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Universidade do MinhoInstituto de Educação
Eva Moreira da Silva
outubro de 2015
Velhice institucionalizada e não institucionalizada: dois caminhos para o envelhecimento ativo
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5
Eva Moreira da Silva
outubro de 2015
Velhice institucionalizada e não institucionalizada: dois caminhos para o envelhecimento ativo
Trabalho efetuado sob a orientação do Doutor José Carlos de Oliveira Casulo
Relatório de Estágio Mestrado em EducaçãoÁrea de Especialização em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária
Universidade do MinhoInstituto de Educação
Declaração
Nome: Eva Moreira da Silva
Endereço eletrónico: brinas_moreira@hotmail.com
Cartão de Cidadão: 13608381 1ZY8
Título do Relatório de Estágio: Velhice Institucionalizada e não Institucionalizada: Dois Caminhos
para o Envelhecimento Ativo
Orientador: Doutor José Carlos de Oliveira Casulo
Ano de conclusão: 2015
Designação do Mestrado: Mestrado em Educação, Área de Especialização em Educação de
Adultos e Intervenção Comunitária
É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE RELATÓRIO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE. Universidade do Minho, ___/___/______ Assinatura: ________________________________________________
iii
Agradecimentos
Aos idosos que me acompanharam e fizeram deste projeto uma realidade, o meu muito
obrigada.
A ti Neca, faltam-me as palavras para agradecer o facto de nunca me teres deixado
desistir.
A ti Vera, obrigada por todas as palavras, por toda a ajuda e por me teres "alfabetizado",
informaticamente.
À Sónia, por me ter ajudado a contornar alguns obstáculos. Obrigada.
À Dra. Cristina, que me acompanhou, ajudou e aconselhou quando estava perdida.
Obrigada.
Ao meu orientador, Dr. José Carlos Casulo, pela disponibilidade e ajuda, ao longo de um
ano.
À Dra. Zara, por me acolher na instituição e me dar a oportunidade de trabalhar com o
público mais velho.
E, por fim, a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para a
concretização do presente projeto.
iv
v
Velhice Institucionalizada e Não Institucionalizada: Dois Caminhos para o Envelhecimento Ativo
Eva Moreira da Silva
Relatório de Estágio
Mestrado em Educação - Educação de Adultos e Intervenção Comunitária
Universidade do Minho
2015
Resumo
O projeto socioeducativo, "Velhice Institucionalizada e Não Institucionalizada: Dois
Caminhos para o Envelhecimento Ativo", está inserido no Mestrado em Educação, área de
especialização, Educação de Adultos e Intervenção Comunitária, implementado durante nove
meses, no Centro Social Padre Manuel Joaquim de Sousa, concelho de Guimarães. Este tem por
objetivo ser um contributo para o envelhecimento ativo, através da dinamização de atividades de
caráter social, cultural, físico e cognitivo, em contexto de centro de dia e apoio domiciliário, com
o público idoso.
O estudo foi realizado tendo por base estudos na área do envelhecimento e
envelhecimento ativo. A metodologia qualitativa, é a protagonista do estudo, sendo a
investigação-ação o paradigma utilizado e apresentado, juntamente, com as técnicas de
investigação, intervenção e avaliação, aplicadas.
O relatório desenvolve-se em quatro capítulos, precedendo-lhes a introdução. O capítulo
um - Enquadramento Contextual do Estágio - onde se caraterizam a instituição e o público-alvo e
se aborda a problemática; o capítulo dois - Enquadramento Teórico da Problemática de
Investigação/Intervenção - dedicado à apresentação dos contributos teóricos em torno do
envelhecimento e envelhecimento ativo que fazem parte do projeto; capítulo três -
Enquadramento Metodológico do Estágio - onde são explanadas, a metodologia, paradigma e
técnicas de investigação/intervenção/avaliação, aplicadas no projeto; por último, o capítulo
quatro - Apresentação e Discussão do Processo de Intervenção/Investigação - onde descrevemos
as atividades realizadas e discutimos os dados obtidos através das fases de avaliação. O relatório
finda, com as considerações finais onde falamos do impacto do projeto a nível pessoal,
institucional e a nível de conhecimentos construídos.
vi
vii
Institutionalized and non-Institutionalized Old Age: two paths for Active Aging
Eva Moreira da Silva
Internship Report
Master’s in Education – Adult Education and Community Intervention
University of Minho
2015
Abstract
The project "Institutionalized and non-Institutionalized Old Age: two paths for Active
Aging"is part of the master’s degree in education, specialization area in Adult Education and
Community Intervention, of University of Minho. It was implemented during nine months in the
Social Centre Padre Manuel Joaquim de Sousa, in the county of Guimarães. It is intended to be a
contribution to active aging through the promotion of social, cultural, physical and cognitive
activities in the context of day care and home care.
This report, which gives an account to the referred project, is developed in four chapters,
preceded by an introduction. Chapter I – Contextual Framework of Internship – characterizes the
institution and the target audience. Chapter II - Theoretical Framework of Research/ Intervention
Issues – is dedicated to the presentation of the theoretical contributions around aging and active
aging. Chapter III - Methodological Framework of Internship – explains the methodology,
paradigm and techniques of research/intervention/evaluation, applied in this project. Chapter IV
– Presentation and Discussion of the Intervention/Investigation Process – describes the activities
that were done and discusses the data obtained in the different evaluation stages.
The report ends with Final Considerations, which includes a description of the impact of
the project on a personal and institutional level as well as knowledge acquired during the project.
Then follows the bibliography, appendices and attachments.
viii
ix
Índice Geral
Agradecimentos .............................................................................................................................. iii
Resumo ........................................................................................................................................... v
Abstract .......................................................................................................................................... vii
Índice de gráficos ........................................................................................................................... xiii
Índice de tabelas ............................................................................................................................. xv
Lista de Siglas ............................................................................................................................... xvii
Introdução ....................................................................................................................................... 1
Capítulo I - Enquadramento Contextual do Estágio ............................................................................... 3
1. Integração no contexto de estágio .................................................................................................. 5
2 - Caraterização do contexto de estágio ............................................................................................. 6
2.1- Enquadramento histórico, missão e valores institucionais ............................................................. 6
2.2 - Valências do CSPMJS e respetivos objetivos ................................................................................ 7
2.3 Recursos ...................................................................................................................................... 9
2.3.1 Recursos físicos ............................................................................................................... 9
2.3.2 Recursos materiais ........................................................................................................ 11
2.3.3 Recursos humanos ........................................................................................................ 12
3 - Caraterização do público - alvo .................................................................................................... 13
4 - Problemática da intervenção/investigação e sua relevância ........................................................... 18
5 - Diagnóstico ............................................................................................................................... 20
Capítulo II - Enquadramento teórico da problemática de investigação/intervenção ............................... 23
1 - Investigações e intervenções na área e na problemática de estágio ................................................ 25
2 - Autores e referentes teóricos importantes da problemática de estágio ............................................ 28
2.1 - Envelhecimento em Portugal .....................................................................................................28
2.2- Conceito de envelhecimento ......................................................................................................30
2.3 - Envelhecimento ativo ................................................................................................................32
2.4 - A Família e as infraestruturas sociais para idosos ......................................................................34
2.4.1 - Redes sociais de apoio informal .................................................................................... 35
2.4.2 - Redes sociais de apoio formal ....................................................................................... 36
2.5 - Educação permanente e ao longo da vida e intervenção comunitária .........................................39
x
2.6 - A animação sociocultural dos idosos .........................................................................................41
Capítulo III - Enquadramento Metodológico do Estágio ....................................................................... 45
1 - Objetivos do estágio ................................................................................................................... 47
1.1 - Objetivos gerais ........................................................................................................................47
1.2- Objetivos específicos ..................................................................................................................47
2 - Apresentação e fundamentação da metodologia de intervenção/investigação ................................. 48
2.1 - Métodos e técnicas de investigação, intervenção e de avaliação ................................................50
2.2 - Técnicas de educação/formação ..............................................................................................55
2.2.1 - Animação sociocultural ................................................................................................. 55
2.2.2 - Formação cívica ........................................................................................................... 56
2.2.3 - Alfabetização ............................................................................................................... 56
2.3 - Triangulação de dados ..............................................................................................................56
3 -Recursos mobilizados e limitações do processo ............................................................................. 57
3.1 - Recursos ..................................................................................................................................57
3.1.1 - Recursos humanos ...................................................................................................... 57
3.1.2 - Recursos materiais ...................................................................................................... 58
3.1.3 - Recursos físicos ........................................................................................................... 58
3.2 - Limitações do processo ............................................................................................................59
4 - Avaliação .................................................................................................................................. 60
CAPÍTULO IV- Apresentação e Discussão do Processo de Intervenção/Investigação ............................. 63
1.1 - Atividades realizadas no serviço de apoio ao domicílio e centro de dia .......................................65
1.1.1 - "O Jogo como Estimulação Cognitiva" ........................................................................... 65
1.1.2 - "Os Cinco Sentidos: Estimulação Sensorial" ................................................................... 66
1.1.3 - "Leitura e Escrita" ........................................................................................................ 66
1.1.4 - "O Tradicional e o Contemporâneo" .............................................................................. 67
1.1.5 - "Saúde e Bem-estar" .................................................................................................... 68
1.2. - Atividades realizadas exclusivamente no serviço de apoio ao domicílio ......................................68
1.2.1 - "Trabalhos Manuais" .................................................................................................... 68
1.2.2 - "O Jogo como Estimulação Cognitiva" ........................................................................... 69
1.2.3 - "Leitura e Escrita” ........................................................................................................ 70
1.2.4 - "Saúde e Bem-estar" .................................................................................................... 71
1.3 - Atividades realizadas exclusivamente no centro de dia ...............................................................73
1.3.1 - "Trabalhos Manuais" .................................................................................................... 73
xi
1.3.2 - " O Jogo Como Estimulação Cognitiva" .......................................................................... 74
1.3.3 - "Ginástica Geriátrica" ................................................................................................... 78
1.3.4 - "Atividades de Culinária" .............................................................................................. 80
1.3.5 - "Leitura e Escrita" ........................................................................................................ 81
1.3.6 - "Visitas Culturais e Religiosas" ...................................................................................... 82
1.3.7 - "Momentos Intergeracionais" ........................................................................................ 83
1.3.8 - "A música e a Dança" .................................................................................................. 84
1.3.9 - "O Tradicional e o Contemporâneo" .............................................................................. 85
2 - Discussão dos resultados obtidos ................................................................................................ 85
2.1 - Resultados obtidos através da avaliação intermédia ...................................................................85
2.2 - Resultados obtidos através da avaliação final ............................................................................87
Considerações Finais ...................................................................................................................... 93
1 - Análise crítica dos resultados e das implicações dos mesmos ....................................................... 95
2 - Evidenciação do impacto do estágio a nível pessoal, institucional e a nível de conhecimento na área de
especialização ................................................................................................................................ 96
Bibliografia ..................................................................................................................................... 99
Anexos ........................................................................................................................................ 103
Anexo 1 - Organograma Funcional CD e SAD .................................................................................. 106
Anexo 2 - Organograma Funcional Geral ......................................................................................... 107
Anexo 3 - Escala de Lawton e Brody e Índice de Barthel ................................................................. 108
Anexo 4– Diabetes ......................................................................................................................... 111
Anexo 5– Hipertensão .................................................................................................................... 112
Anexo 6 - Dominó da alimentação .................................................................................................. 113
Anexo 7 - Jogar Saúde ................................................................................................................... 115
Anexo 8 - Provérbios ...................................................................................................................... 119
Anexo 9– Adivinhas ....................................................................................................................... 121
Anexo 10 - Cultura Geral e Local .................................................................................................... 122
Anexo 11– Cantares ...................................................................................................................... 125
Apêndices .................................................................................................................................... 127
Apêndice 1 - Entrevista semiestruturada - Diagnóstico .................................................................... 129
Apêndice 2 - Entrevista semiestruturada – Contínua ....................................................................... 130
Apêndice 3 - Calendarização das fases de investigação/intervenção ............................................... 131
Apêndice 4 - Segurança na 3ª idade ............................................................................................... 135
Apêndice 5 - Entrevista semiestruturada – Intermédia .................................................................... 139
xii
Apêndice 6 - Entrevista semiestruturada – Final ............................................................................. 140
Apêndice 7 - Questionário Final ...................................................................................................... 141
xiii
Índice de gráficos
Gráfico 1 - Sexo dos utentes das Duas valências ............................................................................... 14
Gráfico 2 - Idades dos Utentes das duas Valências ............................................................................ 15
Gráfico 3 - Profissões dos Utentes das Duas Valências....................................................................... 15
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xiv
xv
Índice de tabelas
Tabela 1 - Número de Alfabetizadose Não Alfabetizado ...................................................................... 15
Tabela 2 - Doenças que afetam a população - alvo ............................................................................ 16
xvi
xvii
Lista de Siglas
CSPMJS - Centro Social padre Manuel Joaquim de Sousa
CD - Centro de Dia
SAD - Serviço de Apoio ao Domicilio
ATL - Atividades de Tempos Livres
GAAS - Gabinete de Atendimento e Acompanhamento Social
GIP - Gabinete de Inserção Profissional
OMS - Organização Mundial de Saúde
PNS - Plano Nacional de Saúde
AVD - Atividades Básica de Vida Diária
ASC - Animação Sociocultural
IPSS - Instituição Particular de Solidariedade Social
IEFP - Instituto de Emprego e Formação Profissional
RSI - Rendimento Social de Inserção
EP - Educação Permanente
ALV - Aprendizagem ao Longo da Vida
EAIC - Educação de Adultos e Intervenção Comunitária
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
xviii
1
Introdução
O presente relatório "Velhice Institucionalizada e Não Institucionalizada: Dois Caminhos
para o Envelhecimento Ativo", surge como parte integrante do estágio, a fim de completar o
segundo ano do Mestrado em Educação, área de especialização em Educação de Adultos e
Intervenção Comunitária, pela Universidade do Minho. O trabalho de campo teve como palco o
Centro Social Padre Manuel Joaquim de Sousa, sito na freguesia de Caldelas, na vila de Caldas
das Taipas, pertencente ao concelho de Guimarães.
A sua pertinência justifica-se com as várias investigações feitas em torno do
envelhecimento, devido ao aumento significativo e constante da população idosa, alvo, deste
estudo.
No âmbito do envelhecimento ativo, com vista a melhorar os seus padrões de vida,
alguns utentes do centro de dia e do serviço ao apoio domiciliário, são os principais atores do
projeto desenvolvido. Estes são, na sua maioria, idosos; no entanto, estão incluídos dois utentes
com cinquenta e cinquenta e um anos, que se encontram na instituição devido a défices
cognitivos e falta de disponibilidade familiar para os acompanhar no dia a dia. A pertinência
deste tema, nas duas respostas sociais acima referidas, surge da necessidade de organizar
equipas de trabalho que combatam e atenuem os riscos e mazelas a que a população idosa está
exposta e que afetam o seu bem envelhecer. Falamos da exclusão social e do isolamento; dos
condicionalismos a nível físico, cognitivo, intelectual e psicológico, devido a uma maior
fragilidade desta faixa etária. Este é um trabalho de peso na sociedade atual que se encontra
cada vez mais envelhecida devido aos progressos nos vários campos da medicina e à quebra no
número de nascimentos. Perante estes factos surge a necessidade de encontrar novas formas
de atuação social.
Assim, a presente investigação/intervenção foi uma procura de respostas às carências
desta população, através de atividades educativas que fomentem a participação; a autonomia; o
convívio; a intergeracionalidade; a criatividade; a imaginação e a motivação; que conduzem ao
envelhecimento ativo.
Procura-se que o envelhecimento ativo seja um envelhecimento com qualidade, com
dignidade e respeito para com o próximo e com eles próprios, que lhes permita sentirem-se
integrados na comunidade, participando, efetivamente, de decisões.
2
O projeto "Velhice Institucionalizada e Não Institucionalizada: Dois Caminhos para o
Envelhecimento Ativo" teve como alicerces, na investigação e na intervenção, a investigação-
ação, a Educação Permanente e ao Longo da Vida, bem como, a Intervenção Comunitária, como
metodologia, e ainda a animação sociocultural, como meio de intervenção, que, aliadas se
mostraram de grande valia no principal objetivo deste trabalho que é o Envelhecimento Ativo.
Para uma melhor análise do presente relatório, este estará organizado da seguinte
forma: o capítulo um, Enquadramento Contextual do Estágio, onde descrevemos o processo de
integração na instituição e damos a conhecer a instituição, bem como, o público - alvo. Ainda
neste ponto, esclarecemos qual a problemática da intervenção, a sua pertinência e objetivos
institucionais e de formação como; também, faremos referência às necessidades e interesses
manifestadas na fase de diagnóstico.
No capítulo dois, Enquadramento Teórico da Problemática de Estágio, faremos
referência a outras investigações e contributos teóricos na área, pertinentes à nossa intervenção.
No que concerne ao capítulo três, Enquadramento Metodológico do Estágio, diz respeito
à apresentação e fundamentação da metodologia de intervenção/investigação, à identificação e
justificação dos seus objetivos e, ainda, à identificação dos recursos mobilizados, das limitações
do processo e às fases de avaliação.
O capítulo quatro, Apresentação e Discussão do Processo de Intervenção/Investigação,
revela o trabalho realizado em campo, isto é, são descritas as atividades realizadas, articulando-
as com os objetivos traçados, inicialmente, bem como, com os referenciais teóricos
apresentados. Ainda neste capítulo, são discutidos os resultados obtidos, os esperados e não
esperados.
O relatório, finda com as Considerações Finais, aqui analisamos, criticamente, os
resultados obtidos e a implicação dos mesmos, falamos do impacto que a intervenção teve a
nível pessoal, institucional e a nível de conhecimento na área de especialização. Estão, ainda,
presentes a Bibliografia Referenciada e os Anexos/Apêndices.
3
Capítulo I - Enquadramento
Contextual do Estágio
4
5
1. Integração no contexto de estágio
A escolha da área na qual queremos desenvolver o nosso trabalho enquanto educadores
nem sempre é rápida e linear. Num momento anterior ao ingresso no Mestrado em Educação,
área de especialização em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária, já havia sido
desenvolvido algum trabalho com idosos, a nível particular. No final do primeiro ano de mestrado
tivemos de optar por seguir com este público ou avançar para um outro com caraterísticas
diferentes, que exigiam, portanto, um acompanhamento e intervenção também diferentes.
Surgiu, então, por parte da coordenação do mestrado, a oportunidade de trabalhar no CSPMJS,
que tinha demonstrado interesse em acolher alguém interessado em realizar estágio numa das
suas valências.
No decorrer da primeira reunião com a diretora técnica da instituição, foram-nos
apresentadas as várias respostas sociais que esta oferece, bem como o modo de operar em
cada uma. Dada a minha formação inicial - Educação Básica - a primeira proposta foi a de
apresentar um projeto que apoiasse as crianças que frequentam o ATL da instituição, proposta
que foi recusada por incompatibilidade de horários. A segunda proposta, feita por nós, dizia
respeito à intervenção no GAAS, com a população beneficiária de rendimento social de inserção,
que também não foi possível pôr em prática, pois a Segurança Social não permite a
permanência de estagiários nesta valência, por se tratar de casos que exigem sigilo e uma forma
de atuar com alguma experiência.
Decidimos, então, intervir junto da população idosa, sendo que a instituição sugeriu a
valência de serviço de apoio domiciliário (SAD) e nós propusemos a valência de centro de dia
(CD) também. A partir daqui iniciou-se, então, a interação com o público alvo, dando-se início ao
estágio.
A etapa de estágio é talvez, senão, com toda a certeza, a mais importante no ciclo de
estudos, tanto a nível pessoal como a nível profissional. É a fase em que construímos os
alicerces de uma carreira futura, aprendendo a ser e a não ser, de uma determinada forma. É a
hora de mostrar o que aprendemos e o que somos capazes de fazer com isso. É, também, hora
de aprender ainda mais, pois, recordando o conceito de aprendizagem ao longo da vida e de
aprendizagem em comunidade, aprendemos durante a vida toda e com os outros. Os "outros"
profissionais, mas também os "outros" idosos ou os "outros" menos idosos que da nossa
intervenção necessitam. É, então, hora de mostrar o que valemos.
6
2 - Caraterização do contexto de estágio
2.1- Enquadramento histórico, missão e valores institucionais
O Centro Social Padre Manuel Joaquim de Sousa (CSPMJS), cuja denominação se
encontra em fase de mudança para Centro Social das Taipas, é uma Instituição Particular de
Solidariedade Social1, sem fins lucrativos, sita à rua Padre Manuel Silva Gonçalves, pertencente à
freguesia de Caldelas, vila de Caldas das Taipas, concelho de Guimarães. Caldas das Taipas
equivale, territorialmente, à freguesia de Caldelas, tem uma área de 2.72 Km², uma população
total de 5732 habitantes e 1958 famílias2. As atividades económicas que nela predominam são a
cutelaria e o termalismo.
Para uma melhor compreensão do surgimento do CSPMJS nesta comunidade, é
necessário referir alguns momentos importantes da história desta instituição. A Associação para
Jardim Infantil de Caldas das Taipas, em 1970, foi a primeira a dar o seu contributo aos
habitantes da freguesia, prestando o serviço de jardim de infância. Mais tarde, em 1984, esta
passou a I.P.S.S., sendo, assim, reconhecida como organização de utilidade pública. Esta deu
inicio à sua atividade em instalações alugadas.Com o objetivo de dar resposta aos problemas
sociais, através da criação de infraestruturas socioeducativas, a associação, em 1998, integrou
um projeto desenvolvido pelo, então, presidente da junta, Engenheiro Carlos Manuel Remísio
Dias de Castro, em homenagem e reconhecimento ao Padre Manuel Joaquim de Sousa, que
visava a construção de um Centro Social, dando origem ao nome deste. No ano de 1999, deu-se
inicio à construção de um centro de convívio e do SAD. O centro de convívio rapidamente passou
a desempenhar funções de CD, uma vez que os utentes careciam de cuidados da vida diária a
nível da alimentação e higiene. Em 2002, foi, então, construído um CD, um jardim de infância e
um A.T.L.
Nesta medida, o CSPMJS oferece à comunidade seis respostas sociais: creche, jardim
de infância, A.T.L., CD, SAD e lar. Além destas valências, o CSPMJS presta, também, serviços de
GAAS (Gabinete de Atendimento e Acompanhamento Social para os beneficiários do RSI), de
1 IPSS "São instituições constituídas por iniciativa de particulares, sem finalidade lucrativa, com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça entre os indivíduos, que não sejam administradas pelo Estado ou por um corpo autárquico, para prosseguir, entre outros, os seguintes objetivos:
Apoio à família Proteção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de
capacidade para o trabalho
Promoção e proteção da saúde, nomeadamente através da prestação de cuidados de medicina preventiva, curativa e de reabilitação Educação e formação profissional dos cidadãos Resolução dos problemas habitacionais das populações."
Informação retirada de http://www4.seg-social.pt/ipss, a 24.02.2015 2Censos 2011, informação retirada de http://www.caldasdastaipas.com/index.html, consultado em 28.10.2014
7
GIP(Gabinete de Inserção Profissional) e, ainda, de acompanhamento quinzenal dos beneficiários
do subsídio de desemprego.
O CSPMJS, dispõe de vários técnicos superiores e auxiliares, que trabalham,
diariamente, com e para uma mesma missão: o amparo de crianças e jovens, o apoio a famílias,
a proteção dos cidadãos idosos e com invalidez em todas as conjunturas de falta ou diminuição
de meios de subsistência ou incapacidade para desenvolver atividades laborais. Esta instituição
propõe-se, ainda, apresentar um serviço tão qualificado e certificado quanto possível, tendo em
vista a satisfação das necessidades dos utentes e respetiva família, bem como responder a
novas carências que surjam no meio envolvente, através da incorporação de novas valências na
organização.
2.2 - Valências do CSPMJS e respetivos objetivos
A creche engloba 1 berçário para 9 crianças; a sala de 1 ano, para 13 crianças e a sala
dos 2 anos, com capacidade para 18 crianças. O jardim de infância detém 75 vagas
distribuídas, equitativamente, por 3 salas: sala dos 3 anos, sala dos 4 anos e sala dos 5 anos. O
A.T.L. tem capacidade para acolher 40 crianças. São objetivos destas valências 1) oferecer um
atendimento individualizado às crianças e um ambiente de segurança afetiva e física que
contribua para o seu desenvolvimento integral, 2) promover a ocupação dos tempos livres das
crianças de forma criativa e formativa, 3) desenvolver a comunicação e a criatividade através de
atividades artísticas e culturais, 4) incentivar a um espírito de aceitação dos deveres e direitos de
cidadania e, finalmente, 5) a exploração de atividades não escolares variadas, de âmbito cultural,
artístico, afetivo e motor.
O lar, por sua vez, pode acolher até 60 idosos, que se apresentem em risco de perda ou
já estão em perda efetiva de independência. Os objetivos desta resposta social são: prestação de
cuidados básicos de vida como higiene, alimentação, alojamento, assistência em saúde,
acompanhamento psicossocial, participação em atividades ludico-recreativas.
No que concerne aos serviços de GAAS e GIP, estes apresentam-se como uma medida
de luta contra a pobreza, que afiança aos seus usuários e agregados familiares recursos que
contribuem para a satisfação das suas necessidades mínimas e para o favorecimento de uma
gradual inserção social e profissional e, ainda, como um serviço que visa amparar jovens e
8
adultos desempregados na definição ou desenvolvimento do seu percurso de inserção ou
reinserção no mercado de trabalho, respetivamente.
O GAAS possui, ainda, um balcão de apresentação quinzenal dos beneficiários do
subsídio de desemprego, através de uma parceria com o IEFP. Este serviço de atendimento a
desempregados tem como finalidade estabelecer os princípios gerais do envolvimento e da
cooperação entre o IEFP e o CSPMJS, quer ao nível do desenvolvimento de ações conjuntas no
âmbito do acompanhamento dos utentes beneficiários de RSI, nomeadamente, o cumprimento
do dever de apresentação quinzenal, quer também no sentido de incentivar e proporcionar o
desenvolvimento de medidas de apoio à procura ativa de emprego e de melhoria das condições
de empregabilidade, tendo assim em vista a reinserção do utente, tão rápida quanto possível, no
meio laboral.
O CD, com lotação para 25 utentes, é uma resposta social que oferece um conjunto de
serviços que contribuem para a manutenção dos idosos no seu ambiente sociofamiliar. Consiste
numa ajuda direta aos utentes que, de alguma forma, carecem de cuidados de terceiros, por
risco ou perda efetiva de independência, e indireta à família destes. Esta valência tem como
objetivos: a prestação de serviços que satisfaçam as necessidades básicas de higiene e
alimentação; convívio e ocupação; tratamento de roupas e transporte; o acompanhamento
psicossocial; a fomentação de relações interpessoais entre idosos e intergeracionais; a promoção
de comportamentos autónomos nos utentes, bem como, ainda, evitar o isolamento do idoso. A
valência de centro de dia funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, encerrando apenas
em feriados e nos dias estipulados no regulamento da instituição, a saber: 24, 26 e 31 de
Dezembro, dia de Carnaval e segunda-feira de Páscoa. Durante a implementação do projeto, a
sua lotação, rondou sempre os 20 ou 23 utentes, devido a várias condicionantes como a morte,
o internamento ou doença. Assim, na maior parte da intervenção, 20 era o número de
elementos que constituía a população do CD, sendo que 7 eram homens e 13 mulheres, com
idades entre os 50 e os 88anos, 5 deles solteiros, 1 casado e viúvos os restantes.
O nível de autonomia destes utentes variava entre a dependência de baixo grau e
dependência total, apresentando a maioria uma dependência moderada. Esta classificação tem
por base os vários condicionalismos a nível de saúde que afetam estes utentes.
A proveniência dos idosos é da Vila de Caldas das Taipas, onde se situa a instituição,
principalmente, das seguintes freguesias circundantes: São Martinho de Sande, Santa Cristina
de Longos, São Cláudio de Barco e Balazar. A estes cidadãos são oferecidos serviços de
9
alimentação, higiene pessoal, transporte, cuidados com a imagem e vestuário, cuidados de
saúde, apoio psicossocial e, ainda, atividades de convívio e de animação sociocultural.
Finalmente, o SAD, com disponibilidade para 25 pessoas, presta um serviço
individualizado e personalizado aos utentes e famílias, em situação de doença, deficiência e
perda de autonomia. Contribuir para a melhoria de qualidade de vida dos utentes e suas
famílias, certificando a satisfação de necessidades básicas; proporcionar acompanhamento
psicossocial aos mesmos, de forma a cooperar com o seu bem estar emocional e a sua
integração social; prestar cuidados de saúde, prevenir o isolamento do utente e a realização de
atividades sócio-recreativas com o mesmo, são os objetivos desta valência. Esta valência, que
deveria acompanhar, teoricamente, apenas 25 idosos e/ou famílias, alargou este número para
37. Destes cidadãos, fazem parte 16 homens e 19 mulheres, com idades compreendidas entre
os 26 - caso isolado por motivo de dependência total e falta de disponibilidade familiar -e os 95
anos, na sua maioria viúvos ou solteiros, embora também existam vários casais a requerer este
serviço. São oriundos de Caldas das Taipas e das freguesias envolventes, acima referidas.
Geralmente, são requeridos vários serviços: alimentação, higiene pessoal e habitacional,
acompanhamento a consultas médicas, entre outros. A doença ou incapacidade física moderada
ou total, são os principais motivos que os fizeram recorrer à instituição. Há, também, aqueles
que, tendo uma boa retaguarda familiar, dispensam alguns serviços, nomeadamente, o
acompanhamento a consultas médicas e a higiene habitacional.
Em anexo encontram-se os organogramas de CD e SAD e o de funcionamento geral da
instituição. (Anexo 1 e 2)
2.3 Recursos
2.3.1 Recursos físicos
O CSPMJS ocupa 3 edifícios: o primeiro é destinado à creche, jardim de infância, A.T.L.,
aos serviços administrativos e à cozinha; o segundo engloba o serviço de CD, o GAAS e o GIP;
por fim, o terceiro é o edifício do lar Alcide Felgueiras. O primeiro edifício dispõe de um parque
de estacionamento público e de outro privado, bem como de um jardim, nas traseiras, onde as
crianças fazem algumas atividades e brincam. O segundo edifício partilha os parques de
estacionamento com o primeiro e engloba ainda um pequeno espaço com terraço onde os
idosos caminham e se sentam a conversar. O terceiro edifício, referente ao lar, tem também um
grande espaço exterior que se divide em estacionamento e jardim.
10
Quanto ao espaço interior de cada edifício, no primeiro, a creche está preparada para
receber qualquer criança na faixa etária dos 4 aos 36 meses, distribuídos por 3 salas: berçário
(4-12 meses) para 8 crianças; sala da marcha (12-24 meses) para 10 crianças e a sala dos 2
anos (24-36 meses) para 15 crianças. O horário de funcionamento da creche é das 7:30h até ás
19h.
O jardim - de - infância tem 3 salas de atividades: sala dos 3, dos 4 e dos 5 anos, com
lotação para 25 crianças cada uma. O horário de funcionamento do jardim-de-infância é das
7:30h até ás 19h.
O A.T.L. funciona em 2 salas e tem capacidade máxima para 40 crianças com idades
compreendidas entre os 6 e os 10 anos, em diferentes turnos. A instituição oferece 3 tipos de
A.T.L.: o A.T.L. designado informalmente na instituição como “A.T.L. pontas”, que recebe as
crianças das 7h30 até às 9h00 e das 17h30 às 19h; o A.T.L. da manhã, que recebe as crianças
das 7h30 ate às 12h30; o A.T.L. da tarde, que recebe as crianças das 13h30 ate às 19h. Ainda
no primeiro edifício, encontram-se a secretaria e os serviços administrativos que ocupam uma e
duas salas, respetivamente. E, por fim, existem 2 refeitórios, um para a creche e outro para o
jardim-de-infância, 3 casas de banho, 2 para as crianças e 1 para os trabalhadores, 2 salas de
arrumos, 1 sala de informática para o jardim-de-infância e A.T.L. e ainda a cozinha, com 2 salas
de arrumos, 1 dispensa e o espaço principal.
No que concerne à estrutura física do segundo edifício, o centro de dia engloba 1
refeitório, 1 vestiário, 1 lavandaria, 1 gabinete médico, 2 casas de banho com chuveiros e
adaptadas a incapacidades para os idosos e 1 para os funcionários, 1 sala de convívio, 1 sala
lúdico-recreativa, 1 videoteca, 1 zona de beleza, utilizada como cabeleireiro, 1 ginásio e ainda 1
gabinete.
Quanto ao GAAS, dispõe de 1 gabinete, 1 ginásio que serve também o CD e o jardim-de-
infância, 1 casa de banho para funcionários e 1 refeitório que partilha com o CD, bem como 1
balcão de atendimento que divide com o GIP.O atendimento é, algumas vezes, feito de forma
descentralizada, de forma a que um maior número de utentes tenha acesso. Assim, os utentes
das freguesias mais próximas a Caldas das Taipas, com sendo, Sande S. Martinho, Sande S.
Lourenço, Sande S. Clemente, Santa Cristina de Longos e Balazar, são atendidos na instituição,
às quintas – feiras (09:30h – 12h); os utentes das restantes freguesias - S. Cláudio de Barco,
Vila Nova Sande, S. João de Ponte, Corvite, Santa Eufémia de Prazins e Santo Tirso de Prazins -
11
são atendidos no Centro comunitário D. Manuel Monteiro de Castro, na freguesia de Santa
Eufémia de Prazins, às quintas-feiras (14:30h – 16:30h).
O GIP, por sua vez, ocupa 1 sala para atendimento ao balcão, 1 casa de banho e,
ainda, o ginásio que partilha com o GAAS, CD e jardim-de-infância.
Por último, o terceiro edifício, que diz respeito ao lar Alcide Felgueiras, divide-se em rés-
do-chão, primeiro e segundo andar. No rés-do-chão, encontram-se os serviços administrativos
divididos em 2 salas, a receção com sala de espera, a lavandaria, a cozinha, o refeitório, 3 casas
de banho, sendo que 2 são para os utentes e 1para os trabalhadores, 1 sala de estar e 1 zona
de lazer. No primeiro e segundo andar, com acesso pelas escadas e elevador, existem quartos
com casa de banho privativa, 1 casa de banho comum e 1 sala de convívio, em cada andar.
Existe ainda um espaço exterior, de jardim com bancos.
2.3.2 Recursos materiais
A creche tem o berçário equipado com os berços necessários para a sua capacidade e
as duas salas para as demais crianças estão equipadas com mesas, cadeiras e materiais lúdicos
próprios para aquela faixa etária. O refeitório está equipado com cadeiras de mesa (ou "cadeiras
de papa alta") próprias para crianças de tenra idade. O jardim-de-infância e A.T.L. têm também
as suas salas equipadas com mesas, cadeiras e materiais lúdicos; o refeitório destas valências
está equipado com cadeiras e mesas de tamanho superior e a sala de informática com mesas,
cadeiras e computadores. A cozinha está devidamente equipada com fogão industrial, lavatórios,
máquina de lavar a loiça, frigorífico, arca frigorífica, panelas, talheres, marmitas, cestas e os
demais utensílios necessários ao trabalho que ali se desenvolve. Os serviços administrativos e a
secretaria estão equipados com secretárias, cadeiras, móveis de arquivo, fotocopiadoras,
computadores, impressoras e telefones.
O CD tem, na sua lavandaria, 1 máquina de lavar, 1 de secar, 1 tanque, vários
estendais, 1 mesa para colocar roupa, tábua e ferro de engomar e, ainda, estantes divididas por
utente com a roupa de cada um deles. O gabinete médico tem 1 cama articulada, 1 armário
para guardar a medicação, a caixa de primeiros socorros e os instrumentos para medir a tensão
e a glicemia. O gabinete da assistente social e da diretora de serviços gerais está equipado com
2 mesas, 2 cadeiras, 1 computador, 1 armário para arquivo e 1 impressora. O refeitório está
equipado com mesas, cadeiras, 1 armário, 1 frigorífico, 1 lavatório e 1 máquina de lavar loiça,
12
para além de pratos, talheres, copos e uma cafeteira elétrica. As salas de convívio e lúdico-
recreativa têm cadeiras e mesas, 1 televisão cada, sofás e cadeirões, 1 rádio, bem como
materiais lúdicos. O ginásio é um espaço amplo, com uma parede em espelho, tendo no seu
interior materiais de ginástica como bolas de andebol, basquetebol e ténis, raquetes, patins em
linha, cesto de basquetebol, arcos, cones e 3 mesas pequenas. A videoteca, neste momento,
funciona como sala de arrumos de materiais de atividades já realizadas. O espaço dedicado a
cuidados de beleza tem 1 lavatório para cabelos, 1 secador, várias escovas, 2 máquinas de
massagem para pés, utensílios para cuidar das unhas, tintas para o cabelo, 1 espelho e 1
armário. Por fim, o vestiário junta cacifos para as funcionárias e um varão para pendurarem as
fardas no final do trabalho.
O GAAS tem como recursos materiais 1 gabinete com 4 secretárias, 4 cadeiras, 4
computadores, 1 impressora, 1 móvel para arquivo e um espaço para arrumar materiais
utilizados em atividades. O GIP tem ao seu dispor uma sala com balcão de atendimento para
duas funcionárias, 2 computadores, 2 secretárias e 2 cadeiras.
Por sua vez, o lar, na sua lavandaria, tem 1 máquina de secar e outra de lavar, ambas
industriais; na receção há 3 sofás, 1 máquina de café e outra de bebidas, 2 computadores, 1
balcão de atendimento e 1 impressora. O refeitório apresenta-se com mesas e cadeiras para as
refeições; as salas de estar têm3 televisões, e vários cadeirões; a zona de lazer tem materiais
lúdicos e 1 computador; as casas de banho estão adaptadas às necessidades dos utentes. Os
quartos têm duas camas articuladas, armários para as roupas e mesinhas de cabeceira.
Finalmente, fazemos referência às viaturas de que dispõe toda a instituição: 2 carrinhas
de 9 lugares para transporte de crianças e idosos, 2 carrinhas de 2 lugares para o SAD e 1 carro
de 5 lugares utilizado para visitas externas.
2.3.3 Recursos humanos
Para assegurar o bom funcionamento de todo o trabalho, existe uma vasta equipa
técnica.
Na creche, a equipa de trabalho é constituída por 3 educadoras de infância, 3 auxiliares
de ação educativa e 1 trabalhadora auxiliar. A equipa pedagógica do jardim-de-infância é
constituída por 3 educadoras de infância e 3 auxiliares de ação educativa. Quanto ao A.T.L., este
é assegurado por 2 professores.
13
O CD engloba várias auxiliares de ação direta, sendo que uma cuida a parte da
animação sociocultural, uma trabalhadora auxiliar e uma assistente social. Do SAD fazem parte
duas equipas compostas, cada uma, por duas auxiliares de ação direta e a mesma assistente
social do CD a coordenar as mesmas.
A equipa técnica do GAAS e GIP, por seu turno, é constituída por 1 técnico superior de
serviço social, 1 técnico superior de educação social e 3 auxiliares de ação direta.
Quer para a valência de CD, quer para o SAD, creche, jardim-de-infância e ATL,
trabalham 1cozinheiro e 3 auxiliares de cozinha.
Há, ainda, uma rede de voluntários para atividades religiosas, 1 médica voluntária, 1
dietista, 1 psicóloga e 1 terapeuta da fala.
Por fim, referentemente, ao lar Alcides Felgueiras, os recursos humanos englobam 1
assistente social, várias auxiliares de ação direta e trabalhadores auxiliares, cozinheira e
ajudantes de cozinha, 1 psicóloga, 2 enfermeiros e 1 animadora sociocultural3.
Os serviços acima referidos estão, todos eles, a ser coordenados por uma diretora
técnica, um diretor administrativo e uma diretora de serviços gerais.
3 - Caraterização do público - alvo
As respostas sociais de CD e SAD, abarcam, em conjunto, 55 pessoas. Inicialmente, o
projeto foi construído com 18delas, sendo que 10 respeitavam ao CD e os 8 restantes faziam
parte do SAD. Os demais utentes destas valências, devido a algumas condicionantes a nível de
personalidade e patologias severas, que determinam o seu estado físico e mental, não seriam
incluídos na população-alvo do projeto. Porém, importa dizer, quanto à população do CD, que
todos foram convidados a participar em grande parte das atividades. No entanto, por motivos
intrínsecos a esta faixa etária -- falecimento, internamento de longa duração, doença prolongada -
- ou por opção de se excluir do grupo, por parte dos próprios idosos a meio da implementação
do projeto ou mesmo antes desta começar, houve necessidade de reconstruir o grupo de
trabalho. Estas alterações ocorreram, essencialmente, no grupo do SAD, pois, houve quem
alegasse que ainda se sentia demasiado autónomo para fazer parte de um projeto desta
natureza, outros que adoeceram inviabilizando a participação no projeto e, ainda, um terceiro
3Não foi fácil caraterizar a valência Lar quanto aos recursos humanos existentes pois, dada a fase inicial em que se encontrava a sua atividade, o
número de colaboradores ia variando em todas as áreas de intervenção.
14
8
6
Sexo dos Utentes
Mulheres HomensTotal: 14 pessoas
elemento, que faria parte do projeto em conjunto com a esposa, raramente o encontrávamos em
casa. Quanto ao público do CD, houve uma morte e foi incorporado um novo elemento que
ingressou na instituição no final do mês de janeiro.
Assim, a partir do mês acima referido, o nosso grupo de trabalho passou a ser
constituído por 4 idosos do SAD e 10 do CD. Sendo que, no apoio domiciliário colaboraram 3
mulheres e 1 homem e no centro de dia, 5 homens e 5 mulheres.
Deste modo, o público-alvo passou a englobar indivíduos com idades compreendidas
entre os 50 e os 87 anos, nele existindo 8 do sexo feminino e 6 do sexo masculino. Apesar de
algum deste público nunca ter exercido qualquer atividade laboral, a sua maioria desempenhou
funções na agricultura, cutelaria, indústria têxtil, serviços de limpeza, serviços de tecedeira e
auxiliares de ação educativa.
No que respeita à alfabetização, aferiu-se que parte do público-alvo é analfabeto,
sabendo escrever, em alguns casos, apenas o nome. Parte da população alfabetizada, encontra-
se a regredir nessa aprendizagem, sendo que, muitos deles já lêem e escrevem com muita
dificuldade.
Gráfico 1 - Sexo dos utentes das Duas valências
15
Constatamos assim, estar perante analfabetismo funcional e analfabetismo regressivo. O
analfabetismo funcional é entendido pela UNESCO, para além do não saber ler, escrever e
contar, como “a incapacidade para dominar as competências e os meios necessários à inserção
profissional, à vida social e familiar e à participação activa na vida da sociedade e, isso, não
obstante os saberes culturais herdados da tradição e da experiência”4. Por sua vez, o
analfabetismo regressivo, pode ser observado em cidadãos que frequentaram a escola, ou
tiveram, no passado, contacto com alguma outra via de ensino, aprendendo a ler, escrever e
contar, mas que não efetivaram, verdadeiramente, essa aprendizagem e com o passar do tempo
foram perdendo esses conhecimentos.
Relativamente, às condicionantes do dia a dia do público-alvo, verificou-se que eram
várias as dependências mentais e físicas que dificultavam a autonomia deste. As patologias iam
4 UNESCO, Quarta Conferência Internacional da UNESCO sobre a Educação de Adultos - Recomendações, Lisboa, Ministério da educação e
Cultura, Direcção-Geral da educação de Adultos, Pensar Educação Nº 14, 1986, pp: 45
Grau de Alfabetização da População - Alvo Centro de Dia Serviço de Apoio ao Domicílio
Alfabetizados 5 3
Analfabetos 5 1
Total 10 4
Tabela 1 - Número de Alfabetizados e Não Alfabetizado
3 2 3 614
50 aos60
60 aos70
70 aos80
80 aos90
Total
Idades dos Utentes do SAD e Centro de Dia
Idades dos Utentes do SAD e Centro de Dia
5
2 1 2 1 1 2
Profissões dos Utentes
Profissões dos Utentes
Gráfico 2 - Idades dos Utentes das duas Valências Gráfico 3 - Profissões dos Utentes das Duas Valências
16
desde simples dificuldades auditivas e visuais, diabetes, hipertensão, obesidade, esquizofrenia,
epilepsia, insuficiências respiratórias e cardíacas, Alzheimer, a demências pós-AVC e depressão.
Estas condicionavam a vida dos idosos ao nível mental, desde estados de ânimo inconstantes,
confusão, falta de lucidez, atrofio cognitivo e, também, a nível físico - dificuldade na locomoção
de forma autónoma e em efetuar autocuidados básicos da vida diária.
Quanto ao grau de dependência, a instituição não tinha por norma aplicar um
instrumento de avaliação, embora existam escalas5 (Índice de Barthel e Escala de Lawton e
Brody) para apurar o grau de autonomia/dependência, sendo que, a classificação utilizada varia
de independente, dependente a muito dependente. Assim, de acordo com as técnicas da
instituição, sabemos que, a nível de locomoção e de autocuidados, grande parte destes utentes
apresentava independência e dependência moderada. Muitos eram os que se moviam sem
qualquer apoio humano ou material, embora alguns necessitassem de cadeiras de rodas,
andarilhos, bengalas ou do apoio humano.
O motivo que levou a maioria dos idosos a ingressar no centro dia foi a solidão que os
acompanhava em casa pois, todos vivem sozinhos ou com os filhos, estes que devido às
5 Ver anexo 3.
Doenças da População-Alvo N.º de Utentes
Demências pós- AVC 4
Diabetes 8
Hipertensão 3
Obesidade 2
Doença de Crohn 1
Dificuldades auditivas e visuais severas 2
Esquizofrenia 1
Epilepsia 1
Doença cardíaca 3
Défice cognitivo 4
Alzheimer 1
Depressão 1
Tabela 2 - Doenças que afetam a população - alvo
17
profissões não tinham outra solução se não encaminhá-los para esta resposta social. Se não
fosse deste modo, ficariam sozinhos em casa, faltando-lhes quem lhes fizesse companhia, quem
lhes administrasse a medicação, tratasse da higiene pessoal e da alimentação, esta que, para
doentes hipertensos e diabéticos, por exemplo, tem de ser controlada ao máximo.
No que concerne à nossa perceção sobre a amostra de população do CD, a fase de
diagnóstico - que na nossa opinião se encontra diluída ao longo de toda a intervenção - foi
crucial. A observação direta, participante e não participante; as conversas, formais e informais; a
entrevista semiestruturada e a análise dos vários documentos acerca dos idosos, aliados, foram
de grande valia para percebermos quem, realmente, tínhamos em mãos. Manias, gostos,
preferências, aptidões, crenças, hábitos, pequenos traços da personalidade de cada um,
saltaram à vista dos nossos olhos e só assim chegamos junto deles e em conjunto delineamos o
caminho a seguir.
Percebemos que grande parte dos momentos, que deviam ser de convívio na sala de
estar, eram passados em silêncio, a ver televisão ou a jogar às cartas -- "jogo de homens" --,
diziam as senhoras, tendência que conseguimos modificar. Todos os dias havia uma atividade
proposta pelo centro e, era nesses momentos que eles se revelavam, conversando, mostrando
agrado ou desagrado pelo que faziam. Havia quem se negasse a fazer as atividades e só depois
de algum tempo de motivação queria participar. A principal razão que davam para se recusar era
não saber ler nem escrever, para os idosos ser analfabeto é sinónimo de não poder participar
em nada que não fosse o ofício que aprenderam durante a vida e onde sempre trabalharam.
Contornar este obstáculo foi um dos principais objetivos do projeto que construímos, quisemos
que eles se sentissem capazes apesar das dificuldades.
A população do SAD apresenta caraterísticas um pouco mais complexas. São pessoas
com alguma dependência física e que apresentam doenças e mazelas típicas desta faixa etária.
No entanto, são indivíduos que se sentem mais autónomos, negando a institucionalização, com
necessidades físicas, intelectuais e cognitivas, bastante acentuadas. Ainda que sozinhas em casa
o dia inteiro, apesar de muitos terem uma boa retaguarda familiar, mas que por motivos
profissionais está ausente durante o dia. O ceio familiar e a harmonia e equilíbrio que este traz
ao indivíduo idoso é da maior importância, "não há qualquer dúvida de que a permanência do
idoso no seu meio familiar e social, em constante interação com as pessoas que lhe são
próximas, é considerado o lugar ideal para qualquer pessoa que atinja a velhice". (cit.
18
Pimentel,2001, in Gonçalves, 2013, p.20) Será, portanto, uma das funções desta valência,
retardar a institucionalização.
4 - Problemática da intervenção/investigação e sua relevância
O envelhecimento é um processo natural da condição humana, que acarreta mudanças
a vários níveis, biológicos, fisiológicos, sociais, entre outros. Tal processo, apesar de ocorrer em
todo o ser humano, tem as suas particularidades de pessoa para pessoa e depende de vários
fatores. A genética tem muito a ver com o processo de envelhecimento de cada individuo,
porém, não é o único fator que o influencia. O estilo de vida que a pessoa teve e tem, quanto à
prática de exercício, à alimentação que faz, o (não)consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou
outras substâncias nocivas ao organismo humano, entre outros, são também condicionantes do
envelhecer.
Nesta etapa da vida, é frequente que alguns traços da personalidade se intensifiquem,
que haja um declínio nas capacidades cognitivas e motoras, levando a que os idosos sintam
mais dificuldade em se expressar, em executar tarefas do dia a dia, em memorizar, em se
concentrar, em realizar movimentos e em adaptar-se, em termos psicológicos, à nova condição.
É comum que, na terceira e quarta idade, comecem, ainda, a aparecer ou a acentuar-se
algumas patologias inerentes ao avançar da idade, o que faz com que muitas destas pessoas
deixem de ser plenamente autónomas e passem a necessitar de assistência para realizar
pequenas tarefas. Todas estas consequências levam a olhar o envelhecimento de forma
pessimista e intimidante; porém, este deve também ser visto como algo positivo.
Esta é a idade da sabedoria e o momento propício à reestruturação da forma como se
olha o ambiente que nos envolve e o primeiro passo para o envelhecimento ativo, autónomo e
participativo.
Nesta medida, a realidade em que se vive chama a atenção para a promoção do
envelhecimento ativo, que a Organização Mundial de Saúde definiu como, "um processo de
optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a
qualidade de vida das pessoas que envelhecem" (cit. Quintela, 2011 in Ribeiro & Paúl, 2011, p.
XIV).
O envelhecimento ativo é um envelhecimento saudável, participativo e o mais autónomo
possível, ocorrendo sempre em sociedade. Este depende de cada sujeito e da dedicação que
19
investe neste processo. É um envelhecimento de qualidade, "estendendo-se, para além da
saúde, a aspectos socioeconómicos, psicológicos e ambientais"(Ribeiro & Paúl, 2011, p.1).
Para que tal seja possível, foi e é necessário criar programas e infraestruturas que
respondam às necessidades da população idosa. Em resposta a isto, surge a Gerontologia
Educativa, um ramo da Gerontologia que se centra "na análise das mudanças psicossociais,
afectivas e cognitivas que ocorrem nas últimas fases do ciclo vital, para a partir daí poder
potenciar os aspectos positivos dessas mudanças e mesmo se possível diminuir os seus efeitos
negativos "(cit. Requejo & Cabral, 2007 in Jacob & Fernandes, 2011, p.23).
A Educação de Adultos e a Intervenção Comunitária surgem também, como importantes
âncoras deste projeto. Para Antunes, partindo da ideia de " educação de adultos entendida como
processo de enriquecimento integral de todas as dimensões do ser humano, a intervenção
comunitária define-se, também ela, no essencial, pela sua aposta no desenvolvimento de
pessoas e comunidades, constituindo-se de projectos, cuja finalidade é a transformação
progressiva de formas de vida mais deficitárias" (Antunes, 2007, p.12).
Também, a Educação Permanente e ao Longo da Vida, teve um lugar de destaque,
assente na ideia de que a aprendizagem não se esgota com a idade e de que aprendemos
durante toda a vida -- desde o nascimento à morte -- a UNESCO entende que esta engloba " a
educação formal e a educação permanente, a educação não - formal e toda a gama de
possibilidades de aprendizagem informal e ocasional existente numa sociedade" (cit. UNESCO,
1997, p.9 in Antunes, 2007, p.19)
Os conceitos e linhas orientadoras que até aqui propusemos estão contemplados no
plano de estudos do Mestrado em Educação, área de especialização em Educação de Adultos e
Intervenção Comunitária. São objetivos deste, "1) fornecer um quadro teórico-conceptual
operacionalizado ao nível dos princípios, dos modelos e das manifestações temporais da
educação de adultos e intervenção comunitária; 2) proporcionar o conhecimento de um conjunto
de métodos, técnicas e estratégias aplicáveis no campo da educação de adultos e intervenção
comunitária; 3) possibilitar uma adaptação operatória às exigências de mediação e avaliação em
contextos profissionais de educação de adultos e intervenção comunitária; 4) dinamizar
processos de aplicação prática dos conhecimentos adquiridos em situações concretas de
educação de adultos, animação e intervenção comunitária; e 5) desenvolver competências de
investigação no âmbito da educação de adultos e intervenção comunitária" 6.
6http://www.ie.uminho.pt/Default.aspx?tabid=7&pageid=134&lang=pt-PT site consultado a 25.05.2015
20
Seguindo esta linha, foi objetivo desta intervenção, desenvolver um trabalho de
transformação e recriação dos idosos e da comunidade onde estão inseridos, com vista a
reconhecer e potenciar as capacidades adquiridas nas diferentes fases da vida, de modo a
tornar o idoso mais ativo e envolvido na gestão de si próprio e no que o rodeia.
Olhando os idosos institucionalizados, em concreto, estes que muitas vezes são os que
se encontram em maior situação de dependência, tanto física como emocional, concordamos
que, também nestes ambientes - lares, centros de dia, centros de convívio - e, numa perspetiva,
talvez mais ambiciosa, também no serviço de apoio domiciliário, é necessária a criação de
grupos de trabalho e de condições físicas e materiais que promovam o envelhecimento ativo a
partir de programas educativos.
Neste sentido, foi propósito deste projeto criar condições favoráveis e promotoras de tais
exigências. Ambicionou-se promover o envelhecimento ativo, combatendo o isolamento e a
exclusão social, incentivando a criação de laços afetivos, proporcionando momentos de partilha e
desenvolvimento de competências, interesses e capacidades, atendendo às peculiaridades de
cada utente. Pretendeu-se, ainda, criar um ambiente de participação ativa, de modo a, por um
lado, transformar a imagem depreciativa que existe em torno das instituições que apoiam os
idosos, a qual apresenta este tipo de organizações como locais que acolhem pessoas inúteis,
que funcionam como albergue antes do falecimento, e a, por outro lado, mudar a visão da
própria velhice como o desvanecer da vida, o ruir do ser humano enquanto cidadão ativo e o
momento em que a pessoa se torna desnecessária. Segundo Jacob, "uma das primeiras funções
do animador é fazer com que alguns dos idosos não se auto-excluam de viver, devido às ideias
pré-concebidas de que já não prestam para nada e que apenas lhes resta a morte"(Jacob, 2007,
p.35).
5 - Diagnóstico7
Para que este estágio faça sentido, tanto para quem o construiu, desde a estagiária ao
público-alvo, como para a instituição, foi necessário envolvermo-nos, de forma total, nas rotinas
desta comunidade, a fim de fazer um diagnóstico das carências que esta população apresenta,
dos interesses que cada um dos idosos demonstrou ter e que contribuiu para o sucesso do
desenvolvimento das atividades propostas, bem como para alcançar os objetivos a que todos nos
7Ver apêndice 1.
21
propusemos. Assim, esta foi a fase em que se analisou o ponto em que os intervenientes do
processo estavam e se definiu o ponto ao qual queríamos que eles chegassem. Para tal, foi
necessário conhecer as caraterísticas da população, do corpo profissional que compõe a
instituição e, ainda, os meios físicos de que dispúnhamos. Como refere Isabel Guerra, "o
diagnóstico deve considerar os diferentes actores envolvidos num projecto, as suas necessidades
específicas e as suas particularidades de funcionamento" (Guerra, 2002, p.134).
Nesta medida, primeiramente, recorremos à observação direta de toda a rotina que
envolve o CD, desde a chegada dos utentes à instituição até ao momento em que vão para as
suas casas. O mesmo aconteceu no SAD: inicialmente, houve acompanhamento das equipas a
casa dos utentes para conhecer o trabalho desenvolvido, através da observação direta e, mais
tarde, deu-se início às visitas a fim de propor a participação neste projeto e de conhecer com
mais pormenor este público e as suas necessidades.
Os primeiros dias, nas duas valências, foram de observação direta e participante (esta
esteve presente ao longo de toda a investigação/diagnóstico de necessidades) e conversas
informais, quer com o público, quer com as técnicas e auxiliares da instituição, com o intuito de
saber como é organizado o quotidiano da organização, que tipo de atividades são realizadas,
qual o contacto entre instituição e famílias e, também, para conhecer algumas particularidades
de cada cidadão. Assistimos e participamos, efetivamente, na higiene pessoal dos idosos, na sua
alimentação, na administração da medicação e controlo do açúcar no sangue, bem como, da
tensão arterial. Conhecimentos que consideramos uma mais valia do tempo de estágio. Esta foi
a forma que encontramos de conhecer ao pormenor a especificidade de cada indivíduo e o
contexto de intervenção social.
Numa segunda fase, deu-se início à consulta e análise documentais dos planos
individuais de cada utente, dos relatórios de apoio psicossocial, bem como das fichas clínicas,
(voltando a todos eles durante toda a intervenção, sempre que necessário), com a finalidade de
conhecer ao pormenor cada um deles a nível sociodemográfico, bem como as patologias que
apresentavam a nível físico e psicológico.
Além das muitas conversas informais que tiveram lugar em momentos de convívio e que
deram a conhecer muitos dos interesses dos idosos, os seus hábitos, gostos, vontades, receios,
foi, também, pertinente realizar uma entrevista semiestruturada a cada utente, complementando
a informação já recolhida e criando, assim, um momento de entreajuda (estagiária - público) no
qual os intervenientes usufruíssem de um fio condutor que permitisse chegar, em conjunto, às
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reais necessidades/gostos, aos aspetos a melhorar, ao tipo de atividades que seria de maior
interesse desenvolver, ao nível de satisfação com o serviço prestado, proporcionando-lhes um
momento de maior abertura.
Da utilização desta diversidade de métodos e técnicas de recolha de dados, surgiram as
informações fulcrais que nos permitiram começar a desenhar o nosso projeto. Assim, através
dos planos individuais soubemos qual a percentagem de analfabetismo e que tipo de
analfabetismo apresentavam, o que originou a implementação de atividades de aproximação à
leitura e à escrita. A partir da observação direta e participante constatamos que alguns utentes
com dificuldades de locomoção, principalmente utentes que sofreram um AVC, sentiam medo ao
caminhar, movendo-se apenas com cadeira de rodas, daqui tendo surgido o diagnóstico sobre a
necessidade de intervir com atividade física que estimulasse estes utentes a se moverem sem
ajuda ou apenas com auxilio de uma bengala, a fim de terem mais autonomia, de combaterem a
perda de movimentos e de estimularem o desenvolvimento motor.
Dos relatórios de apoio psicossocial e das fichas clínicas dos utentes, podemos retirar
informações como a necessidade de estimulação cognitiva em alguns utentes que apresentam
perda de memória e demência, também através destas fontes de informação, podemos perceber
quais as doenças que afetam os utentes e a partir daí desenvolver sessões de esclarecimento
sobre cuidados a ter na sua presença.
Da realização da entrevista semiestruturada resultaram, sobretudo, informações quanto
aos gostos e preferências do público-alvo. Constatou-se, no geral, que os utentes estavam
satisfeitos com os serviços e atividades promovidas pela instituição, mostrando preferência pelas
atividades e visitas religiosas. No entanto, no que concerne a atividades lúdico-recreativas,
também gostam de jogos de mesa (bingo e sueca, em particular), gostam de atividades de
culinária, de passear no parque da vila em dias de sol, de ir à feira, dos encontros
intergeracionais com as crianças, bem como, das visitas realizadas ao lar. Demonstraram, ainda,
interesse em ajudar na rotina da instituição, em particular na arrumação do refeitório e, ainda,
uma vontade enorme em aprender a ler e escrever, pelo menos o nome.
Concluímos, assim, que havia urgência em desenvolver um maior número de momentos
de estimulação cognitiva, sensorial e física, devido à situação física e mental em que todos eles
se encontravam. O propósito maior deste projeto, um envelhecimento bem sucedido, esteve
sempre presente, proporcionado através de atividades de animação sociocultural, que serviu
como um meio para atingir os objetivos propostos e nunca como um fim.
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Capítulo II - Enquadramento
teórico da problemática de
investigação/intervenção
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1 - Investigações e intervenções na área e na problemática de estágio
A fim de orientarmos o nosso trabalho, quer a nível prático como teórico, foi
imprescindível procurarmos, lermos e estudarmos livros, obras e teses anteriores à nossa, para,
com isso, alicerçarmos a nossa investigação/intervenção com informação que nos fosse útil ao
nível do contexto, do público-alvo e de toda a base teórica que sustenta a prática social.
No que concerne às teses, vários foram os bons trabalhos que encontramos na área. No
entanto, debruçamo-nos sobre três que nos pareceram mais adequados ao que tínhamos em
mente. Dois deles dizem respeito ao trabalho em CD e um ao trabalho desenvolvido no SAD,
tendo sido este último elaborado numa perspetiva, meramente, teórica.
Assim, o relatório de estágio intitulado "Dar mais vida à idade: a promoção de um
envelhecimento activo", (outubro de 2011, Universidade de Minho), reporta-se a uma
intervenção que teve lugar num centro social, na freguesia de Tamel, concelho de Barcelos,
tendo como população-alvo os idosos do CD e lar. A sua prática teve como objetivo final "
proporcionar actividades baseadas nos pressupostos principais de educação de adultos e as
suas vertentes educativas, tendo como intuito e finalidade a promoção de atividades lúdicas e
educativas, com vista a favorecer o desenvolvimento pessoal e social do público-alvo, de forma a
criar-se comportamentos de participação activa, autonomia e dinamismo" (Mota, 2011, p.2).
Para tal, a autora definiu como objetivos gerais: "fomentar a criatividade e imaginação nos
idosos; levar os idosos a criarem hábitos alimentares saudáveis; enaltecer as ocupações e
passatempos que os idosos mantinham; valorizar os saberes dos idosos; promover o
relacionamento interpessoal; dinamizar momentos culturais e religiosos; aliar os saberes
tradicionais aos saberes modernos; favorecer a manutenção das suas capacidades cognitivas e
intelectuais; favorecer a manutenção das suas capacidades físicas; promover dinâmicas
relacionadas com a expressão dramática" (Mota, 2011, pp.24 - 26).
Quanto ao paradigma e metodologia que sustenta o relatório, Mota fala em investigação-
ação e metodologia sobretudo qualitativa, apesar da quantitativa também estar presente ao
longo da intervenção/investigação. Como resultados, salienta-se o facto das atividades terem
sido realizadas com sucesso e o cumprimento dos objetivos delineados.
"Capacitação do idoso para a melhoria da sua qualidade de vida integral: o prazer de
viver, relacionando-se com o outro", (fevereiro de 2014, Universidade do Minho) é um relatório
sobre um estágio que teve como palco um centro social da Póvoa do Lanhoso, tendo como
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público a população idosa. Segundo a autora, o projeto "foi pensado para proporcionar ao idoso
bem-estar físico, psíquico e social, promovendo a sua autoestima, fazendo-o sentir-se parte
integrante de uma comunidade ativa e capaz" (Ferreira, 2014, p.1).
A fim de concretizar tal propósito, a autora definiu como objetivos gerais: "proporcionar e
capacitar os idosos para uma melhor qualidade de vida; criar entre os idosos um bom
relacionamento interpessoal e promover o desenvolvimento integral dos idosos" (Ferreira, 2014,
p.12).E, como objetivos específicos, os seguintes:
"estimular competências cognitivas, físicas e sociais; conceber e implementar atividades
que vão de encontro às necessidades e interesses dos idosos, estimulando-os a adquirir novas
aprendizagens; sensibilizar os idosos para a importância da sua participação ativa nas
atividades; assegurar aos idosos condições de bem-estar e o respeito pela dignidade humana;
valorizar as capacidades, conhecimentos, competências e cultura dos idosos, aumentando a sua
autoestima, autonomia e autoconfiança; proporcionar oportunidades de aquisição de novos
conhecimentos, nomeadamente no que respeite à saúde e à doença" (Ferreira, 2014, pp.12 -
13).
Também neste projeto foi utilizada a investigação-ação participativa, sendo a
metodologia sobretudo qualitativa, embora a quantitativa estivesse também presente. Quanto
aos resultados da investigação/intervenção, a autora fala em mudanças nos comportamentos e
atitudes, quer nos idosos, quer nos colaboradores da instituição, como também, nos familiares.
Com a implementação do projeto, os colaboradores desenvolveram o seu espírito de equipa e
mudaram a sua postura em relação aos idosos. No que respeita aos idosos, estes
desenvolveram comportamentos menos preconceituosos, tornaram-se mais ativos e
participativos.
Ao contrário das duas anteriores obras, a tese de Mestrado "Serviços de Apoio
Domiciliário para idosos no concelho da Covilhã: Percepção de Utentes" (junho de 2009,
Universidade da Beira Interior) não é sustentada por atividades realizadas no âmbito de uma
instituição. Este trabalho foi desenvolvido, com base em entrevistas semiestruturadas dirigidas a
sete idosos do concelho da Covilhã, beneficiários do SAD, quer de entidades públicas, quer
privadas, que partiu da seguinte questão: " Os Serviços de Apoio Domiciliário funcionam de
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modo a dar suporte às necessidades básicas quotidianas dos seus utentes idosos, promovendo
a autonomia e bem-estar?" (Cardona, 2009, p.1).
A partir desta questão, a autora pretendeu:
I. "Analisar como é que os utentes percepcionam os Serviços de Apoio Domiciliário;
II. Estudar de que modo é que o SAD funciona de modo a dar suporte às necessidades
básicas quotidianas dos seus utentes idosos, promovendo a autonomia e bem-estar;
III. Averiguar o grau de satisfação dos utentes no respeitante ao SAD do qual usufruem;
IV. Estudar o tipo de acompanhamento disponibilizado pelo SAD aos seus utentes;
V. Analisar as concepções dos utentes face aos custos do SAD"(Cardona, 2009, p.34).
Este foi, acima de tudo, um estudo qualitativo, que não envolveu manipulação de
variáveis nem tratamento experimental.
Assim, no momento das entrevistas, " o entrevistador deve abster-se de comentários e
ou insinuações, intervindo de forma aberta, efectuando o número mínimo de questões,
promovendo um ambiente agradável de conversação, assegurando a gravação e o registo de
dados" (Quivy & Campenhoudt, 2008 cit. in Cardona, 2009, p.33).
Quanto a resultados, dada a natureza deste estudo, que não se baseia na ação, não
existem resultados empíricos, no entanto, através dos dados obtidos nas entrevistas, a autora,
conseguiu chegar a várias conclusões sobre o grau de satisfação dos utentes com o serviço
prestado e encontrar caminhos para melhorar o que está menos bem.
As intervenções/investigações supracitadas, ajudaram-nos a conhecer a área,
apresentando-nos bibliografia diversificada e fidedigna, bem como, exemplos práticos para
alcançar o objetivo máximo do nosso projeto que será a promoção do envelhecimento ativo em
idosos institucionalizados e não institucionalizados. Gostávamos de realçar o facto de ter sido
difícil encontrar intervenções em contexto de apoio domiciliário e de que, no número reduzido de
teses que encontrámos, o trabalho era sobretudo teórico, debruçando-se sobre questões como a
satisfação dos idosos com os serviços prestados ou sobre o que os leva a procurar este tipo de
apoio social.
No que respeita ao tipo de ação desenvolvida nos dois primeiros projetos referidos, tal
como aconteceu no projeto que aqui damos a conhecer, a educação permanente e ao longo da
vida, tal como a intervenção comunitária, foram as grandes linhas que regeram toda a prática,
através do auxílio da animação sociocultural.
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2 - Autores e referentes teóricos importantes da problemática de estágio
O trabalho social que se desenvolve, há longa data, em torno do envelhecimento e das
questões intrínsecas ao conceito, é vasto e traz consigo vários nomes que ganharam notoriedade
pelos benéficos contributos à área.
Nos pontos que se seguem, serão explorados o envelhecimento em geral e, em
particular, o envelhecimento ativo, temas fulcrais da problemática de estágio, bem como outros
conceitos que dela surgem. Definiremos institucionalização, apresentando vantagens,
desvantagens e formas de contornar as desvantagens, surgindo, deste modo, conceitos como,
educação permanente, intervenção comunitária e animação sociocultural.
2.1 - Envelhecimento em Portugal
O envelhecimento da sociedade, a nível mundial é uma realidade inquestionável. Muitos
são os debates e os estudos que se desenvolvem em torno desta questão e são eles que nos
revelam que tal acontece devido à quebra acentuada da taxa de natalidade, bem como ao
aumento da longevidade humana ou esperança média de vida. Óscar Ribeiro e Constança Paúl
(2011, p.7), apresentam-nos dados específicos: "quem nasceu no Portugal de 1960 podia
esperar viver 60,7 anos se fosse homem e 66,4 se fosse mulher, mas, para quem nasce hoje, a
esperança média de vida à nascença é de 75,4 anos para os homens e de 82 anos para as
mulheres".Isto, muito se deve ao avanço das ciências e dos serviços da saúde, que estão cada
vez mais e melhor preparados para dar resposta, quase imediata, às várias enfermidades e
complicações que surgem tanto a nível físico como psicológico, no ser humano, prolongando a
sua existência. Assim se compreende que Beaty & Wolf (1996, p.3, in Simões, 2006, p.19)
subdividam os idosos em 3 categorias, os jovens idosos, dos 65 aos 74 anos; os idosos médios,
dos 75 aos 84 anos e os muito idosos, a partir dos 85 anos.
No nosso país, o envelhecimento demográfico é também uma certeza. Nos últimos
anos, o número de idosos em Portugal "duplicou, representando actualmente cerca de 16,7% da
população total" (Sequeira, 2010, p.3). Segundo projeções do INE (2002) os idosos (pessoas
com mais de 65 anos) representarão 32% da população total do país, em 20508.
8 INE 2002, Estudo elaborado pelo Serviço de Estudos sobre a População do Departamento de Estatísticas Censitárias e da População no âmbito da II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, Madrid 2002.
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As implicações desta realidade já se fazem sentir e, com o passar do tempo, serão ainda
mais evidentes. Oliveira (2008, p.19), refere três grandes efeitos do envelhecimento da
população, no âmbito social, económico e da saúde. Social, porque cada vez haverá menos
jovens em relação ao número de idosos, o que leva a um aumento, significativo, do convívio
entre diferentes gerações e, também, porque terão de ser criadas mais infraestruturas de apoio
a pessoas mais velhas. A nível económico, porque cada vez haverá mais população inativa em
relação ao número de ativos, devido à idade de reforma, s
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