Ex-ministros de Ambiente advertem que Rio+20 segue rumo ao retrocesso

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Grupo encaminha relatório para o governo federal com críticas de que a ausência de questões ambientais na agenda daconferência do desenvolvimento sustentável compromete os objetivos de fazer a transição para a tão desejada economia verde

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A22 QUINTA-FEIRA, 19 DE ABRIL DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

● Um dos tópicos defendidos dodocumento Rio Mais ou Menos20? é que o resultado da confe-rência deveria trazer um apoiomais explícito à transição parauma economia de baixo carbono.

Para os signatários, nessa mu-dança, que tem um ganho am-biental importante na transforma-ção do modelo tradicional econô-mico, está a base do desenvolvi-mento sustentável.

“É na economia de baixo carbo-no que está a resposta tanto paraas mudanças climáticas quantopara o desenvolvimento sustentá-

vel”, afirma o físico José Goldem-berg, da USP. “Mas não temostido uma ação com instrumentoseconômicos e prioridades paraessa transição”, complementa aex-ministra Marina Silva.

José Carlos de Carvalho, minis-tro do Meio Ambiente no final dogoverno Fernando Henrique Car-doso, afirma que a forma comoestão sendo conduzidas as nego-ciações e mesmo o surgimentode novas expressões como “eco-nomia verde” ou “crescimentoverde” podem acabar despistan-do o foco na transição para o bai-xo carbono. “Surgem novos con-ceitos quando o de desenvolvi-mento sustentável nem sequerfoi consolidado. Tenho receio deque eles mantenham os velhosproblemas sem solução.”/ G.G.

Vida / AMBIENTE / CIÊNCIA / EDUCAÇÃO / SAÚDE / SOCIEDADE

José Maria MayrinkENVIADO ESPECIAL / APARECIDA

O arcebispo de Campo Grande(MS), d. Dimas Lara Barbosa, eoutros três bispos criticaram, du-rante a 50.ª Assembleia-Geral daConferência Nacional dos Bis-pos do Brasil (CNBB), em Apare-cida (SP), os ministros do Supre-mo Tribunal Federal que aprova-

ram a interrupção da gestação defetos portadores de anencefalia.

“Os ministros optaram poruma antropologia reducionista,abrindo para o aborto uma portaque pode ser escancarada paraoutras formas de violência con-tra a vida nascente”, disse d. Di-mas. “A eugenia é um horizonteque a humanidade experimen-tou em passado recente”, acres-

centou o arcebispo, depois declassificar como “perigosa” a de-cisão do STF.

Para o bispo de Camaçari(BA), d. João Carlos Petrini, pre-sidente da Comissão Episcopal ePastoral para a Vida e a Famíliada CNBB, a decisão leva à conclu-são, por exemplo, de que “quemincomoda pode ser eliminado”.

Para o bispo auxiliar do Rio, d.

Augusto Dias Duarte, é precisoperguntar se as mulheres quenão quiserem abortar seus filhoscom meroencefalia – “o termocorreto, porque apenas parte docérebro pode estar afetada”, dis-se ele, pediatra formado pelaUniversidade de São Paulo – te-rão ajuda do SUS, respeitando-se a sua consciência.

D. Joaquim Mol Guimarães,

bispo auxiliar de Belo Horizon-te, disse que “o STF tomou parasi a tarefa de legislar”.

Os bispos admitem que, embo-ra se trate de uma questão resol-vida no campo do Judiciário, aassembleia da CNBB volte a ana-lisar o problema sob o ponto devista pastoral, para orientaçãodos católicos.

Entretanto, ao abrir assem-bleia-geral, o presidente daCNBB, d. Raymundo Damasce-no Assis, cardeal-arcebispo deAparecida, disse que ela será “co-

memorativa”. Além do cinquen-tenário, o episcopado vai come-morar os 60 anos da CNBB e os50 do início dos trabalhos doConcílio Vaticano II.

O tema central é Palavra deDeus na Vida e Missão da Igreja.Os bispos também se debruça-rão sobre os preparativos da Jor-nada Mundial da Juventude, emjulho de 2013, no Rio. O arcebis-po da arquidiocese carioca, d.Orani João Tempesta, fará um re-lato sobre o que foi planejado e oque está sendo feito.

Clarissa Thomé / RIO

Em duas décadas, a população in-dígena do País se espalhou. Em1991, pelo menos uma pessoa sedizia indígena em 34,5% dos mu-nicípios. Em 2010, 80,5% das ci-dades tinham moradores que sereconheciam como índios. A in-

formação, divulgada pelo Institu-to Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), leva em conta osCensos de 1991, 2000 e 2010. Ho-je é comemorado o Dia do Índio.

Na contagem mais recente,817 mil entrevistados – 0,4% dosbrasileiros – se disseram indíge-nas. Hoje há mais indígenas nazona rural (502 mil) que emáreas urbanas (315 mil). No Cen-so 2000, eram 383.298 residen-tes em zona rural e 350.829 nazona urbana.

“A mudança na autodeclara-ção é uma hipótese bem plausí-vel. A gente percebe que houve

ligeira redução de indígenas naárea urbana, enquanto na zonarural houve significativo aumen-to. Nas zonas rurais, as mulheresainda têm alta taxa de fecundida-de”, diz a pesquisadora do IBGE,Nilza Pereira.

No Censo 2010, pela primeiravez o IBGE investigou o contin-gente populacional indígena noquestionário básico, aplicadoem todos os domicílios pesquisa-dos. Em 1991 e 2000, a categoria“indígena” era pesquisada ape-nas no questionário completo,destinado a uma parcela da popu-lação. “A hipótese da migraçãoainda não foi estudada porque es-se tema faz parte do questioná-rio completo, que ainda não foianalisado”, afirma Nilza.

Reconhecimento tardio. O ex-presidente da Fundação Nacio-nal do Índio (Funai) e antropólo-go da Universidade Federal Flu-minense Mércio Pereira Gomes

lembra que nos últimos dez anosalguns grupos sociais no Norte eNordeste se reconheceram co-mo indígenas. “Como socieda-des negras que depois se declara-ram quilombolas, havia grupossociais que nem falavam mais alíngua indígena e depois se reco-nheceram como etnia indígena.

Isso ocorreu com os boraris, emAltamira, os anacés, em Fortale-za, e os tabajaras, na Paraíba.”

O coordenador do Programade Estudos dos Povos Indígenas(Pró-Índio) da Universidade doEstado do Rio de Janeiro, JoséRibamar Bessa, chama a atençãopara a necessidade de políticaspúblicas para o indígena que vi-ve em zona urbana. “Nós somosadestrados a não perceber essapopulação. A gente acha quequem sai da aldeia deixa de seríndio. E não é assim. O alemãoque mora no Brasil não vira brasi-leiro. As cidades são o cemitériodas línguas indígenas”, critica.

São Paulo é a capital brasileiracom maior número de índios –12.977 pessoas que se disseramindígenas – e a quarta cidade doPaís. À frente de São Paulo estãotrês municípios de Amazonas:São Gabriel da Cachoeira (29mil), São Paulo de Olivença (15mil) e Tabatinga (14,9 mil).

Leia. Europa pode exploraras luas de Júpiter

estadão.com.br/ciencia

Bispos criticam STF em assembleia da CNBB

Índios estão presentesem 80,5% das cidadesbrasileiras, diz IBGE ● O governo de São Paulo terá

três novas escolas estaduais indí-genas. As novas unidades serãoconstruídas em tribos guarani etupi-guarani em Itanhaém, PraiaGrande e Peruíbe, no litoral, paraatender 77 indígenas. O Estadoainda não tem o cronograma dasobras. Os prédios melhorarão oatendimento já feito. Em duasaldeias (Tangará e NhamanduMirim), as construções vão subs-tituir salas que eram vinculadasa outras escolas. Na Tekoá Mi-rim, o prédio vai acolher 25 alu-nos que assistiam a aulas emuma unidade improvisada. SãoPaulo tem 31 escolas indígenas,com material bilíngue e aulasdadas por indígenas.

ED FERREIRA/AE-28/9/2011

Documento pedefoco na transiçãopara baixo carbono

Ex-ministros de Ambiente advertemque Rio+20 segue rumo ao retrocesso

MARCIO FERNANDES/AE

SP vai ter mais 3escolas indígenas

Giovana Girardi

Há um elevado risco de que aRio+20 seja não apenas irrele-vante, mas configure um retro-cesso dos avanços alcançadosna Rio 92. Esta é a opinião queum grupo de ex-ministros doMeio Ambiente e especialistasna área apresentou ontem, emSão Paulo, ao lançar o docu-mento Rio Mais ou Menos 20?.O texto traz críticas e suges-tões não só à conferência, co-mo também à atuação do go-verno brasileiro.

“Em 92, o Brasil estava alavan-cando uma agenda interna e ex-terna que tem resultados impor-tantes até hoje”, lembrou a ex-ministra Marina Silva. Agora,afirma, houve um “exílio” da pro-blemática ambiental na Rio+20.

Em geral, o governo federal e aONU têm manifestadoque a con-ferência não é de ambiente, quenão é mais hora de discutir sóesse aspecto, mas sim o desen-volvimento sustentável, o quesignifica englobar três pilares: so-cial, econômica e ambiental.

A percepção de vários ambien-talistas, cientistas, organizaçõescivis e do grupo reunido ontem,porém, é de que, desse modo,não só a agenda está muito diluí-da, fraca e sem foco, como a par-te ambiental está muito aquémdo que seria necessário para omundo de fato trilhar para a taleconomia verde.

“Não há desenvolvimento quenão tenha de ser pensado no so-cial, econômico e ambiental,mas dizer que meio ambientenão vai ser discutido, no meu en-tendimento, é um retrocessosim à visão de 92”, diz Marina.

Para o grupo, liderado pelo ex-embaixador Rubens Ricupero,que esteve à frente das negocia-ções brasileiras na Rio 92, há umequívoco, por parte do governo,em se apoiar no que chama de“retórica dos três pilares”.

O problema “é não perceberque o pilar ambiental é a condi-ção das possibilidades para os ou-tros dois”, diz. “Se falharmos embarrar o aumento de elevação datemperatura a mais de 2˚C, nãovai ter econômico ou social queresistam. É a base da sustenta-ção física do planeta.”

Para o físico José Goldem-berg, que era o secretário de Am-biente em 92, quando ainda nãohavia ministério, a responsabili-dade é ter um “desenvolvimentoque dure”, o que não vai ocorrer,acredita, se o clima desandar.

Segundo Ricupero, a ideia éque o documento, que será envia-

do à presidente Dilma Rousseff,seja visto como uma contribui-ção construtiva e possa abrir es-paço para mais diálogo antes darealização da conferência. ParaRicupero, ainda dá tempo paranegociar, melhorar e deixar maisambicioso o texto que deve resul-tar da Rio+20.

Tempo de mudança. Outrossignatários do texto acham que oganho pode ser outro. É a opi-nião do pesquisador EduardoViola, do Instituto de RelaçõesInternacionais da Universidadede Brasília e analista internacio-nal desse tipo de negociação.

“Mudar o resultado da confe-rência, o que parece ser nessemomento um baixo mínimo de-nominador comum entre os paí-ses, é difícil”, diz. Mas, para ele, oque pode mudar é a posição doBrasil. “Isso terá impacto na con-

ferência e no futuro, ao aumen-tar extraordinariamente o prestí-gio do Brasil como país que apos-ta na evolução da humanidade,na governança global.”

Viola lembra que em 2009 oPaís mudou repentinamente deopinião sobre uma questão se-melhante quando todo mundojá não tinha esperanças de que ofaria. Ele se refere à decisão, àsvésperas da Conferência do Cli-ma de Copenhague, de adotarmetas voluntárias de reduçãodas emissões de gases-estufa,contrariando um “dogma”, co-mo definiu Marina, que havia nogoverno de não fazer isso.

“Forças conservadoras predo-minavam, mas um processo deemergência e de desenvolvimen-to de forças reformistas conse-guiu ganhar. Ainda é possívelque o Brasil se destaque comopaís responsável”, diz Viola.

Dado. Houve ligeira reduçãode índios na zona urbana

817 mil entrevistadosdisseram ser indígenas;dados apontam que hámais deles na zona ruralque em áreas urbanas

● Discussão

estadão.com.br

MARINA SILVA, EX-MINISTRA DO MEIO AMBIENTE

“Estão transformando a Rio+20 no vinho ruim oferecidono final da festa. Jogando a pá de cal no que foi a Rio 92.Mas ainda dá tempo de fazer da Rio+20 o vinho bom.”

RUBENS RICUPERO,EX-MINISTRO DO AMBIENTE

“O anfitrião (da Rio+20, o Brasil) não pode responder àposição de algum grupo específico, mas está assumindoa do G-77. O tema é planetário. O mundo inteiro sofre.”

FÁBIO FELDMANN, EX-DEPUTADO FEDERAL

“O medo é que a Rio+20 termine sem avançar rumo auma governança ambiental. Queremos audácia. Mas oBrasil está tímido, não quer desagradar a ninguém.”

Ambiente. Grupo encaminha relatório para o governo federal com críticas de que a ausência de questões ambientais na agenda daconferência do desenvolvimento sustentável compromete os objetivos de fazer a transição para a tão desejada economia verde

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