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A22 QUINTA-FEIRA, 19 DE ABRIL DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO Um dos tópicos defendidos do documento Rio Mais ou Menos 20? é que o resultado da confe- rência deveria trazer um apoio mais explícito à transição para uma economia de baixo carbono. Para os signatários, nessa mu- dança, que tem um ganho am- biental importante na transforma- ção do modelo tradicional econô- mico, está a base do desenvolvi- mento sustentável. “É na economia de baixo carbo- no que está a resposta tanto para as mudanças climáticas quanto para o desenvolvimento sustentá- vel”, afirma o físico José Goldem- berg, da USP. “Mas não temos tido uma ação com instrumentos econômicos e prioridades para essa transição”, complementa a ex-ministra Marina Silva. José Carlos de Carvalho, minis- tro do Meio Ambiente no final do governo Fernando Henrique Car- doso, afirma que a forma como estão sendo conduzidas as nego- ciações e mesmo o surgimento de novas expressões como “eco- nomia verde” ou “crescimento verde” podem acabar despistan- do o foco na transição para o bai- xo carbono. “Surgem novos con- ceitos quando o de desenvolvi- mento sustentável nem sequer foi consolidado. Tenho receio de que eles mantenham os velhos problemas sem solução.”/ G.G. Vida / AMBIENTE / CIÊNCIA / EDUCAÇÃO / SAÚDE / SOCIEDADE José Maria Mayrink ENVIADO ESPECIAL / APARECIDA O arcebispo de Campo Grande (MS), d. Dimas Lara Barbosa, e outros três bispos criticaram, du- rante a 50.ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bis- pos do Brasil (CNBB), em Apare- cida (SP), os ministros do Supre- mo Tribunal Federal que aprova- ram a interrupção da gestação de fetos portadores de anencefalia. “Os ministros optaram por uma antropologia reducionista, abrindo para o aborto uma porta que pode ser escancarada para outras formas de violência con- tra a vida nascente”, disse d. Di- mas. “A eugenia é um horizonte que a humanidade experimen- tou em passado recente”, acres- centou o arcebispo, depois de classificar como “perigosa” a de- cisão do STF. Para o bispo de Camaçari (BA), d. João Carlos Petrini, pre- sidente da Comissão Episcopal e Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, a decisão leva à conclu- são, por exemplo, de que “quem incomoda pode ser eliminado”. Para o bispo auxiliar do Rio, d. Augusto Dias Duarte, é preciso perguntar se as mulheres que não quiserem abortar seus filhos com meroencefalia – “o termo correto, porque apenas parte do cérebro pode estar afetada”, dis- se ele, pediatra formado pela Universidade de São Paulo – te- rão ajuda do SUS, respeitando- se a sua consciência. D. Joaquim Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizon- te, disse que “o STF tomou para si a tarefa de legislar”. Os bispos admitem que, embo- ra se trate de uma questão resol- vida no campo do Judiciário, a assembleia da CNBB volte a ana- lisar o problema sob o ponto de vista pastoral, para orientação dos católicos. Entretanto, ao abrir assem- bleia-geral, o presidente da CNBB, d. Raymundo Damasce- no Assis, cardeal-arcebispo de Aparecida, disse que ela será “co- memorativa”. Além do cinquen- tenário, o episcopado vai come- morar os 60 anos da CNBB e os 50 do início dos trabalhos do Concílio Vaticano II. O tema central é Palavra de Deus na Vida e Missão da Igreja. Os bispos também se debruça- rão sobre os preparativos da Jor- nada Mundial da Juventude, em julho de 2013, no Rio. O arcebis- po da arquidiocese carioca, d. Orani João Tempesta, fará um re- lato sobre o que foi planejado e o que está sendo feito. Clarissa Thomé / RIO Em duas décadas, a população in- dígena do País se espalhou. Em 1991, pelo menos uma pessoa se dizia indígena em 34,5% dos mu- nicípios. Em 2010, 80,5% das ci- dades tinham moradores que se reconheciam como índios. A in- formação, divulgada pelo Institu- to Brasileiro de Geografia e Esta- tística (IBGE), leva em conta os Censos de 1991, 2000 e 2010. Ho- je é comemorado o Dia do Índio. Na contagem mais recente, 817 mil entrevistados – 0,4% dos brasileiros – se disseram indíge- nas. Hoje há mais indígenas na zona rural (502 mil) que em áreas urbanas (315 mil). No Cen- so 2000, eram 383.298 residen- tes em zona rural e 350.829 na zona urbana. “A mudança na autodeclara- ção é uma hipótese bem plausí- vel. A gente percebe que houve ligeira redução de indígenas na área urbana, enquanto na zona rural houve significativo aumen- to. Nas zonas rurais, as mulheres ainda têm alta taxa de fecundida- de”, diz a pesquisadora do IBGE, Nilza Pereira. No Censo 2010, pela primeira vez o IBGE investigou o contin- gente populacional indígena no questionário básico, aplicado em todos os domicílios pesquisa- dos. Em 1991 e 2000, a categoria “indígena” era pesquisada ape- nas no questionário completo, destinado a uma parcela da popu- lação. “A hipótese da migração ainda não foi estudada porque es- se tema faz parte do questioná- rio completo, que ainda não foi analisado”, afirma Nilza. Reconhecimento tardio. O ex- presidente da Fundação Nacio- nal do Índio (Funai) e antropólo- go da Universidade Federal Flu- minense Mércio Pereira Gomes lembra que nos últimos dez anos alguns grupos sociais no Norte e Nordeste se reconheceram co- mo indígenas. “Como socieda- des negras que depois se declara- ram quilombolas, havia grupos sociais que nem falavam mais a língua indígena e depois se reco- nheceram como etnia indígena. Isso ocorreu com os boraris, em Altamira, os anacés, em Fortale- za, e os tabajaras, na Paraíba.” O coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas (Pró-Índio) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, José Ribamar Bessa, chama a atenção para a necessidade de políticas públicas para o indígena que vi- ve em zona urbana. “Nós somos adestrados a não perceber essa população. A gente acha que quem sai da aldeia deixa de ser índio. E não é assim. O alemão que mora no Brasil não vira brasi- leiro. As cidades são o cemitério das línguas indígenas”, critica. São Paulo é a capital brasileira com maior número de índios – 12.977 pessoas que se disseram indígenas – e a quarta cidade do País. À frente de São Paulo estão três municípios de Amazonas: São Gabriel da Cachoeira (29 mil), São Paulo de Olivença (15 mil) e Tabatinga (14,9 mil). Leia. Europa pode explorar as luas de Júpiter estadão.com.br/ciencia Bispos criticam STF em assembleia da CNBB Índios estão presentes em 80,5% das cidades brasileiras, diz IBGE O governo de São Paulo terá três novas escolas estaduais indí- genas. As novas unidades serão construídas em tribos guarani e tupi-guarani em Itanhaém, Praia Grande e Peruíbe, no litoral, para atender 77 indígenas. O Estado ainda não tem o cronograma das obras. Os prédios melhorarão o atendimento já feito. Em duas aldeias (Tangará e Nhamandu Mirim), as construções vão subs- tituir salas que eram vinculadas a outras escolas. Na Tekoá Mi- rim, o prédio vai acolher 25 alu- nos que assistiam a aulas em uma unidade improvisada. São Paulo tem 31 escolas indígenas, com material bilíngue e aulas dadas por indígenas. ED FERREIRA/AE-28/9/2011 Documento pede foco na transição para baixo carbono Ex-ministros de Ambiente advertem que Rio+20 segue rumo ao retrocesso MARCIO FERNANDES/AE SP vai ter mais 3 escolas indígenas Giovana Girardi Há um elevado risco de que a Rio+20 seja não apenas irrele- vante, mas configure um retro- cesso dos avanços alcançados na Rio 92. Esta é a opinião que um grupo de ex-ministros do Meio Ambiente e especialistas na área apresentou ontem, em São Paulo, ao lançar o docu- mento Rio Mais ou Menos 20?. O texto traz críticas e suges- tões não só à conferência, co- mo também à atuação do go- verno brasileiro. “Em 92, o Brasil estava alavan- cando uma agenda interna e ex- terna que tem resultados impor- tantes até hoje”, lembrou a ex- ministra Marina Silva. Agora, afirma, houve um “exílio” da pro- blemática ambiental na Rio+20. Em geral, o governo federal e a ONU têm manifestado que a con- ferência não é de ambiente, que não é mais hora de discutir só esse aspecto, mas sim o desen- volvimento sustentável, o que significa englobar três pilares: so- cial, econômica e ambiental. A percepção de vários ambien- talistas, cientistas, organizações civis e do grupo reunido ontem, porém, é de que, desse modo, não só a agenda está muito diluí- da, fraca e sem foco, como a par- te ambiental está muito aquém do que seria necessário para o mundo de fato trilhar para a tal economia verde. “Não há desenvolvimento que não tenha de ser pensado no so- cial, econômico e ambiental, mas dizer que meio ambiente não vai ser discutido, no meu en- tendimento, é um retrocesso sim à visão de 92”, diz Marina. Para o grupo, liderado pelo ex- embaixador Rubens Ricupero, que esteve à frente das negocia- ções brasileiras na Rio 92, há um equívoco, por parte do governo, em se apoiar no que chama de “retórica dos três pilares”. O problema “é não perceber que o pilar ambiental é a condi- ção das possibilidades para os ou- tros dois”, diz. “Se falharmos em barrar o aumento de elevação da temperatura a mais de 2˚C, não vai ter econômico ou social que resistam. É a base da sustenta- ção física do planeta.” Para o físico José Goldem- berg, que era o secretário de Am- biente em 92, quando ainda não havia ministério, a responsabili- dade é ter um “desenvolvimento que dure”, o que não vai ocorrer, acredita, se o clima desandar. Segundo Ricupero, a ideia é que o documento, que será envia- do à presidente Dilma Rousseff, seja visto como uma contribui- ção construtiva e possa abrir es- paço para mais diálogo antes da realização da conferência. Para Ricupero, ainda dá tempo para negociar, melhorar e deixar mais ambicioso o texto que deve resul- tar da Rio+20. Tempo de mudança. Outros signatários do texto acham que o ganho pode ser outro. É a opi- nião do pesquisador Eduardo Viola, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e analista internacio- nal desse tipo de negociação. “Mudar o resultado da confe- rência, o que parece ser nesse momento um baixo mínimo de- nominador comum entre os paí- ses, é difícil”, diz. Mas, para ele, o que pode mudar é a posição do Brasil. “Isso terá impacto na con- ferência e no futuro, ao aumen- tar extraordinariamente o prestí- gio do Brasil como país que apos- ta na evolução da humanidade, na governança global.” Viola lembra que em 2009 o País mudou repentinamente de opinião sobre uma questão se- melhante quando todo mundo já não tinha esperanças de que o faria. Ele se refere à decisão, às vésperas da Conferência do Cli- ma de Copenhague, de adotar metas voluntárias de redução das emissões de gases-estufa, contrariando um “dogma”, co- mo definiu Marina, que havia no governo de não fazer isso. “Forças conservadoras predo- minavam, mas um processo de emergência e de desenvolvimen- to de forças reformistas conse- guiu ganhar. Ainda é possível que o Brasil se destaque como país responsável”, diz Viola. Dado. Houve ligeira redução de índios na zona urbana 817 mil entrevistados disseram ser indígenas; dados apontam que há mais deles na zona rural que em áreas urbanas Discussão estadão.com.br MARINA SILVA, EX-MINISTRA DO MEIO AMBIENTE “Estão transformando a Rio+20 no vinho ruim oferecido no final da festa. Jogando a pá de cal no que foi a Rio 92. Mas ainda dá tempo de fazer da Rio+20 o vinho bom.” RUBENS RICUPERO,EX-MINISTRO DO AMBIENTE “O anfitrião (da Rio+20, o Brasil) não pode responder à posição de algum grupo específico, mas está assumindo a do G-77. O tema é planetário. O mundo inteiro sofre.” FÁBIO FELDMANN, EX-DEPUTADO FEDERAL “O medo é que a Rio+20 termine sem avançar rumo a uma governança ambiental. Queremos audácia. Mas o Brasil está tímido, não quer desagradar a ninguém.” Ambiente. Grupo encaminha relatório para o governo federal com críticas de que a ausência de questões ambientais na agenda da conferência do desenvolvimento sustentável compromete os objetivos de fazer a transição para a tão desejada economia verde

Ex-ministros de Ambiente advertem que Rio+20 segue rumo ao retrocesso

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Grupo encaminha relatório para o governo federal com críticas de que a ausência de questões ambientais na agenda daconferência do desenvolvimento sustentável compromete os objetivos de fazer a transição para a tão desejada economia verde

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A22 QUINTA-FEIRA, 19 DE ABRIL DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

● Um dos tópicos defendidos dodocumento Rio Mais ou Menos20? é que o resultado da confe-rência deveria trazer um apoiomais explícito à transição parauma economia de baixo carbono.

Para os signatários, nessa mu-dança, que tem um ganho am-biental importante na transforma-ção do modelo tradicional econô-mico, está a base do desenvolvi-mento sustentável.

“É na economia de baixo carbo-no que está a resposta tanto paraas mudanças climáticas quantopara o desenvolvimento sustentá-

vel”, afirma o físico José Goldem-berg, da USP. “Mas não temostido uma ação com instrumentoseconômicos e prioridades paraessa transição”, complementa aex-ministra Marina Silva.

José Carlos de Carvalho, minis-tro do Meio Ambiente no final dogoverno Fernando Henrique Car-doso, afirma que a forma comoestão sendo conduzidas as nego-ciações e mesmo o surgimentode novas expressões como “eco-nomia verde” ou “crescimentoverde” podem acabar despistan-do o foco na transição para o bai-xo carbono. “Surgem novos con-ceitos quando o de desenvolvi-mento sustentável nem sequerfoi consolidado. Tenho receio deque eles mantenham os velhosproblemas sem solução.”/ G.G.

Vida / AMBIENTE / CIÊNCIA / EDUCAÇÃO / SAÚDE / SOCIEDADE

José Maria MayrinkENVIADO ESPECIAL / APARECIDA

O arcebispo de Campo Grande(MS), d. Dimas Lara Barbosa, eoutros três bispos criticaram, du-rante a 50.ª Assembleia-Geral daConferência Nacional dos Bis-pos do Brasil (CNBB), em Apare-cida (SP), os ministros do Supre-mo Tribunal Federal que aprova-

ram a interrupção da gestação defetos portadores de anencefalia.

“Os ministros optaram poruma antropologia reducionista,abrindo para o aborto uma portaque pode ser escancarada paraoutras formas de violência con-tra a vida nascente”, disse d. Di-mas. “A eugenia é um horizonteque a humanidade experimen-tou em passado recente”, acres-

centou o arcebispo, depois declassificar como “perigosa” a de-cisão do STF.

Para o bispo de Camaçari(BA), d. João Carlos Petrini, pre-sidente da Comissão Episcopal ePastoral para a Vida e a Famíliada CNBB, a decisão leva à conclu-são, por exemplo, de que “quemincomoda pode ser eliminado”.

Para o bispo auxiliar do Rio, d.

Augusto Dias Duarte, é precisoperguntar se as mulheres quenão quiserem abortar seus filhoscom meroencefalia – “o termocorreto, porque apenas parte docérebro pode estar afetada”, dis-se ele, pediatra formado pelaUniversidade de São Paulo – te-rão ajuda do SUS, respeitando-se a sua consciência.

D. Joaquim Mol Guimarães,

bispo auxiliar de Belo Horizon-te, disse que “o STF tomou parasi a tarefa de legislar”.

Os bispos admitem que, embo-ra se trate de uma questão resol-vida no campo do Judiciário, aassembleia da CNBB volte a ana-lisar o problema sob o ponto devista pastoral, para orientaçãodos católicos.

Entretanto, ao abrir assem-bleia-geral, o presidente daCNBB, d. Raymundo Damasce-no Assis, cardeal-arcebispo deAparecida, disse que ela será “co-

memorativa”. Além do cinquen-tenário, o episcopado vai come-morar os 60 anos da CNBB e os50 do início dos trabalhos doConcílio Vaticano II.

O tema central é Palavra deDeus na Vida e Missão da Igreja.Os bispos também se debruça-rão sobre os preparativos da Jor-nada Mundial da Juventude, emjulho de 2013, no Rio. O arcebis-po da arquidiocese carioca, d.Orani João Tempesta, fará um re-lato sobre o que foi planejado e oque está sendo feito.

Clarissa Thomé / RIO

Em duas décadas, a população in-dígena do País se espalhou. Em1991, pelo menos uma pessoa sedizia indígena em 34,5% dos mu-nicípios. Em 2010, 80,5% das ci-dades tinham moradores que sereconheciam como índios. A in-

formação, divulgada pelo Institu-to Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), leva em conta osCensos de 1991, 2000 e 2010. Ho-je é comemorado o Dia do Índio.

Na contagem mais recente,817 mil entrevistados – 0,4% dosbrasileiros – se disseram indíge-nas. Hoje há mais indígenas nazona rural (502 mil) que emáreas urbanas (315 mil). No Cen-so 2000, eram 383.298 residen-tes em zona rural e 350.829 nazona urbana.

“A mudança na autodeclara-ção é uma hipótese bem plausí-vel. A gente percebe que houve

ligeira redução de indígenas naárea urbana, enquanto na zonarural houve significativo aumen-to. Nas zonas rurais, as mulheresainda têm alta taxa de fecundida-de”, diz a pesquisadora do IBGE,Nilza Pereira.

No Censo 2010, pela primeiravez o IBGE investigou o contin-gente populacional indígena noquestionário básico, aplicadoem todos os domicílios pesquisa-dos. Em 1991 e 2000, a categoria“indígena” era pesquisada ape-nas no questionário completo,destinado a uma parcela da popu-lação. “A hipótese da migraçãoainda não foi estudada porque es-se tema faz parte do questioná-rio completo, que ainda não foianalisado”, afirma Nilza.

Reconhecimento tardio. O ex-presidente da Fundação Nacio-nal do Índio (Funai) e antropólo-go da Universidade Federal Flu-minense Mércio Pereira Gomes

lembra que nos últimos dez anosalguns grupos sociais no Norte eNordeste se reconheceram co-mo indígenas. “Como socieda-des negras que depois se declara-ram quilombolas, havia grupossociais que nem falavam mais alíngua indígena e depois se reco-nheceram como etnia indígena.

Isso ocorreu com os boraris, emAltamira, os anacés, em Fortale-za, e os tabajaras, na Paraíba.”

O coordenador do Programade Estudos dos Povos Indígenas(Pró-Índio) da Universidade doEstado do Rio de Janeiro, JoséRibamar Bessa, chama a atençãopara a necessidade de políticaspúblicas para o indígena que vi-ve em zona urbana. “Nós somosadestrados a não perceber essapopulação. A gente acha quequem sai da aldeia deixa de seríndio. E não é assim. O alemãoque mora no Brasil não vira brasi-leiro. As cidades são o cemitériodas línguas indígenas”, critica.

São Paulo é a capital brasileiracom maior número de índios –12.977 pessoas que se disseramindígenas – e a quarta cidade doPaís. À frente de São Paulo estãotrês municípios de Amazonas:São Gabriel da Cachoeira (29mil), São Paulo de Olivença (15mil) e Tabatinga (14,9 mil).

Leia. Europa pode exploraras luas de Júpiter

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Bispos criticam STF em assembleia da CNBB

Índios estão presentesem 80,5% das cidadesbrasileiras, diz IBGE ● O governo de São Paulo terá

três novas escolas estaduais indí-genas. As novas unidades serãoconstruídas em tribos guarani etupi-guarani em Itanhaém, PraiaGrande e Peruíbe, no litoral, paraatender 77 indígenas. O Estadoainda não tem o cronograma dasobras. Os prédios melhorarão oatendimento já feito. Em duasaldeias (Tangará e NhamanduMirim), as construções vão subs-tituir salas que eram vinculadasa outras escolas. Na Tekoá Mi-rim, o prédio vai acolher 25 alu-nos que assistiam a aulas emuma unidade improvisada. SãoPaulo tem 31 escolas indígenas,com material bilíngue e aulasdadas por indígenas.

ED FERREIRA/AE-28/9/2011

Documento pedefoco na transiçãopara baixo carbono

Ex-ministros de Ambiente advertemque Rio+20 segue rumo ao retrocesso

MARCIO FERNANDES/AE

SP vai ter mais 3escolas indígenas

Giovana Girardi

Há um elevado risco de que aRio+20 seja não apenas irrele-vante, mas configure um retro-cesso dos avanços alcançadosna Rio 92. Esta é a opinião queum grupo de ex-ministros doMeio Ambiente e especialistasna área apresentou ontem, emSão Paulo, ao lançar o docu-mento Rio Mais ou Menos 20?.O texto traz críticas e suges-tões não só à conferência, co-mo também à atuação do go-verno brasileiro.

“Em 92, o Brasil estava alavan-cando uma agenda interna e ex-terna que tem resultados impor-tantes até hoje”, lembrou a ex-ministra Marina Silva. Agora,afirma, houve um “exílio” da pro-blemática ambiental na Rio+20.

Em geral, o governo federal e aONU têm manifestadoque a con-ferência não é de ambiente, quenão é mais hora de discutir sóesse aspecto, mas sim o desen-volvimento sustentável, o quesignifica englobar três pilares: so-cial, econômica e ambiental.

A percepção de vários ambien-talistas, cientistas, organizaçõescivis e do grupo reunido ontem,porém, é de que, desse modo,não só a agenda está muito diluí-da, fraca e sem foco, como a par-te ambiental está muito aquémdo que seria necessário para omundo de fato trilhar para a taleconomia verde.

“Não há desenvolvimento quenão tenha de ser pensado no so-cial, econômico e ambiental,mas dizer que meio ambientenão vai ser discutido, no meu en-tendimento, é um retrocessosim à visão de 92”, diz Marina.

Para o grupo, liderado pelo ex-embaixador Rubens Ricupero,que esteve à frente das negocia-ções brasileiras na Rio 92, há umequívoco, por parte do governo,em se apoiar no que chama de“retórica dos três pilares”.

O problema “é não perceberque o pilar ambiental é a condi-ção das possibilidades para os ou-tros dois”, diz. “Se falharmos embarrar o aumento de elevação datemperatura a mais de 2˚C, nãovai ter econômico ou social queresistam. É a base da sustenta-ção física do planeta.”

Para o físico José Goldem-berg, que era o secretário de Am-biente em 92, quando ainda nãohavia ministério, a responsabili-dade é ter um “desenvolvimentoque dure”, o que não vai ocorrer,acredita, se o clima desandar.

Segundo Ricupero, a ideia éque o documento, que será envia-

do à presidente Dilma Rousseff,seja visto como uma contribui-ção construtiva e possa abrir es-paço para mais diálogo antes darealização da conferência. ParaRicupero, ainda dá tempo paranegociar, melhorar e deixar maisambicioso o texto que deve resul-tar da Rio+20.

Tempo de mudança. Outrossignatários do texto acham que oganho pode ser outro. É a opi-nião do pesquisador EduardoViola, do Instituto de RelaçõesInternacionais da Universidadede Brasília e analista internacio-nal desse tipo de negociação.

“Mudar o resultado da confe-rência, o que parece ser nessemomento um baixo mínimo de-nominador comum entre os paí-ses, é difícil”, diz. Mas, para ele, oque pode mudar é a posição doBrasil. “Isso terá impacto na con-

ferência e no futuro, ao aumen-tar extraordinariamente o prestí-gio do Brasil como país que apos-ta na evolução da humanidade,na governança global.”

Viola lembra que em 2009 oPaís mudou repentinamente deopinião sobre uma questão se-melhante quando todo mundojá não tinha esperanças de que ofaria. Ele se refere à decisão, àsvésperas da Conferência do Cli-ma de Copenhague, de adotarmetas voluntárias de reduçãodas emissões de gases-estufa,contrariando um “dogma”, co-mo definiu Marina, que havia nogoverno de não fazer isso.

“Forças conservadoras predo-minavam, mas um processo deemergência e de desenvolvimen-to de forças reformistas conse-guiu ganhar. Ainda é possívelque o Brasil se destaque comopaís responsável”, diz Viola.

Dado. Houve ligeira reduçãode índios na zona urbana

817 mil entrevistadosdisseram ser indígenas;dados apontam que hámais deles na zona ruralque em áreas urbanas

● Discussão

estadão.com.br

MARINA SILVA, EX-MINISTRA DO MEIO AMBIENTE

“Estão transformando a Rio+20 no vinho ruim oferecidono final da festa. Jogando a pá de cal no que foi a Rio 92.Mas ainda dá tempo de fazer da Rio+20 o vinho bom.”

RUBENS RICUPERO,EX-MINISTRO DO AMBIENTE

“O anfitrião (da Rio+20, o Brasil) não pode responder àposição de algum grupo específico, mas está assumindoa do G-77. O tema é planetário. O mundo inteiro sofre.”

FÁBIO FELDMANN, EX-DEPUTADO FEDERAL

“O medo é que a Rio+20 termine sem avançar rumo auma governança ambiental. Queremos audácia. Mas oBrasil está tímido, não quer desagradar a ninguém.”

Ambiente. Grupo encaminha relatório para o governo federal com críticas de que a ausência de questões ambientais na agenda daconferência do desenvolvimento sustentável compromete os objetivos de fazer a transição para a tão desejada economia verde