazer. Primeiro porque a vontade de
Afinal de contas, tratava-se de uma evolução mais do que natural: após várias edições limitadas associadas a esquadras
da Força Aérea Portuguesa e mesmo à fragata Corte-Real, surge finalmente o Fortis TAP Pilot – uma série de tributo
aos pilotos da companhia aérea portuguesa. O co-piloto Paulo Pires visitou as instalações da Fortis em Grenchen
e revela, na primeira pessoa, como o projecto foi desenvolvido.
texto de Paulo Pires - Oficial Piloto Aviador da TAP - Grenchen - Suíça
“Quando de início se pensava numa peçamediana de valor acessível à maioria, alguém volta a fazer a pergunta chave:
«E porque não?». As negociações recomeçaram e aumentámos a parada,
passando para a peça de excelência da Fortis: o famoso Crono Alarme
Calibre F2001.”
Paulo Pires
o concretizar, no seio dos pilotos, era imensa e a forma como todos participaram nele foi muito gratificante; não me esquecerei jamais das reu-niões com vários pilotos, em que as propostas de alteração e as ideias corriam mais depressa do que eu conseguia escrever. Em segundo lugar estáva-mos entregues a uma empresa excepcional (Torres Distribuição S.A.) que nunca nos impôs qualquer tipo de barreiras – muito pelo contrário, alguns dos pormenores foram mesmo sugeridos por eles, tornando-se por si só verdadeiros obstáculos a
transpor. Em terceiro, e sem margem para dúvi-das, a marca escolhida (Fortis) entregou-se por completo a esta missão e deu-nos toda a liberdade de fazer ou refazer qualquer dos modelos por eles apresentados.
É aqui que se dá o grande volte face deste projecto. Quando de início se pensava numa peça mediana de valor acessível à maioria, alguém volta a fazer a pergunta chave: «E porque não?». As ne-gociações recomeçaram e aumentámos a parada, passando para a peça de excelência da Fortis: o
[ Reportagem ]
64 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
66 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
famoso Crono Alarme Calibre F2001. Quando tudo indicava que o fumo branco sairia pela cha-miné do conclave, alguém novamente faz a per-gunta chave: «E porque não?». Por esta altura, outras marcas já teriam desistido e sem dó nem piedade teriam esmagado o seu braço no ‘Tatami Dívino’* – a terminar o combate. Porém, desistir não consta do dicionário da Fortis. Ao serem su-jeitos a uma reformulação do seu modelo paten- teado e único no mundo para uma versão em liga de titânio, decidiram construir um protótipo de forma a assegurar que o alarme soaria sem fa- lhas na sua nova caixa de ressonância. Nos testes efectuados, a prova foi superada, e para surpresa da própria fábrica, o som produzido nesta liga ainda se torna muito mais harmonioso do que no aço. Finalmente temos o relógio... não, ainda não, a teimosa pergunta ainda nos perseguia e é aqui que surge uma ideia extraordinária para o estojo do relógio. Como ponto de partida, tinha ficado assente que não podia haver ‘coisas’ fúteis – ou seja, todos os detalhes teriam de ser úteis, logo não nos interessava um estojo banal feito em pele, com pouca funcionalidade, excepto a do
transporte inicial. Assim nasce a ideia de um es-tojo rotativo, alimentado a pilha ou corrente eléc-trica, que roda de forma a recriar os movimentos do pulso humano e a manter o relógio (de corda automática) sempre ‘carregado’. Ou seja, tería-mos sempre a nossa peça em funcionamento to-tal, mesmo quando está em repouso.
O mote do projecto, desde o início, sempre foi o de prestar um Tributo aos Pilotos da Com-panhia – os que ainda nela voam, bem como todos os outros que por diversos motivos co-mandam agora outros manches** na vida. Assim sendo, quisemos nós que o estojo fosse gravado, a quente, com os cinco símbolos que as caudas dos nossos aviões transportaram ao longo destas seis décadas. Recorrendo aos arquivos da TAP foi possível recriarmos, na perfeição, os mesmos símbolos, de forma a que pudessem ser gravados no topo das caixas.
Deu-se então início à segunda fase do pro-jecto: a divulgação. Como seria de esperar, devido às solicitações de melhoramento do relógio, a ver-são final não ficou barata, motivo suficiente para fazer borregar*** alguns pilotos. No entanto, não
nos pudemos abstrair da qualidade, das modi-ficações e das exigências que decidimos ter em nosso benefício. Houve alguma controvérsia ini-cial e muitas vozes se levantaram em críticas mais ou menos construtivas; porém, a esmagadora maioria dos pilotos afirmou que estávamos peran-te um relógio de inegável beleza e qualidade. Foi com muita satisfação que vi muitos colegas a aderirem, não querendo perder a possibilidade de ostentarem uma peça única, feita e persona lizada para eles, fazendo com que o seu valor senti-mental aumente. Até na personalização (exclu-siva para os pilotos TAP) o nome de cada um é gravado em conjunto com as inscrições da Fortis no rotor. Posteriormente são cobertas todas as gra vações com a tinta esmaltada azul (caracterís-tica no Crono Alarme), fazendo com que todo o conjunto seja único. Relativamente à divulgação, foi papel determinante o apoio prestado pela APPLA (Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea), que contactou com os nossos colegas que já gozam o merecido ‘descanso do guerreiro’ (reforma), de forma a que também eles pudessem abraçar o projecto.
Miguel Carvalho e Paulo Pires pude-
ram observar de perto o fabrico e
acabamento do relógio oficial dos
Pilotos TAP.
Depois das peças terminadas é altura
para se verificar detalhadamente se
todos os pormenores do projecto
foram executados segundo as espe-
cificações.
A Fortis – relógio oficial dos cosmo-
nautas russos – foi agraciada com
a condecoração “Star of the Blue
Planet”, concedida pelo governo
Russo devido ao seu desempenho
nas missões espaciais.
Sendo o relógio oficial dos cosmonautas da estação espa-
cial MIR, os Fortis provaram também o seu desempenho
em estadas prolongadas no espaço.
67Reportagem TAP - Fortis
Chega-se então à difícil escolha, daqueles que encomendaram a peça, do número de série pretendido, dentro dos 300 disponíveis. Todas as escolhas são válidas, com mais ou menos signifi-cado, e cada um fez a sua.
É por esta altura que recebemos uma notícia menos boa: a entrega prevista teve de ser adiada quatro meses. O ano de 2006 foi extraordinário na utilização de movimentos Calibre 7750 Val-joux, pelo que uma grande parte das marcas que o utilizam como mecanismo de base para os seus cronógrafos ultrapassaram a sua quota de enco-men das à fábrica logo no primeiro semestre desse ano. A Fortis não foi excepção, dado que utiliza este calibre na concepção do seu mecanis-mo exclusivo Chrono Alarm – que, embora mo-dificado e aumentado para albergar o alarme, necessita do Valjoux como base para o início dos trabalhos de manufactura de cada relógio nas suas instalações.
Para os menos informados, os vários cali-bres mecânicos têm diferentes níveis de quali-dade, sendo que as melhores marcas de relógios do mundo exigem sempre os de nível superior, como é o caso da Fortis. Esses calibres de base são montados por relojoeiros especializados, que lhes dão novas peças e um diferente acabamento personalizado de modo a serem certificados pelas respectivas marcas que os utilizam – ou seja, um ‘tuning’ que melhora substancialmente a sua per-formance. Não é pois de estranhar que o mesmo movimento mecânico tenha comportamentos tão diferentes entre marcas, nomeadamente na reser-va de marcha. E só depois de devidamente pre-parados é que os calibres receberem o magnifico módulo de alarme, desenhado pelo mestre Paul Gerber, que refez o mecanismo com a inserção de 65 componentes do alarme (incluindo um martelo, um segundo tambor, sistema de corda e de acerto). O mecanismo final alberga dois tam-bores de corda carregados pelo rotor ou coroa, que alimentam duas reservas de marcha – uma para o relógio/cronógrafo e a outra para o alarme que, quando activado/desactivado (por um botão localizado às 8 horas da caixa), soa durante 25 segundos. A este mecanismo patenteado foi dado o nome de Calibre F2001.
Foi com muita ansiedade que esperámos para ver o protótipo do relógio. Após a mostra do pri-meiro exemplar, recebemos o convite para nos des -lo carmos até à fábrica da Fortis em Grenchen, de forma a acompanharmos a fase final de produ ção do nosso relógio e, por sua vez, celebrarmos a en-
trega oficial. Em representação dos pilotos TAP, deslocaram-se até à Suíça os dois principais inter-venientes no projecto; assim sendo, acompanhei o Comandante Miguel Carvalho (Piloto-Chefe) a Grenchen.
Fomos recebidos pelo Presidente da Fortis (Sr. Peter Peter), sua mulher Liselotte e toda a equipa directiva da fábrica. Pessoas de trato fácil, bem dispostas e excelentes anfitriões, que desde cedo nos colocaram à-vontade. Trocas de experi-ências vividas brotavam alegremente, quando se aproximava a altura da entrega do primeiro relógio de edição limitada Fortis B-42 TAP Pi-lot Official Cosmonauts Chronograph Alarm Calibre F2001-5. Numa cerimónia simples, mas carregada de significado, a emoção esteve ao ru-bro. Seguiu-se uma visita guiada às instalações, onde pudemos ver os verdadeiros ‘magos’ que montam os relógios da marca. Num espaço ima-culadamente limpo, acompanhámos a fase final de montagem de alguns dos nossos relógios, bem como outras peças que se encontravam em fases similares. A harmonia existente entre todos os empregados da empresa é extraordinária; vivem como se de uma família se tratasse, afastando qualquer tipo de pensamento que estávamos pe- rante pessoas frias ou distantes.
E este é sem dúvida o grande segredo, pois no meio de tantas complicações, entre cronó- gra fos, reservas de marcha, tambores, lunetas ro- tativas e alarmes construímos um relógio que tam bém dá horas… ET
Pequena localidade situada no sopé dos montes
Jura, no coração da Suíça, é um verdadeiro centro de
peregrinação dos amantes de relógios. Terra-mãe de
algumas das mais famosas marcas mundiais, presta
homenagem diária aos grandes impulsionadores
de relógios mecânicos. Longe vão os tempos em
que, por exigências climatéricas, os seus habitantes
se viam retidos em casa, durante os fortes nevões
sentidos durante a estação fria. Desta forma deram
início a uma nova ocupação no fabrico dos tão conhe-
cidos relógios de cuco. Este legado foi transmitido
entre gerações, fazendo com que os seus sucessores
se tornassem nos melhores profissionais e que, com
elevada mestria, manejam as mais liliputianas peças
mecânicas – transformando-as nas mais belas com-
plicações que o ser humano construiu.
Em Grenchen
“Após a mostra do
Paulo Pires
primeiro exemplar, recebemos o convite
para nos deslocarmos até à fábrica
da Fortis em Grenchen, de forma a
acompanharmos a fase final de produção
do nosso relógio e, por sua vez,
celebrarmos a entrega oficial do mesmo.”
* Nome atribuído na gíria ao tapete de Judo, devido à respeitosa
vénia feita à entrada e saída do atleta.
** Alavanca de comando usada para pilotar um avião.
*** Manobra efectuada na aviação, na fase final para aterragem,
denominada de aproximação falhada.
O certificado que acompanha cada
um dos relógios e o estojo rotativo
per sonalizado com os logos da TAP
for necido também aos compradores.
O presidente da Fortis Peter Peter e
os representantes dos pilotos TAP,
Miguel Carvalho e Paulo Pires, rece-
bendo oficialmente o primeiro exem-
plar desta série limitada. Em baixo,
Francisco Amaro da Torres Distribuição
apresentando o modelo aos pilotos.
68 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
69Reportagem TAP - Fortis
O turbilhão assume-se como a mais fascinante complexidade relojoeira e geralmente vale uma pequena fortuna. É sempre um regalo ver a prodigiosa gaiola rodar sobre o seu pró- prio eixo, mas a elevadíssima especialização reque-rida para se construir um microcosmos de cen-tenas de peças e escassas gramas de peso dentro de um calibre relojoeiro que já de si cons titui um fenómeno da micromecânica tem de ser paga em consonância – daí que os preços astronómicos coloquem o turbilhão num patamar superior de exclusividade. Para além disso, a ‘insustentável leveza’ do turbilhão torna-o num instrumento extremamente delicado e algo sensível aos impac-tos do pulso na vida diária.
Sempre à procura de ultrapassar os limites da alta relojoaria, a Jaeger-LeCoultre procurou matar dois coelhos de uma cajadada só com a apresentação do Master Tourbillon. Por um lado, permite aos aficionados a possibilidade de pos-
suir um turbilhão alimentado por um calibre au to mático que pode ser mais frequentemente apreciado no pulso (em vez de um relógio mais adequado a ocasiões especiais e pouco radicais). Por outro, proporciona a esses mesmos aficiona-dos a aquisição de um turbilhão de extraordinária qualidade a preços mais pertinentes para uma obra-prima tão especializada (35.000 euros para o modelo em aço; 42.500 euros para o modelo em ouro rosa e 59.000 euros para o de platina).
Claro que o Master Tourbillon acaba por ser caro para a maioria das bolsas, mas vale bem o preço. Intrinsecamente até vale mais, aten dendo a todas as virtudes técnicas e estéti cas com a chancela da lendária manufactura Jaeger- -LeCoultre – cuja optimização de proces sos lhe permite comercializar o Master Tourbillon a preços bem mais democráticos do que os infla-cionados valores da concorrência. E se há casa relojoeira com a reputação de absoluta honesti-
dade na relação preço/qualidade, é sem dúvida a Jaeger-LeCoultre.
Mas o enfoque não deve situar-se no preço. Deve estar sobretudo apontado para a técnica: trata-se de um turbilhão automático de quali-dades cronométricas que clama ser o mais pre-ciso na alta relojoaria; para mais, inclui um se-gundo fuso horário muito útil para quem via ja e um original sistema de data analógica do- tado de uma deliciosa nuance. Segundo Rachel Torre sani, a construtora do mecanismo, o objec-tivo que impeliu o advento do Master Tour- billon foi o de «criar o turbilhão de grande quali-dade mais preciso e durável de sempre». Tal como todos os seus parentes da linha Master, cada exemplar está sujeito ao famoso teste de 1.000 horas de controlo promovido pela própria Jaeger-LeCoultre; entre as diversas provações, tem de ultrapassar o teste de impermeabilida-de em condições semelhantes a 50 metros de
Um turbilhão tradicional apresenta uma delicada gaiola que roda sobre o seu próprio eixo no espaço de um minuto.
O Master Tourbillon da Jaeger-LeCoultre é um relógio clássico dotado de um tradicional turbilhão
de um minuto, mas com duas grandes diferenças: foi construído para ser usado
todos os dias e concebido para ter um preço mais democrático.
texto de Miguel Seabra | fotos de Nuno Correia | Le Sentier - Suíça
[ Reportagem ]
70 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
71Reportagem Master Tourbillon Jaeger-LeCoultre
“Quanto ao mecanismo turbilhão propriamentedito, a manufactura de Le Sentier resistiu à tentação de utilizar um balanço pequeno,
e baixa frequência para conseguir uma reserva de corda mais substancial,
optando por uma roda do balanço maior para originar mais
inércia e ganhar em precisão.”
O novo Master Tourbillon da Jaeger-
-LeCoultre dispensa qualquer tipo de
elogio técnico e estético. A Manufac-
tura faz jus à sua reputação em todos
os modelos que saem dos ateliers de
Le Sentier.
A beleza da peça terminada contras-
ta com alguns dos processos do seu
fa brico em que a perícia humana e
séculos de sabedoria fazem toda a
diferença.
Devido à incrível pequenez da gaiola
do turbilhão, só recorrendo a instru-
mentos de última geração se conse-
gue avaliar correctamente a qualida-
de de execução de cada peça.
Jean-Claude Meylan do departamen-
to de pesquisa e desenvolvimento da
Jaeger-LeCoultre tem o privilégio de
“testar” no pulso as suas criações.
72 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
profundidade e é o único turbilhão do merca-do a ser submetido a testes de resistência que in cluem o martelar constante de uma força de 5 kg e quedas de 2,5 metros de altura!
Quanto ao mecanismo turbilhão propriamen-te dito, a manufactura de Le Sentier resistiu à tentação de utilizar um balanço pequeno e bai-xa frequência para conseguir uma reserva de corda mais substancial, optando por uma roda do balanço maior para originar mais inércia e ganhar em precisão. A elevada frequência atingi-da (28.800 alternâncias/hora) não é usual em ba-lanços tão grandes; a roda do balanço consegue uma elevada inércia de 11,5 mgcm2 e está dotada de 14 parafusos de ouro em miniatura, dos quais quatro servem para regular o relógio – que pode ser acertado no espaço de minutos, em vez de ho-ras. Claro que o tamanho do balanço criaria sem-pre problemas na concepção do turbilhão; foi por essa razão que a Jaeger-LeCoultre desenvolveu um novo calibre (o 978) especificamente para o
Master Tourbillon, em vez de adaptar desenhos ou calibres anteriores. A outra questão inerente prendia-se com a força constante do mecanismo; a opção por uma espiral de formato geométrico capaz de manter níveis semelhantes de tensão en-tre as primeiras 24 horas e as segundas 24 horas (a reserva de corda é de 48 horas) revelou-se a mais acertada: trata-se de uma espiral elevado em curva, em vez da espiral plana habitual, de modo a ga- rantir a batida concêntrica, minimizar o esforço so bre os pivots e manter o centro de gravidade no eixo rotativo.
Quanto à gaiola do turbilhão, a Jaeger-Le- -Coultre seguiu a via da inovação ao concebê-la em titânio – para um peso total de 0,24 gramas. E todas as peças são arredondadas e polidas para que haja um mínimo de fricção entre as super-fícies, tal como cada dente da roda de escape é arredondado e polido. Todos os esforços foram efectuados para reduzir a fricção e assegurar o má ximo aproveitamento da energia, elevando
as prestações do mecanismo. O fascinante im-pacto estético do turbilhão no mostrador é qua se igualado pela harmoniosa arquitectura do meca- nismo, realçada pelo rotor de ouro em 22 quilates e por um aturado trabalho de decoração que pode ser apreciado através do fundo transparente.
O facto de o re ló gio ser alimentado automa-ticamente pelo mo vimento do pulso confere-lhe um perfil de uso mais diário: o rotor unidirec- cio nal que fornece a corda está assente sobre ro la -mentos de esferas de cerâmica que não reque rem ma nutenção nem lubrificação.
Numa altura em que a esmaga dora maioria das marcas compra turbilhões a manufacturas es pecializadas na concepção de mecanismos, a Jaeger-LeCoultre idealizou e manufacturou um turbilhão puro que implica um regresso ao tempo em que a sua função primordial era de contribuir para a pre cisão do relógio. Afinal de contas, o tur-bilhão deve ser o protagonista a qualquer preço. E se for um preço justo, melhor ainda. ET
“O fascinante impacto estético do turbilhãono mostrador é quase igualado pela hormoniosa arquitectura do mecanismo,
realçada pelo rotor de ouro em 22 quilates e por um apurado
trabalho de decoração que pode ser apreciado através
do fundo transparente.”
O rotor unidirecional em ouro de 22 quilates
que alimenta o Master Tourbillon está assente
sobre rolamentos de esferas de cerâmica, mais
uma inovação da Manufactura que dispensa
manutenção e lubrificação.
73Reportagem Master Tourbillon Jaeger-LeCoultre
Belíssimo pormenor da gaiola do Mas-
ter Toubillon. Podem observar-se os 14
parafusos em ouro dos quais 4 servem
para regular o relógio.
MASTER TOURBILLON
Movimento: Turbilhão mecânico de corda
automática, Calibre JLC 978.
Funções: Horas, minutos, segundos, data
e segundo fuso horário.
Caixa: Platina, vidro em safira, estanque a 50 metros.
Bracelete: Pele de jacaré com fecho de báscula
em platina.
Ref: 1656450 • Preço: € 59.000
Parece ser dotado de um toque de Midas muito especial: através das marcas Graham e Arnold & Son,
Eric Loth tem concebido consistentemente instrumentos do tempo que marcam pela diferença
e pela espectacularidade. As suas criações ousadas e vanguardistas ajudaram a projectar
a relojoaria tradicional para uma nova era moderna e contemporânea.
Eric Loth é o ‘ponta-de-lança’ do projecto British Masters, o homem das ideias e da criatividade por trás da ressurreição dos velhos mestres relojoeiros britânicos.
Num universo relojoeiro saturado de marcas e modelos de todos os preços e feitios, torna-se difícil escolher algo de verdadeiramente diferen te – mas também se nota cada vez mais uma corren-te contemporânea formada por personalidades e marcas que não têm receio de arriscar a concepção de relógios de qualidade técnica tradicional super-lativa e que ao mesmo tempo denotam um design decididamente vanguardista.
Neste lote situam-se Eric Loth e os carismá-ticos modelos das suas marcas – os sensacionais cronógrafos Graham e os relógios de aventuras da Arnold & Son. Aos 49 anos, o engenheiro suíço apresenta um longo currículo ligado ao sec-tor relojoeiro e só quando resolveu lançar-se por conta própria é que pôde finalmente transformar a sua criatividade em atrevidos objectos de culto que contribuíram decisivamente para a corrente
estética de mudança que actualmente se sente na indústria relojoeira suíça.
Miguel Seabra: As marcas Graham e Arnold & Son são
diferentes e têm uma base histórica diferente. Como se
criam marcas de relojoaria que conseguem fazer a di-
ferença num mercado actualmente saturado de tantas
marcas competentes?
Eric Loth: Penso que a primeira coisa que decidimos fazer foi partir de uma folha de papel em branco. E alicerçámo-nos em três princípios: o primeiro foi o conhecimento do meio técnico, porque eu já tinha cerca de 20 anos de relojoaria e conhecia bem o negócio ao nível da produção; o segundo foi a inspiração retirada da herança de George Graham e John Arnold, dois relojoeiros britâni-cos que tiveram uma vida extraordinária e cujas notáveis experiências nos foram muito úteis para estruturar as nossas ideias; o terceiro foi mental, já que tinha o espírito completamente livre para criar o que me apetecesse depois de sempre ter sido travado na minha criatividade onde quer que
tenha trabalhado. A associação desses aspectos e a herança histórica lançaram-nos na via certa.
MS: Essa herança histórica que vos serviu de inspiração
foi mais técnica ou espiritual?
EL: Não nos inspirámos em nenhum produto, foi algo bem mais profundo do que isso. Graham, Arnold e outros mestres ingleses deixaram mui-tos escritos, vimos muitas patentes relojoeiras – algo de extraordinário: pode dizer-se que as especiarias eram antigas, mas a receita era con-temporânea e nós desejávamos algo de moder-no... nada do género Breguet, uma marca que se ligava a um passado redutor... o que nós quería-mos era um toque contemporâneo. George Gra-ham e John Arnold foram grandes relojoeiros, mas a inspiração que deles retirámos ultrapassou a parte técnica; não deixaram uma mensagem apenas sobre mecanismos, deixaram muito mais do que isso: quanto mais os estudamos, mais des cobrimos algo de interessante. Por exemplo, descobri que George Graham adorava Shakes-
entrevista de Miguel Seabra em Genebra | fotos de Nuno Correia
[ Entrevista ]
74 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A tradição britânica não se resume apenas à relojoa-
ria. Eric Loth assume-a em vários aspectos do seu
trabalho e da sua vida, como se pode verificar pelos
“provocadores” botões de punho que usou durante
a entrevista.
SWORDFISH BLACK KNIGHT
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda
automática calibre G1710.
Funções: Horas, minutos, segundos e cronógrafo.
Caixa: Aço, vidro em safira, estanque a 100 metros.
Bracelete: Cauchu com fivela em aço.
Ref: 2SWAS.B06A.K06B • Preço: € 5.550
76 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
peare e que até financiou actores; Graham foi o primeiro relojoeiro a fazer parte da Royal So- ciety e o director que o acolheu foi Isaac Newton. Recentemente descobri que o famoso explorador Dr. Livingstone partiu à descoberta do interior de África com um Arnold, um relógio extrema-mente fiável mesmo em condições difíceis, e que o acompanhou quando descobriu as Cataratas de Vitória. Releio histórias da descoberta dos pólos, da Companhia das Índias e havia relógios Arnold por todo o lado, até nos lados opostos da Batalha de Trafalgar! Quando lemos tudo isso e temos um mínimo de criatividade e um conhecimento técnico suficientemente forte, as ideias começam a fluir e o produto surge quase por si.
MS: E qual é o seu próprio background?
EL: Tudo começou com o meu pai, que era pro-fessor de mecânica – um engenheiro. Quando eu era criança, desde cedo comecei a visitar fá-bricas e feiras; as máquinas, as engrenagens e a mecânica fizeram parte da minha infância. Tirei o curso de engenharia como o meu pai, mas de-pois fui mais longe e estudei a física dos sólidos; a origem das coisas sempre me fascinou. Trabalhei no Swatch Group, um grupo muito industrial – não aprendi lá sobre o segmento do luxo, mas aprendi a trabalhar e a controlar o aspecto finan-ceiro. Os designers precisavam de um engenheiro
para os defender e fui o advogado dos designers face à direcção técnica; no Swatch Group es-tava preso pela tirania das massas e pela tirania do realismo, havia sempre uma contra corrente e tornou-se de masiado frustrante. Decidi não continuar lá. Depois fui abordado por Gianni Bulgari, traba lhámos dois anos e aí que aprendi o luxo, a diferença entre peças boas e peças mui-to boas – as pequenas diferenças, as subtilezas, o luxo é algo que desperta os sentidos e excita o desejo, é a aquisição de uma certa perfeição relacionada com a sua própria compreensão. Lan cei-me por conta própria e trabalhei como consultor das maiores marcas relojoeiras; a certa altura, fui confronta do com a aquisição das mar-cas in glesas e quis inven tar um projecto à minha ima gem – como todos os inovadores, canso-me ra pi damente das coisas e, com a Graham e a Arnold & Son, todos os dias podia haver algo de novo...
MS: O nascimento do Swordfish está ligado a uma his-
tória muito peculiar...
EL: O Swordfish nasceu de um concurso lançado no âmbito do Projecto Erasmus – um concurso que contou com a participação de 40 jovens numa universidade especializada em design na Irlanda, em Dublin. Preparei os briefings, a ligação entre George Graham e Newton, que também teo rizou
sobre a óptica... queria introduzir uma noção óptica num cronógrafo. Falámos disso e, depois do meu primeiro briefing, trabalharam um mês... e nada. Voltei depois e, dos 40, talvez se aproveitasse um. Depois, dez saíram do projecto, dez continuaram sem entender o que se pretendia e houve 20 que perceberam – incluindo o Philip Hamilton, o ir-landês que se aproximou mais. Mas foi necessário arranjar um designer relojoeiro para dar seguimen-to às suas ideias; trabalhou as asas, as proporções, o mos trador, os ponteiros, e tivemos de trabalhar quase um ano com fabricantes de caixas e de vi- dros até conseguirmos algo aproximado. Assim, o projecto partiu de uma ideia, que passou por um briefing, que passou por uma sala de design, por um trabalho de design em profundidade, que foi para um trabalho técnico em profundidade até à sua apresentação em Basileia 2003 – foi um flop enorme: vendi apenas 100 exemplares! Só que houve fotos que saíram na imprensa e que fize-ram com que clientes finais fossem até às lojas à procura do relógio, despertando o interesse dos distribuidores e transformando o Swordfish num grande êxito.
MS: O Chronofighter recebeu recentemente a adição de
uma versão Oversize...
EL: Alguém me disse que o Chronofighter pare-cia uma granada; eu disse que não, mas que faria
“Pode dizer-se que as especiarias eram antigasmas a receita era contemporânea e nós desejávamos algo de moderno... nada do género
Breguet, uma marca que se ligava a um passado redutor... o que nós queríamos era um
toque contemporâneo. George Graham e John Arnold foram grandes relojoeiros,
mas a inspiração que deles retirámos ultrapassou a parte técnica.”
Eric Loth
O Swordfish é talvez o maior ícone da Graham,
exibindo as característi cas estéticas e técnicas
que o fa zem primar pela diferença. É um reló-
gio que não passa despercebido e destina-se a
todos aqueles que gostam de ostentar no pulso
uma peça de excepção.
77Reportagem Eric Loth CEO British Masters
algo que fosse mais parecido com uma granada e então concebi o Chronofighter Oversize. Eu mesmo o desenhei, porque os designers não esta-vam a ousar o suficiente – eu queria que fosse um relógio ‘ruim’, forte. Já o Chronofighter original partiu de dois vectores de inspiração: o primeiro, de um relógio antigo militar que os navegadores usavam preso à perna e cujo cronógrafo acciona-vam para medir o tempo entre a largada da bom-ba e o impacte; o segundo partiu de um grande cliente em Itália, o Senhor Barrozzi de Brescia, que me disse para ousar e fazer algo diferente daquilo que as 20 marcas da sua loja tinham para oferecer. Esse senhor fez-me abanar um pouco e foi precisamente em Itália que o Chronofighter arrancou para o sucesso.
MS: Sente-se uma crescente maturidade na colecção da
Graham, com uma concentração em dois modelos de
caixa e múltiplas variações nos mostradores.
EL: Chegámos à idade adulta. Há sempre etapas no desenvolvimento de uma marca; a primeira é o lançamento de relógios, a segunda é estabe-lecer um perfil e saber eliminar todos os produtos que não assentam bem nesse perfil: por exemplo, eliminámos o Foudroyante porque nos levava a soluções técnicas que limitavam a estética. Neste momento, tenho oito projectos para a Graham, este ano vamos fazer um relógio de mergulho
sobredimensionado ultra técnico, quero também um Oversize GMT, uma peça um pouco mais calma para certos clientes. E estamos a preparar um modelo GMT Alarm com um ciclope porque a Graham está a diversificar-se para lá dos cronó-grafos. Sempre com mecanismos de qualidade da manufactura de calibres La Joux-Perret.
MS: Porque é que os suíços estão tão agarrados ao tra-
dicional e como é que marcas inglesas foram recebidas
na Suíça?
EL: No início, com desconfiança. Mas somos to-talmente swiss made, como a Panerai ou a Cartier; só a Lange & Söhne é alemã, mas, mesmo as-sim, com uma maioria de componentes suíços. É na Suíça que o conhecimento relojoeiro está reunido, seria impossível conseguir um tal nível de complexidade relojoeira em Inglaterra. Por outro lado, o espírito suíço tem um lado resistente à progressão de movimentos estéticos e procura manter uma certa linha calvinista. A Suíça tem essa tradição e vende essa tradição, daí ser difícil apresentar coisas ousadas porque estaria a fugir à sua própria mensagem tradicional. Uma marca de alto luxo em Genebra que faça coisas diferentes corre o risco de cortar os valores tradicionais que fazem a sua própria força de marketing. Isso faz com que as grandes marcas não arrisquem dando--nos espaço a nós, os emergentes, para ousar. ET
«Foi arriscado investir nas marcas inglesas, porque
na altura só havia marcas suíças», recorda Éric Loth.
«Mas quanto mais estudávamos os grandes relojoei-
ros ingleses, mais nos convencíamos de que tínha-
mos descoberto o Éden... fiquei comple tamente abis-
mado com as invenções e o contri buto dos mestres
ingleses para a relojoaria». O estabelecimento do
projecto durou três anos – de 1995 a 1997, período
unicamente destinado à pesquisa técnica, preparação,
desenvol vi mento e validação do produto. O público-
-alvo é bem definido: «Havia poucas marcas que
exa lassem aquele espírito do luxo britânico. Os nos-
sos relógios estão destinados a um público dotado
de um nível sócio-económico elevado e que com-
preende a noção do luxo inglês – são apreciadores
de viaturas Aston Martin ou Jaguar, sapatos John Lobb
ou Church’s, dos alfaiates de Bond Street. Apresenta-
mos produtos únicos, inimitáveis e de técnica com-
plexa – mas numa estratégia de preço relativamen te
democrática relativamente ao número de relógios e à
es pecificidade dos mecanismos». Quanto a Portugal,
considera ser um mercado especial: «Em 1999 fomos
descobertos por Pedro Torres, que tem uma gran de
visão. Assim, o mercado português foi um dos primei-
ros – começámos a surgir ti mi damente mas já temos
alguma notoriedade».
Luxo de inspiração britânica
“Alguém me disse que o Chronofighterparecia uma granada; eu disse que não, mas que faria algo que fosse mais parecido
com uma granada e então concebi o Chronofighter Oversize.”
Eric Loth
CHRONOFIGHTER RAC BLACK FIGHTER
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda
automática calibre G1742.
Funções: Horas, minutos, segundos, data
e cronógrafo.
Caixa: Aço, vidro em safira, estanque a 50 metros.
Bracelete: Cauchu com fivela em aço.
Ref: 2CRBS.B02A.L3OB • Preço: € 5.990
78 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
CHRONOFIGHTER RAC SILVER FIGHTER
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda
automática calibre G1742.
Funções: Horas, minutos, segundos, data e cronógrafo.
Caixa: Aço, vidro em safira, estanque a 50 metros.
Bracelete: Calfe com fivela em aço.
Ref: 2CRBS.S01A.L80B • Preço: € 5.990
O fundo em safira do Chronofighter RAC revela a
ori gem da sua designação: a sua Roue de Colonnes,
uma inovação técnica aliada às novas abordagens
es té ticas do modelo.
79Reportagem Eric Loth CEO British Masters
Onde acaba a carne e começa o chip? Onde começa o quartzo e acaba a roda dentada? Se o homem cibernético
está ao virar da esquina, o híbrido relógio mecânico-quartzo já está disponível. E a TAG-Heuer,
na sua tradição de inovação e domínio da contagem exacta do Tempo, revolucionou
mais uma vez, com o seu Calibre S.
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No futuro, será muito difícil distinguir o homem da máquina – não só porque são cada vez mais os órgãos artificiais que vão sendo utilizados no corpo humano, como porque a ligação entre o sistema nervoso e sistemas informáticos já não é coisa de ficção científica. O ser simbiótico que se avizinha terá poderes insuspeitados, capacidades intelectuais elevadas à máxima potência, num diálogo da carne com o chip. No mundo dos re-ló gios, as coisas também estão a avançar nesse sentido, e tem havido experiências inovadoras no casamento do relógio mecânico com a tecnolo-gia do circuito integrado e do quartzo. Esta nova geração do meca-quartzo alia o saber secular da
micro-mecânica com as capacidades inigualáveis de isocronismo que um cristal de quartzo tem ao vibrar. Para muitos, é o casamento do melhor de dois mundos e a TAG-Heuer está na linha da frente, apresentando este ano ao mercado um novo e revolucionário movimento, o Calibre S, com os seus 230 componentes, mais do que mui-tos relógios puramente mecânicos, e 5 motores bi-direccionais, alimentados por pilha.
Esta foi uma das grandes novidades técni-cas divulgadas em Fevereiro em primeira-mão a uma série de jornalistas especializados, incluindo o representante de Espiral do Tempo, numa an-tecipação da Feira de Basileia, a grande mostra
mundial do sector. A nova sede da TAG-Heuer em La-Chaux-de-Fonds, recentemente inaugu-rada, integrando os Ateliers Horlogers do grupo LVMH, o maior do mundo no sector do luxo, serviu de palco à divulgação dos novos modelos: a linha Aquaracer Chrono passa a estar equipada com o revolucionário Calibre S, uma patente TAG-Heuer, que assim faz jus à sua matriz de tra-dição mecânica (Heuer) e ao seu arrojo de Tec-nologias de Avant-Gard (TAG). Além disso, há um refrescamento da estética da linha Formula 1, bem como a já habitual declinação em série limi-tada da Monaco Vintage. E uma nova edição do TAG-Heuer SLR para a Mercedes-Benz.
reportagem de Fernando Correia de Oliveira | La-Chaux-de-Fonds | Suíça
[ Reportagem ]
80 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
81vReportagem Novidades TAG Heuer
Limitado a 3.500 exemplareso novo Mercedes-Benz SLR tem um design ainda
mais agressivo que o seu antecessor continuando
a celebrar a parceria do construtor alemão
com a casa suíça.
TAG HEUER MERCEDES-BENZ SLR
Movimento: Cronógrafo mecânico de
corda automática Calibre 17.
Funções: Horas, minutos, segundos,
data panorâmica e cronógrafo.
Caixa: Aço, vidro em safira anti-riscos
com tratamento anti-reflexo de ambos
os lados, estanque a 100 metros.
Bracelete: Aço com fecho de báscula.
Ref: CAG2111.FT8009 • Preço: € 3.850
(preço indicativo e apenas para versão
com correia em borracha)
MONACO VINTAGE
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática Calibre 17.
Funções: Horas, minutos, segundos, data e cronógrafo.
Caixa: Aço, vidro em plexiglas, estanque a 30 metros.
Bracelete: Pele de jacaré com duplo de segurança em aço.
Ref: CV21A.FC6228 • Preço: € 3.650
82 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
O novo e reformulado Formula 1 é o modelo de intro du-
ção à TAG Heuer. Dotado de um desempenho notável é
um cronógrafo quartzo de alta qualidade.
Fernando Alonsonovo piloto da McLaren e bi-campeão
do mundo de Fórmula 1, assumirá
este ano as funções de embaixador
do TAG Heuer Formula 1.
A nova declinação deste cronógrafo clássico,com caixa inconfundível e mostrador negro com bandas azul e laranja,
numa homenagem ao Porsche-Gulf 917K que Steve McQueen
conduzia no filme Le Mans.
O Aquaracer Chrono tira todo o partido das potencialidades do Calibre S e dos seus cinco mo-tores bi-direcionais: com caixa estanque até 300 metros e uma precisão de 1/10 de segundo, este relógio apresenta as horas e as funções do cronó-grafo através dos três ponteiros ao centro, per-mitindo uma nova e mais fácil leitura dos tempos intermédios. Equipado com calendário perpétuo, vidro em safira, luneta em alumínio e contador de partida para regata, ponteiros e marcadores luminescentes. Tem ainda uma versão li mi tada a 500 exemplares, evocativa do apoio da TAG- -Heuer à equipa da China na Taça América.
Quanto ao novo Formula 1, a linha mais po-pular entre os jovens e aquela que permite um preço de acesso ao mundo TAG-Heuer, ela tem sido desde sempre alavancada pelos seus embaixa-dores – Joe Siffert, Jacky Ickx, Clay Ragazzoni, Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, Gilles Ville-neuve, Alain Prost, Ayrton Senna, Mika Hak-kinen, David Coulthard, Juan Pablo Montoya, Kimi Raikonnen ou Fernando Alonso, novo pilo to da McLaren e bi-campeão do mundo de Fórmula 1, que assumirá este ano as funções de embaixador do modelo.
O Monaco Vintage de 2007 vinca de forma feliz a personalidade de um dos ícones dos anos 70, imortalizado por Steve McQueen no filme
Le Mans. A nova declinação deste cronógrafo clássico, com caixa inconfundível e mostrador negro com bandas azul e vermelha, numa home-nagem ao Porsche-Gulf 917K que aparecia na película, é um cronógrafo automático, limitado a 4 mil exemplares.
Finalmente, entre as novidades de 2007 des-taca-se a edição limitada a 3.500 exemplares do novo TAG-Heuer SLR para a Mercedes-Benz. A linha foi iniciada em 2004 e o primeiro mo- de lo estava exclusivamente reservado a quem com prasse um SLR. No ano passado, surgiu uma nova versão, agora aberta ao público em geral. Este ano, o cronógrafo com botões a 45 graus, a “assinatura” do modelo, surge com mostrador negro e pulseira em aço ou em borracha.
Orgulhando-se de pergaminhos que vêm desde 1860, a TAG-Heuer tem sido ‘Mestre da Velocidade’, ‘Mestre dos Mares’ e ‘Mestre dos Movimentos’, num esforço constante de Inova-ção, Excelência e Performance. As novidades deste ano sublinham esses caminhos de vanguar-da e tradição.
Tecnologia de Avant-Garde, até nos óculos…Jean-Christophe Babin, Presidente e CEO da TAG-Heuer tem mais um motivo de orgulho, que ostenta com visível satisfação: o seu par de
óculos, de linhas vanguardistas e tecnologia de ponta. São TAG-Heuer, claro. «Tem sido uma experiência fantástica, estamos a chegar a novos consumidores, que alargam o já vasto universo de amantes dos nossos relógios», diz. «E o selo de design, qualidade e arrojo técnico estão lá!»
Mas o nicho do negócio dos óculos, recém- -iniciado, não esconde o grosso do negócio.
No mercado do luxo (segundo os critérios suíços de exportação, relógios com preço à saída de fábrica acima dos 400 euros), e a nível mun-dial a TAG-Heuer é a quarta em termos de valor e está em quase todos os mercados nacionais en-tre as posições número um e número cinco (em Por tugal estão em quarto lugar). Além disso, nesse segmento, um em cada nove relógios suíços exportados é TAG-Heuer. «Produzimos anual-mente entre meio milhão e um milhão de peças, estamos no ‘campeonato’ dos nossos mais direc-tos concorrentes – Rolex, Cartier, Omega», frisa Babin. «E se os primeiros focam mais o mercado dos relógios em ouro, os segundos os relógios jóias e os terceiros o mercado feminino, nós pre-tendemos liderar nos cronógrafos». Em conjunto, estas quatro marcas representam cerca de 40 por cento do mercado mundial de relógios de luxo, em termos de quantidade. «Viemos da tradição do mecânico, fomos para o quartzo, como o resto
83Reportagem Novidades TAG Heuer
CARRERA CHRONO
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática.
Funções: Horas, minutos, segundos, data e cronógrafo.
Caixa: Aço, luneta giratória com escala taquimétrica,
vidro em safira, estanque a 50 metros.
Bracelete: Aço com fecho duplo de segurança.
Ref: CV2010.BA0786 • Preço: € 2.250
Os best-sellers da TAG Heuerno ano de 2006 continuam a ser uma das grandes apostas
da casa suíça também para 2007.
CARRERA TACHYMÉTRE RACING
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática.
Funções: Horas, minutos, segundos, data e cronógrafo.
Caixa: Aço, luneta giratória com escala taquimétrica,
vidro em safira, estanque a 50 metros.
Bracelete: Cauchu racing com fecho de báscula em aço.
Ref: CV2014.FT6007 • Preço: € 2.250
84 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
O Aquaracer tem 43 mm de imponênciacronográfica perfeitamente adaptada às exigências dos desportos
náuticos. As generosas dimensões facilitam a legibilidade
nesta nova declinação equipada com o Calibre 16.
AQUARACER 43 mm
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática Calibre 16.
Funções: Horas, minutos, segundos, dia da semana, dia do mês
e cronógrafo.
Caixa: Aço, luneta giratória, vidro em cristal de safira com
tratamento anti-reflexos, estanque a 300 metros.
Bracelete: Borracha com fecho de báscula em aço.
Ref: CAF2010.FT8011 • Preço: € 2.050
“Estamos a trabalhar em revoluçõesmecânicas e de quartzo, ao mesmo tempo, somos inovadores
em ambas as tecnologias.”
Jean-Christophe Babin
da indústria, e no fi nal dos anos 90 vendíamos 10 por cento de relógios mecânicos e o resto de quartzo», refere o Presidente da TAG-Heuer. «Em termos de valor, estamos nos 50 por cento para cada lado».
«Estamos a trabalhar revoluções mecânicas e de quartzo, ao mesmo tempo, somos inovadores em ambas as tecnologias», sublinha, evocando o protótipo do Calibre S, apresentado em 2005 e que agora chega ao mercado a equipar a nova geração do Aquaracer.
«O mercado feminino, sendo muito impor-tante para nós, continua a ser essencialmente de quartzo. A nível geral, o mercado do quartzo não está a crescer, mas nós, na TAG-Heuer, devido ao apelo estético, continuamos a aumentar nesse
segmento», diz. «No final dos anos 90 tínhamos cerca de 15 por cento das vendas em relógios femininos, hoje estamos à volta dos 30 por cento, e a crescer rapidamente.»
Quanto às relações com outras marcas do grupo LVMH (Louis Vuitton, Zenith, Dior, Chaumet), «temos sinergias de distribuição e de serviço backoffice, e a TAG-Heuer é a responsá-vel pelo controlo de qualidade nos Ateliers Hor-logers (as instalações partilhadas com a Louis Vuitton e a Dior). Além disso, temos tido alguma colaboração com a Zenith em termos de modi-ficações no célebre calibre El Primero, que esta-mos aliás a empregar na linha Link».
Quanto à convivência, «as marcas do grupo LVMH não competem directamente entre si, o
portfólio está equilibrado, pois a Chaumet está no segmento das jóias, a TAG-Heuer no do life
style, a Zenith no da manufactura e a Dior no da moda (a Fendi, que é igualmente do grupo, está também neste segmento)».
«Temos uma estratégia montada a partir de cinco linhas – Formula 1, Aquaracer, Link, Car-rera e Monaco – e a cada uma corresponde um estilo diferente, com primeiros preços que atraem as gerações mais novas, com menos poder aquisi-tivo mas desejo de afirmação», defende.
«Pode di zer-se que, em termos de preços de venda ao público, começamos à volta dos 700 euros e acabamos nos 12.500 euros, com a vanta-gem de o leque estar presente mais ou menos em todas elas”. ET
85Reportagem Novidades TAG Heuer
É o casamento do melhor de dois mundos e a TAG-Heuer está na
linha da frente, apre sentando este ano ao mercado um novo e
revolucionário movimento, o Calibre S, com os seus 230 compo-
nentes, mais do que muitos relógios puramente mecânicos, e 5
motores bi-direccionais, alimentados por pilha.
Com o lançamento de uma linha de óculos, a TAG
Heuer, pretende entrar noutros nichos de negócio
aproveitanto o savoir-faire aquirido no mercado
da relojoaria. O design, a funcionalidade e sobre-
tudo um esclarecido posicionamento do produto
estão a criar expectativas muito positivas.
ChopardL.U.C. Chrono One [92]
Audemars PiguetTourbillon Chronograph [90]
A. Lange & SöhneTourbillon Pour Le Mérite [88]
TAG HeuerCarrera Calibre 360 [98]
Jaeger-LeCoultreMaster Geographic [96]
Franck MullerSecret Hours [94]
Técnica - Jaeger-LeCoultreMaster Tourbillon [104]
Laboratório - Porsche DesignDashboard P’6612 PTC [100]
87Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A casa germânica de alta-relojoaria A. Lange & Söhne já acostumou os aficionadosàs criações mais extraordinárias, mas não se cansa de se ultrapassar a si mesma com o advento pontual de novos prodígios mecâni-
cos. É o caso do Tourbograph ‘Pour le Mérite’, assente num princípio de transmissão descoberto por Arquimedes e que alia duas
fascinantes complicações: o turbilhão e o cronógrafo rattrapante, acompanhados por um indicador circular de reserva de corda.
O turbilhão, integrado numa gaiola em filigrana suspensa no mostrador através de uma ponte, roda sobre o seu próprio eixo no
espaço de um minuto para anular eventuais diferenças posicionais devido à força da gravidade. A função rattrapante tem fascinado
gerações de amantes dos cronógrafos mecânicos, graças ao ‘ponteiro sombra’ que se cola e descola do principal ponteiro cronográ-
fico dos segundos para medir pequenas parcelas de tempo suplementares.
Em Foco Tourbograph “Pour le Mérite” A. Lange & Söhne
Fusée à chaine
A introdução do sistema de transmissão fusée à chaîne na relojoaria remonta ao princípio do
sistema de alavanca do sábio grego Arquimedes: quando a mola principal está completamente
enrolada e exerce a sua força máxima, a corrente (chaîne) puxa na mais pequena circunfe-
rência da fusée e, quando a tensão da mola diminui, puxa na circunferência mais alargada
da fusée.
Mecanismo
O complexo calibre L903.0 é composto por
560 peças – incluindo 84 para a gaiola do
turbilhão, 136 para a função de cronógrafo
rattrapante (com duas rodas de colunas) e 95
para a transmissão em fusée e corrente, para
além de 43 rubis. A arte do acabamento é
exaltada até ao limite: cada peça, por mais
es condida que esteja ou microscópica que
seja, é decorada durante horas; os padrões
dominantes são as gravações à mão típicas
de Glashütte acompanhadas de parafusos
azula dos.
Fabian Krone
CEO A. Lange & Söhne
Qual o contributo da transmissão fusée
à chaîne?
O complicado mecanismo de transmis-
são fusée à chaîne leva em conta uma
circunstância relacionada com as leis da
física: a mola principal de um relógio
mecânico não distribui a mesma tensão
quando está com a corda toda do que
quando está quase a ficar sem corda. A
potência na fase final da reserva de corda
diminui e isso pode afectar a precisão do
relógio. É por isso que o tambor da mola
principal e a fusée estão interligadas
por uma delicada corrente; enquanto o
relógio está a receber corda manual atra-
vés da coroa, a corrente está enrolada
na fusée e a mola no tambor está tensa;
então, a força da mola é distribuída para
o mecanismo através da fusée com uma
tensão constante.
88 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Homenagem
Ostentando uma caixa em platina com 41,2
mm de diâmetro, o Tourbograph comemora
o 15º aniversário do renascimento da históri-
ca manufactura A. Lange & Söhne e é a se-
gunda peça com o atributo ‘Pour le Mérite’,
relacionado com a mais elevada ordem de
mérito germânica atribuída a feitos científi-
cos e artísticos excepcionais; a ordem foi
ins pirada por Alexander von Humboldt e ins-
taurada em 1842 por Frederico Guilherme IV.
O selo ‘Pour le Mérite’ utilizado pela Lange
é um certificado atribuído aos seus calibres
relojoeiros mais excepcionais; devido à sua
complexidade, apenas 12 exemplares do
Tour bograph são concebidos anualmente.
Referência: 702.025 • Diâmetro: 41,2 mm • Espessura: 14,3 mm • Caixa: Platina
Coroa: Personalizada com o logótipo da marca • Vidro: Vidro e fundo em cristal de safira
Movimento: Turbilhão cronógrafo mecânico de corda manual, calibre L903.0 com 36 horas de reserva de corda
Funções e indicadores: Horas, minutos e cronógrafo ratrapante • Bracelete: Pele de jacaré
Fecho: Fivela em platina personalizada com o logótipo da marca • Série Limitada: 101 exemplares
Preço: 400.000 euros
Ficha técnica
Tourbograph “Pour le Mérite”
A. Lange & Söhne
www.alange-soehne.com
89Em Foco A. Lange & Söhne
A fama granjeada pelo Royal Oak ao longo de três décadas e meianão se cinge apenas às peculiares formas que lograram manter-se contemporâneas apesar da passagem do tempo: tem igual-
mente a ver com as múltiplas variantes e especialidades que o seu formato foi albergando desde então. E não há dúvida de que
uma das mais prestigiadas versões é o Tourbillon Chronograph, uma soberba criação relojoeira que junta duas sofisticadas com-
plicações na poderosa caixa de luneta octogonal idealizada pelo designer Gerald Genta no princípio dos Anos 70. Os clássicos são
eternos, mas para alcançar a eternidade é necessário que a substância acompanhe devidamente a forma: o mecanismo de corda
manual com 70 horas de reserva de corda decorado até ao mais ínfimo pormenor pelos artesãos da manufactura Audemars Piguet
é uma exemplo da excelência micromecânica no seu mais esfusiante esplendor.
Em Foco Royal Oak Tourbillon Chronograph Audemars Piguet
Georges-Henry Meylan
CEO Audemars Piguet
Qual o grau de dificuldade em combinar
o turbilhão com a função cronógrafo?
Tanto o turbilhão como o cronógrafo são
dois sistemas que precisam de muita
da energia produzida pelo calibre. Estes
dois sistemas consomem a maior parte
da energia produzida pela corda do tam-
bor. Com a nova geração de relógios com
turbilhão produzidos aqui na Audemars
Piguet conseguimos 70 horas de reserva
de corda, quando antes conseguíamos
ape nas 48 horas. Conseguimos este pro-
gresso graças a um tambor maior e a
uma corda mais comprida que nos per-
mite um maior número de voltas do tam-
bor. Só assim conseguimos combinar os
dois sistemas de forma eficaz.
Turbilhão
Inventado por Abraham-Louis Breguet há
pouco mais de dois séculos para compensar
os efeitos da força da gravidade exercidos
sobre os mecanismos relojoeiros, o turbilhão
representa a arte relojoeira no seu maior
es plendor – tanto no plano técnico como
es té tico. A gaiola do turbilhão do Royal Oak
Tourbillon Chronograph executa a tradicional
rotação de um minuto sobre si mesma.
Mecanismo
Desvelado por um fundo transparente em safira, o mecanismo apresenta
uma inevitá vel arquitectura harmoniosa – dotado de uma platina e pontes em
maillechort (liga inoxidável particularmente estável através do tempo), é pro-
fusamente decorado com Côtes de Genève, perlage e anglage. O balanço é
equilibrado atra vés de parafusos ajustáveis e alberga uma espiral curva Phillips;
uma báscula em titânio elimina o pernicioso salto do ponteiro cronográfico dos
segundos. A reserva de corda é substancial: 70 horas.
Bracelete
Como sucede em vários modelos Royal Oak,
é possível optar entre uma luxuosa correia
em pele de crocodilo e a emblemática bra-
celete integrada na caixa – em aço, ouro
amarelo ou ouro rosa. Dotada de um fecho de
báscula em três lâminas extremamente segu-
ro, a bracelete polida à mão é constituída por
uma justaposição de pequenos elementos
de configuração exemplar que permitem
si multaneamente uma robustez de grande
longevidade e um conforto de utilização
inigualado.
90 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Mostrador
Mantendo o tradicional motivo ‘Grande Ta-
pisserie’ no mostrador, o Royal Oak Tourbillon
Chronograph ostenta uma caixa de conside-
ráveis dimensões que permite um espaçoso
mostrador onde os totalizadores do cronógra-
fo e a gaiola do turbilhão convivem à vontade
sem prejudicar a leitura. Na versão em ouro
rosa, os característicos parafusos hexa gonais
em ouro branco inseridos na luneta octogonal
oferecem um contraste delicioso. Os pontei-
ros e os indicadores luminescentes aplicados
em relevo também contribuem para a legi-
bilidade.
Referência: 25977OR.00.D002CR.01 • Caixa: Ouro rosa 18K • Coroa: Personalizada com o logótipo da marca
Vidro: Vidro e fundo em safira • Movimento: Turbilhão cronógrafo mecânico de corda manual, calibre 2889
com 70 horas de reserva de corda • Funções e indicadores: Horas, minutos e cronógrafo
Estanquicidade: 20 metros • Bracelete: Pele de jacaré • Fecho: Fecho de báscula em ouro rosa 18K personalizado
com o logótipo da marca
Preço: 165.150 euros
Ficha técnica
Royal Oak Tourbillon Chronograph
Audemars Piguet
www.audemarspiguet.com
91Em Foco Audemars Piguet
Design
O visual é impactante graças a um mostrador
de design técnico com aberturas. A colecção
L.U.C arrancou com uma personalidade clás-
sica em 1997, mas recentemente adoptou
um carácter contemporâneo que exalta simul-
taneamente os valores tradicionais e a pro-
jecção no futuro; o Chrono One é um relógio
ousado sem exagero, cujo objectivo é man-
ter-se actual e ser considerado clássico dentro
de uma década.
Referência: 16/1916 • Caixa: Ouro branco 18K • Coroa: Personalizada com o logótipo
Vidro: Vidro e fundo em safira • Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática, calibre L.U.C. 10 CF
Funções e indicadores: Horas, minutos, segundos, data e cronógrafo
Estanquicidade: 30 metros • Bracelete: Pele de jacaré
Fecho: Fecho de báscula em ouro branco 18K personalizado com o logótipo
Preço: Sob consulta
Ficha técnica
L.U.C. Chrono One
Chopard
www.chopard.com
92 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Para celebrar o décimo aniversário do estabelecimento da Manufacturados mecanismos L.U.C em Fleurier, a Chopard surpreendeu o mundo relojoeiro com o lançamento de um cronógrafo comemorativo
dotado de um sensacional calibre cronográfico automático integrado com roda de colunas e função de retorno instantâneo (fly-
-back); apresenta ainda uma reserva de marcha de longa duração (mínimo de 60 horas) e a função de zero-reset para os pequenos
segundos contínuos de modo a proporcionar um acerto mais preciso. Idealizado pelo co-presidente Karl-Friedrich Scheufele e con-
cebido em tempo recorde por uma equipa de elite, o L.U.C Chrono One ostenta uma personalidade decididamente contemporânea
ao mesmo tempo que satisfaz todas as exigências da alta-relojoaria tradicional.
Em Foco L.U.C. Chrono One Chopard
Karl-Friedrich Scheufele
Co-Presidente Chopard
O L.U.C. Chrono One ficou pronto em ape-
nas 14 meses. Como foi possível criar
um calibre completamente inovador em
tão pouco tempo?
Em Abril de 2005 decidimos que um
cronógrafo seria o relógio comemora-
tivo ideal para o décimo aniversário da
Manufactura Chopard – um modelo equi-
pado com um novo mecanismo integrado
completamente novo, porque estava fora
de questão aproveitar um calibre L.U.C
existente e adicionar-lhe um módulo de
cronógrafo. Para conseguirmos apresen-
tar o Chrono One a tempo, tivemos uma
equipa de 25 elementos envolvida a 100
por cento no projecto durante 16 mil ho-
ras de trabalho.
Clássico moderno
Dotado de uma elegante caixa em ouro
branco com botões de forma a ladearem
a coroa personalizada, o Chrono One é
limitado a 100 exemplares numerados.
O mostrador antracite raiado contrasta
com a transparência vanguardista dos
sub mostradores, que deixam entrever
pormenores do mecanismo.
Fundo transparente
A decoração do Calibre L.U.C 10 CR satisfaz
os mais elevados padrões estéticos e a sua
arquitectura peculiar pode ser devidamente
apreciada através de um fundo transparente
em vidro de safira. A numeração da série limi-
tada está devidamente gravada na robusta
caixa de 42 mm de diâmetro e 14,2 mm de
espessura.
Calibre L.U.C. 10 CF
O Chrono One é alimentado pelo soberbo Calibre L.U.C 10 CF – um mecanismo
cronográfico fly-back com roda de colunas e stop seconds para o acerto do
tempo, embraiagem vertical que impede variações de amplitude, rotor bidi-
reccional de eixo central assente sobre rolamentos de esferas em cerâmica,
regulação através dos parafusos no balanço Variner de inércia variável e 60
horas de reserva de corda.
93Em Foco Chopard
O objectivo histórico de qualquer relógio de sempre foi o de acompanhar fielmentea inexorável passagem do tempo até à sua mais pequena parcela. Uma hora já é demais; na vertigem da era moderna, as decisões
são feitas ao minuto, ao segundo e cada vez mais aos décimos, centésimos e milésimos de segundo. Para escapar a essa urgência
contemporânea, Franck Muller foi na direcção oposta: idealizou o Crazy Hours para estabelecer uma declaração de independência
face à opressão dos ponteiros e ajudar os portadores do relógio a viver a sua própria originalidade no quotidiano; pouco depois, o
Crazy Hours assumia proporções psicadélicas na colorida versão Crazy Color Dreams destinada a combater o cinzentismo da crise.
A última criação de Franck Muller decorrente da sua abordagem filosófica ao tempo é ainda mais surpreendente: o Secret Hours só
dá as horas quando nos apetece! Basta uma pressão na coroa e os ponteiros deslocam-se de uma posição inerte às 12 horas para
indicarem o tempo exacto no momento solicitado; instantes depois, estão de volta à posição de origem.
Em Foco Secret Hours Franck Muller
Franck Muller
Mestre Relojoeiro
Qual a razão porque está cada vez mais
inclinado para brincar com a disposição
do tempo?
Sempre gostei de originalidade e nunca
me conformei perante o excessivo con-
servadorismo da indústria relojoeira. Foi
por isso que desde sempre procurei des-
bravar novos formatos e tamanhos, novas
técnicas e cores. E o Secret Hours, como
antes aconteceu com o Crazy Hours, surge
na sequência da minha abordagem filosó-
fica à temática do tempo – que, como se
sabe, é relativo.
Balanços
O Secret Hours está disponível na emblemáti-
ca caixa de formato Cintrée Curvex idealizada
por Franck Muller e indissociável ao êxito da
marca. Em ouro branco de 18 quilates, tem
por visível particularidade a coroa suplemen-
tar às 3 horas dotada de um botão. Basta
premi-lo e os ponteiros indicam a hora.
Calibre ‘secreto’
O mecanismo modular que alimenta o Se-
cret Hours assenta num calibre de corda au-
tomática dotado de 42 horas de reserva de
corda e frequência de 28.800 oscilações por
hora. Composto por 264 peças (158 para o
mecanismo de base e 106 para o módulo)
e 34 rubis, é decorado com efeitos Côte de
Genève e perlage.
Precioso
E porque o tempo é precioso, sobretudo quan-
do é secreto, o Secret Hours está disponível
numa caixa em ouro de 18 quilates declinada
em três diferentes cores de mostrador – bran-
co/argenté, preto ou azul. A proverbial cor-
reia de elevada qualidade é concebida em
pele de crocodilo cosida à mão.
94 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Referência: 7880 MT 1 • Caixa: Ouro branco 18K • Coroa: Personalizada com o logótipo
Vidro: Vidro em safira • Movimento: Movimento mecânico de corda manual
Funções e indicadores: Horas e minutos • Bracelete: Pele de jacaré cosida à mão
Fecho: Fivela em ouro branco 18K personalizada com o logótipo
Preço: 24.750 euros
Ficha técnica
Secret Hours
Franck Muller
www.franckmuller.com
Mostrador
Sempre foi atribuída enorme impor tân-
cia ao ‘rosto’ das criações de Franck
Muller: os mostradores, feitos em Watch-
land, são sempre de elevada qualidade
e o acabamento é superlativo – como
no caso do Secret Hours, com o seu
magnético efeito soleillé a ser comple-
mentado com os característicos algaris-
mos árabes estilizados e belos ponteiros
azulados.
95Em Foco Franck Muller
Senatorial
O Master World Geographic tem pose senato-
rial: é sóbrio e elegante, prestigioso e incon-
fundível, tecnicamente evoluído e foi con-
cebido numa Manufactura dotada do mais
elevado pedigree relojoeiro. As duas coroas
surgem simetricamente do lado direito e a
outra novidade relativamente ao modelo
ancestral é o fundo transparente de safira
que permite espiar o segredo da mestria do
tempo em todas as suas dimensões.
Referência: Q1522420 • Diâmetro: 41,5 mm • Espessura: 12,3 mm • Caixa: Ouro rosa 18K • Coroa: Duas coroas,
ambas personalizadas com o logótipo • Vidro: Vidro e fundo em safira • Movimento: Mecânico de corda automática,
calibre JLC 936 • Funções e indicadores: Horas, minutos, segundos, data, horas universais e simultaneamente em
24 cidades com opção “s” e Inverno e 2º fuso horário • Estanquicidade: 50 metros • Bracelete: Pele de jacaré
Fecho: Fecho de báscula em ouro rosa 18K personalizado com o logótipo • Série Limitada: 500 exemplares
Preço: 16.900 euros
Ficha técnica
Master World Geographic
Jaeger-LeCoultre
www.jaeger-lecoultre.com
96 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Um dos maiores ícones da laureada história da Jaeger-LeCoultre foi, sem dúvida,o Master Geographic – um relógio dotado de um sistema de fácil utilização que permitia conhecer, num ápice, o tempo num
qualquer ponto do planeta graças a uma coroa suplementar que colocava num submostrador o segundo fuso horário escolhido
através do disco rotativo das cidades representativas das 24 horas do mundo. No termo do seu ciclo de actualização da linha Master,
o modelo lançado em 1990 passa a precioso item de colecção e dá lugar a dois descendentes, ambos maiores e estilizados segundo
padrões mais contemporâneos: um é herdeiro directo, o novo Geographic de 40 mm de diâmetro; o outro é ainda mais global, o
Master World Geographic de 41,5 mm. O ‘irmão’ de maiores dimensões tem como interesse suplementar o facto de poder oferecer
em simultâneo o tempo nos 24 fusos horários, para além do tradicional submostrador para o segundo fuso horário escolhido.
Em Foco Master World Geographic Jaeger-LeCoultre
Jean-Claude Meylan
Pesquisa e Desenvolvimento
Jaeger-LeCoultre
Qual foi a maior dificuldade relacionada
com a concepção do World Geographic?
Relativamente ao original, quisemos me-
lhorar vários aspectos. Por isso, os novos
modelos Geographic e World Geographic
apresentam também a possibilidade de
ajustar a hora para a hora de verão; no
caso do World Geographic, o disco das ci-
dades inclui marcas S (Summer; Daylight
Saving Time) para uma maior funcionali-
dade e precisão no ajustar da hora. O anel
dia/noite de 24 horas é igualmente uma
complicação adicional e também fizemos
questão de aumentar o submostrador
do segundo fuso horário às 7 horas para
maximizar a leitura.
Estabilidade
Regulado sem raqueta, o balanço pode ajus-
tar-se por parafusos e está protegido por uma
ponte que lhe fornece uma maior estabilidade
de funcionamento. O Calibre 936 é alimenta-
do por corda automática para uma autonomia
de 43 horas e integra 322 peças, incluindo 38
rubis e um rotor em ouro de 22 quilates. A
função Geographic consiste na interacção en-
tre o mecanismo e a caixa, fazendo com que
o disco das cidades seja accionado.
Escolha dupla
O World Geographic está disponível em duas
elegantes e masculinas caixas do novo diâ-
metro canónico para os relógios clássicos:
41,5 mm. A caixa em ouro rosa, acompanha-
da de um anel dia/noite cinzenta e antracite,
está limitada a 500 exemplares; a caixa em
aço ostenta o mesmo anel mas nas cores
cin zenta e azul. Distância entre as asas: 21
milímetros.
Funções de mostrador
O mostrador não renega as suas origens e
coloca em evidência o seu carácter viajante:
indicador de reserva de corda em cima à es-
querda. A data é exibida num submostrador
analógico às 3 horas, ao passo que mais abai-
xo surge o submostrador para o segundo fuso
horário escolhido (através da seta vermelha
às 6 horas) entre os 24 apresentados no anel
exterior (que até calcula a disparidade do tem-
po de verão). Os ponteiros das horas e dos
minutos, em ouro ou aço, são acompanha-
dos de ponteiros azulados.
97Em Foco Jaeger-LeCoultre
A sucessiva apresentação de modelos avant-garde que rompem com os dogmasda relojoaria tem cimentado a reputação da TAG Heuer. O nome do mais recente prodígio é bem revelador do novo recorde por
ele estabelecido: o seu balanço oscila a 360 mil alternâncias por hora, permitindo uma inédita cronometragem mecânica até ao
centésimo de segundo. Atingir uma tal precisão parecia impossível, já que o mecanismo cronográfico requerido dispenderia tanta
energia que a reserva de marcha se esgotaria num ápice. A TAG Heuer idealizou um mecanismo composto por dois calibres distintos
ligados entre si mas de funcionamento independente! O Calibre 7, com reserva de marcha de 42 horas e frequência de balanço de
28.800 alternâncias por hora, encarrega-se de alimentar automaticamente os ponteiros das horas, dos minutos e dos segundos; o
Calibre 360 alimenta exclusivamente a função cronográfica, com um tambor de corda que é carregado manualmente e dispõe de
100 minutos de reserva de marcha. O fenómeno está disponível numa luxuosa versão em ouro rosa limitada a 500 exemplares.
Em Foco Carrera Calibre 360 TAG Heher
Stéphane Linder
Director de Produto da TAG Heuer
Conceber um calibre totalmente mecâni-
co com precisão de centésimo de segun-
do parecia impossível até agora. Qual foi
a solução encontrada?
Por um lado, poder oferecer uma precisão
de um centésimo de segundo para a fun-
ção cronográfica; por outro, o mesmo
re ló gio teria de ser capaz de indicar as
horas com uma reserva de corda razoá-
vel. A solução foi criar dois módulos inde-
pendentes – um para o cronógrafo, com
corda manual e uma autonomia de 100
minutos; outro para o relógio, de corda
au to mática e autonomia superior a 42
horas. Mas para tornar o projecto viável
foi necessário conceber um balanço espe-
cial capaz de oscilar a 360 mil alternân-
cias/hora sem perder a fiabilidade.
Submostradores
Delineados por segmentos em ouro rosa con-
trastante com o fundo em tons chocolate, os
submostradores conferem um carácter téc-
ni co e desportivo ao conjunto: o totalizador
dos centésimos de segundo está localizado
às 6 horas e o dos minutos às 9 horas; o in-
dicador de reserva de corda do cronógrafo
surge numa secção às 12 horas e os segundos
contínuos às 3 horas.
Caixa
A caixa escolhida para a edição limitada é a do Carrera, com 41 mm de diâme tro
e botões assimétricos a acompanhar a coroa canelada. O ouro rosa da caixa, dos
ponteiros e dos indicadores contrasta soberbamente com os tons acastanhados
do mostrador e da correia em pele de crocodilo. Os vidros de safira recebe-
ram tratamento anti-reflexo; o fundo transpa rente permite apreciar o me ca nis-
mo e o seu rotor personalizado.
Balanços
Entre duas centenas e meia de peças, o Cali-
bre 360 inclui dois ‘corações’ – sendo que o
balanço do cronógrafo foi concebido para ser
10 vezes mais rápido do que o mais rápido
exis tente no mercado. O seu diâmetro é 26
por cento inferior ao de um balanço tradicio-
nal, mas com uma inércia quatro vezes mais
fiável; a mola da espiral tem uma rigidez
su pe rior devido ao facto de estar duas vezes
menos enrolada e de receber uma lubrifica-
ção especial. Uma inércia inferior e uma mola
mais forte possibilitam a inigualada frequên-
cia de 360 mil alternâncias/hora.
98 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Patentes
O Calibre 360 ostenta três patentes exclusi-
vas: primeiro cronógrafo mecânico de pulso a
ir até ao centésimo de segundo; sistema de
transmissão da data desde o módulo inferior
até ao disco localizado debaixo do mostrador;
sistema bidireccional de corda e de coroa: uma
única coroa controla o relógio automático e o
cronógrafo mecânico ao mesmo tempo que
permite ajustar o tempo (as horas e a data)
e fornecer tanto corda manual ao cronógrafo
(no sentido horário) como ao relógio (sentido
anti-horário).
Referência: CV5041.FC8164 • Diâmetro: 41 mm • Espessura: 15,8 mm • Caixa: Ouro rosa 18K
Coroa: Personalizada com o logótipo • Vidro: Vidro em safira com tratamento anti-relexos de ambos os lados e
fundo em safira com tratamento anti-reflexos • Movimento: Cronógrafo mecânico de corda manual, calibre TAG 360
Funções e indicadores: Horas, minutos, cronógrafo com segundos ao centro e data • Estanquicidade: 50 metros
Bracelete: Pele de jacaré • Fecho: Fivela em ouro rosa 18K personalizada com o logótipo
Série Limitada: 500 exemplares • Preço: 13.950 euros
Ficha técnica
Carrera Calibre 360
TAG Heuer
www.tagheuer.com
99Em Foco TAG Heuer
A chancela Porsche não se cinge aos célebres automóveis desportivos – é também uma filosofia estética e funcional aplicada
a instrumentos de excepção que se querem imunes ao tempo, como os relógios que integram a colecção
Porsche Design. O cronógrafo Dashboard P’6610 PTC é a personificação do mote ‘a forma segue a função’
para a criação de um relógio com substância; foi precisamente essa substância que esteve
sob análise laboratorial.
Há relógios clássicos do passado – e há relógios que são clássicos no presente. Para trás ficaram
os mostradores prateados em guilloché de um classicis-
mo exacerbado tão em voga dos anos 90 até ao virar do
século; agora pontificam modelos que são considerados
clássicos da contemporaneidade.
A Porsche Design, atelier especializado em desen-
volver técnicas de ponta com a ajuda de uma estética
van guardista e a utilização de novos materiais, muito
con tribuiu para essa mudança. O estilo característico da
Porsche Design evoca um luxo sofisticado e depurado
– e também, paradoxalmente, urbano e desportivo. Mas
será que os objectos de culto da Porsche Design estarão
à altura da sua fama? Os relógios estarão ao nível dos
automóveis da marca?
O facto de o incomparável cronógrafo Porsche Design
Indicator ser mais caro do que qualquer bólide Boxster,
Cayman e mesmo algumas versões Cayenne é bem elu-
cidativo do seu valor relojoeiro e nominal. Mas trata-se
de um topo de gama. Por isso, escolhemos analisar um
dos pilares da colecção Porsche Design: o P’6612 PTC
(nome de código para Porsche Design Titanium Chrono-
graph) pertencente à linha Dashboard.
O relógio foi desmontado no estúdio de relojoaria da
Torres Distribuição – mas, antes de ser completamente
desmontado para depois ser remontado e testado, o que
mais saltou à vista foi a elevada qualidade gráfica do
mostrador: fazendo jus ao seu nome (Dashboard significa
‘painel de instrumentos’), ostenta algarismos árabes lu-
minescentes de grande visibilidade, harmoniosamente
emparelhados com indicadores, submostradores, janela
para a data, ponteiros das horas e minutos igualmente
luminescentes, ponteiro vermelho contrastante dos
se gundos do cronógrafo e logótipo com o lettering ins-
titucional da marca. A disposição dos submostradores,
com os pequenos segundos contínuos às três horas, e a
colocação da coroa, ligeiramente abaixo dos dois botões
para as funções cronográficas, imediatamente deixam
entender que o mecanismo que alimenta o relógio é de
construção modular. O que se confirma: uma base ETA
2892 acoplada a um módulo cronográfico da manufac-
tura especializada Dubois Dépraz, formando uma parce-
ria de grande fiabilidade e inúmeras provas prestadas ao
longo dos anos.
Claro que essa combinação é também complementa-
da por incrementos qualitativos com a chancela Porsche
Design; o principal é um rotor estilizado como as jantes
raiadas das viaturas clássicas Porsche que não tem
funções meramente decorativas: concebido em titânio
e metal de grande densidade coberto de uma tinta es-
pecial preta, foi idealizado não só para rodar mais efi-
cazmente sobre o seu eixo no armazenamento da corda
como também para permitir uma melhor apreciação do
mecanismo através do fundo transparente.
texto de Miguel Seabra | fotos de Nuno Correia
3 - O design da caixa do Dashboard. Simplici-
dade, leveza e resistência são os atributos deste
relógio.
1
2 3
2 - Depois de testado e revisto é elaborado
um relatório dos trabalhos efectuados antes da
entrega ao cliente.
1 - O mostrador do Dashboard P’6612 PTC em
que se pode observar a quaidade de acabamen-
tos das peças do atelier Porsche Design.
[ Laboratório ]
101Laboratório Porsche Design
Os testes efectuados asseguram que o motor do
Porsche funciona na perfeição. Com o relógio nas seis
diferentes posições exigidas, a média diária revelada na
folha de regulação é de somente mais um segundo – va-
lor bem melhor do que a diferença até cinco segundos
tolerada pelo Controlo Oficial Suíço de Cronómetros para
atribuir o estatuto do cronómetro certificado!
Aberta, a caixa em titânio surpreende pela quali-
da de de acabamentos exteriores e interiores: a opção
pelo titânio faz com que o relógio seja excepcionalmente
leve e resistente, enquanto o tom escurecido lhe dá um
carácter luxuosamente desportivo condizente com o es-
pírito da marca – afinal de contas foi a Porsche Design
que, no final da década de 70, se tornou na primeira
marca a utilizar o titânio na relojoaria devido às suas pro-
priedades antimagnéticas e anticorrosivas. A caixa, com
42 milímetros de diâmetro por 14,8 de altura, ostenta
outros detalhes de qualidade: uma escala taquimétrica
inclinada ajuda a dar maior profundidade ao mostrador;
duas juntas vedantes (a maioria dos relógios tem ape-
nas uma) e a coroa de rosca garantem a estanquicidade
perfeita exibida nos testes; os botões do cronógrafo e a
coroa personalizada são granulados para evitar deslizes
do dedo; vidros de safira anti-risco e anti-reflexo garan-
tem a melhor visibilidade possível para o mostrador e
para o fundo transparente.
Tal como no que diz respeito ao titânio, a Porsche
Design também foi a primeira a introduzir na relojoaria
de qualidade um material aparentemente plebeu como
a borracha. Actualmente, todas as marcas de alta-relo-
joaria apresentam braceletes de cauchu em modelos das
respectivas colecções. A bracelete de borracha vulcani-
zada do P’6612 PTC é não só extremamente maleável
Ficha técnica
DASHBOARD PTC P’6612
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática.
Funções: Horas, minutos, segundos, data
e cronógrafo.
Caixa: Titânio, vidro e fundo em safira com tratamento
anti-reflexos, estanque a 100 metros.
Bracelete: Cauchu com fecho de báscula em titânio.
Ref: PP01.6612.10.44.139 • Preço: € 3.720
Fiel ao espírito do professorF. A. Porsche, o P’6612 PTC ostenta uma aparência
extremamente técnica apurada e desportiva,
mas igualmente despojada e minimalista.
Pormenores do funcionamento do fecho de
báscula que equipa os modelos Dashboard.
Para o atelier Porsche Design a funcionali-
dade é o valor principal.
Test result
como também ultra-resistente; integra-se perfeitamente
na caixa e pode ser aparada na sua extensão, ficando as
pontas integradas no fecho duplo de segurança.
Os modelos Porsche Design sempre apresenta-
ram um visual de grande tecnicismo, mantendo a sim-
plicidade inerente ao essencial – e o P’6612 PTC é um
bom exemplo dos princípios estéticos do professor F. A.
Porsche. A forma segue a função para a obtenção de algo
com substância: os relógios têm todos uma aparência
técnica, apurada e desportiva – mas igualmente despo-
jada e minimalista. «Um objecto coerente não precisa de
ornamentação suplementar ou de tentar ser mais belo»,
relembra F. A. Porsche; «Só pede para ser colocado em
valor por formas que devem ser simples, afirmar-se
como uma evidência e nunca se desviar do espírito e da
função do produto». ET
102 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A qualidade de construção desta peça
é visí vel mal se abre a caixa do reló-
gio e se pode apre ciar na plenitude o
seu mecanismo. O famoso rotor em
forma de jante, exclusivo da Porshe
Design.
Depois da análise o momento do tes -
te que reve la o que já se sabe, fiabi-
lidade a toda a prova sendo o relógio
entregue juntamente com o talão de
resultado.
103Laboratório Porsche Design
Uma das muitas características interessan tes do Calibre 978 da Jaeger-LeCoultre que equipa o
Master Tourbillon prende-se com a precisão acres-
cida (como a marca fez questão de salientar, na
apresentação do modelo) precisamente graças
à introdução do turbilhão. De facto, o estudo do
mecanismo empenhou especialmente os pro-
jectistas da Manufactura – na óptica de realizar um
relógio com turbilhão que fosse não só evocativo
de um ponto de vista histórico ou simplesmente
complicado, mas também que fornecesse também
as melhores prestações possíveis de um ponto de
vista puramente relojoeiro. Por exemplo, a maior
parte do estudo foi depois dedicada à parte motora
do calibre para se obter o projecto de uma mola
motriz que fornecesse o binário mais constante
possível ao longo das 48 horas de reserva de corda
do relógio.
Naturalmente, a componente que mais impli-
cou os relojoeiros da Jaeger-LeCoultre na fase do
projecto foi o turbilhão – elaborado a partir do zero
em exclusividade para este relógio. Um dos objec-
tivos fundamentais estava também relacionado
com a obtenção da maior diferença de inércia entre
a gaiola e o balanço-espiral a favor deste último.
Ao longo dos anos, os estudos da Jaeger-LeCoultre
levaram a Manufactura à conclusão de que a mel-
hor condição para conseguir estabilidade e precisão
em simultâneo com um baixo consumo de energia
era recorrer a um balanço com uma inércia varian-
do entre 10 e 14 mg/cm, razão pela qual, no Mas-
ter Tourbillon, a marca introduziu um balanço com
inércia de 11,5 mg/cm combinado com uma gaiola
em liga de titânio grade 5 (Ti5 A14V) com um peso
total de 0,28 gramas.
O balanço é do tipo com parafusos mas com
acerto ‘inercial’ sem raqueta, porque a maioria
dos construtores reconhece a vantagem do acerto
‘inercial’ sobre o sistema de raqueta – que, pelo
facto de tocar na mola-espiral do balanço, consti-
tui um elemento perturbador do próprio sistema
oscilante.
A estas características técnicas do movimento
que permitiram à Jaeger-LeCoultre acrescentar óp-
timos resultados em termos de precisão do relógio
(apresentando diferenças entre -1 e +6 segundos
por dia), combinou-se-lhes outro mecanismo origi-
nal introduzido pela primeira vez no Master Tourbil-
lon. Como sucede tradicionalmente na linha Master,
o relógio apresenta um datário analógico central
com ponteiro rematado com uma meia-lua verme-
lha que ‘abraça’ a data do dia, percorrendo a escala
periférica que circunda o mostrador ao longo do
mês. O carácter excepcional deste datário consiste
no facto de ter sido estudado para impedir que o
ponteiro esconda a gaiola do turbilhão por mais 3
horas e 45 minutos. A escala indicadora do datário
interrompe-se em correspondência com a janela do
turbilhão nas 6 horas entre os dias 15 e 16 e o pon-
teiro cobre velozmente o arco que separa as duas
datas em pouco menos de 4 horas certas. A seguir,
veremos como se torna possível...
por Dody Giussani
Directora da revista L’Orologio
2. Rodando o mecanismo a 180º pode-se observar me-
lhor o avesso do turbilhão (1). Na gaiola, composta por
78 partes no total, estão montados o balanço-espiral (4),
o espiral e a roda de escape (2) com o respectivo carrete.
Na fotografia, pode-se observar a roda mediana (3) que
transmite o movimento à própria gaiola (1). A gaiola (1)
roda no seu próprio eixo coincidente com o balanço-es-
piral e arrasta consigo a roda de escape (2), cujo carrete
engrena com a roda fixa coaxial à gaiola de tal forma que
a rotação da gaiola se transmite-se à roda do escape,
sendo a última engrenagem do sistema do trem (car-
ruagem) do tempo.
1. Calibre mecânico Jaeger-LeCoultre 978, de corda au-
tomática, montado e decorado à mão, 28 800 alternân-
cias/hora, 48 horas de reserva de corda, 302 componen-
tes, 33 rubis, 7,05mm de espessura. Dispõe das funções
de segundo fuso horário em 24 horas, data com ponteiro
sincronizado em relação à hora local e acerto nos dois
sentidos. A massa oscilante monobloco em ouro de 22
quilates decorada com cinzeladuras e incisões apresenta
uma abertura semicircular que combina com a gaiola
do turbilhão para a tornar visível para quem observar o
fundo transparente da caixa em vidro safira.
[ Técnica ]
104 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
4. Na figura A, o mecanismo da data analógica com pon-
teiro central no mostrador, solidário da roda estrelada (3)
e que avança de um dente em cada 24 horas, sob a acção
condutora da roda da data (1).
A roda condutora da data (1) cumpre uma rotação em 24
horas e à meia-noite, graças ao seu único dente ao dedo
(5), faz avançar, de um passo correspondente a um dente,
a roda central da data (3) e o respectivo ponteiro (4). A
figura B apresenta a posição das engrenagens do datário
em estado de repouso, no intervalo de tempo entre dois
avanços sucessivos. O intervalo dura 24 horas, período em
que o ponteiro é mantido parado na mola de flexão (6)
exercendo pressão contra a roda central do datário (3).
6. Ao funcionamento do datário (até agora descrito),
vem acrescentar-se a função especial de avanço rápido
que entra em acção entre os dias 15 e 16 do mês e cu-
jos indicadores se encontram localizados no mostrador
ao lado do turbilhão visível nas 6 horas. O mecanismo
adicional permite ao ponteiro do datário varrer o arco
do mostrador correspondente à janela do turbilhão em
apenas 3 hora e 45 minutos, de modo a deixar o turbi-
lhão sempre perfeitamente visível (sem tal artimanha, o
ponteiro permaneceria posicionado sobre o turbilhão du-
rante alguns dias, permanecendo ininterrupta a respec-
tiva escala indicadora do datário). Para o avanço rápido
entre o 15º e o 16º dia, entram em acção duas engrena-
gens – ambas respectivamente solidárias da roda central
do datário (3) e da roda condutora (1). Trata-se de três
níveis dentados (7,8,9) que engrenam num plano supe-
rior em relação ao dedo de avanço (5), como se deduz
na figura B. Os níveis 7 e 9 começam a engrenar antes da
meia-noite entre o 15º e o 16º dia do mês: o nível 7, gi-
rando no sentido anti-horário solidariamente com a roda
condutora (1), faz avançar o ponteiro do datário solidário
do nível 9 e a subjacente roda central do datário (3).
Acrescenta-se depois, ao avanço do datário induzido pelo
nível dentado 7, o avanço normal à acção do dedo (5)
da roda condutora (1) no plano inferior (vide fig. B). No
conjunto, o arco varrido pelo ponteiro entre o 15º e 16º
dias do mês corresponde a nove dentes da roda central.
Razão pela qual, ao contrário dos datários comuns, a roda
(3) solidária do ponteiro da data do Master Tourbillon
apresenta 40 dentes, em vez de 31 (como se evidencia
na figura). Por fim, o terceiro nível dentado (8) – solidário
do dedo (5) do primeiro nível (7) e da roda condutora
(1) – tem como função fazer cumprir ao ponteiro do
datário o movimento inverso do 16º para 15º, durante
a correcção rápida da data que pode dar-se tanto para
a frente como para trás. Outra característica relevante
do datário analógico desenvolvido pela Jaeger-LeCoultre
para o Master Tourbillon.
3. Parte do mostrador do calibre Jaeger-LeCoultre 978
que equipa o Master Tourbillon. Pontes e platinas são
finamente decoradas com perlage e a gaiola (1) do tur-
bilhão completamente visível apresenta polimento espe-
lho. Note-se o importante diâmetro do balanço (4), com
parafusos e acerto ‘inercial’.
5. Na figura A, pode observar-se o avanço do datário à meia-noite com o dedo (5) da roda condutora que engrena com
a roda central do datário (3). Este género de avanço ocorre todos os dias do mês. Na figura B observa-se a posição das
duas rodas no plano vertical.
105Técnica Master Tourbillon Jaeger-LeCoultre
Saborear o TempoPousada D. Afonso II [112]
PerfilTorres Joalheiros [108]
Saborear o TempoQuinta de Catralvos [116]
Saborear o TempoQuinta da Bacalhôa [114]
Livros [126]Acontecimentos [118]
107Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Nenhuma empresa em Portugal, no mercado da relojoaria e joalharia, associa a dimensão à tradição, como a Torres Joalheiros.
Com cinco lojas em Lisboa e uma em Cascais, é uma referência incontornável em termos nacionais e internacionais –
é um dos mais antigos agentes Rolex do mundo. Estivemos com Paulo Torres que representa a 5.ª geração
deste pilar do luxo e bom gosto em Portugal e que nos revela um saber e uma sensibilidade feitos
de muita e acumulada experiência.
Paulo Costa Dias: Como é a responsabilidade de estar
à frente de um negócio que vai na 5.ª geração e que
tem um nome incontornável em termos nacionais e
internacionais?
Paulo Torres: É uma responsabilidade acrescida por essas mesmas razões, ouve na família quem tivesse a visão de projectar o nome para um patamar de qualidade que hoje tem que se manter. É o objec-tivo desta 5ª geração.
PCD: Quem mais o influenciou para que tenha essa res-
ponsabilidade, hoje?
PT: Todos os meus familiares e alguns colabora-dores tiveram um papel importante na minha for-mação. Obviamente que houve pessoas com quem lidava diariamente que tiveram maior influência. O meu Tio, Pedro Torres foi uma delas...
PCD: Como é isso de nascer e crescer ao ritmo das al-
ternâncias de um relógio? Como é essa convivência
geracional com o luxo, a alta-qualidade, a superior ca-
tegoria dos produtos que se vende?
PT: Viver neste mundo desperta por si só curiosi-dade e eu não fui alheio ao movimento do ‘pên-dulo’, da micromecânica, dos reflexos dos metais nobres e brilhos das pedras de cor. A descoberta e gosto por esta profissão recheada de invenções tecnológicas, de arte, de evolução no design e ges-tão de relacionamentos foram determinantes na minha aposta.
PCD: Como é que um gestor ligado ao mundo dos intru-
mentos que aferem o Tempo, gere o seu tempo entre
6 lojas?
PT: É um trabalho de equipa, pois é impossível estar ao mesmo tempo em todo o lado. É funda-mental delegar responsabilidades a todos os que fazem parte da nossa organização. Há sempre um acompanhamento diário em todas as lojas por parte de um gestor, que faz parte da família,
PCD: Vê-se à frente de outro negócio?
PT: Não.
PCD: O universo Torres Joalheiros inclui relojoarias que
não têm esse nome. Porque não há uma identidade
comum, um mesmo conceito, uma marca Torres Joa-
lheiros?
PT: Razões de índole familiar e também comer-cial. Cada insígnia tem o seu cliente alvo bem demarcado e a oferta de produtos é diferente e complementar. São dois nomes incontornáveis no nosso sector e cada um com uma identidade muito própria.
PCD: Mas há valores comuns, presumo. O que melhor
define o universo Torres Joalheiros?
PT: Os valores comuns são a tradição e a confiança alicerçada na qualidade irrepreensível do leque de produtos que oferecemos. Atendemos hoje mui-tos dos filhos que em ‘miúdos’ acompanhavam os
entrevista de Paulo Costa Dias | fotos de Nuno Correia
[ Perfil ]
108 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
seus pais! Fazemos jus ao mote ‘de geração em geração’.
PCD: Que diferenças há no vosso atendimento e no que
pretende o vosso clientes de há décadas ou os novos
consumidores de alta-relojoaria? Há um cliente tipo
dependendo da loja?
PT: Apesar de almejarmos um atendimento pa-dronizado e de nível superior há clientes que só vão a determinada loja! É curioso mas penso estar relacionado com a fidelização à própria loja. Em termos gerais não se pode dizer que haja diferen-ças no tipo de cliente porque antes como hoje o nosso cliente tem um nível de exigência muito alto. Talvez há 15 ou 20 anos ao cliente bastasse a palavra do vendedor.
Hoje em dia existe um manancial de infor-mação à disposição dos clientes, quer sejam revis-tas da especialidade ou Internet. Há também mais marcas e as solicitações são maiores. Em termos de atendimento acredito que os nossos clientes continuam a privilegiar um atendimento persona-lizado, sentados confortavemente e com todo o tempo e atenção do vendedor.
Temos uma loja no Centro Colombo que apesar de aliar estes factores é sem dúvida a nossa loja com maior compra por impulso o que é sin-tomático da tipologia de comércio onde está in-serida.
PCD: O Grupo Torres Joalheiros tem 2 lojas excepcional-
mente bem posicionadas na Baixa de Lisboa. Continua a
justificar-se a Baixa como aposta comercial?
PT: Na baixa pombalina temos Torres Joalheiros e Ourivesaria Pimenta que coabitam a mesma área comercial, com posicionamentos e produtos dife- rentes mas que acabam por ser complementares. A Torres é um ex-libris do sector com uma clien-tela muito fidelizada, é a loja sede. É a nossa loja com memória colectiva! A Pimenta partilha os mesmos atributos mas com maior clientela turís-tica pela sua localização privilegiada na Rua Au-gusta, uma das poucas pedonais da nossa capital.
PCD: Para onde vai o universo Torres Joalheiros. Que
desafios são impostos pelo correr do Tempo?
PT: Pretendemos aumentar e melhorar a nossa presença no mercado e junto dos clientes através de iniciativas de marketing interno e outras apoia-das pelas empresas do grupo. Através da revista interna da rede de lojas - Jóias de Família – e de outras iniciativas como os encontros de fim de tarde, dos jantares restritos e de coleccionadores e exposições permitem-nos estar mais próximos dos nossos clientes. Paralelamente iremos manter a tradição de ‘saber fazer’ e os mais elevados pa-drões de qualidade quer ao nível dos produtos e serviços apresentados quer ao nível de um atendi-mento exemplar apoiado por acções de formação
profissional. Queremos continuar a ser a referên-cia e sempre que possível superar as expectativas dos nossos clientes. É nossa intenção fazer reno-vações aos actuais ambientes de loja, apostando em corners das melhores marcas, oferecendo um padrão de qualidade superior e que os nossos cli-entes merecem. As grandes marcas perpetuam-se e a nossa também.
PCD: Sendo a única organização em Portugal com esta
dimensão e das mais antigas, ser um negócio familiar
ajuda?
PT: O nosso modelo de negócio é assim que fun-ciona. É desta forma que sabemos fazê-lo. Com uma liderança próxima dos vendedores e impri-mindo um cunho muito pessoal ‘dando a cara’, os clientes sentem-se confortáveis em saber que “...aquele é o Sr. Torres...”. Tem um efeito psicoló- gico e transmite confiança – “...o dono está lá...”. Sem dúvida que este modelo ajuda porque não estamos a falar de uma empresa descaracterizada, sem alma, em que ninguém sabe quem é o dono e onde fica no ar “...eles é que sabem...”. Mas quem são eles?
PCD: Como vê o actual momento da indústria relojoei-
ra? E em Portugal, que reflexos chegam?
PT: A indústria relojoeira Suíça está pujante. Cada vez mais exigente com os seus parceiros comer-
110 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
“Ter um relógio mecânicoalimentá-lo todas as noites à mesma hora é um ritual de prazer,
um momento único de dedicação”.
paulo torres
1913, em Torres Vedras - Anselmo Torres inicia a
actividade de ourives na família.
1936, o filho vem para Lisboa - O espírito de inicia-
tiva, dedicação e entusiasmo contagiante de Carlos
Torres concretizam o sonho da expansão. Adquire a
Casa Pimenta no Martim Moniz.
1950, novo estabelecimento – É inaugurada a Ourive-
saria Pimenta na esquina da Rua Augusta com a Rua
de Santa Justa, em plena Baixa Lisboeta, já então
acompanhado por seu filho Carlos Augusto Torres.
1966, primeira joalharia a ostentar o nome da família
- Situada ao lado do Elevador de Santa Justa e sob a
liderança do neto mais velho de Carlos Torres, João
Carlos Torres, inicia-se um novo ciclo do negócio fami-
liar, decisivo na expansão da marca Torres Joalheiros.
1986 a equipa gestora ganha novos reforços com o
contributo de Ricardo Torres e Paulo Torres, filhos de
João Carlos Torres.
1987, na Rua Direita em Cascais - A Torres Joalhei-
ros abre novo ponto de venda com um estilo arqui-
tectónico moderno e inovador.
1989, nova loja na Av. de Roma – Também carregada
de simbolismo no seu aspecto exterior, que gira em
torno do tema “A mulher e a Jóia”.
1997, em grande - Abre uma Torres Joalheiros no
maior e mais moderno Centro Comercial da Península
Ibérica – o Centro Comercial Colombo.
Cinco geraçõesciais. Houve uma grande concentração no meio e penso que em Portugal se reflectiu e nem sempre das melhores formas. É uma realidade e temos de nos adaptar.
PCD: Que fascínio é este que os relógios exercem? Como
conhecedor e apaixonado, o que se deve valorizar num
relógio? Há relógios que acompanham os momentos?
Devemos ir para as marcas tradicionais ou novos cria-
dores?
PT: Os relógios são especialmente para a maio-ria dos homens a única peça de adorno que tem um uso diário. Acredito que exista uma relação quase de amor por esta peça. Para os apreciadores esta relação ainda é mais notória. Ter um relógio mecânico alimentá-lo todas as noites à mesma hora é um ritual de prazer, um momento único de dedicação.
Há que estratificar do que é que se está a tra-tar. Falamos de relógios de luxo com mecanismos de quartzo ou de alta relojoaria com mecanismos mecânicos de real manufactura e com e com in-ventos ou inovações revolucionárias? Não há nin-guém que lhe diga o que se deve valorizar num relógio!
Depende da pessoa, dos seus gostos, da sua utilização e capacidade financeira. Posso é realçar os pontos fortes e fracos entre um relógio mecâni-co e um relógio de quartzo. Penso que de alguma
maneira já todos tivemos a experiência de receber um relógio pela quarta classe. De facto há muitos momentos que são comemorados com relógios especiais e relógios que nos acompanham nos gran des momentos. O nascimento de um filho, o dia dos pais, os aniversários em geral, o dia do casamento, uma promoção ou emprego novo.
PCD: Durante décadas vivemos com a ideia de um go-
vernante que dizia: “Deus deu-me o dom de ser po-
bre”. Perturba o negócio esta visão que ainda vai exis-
tindo em Portugal de que não é de bom tom ser rico,
ou parecer rico?
PT: A nossa sociedade alterou-se completamente. Hoje todos os casais trabalham, os orçamentos familiares são maiores e nunca como agora foi possível alcançar tanto em tão pouco tempo. O crédito está mais acessível que nunca. Vivemos numa sociedade consumista e de status. Se ‘Bel-trano’ tem um Mercedes, ‘Sicrano’ compra um BMW. A questão que põe é um estigma que não existe actualmente.
PCD: O que é isso do luxo? Há alguma definição com
que se identifique?
PT: Podemos definir o luxo como «todo aquele con-sumível ou não, que transcende a nossa realidade quotidiana e que possui um forte conteúdo sim-bólico de prazer pessoal e admiração social» ET
111Perfil Torres Joalheiros
Situado em posição sobranceira às margens do Rio Sado, o Castelo de Alcácer do Sal domina a paisagem. Albergando a bela Pousada
D. Afonso II – monarca a quem se deve a conquista definitiva da coroa portuguesa – é visita regular de muitos viajantes,
sobretudo nacionais, que aproveitam a tradicional hospitalidade das Pousadas de Portugal.
A sugestão para a visita partiu de Paulo J. R. Silva, director regional das Pousadas de Portugal,
que partilhou connosco um par de coisas: a paixão por
este conceito hoteleiro sui generis e a ambição de fazer
sempre mais e melhor, própria de quem olha frequente-
mente o horizonte – e este olhar faz mais sentido ali, no
alto do Castelo de Alcácer.
A paixão não esmoreceu nos mais de 20 anos a su-
bir a escada íngreme da Enatur, onde recebeu uma ex cep -
cional formação na arte de bem-atender. Já a ambição foi
estimulada pelo Pestana Turismo, o grupo hoteleiro por-
tuguês que se encontra, há cerca de três anos, à frente
destas jóias, que são as Pousadas. Ter presente a rendi-
bilidade inerente aos projectos privados, não esquecen-
do a tradição no que respeita à hospitalidade, aliadas
à valorização do património humano e a uma extre ma
organização são aspectos determinantes na escolha do
caminho a seguir. Este é um trilho que desperta novos
desafios, para adaptar espaços magníficos como esta
Pousada D. Afonso II aos novos conceitos de gestão e
procura hoteleira. Um esforço que terá encontrado, neste
antigo militar pára-quedista, a endurance necessária
para vingar. Como Paulo J. R. Silva não se cansa de
frisar, «uma Pou sada não é um hotel». Aqui, «tratamos
as pessoas pelo nome» e «os pormenores marcam a dife-
rença e o espírito do local». Por isso, é efectuado um
enor me esforço material e humano para transfigurar,
se necessário for, o espaço e a oferta. Explica o nosso
interlocutor que «estamos a aplicar, com frequência,
o conceito taylor made às Pousadas», diz-nos com a
indis farçável alegria de quem suplanta os objectivos.
«Já ima ginou ser recebido numa Pousada Convento por
um monge?…».
Pousada D. Afonso II
“Um relógio distinto que marca a diferença entre o vulgare a excelência. Não passa despercebido e não deixa ninguém passar despercebido. Dispensa palavras.”
Paulo J.R. Silva
112 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A presença humana remonta à Pré-história. Poste-
riormente, houve a estada fenícia e o inevi tável
do mínio romano, seguidos pelas invasões bárbaras
e pelos latos 500 anos de ocupação mu çulmana,
de onde, aliás, lhe vem o nome. O valio so espólio
ar queológico atesta isto mesmo. Definitivamente
conquistado por D. Afonso II, com o auxílio de cru-
zados liderados pelo rei da Hungria, em 1217, tor-
nou-se numa importante praça-forte na estratégica
estrada para o Algarve. Embora tenha perdido as
funções militares que o caracterizavam no século
XV, continuou a ser palco de inúmeros mo mentos
da História lusa, com as ine vitáveis tramas palacia-
nas e os casamentos reais, até 1836, altura em que
encerra o convento das freiras Carmelitas aí situado
e em que a decadência se instala.
texto de Paulo Costa Dias | fotos de Nuno Correia
Grupo Pestana Pousadas | Pousada D. Afonso II • Castelo de Álcacer do Sal | Tel. + 351 265 613 070 | www.pousadas.pt
113Saborear o Tempo Pousada D. Afonso II
Plano do interior da Pousada D. Afon-
so II, imperando o bom gosto e a sim-
plicidade decorativa.
Repleto de pormenores que atestam
a sua importância histórica a Pousada
D. Afonso II foi o cenário escolhido
para o Milenary da Audemars Piguet.
Audemars Piguet
Milenary • € 16.800
O Palácio da Quinta da Bacalhôa está em pleno processo de restauro, impulsionado, apaixonada
e persistentemente, pelo actual proprietário – a Baca-
lhôa Vinhos do Comendador Berardo. Esta quinta é hoje
considerada o mais importante repositório de azulejaria
pri mitiva portuguesa. Do seu magnífico espólio, consta o
mais antigo painel de azulejos portugueses conhecido,
datado de 1565, além de exemplares levantinos, ante rio-
res ao início da produção nacional. Adquirida, nos anos 60
do século passado, por uma ame ri cana, Orlena Scoville,
a propriedade sofreu várias e dis pendiosas intervenções,
no sentido da salva guarda e do respeito pelo património
existente. Só no início dos anos 70, no entanto, se inicia a
implantação de vinha. Na época, apesar do enorme peso
histórico do local, a es tra tégia seguida foi completamente
inovadora. Se o palácio foi pioneiro, em Portugal, no uso
decorativo em larga escala do azulejo, a aposta vínica tor-
nou-se inovadora por passar por duas das mais famosas
castas francesas – Cabernet Sauvignon e Merlot. Total-
mente vinificado em barricas de carvalho novo, nasceu,
então, em 1979, o Quinta da Bacalhôa, o primeiro vinho
português Cabernet Sauvignon.
Comprovada a adequação desta casta ao terroir da região,
cabe, hoje, a Filipa Tomaz da Costa transformar os frutos
que ali amadurecem num dos vinhos nacionais de maior
prestígio.
Este processo implica um acompanhamento que
tem tanto de apaixonante como de exaustivo, incluindo
períodos de auscultação cuida da da vinha – primeiro, em
Março/Abril, depois, em Junho/Julho, no período crucial
da floração, e, mais tarde, de Agosto até às vindimas. Um
período que passa num crescendo de expectativa, tensão
e stress que apimentam esta paixão, que não esmorece.
Foi um pouco por acaso que Filipa Tomaz da Costa acabou seduzida por aquilo que designa por ‘coisa viva’ – o vinho. Foi ainda enquanto
estudante de Agronomia que a desafiaram para a sua primeira vindima. Seguiu-se a segunda vindima e, mais de vinte anos passados,
acompanha-nos nesta excitante visita à Quinta da Bacalhôa, como enóloga da casa.
Quinta da Bacalhôa
A Quinta da Bacalhôa remonta ao reinado de
D. João I, tendo sido pertença de membros da família
real e de outras ilustres personagens da nossa
história – do Príncipe D. João, filho do Mestre de Avis,
passando por D. Brites, mãe de D. Manuel I, até Brás
de Albuquerque, filho do primeiro e grande Vice-Rei
da Índia. Marcado por três grandes influências ar-
quitectónicas permanece, no entanto, uma edifi-
cação harmónica e homogénea. O vinho Quinta da
Bacalhôa tem uma intensa cor rubi, aroma de frutos
vermelhos, de madeira e de menta e preserva uma
estrutura elegante. Acompanha, preferencialmente,
pratos de carnes vermelhas e caça. Nos melhores
anos, dá origem ao Palácio da Bacalhôa, vinho
po deroso e concentrado, e com grande potencial
de envelhecimento.
“Uma peça de design moderna mas com um toque de antigoFaz-me lembrar a ligação entre o moderno e o clássico do rótulo do Palácio da Bacalhôa.”
Filipa Tomaz da Costa
114 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
texto de Paulo Costa Dias | fotos de Nuno Correia
115Saborear o Tempo Palácio da Bacalhôa
A Quinta da Bacalhôa tem um espó-
lio de azulejaria importantíssimo. Em
pleno processo de restauro o seu va-
lor cultural será assim preservado.
Duas tentações, dois exemplos do re-
sultado da sabedoria humana. O Color
Dreams da Franck Muller e o vinho da
Quinta da Bacalhôa.
Franck Muller
Color Dreams • € 7.320
Bacalhôa Vinhos de Portugal | Vila Nogueira de Azeitão | Tel. + 351 212 198 060 | www.bacalhoa.com
Este “mundo”, que já lhe vinha das origens aristocráticas – e da vaga ascendência inglesa e
espanhola –, foi alargado ‘pelas sete partidas do mundo’,
que percorreu durante duas décadas e meia. Estas viagens
marcaram o profissional e o homem, como o alargamento
de horizontes sempre marca os indivíduos.
Seguiu um trajecto curiosamente semelhante aos per-
cursos seguidos durante a expansão portuguesa. Foi, no
Brasil, o mais novo chef executivo e, depois de mil e uma
léguas percorridas, foi em Macau que poisou pela última
vez, antes do definitivo retorno. É no Rio de Janeiro, aliás,
que trabalha com Paul Bocuse, referência incontornável da
gastronomia mundial.
Oriundo de uma família numerosa, com muitas exi-
gên cias e serviçais à altura – «reuníamos, facilmente,
e com alguma frequência, 100 pessoas» –, desde cedo
ganhou o gosto por sabores ricos e autênticos e o jeito
para confeccioná-los, despertados pela sapiência gas-
tronómica materna.
O 25 de Abril e umas inevitáveis saias, sempre pre-
sentes nestas alturas, levam-no à Bélgica, onde profissio-
nalizou a vocação e a paixão, sob o olhar arguto de um
chef francês, que percebe o potencial do, na altura, dile-
tante Luís. Ainda hoje afirma que «além da parte técnica,
que realizo com todo o rigor, a questão lúdica é extrema-
mente importante».
É esta personalidade rica que está retratada na Quin-
ta de Catralvos, um espaço rodeado por 25 hectares de
vinha, constituída por cinco quartos duplos e que alberga
uma zona gourmet mais requintada e outra para eventos,
equipada para acolher 2000 pessoas. Considerado o restau-
rante mais vanguardista de Portugal, propõe ementas sur-
preendentes, onde a extrema qualidade provoca a sabo-
rosa rendição dos mais preparados. Alberga ainda uma
ETAR própria e uma vinha onde são utilizados métodos
exclusivamente naturais na sua manutenção. Muitas das
reservas de mesa, como não podia deixar de ser, para que
esta história acabasse bem, vêm da Europa e dos Estados
Unidos. É a globalização, ali, às portas de Azeitão.
O título desta peça bem poderia caracterizar a arquitectura do restaurante Quinta de Catralvos, da autoria de Cristina Sousa Uva,
ou mesmo a gastronomia aí degustada. Mas este título pretende fazer jus ao rosto deste projecto, o Chefe Luís Baena,
que, após uma vastíssima experiência internacional, se fixou em Portugal.
Restaurante Quinta de Catralvos
116 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
O Chefe Luís Baena provocou-nos com uma «sand-
wich de linguado com molho de vodka e ervas
frescas, acompanhada de caviar de salada mista»,
sendo este acompanhamento uma salada mista em
versão de gastronomia molecular. «Perfeitamente
natural e o sabor está lá todo», foi o que ficámos
a saber.
“É um relógio bem proporcionado, cujas linhas não são demasiadoangulosas. É um bonito adorno e é um daqueles relógios que faz qualquer um ficar vaidoso.”
Luís Baena
texto de Paulo Costa Dias | fotos de Nuno Correia
117Saborear o Tempo Quinta de Catralvos
A calma e a tranquilidade transpare-
cem na decoração de um restaurante
especial em que, saborear com tem-
po, é o mote para um dos prazeres
da vida.
O Casablanca da Franck Muller en-
quadrou-se na perfeição nes te ambi-
ente requintado pela sua sobriedade
e classe.
Franck Muller
Curvex Grand Guichet • € 12.000
Restaurante Quinta de Catralvos | Azeitão | Tel. + 351 212 197 610 | www.quintadecatralvos.com
[ Acontecimentos ]
Este primeiro trimestre tem constituído um início de ano invulgarmente animado. A Franck Muller está em grande por múltiplas razões, e tanto a Ebel como a Raymond Weil apostam em campanhas publicitárias com belas
mulheres, reconhecendo a crescente importância do mercado feminino ... e o carácter ‘voyeur’ dos homens. Já as marcas relojoeiras Glasshute
Original e A. Lange & Sohne destacam-se no mercado alemão do luxo, onde a Porsche acaba de lançar o novo Cayenne. Dos grandes eventos
realizados, relembramos os Oscares, os Globos de Ouro e a celebração americana da Versace. E para quem for a Paris, não deixe de dar um salto
ao Museu do Luxemburgo ver uma exposição com peças Lalique, algumas das quais, “nossas”...
Reconhecido como um visionário e um dos res-
ponsáveis pelo protagonismo que a bela relojoa-
ria foi conquistado no mundo ao longo dos úl-
timos cinquenta anos, Jack Heuer foi distinguido
com o prémio Carreira, atribuído pelo JIC – Jewel-
ry Information Center’s. Na cerimónia que decor-
reu em Nova Iorque, o director do JIC destacou
«o seu percurso pessoal e as conquistas profis-
sionais» enquanto «responsáveis pela admiração
e respeito que hoje todo o universo da relojoaria
nutre por Jack Heuer». A mudança de mentali-
dades que provocou nos consumidores, «com a
introdução de uma noção de estilo, sofisticação
e elegância na relojoaria» foram também desta-
cadas pelo júri que decidiu este ano homenagear
o autor do famoso Carrera Chronograph e que
a partir de 1958 deu continuidade ao trabalho
iniciado pelo seu bisavô Edouard Heuer.
Jack Heuer distinguido com prémio carreira
Da mesma forma que os Globos de Ouro já conquistaram as atenções do público internacional
que, dos quatro cantos do mundo, assiste à consagração de estrelas de renome mundial, tam-
bém a Chopard já alcançou um lugar de destaque na cerimónia. Ano após ano, o conceituado
joalheiro alia-se a nomeadas, apresentadoras e convidadas num verdadeiro desfile capaz de
ofuscar os olhares mais atentos. Na edição deste ano as nomeadas Helen Mirren, Penélope
Cruz, Kate Winslet e Toni Collette cumpriram a tradição e escolheram o brilho dos diamantes
esculpidos pela Chopard como grande aliado da noite. Um escolha seguida por Hilary Swank e
Rachel Weisz, duas das apresentadoras da cerimónia, que também se deixaram seduzir pelas
jóias com diamantes e esmeraldas assinadas pelo Casa Chopard.
As estrelas voltam a brilhar com Chopard
118 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
O falecido Gianni Versace e a irmã Donatella – Directora Criativa do Grupo Versace desde a
morte do irmão em 1997 - foram homenageados em Los Angeles com o Rodeo Drive Walk of
Style Award, a versão fashion do célebre Walk of Fame dedicado às estrelas da sétima arte.
Beverly Hills e o Rodeo Drive Committee reconheceram o contributo dos dois irmãos para o
mundo da moda e do entretenimento e o que representam enquan to símbolo do luxo italiano.
Foram inúmeras as celebridades presentes na cerimónia de descerramento das placas – que
ficam localizadas, justamente, em frente da loja Versace – que assinalam o prémio e que pas-
sam a ser parte desta cintilante artéria da moda e do glamour.
Versace símbolo do luxo
Desde o início do ano que as imagens da nova campanha de publicidade da Raymond Weil correm o
mundo propondo uma nova visão de luxo feminino. Sensuais, jovens e envolventes as imagens são
uma homenagem à beleza feminina, ao seu charme e eterno poder de sedução. Concebida por Elie
Bernheim, director de marketing da Raymond Weil, e assinada pelo célebre fotógrafo Joël von Allmen, a
campanha traduz na perfeição o universo da casa relojoeira. O luxo, a elegância, a distinção e a moder-
nidade a que a Casa permanece fiel são interpretados pela manequim e captados de forma sublime
pelas objectivas de Joël von Allmen. «Queríamos uma campanha com uma identidade forte e de grande
notoriedade. Foi por isso que escolhemos o talento de Joël que se rodeou dos melhores técnicos
para concretizar o projecto. Foram dois dias excepcionais e o resultado está fantástico» comentou Elie
Bernheim após o lançamento da campanha da linha feminina Shine e da colecção Parsifal.
O novo conceito de luxo Raymond Weil
119Acontecimentos
[ Acontecimentos ]
Diamante excepcionalQue o tamanho conta, parece evidente. E lá que im-
pressiona, disso não parecem restar dúvidas. Pelo
menos foi o que aconteceu a todos os que se cru-
zaram com a gema de 215 carats, avaliada em 8,3
Milhões de dólares e descoberta a 26 de Janeiro
deste ano. Já em Outubro, na mesma mina, tinha
sido encontrada a 15.ª maior diamante bruto jamais
descoberto - Promessa do Leshoto.
Beleza triplaA mais antiga referência do mundo no negócio de
diamantes, a britânica Backes & Strauss fundada em
1789, acaba de se associar à suíça Franck Muller
para desenvolver uma colecção de relógios-jóia.
Com as caixas e os mecanismos produzidos inte-
gralmente nas fábricas suíças da marca de Genthod
e com acabamentos de grande luxo, esta colecção
contará com diamantes de qualidade reconhecida-
mente excepcional. Berkeley, Picadilly e The Regent
são os nomes das linhas que se anunciam com di-
versas complicações e uma distribuição hiper-selec-
tiva. Um excelente desenvolvimento que antecipa a
abertura da Franck Muller ao mercado de capitais,
prevista para 2008.
Exposição LaliqueO Museu do Luxemburgo, em Paris, apresenta até
29 de Julho a mostra “Bijoux d’exception”, uma cen-
tena de peças criadas por René Lalique entre 1895
e 1900. Com proveniência de diversos museus e
colecções privadas, a Fundação Calouste Gulben-
kian não podia deixar de estar representada tendo
emprestado um total de 15 peças, entre jóias, dese-
nhos e livros Arte Nova.
A manufactura relojoeira A. Lange & Sohne subiu ao primeiro lugar da lista de marcas alemãs de luxo
ao destronar a vencedora de 2005, a construtora automóvel Maybach. Para subir ao topo desta lista,
elaborada em cada dois anos pela agência Brand Rating, a A. Lange & Sohne obteve um total de 246
pontos em 300 possíveis, tendo a manufactura saxónica beneficiado especialmente do seu comporta-
mento na categoria “Brand Appeal”. Fundada em meados do século XIX perto de Dresden, a A.Lange
& Sohne passou por múltiplas vicissitudes ao longo da sua história até ter sido adquirida por Walter
Lange, bisneto do fundador, logo após a reunificação alemã. Com uma produção de apenas algumas
centenas de relógios por ano, exporta 2/3 da sua produção, nomeadamente para Portugal.
No topo do luxo
120 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
Símbolo de uma elegância e de uma sofisticação natural, a super modelo brasileira Gisele
Bündchen foi escolhida para novo rosto da EBEL. A nova comunicação da marca é dirigida a
uma emergente geração de consumidores que se identificam com a forma espontânea com
que a modelo encara a vida e com as suas qualidades humanas que não saíram afectadas pelo
mediatismo que alcançou ao longo da sua carreira. «Escolhemos a Gisele Bündchen porque
encarna na perfeição a visão feminina, elegante, sofisticada e sensual de Ebel», anunciou em
comunicado a empresa. Na tentativa de captar nas fotografias a vitalidade e a presença forte
de Gisele, a EBEL elegeu o talento do fotógrafo sueco Mikael Jansson, um nome de referência
no mundo da moda.
Gisele Bündchen a musa EBEL
[ Acontecimentos ]
Realizou-se no inicio de Março em Valência a feliz, mas extenuante, apresentação mundial do
novel Royal Oak Offshore Alinghi Team Chronograph. Uma apresentação que se destinou, tal
como o relógio, a homens de barba rija! Com uma conferência de imprensa marcada para a
parte da manhã, seguiram-se vários e interessantes programas na Alinghi Academy. Depois de
um excelente briefing sobre a tecnologia e a investigação desenvolvidas para a nova versão
do Alinghi, os convidados tiveram a oportunidade de ensaiar algumas manobras num simu-
lador antes de visitar o ‘mundo’ que é a America’s Cup Marina. Mas o ponto alto estava reser-
vado para a regata a que fomos ‘sujeitos’ como um mancebo se sujeita à recruta... Duas horas
que nos deixou exautos fisicamente e cuja compensação apenas chegou à hora do rancho.
Apresentação em ValênciaO júri do prestigiado concurso International Fo-
rum Design (iF) atribuiu ao Monaco Calibre 360
LS Concept Chronograph o prémio de Product
Design 2007. Desde 1953, que o iF se tornou
uma referência no mundo da relojoaria coroando
peças que se destacam pelo seu design Avant-
-garde. Na edição deste ano, realizada em Han-
nover, na Alemanha, o cronógrafo TAG Heuer to-
talmente mecânico e com precisão de 1/100 de
segundo, foi reconhecido entre as 2200 criações
dos 35 países a concurso. Esta é a segunda vez
consecutiva que a marca vê premiadas as suas
criação no iF, depois de no ano passado o TAG
Heuer Professional Golf Watch, concebido em co-
laboração com a estrela do golfe Tiger Woods, ter
vencido na mesma categoria.
TAG Heuer na vanguarda do design
122 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
De acordo com os Ranking Best Brands 2007 realizado na Alemanha, a Glashütte Original é a segunda
marca de luxo mais popular e com maior sucesso entre o povo alemão. O ranking publicado anual-
mente baseia-se em indicadores económicos e estudos que permitem avaliar os hábitos de consumo
no País e a relação emocional que os consumidores mantêm com as marcas. Recentemente, a noto-
riedade deste Casa com tradição na arte relojoeira foi também reforçado com a atribuição de uma
medalha de ouro na categoria de “Luxury Products” e uma menção honrosa em “Special Audience”
nos prémios Mercury Awards, atribuídos à revista Momentum, dirigida aos clientes da marca. Juntou-se
ainda o reconhecimento com a medalha de bronze no New York Festivals – International Film&Vídeo
Awards, pela campanha “Handmade in Germany”, um conceito que consolida pelo mundo a imagem
da manufactura alemã.
Glashütte Original entre as marcas de luxo eleitas pelos alemães
Estava nomeado para o Óscar na categoria de
Melhor Actor pela sua interpretação em “Diaman-
tes de Sangue”, e mesmo não ganhando, Leonar-
do DiCaprio mostrou-se feliz pelo seu trabalho ter
sido reconhecido pela selecção do júri. Na noi te
mais importante para o mundo cinema tográfico,
a entrega dos Óscares, o actor revelou todo o seu
charme e a preferência por peças distintas. Ao
tradicional smoking, DiCaprio juntou uma peque-
na preciosidade que ostentou durante toda a
noite – o seu Master Repeater Antoine LeCoultre,
uma peça verdadeiramente digna de estrelas.
Leonardo DiCaprio e Jaeger-LeCoultre
Com larga tradição na concepção de relógios de alta precisão, a TAG Heuer mantém-se firme
na ligação a algumas das mais importantes competições desportivas mundiais. Na vanguarda
da relojoaria, a marca suíça acaba de reforçar a sua lista de embaixadores com dois nomes
de peso: o espanhol Fernando Alonso, bicampeão de Fórmula 1 e o britânico Lewis Hamilton,
campeão da GP2 Series. Na conquista pelo melhor tempo, os dois pilotos que em 2007 repre-
sentarão a equipa Vodafone McLaren Mercedes, parceira da TAG Heuer, terão ao seu lado dois
extraordinários relógios da marca suíça. Fernando Alonso associa-se ao Carrera Cronógrafo
Taquímetro, enquanto que Lewis Hamilton terá como parceiro o TAG Heuer Formula 1 Cronó-
grafo. Os dois pilotos juntam-se, desta forma, ao exclusivo grupo de embaixadores TAG Heuer
de que já fazem parte nomes como o golfista Tiger Woods, a tenista russa Maria Sharapova e
as estrelas de Hollywood Brad Pitt e Uma Thurman.
Fernando Alonso e Lewis Hamilton novos embaixadores TAG Heuer
123Acontecimentos
Porsche Cayenne em nova geração
[ Acontecimentos ]
A nova geração do Cayenne aposta em mais potência – afinal, é de um Porsche que se trata! –, em
menor consumo, o que parece uma contradição, mas não o é para a escuderia alemã, e num sistema
de suspensão que permite um nível de conforto e segurança impressionantes.
Não é que o novo Porsche Cayenne voe por entre as nuvens, como, há 30 anos, se previa que
viesse a acontecer aos carros do século XXI. É verdade que o novo sistema de injecção directa resulta
num evidente ganho de potência – coisa que não é despicienda num veículo que ostenta, orgulhosa
e merecidamente, o nome Porsche. Mas a superlativa capacidade tecnológica da marca de Stutgard
reve la-se na forma como, apesar do aumento de potência, os seus engenheiros conseguiram desen-
volver tecnologicamente o motor de modo a permitir reduções significativas em termos de consumo.
Face às imposições cada vez mais apertadas que são colocadas aos produtores automóveis na UE, a
Porsche consegue, respeitando o seu perfil e a sua tradição de marca desportiva, adaptar-se aos novos
tempos.
Mas a capacidade técnica da escuderia alemã não se esgota aqui. Há ganhos significativos, no que
respeita ao conforto e à segurança, que nos são emprestados pelo sistema PDCC – Porsche Dynamic
Chassis Control. De facto, todo o comportamento do Cayenne é notoriamente melhorado por esta
inovação – ainda opcional, mas aconselho os interessados a não prescindirem dela – quer em estrada,
nomeadamente nas curvas, quer nas oscilações próprias do TT. Dois estabilizadores activos nivelam,
quase completamente, as inclinações laterais em curva e na condução todo-terreno, e, além do con-
forto e da segurança, a capacidade de tracção sai significativamente melhorada.
Antes das prestações excepcionais, quer em estrada, quer em trilhos proibitivos, e da ‘politicamente
correcta’ redução de emissões e consumos, a primeira agradável sensação que a nova geração do
Porsche Cayenne nos oferece é, justamente, o extremo conforto resultante destes desenvolvimentos
técnicos.
Em três versões fortíssimas – Cayenne, Cayenne S e Cayenne Turbo –, a marca alemã faz uma evolu-
ção surpreendente relativamente aos modelos da primeira geração. De tal forma que, entre os 290 cv
e uma velocidade de ponta de 227 km/h do Cayenne e os 385 cv com uma velocidade máxima de 275
km/h do Cayenne S, os 500 cv e 275km/h atingidos pela versão Turbo soam redundantes.
Com um intervalo de custo entre os € 85.312 e os € 156.980, não pode deixar de nos vir à lem-
brança a frase da velha tia que, questionada sobre os seus gastos, retorquia displicente «o dinheiro
fez-se para pagar os luxos…».
SISTEMA INCABLOC – BARRAS ESTABILIZADORAS
Curiosamente, ou talvez não, uma das principais
inovações desta nova geração do Porsche Cayenne
é uma resposta a desafios com os quais a indústria
relojoeira também tem de se confrontar – conseguir
estabilidade e capacidade para absorver impactes.
Senão, vejamos:
• O balanço e a respectiva mola constituem juntos
o órgão regulador do movimento de um relógio. O
balanço é uma peça móvel, oscilante sobre o seu
eixo, e a espiral a ele acoplada induz movimentos
para a frente e para trás, dividindo o tempo em
partes exactamente iguais. A cada par de movi-
mentos do balanço chama-se ‘alternância’ e quanto
maior for o seu número, maior será a fiabilidade do
mecanismo.
• Quando um relógio cai de uma altura de um
me tro, por exemplo, o balanço é sujeito a uma força
equivalente a 5000 vezes o seu peso! O sistema
Incabloc assegura que não tenhamos de mandar o
relógio para revisão sempre que isto acontece ou de
cada vez que mandamos um murro na mesa…
124 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
A Franck Muller tornou-se uma referência e as edições limitadas
realizadas em parceria com o Futebol Clube do Porto e, mais re-
centemente, com o Sporting Clube de Portugal, fizeram da Casa
Suiça um ícone associado ao desporto-rei nacional. Fortes mo-
tivos para que Rui Barros vivesse com alguma expectativa a sua
primeira visita aos ateliers da Franck Muller. Acompanhado pelo
filho, o ex-internacional português deslocou-se à aldeia histórica
Genthod, nos arredores de Genebra, onde pôde testemunhar a
forma dedicada e precisa com que os mestres trabalham todas
as criações assinadas por esta Casa suíça.
Rui Barros visita Franck Muller
Muitas foram as estrelas que brilharam no firmamento de Los
Angeles na 79.ª noite dos Óscares como, aliás, sempre acontece.
E o inicialmente improvável 007, Daniel Craig, depois de conquis-
tar os fãs do menos secreto dos agentes de Sua Majestade, pas-
seou a sua graça pela passadeira vermelha com a ajuda, sempre
preciosa nestas ocasiões, da Alfred Dunhill. Depois do êxito que
foi a última versão da sequela James Bond, o actor trabalhou
com o master taylor e o master shirt-maker da casa inglesa num
fato e numa camisa exclusivamente concebidos a pensar na noite
divinal dos Óscares. O sucesso foi tal que não deixou de ser re-
conhe cido por Sua Magestade her self... Helen Mirren.
Alfred Dunhill veste 007
[ Livros ]
Vrais & Fausses MontresUm dos grandes temas da actualidade em relação à
indústria do luxo é o fenó me no da contrafacção, sendo
um dos sec tores mais vulneráveis a este flagelo econó-
mico, justamente, o sector relojoeiro, nomeadamente
no “ataque” que é feito às marcas mais prestigiadas.
Daí a pertinência deste livro que nos ajuda a destrinçar
o “trigo do joio” mostrando as diferenças, bem mais
óbvias do que se pensa, entre o original e as cópias.
• Por Fabrice Guêroux • Edição ArgusValentines
• Texto em Francês • Formato 15 x 21,5 cm
• 320 páginas • Capa dura • € 65
A arte de medição do tempo, em geral, e a tradicional arte relojoeira, em particular, constituem um mundo fascinante e mesmo viciante. Como tal, a história da relojoaria, a complexidade das complicações micromecânicas,
a evolução do design, a respectiva inserção na conjuntura socioeconómica e as lendas da indústria relojoeira surgem bem documentadas em vários
livros que prometem ser uma leitura extremamente agradável para os aficionados. Alguns desses livros são mais técnicos, outros mais históricos,
outros são mais uma espécie de catálogo de marcas. Alguns são para principiantes, outros para coleccionadores experimentados. Mas todos eles
despertam o interesse de quem aprecia tudo sobre a relojoaria: factos históricos, curiosidades, anedotas, mitos.
A. Lange & SöhnePouco conhecida fora da Alemanha ou dos circuitos de conhecedores, quer a marca quer a sua
história, a A. Lange & Sohne é, no entanto, um dos grandes nomes da relojoaria mundial e das
raras marcas capazes de ombrear com a qualidade e a tradição do portento que é a indústria
relojoeira suíça. É da história riquíssima e atribulada desta marca que trata este livro de elevado
prestígio e qualidade.
• Por Reinhard Meis
• Edição Callwey Georg D.W. • Texto em inglês
• Formato 25,5 x 30 cm
• 383 páginas • Capa dura
• € 105
126 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
MontresO inventário do especialista
Organizada por décadas, esta obra propõe-nos uma
viagem de descoberta dos modelos e dos nomes da
indústria relojoeira que fizeram história ao longo de
todo o século XX. As fotografias dos relógios mais em-
blemáticos de cada época estão em destaque, bem
como os pormenores técnicos de cada peça e a fechar,
um glossário com termos técnicos.
• Por René Pannier • Edições Vilo Paris • 219 páginas
• Texto em francês • Formato 18 x 24 cm
• Capa semi-dura • € 45
Jaeger-LeCoultre - La Grande MaisonEste é o livro referência sobre a Jaeger-LeCoultre, a
‘Gran de Casa’ relojoeira fundada por Antoine LeCoul-
tre. Ao longo das quase 400 páginas são apresentas
dezenas de criações antigas e alguns dos relógios com
que a marca tem surpreendido o universo relojoeiro.
As mais de 600 ilustrações, as fotografias e os textos
tornam esta obra indispensável para um apaixonado
da bela relojoaria.
• Por Franco Cologni • Edições Flammarion
• Texto em Francês • Formato 25 x 29 cm
• 381 páginas • Capa dura • € 165
Dictionnaire professionel ilustré de l’horlogerieConhecido como Dicionário Berner, é uma verdadeira enciclopédia consagrada à medição do
tempo com 4800 termos técnicos em francês, alemão, inglês e espanhol. Um documento de
referência único no mundo, indispensável tanto para os entendidos como para os amantes da
melhor relojoaria.
• Por G.-A. Berner
• Edições Société du Journal La Suisse Horlogère SA.
• Formato 15 x 21 cm
• 1150 páginas • Capa dura
• € 235
A aventura do ferro forjadoA indústria do ferro forjado teve o seu período áureo
no século XIX. Esta matéria-prima foi utilizada em todo
o género de obras monumentais e, também, na indús-
tria relojoeira. Este livro apresenta mais de 220 reló-
gios pertencentes a uma colecção que é hoje pertença
do genial relojoeiro marselhês F.P. Journe.
• Texto em inglês • Edições Collection F.P. Journe
• Formato 21,5 x 33 cm • 312 páginas • Capa dura
• Preço sob consulta
Encomende os seus livros com 15% desconto para os assinantes da revista
Fotocopie este questionário e preencha-o.
Junte um cheque endereçado à Company One no valor da encomenda e envie para:
Espiral do Tempo, Departamento de Livros e Catálogos > Av. Almirante Reis, 39 > 1169-039 Lisboa > Portugal
Nome: Idade:
Endereço:
C. Postal: Localidade: País:
E-mail: Tel.: Tm.: Profissão:
Pretendo encomendar os livros n.º Cheque n.º Banco:
La Cote de Montres Modernes et de Collection
Este livro ajuda-nos a aferir o valor de cerca de 650
modelos das principais marcas, pelo que se torna um
livro fundamental para quem faz colecção, para todos
os que o desejam vir a fazer ou para aqueles que têm
a sorte de herdar algum dos relógios de pulso encon-
trados no armário do sótão, na quinta do avô. Aqui en-
contra as principais características, o preço caso ainda
seja produzido e a cotação atribuída.
• Por MMC • Edição ArgusValentines
• Texto em Francês • Formato 21,5 x 30 cm
• 219 páginas • Capa dura • € 80
Relógios e RelojoeirosQuem é quem no tempo em Portugal
Ao longo das quase 200 páginas, José Mota Tavares
e Fernando Correia de Oliveira apresentam-nos os no-
mes e os rostos de quem tem trabalhado e investiga-
do a arte de medir o tempo em Portugal. Investigado-
res, re lojoeiros e autodidactas são apresentados neste
livro que recupera o contributo que cada um deu em
di ferentes épocas.
• Por José Mota Tavares e Fernando Correia de Oliveira
• Âncora editora • Texto em Português
• Formato 30 x 23 cm • 199 páginas
• Capa dura • € 60
www.alange-soehne.com
‘State of the art tradition’
Site extremamente prático e bem desenhado,
com uma imagem elegante que expressa as
características essenciais da marca e do posi-
cionamento que ocupa. Não descura a melhor
informação quer sobre os produtos em si,
quer sobre a relojoaria em geral. Desde os de-
senhos esquemáticos dos mecanismos até ví-
deos sobre a sua produção, passando por um
sempre útil glossário, este site acompanha a
história da marca e dos seus fundadores, tem
referencias aos relógios históricos produzidos
na Manufactura alemã e destaca os artesãos e
técnicos que hoje dirigem os diversos sectores
de produção da marca.
[ Internet ]
www.porsche-design.comwww.jaeger-lecoultre.comwww.glashuette-original.comwww.fpjourne.com
www.raymond-weil.com www.rolex.com www.tagheuer.com www.torresdistrib.com
www.fortis-watch.comwww.chopard.comwww.thebritishmasters.comwww.audemarspiguet.com
Presença na Internet
128 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
AssinaturasA assinatura deverá ser feita em nome de:
Morada: C.Postal: –
Localidade: Profissão: Data de nascimento:
Cont.: Tel: Tm.: Email.:
Pretendo assinar a partir da edição n.º: (inclusive) Cheque n.º: Banco:
Como se vê no mundo dos relógios? Onde viu a Espiral do Tempo?
Coleccionador Apaixonado Curioso Banca TAP Relojoaria Hotel/Golfe
De que tipo de artigos mais gosta? E neste número de que mais gostou?
Assinatura para 8 edições (dois anos): > Portugal 28 > Europa 60 > Resto do mundo 80
Fotocopie este questionário, preencha, junte um cheque emitido/endereçado a: Company One, Publicações Lda.
Av. Almirante Reis, 39 1169-039 - Lisboa - Portugal
N.º 1 • 5
Caso queira encomendar um número anterior da Espiral do tempo, envie-nos uma carta para: Av. Almirante Reis,
391169-039 Lisboa, juntando a quantia respectiva em cheque. Não esquecer de colocar remetente.
O cheque deverá ser emitido em nome de: Company One, Lda.
ESGOTADO
N.º 2 • 5 N.º 3 • 5 N.º 4 • 5 N.º 5 • 5 N.º 6 • 5 N.º 7 • 5
N.º 8 • 7,45 N.º 9 • 7,45 N.º 10 • 7,45 N.º 11 • 7,45 N.º 12 • 7,45 N.º 13 • 7,45 N.º 14 • 7,45
N.º 15 • 7,45
ESGOTADO
N.º 16 • 3,5 N.º 17 • 3,5 N.º 18 • 3,5 N.º 19 • 3,5 N.º 20 • 3,5 N.º 21 • 3,5
N.º 22 • 3,5 N.º 23 • 3,5
ASSINATURAS
ESGOTADO
ESGOTADO
ESGOTADO
ESGOTADO
[ Assinaturas ]
Novembro, 16h 25’Graças ao Bin e aos seus fiéis seguidores, os aero-
portos de hoje estão transformados em prostíbulos
do purgatório, onde só falta termos de despir a
alma para nos ser permitido o acesso electrónico
à passarola voadora. Desta feita, vi-me obrigado,
como os demais que aguardavam, pacientemente,
em demorada fila, a despir o casaco e o sobretudo,
a tirar o relógio e o fio de prata com a medalha que
representa a minha devoção à Nossa Senhora de
Fátima e, como se tal não bastasse, a descalçar os
sapatos. Depois, foi tudo metido no tapete rolante
da geringonça do raio X intrusivo. Mas não me sa-
fei do ‘apalpanço’ em público. Primeiro, por causa
do cinto que me segura as calças, e, depois, por
causa dos esticadores em metal dos colarinhos da
camisa, que, só depois de observados à lupa por
uma ‘junta de segurança’ do aeroporto, me foram
restituídos, com hesitações, não fosse eu tencio-
nar utilizá-los em pleno voo, como instrumentos
de ataque às carótidas de alguém. Pelo caminho,
fi quei sem o meu isqueiro Bic, deitado no lixo por
força dos novos dispositivos de segurança, mas
que foi prontamente substituído por outro, na ta-
bacaria da loja franca (a chamada free shop). Pior
terá ficado a sexagenária holandesa que, instada a
deitar fora o recipiente de um litro de sumo de lar-
anja que transportava, preferiu emborcá-lo de uma
só vez (seria um reflexo das privações vividas na
II Guerra?) antes de chegar ao ‘Laden checkpoint’.
Ainda hoje me interrogo como terá sido a viagem
da senhora, que, certamente, deve ter passado mal,
vítima de desarranjo intestinal agudo, sentada no
cubículo pressurizado da toilette voadora...
Dezembro, 20h 45’A maioria dos noticiários dos nossos canais de te-
levisão transformou-se em novelas intragáveis de
casos da desgraça humana nacional, quanto mais
pungentes melhor, explorados diariamente à exaus-
tão em alegadas ‘peças jornalísticas’, contra as
quais o ‘zapping’ do nosso descontentamento nada
pode fazer. Então não é que, por artes mágicas do
big brother – ou será dos shares do povo que mais
ordena? –, cada um dos canais decide, invariavel-
mente, tratar dos mesmos assuntos, no mesmo dia
e quase à mesma hora?! Sobra-nos a RTP2 e a SIC
Notícias, às vezes, e as internacionais CNN e SKY,
quase sempre.
O panorama dos programas da manhã de certas es-
tações de rádio não é melhor, hélas, com locutores
que, em vez de nos darem música, usam e abusam
do recurso a simulacros, mais ou menos patéticos,
de stand up comedy, como se, para se ter suces-
so, bastasse copiar a fórmula radialista do Malato.
Mas esta parece ser uma das nossas más caracte-
rísticas atávicas: copiarmos as inovações bem-suce-
didas de terceiros, na vã esperança do sucesso por
mera osmose. ‘Ele’ não andam por aí já vários hu-
moristas com tiques à la Gato Fedorento?! Viva a
singularidade!
Janeiro, 14h 40’O Clube de Golfe das Amoreiras é um bom para-
digma do pior que impunemente se passa cá na
terrinha. Alguém licenciou a obra; alguém investiu
milhões na concepção e realização do empreendi-
mento; e, depois de concluída a obra – que ela não
surgiu da noite para o dia –, alguém veio dizer que,
afinal, aquilo não podia abrir ao público. Espan-
toso, no mínimo. E ninguém é responsável? A deca-
dência das instalações e dos equipamentos não
choca nenhum dos paladinos da defesa de Lisboa?
Ninguém se envergonha daquele estado de coisas?
Parece que não.
Janeiro, 10h 45’Os radares para controlo preventivo da velocidade
em determinados pontos da cidade de Lisboa es-
tão aí e louva-se a medida. Mas, naquela manhã
soalheira de sábado, quase fui ultrapassado por
um grupo de ciclistas high-tech, enquanto tentava
cumprir a velocidade de 50 km/hora que nos é im-
posta na Avenida Brasília – outra vez ela... –, o que
faz com que, de automóvel, seja quase tão difícil lá
chegar quanto o é de bicicleta. Mas fará algum sen-
tido limitar a velocidade a 50 km/h numa via com
duas faixas para cada sentido de marcha? Talvez o
tenham feito por causa do deplorável estado do
betume da mesma...
Fernando Campos Ferreira
Fernando Campos Ferreira
Quotidianos
A maioria dos noticiários dos nossos canais de televisãotransformou-se em novelas intragáveis de casos da desgraça humana nacional, quanto mais
pungentes melhor, explorados diariamente à exaustão em alegadas ‘peças jornalísticas’...
130 Espiral do Tempo 24 Primavera 2007
[ Crónica ]
| P r i m a v e r a 2 0 0 7 I
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