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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
GEILIANE APARECIDA SALLES TEIXEIRA
A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA NA PERSPECTIVA DAS FAMÍLIAS
DOURADOS/MS
2013
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
GEILIANE APARECIDA SALLES TEIXEIRA
A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA NA PERSPECTIVA DAS FAMÍLIAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação – Mestrado em Educação, da
Faculdade de Educação, da Universidade
Federal da Grande Dourados, como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Educação.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo dos Santos.
DOURADOS/MS
2013
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UFGD
Teixeira, Geiliane Aparecida Salles.
A relação família-escola na perspectiva das famílias / Geiliane
Aparecida Salles Teixeira. – Dourados, MS: UFGD, 2013.
109 p.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo dos Santos
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal da
Grande Dourados.
1. Educação. 2. Relação família-escola. 3. Família. I. Título.
GEILIANE APARECIDA SALLES TEIXEIRA
A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA NA PERSPECTIVA DAS FAMÍLIAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação – Mestrado em Educação, da
Faculdade de Educação, da Universidade
Federal da Grande Dourados, como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Educação.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo dos Santos.
Dissertação avaliada pela Comissão Julgadora em __/__/__
____________________________________________________
Prof. Dr. Reinaldo dos Santos – UFGD
(orientador)
____________________________________________________
Prof. Dra. Morgana de Fátima Agostini Martins - UFGD
(Examinadora)
____________________________________________________
Prof. Dra. Altina Abadia da Silva - UFG
(Examinadora)
DOURADOS - MS
2013
Aos meus pais Francisco e Lourdes, pelo
apoio e dedicação a mim e ao meu filho.
Ao meu filho Gustavo Henrique, minha vida.
Ao meu esposo Ademilson, sempre
companheiro.
Aos meus irmãos Geiziele e Geiderson,
parceiros de toda a vida.
À minha querida amiga Grazielly, pela força e
carinho.
Às famílias participantes, pela confiança e
colaboração.
Ao meu bom Deus, que nas horas de angústia
está ao meu lado.
Procuro semear otimismo e plantar sementes
de paz e justiça. Digo o que penso, com
esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o
que devo fazer, com amor. Eu me esforço para
ser cada dia melhor, pois bondade também se
aprende. Mesmo quando tudo parece desabar,
cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou
ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no
caminho incerto da vida, que o mais
importante é o decidir. Cora Coralina
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todas as obras que edificou em minha vida. Eu jamais teria conseguido se
não fosse pela Fé.
Aos meus pais Francisco e Lourdes, obrigada pelo carinho, pelo apoio, por terem
adotado meu filho durante esses dois anos, por terem sido meus olhos e meus ouvidos nos
momentos em que eu não pude dar a ele a atenção necessária. Obrigada por terem apostado
em mim, por não terem permitido que eu desistisse dos meus sonhos.
Ao meu esposo Ademilson, pela compreensão, pelo equilíbrio, pois, no auge da minha
impaciência, você esteve pacientemente ao meu lado.
Obrigada Gustavo Henrique, meu filho amado, por ter sido um bom filho,
compreensivo, carinhoso e por me dar tanto orgulho.
À minha irmã Geiziele, que não perdeu a mania de reclamar, mas que soube me apoiar
e ajudar nos cuidados com meu filho.
À Sueli Santos Souza, diretora da escola Prof. José Carlos da Silva, pelo apoio,
confiança e por oferecer-me a oportunidade de colocar em prática meus conhecimentos.
À professora Dra. Maria das Graças Fernandes de Amorim dos Reis, pelas
contribuições no projeto inicial e por ter acreditado na minha capacidade.
À querida Cleuza Campos, que como secretária de educação me impulsionou, por
meio de seus “nãos”, a transformar os obstáculos em degraus.
Aos colegas da turma do mestrado, em especial: Juliana Maria da Silva Lima, Maria
do Carmo de Encarnação Costa de Souza, Ana Paula Moreira de Sousa, Marcela Guarizo,
Deyvid Rizzo, por todas às vezes que me fizeram rir e acreditar que eu não era a única
alienada da turma.
Em especial, à amiga Grazielly Vilhalva Silva do Nascimento, que foi mais que uma
colega de turma. “Pessoa”, você me acolheu mesmo sem me conhecer, me ouviu nos
momentos mais críticos dessa caminhada. Foi parceira, irmã...
Aos participantes da pesquisa que tão bem me acolheram nas visitas aos seus lares. A
pesquisa foi realizada porque vocês colaboraram.
Aos colegas de trabalho, profissionais da educação, que direta ou indiretamente
fizeram parte da minha vida nesses dois anos e contribuíram para que eu construísse parte da
minha história.
Às professoras Dra. Marilda Moraes Garcia Bruno, Dra. Morgana de Fátima Agostini
Martins, por suas contribuições e por na qualificação terem apontado muitos caminhos.
Por fim, ao meu orientador Dr. Reinaldo dos Santos, por ter me dado coragem para
voar, por sabiamente me conduzir nesse processo, por ter dedicado tantos momentos em
ensinar-me que a pesquisa é uma construção permanente. Obrigada por tudo!
RESUMO
Esta pesquisa teve por objetivo analisar como se dá a participação da família na vida escolar e
sua relação com a escola, tendo como ponto de partida o discurso das famílias. Considerando
que muitas pesquisas apresentam o tema, porém sempre tendo como ponto de partida as
perspectivas da escola, nosso principal objetivo é dar voz às famílias e a partir de então tecer
considerações sobre essa relação família-escola. Trata-se de uma pesquisa com abordagem
qualitativa e quantitativa, fundamentada em teóricos como Bourdieu, Giddens, entre outros,
que discutem o conceito de instituição escolar e família. Realizada no município de Naviraí,
em Mato Grosso do Sul, a pesquisa apresenta dados sobre família e escola, fundamentados na
pesquisa bibliográfica e documental, em dados estatísticos, além das informações obtidas por
meio de questionários e entrevistas com os adultos das famílias. Os sujeitos participantes
foram ouvidos e a partir de seus discursos mensuramos a relação família-escola, concluindo
que se trata de uma relação bastante delicada, em que os sujeitos envolvidos necessitam rever
seus papéis e assumirem efetivamente suas funções sociais. Aqui apresentamos as conclusões
a que chegamos, na expectativa de que esta pesquisa contribua para que tal relação seja de
parceria, tendo como único foco o ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Educação. Relação família-escola. Família.
ABSTRACT
This research had for objective analyse how happens the involvement of the parents in school
life of your children and their relationship with the school, taking as its starting point the
speech of families. Considering that many studies show the theme, but always having the
principal prospects of the school, our main objective is to give a voice to families and
thereafter make considerations about this family-school relationship. This is a research with
qualitative and quantitative approach, based in theoretical as Bourdieu, Giddens, among
others, who dicuss that the concept of the educational institution and family. Done in Navirai
city, Mato Grosso do Sul state, the research show presents data on families and school, based
on the literature and documents, statistical data, and information obtained by means
questionnaires and interviews with the parents. The participants were heard and from his
speeches we measure the family-school relationship, concluding that it is a very delicate
relationship, in which the individuals involved need to review their roles and assume their
social functions effectively. Here we present the conclusions reached in the hope that this
research will contribute to that relationship is a partnership with the sole focus of the
teaching-learning process.
Keywords: Education. Family-school relationship. Parents.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Quadro de taxa de divórcios no Brasil............................................................ 43
Figura 2 - Gráfico de percentual de famílias cuja mulher é a referência......................... 45
Figura 3 - Gráfico de arranjos familiares residentes em domicílios particulares............. 46
Figura 4 - Gráfico de distribuição das famílias brasileiras............................................. 46
Figura 5 - Gráfico de distribuição percentual dos arranjos familiares com parentesco,
residentes em domicílios particulares, segundo o tipo Brasil - 1999/2009....
47
Figura 6 - Gráfico de distribuição percentual dos rendimentos, por origem dos
rendimentos, segundo as classes de rendimento familiar per capita Brasil –
2009.................................................................................................................
48
Figura 7 - Gráfico de distribuição percentual das famílias com rendimento monetário,
segundo o grau de dificuldade de chegar até o fim do mês Brasil - 2008-
2009...............................................................................................................
48
Figura 8 - Gráfico de arranjos familiares residentes em domicílios particulares – com
parentesco e sem parentesco............................................................................
49
Figura 9 - Gráfico de arranjos familiares residentes em domicílios particulares – com
outros parentes e sem parentes........................................................................
49
Figura 10 - Gráfico de casal com filhos.......................................................................... 50
Figura 11 – Gráfico de mulher sem cônjuge e com filhos............................................... 50
Figura 12 – Gráfico de dados sobre famílias em Naviraí, MS........................................ 51
Figura 13 - Imagens do município de Naviraí, MS.......................................................... 61
Figura 14 - Gráfico de número de matrículas realizadas no município de Naviraí, MS
– 2009............................................................................................................
64
Figura 15 - Gráfico de número de escolas em Naviraí, MS............................................. 64
Figura 16 - Gráfico de comparação de médias municipais – 2011................................. 65
Figura 17 - Gráfico de progressão do índice de desenvolvimento da educação básica
na rede municipal de ensino..........................................................................
65
Figura 18 - Gráfico de trajetória da aprovação nas escolas municipais de Naviraí, MS. 66
Figura 19 - Tabela de renda mensal dos participantes..................................................... 69
Figura 20 - Tabela de escolaridade dos participantes da pesquisa.................................. 70
Figura 21 - Tabela de composição familiar dos participantes......................................... 70
Figura 22 - Tabela de participação na vida escolar......................................................... 71
LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS
APM - Associação de Pais e Mestres
CIEI - Centro Integrado de Educação Infantil
EJA - Educação de Jovens e Adultos
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
FINAV - Faculdades Integradas de Naviraí
GEPETIC - Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Tecnologias da Informação
GEPEI - Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Inclusiva
IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC - Ministério da Educação
PNDA - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNE - Plano Nacional de Educação
PROJOVEM - Programa Nacional de inclusão de Jovens
UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
UFBA - Universidade Federal da Bahia
UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados
UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
UnB - Universidade de Brasília
USP - Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 13
CAPÍTULO I - A ESCOLA CONTEMPORÂNEA E SEU PAPEL SOCIAL......... 23
1.1 A importância da escola na sociedade....................................................................... 24
1.2 Função social da escola......................................................................................... 29
1.3 A escola no Brasil...................................................................................................... 35
1.4 Os fatores que dificultam o cumprimento do papel social da escola......................... 37
CAPÍTULO II - A FAMÍLIA E A VIDA ESCOLAR DOS FILHOS....................... 39
2.1 Conceito de família e o perfil da família contemporânea.......................................... 40
2.2 Papéis da família e as dificuldades em cumprir suas funções sociais........................ 51
2.3 O papel da família na relação com a escola............................................................... 55
CAPÍTULO III - A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA NA PERSPECTIVA DA
FAMÍLIA..........................................................................................
58
3.1 O estudo de painel e os instrumentos metodológicos da pesquisa............................ 58
3.1.1 Configurando o universo da pesquisa..................................................................... 60
3.1.2 A aplicação dos instrumentos da pesquisa.............................................................. 66
3.2 Os perfis das famílias envolvidas na pesquisa........................................................... 68
3.2.1 Como se compõem as famílias entrevistadas.......................................................... 71
3.2.2 A escola sob o ponto de vista das famílias............................................................. 75
3.2.3 Como e quanto a família participa da vida escolar................................................ 79
3.2.4 O papel da escola e da família na visão dos sujeitos participantes da pesquisa..... 83
3.2.5 Os fatores que interferem na participação............................................................... 84
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 90
REFERÊNCIAS............................................................................................................. 94
APÊNDICES................................................................................................................... 99
INTRODUÇÃO
Em geral, a família é considerada o fundamento básico e universal das sociedades,
embora variem suas estruturas e funcionamento. A família tem, portanto, grande
responsabilidade no processo de socialização da criança. Escola e família são importantes na
formação do indivíduo. Participando do grupo é que ele aprende a fazer parte da sociedade,
que constitui sua identidade.
A sociedade tem passado por diversas transformações e muitas delas têm refletido no
modelo de família considerado “ideal”. Observam-se famílias em condições precárias para
realizar a socialização primária, papel que lhe compete na sociedade. Assim, é possível
perceber que a família tem grande influência sobre o desenvolvimento do indivíduo, e sua
participação na inserção dele na sociedade é essencial. As transformações sociais exigem uma
maior interação entre a família e a escola, que devem assumir seus papéis como instituições,
considerando a sociedade atual e não apenas buscando o modelo ideal de socialização que
está cada dia mais extinto.
As profundas transformações pelas quais a família, a escola e a interação entre elas
passaram nas últimas décadas, em conjunto com o fato de que os novos perfis institucionais
ainda não foram devidamente incorporados, desencadeiam uma convergência no
reconhecimento de dificuldades de condições para que a escola e a família cumpram seus
papéis educativos.
Atualmente, a família se apresenta na sociedade com inúmeras modificações que
foram se estabelecendo ao longo da história. Com a Constituição Federal de 1988 (BRASIL,
1998), passou-se a ter uma visão diferenciada da família. Ao entrar em vigor, a Constituição
estabeleceu a igualdade entre homem e mulher e o conceito de família integra a proteção de
todos os seus integrantes.
Os caminhos percorridos permitiram observar que a estrutura familiar se encontra
abalada diante de tantas mudanças na sociedade contemporânea, que incluem também os
14
valores institucionais da família. A falta de diálogo e interação determina o papel principal da
família, oferecer valores ao indivíduo para que este viva em sociedade.
Roudinesco (2003, p. 19) distingue três grandes períodos na evolução da família:
Numa primeira fase, a família dita “tradicional” serve acima de tudo para assegurar
a transmissão de um patrimônio. Os casamentos são arranjados [...]. A célula
familiar repousa em uma ordem do mundo imutável e inteiramente submetida a uma
autoridade patriarcal. [...] a família dita “moderna” torna-se o receptáculo de uma
lógica afetiva cujo modelo se impõe entre o final do século XVII e meados do XX.
Fundada no amor romântico, ela sanciona a reciprocidade dos sentimentos e os
desejos carnais por intermédio do casamento. Mas valoriza a divisão do trabalho
entre os esposos [...]. A partir dos anos 1960, impõe-se a família dita
“contemporânea” – ou “pós-moderna” -, que une, ao longo de uma duração relativa,
dois indivíduos em busca de relações íntimas ou realização sexual. A transmissão da
autoridade vai se tornando então cada vez mais problemática à medida que
divórcios, separações e recomposições conjugais aumentam.
É possível observar que a autora apresenta claramente as fases de evolução da
organização familiar. A família tradicional seguia padrões rígidos de comportamento e
permanecia imutável sua organização. A moderna busca relações com base em sentimentos, o
trabalho é dividido e os desejos realizados somente com o casamento. Na contemporaneidade
o que se promove é a satisfação pessoal, a autoridade se torna um problema, pois não há mais
uma figura como referência.
Pesquisando nos meios acadêmicos, encontra-se resultados de pesquisas realizadas
em universidades como a Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP),
Universidade Federal da Bahia (UFBA), que abordam o tema, e a maioria é baseada em
opiniões de professores e gestores. Esta pesquisa, no entanto, se diferencia das demais por
apresentar a relação família-escola sob a perspectiva da família.
Ressalta-se que o foco são as famílias, pois a intenção era analisar o que pensavam
sobre a escola, como e quanto elas participavam e os fatores que dificultavam essa
participação, já que, de acordo com muitos professores, a participação é fator condicionante
para se estabelecer uma boa relação entre família e escola.
A pesquisa foi realizada no município de Naviraí, Mato Grosso do Sul, com 15
famílias, nas mais diferentes formas de composição, com as mais variadas concepções
relacionadas à participação. Embora o objetivo fosse o de ouvir os adultos da família, nesse
caso incluindo também a figura masculina, todas as entrevistas foram concedidas por mães.
Que fique claro que não se trata apenas de uma questão metodológica, já que se observou que
na maioria das famílias, quem acompanha a vida escolar e estabelece relação com a escola são
15
as mães.1 A perspectiva da família tem aqui muita importância, considerando que nossas
discussões partiram da análise dos discursos desses participantes. Ouvindo os sujeitos,
mensurou-se essa relação sob o ponto de vista das famílias e, com base nesses discursos,
observou-se que fatores sociais, estruturais e econômicos podem até interferir na participação,
mas não são elementos condicionantes, já que ela tem acontecido, respeitando-se as
especificidades de cada família.
As dificuldades observadas durante minha trajetória como professora alfabetizadora na
relação família e escola impulsionaram-me a fazer o mestrado. Acreditava que poderia
contribuir de forma mais significativa para a educação e que somente a graduação não me
permitiria formalizar essa contribuição.
A pesquisa está estruturada em três capítulos. No primeiro capítulo, discutimos a
escola como instituição contemporânea e seu papel, pontuando conceitos de instituição, a
importância da escola na sociedade, sua função social, a escola no Brasil e os fatores que
dificultam à escola cumprir seu papel. A escola é conceituada como instituição educacional,
segundo os fundamentos de autores como Gallo (2008), Frigotto (1999), Giddens (2005),
Alves e Garcia (2008), Saviani (2005a; 2006), Libâneo, Oliveira e Toschi (2005), Weber
(2002), Bourdieu (1998; 2007), entre outros.
Gallo (2008) corrobora apresentando ideias sobre os enigmas da educação. À medida
que a sociedade foi se transformando, foram se alterando também as realidades ligadas à
educação na escola. Compreender todo esse processo torna-se cada dia mais difícil,
considerando a velocidade em que as mudanças se apresentam, porém necessário. Para o
autor, os que se dedicam à educação precisam decifrar os enigmas apresentados pela crise
nela, ou serão envolvidos por eles, tornando-se parte do sistema vigente.
A educação tem emergido nos discursos políticos acompanhando as transformações
sociais, sinalizando a necessidade de mudanças no contexto escolar. O que se espera é que a
educação acompanhe as transformações políticas, econômicas, culturais e sociais do mundo
globalizado, que exige um homem participativo, capaz de transformar e ser transformado no
contexto das relações sociais. Gallo (2008, p. 16) lembra, portanto, que essa postura não é
adquirida apenas na escola. O autor acredita que a postura transformadora também é adquirida
na família e nas diversas instituições sociais das quais a criança participa. O contato com
diversas realidades a leva a assumir determinadas posturas, formando seu caráter e
1Entenda-se que daqui por diante, sempre que mencionar família, principalmente no caso das entrevistas
compreende-se como mães, mas falando em nome da família.
16
personalidade. Tais afirmações nos permitem reflexões sobre o verdadeiro papel da escola na
sociedade, considerando que, atualmente, muitas discussões permeiam as relações entre
escola e família sobre a função do educar.
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento das
potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos
conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes e valores) que, aliás, deve
acontecer de maneira contextualizada, desenvolvendo, nos discentes, a capacidade de se
tornarem cidadãos participativos na sociedade em que vivem. Para tanto, deve oferecer
situações que favoreçam o aprendizado, onde haja sede de aprender e também razão,
entendimento da importância desse aprendizado no futuro do aluno. Se ele compreender que,
muito mais importante do que possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que
garanta seu espaço no mercado competitivo, ele buscará conhecer e aprender sempre e mais.
Gallo (2008, p. 20), afirma que:
[...] conhecer é dominar. O processo histórico de construção das ciências modernas
agiu através da divisão do mundo em fragmentos cada vez menores, de forma a
poder conhecê-los e dominá-los. No desejo humano de conhecer o mundo está
embutido seu desejo secreto de dominar o mundo.
Refletindo sobre as colocações do autor, percebe-se que historicamente a educação
sempre foi permeada pelo desejo de controle. A escola não surgiu pela necessidade da
maioria, mas para atender os desejos de poucos, que precisavam fortalecer as formas de
dominação. É passível de reflexão, a noção da escola, ao se considerar que em qualquer
espaço social pode se ter acesso ao conhecimento. Dessa forma, a escola que aparentemente
oferece educação globalizada, ao deixar de possibilitar saberes diferentes aos interesses
particulares, condizentes com as exigências contemporâneas, pode não mais atender aos
anseios da sociedade.
Gallo (2008) fala sobre a importância de um currículo que vislumbre a multiplicidade
do saber sem fragmentá-lo, capaz de possibilitar ao individuo o domínio das diferentes
ferramentas de acesso aos saberes. Ao citar currículo, indubitavelmente temos que citar
Bourdieu (1998), que visualiza na escola a reprodução das desigualdades sociais, quando ela
define seu currículo, suas metodologias e as formas de avaliar. Acredita que, agindo assim, a
escola torna-se espaço propício para as diferenças acadêmicas e cognitivas, valorizando
apenas os dons individuais. De acordo com Bourdieu (1998), a educação perde o papel que
lhe fora atribuído de instituição, que age para transformar e democratizar a sociedade,
17
assumindo o papel de instituição capaz de legitimar os privilégios sociais. Cita ainda o
funcionamento da escola e sua função de conservação social:
É necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino
que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as
desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em outras
palavras, tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato,
como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às
desigualdades iniciais diante da cultura. (BOURDIEU, 1998, p. 53).
Para o sociólogo, é necessária uma total ruptura com os sistemas de ensino, cujo
currículo é preparado sem considerar o contexto no qual a escola está inserida. Os conteúdos
precisam atender as necessidades da clientela que a escola possui, partindo do conhecimento
que os alunos já possuem e cautelosamente propondo-lhes meios de ampliar seu capital
cultural. Além do currículo, Bourdieu observa também a questão da avaliação escolar.
Segundo o autor, a avaliação não é uma simples verificação de aprendizagem, mas uma
maneira de julgar culturalmente os alunos.
Bourdieu (1998, p. 53) ressalta:
Para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais
desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos
conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos
critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes
classes sociais.
Nessa linha de pensamento, é apresentado Frigotto (1999), que discute a educação sob
a perspectiva das classes dominantes. Para o autor, a função social da educação está
subordinada a atender às demandas do capital. Suas ideias nos permitem considerar que a
dificuldade da escola em cumprir seu papel social se dá pelo fato de esta disponibilizar muito
tempo adequando-se às transformações da sociedade contemporânea.
Bourdieu (1994) destaca a escola como uma instituição que fornece condições de
ruptura, uma escola cuja revolução está presente permanentemente sem a influência dos
efeitos políticos. Para o sociólogo, há de se obter acúmulo de capital científico para estar
incluído no grupo dos favorecidos. Sua teoria demonstrou que a educação consiste em
desmascarar o processo educativo que visa a reproduzir determinada estrutura social,
influenciando os alunos a reproduzi-la inconscientemente, sem que possam ter seus próprios
pensamentos, liberdade de ação e expressão.
Assim como Bourdieu (2007), Alves e Garcia (2008) acreditam que nem toda forma
de conhecimento está na escola ou nela é ensinado. As autoras fazem alusão aos
18
conhecimentos que na escola deveriam ser ensinados, mas que são idealizados de acordo com
o que seria conveniente ou não àqueles que irão aprender. Ainda de acordo com elas, a
escolha privilegia aspectos que levam à manutenção da autoridade nas mãos de quem sempre
a teve, servindo para formar pessoas subordinadas a ordens sociais prescritas.
Ao citar formação e valorização dos profissionais, toma-se como base o que propõe a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1996) ao ressaltar que o
ensino seja ministrado com base em princípios de igualdade, liberdade, pluralismo, respeito,
valorização, gestão democrática e qualidade. Interessante dizer que a realidade põe em dúvida
os princípios que propõe a lei, pois o que se percebe é que a escola tem proporcionado uma
educação formal, atendendo ao desejo capitalista de preparar o cidadão para o mercado de
trabalho, complementando a educação que se recebe da família. Giddens (2005) cita que todos
são submetidos a um processo de educação escolar formal, por meio de informações que
captamos em livros, jornais, revista e televisão. Segundo o autor, o ensino formal oferecido
pelas escolas assumiu papel fundamental em nosso modo de vida. Para Giddens (2005), na era
moderna, a educação e as qualificações são um trampolim para oportunidades de emprego e
carreiras. As escolas e as universidades desempenham atualmente o papel de preparar novas
gerações de cidadãos.
Para assumir sua forma atual, a escola passou por um processo histórico, e sua
constituição muito reflete da revolução industrial, no final do século XIX. Mesmo exercendo
papel importante na sociedade, a escola apresenta ações limitadas baseadas nas relações de
poder. Os pioneiros da Escola Nova tinham uma concepção ampla de educação e acreditavam
que a educação não era apenas papel da escola, mas também da família. Mesmo não
desempenhando papel principal no modo de produção capitalista, a educação sempre esteve
ligada à história, determinada pelas relações econômicas, políticas, submetida e articulada ao
desenvolvimento das relações sociais.
No Brasil, desde o período republicano, a educação foi colocada como fator primordial
ao desenvolvimento social e econômico. Muitos governos entendiam que a solução dos
problemas educacionais passava pela educação. A sociedade capitalista, ao final do século
XVIII e início do século XIX, visava a uma educação que correspondesse com as
transformações econômicas. Nesse cenário, surgem movimentos marcados pela crença na
educação como mola propulsora à modernização da sociedade e o predomínio de ideias
liberais. Os republicanos idealizavam uma escola de massas, um novo tipo de escola que
atendesse aos padrões sociais da sociedade capitalista.
19
Essa discussão será fundamentada por ideias de Saviani (2006), que apresentará o
Manifesto dos Pioneiros como o grande passo em defesa da escola pública do século XX. O
texto do Manifesto dos Pioneiros fazia uma alusão à importância e gravidade do problema da
educação. Referia-se à educação como base para a preparação das forças econômicas e de
produção. Uma série de fatores que impediam a eficiência do ensino foi elencada por
Azevedo (1958), dentre os quais: o despreparo dos professores, a desorganização
administrativa, a falta de uma ação pedagógica eficiente, ensino desarticulado da vida real e
das relações humanas, ausência de democracia, conteúdos desarticulados, falta de vontade
política, desarticulação entre os diferentes graus de ensino, falta de continuidade nas políticas
educacionais, falta de autonomia, centralismo, respeito às individualidades, falta de estímulo
ao aluno, entre outros.
Acreditava-se que a Escola Nova, com seus princípios, edificaria um novo tempo e a
educação seria o elemento mais importante nesse processo. Tais princípios inspiraram as
reformas educacionais e a educação formaria um novo ser social capaz de realizar
transformações beneficiárias a si e ao país. À escola caberia a função de desenvolver as
habilidades nesse novo homem, adaptando-o para o convívio em uma sociedade democrática.
Saviani (2005a) corrobora ainda com nossa discussão, ao apresentar a ideia de que a
educação pode ser considerada um fenômeno social, pois ela está relacionada ao contexto
político, econômico, científico e cultural de uma sociedade. Embora esteja presente no
contexto histórico da sociedade, a educação se transforma, assim como se transformam o
homem e a sociedade. O autor salienta que, estudando as raízes históricas da educação
contemporânea, é possível perceber a estreita relação entre esta e a consciência que o homem
tem de si mesmo. Essa consciência se modifica de tempos em tempos, de acordo com o
modelo ideal de homem e sociedade. Tais colocações nos fazem acreditar que educação e
escola se transformam, porque precisam adaptar-se para atender às necessidades da sociedade.
A função, importância e contribuição da escola na sociedade serão foco dessa
discussão, pautada em contribuições de sociólogos como Pierre Bourdieu, Max Weber, entre
outros, que em muito contribuirão para a reflexão do papel da escola na sociedade
contemporânea. Para Weber (2002), os indivíduos se relacionam de acordo com seus
interesses comuns, assim, a educação é um diferencial, já que não é distribuída igualmente aos
indivíduos da sociedade, e a educação escolar é um meio de ascensão social.
No segundo capítulo, abordar-se-á a família, conceituando-a com base em estudos
sociológicos e antropológicos e registrando sua historicidade. Para aprofundar a discussão,
será apresentado o perfil contemporâneo de família, seus papéis e a dificuldade em cumpri-los
20
e seu papel na relação com a escola. Para ilustrar o que se propõe apresentar, serão utilizados
gráficos com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006;
2010a; 2010b; 2011) e fotos ilustrativas.
Esse capítulo foca a família e os conceitos embasados em Giddens (2005), Brym et al.
(2006), Lakatos e Marconi (1999), a relação família e escola e as dificuldades encontradas
para se estabelecer parceria entre essas instituições, e são discutidas e fundamentadas nas
ideias de Szymanzki (2011), a influência da participação da família na vida escolar, abordada
com base nas contribuições de Bourdieu, enquanto que a discussão sobre o papel social da
família é realizada com base na Constituição Federal (BRASIL, 1998) e LDB (BRASIL,
1996). Registra-se ainda, uma discussão de que a dificuldade da escola em desempenhar seu
papel passa pela família. Assim, essas instituições se encontram alienadas e, para explicar o
conceito de alienação, recorro a Marx.
Inicia-se com Giddens, que define a família como um grupo de pessoas que estão
ligadas diretamente por laços parentais. O sociólogo aponta que os membros adultos têm
como responsabilidade o cuidado pelas crianças. Nesse capítulo são apresentados outros
conceitos de família citados por outros sociólogos. É oportuno dizer que, além de conceitos,
ainda que de forma breve, é necessário abordar os tipos de famílias, as alterações na
composição delas, os sistemas de parentesco e os valores familiares, para se compreender o
quanto as mudanças afetaram essa instituição.
Bourdieu apresenta a ideia da importância da família para o bom desempenho escolar.
Segundo o autor, a transmissão de capital cultural é fundamental ao desempenho escolar e as
famílias privilegiadas culturalmente, que influenciam e estimulam os filhos desde a infância,
contribuem para que estes obtenham melhor desempenho escolar e consequentemente acesso
à escola, sua permanência e melhor formação. Para o sociólogo, família e escola são parceiras
na transmissão do capital cultural; são estruturadas para tal e possuem uma relação
interligada, ou seja, uma depende da outra.
Brym et al. (2006) apresentam a família como um agente educador cuja função é
transmitir a herança cultural e social durante os primeiros anos de vida, preparando a criança
para seu ingresso na sociedade. Além disso, tem a função social de proporcionar a conquista
de diferentes status, como o étnico, o nacional, o religioso, o residencial, o de classe, o
político e o educacional.
O art. 226 da Constituição Federal de 1988 dispõe que “a família é a base da
sociedade” (BRASIL, 1998). A LDB ressalta, em seu artigo 1º, a educação como processo
formativo que se desenvolve não só nas instituições de ensino, mas também na convivência
21
humana, vida familiar, no trabalho, nos movimentos e nas manifestações culturais (BRASIL,
1996).
Em linhas gerais, a família contemporânea será discutida elencando as inúmeras
modificações que foram se estabelecendo ao longo da história. Para Giddens (2005), o que
tem identificado a família na atualidade não são o casamento nem a diferença de sexo do par
ou, ainda, o envolvimento de caráter sexual. Sob o caráter da juridicidade, o elemento
distintivo é a presença de um vínculo afetivo a unir as pessoas com identidade de projetos de
vida e propósitos comuns, gerando comprometimento mútuo.
Nas últimas décadas, as transformações sociais atingiram diretamente o núcleo
familiar e originaram novas concepções de família, que não são mais equiparadas à
tradicional família patriarcal. A busca pela realização pessoal tem diminuído o número de
componentes familiares e, consequentemente, há uma redução no tempo que os pais deveriam
disponibilizar aos filhos. A família vem sofrendo influências do contexto político, econômico
e cultural da sociedade na qual está inserida. Os valores vão se redefinindo e muitas vezes já
não se sabe quem dita as regras dentro dos lares. Estão se constituindo novas identidades e
muitas vezes o indivíduo não se dá conta dos aspectos culturais e sociais nos quais está
imerso, tornando-se um sujeito alienado.
A importância da família como instituição pautada nos vínculos familiares tem-se
reduzido diariamente. A família moderna é constantemente desafiada por limites imprecisos,
por aspirações de consumo, devendo reconquistar, a cada dia, as razões para conviver, a
consciência do bem que os membros da família têm em comum, dos bens relacionais cujo
valor perdura no tempo.
Escola e família têm suas funções específicas, mas ao mesmo tempo são instituições
que se complementam. Uma vez que compartilham a função de educar, ainda que utilizem
metodologias diferenciadas, não é possível supor tais instituições como independentes, sem
dar importância as suas correlações.
A função de educar é divergente entre família e escola, já que a primeira se encarrega
da tarefa de socialização do indivíduo, ensinando-o valores e comportamentos passíveis de
aceitação pela sociedade, enquanto que a segunda é responsável por oferecer conhecimentos
sociais de acordo com o contexto social vigente e preparar o indivíduo para conviver nesse
meio. Entendemos, assim, que escola e família apresentam características comuns ao
desempenharem a tarefa de formar o indivíduo para viver em sociedade, mas, ao mesmo
tempo, são instituições com pontos divergentes, pois os objetivos da tarefa de ensinar são
totalmente distintos, embora muitos não tenham consciência dessa diferença.
22
Entretanto, o que se tem percebido é que tanto uma instituição quanto a outra, mesmo
com seus papéis sociais delimitados, comumente delegam a outra seu papel. Tais ocorrências
estão sobrecarregando essas instituições, o que dificulta o desempenho de sua função original.
O terceiro e último capitulo traz a relação escola/família na perspectiva das famílias. É
o momento em que é apresentado o processo metodológico da pesquisa que constituiu o
estudo de painel, e onde o universo da pesquisa é configurado, apresentando dados sobre o
município de Naviraí, Mato Grosso do Sul, discorre-se sobre como foram aplicados os
instrumentos de pesquisa, apresenta-se os perfis das famílias envolvidas e finalizamos com a
análise das entrevistas. O capítulo objetiva apresentar, passo a passo, a metodologia utilizada
na pesquisa, os dados coletados pela pesquisadora, a análise deles, bem como as
considerações sobre a influência da (não) participação da família na vida escolar. A
metodologia consiste no estudo de painel e será fundamentada por autores como Babbie
(1999) e Santos, M. (2008).
Babbie (1999) mostra que o ponto forte do estudo de painel é a capacidade de
examinar os mesmos respondentes em diferentes ocasiões. Santos, M. (2008) define que a
metodologia de painel consiste no acompanhamento de um ou mais grupos, por meio de
observação, questionários, entrevistas e coleta de dados.
Ainda nesse capítulo serão apresentados os dados da pesquisa, coletados por meio de
questionários, entrevistas, observações e, ao final, as considerações sobre a pesquisa e os
resultados obtidos.
Considera-se que este trabalho é apenas um passo para discussões futuras com base na
relação escola/família, pois estudos mais aprofundados poderão agregar a esse estudo
informações de grande valia ao entendimento da participação familiar.
CAPÍTULO I
A ESCOLA CONTEMPORÂNEA E SEU PAPEL SOCIAL
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros
desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são
pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode
levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados
sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros.
Porque a essência dos pássaros é o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados.
O que elas amam são pássaros em voo. Existem para
dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo,
isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro
dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser
encorajado. (Rubem Alves).
Não é possível falar de instituição escolar sem apresentar a definição para instituição
social, já que seus conceitos se correlacionam.
A sociologia conceitua instituição social, como elementos básicos da organização
social, um conjunto de ideias, crenças e ações resultantes do consenso e impostas pela
sociedade aos seus membros [...] (PANSANI, 2009, p. 82). No dicionário “Aurélio”
(FERREIRA, 2004, p.1113), instituição é definida como “[...]. 3. Associação ou organização
de caráter social, religioso, filantrópico, etc.”. A enciclopédia livre Wikipédia (2013b) destaca
as instituições como controladoras do funcionamento da sociedade. Enfatizam que elas são
organizadas com base em regras, normas e têm como objetivo tornar o indivíduo membro da
sociedade.
Saviani (2005b, p. 28) utiliza das contribuições de Torrinha (1945) e apresenta a
palavra “instituição” como oriunda do latim instituio, onis. De acordo com o autor, a palavra
pode ser agrupada em quatro sentidos: 1. Disposição, plano, arranjo. 2. Instrução, ensino,
educação. 3. Criação, formação. 4. Método, sistema, escola, seita. Doutrina.
É possível observar que vários sentidos da palavra instituição estão ligados à
educação.
24
As instituições são, portanto, necessariamente sociais, tanto na origem, já que
determinadas pelas necessidades postas pelas relações entre os homens, como no seu
próprio funcionamento, uma vez que se constituem como um conjunto de agentes
que travam relações entre si e com a sociedade a que servem. (SAVIANI, 2005b, p.
28).
De acordo com Saviani (2005b), as instituições educativas apresentam educação
secundária, e, por isso, a escola não detém o monopólio da educação. Esta pode ser constatada
em diversas instituições que de algum modo cuidam da educação, como igrejas, sindicatos,
associações, entre outros.
Se até então a educação acontecia de forma espontânea na família como ação primária,
aos poucos esta foi se institucionalizando dando origem à escola, como afirma Saviani
(2005b, p. 31):
Vê-se, pois, que já na origem da instituição educativa ela recebeu o nome de escola.
Desde a Antiguidade a escola foi se depurando, se complexificando, se alargando até
atingir, na Contemporaneidade, a condição de forma principal e dominante de
educação, convertendo-se em parâmetro e referência para se aferir todas as demais
formas de educação.
A escola atual tem sido alvo de diversas discussões, pois, com as transformações
sociais, surge a dúvida se ela tem correspondido aos anseios da sociedade contemporânea. Os
impactos dessas transformações dificultam para a escola assegurar ensino de qualidade, capaz
de atender às necessidades da sociedade e preparar o indivíduo culturalmente para atuar em
seu meio. Dessa forma, percebe-se que a escola tem se esforçado para acompanhar o processo
de transformação, mas aos poucos perde sua identidade e deixa de realizar sua função social.
Dentre as transformações que causam impacto na escola, destacamos as configurações
da família contemporânea, que, talvez por alienação, tem perdido sua identidade diante de
uma sociedade capitalista que agrega pouco valor aos conceitos de cultura e respeito,
delegando à escola, funções culturais essencialmente de sua responsabilidade.
O que se pretende apresentar neste capítulo são as formas como a escola tem se
configurado na sociedade atual, brevemente apresentando sua evolução histórica, e
relacionando tais discussões com as dificuldades que a escola tem enfrentado para cumprir
seu papel social.
1.1 A importância da escola na sociedade
Atualmente, muito se tem discutido sobre as mudanças ocorridas no âmbito escolar. À
medida que a sociedade foi se transformando, foram se alterando também as realidades
25
ligadas à educação na escola. Compreender todo esse processo torna-se cada dia mais difícil,
considerando a velocidade em que as mudanças se apresentam, porém necessário.
Corrobora com essa ideia, Gallo (2008, p. 15), se referindo aos que se dedicam à
educação:
[...] Ou deciframos o enigma que o monstro nos coloca ou somos devorados por ele.
No processo educativo, ser devorado é passar a fazer parte do sistema educacional
vigente, tornar-se mais uma engrenagem dessa máquina social, reproduzindo-a a
todo instante em nossos fazeres cotidianos. A condição de não ser mais uma
engrenagem é sermos capazes de decifrar os enigmas que a crise na educação nos
apresenta, conseguindo superar esse momento de rupturas.
A educação tem emergido nos discursos políticos acompanhando as transformações
sociais, sinalizando a necessidade de mudanças no contexto escolar. O que se espera é que a
educação acompanhe as transformações políticas, econômicas, culturais e sociais do mundo
globalizado, que exige um homem participativo, capaz de transformar e ser transformado no
contexto das relações sociais. Gallo (2008, p. 16) lembra, portanto, que essa postura não é
adquirida apenas na escola. O autor acredita que a postura transformadora também é adquirida
na família e nas diversas instituições sociais das quais a criança participa. O contato com
diversas realidades a leva a assumir determinadas posturas, formando seu caráter e
personalidade. Tais afirmações permitem reflexões sobre o verdadeiro papel da escola na
sociedade, considerando que, atualmente, muitas discussões permeiam as relações entre
escola e família sobre a função do educar.
Todo o grupo, para sua sobrevivência, necessita que as novas gerações tenham acesso
a conhecimentos, normas, valores, ideias, ideologias, procedimentos, tradições, herança
cultural. Isto pode acontecer na família, na comunidade, na religião. Essa transmissão pode
acontecer de maneira formal ou informal. Formal é o conhecimento transmitido pela escola e
informal se refere ao conhecimento que o individuo adquire por meio do seu convívio social.
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento das
potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos
conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes e valores) que, aliás, deve
acontecer de maneira contextualizada, e desenvolvendo nos discentes a capacidade de se
tornarem cidadãos participativos na sociedade em que vivem.
Diante de tantos desafios perante as mudanças e exigências da sociedade, a escola tem
recebido muitas críticas relacionadas aos resultados que vêm apresentando e ainda sobre a
eficácia de suas ações na sociedade. As expectativas relacionadas à educação deturpam a
26
visão da verdadeira função social da escola, e, ainda, que se esforce para acompanhar as
mudanças, os resultados nunca são satisfatórios do ponto de vista da sociedade atual.
Há uma preocupação com ensino de qualidade mais do que com educação de
qualidade. Ensino e educação são conceitos diferentes. No ensino organiza-se uma
série de atividades didáticas para ajudar os alunos a compreender áreas específicas
do conhecimento (ciências, história, matemática). Na educação o foco, além de
ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter
uma visão de totalidade. Educar é ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a
encontrar nosso caminho intelectual, emocional e profissional que nos realize e que
contribua para modificar a sociedade que temos. (MORAN, 2000, p. 12).
Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente escolar um meio que favoreça o
aprendizado, no qual a escola deixe de ser apenas um ponto de encontro e passe a ser, além
disso, encontro com o saber, com descobertas de forma prazerosa e funcional, conforme
Libâneo, Oliveira e Toschi (2005, p.117):
Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a
escola promove para todo o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de
capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades
individuais e sociais dos alunos.
A escola deve oferecer situações que favoreçam o aprendizado, onde haja sede em
aprender e também razão, entendimento da importância desse aprendizado para o futuro do
aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que possuir bens materiais, é ter
uma fonte de segurança que garanta seu espaço no mercado competitivo, ele buscará conhecer
e aprender sempre mais. Gallo (2008, p. 20) afirma que:
[...] conhecer é dominar. O processo histórico de construção das ciências modernas
agiu através da divisão do mundo em fragmentos cada vez menores, de forma a
poder conhecê-los e dominá-los. No desejo humano de conhecer o mundo está
embutido seu desejo secreto de dominar o mundo.
Refletindo sobre as colocações do autor, percebe-se que, historicamente, a educação
sempre foi permeada pelo desejo de controle. A escola não surgiu pela necessidade da
maioria, mas para atender aos desejos de poucos, que precisavam fortalecer as formas de
dominação. É passível de reflexão, a noção da escola, ao se considerar que em qualquer
espaço social pode se ter acesso ao conhecimento. Dessa forma, a escola que aparentemente
oferece educação globalizada, ao deixar de possibilitar saberes diferentes aos interesses
particulares, condizentes com as exigências contemporâneas, pode não mais atender aos
anseios da sociedade.
Emir Sader (apud MÉSZÁROS, 2005, p. 15) corrobora ao escrever que:
27
A educação, que poderia ser uma alavanca essencial para a mudança, tornou-se
instrumento daqueles estigmas da sociedade capitalista [...] Em outras palavras,
tornou-se uma peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de
um consenso que torna possível a reprodução do injusto sistema de classes. Em
lugar de instrumento da emancipação humana, agora é mecanismo de perpetuação e
reprodução desse sistema.
O autor do texto se refere ainda à discussão sobre falhas no sistema educacional,
expondo a facilidade em explicar as informações, mas a incapacidade de as pessoas em
interpretá-las.
A diferença entre explicar e entender pode dar conta da diferença entre acumulação
de conhecimentos e compreensão do mundo. Explicar é reproduzir o discurso
midiático, entender é desalienar-se, é decifrar, antes de tudo, o mistério da
mercadoria, é ir para além do capital. (SADER apud MÉSZÁROS, 2005, p. 18).
Tal colocação permite pontuar que o sistema educacional, apesar das tentativas em
melhorar a qualidade, tem priorizado o “explicar”, alienando uma quantidade cada vez mais
expressiva de sujeitos que não são capazes de decifrar o enigma da educação e, portanto, não
conseguem acumular conhecimento suficiente para se tornarem cidadãos desalienados.
Nem toda a forma de conhecimento está na escola ou nela é ensinado. Conforme
Alves e Garcia (2008, p. 69), isso acontece porque a escolha dos conhecimentos que na escola
deveriam ser ensinados foi realizada de acordo com o que seria conveniente ou não aos que
iriam aprender. Ainda as autoras, a escolha privilegiava aspectos que levassem à manutenção
da autoridade nas mãos de quem sempre a teve, servindo para formar pessoas subordinadas a
ordens sociais prescritas.
A LDB propõe que o ensino seja ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a
arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII – valorização do profissional da educação escolar;
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos
sistemas de ensino;
IX – garantia de padrão de qualidade;
X – valorização da experiência extraescolar;
XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. (BRASIL,
1996).
Até que ponto se recebe na escola uma educação com base nos princípios que propõe a
lei? A escola tem proporcionado uma educação formal, atendendo ao desejo capitalista de
28
preparar o cidadão para o mercado de trabalho; é um complemento à educação que se recebe
da família. Giddens (2005, p. 396) afirma que:
Após a infância, nossa vida passa a ser influenciada em todas as idades, pelas
informações que captamos por meio de livros, jornais, revistas e da televisão. Todos
nós nos submetemos a um processo de educação escolar formal. A palavra impressa
e a comunicação eletrônica, combinadas com o ensino formal oferecido pelas
escolas e faculdades, assumiram o papel fundamental em nosso modo de vida.
O autor salienta ainda que, na era moderna, a educação e as qualificações são um
trampolim para oportunidades de emprego e carreiras. As escolas e as universidades
desempenham atualmente o papel de preparar novas gerações de cidadãos.
Gallo (2008, p. 33) complementa a ideia do papel da escola na sociedade
contemporânea ao expor:
Não podemos, porém, perder de nosso horizonte que a utopia que nos guia é algo
bem maior: a criação de uma concepção de saber que vislumbre a multiplicidade
sem a fragmentação; um currículo e uma escola na qual as crianças possam aprender
sobre o mundo em que vivem, um mundo múltiplo e cheio de surpresas, e possam
dominar as diferentes ferramentas que permitam seu acesso aos saberes
possibilitados por esse mundo, e possam aprender a relacionar-se com os outros e
com o mundo em liberdade.
Para assumir sua forma atual, a escola passou por um processo histórico, e sua
constituição muito reflete da revolução industrial, no final do século XIX. Mesmo exercendo
papel importante na sociedade, a escola apresenta ações limitadas diante da sociedade baseada
nas relações de poder. Os republicanos, inspirados por ideias educacionais positivistas,
acreditavam na educação para o progresso, por esse motivo, estava sempre presente nos
discursos políticos.
Os pioneiros da Escola Nova tinham uma concepção ampla de educação e acreditavam
que esta não era apenas papel da escola, mas também da família. Mesmo não desempenhando
papel principal no modo de produção capitalista, a educação sempre esteve ligada à história,
determinada pelas relações econômicas, políticas, submetida e articulada ao desenvolvimento
das relações sociais.
Educação engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenômeno observado
em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, responsável pela sua
manutenção e perpetuação a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos
modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de
um membro no seu grupo ou sociedade. Enquanto processo de sociabilização, a
educação é exercida nos diversos espaços de convívio social, seja para a adequação
do indivíduo à sociedade, do indivíduo ao grupo ou dos grupos à sociedade. Nesse
sentido, educação coincide com os conceitos de socialização e endoculturação, mas
não se resume a estes. (WIKIPÉDIA, 2013a).
29
A educação pode ser considerada um fenômeno social, pois está relacionada ao
contexto político, econômico, científico e cultural de uma sociedade. Embora esteja presente
no contexto histórico da sociedade, ela se transforma, assim como se transforma o homem e a
sociedade.
Corrobora com essa ideia, Saviani (2005a, p. 55), ao afirmar que:
O estudo das raízes históricas da educação contemporânea nos mostra a estreita
relação entre a mesma e a consciência que o homem tem de si mesmo, consciência
esta que se modifica de época para época, de lugar para lugar, de acordo com um
modelo ideal de homem e de sociedade.
Encontra-se no Dicionário Michaelis (2009), a seguinte definição para educação: “1
Ato ou efeito de educar. 2 Aperfeiçoamento das faculdades físicas intelectuais e morais do ser
humano; disciplinamento, instrução, ensino. 3 [...]. 4 Formação consciente das novas gerações
segundo os ideais de cultura de cada povo”.
A partir dessas definições, percebe-se que, assim como a educação, a escola também
se transforma, e isto acontece porque precisa adaptar-se para atender às necessidades da
sociedade.
As transformações sociais trazem novos desafios à educação no século XXI,
principalmente no que se refere à qualidade de ensino. Apesar de ser direito de todos e
necessidade social, a educação com qualidade se restringe a poucos. O acesso em massa às
instituições de ensino acompanha as mudanças. Por motivos diversificados, a população tem
se empenhado em permanecer na escola, principalmente os grupos que anteriormente não
tinham acesso à educação e que, atualmente, com as exigências do mercado de trabalho,
buscam qualificar-se pelos estudos.
Para atender as novas necessidades da sociedade, a escola tem tentado se reestruturar
para transmitir o conhecimento sistematizado que atenda às exigências dessa sociedade em
constante evolução. Mais do que se adaptar às constantes mudanças, a escola precisa dedicar-
se para acompanhar a evolução, oferecendo ensino de qualidade e conhecimento que promova
a interação.
1.2 Função social da escola
Objeto de inúmeras pesquisas, a escola sempre esteve na pauta de discussões sobre sua
importância para a sociedade, considerando que essa instituição tem influência na formação
dos indivíduos e nas suas relações sociais.
30
Na sociedade contemporânea, é fundamental que os indivíduos tenham recebido
educação formal para estarem inseridos no mercado de trabalho. Assim, o papel social da
escola de preparo técnico está cada vez mais evidente, e a adaptação às novas regras, cada dia
mais necessária.
Para o sociólogo Weber (2002), os indivíduos se relacionam de acordo com seus
interesses comuns, assim, a educação é um diferencial, já que não é distribuída igualmente aos
indivíduos da sociedade, e a educação escolar é um meio de ascensão social. Parafraseando
Vilela (2001, p. 90), os sistemas escolares e as práticas sociais, no interior destes,
desenvolvem um processo de imposição dos caracteres dos grupos sociais e do poder
estabelecido.
De acordo com a concepção de Weber (2002), o que afetou e continua afetando a
educação em nossa sociedade é a racionalização e a burocratização. O sociólogo se
preocupava com o que é específico do mundo ocidental moderno, “a presença de um
capitalismo organizado em moldes racionais e a racionalização da conduta em todas as esferas
da existência humana” (COHN, 2004, p. 15).
Em sua concepção, uma característica do processo de racionalização é o processo de
burocratização. A burocracia é racional, permeada por regras, impessoalidade, hierarquia,
cada vez mais presente na administração pública, nas empresas capitalistas, nos partidos
políticos. Rodrigues (2007, p. 65) corrobora afirmando:
A racionalização e a burocratização alteraram radicalmente os modos de educar. E
alteraram também o status, o reconhecimento e o acesso a bens materiais por parte
dos indivíduos que se submetem à educação sistemática Educar no sentido da
racionalização passou a ser fundamental para o Estado, porque ele precisa de um
direito racional e de uma burocracia montada nos moldes racionais.
Dessa forma, a escola forma homens racionais preparados para viver em uma
sociedade cujo principal objetivo é a aquisição do poder, oferece uma educação com
perspectiva de dominação. Parafraseando Rodrigues (2000, p. 75) em leitura às ideias de
Weber sobre educação, encontramos que “a educação é o modo pelo qual os homens são
preparados para exercer as funções que a transformação causada pela racionalização da vida
lhes colocou à disposição”.
Bourdieu foi um dos primeiros sociólogos europeus com análise voltada à sociologia
da educação e da cultura que marcaram gerações de intelectuais e de grande notoriedade
nacional e internacional. Dedicou-se à pesquisa das sociedades contemporâneas e das relações
31
sociais que mantêm os diferentes grupos sociais, tendo o sistema de ensino como instituição
que permite a reprodução da cultura dominante.
Um dos objetivos da Sociologia da Educação de Bourdieu é a de que os alunos não são
indivíduos abstratos que competem em condições relativamente igualitárias na escola, mas
atores socialmente constituídos que trazem, em larga medida incorporada, uma bagagem
social e cultural diferenciada e mais ou menos rentável no mercado escolar. O grau variado de
sucesso alcançado pelos alunos ao longo de seus percursos escolares não poderia ser
explicado por seus dons pessoais relacionados a sua constituição biológica ou psicológica
particular, mas por sua origem social, que os colocaria em condições mais ou menos
favoráveis diante das exigências escolares.
Bourdieu destaca uma instituição que fornece condições de ruptura, uma escola em
que a revolução esteja presente permanentemente sem a influência dos efeitos políticos. É
nesse momento que o autor cita o capital científico, pois, para haver uma revolução, há de se
obter acúmulo de capital científico para estar incluído no grupo dos favorecidos.
Com um pensamento construtivista estruturalista, Bourdieu admitia que houvesse no
mundo estruturas objetivas que pudessem dirigir a ação do individuo, chamados agentes. Tais
ordens são construídas socialmente, como os esquemas de ação e pensamento, chamados de
habitus. A noção de habitus refere-se à incorporação de uma determinada estrutura social
pelos indivíduos, influenciando seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que se inclina a
confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que nem sempre de modo consciente. Se ele for
constituído ao longo da vida do indivíduo, será uma estrutura sempre atualizada perante as
ações práticas e as novas situações que o indivíduo venha a vivenciar.
O que é importante destacar é a análise de como os agentes incorporam a estrutura ao
mesmo tempo em que a reproduzem e reconhecem. Então se pode dizer que ele dialoga com o
naturalismo, ao mesmo tempo em que pensa qual espécie de liberdade os agentes detêm.
Bourdieu empreendeu uma investigação sociológica do conhecimento que detectou um jogo
de dominação e reprodução de valores. Propôs nos anos de 1960, um novo modo de
interpretação da escola e da educação, capaz de apontar a forte relação entre desempenho
escolar e origem social, que se transformaram em elementos de sustentação de uma nova
teoria, além de propor novas teses visando à igualdade de oportunidades e justiça social.
O autor visualiza na escola a reprodução das desigualdades sociais, quando ela define
seu currículo, suas metodologias e as formas de avaliar. Acredita que, agindo assim, a escola
torna-se espaço propício para as diferenças acadêmicas e cognitivas, valorizando apenas os
dons individuais. De acordo com Bourdieu, a educação perde o papel que lhe fora atribuído de
32
instituição que age para transformar e democratizar a sociedade, assumindo o papel de
instituição capaz de legitimar os privilégios sociais. Ressalta ainda o funcionamento da escola
e sua função de conservação social, dizendo que:
É necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino
que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as
desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em outras
palavras, tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato,
como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às
desigualdades iniciais diante da cultura. (BOURDIEU, 1998, p. 53).
Vale destacar que Bourdieu criou o conceito da violência simbólica, que pode ser
praticada por diferentes instituições da sociedade, como o Estado, a mídia, a escola. A
violência simbólica é estabelecida a partir do momento em que se organizam, segundo uma
ordem hierárquica, os cargos na escola, pois assim a mensagem transmitida não é natural. Por
meio da educação, o aluno pode distinguir se está sendo vítima de uma violência simbólica.
Esta pode ser um processo irreversível, cabendo à escola desfazer a imagem de autoritarismo
e demonstrar ao aluno que o espaço escolar pode ser um aliado as suas limitações e que, além
de institucionalizar o conhecimento, também está à disposição para escutar e compreendê-lo.
Portanto, é necessária uma total ruptura com os sistemas de ensino, cujo currículo é
preparado sem considerar o contexto no qual a escola está inserida. Os conteúdos precisam
atender as necessidades da clientela que a escola possui, partindo do conhecimento que os
alunos já possuem e cautelosamente propondo-lhes meios de ampliar seu capital cultural.
Além do currículo, Bourdieu observa também a questão da avaliação escolar. Segundo o
autor, a avaliação não é uma simples verificação de aprendizagem, mas uma maneira de julgar
culturalmente os alunos.
Bourdieu (1998, p. 53) ressalta:
Para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais
desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos
conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos
critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes
classes sociais.
Segundo sua teoria, o estilo da fala, da escrita, o comportamento, a curiosidade
intelectual, o interesse e a disciplina, tão cobrados pela escola, só serão plenamente
contemplados quando a família socializar o indivíduo ensinando-lhe esses valores.
Destacamos, mais uma vez, a importância da família para a atuação do indivíduo no meio
cultural, social e escolar. É fundamental que os pais formulem estratégias para orientar os
33
filhos em sua trajetória. Constitui-se no papel do capital social como instrumento para
acumulação de capital cultural.
Ao relacionar o capital cultural com a educação, é possível dizer que, a partir dos
sucessos e insucessos vividos pelos indivíduos no meio escolar, as famílias passam a se
adaptar, ainda que inconscientemente, e dependendo do grupo social do qual façam parte,
investirão mais ou menos esforço, dedicação e até mesmo recurso financeiro, se perceberem
que há probabilidade de êxito.
Bourdieu (1998, p. 53, grifo do autor) observa que:
O grau de investimento na carreira escolar está relacionado ao retorno provável,
intuitivamente estimado, que se pode obter com o título escolar, não apenas no
mercado de trabalho, mas, também, nos diferentes mercados simbólicos, como o
matrimonial, por exemplo. Esse retorno, ou seja, o valor do título escolar nos
diversos mercados variaria, basicamente, em função de sua maior ou menor oferta.
Quanto “mais fácil o acesso a um título escolar, maior a tendência a sua
desvalorização (inflação de títulos)”.
A partir de Bourdieu, tornou-se praticamente impossível analisar as desigualdades
escolares, simplesmente, como frutos das diferenças naturais entre os indivíduos. Apesar de
exercerem forte influência nos ambientes pedagógicos nas décadas de 1970 e 1980, suas
pesquisas foram muito criticadas pelo exagero pessimista de sua visão sobre a escola. Muitos
autores demonstraram que nem sempre as desigualdades sociais se reproduzem na escola,
entretanto, as conclusões de Bourdieu não foram contestadas por nenhum deles.
As contribuições de Bourdieu foram significativas para a sociologia da educação. O
teórico nos forneceu elementos para analisar as relações estabelecidas entre a escola e a
família. Fica evidente em sua teoria o papel fundamental desempenhado pela família, que
quando bem-posicionado, influencia na concepção de valores, no desempenho escolar, na
formação e visão de mundo constituída pelo indivíduo.
Demonstrou que a educação consiste em desmascarar o processo educativo que visa a
reproduzir determinada estrutura social, influenciando os alunos a reproduzi-la
inconscientemente, sem que possam ter seus próprios pensamentos, liberdade de ação e
expressão. Apesar de toda a contribuição, pouco mudou no sistema escolar, que continua
fortalecendo as desigualdades sociais, em um processo de exclusão aos menos favorecidos
pelo acúmulo de capital cultural.
É necessária uma ação conjunta para que haja transformações. A começar pelas
políticas públicas educacionais, que garantem igualdade e direitos a todos apenas no papel. O
acesso é livre, porém a permanência é complicada.
34
Os estudos de Bourdieu contribuíram para transformar a interpretação sociológica
relacionada à educação predominante até meados do século XX. Até então, estudos
apontavam a escola como instituição neutra. Segundo Nogueira e Romanelli (2000, p. 12),
acreditava-se que, supostamente por intermédio da escola pública e gratuita, o problema com
o acesso seria resolvido e o princípio de igualdade de oportunidades entre os cidadãos estaria
garantido.
Atualmente, os índices de aprendizado fomentam ainda mais as discussões sobre a
escola pública, o que aponta as preocupações referentes ao papel da escola. A ampliação do
acesso à escola não garante o sucesso escolar de muitos alunos, pois diversos fatores, como
precariedade do espaço escolar, falta de equipamentos e materiais didáticos, desvalorização e
má formação de profissionais da educação e pouca flexibilidade curricular, dificultam a oferta
de ensino com qualidade. Aliados a tais fatores, ressaltam-se os problemas com indisciplina e
a descrença no ensino escolar, além da influência da família que, por sua vez, está totalmente
desorientada em meio à intensa mudança nas estruturas sociais.
A escola tem papel importante diante dessa sociedade democrática, na qual o princípio
básico de organização escolar deve ser uma gestão democrática, voltada para os interesses
reais, cujo currículo flexível contribui para a formação de um cidadão atuante,
compromissado e participativo.
Inoue (1999, p.77) salienta que:
A escola precisa ter argumentos para defender sua proposta, é importante que os pais
conheçam os princípios da escola, sua forma de trabalhar, deve abrir espaço para
apresentar seu projeto educativo aos pais e a comunidade [...] deve oferecer a eles a
possibilidade de refletir questões, discuti-las, encontrar alternativas e se sentirem
corresponsáveis pelos caminhos e decisões tomadas.
Vale ressaltar que a educação deve acontecer de forma participativa e por meio de uma
relação de interdependência entre escola e família. De acordo com os Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1997, v. 8, p. 25), a escola não muda a sociedade, mas ao partilhar seu
projeto com segmentos sociais que partilhem dos mesmos princípios democráticos de forma
articulada, pode tornar-se um espaço de transformação.
Importante dizer que embora o sistema educacional persista em difundir a alienação,
esse processo só terá continuidade se a escola insistir em se esquivar de sua responsabilidade
social e mantiver um ensino com base em valores da classe dominante.
35
1.3 A escola no Brasil
Desde o período republicano, a educação foi colocada como fator primordial ao
desenvolvimento social e econômico. Muitos governos entendiam que a solução dos
problemas educacionais passava pela educação. A criação do Ministério da Educação e
Saúde, após a Revolução de 1930, fez com que a escola pública se tornasse uma questão
nacional; destaque para a descentralização no campo educacional. Os Estados ficam
responsáveis por legislar e organizar sua rede de ensino, enquanto que à União competia a
função de criar e controlar a educação superior em todo o país.
A sociedade capitalista ao final do século XVIII e início do século XIX visava a uma
educação que correspondesse às transformações econômicas. Nesse cenário, a criação da
Escola Nova, de acordo com Hilsdorf (2003, p. 83), “seria a pedagogia adequada porque
proporcionava práticas de higienização, racionalização e nacionalização”. Surgem
movimentos marcados pela crença na educação como mola propulsora à modernização da
sociedade e o predomínio de ideias liberais. Os republicanos idealizavam uma escola de
massa, um novo tipo de escola que atendesse aos padrões sociais da sociedade capitalista.
A educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu – no seu
todo – ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à
máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e
transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não
pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da sociedade. (MÉSZÁROS, 2005, p.
35)
O ensino institucionalizado no início da sociedade capitalista era uma forma de
dominação, de imposição e subordinação. Manter as crianças na escola privilegiava a relação
de poder, que muitas vezes eram ensinadas com atos de brutalidade e violência.
Com a industrialização, surge a necessidade de uma escola que tivesse como
componentes fundamentais os cuidados com o corpo, a disciplina e a higiene. A educação
escolar tornou-se, assim, uma educação voltada à formação do futuro operário, e a escola um
espaço para aprender, uma instituição privilegiada de ensino. Ao final do século XIX, a
profissão de professor é valorizada e era visto com bons olhos pela sociedade.
A escola surge como um antídoto à ignorância [...]. Seu papel é difundir a instrução,
transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados
logicamente. [...]. A escola organiza-se como uma agência centrada no professor.
[...]. O essencial era contar com um professor razoavelmente bem preparado.
(SAVIANI, 2009, p. 5-6).
36
O momento exigia uma organização do sistema nacional de ensino, para que a escola
pudesse atender a escolarização em massa. Segundo Saviani (2009, p. 5), a organização do
sistema nacional de ensino foi inspirada no princípio de que a educação é direito de todos e
dever do Estado. Possibilitar educação a todos era interesse da nova classe que detinha o
poder: a burguesia. Acreditava-se que o indivíduo esclarecido deixaria de ser súdito,
tornando-se cidadão e que isso só seria possível por meio do ensino.
Advogar escola para todos correspondia ao interesse da burguesia porque era
importante uma ordem democrática consolidada e correspondia também ao interesse
do operariado, do proletariado, porque para ele era importante participar do processo
político, participar das decisões. (SAVIANI, 2009, p. 48).
Entretanto, surgem as contradições de interesses camufladas sobre esse objetivo
comum. As camadas dominadas, ao participarem das eleições, não votavam de acordo com as
perspectivas das camadas dominantes. Ao defender o direito à educação para todos, a
burguesia previa que o povo instruído saberia escolher os melhores governantes, mas ele
escolhia o que era melhor aos seus propósitos e não os melhores do ponto de vista dominante.
Ressalta-se, assim como Hilsdorf (2005), que, apesar da escola pública ter como
projeto a educação da grande massa, o ensino não era oferecido a toda a sociedade. Foram
integrados à escola pública, aqueles que pertenciam aos setores ligados ao trabalho urbano,
excluindo-se uma grande parcela da população. Como não estava atendendo as perspectivas
dominantes, o raciocínio foi o de que a escola não estava funcionando bem. Era preciso
reformar a escola, pois não adiantava oferecer educação a todos se esta impossibilitava a
dominação. “E surgiu a Escola Nova, que tornou possível, ao mesmo tempo, o aprimoramento
do ensino destinado às elites e o rebaixamento do nível de ensino destinado às camadas
populares” (SAVIANI, 2009, p. 48).
As reivindicações pelo espaço escolar têm como documento base o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, cujo principal objetivo era a reorganização educacional. Para
Saviani o Manifesto foi um grande passo em defesa da escola pública do século XX. O autor
se posiciona dizendo:
O Manifesto apresenta-se, pois, como um instrumento político, como é o próprio,
aliás, desse “gênero literário”. Expressa a posição do grupo de educadores que se
aglutinou na década de 1920 e que vislumbrou na Revolução de 1930 a
oportunidade de vir a exercer o controle da educação no país [...]. Pode, pois, ser
considerado um importante legado que nos é deixado pelo século XX. É um marco
de referência que inspirou as gerações seguintes, tendo influenciado, a partir de seu
lançamento, a teoria da educação, a política educacional, assim como a prática
pedagógica em todo o país. (2006, p. 34-35)
37
O texto do Manifesto dos Pioneiros fazia uma alusão à importância e gravidade do
problema da educação. Referia-se à educação como base para a preparação das forças
econômicas e de produção. Uma série de fatores que impediam a eficiência do ensino foi
elencada por Azevedo (1958), dentre os quais: o despreparo dos professores, a desorganização
administrativa, a falta de uma ação pedagógica eficiente, o ensino desarticulado da vida real e
das relações humanas, a ausência de democracia, os conteúdos desarticulados, a falta de
vontade política, a desarticulação entre os diferentes graus de ensino, a falta de continuidade
nas políticas educacionais, de autonomia, centralismo, de respeito às individualidades, de
estímulo ao aluno, entre outros.
Acreditava-se que a Escola Nova com seus princípios edificaria um novo tempo e a
educação seria o elemento mais importante nesse processo. Tais princípios inspiraram as
reformas educacionais. A educação formaria um novo ser social capaz de realizar
transformações beneficiárias a si e ao país. À escola caberia a função de desenvolver as
habilidades nesse novo homem, adaptando-o para o convívio em uma sociedade democrática.
1.4 Os fatores que dificultam o cumprimento do papel social da escola
Como mediação para a apropriação histórica da herança cultural a que supostamente
têm direito os cidadãos, o fim último da educação é favorecer uma vida com maior
satisfação individual e melhor convivência social. A educação, como parte da vida, é
principalmente aprender a viver com a maior plenitude que a história possibilita. Por
ela se toma contato com o belo, com o justo e com o verdadeiro, aprende-se a
compreendê-los, a admirá-los, a valorizá-los e a concorrer para sua construção
histórica, ou seja, é pela educação que se prepara para o usufruto (e novas
produções) dos bens espirituais e materiais. (PARO, 2001, p 37-38).
Como já foi discutido anteriormente, está cada dia mais evidente o papel da escola em
preparar tecnicamente os indivíduos. Entretanto, para que isso aconteça, a escola precisa
também se adaptar às novas exigências sociais, o que dificulta seu trabalho. É imprescindível
estar preparada para formar um cidadão completo, que não tenha apenas conhecimento
técnico, mas que seja capaz de não se deixar alienar-se pelas mudanças sociais. Diante disso,
não há como continuar propagando conhecimentos descontextualizados da realidade social.
Discussões apresentam a escola como incapaz de cumprir com suas funções sociais,
mas se esquecem de que ela apresenta dificuldades por não ser uma instituição isolada da
sociedade vigente. As dificuldades em acompanhar o processo de transformação social
ocorrem porque não há preparo para atender a alunos em suas mais complexas diversidades.
38
A fim de retomar as rédeas da situação, a instituição escolar necessita rever
plenamente seus mecanismos educacionais, buscar meios que a permitam lidar com o volume
de inovações. Rever mecanismos envolve também um currículo atualizado, docentes
capacitados, gestão democrática e participativa, fatores já garantidos na LDB.
Torna-se necessário uma escola significativa, capaz de ensinar e preparar os sujeitos a
serem críticos, sem se esquecer de sua função principal: ensinar os indivíduos com qualidade.
Saviani (2009, p. 52) corrobora com essa ideia ao colocar que promover o homem significa
“torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder
intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, comunicação e
colaboração entre os homens”.
Os professores devem capacitar-se continuamente para serem mediadores do
conhecimento e não apenas reprodutores de técnicas que não permitem ao aluno articular e
interagir nas relações sociais.
Embora atualmente se tenha uma escola aberta, que possibilita o acesso de todos a ela,
observamos que as maiores dificuldades enfrentadas dizem respeito a uma verdadeira crise de
paradigmas permeando a existência da escola, que, bombardeada com tantas mudanças no
contexto social, para se adequar às necessidades da sociedade, muitas vezes deixa sua
principal função em segundo plano.
CAPÍTULO II
A FAMÍLIA E A VIDA ESCOLAR DOS FILHOS
Em geral, a família é considerada o fundamento básico e universal das sociedades,
embora variem suas estruturas e funcionamento.
Antropólogos e sociólogos que estudam família apresentam alguns conceitos básicos
sobre ela. Giddens (2005, p. 151) a define como “um grupo de pessoas diretamente unidas por
conexões parentais, cujos membros adultos assumem a responsabilidade pelo cuidado das
crianças”. Para Murdock (1969:1apud BRYM et al., 2006, p. 106), a família é “um grupo
social caracterizado pela residência comum”. Em Lucy Mair (1970 apud BRYM et al., 2006,
p. 106), encontra-se a definição de “grupo doméstico no qual os pais e filhos vivem juntos”.
Já Beals e Hoijer (apud BRYM et al., 2006, p. 106) definem família como “um grupo social
cujos membros estão unidos por laços de parentesco, um grupo de parentes afins e seus
dependentes que vivem juntos”. “Num sentido amplo, a família sempre foi definida como um
conjunto de pessoas ligadas entre si pelo casamento e a filiação, ou ainda pela sucessão dos
indivíduos descendendo uns aos outros [...]” (BEALS; HOIJER apud ROUDINESCO, 2003, p. 18).
Percebe-se que os conceitos de família são variados, mas se verificam algumas coisas
em comum nessas definições.
A família tem evoluído ao longo dos anos. Roudinesco (2003) enfatiza três períodos
nessa evolução. De acordo com a autora, o primeiro período trata da família “tradicional”,
responsável, acima de tudo, pela transmissão de um patrimônio. Os casamentos são arranjados
pelos pais e a família é composta com base na autoridade patriarcal. Em um segundo
momento, destaque à família moderna, fundada com base no amor e na reciprocidade de
sentimentos. Nessa constituição familiar, valoriza-se a divisão do trabalho entre os adultos e a
educação da criança é delegada à nação. A partir dos anos de 1960, cabe destaque à família
contemporânea, cujos indivíduos se unem em busca de relações íntimas ou realização sexual.
40
Interessante ressaltar que, segundo a autora, a autoridade torna-se um problema na medida em
que aumenta o número de divórcios, das separações e das recomposições conjugais.
As formas de organizações sociais vão se alterando e também as maneiras como se
organizam ou estruturam os grupos familiares e, assim, surgem os diversos tipos de família,
que sucintamente serão apresentados a seguir.
2.1 Conceito de família e o perfil da família contemporânea
Pansani (2009, p. 65-66) define a família como “instituição fundamental da
sociedade”. De acordo com o autor, a sociedade é resultado da associação de famílias.
Apresenta ainda três tipos organização familiar: conjugal, patriarcal e tronco. A conjugal,
segundo ele, é formada por um homem e uma mulher unidos por laços matrimoniais e pelos
filhos dessa união; a patriarcal é dominada pelo ancestral mais velho que exerce autoridade
sobre todos; e tronco é a família composta de pais, filhos e netos.
Antropólogos e sociólogos se referem ainda a outra organização: a família nuclear,
composta de dois adultos vivendo juntos em um núcleo doméstico com suas crianças. Para os
funcionalistas, a família nuclear é capaz, entre outras funções, de educar os filhos
proporcionando-lhes apoio emocional para que estes possam aprender as regras do grupo e
transformarem-se em adultos produtivos.
Teórico funcionalista, George Murdock (apud BRYM et al., 2006, p. 361) escreve
que: “Seja como a única forma dominante de família, seja como a unidade básica sobre a qual
formas familiares mais complexas se constituem, a família nuclear existe como um grupo
distinto e fortemente funcional em toda a sociedade conhecida”. De acordo com o autor, a
família nuclear baseia-se no casamento.
No Brasil, somente a partir das primeiras décadas do século XX é que o modo de
organização nuclear predominou entre as classes médias, e, antes disso, o sistema familiar
dominante era o patriarcalismo. Ao final desse século, com o predomínio de novos valores e
maneiras de se perceber o mundo familiar, a forma nuclear tem sua existência bastante
limitada no país (BRYM et al., 2006).
A composição de duas ou mais famílias nucleares, ligadas por laços consanguíneos, é
denominada família extensa. Seria a considerada família ampliada, justificada pela presença
de parentes no ambiente familiar. Normalmente, inclui avós, irmãos e suas esposas, irmãs e
seus maridos, tias e sobrinhos. É uma expansão vertical da organização nuclear.
41
Uma unidade formada por três ou mais cônjuges e seus filhos denomina-se família
composta. Pode existir em sociedades monogâmicas, quando um segundo casamento leva a
uma relação de madrasta, padrasto, enteados. Esse tipo de organização refere-se a um núcleo
de famílias separadas, mas interligadas por apresentarem um pai ou mãe em comum.
A unidade composta de dois ou mais irmãos, suas respectivas esposas e filhos, cujo
laço de união é consanguíneo, constitui a família conjugada-fraterna. É considerada fantasma,
a unidade familiar formada por uma mulher casada e seus filhos, pois o pai é o “fantasma”,
apenas o genitor, mas desempenha o papel de pai. Normalmente, nesses casos, o papel de pai
cabe à mãe ou ao irmão mais velho.
No que compete à autoridade, a família pode ser patriarcal, quando a figura central é o
pai; matriarcal, quando há predominância feminina e paternal igualitária, na qual há um
equilíbrio entre os cônjuges. Esse tipo de família é mais comum na sociedade americana.
O IBGE (2010c) apresenta as seguintes considerações sobre a família:
As famílias são constituídas no interior dos domicílios, cuja infraestrutura afeta
diretamente o bem-estar de seus moradores. A composição familiar caracteriza os
diferentes ciclos de vida pelos quais passa a família ao longo se sua existência. Cada
ciclo apresenta vulnerabilidades específicas a serem objeto de medidas ativas de
proteção social, em particular, a presença de crianças e idosos (relações de
dependência), comprometimento de renda familiar (situação de pobreza) e relações
de gênero. Famílias são formadas por indivíduos, com suas características básicas
em termos de idade, sexo e cor ou raça. Os indivíduos que ao participarem da vida
social e laboral, vão, em primeira instância, influenciar a sua situação familiar.
Atualmente, a família se apresenta na sociedade com inúmeras modificações que
foram se estabelecendo ao longo da história. A partir da Constituição Federal de 1988,
passou-se a ter uma visão diferenciada da família. Ao entrar em vigor, a Constituição
estabeleceu a igualdade entre homem e mulher e o conceito de família integra a proteção de
todos os seus integrantes. A Lei expressa, ainda, além do casamento, a união estável e a
família monoparental.
Os lares monoparentais tornaram-se muito comuns nas últimas três décadas e a
maioria é encabeçada por mulheres. O lar monoparental é diversificado, sendo constituído
muitas vezes por mães viúvas. Entretanto, mais da metade destas são proprietárias do imóvel,
enquanto as mães solteiras, que nunca se casaram, vivem em imóveis alugados. Mas cabe
ressaltar que 60% desses lares surgem atualmente com separação ou divórcio (GIDDENS, 2005).
As mudanças apresentadas na organização familiar são grandes desafios nas
investigações dos institutos de estatística. O IBGE (2011) tem considerado, em suas pesquisas
domiciliares, a família como grupo residente em um mesmo domicílio, ainda que não existam
vínculos entre seus componentes. Infelizmente, essa organização não contempla todas as
42
dimensões sociológicas de conceitos de família. O que existe é apenas uma aproximação do
conceito utilizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA).
A família contemporânea se pluralizou; não se restringe mais a modelos de famílias
nucleares; são famílias recompostas, homoafetivas e mais um inúmero de denominações
(Figura 3).
Na época moderna, a família ocidental deixou, portanto de ser conceitualizada como
o paradigma de um vigor divino ou do Estado. Retraída pelas debilidades de um
sujeito em sofrimento, foi sendo cada vez mais dessacralizada, embora permaneça,
paradoxalmente, a instituição humana mais sólida da sociedade.
À família autoritária de outrora, triunfal ou melancólica, sucedeu a família mutilada
de hoje, feita de feridas íntimas, de violências silenciosas, de lembranças recalcadas.
(ROUDINESCO, 2003, p. 20-21).
Ao pensar em família, vem à mente o modelo convencional, um homem e uma mulher
unidos pelo casamento e cercados de filhos. Mas essa realidade mudou assim como afirmam
Oliveira e Muniz (2002, p. 13):
A família transforma-se no sentido de que se acentuam as relações de sentimentos
entre os membros do grupo: valorizam-se as funções afetivas da família, que se
torna o refúgio privilegiado das pessoas contra a agitação da vida nas grandes
cidades e das pressões econômicas e sociais. É o fenômeno social da família
conjugal, ou nuclear ou de procriação, onde o que mais conta, portanto, é a
intensidade das relações pessoais de seus membros.
O que tem identificado essa instituição na atualidade não são o casamento nem a
diferença de sexo do par ou ainda o envolvimento de caráter sexual. Sob o caráter da
juridicidade, o elemento distintivo é a presença de um vínculo afetivo a unir as pessoas com
identidade de projetos de vida e propósitos comuns, gerando comprometimento mútuo
(PETRINI; ALCÂNTARA; MOREIRA, s.d.).
Para muitos, a família era uma fonte vital de alívio e conforto, amor e
companheirismo, mas poderia significar também lugar de exploração, solidão e profunda
desigualdade. Surge assim o feminismo, causando grande impacto na sociologia ao
demonstrarem uma visão familiar de domínio e desigualdade.
Dessa forma, nos anos de 1970 e 1980, as perspectivas feministas dominaram debates
e pesquisas sobre a família. O feminismo conseguiu direcionar as atenções dentro da
organização para o exame das experiências das mulheres na esfera doméstica. Escritores
feministas buscaram mostrar que a presença de relações de poder desigual dentro da família
significava maiores benefícios a certos membros (GIDDENS, 2005).
Estudos sobre a divisão do trabalho doméstico e o cuidado com as crianças
demonstram que as mulheres continuam a carregar a principal responsabilidade pelos afazeres
43
domésticos, desfrutam de menos tempo de lazer, mas nunca antes se viu um número tão
grande de mulheres trabalhando fora, em empregos remunerados, como vemos atualmente.
(GIDDENS, 2005).
Na última década surgiu uma corrente sociológica sobre a família com base nas
perspectivas feministas, mas não se restringindo somente às mulheres. Uma das principais
preocupações são as transformações que estão ocorrendo nos perfis familiares. As famílias
vivenciam expectativas diferentes em seus lares e nas relações pessoais dos indivíduos.
Aumentou o número de divórcios, das relações monoparentais e surgem lares reconstituídos,
homossexuais e de coabitação.
As famílias reconstituídas estão desenvolvendo tipos de relações familiares que são
adições recentes às sociedades ocidentais modernas. Os membros dessa organização estão
desenvolvendo suas próprias formas de se ajustar às circunstâncias relativamente inexploradas em
que se encontram. Autores citam relações binucleares, para conceituarem as famílias que se formam
após um divórcio, sendo dois lares que compreendem um sistema em que há filhos envolvidos.
As transformações são intensas e talvez o mais apropriado seja dizer que, mesmo com
divórcios, as famílias não se desfazem, sobretudo quando há filhos envolvidos, pois os laços
permanecem.
Em reportagem da Revista Brasileiros (2012), o IBGE divulga registro de taxa recorde
de divórcios (Figura 1).
Figura 1 – Quadro de taxa de divórcios no Brasil. Fonte: REVISTA Brasileiros. IBGE: Brasil registra taxa de divórcios recorde. 17 dez. 2012. Disponível em:
<http://www.revistabrasileiros.com.br/2012/12/17/ibge-brasil-registra-taxa-de-divorcios-recorde/>. Acesso em:
22 mar. 2013.
IBGE: Brasil registra taxa de divórcios recorde 351.153 divórcios foram realizados em 2011. Número representa crescimento de 45,6% em
relação a 2010
Divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta segunda-feira, dia 7, as
Estatísticas do Registro Civil apontam taxa de divórcios recordes no País. De acordo com os registros,
351.153 divórcios foram realizados em 2011, um crescimento de 45,6% em relação a 2010, quando foram
registrados 243.224 divórcios. É a maior taxa desde 1984, quando a série de estatísticas foi criada.
O número representa 2,6 divórcios para cada mil habitantes acima de 15 anos de idade. Um dos fatores
apontados pelo IBGE como responsáveis pelo aumento na taxa é a mudança na Constituição Federal
realizada em 2010, que encurtou os prazos para a realização do divórcio. Agora os casamentos civis podem
ser dissolvidos de forma efetiva, sem que haja etapa prévia de separação.
Também houve aumento no número de divórcios realizados por via administrativa, possível para casais sem
filhos. O aumento foi de 26,8% em 2010 para 37,2% em 2011. Contudo, o ano também registrou aumento
no número de casamentos. Em 2011 foram registrados 1.026.736 casamentos, 5% a mais do que em 2010.
44
Por muitos séculos, no Ocidente, o casamento foi considerado, praticamente,
indissolúvel. Os divórcios eram concedidos apenas em casos limitados, como a não
consumação do casamento (GIDDENS, 2005).
As primeiras leis tratando do divórcio foram introduzidas em alguns países na
metade da década de 1960. Atualmente, com exceção de uma pequena camada mais abastada,
o casamento não tem mais conexão com o desejo de perpetuar a propriedade e o status de
geração a geração. À medida que a mulher se torna mais independente economicamente, o
casamento torna-se uma parceria menos necessária (GIDDENS, 2005).
Outra descoberta está relacionada às mulheres que não querem ter filhos, o que
diminui a taxa de fertilidade mundial. Algumas tomam essa decisão porque se sentem felizes
solteiras e independentes, e, em outras, prevalece o receio da possibilidade do divórcio ou
meios de sobrevivência.
A coabitação está relacionada ao casal que vive junto em um relacionamento sexual,
sem estarem casados. Se antes o casamento era a base definida da união entre duas pessoas,
ele já não pode ser considerado como tal. Embora a coabitação esteja se tornando cada vez
mais popular, investigações sugerem que o casamento ainda é mais estável.
O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (BRASIL, 2006) constitui um marco nas
políticas públicas no Brasil ao fortalecer o paradigma da proteção integral e preservação dos
vínculos familiares preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Seu texto vem
ilustrar a discussão sobre conceito de família e a visão que se tem dela na contemporaneidade
quando relata:
A desnaturalização do conceito de família, a desmistificação de uma estrutura que se
colocaria como ideal e, ainda, o deslocamento da ênfase da importância da estrutura
familiar para a importância das funções familiares de cuidado e socialização,
questionam a antiga concepção de “desestruturação familiar” quando abordamos
famílias em seus diferentes arranjos cotidianos. Vimos, agora, surgir a imperiosa
necessidade de reconhecimento do direito à diferença, desde que respeitado o
referencial dos direitos de cidadania. Ou seja, a família nuclear tradicional, herança
da família patriarcal brasileira, deixa de ser o modelo hegemônico e outras formas
de organização familiar, inclusive com expressão histórica, passam a ser
reconhecidas, evidenciando que a família não é estática e que suas funções de
proteção e socialização podem ser exercidas nos mais diversos arranjos familiares e
contextos socioculturais, refutando-se, assim, qualquer ideia preconcebida de
modelo familiar “normal”. (BRASIL, 2006).
Ou seja, não existe um modelo de família ideal. Dia a dia se configuram novos
padrões de organizações familiares e o que realmente deve ser considerado é que
45
independente de como se constituem essas famílias, devem-se respeitar as funções de
proteção e socialização que lhes são atribuídas.
As pesquisas censitárias do IBGE demonstram que a vida familiar se modificou
intensamente. A cada Censo, é possível visualizar a evolução da população e identificar as
transformações.
Goldani (1984 apud NASCIMENTO, 2006, p. 5) afirma que “nas pesquisas
demográficas o conceito de família tem variado em função da unidade de enumeração, que na
maioria dos censos é o domicílio”. Consideram-se membros da família as pessoas que vivem
no mesmo domicílio, assim, como atualmente têm famílias em suas mais diversas
composições, é natural que se identifiquem vários conceitos de família.
Uma das principais mudanças percebidas pelo Censo revela uma composição familiar
na qual as mulheres são o adulto responsável pela casa (Figuras 2 e 3). O Censo 2000 traz ao
conhecimento público que 26,5% dos domicílios do país são chefiados por mulheres, destaque
para uma proporção ainda maior em algumas regiões brasileiras. Com a emancipação
feminina, é natural que as mulheres ganhem destaque até mesmo na chefia da casa, pois a
liberdade em escolher parceiros ou optar por relacionamentos menos tradicionais influenciam
essa composição familiar.
Figura 2 – Gráfico de percentual de famílias cuja mulher é a referência. Fonte: IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999/2009. Rio de Janeiro: IBGE, 17
set. 2010.
22,30%
28,80%
1993
2003
46
Figura 3 – Gráfico de arranjos familiares residentes em domicílios particulares. Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e condições
de vida. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/
estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf>. Acesso em: 10
fev. 2013.
A distribuição de famílias encontradas na Pesquisa Nacional por Amostras de
Domicílios, em 2004, revela os dados apresentados na Figura 4.
Figura 4 – Gráfico de distribuição das famílias brasileiras. Fonte: IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999/2009. Rio de Janeiro: IBGE, 17 set.
2010.
Aproximadamente, 25% das famílias são monoparentais e as que somam casal com
filhos não necessariamente apresentam o cônjuge da mãe como pai das crianças. Assim, há
um grande percentual de crianças e adolescentes que vivem em famílias organizadas de forma
que não corresponde à família nuclear.
De forma mais abrangente, a Figura 5 apresenta uma comparação decenal.
9,90%
18,10%
5,80%
51,50%
Casal sem filhos
Casal com filhos
Mulheres sem cônjuges e com filhos
Outros tipos
49 5156,3
43,7
0
10
20
30
40
50
60
Brasil MS
Sexo da pessoa de referência da família (%)
Homens
Mulheres
47
Figura 5 – Gráfico de distribuição percentual dos arranjos familiares com parentesco,
residentes em domicílios particulares, segundo o tipo - Brasil - 1999/2009. Fonte: IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999/2009. Rio de Janeiro: IBGE, 17
set. 2010.
Outro aspecto a ser observado é a distribuição das famílias por classes de rendimento
familiar per capita medida em classes de salário mínimo (Figura 6). Em 2009, a proporção
daquelas que viviam com até meio salário mínimo era de 22,9%.
Importante ressaltar que muitas dessas famílias apresentam dificuldade para chegar até
o fim de cada mês de acordo com a renda. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-
2009 investigou o grau de dificuldade das famílias, classificando-o em: muita dificuldade;
dificuldade; alguma dificuldade; alguma facilidade; e facilidade (Figura 7).
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2009, no
Brasil, os arranjos familiares eram constituídos por uma pessoa de referência e um cônjuge
(casais) com filhos, e 19,5% constituídos por pessoa de referência sem cônjuge com filhos
(IBGE, 2010b).
As Figuras 6 a 11 demonstram esses arranjos em comparação do Brasil com Mato
Grosso do Sul. Já a figura 12, apresenta dados sobre famílias do município de Naviraí/MS.
13,314,6
17,1
55
51
47,3
17,118,417,4
5,5 5,8 6,2
0
10
20
30
40
50
60
Casal s/ filhos Casal c/ filhos Mulher s/
cônjuge c/
filhos
outros tipos
1999
2004
2009
48
Figura 6 – Gráfico de distribuição percentual dos rendimentos, por origem dos
rendimentos, segundo as classes de rendimento familiar per capita - Brasil
– 2009. Fonte: IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999/2009. Rio de Janeiro: IBGE, 17
set. 2010.
Figura 7 - Gráfico de distribuição percentual das famílias com rendimento monetário, segundo o
grau de dificuldade de chegar até o fim do mês Brasil - 2008-2009. Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e condições de
vida. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica
/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2013.
76,2
66,2
17,118,8
5,8
18,4
5
28
17,4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Trabalho Aposentadoria e
pensão
Outas fontes
Total
Até 1/4 salário mínimo
Mais de 1/4 a 1/2 de salário
mínimo
17,9
21,4
36,9
14,3
9,5
1
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1
Muita dificuldade
Dificuldade
Alguma dificuldade
Alguma Facilidade
Facilidade
Muita facilidade
49
Figura 8 – Gráfico de arranjos familiares residentes em domicílios particulares – com
parentesco e sem parentesco. Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e condições de
vida. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica
/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2013.
Figura 9 – Gráfico de arranjos familiares residentes em domicílios particulares – com outros
parentes e sem parentes. Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e condições de vida.
Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
condicaodevida/pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2013.
88,2
0,3
87,1
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Brasil MS
Com Parentesco
Sem Parentesco
Casais Sem filhos
2,2 2,5
15,216,6
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Brasil MS
Com outros Parentes
Sem Parentes
50
Figura 10 – Gráfico de casal com filhos. Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e
condições de vida. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.
gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf
>. Acesso em: 10 fev. 2013.
Figura 11 – Gráfico de mulher sem cônjuge e com filhos. Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e condições
de vida. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/
estatistica/ populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf>. Acesso em: 10
fev. 2013.
4,9
42,4
4,1
41,2
0
10
20
30
40
50
Brasil MS
Casal com filhos
Com Parentes
Sem Parentes
3,5
13,9
6,2
3,4
14,1
6,7
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Brasil MS
Mulher sem cônjuge com filhos
Com Parentes
Sem Parentes
Com Parentesco
51
10.062 10.052
10
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
Cônjuge Cõnjuge do sexo diferente Cônjuge do mesmo sexo
Figura 12 – Gráfico de dados sobre famílias em Naviraí, MS. Fonte: IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e
condições de vida. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_
2009/POFpublicacao.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2013.
Atualmente, as famílias são menores. As famílias extensas são cada dia mais exceção,
principalmente nas áreas urbanas, como os grandes centros. Em cidades do interior, ainda é
possível encontrar famílias numerosas, sejam elas baseadas no modelo nuclear ou
influenciadas pelos diversos arranjos domiciliares. Observando-se os gráficos é possível
identificar o que os censos indicam, apontando que as principais mudanças evidenciadas nas
últimas décadas foram a redução do tamanho médio da família, a redução da taxa de
fecundidade e o aumento do número de famílias chefiadas por mulheres.
2.2 Papéis da família e as dificuldades em cumprir suas funções sociais
A família contribui para as necessidades básicas da sociedade e auxilia na perpetuação
da ordem social (GIDDENS, 2005), embora, atualmente, tais considerações já não se aplicam
aos novos modelos de famílias que compõem nossa sociedade. Entretanto, os sociólogos da
tradição funcionalista consideram que a família nuclear preenche certos papéis especializados
nas sociedades modernas. Com a industrialização, a família tornou-se mais concentrada na
reprodução, na educação infanto-juvenil e na socialização (GIDDENS, 2005).
O sociólogo norte-americano Talcott Parson atribui à família duas funções: a
socialização primária e a estabilização da personalidade. A primeira é o processo pelo qual as
crianças aprendem as normas culturais da sociedade em que nasceram. A segunda refere-se ao
52
papel desempenhado pela família ao assistir emocionalmente seus membros adultos. Para
Parson (1955 apud BRYM, 2006) a família nuclear era a unidade mais bem-equipada para
lidar com as demandas da sociedade industrial, pois um adulto poderia trabalhar fora
enquanto o outro cuidaria da casa e dos filhos. Portanto, o marido assumiria o papel de
provedor e a mulher, a função afetiva dentro do ambiente doméstico.
Entretanto, a visão do autor diante da sociedade contemporânea pode ser considerada
inadequada. A teoria funcionalista também é criticada ao enfatizar a importância da família
em cumprir certas funções, quando estas também cabem a outras instituições sociais, como o
governo, a mídia e as escolas.
Mondin (2011, p. 17) destaca:
São inúmeros os papéis e as missões que a evolução social vai atribuindo à família;
entretanto, sua prioridade reside na construção do ser e na realização da
personalidade, sendo o espaço onde o ser humano reflete sobre a experiência vivida
e reconstrói a si próprio, na busca do domínio não apenas do sentimento, mas do
essencial vivido.
As funções da família têm variado constantemente. Estudiosos apontam quatro
funções básicas e quatro subsidiárias. As funções básicas são encontradas em todos os
agrupamentos humanos: sexual, reprodução, economia e educacional.
A família é um agente educador cuja função é transmitir a herança cultural e social
durante os primeiros anos de vida, preparando a criança para seu ingresso na sociedade. Além
disso, tem a função social de proporcionar a conquista de diferentes status, como o étnico, o
nacional, o religioso, o residencial, o de classe, o político e o educacional (BRYM et al.,
2006).
As funções subsidiárias, de acordo com alguns autores, incluem a função de zelar
pelos aspectos religiosos, jurídico, político e recreativo, que são necessários à formação do
indivíduo. É também função da família proteger os interesses familiares contra estranhos. Em
algumas sociedades, a família apoia os seus componentes, independente de serem ou não
culpados.
A família é uma instituição que desempenha funções variadas. A ideia de função
remete ao significado de cumprir algo, desempenhar um dever ou tarefa e, dessa forma, a
família tem por obrigação cumprir algumas ações que lhe competem. Uma das principais
tarefas da família é preparar a criança para ser inserida na sociedade, por meio da herança de
valores estabelecidos na família como cultura, afetividade, religião e educação.
O art. 226 da Constituição Federal de 1988 dispõe que “a família é a base da
sociedade” (BRASIL, 1998).
53
O momento é de uma transição na função social da família que englobava diversas
funções, como a educacional e assistencial. A instituição familiar já não possui essa função
diversificada, concentrando atualmente apenas as funções biológica e afetiva (SILVA, 2007).
A função social da família é então de organizar o que servirá de matriz para o
indivíduo adulto (DUARTE, 1995). Acompanha essa mudança do modelo familiar, uma
significativa na relação dada entre o público e o privado. A família, agora privatizada,
valorizando a intimidade, remodela sua morada, culminando em divisão desta em espaço para
visitas e o espaço familiar.
Um perfil diferente de família se constitui e não apresenta condições para realizar a
socialização primária. Há pouco contato entre pais e filhos e os raros momentos de diálogo e
refeições em comum são fatores que desfavorecem a transmissão de conhecimentos
elementares de civilidade. A família, na maioria das vezes, reconhece suas dificuldades em
cumprir o papel de socialização primária e remete grande parte dessa responsabilidade para a
escola.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) cita em seu art. 1º (BRASIL, 1996):
A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reforça tal colocação em seu art. 19
que “Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes” (BRASIL,
1990).
Assim, compreende-se que os primeiros passos para a formação do indivíduo deveria
acontecer no âmbito familiar. Entretanto, Szymanzki (2011, p. 17) apresenta reflexões
ressaltando que a família deve ser vista como “uma das instituições que assumem a tarefa
educativa que lhes é outorgada pela sociedade devendo, portanto, receber apoio para o
desempenho dessa função”.
As relações familiares tendem a variar podendo ser gratificantes assim como marcadas
por tensões. Os aspectos mais perturbadores nesse contexto de tensão englobam a violência
doméstica e o abuso de crianças.
Roudinesco (2003) apresenta considerações sobre a família ocidental e sua inaptidão
cada vez maior em transmitir valores. A autora procura traduzir os distúrbios vivenciados pela
família tomando como exemplo a história de Édipo, da mitologia grega. A obra faz ainda uma
54
alusão à soberania do pai, desafiada pela ascensão do feminismo e a perspectiva da dissolução
da família, considerando a desordem organizacional nas estruturas familiares.
As transformações sociais que modificaram as formas prévias de casamento e de
ordenação familiar são, em sua maioria, irreversíveis. Dificilmente poderemos ver mulheres
optando por abandonarem seu trabalho para voltarem à vida doméstica, e as parcerias sexuais
e o casamento provavelmente não voltarão a ser como antes.
Mas a realidade social e o sistema jurídico nem sempre caminham juntos. Nas últimas
décadas, as transformações sociais atingiram diretamente o núcleo familiar e originaram
novas concepções de família, que não são mais equiparadas à tradicional família patriarcal. A
busca pela realização pessoal tem diminuído o número de componentes familiares e,
consequentemente, há uma redução no tempo em que os pais deveriam disponibilizar aos
filhos.
Corrobora com essa perspectiva, Rousseau (apud ROUDINESCO, 2003, p. 31) ao
escrever que:
A mais antiga de todas as sociedades e a única natural, é a da família. Ainda hoje os
filhos não ficam ligados ao pai senão o tempo que precisam dele para se
preservarem a si próprios. Mal cessa essa necessidade, o laço natural se desmancha.
Os filhos, isentos da obediência que deviam ao pai, o pai, isento dos cuidados que
devia aos filhos, ingressam todos igualmente na independência. Embora continuem
unidos, não é mais naturalmente, é voluntariamente, e a própria família só se
mantém por convenção.
A família vem sofrendo influências do contexto político, econômico e cultural da
sociedade na qual está inserida. Os valores vão se redefinindo e muitas vezes já não se sabe
quem dita as regras dentro dos lares. Estão se constituindo novas identidades e muitas vezes o
indivíduo não se dá conta dos aspectos culturais, sociais nos quais está imerso, tornando-se
um sujeito alienado.
A importância da família como instituição pautada nos vínculos familiares está
reduzindo diariamente. A família moderna é constantemente desafiada por limites imprecisos,
por aspirações de consumo, devendo reconquistar, a cada dia, as razões para conviver, a
consciência do bem que os membros da família têm em comum, dos bens relacionais cujo
valor perdura no tempo.
Muitos fatores externos à família entram em jogo para redefinir os valores e os
critérios, os modelos de comportamento de cada membro. Influência significativa é exercida
pela escola, pelo ambiente de trabalho e por outras instâncias formativas, como associações e
comunidades religiosas que podem introduzir no diálogo familiar elementos de discussão e
até de conflito.
55
As relações entre pais e filhos são modificadas, deixam os modelos centrados na
autoridade e na disciplina, enquanto são incorporados os valores de diálogo, negociação,
tolerância, no horizonte de um amplo pluralismo ético e religioso (KALOUSTIAN, 1988).
Verifica-se uma intensidade maior de dedicação e de investimento de recursos,
especialmente com relação à saúde e à educação. Esses comportamentos estão associados ao
número menor de filhos que o casal está disposto a criar, de acordo com um planejamento
mais ou menos rigoroso. Com isso, aumenta a expectativa de gratificação emocional e afetiva
dos pais em relação aos filhos (CAMPANINI, 1989). Nesse caso, observa-se certa diversidade
de orientação e de comportamento em função da classe social, da renda familiar e da
escolaridade dos pais.
2.3 O papel da família na relação com a escola
Para citar a relação família e escola pautar-se-á em autores como Bourdieu, que
apresenta estudos que sinalizam a participação da família como fator fundamental ao bom
desempenho escolar.
O capital cultural que uma família possui e transmitirá aos seus filhos pode variar
dependendo da sua posição social. A família que tem uma posição melhor, que pertença à
classe dominante econômica e culturalmente, há mais possibilidades de acumular capital
cultural e ter acesso a esses bens. Por esse motivo, segundo Bourdieu, é que se explica a
desigualdade dos níveis de capital cultural entre as famílias, desigualdade gerada pelas
diferenças entre capital cultural, social e econômico.
Ao citar desempenho escolar, há que considerar todos esses fatores, pois fica claro na
teoria de Bourdieu que as famílias privilegiadas culturalmente, que influenciam e estimulam
os filhos desde a infância, têm mais chances de acumular capital cultural e obter melhor
desempenho escolar, o que lhe possibilitará uma melhor formação, acesso à escola e
permanência nesta. Ou seja, a ação do meio familiar sobre o êxito escolar é quase
exclusivamente cultural (BOURDIEU, 2002). Família e escola são parceiras na transmissão
do capital cultural. Segundo o teórico, a família e a escola são responsáveis por transmitir a
herança econômica e cultural. São estruturadas para tal e possuem uma relação interligada, ou
seja, uma depende da outra.
De acordo com Carvalho (2000, p. 144), famílias com capital econômico matriculam
os filhos em escolas privadas e regularmente acompanham o aprendizado e rendimento
escolar deles, organizam seus horários de estudo e verificam as tarefas de casa
56
constantemente, embora seja uma afirmação meio contraditória se considerarmos as famílias
atuais. Já a população pobre encaminha suas crianças para escolas públicas, com professores
que reclamam das dificuldades de aprendizagem e empenho dos alunos, bem como da falta de
participação dos pais na vida escolar de seus filhos:
[...]. O sucesso escolar tem dependido, em grande parte do apoio sistemático da
família que investe nos filhos, compensando tanto as dificuldades individuais quanto
as deficiências escolares. Trata-se, em geral de família dotada de recursos
econômicos e culturais, dentre os quais se destacam o tempo livre e o nível de
escolarização dos pais. (CARVALHO, 2000, p. 144).
Assim como Bourdieu, Freire (2001) aponta o conhecimento como produto das
relações entre os seres humanos e destes com o mundo. A busca por respostas desafia o
indivíduo, que deve reconhecer a questão, compreendê-la e imaginar formas de respostas
adequadas. Assim se constitui o conhecimento, a partir das necessidades humanas. Ao
ingressar na escola, a criança já traz consigo um acúmulo de capital cultural que lhe é
transmitido pela família. A escola tem a função de aperfeiçoar esses conhecimentos,
possibilitando o domínio dos códigos que servem de acesso a outras fontes de cultura. Sobre a
noção da construção do conhecimento, Freire (2001) cita, como ponto de partida, as
necessidades populares e o conhecimento científico, como ponto de chegada. O autor acredita
que o conhecimento, tanto o científico quanto o cotidiano, é produção cultural. Os conteúdos
da experiência histórica do homem não estão consolidados somente nas coisas materiais, mas,
principalmente, nas formas verbais de comunicação produzidas entre os homens.
O desempenho do individuo na escola depende desse processo inicial, pois seu
percurso escolar pode tornar-se uma fonte de desigualdade se comparado ao individuo que já
possui um conhecimento cultural significativo. Alunos cuja família lhe possibilita capital
cultural tendem a levar vantagem em relação àqueles que possuem um capital restrito e que
acabam ficando em desvantagem. Entretanto, a escola não deve impor à família as tarefas que
lhe cabem. Transmitir a tarefa cultural da escola à família significa aceitar como legítimas as
desigualdades e assumir que o rendimento escolar depende da competência e é distribuído de
forma desigual (BOURDIEU, 2003).
Bourdieu acredita que o capital cultural interfere diretamente na vida escolar do aluno
e que a transmissão desse capital se dá em três estados: incorporado quando a acumulação do
capital cultural exige incorporação, por meio de um trabalho de inculcação e assimilação,
processo que leva tempo e se realiza pelo próprio agente; o estado objetivado acontece
quando o capital cultural existe em forma de bens culturais, como livros, pinturas,
57
dependendo para isso do capital econômico; no estado institucionalizado, o capital cultural
materializa-se por meio dos diplomas.
Em pleno século XXI a cada dia a participação da família no que se refere ao
acompanhamento escolar de seus filhos torna-se menos possível, pois precisa garantir
diariamente o sustento da casa, privando-se do contato tão importante para a formação
individual de seus filhos.
As políticas educacionais atentam para a participação da família na escola, conforme
disposto no art. 206 da Lei nº 9.394/1996 (LDB), o que faz da educação uma responsabilidade
a ser dividida entre o Governo e a sociedade civil. Entretanto, cabe indagar: Quais são as
condições oferecidas pelo Governo para uma efetiva participação da família? O que se
percebe são apenas estratégias para reduzir os índices de evasão e reprovação. A falta de
empenho do Governo, aliada à situação econômica da maioria da população e à baixa
qualidade do ensino oferecido, só está aumentando o índice de reprovação e permanência no
âmbito escolar.
Ariès (1978 apud SZYMANZKI, 2011, p. 21) lembra que:
Como instituição social, a família sempre esteve inserida na rede de inter-relações
com outras instituições, em especial com a escola. No momento histórico em que a
unidade escolar assumiu a educação formal surge a preocupação com o
acompanhamento mais próximo dos pais junto a seus filhos. Com essa finalidade,
foram elaborados tratados de educação para os pais com a finalidade de orientá-los
quanto a seus deveres e responsabilidades.
O que fica claro é que, embora a relação entre escola e família não seja tão pacífica
quanto se pontua, são instituições interdependentes. O sucesso na relação entre as duas
garante também o sucesso na educação e formação do cidadão.
CAPÍTULO III
A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA NA PERSPECTIVA DA FAMÍLIA
O capítulo é destinado a apresentar o caminho trilhado metodologicamente na
pesquisa, e visando uma apresentação mais compreensiva e organizada, o mesmo está
estruturado em três partes. A primeira apresenta o estudo de painel, procedimento adotado no
início da pesquisa e que permeou grande parte da mesma, bem como o detalhamento das
ações de cada etapa desse estudo, os instrumentos utilizados e uma breve configuração do
universo da pesquisa, neste caso o município de Naviraí/MS.
Na segunda parte serão apresentados a seleção dos participantes, os critérios que
adotamos na seleção e a identificação dos mesmos. Por fim, na terceira parte, a análise e
resultados da pesquisa.
3.1 O estudo de painel e os instrumentos metodológicos da pesquisa
O início das atividades envolveu a pesquisa bibliográfica, fase em que se realizou uma
busca por outros trabalhos que abordassem o tema, e aprofundou-se em leituras que deram
suporte para as discussões aqui apresentadas. Importante dizer que a pesquisa documental
auxiliou a embasar o conhecimento sobre o que preconiza a lei sobre direitos e deveres da
família.
A pesquisa de campo consistiu na distribuição de três questionários - geral,
intermediário e específico (Apêndices A, B e C, respectivamente) - entre os meses de abril e
julho de 2012, e nas entrevistas (Apêndice D) com 15 famílias participantes da pesquisa,
realizadas nos meses de novembro a janeiro de 2013. Foi explicado o objetivo da pesquisa e
os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento (Apêndice E).
O Apêndice F apresenta a data e a duração das entrevistas com as famílias.
59
Objetivando analisar os grupos envolvidos, em diferentes situações e momentos como,
por exemplo, em situações em que participam ou deixam de participar, escolheu-se como
possibilidade a utilização do estudo de painel para auxiliar na organização da pesquisa.
O estudo de painel configura-se em um painel/quadro onde é possível visualizar
claramente o sujeito/objeto da pesquisa em diferentes intervalos de momentos/tempo. Permite
ainda ao pesquisador o cruzamento de dados obtidos ao longo da pesquisa, possibilitando
acompanhamento passo a passo da evolução ou regressão de comportamentos, ações e/ou
características. É uma técnica muito utilizada principalmente em pesquisas eleitorais, de
opinião e audiência, porém pouco conhecida do ponto de vista metodológico.
Teve origem com experimentos de universidades alemãs no período entre guerras e de
guerras. O nome dado ao estudo é porque se pegavam diferentes dados e informações e as
lançavam em um painel/quadro. Dessa maneira era possível comparar os dados e cruzá-los.
Essa organização não servia apenas para acompanhar, mas também para inserir novos
elementos, identificar fatores e fazer intervenção.
A técnica de estudo de painel é utilizada em muitas áreas, mas a metodologia ganha
destaque nas ciências humanas, pois nessa área aumenta cada vez mais a necessidade de
intervenção. Grandes projetos na área da educação utilizam o estudo de painel para identificar
causas, projetar consequências ou para intervir.
A metodologia de painel consiste no acompanhamento de um ou mais grupos, por
meio de observação, questionários, entrevistas e coleta de dados em cadernos de
campo, na busca por um histórico de desenvolvimento do objeto estudado no
interior do grupo estudado. Esta técnica é utilizada principalmente em pesquisas
sobre audiência de mídia e sobre comportamento político. (SANTOS, M., 2008, p.
132).
Para a elaboração do estudo de painel, é necessária a organização de grupos de
verificação, compostos de objetos ou sujeitos. Esses grupos podem ser constituídos por várias
pessoas com perfis comuns, grupos que permanecem juntos em parte da análise ou que se
dividem em outro momento e grupos com várias pessoas com perfis diferentes. A duração da
análise pode variar, podendo ser determinada pelas expectativas de variação de fatores.
A escolha do estudo de painel se deu por acreditar ser uma técnica capaz de
possibilitar ao pesquisador uma análise ampla dos dados de sua pesquisa, um
acompanhamento passo a passo dos momentos vivenciados pelos sujeitos, permitindo uma
intervenção mais precisa e objetiva.
Estudar a relação escola e família com enfoque na participação requer uma pesquisa
específica, cuja coleta de dados precisa ser minuciosamente elaborada. Para atender às
60
especificidades desta pesquisa, inicialmente elaborou-se um questionário com perguntas de
aspectos gerais que possibilitou configurar o perfil das famílias, no que se refere a número de
pessoas, escolaridade, renda, se participa ou não da vida escolar (Apêndice A).
O painel inicialmente proposto era composto de famílias de estudantes de escola
pública central, periférica, escola particular e rural. Foram formados dois grandes grupos com
base nas declarações obtidas no primeiro questionário: grupo 1: participam e grupo 2: que não
participam. A intenção era a partir de então formar subgrupos para a intervenção.
Abre-se aqui parênteses para explicar que o estudo de painel tornou-se inviável desse
ponto da pesquisa em diante. Importante ressaltar que imprevistos permeiam o processo
científico e, nesse caso, não foi diferente.
A princípio, como já relatado, pretendia-se realizar um acompanhamento do
desempenho escolar dos estudantes e ao final realizar intervenção em um dos subgrupos do
estudo de painel. Com os contratempos, a pesquisa foi reorganizada, pois não havia tempo
suficiente para desenvolver o que havia sido proposto inicialmente. Assim, dispensou-se parte
do material obtido com o estudo de painel e optou-se por partir para outra perspectiva dentro
do mesmo tema.
A opção foi a de analisar a relação família/escola sob a perspectiva das famílias, já que
comumente tem-se visto estudos do tema, sendo todos constituídos sob o viés da opinião da
escola. Esclarecidos os motivos que levaram a mudanças durante o processo, passa-se aos
procedimentos realizados para finalizar a pesquisa.
A pesquisa assumiu um caráter de abordagem quantitativa e qualitativa. Os
questionários como instrumentos de coleta de dados foram mantidos e acrescentamos o uso de
entrevistas como instrumento para ouvir os sujeitos.
3.1.1 Configurando o universo da pesquisa
Situado ao Cone Sul do Estado de Mato Grosso do Sul, o município de Naviraí (Figura
13) possui, segundo as estimativas populacionais de 2012, divulgadas pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, atualmente, 47.899 habitantes. Região bastante conhecida pela
cultura da cana-de-açúcar e pelo rebanho bovino. O município ainda se destaca no cultivo de
outras culturas como a soja, milho e recentemente a mandioca.
61
13 – Imagens do município de Naviraí, MS. Fonte: Disponível em: <www.reporterms.com.br/arquivos/noticias/navirai_vista
_aerea.jpg>. Acesso em: 10 jul. 2012.
Aproximadamente, 82% da população que reside no município é alfabetizada. A
população local conta com um total de quinze escolas públicas e duas privadas (BRASIL,
2010). São escolas de médio a pequeno porte, localizadas no perímetro urbano, que atendem
inclusive aos alunos do transporte escolar, provenientes da zona rural. As escolas públicas, em
62
sua maioria, atendem nos três turnos, e em algumas funcionam provisoriamente cursos do
ensino superior ou profissionalizantes. Apenas as escolas privadas e uma escola pública
oferecem a educação infantil, pois essa modalidade tem seus prédios próprios (os Centros
Integrados de Educação Infantil - CEIs), construídos pelo município e destinados a atender
crianças da faixa etária de 0 a 5 anos.
Dados do Censo (IBGE, 2011) informam que o número de matrículas no Ensino
Fundamental somam 7.220; no Ensino Médio, o total é de 1.870 matrículas e na Educação
Infantil, 1.322. De acordo com o Censo 2010, a população residente que frequentava creche
ou escola somava um total de 13.736 pessoas, e na faixa etária de 10 a 14 anos, média de
idade em que se desenvolve esta pesquisa, o total era de 4.074 pessoas. No Brasil, em 2009,
um total de 97,6% da população de 6 a 14 anos frequentavam estabelecimentos de ensino
(IBGE, 2010a).
A frequência de pessoas na faixa etária de 6 a 14 anos à escola tem aumentado
consideravelmente no Brasil, desde meados da década de 1990. Entretanto, as pesquisas
demonstram que, a partir do Ensino Médio, a proporção é menos favorável, fator preocupante
considerando que o mercado de trabalho tem exigido cada vez mais pessoas capacitadas.
Ressalta-se que a permanência passa pela questão da qualidade do ensino. O
Ministério da Educação (MEC) tem organizado meios para acompanhar e avaliar a qualidade
do ensino, sendo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) um dos
instrumentos utilizados para medir resultados. O nível estabelecido é comparado ao de países
desenvolvidos e, até 2021, espera-se atingir as metas estipuladas.
Em relação aos índices de qualidade da educação básica, em 2011, o município de
Naviraí demonstrou avanço nas séries iniciais, superando a meta esperada para 2015.
Entretanto, nas séries finais, o índice foi mantido, o que torna preocupante as expectativas
relacionadas à qualidade do ensino. No Estado, as condições também não foram boas. Nas
séries iniciais atingiu-se a meta para 2017, enquanto que nas séries finais o índice caiu de 3,9
em 2009 para 3,8 em 2011. Em relação ao Brasil, a projeção é a mesma, pois os baixos
índices nas séries finais deixam o município longe das metas nacionais.
Os dados confirmam que 85 pessoas na faixa etária de 10 a 14 anos se encontravam
fora da escola e 12 nunca frequentaram. Interessante frisar que um grande número de famílias
é cadastrado em programas federais (Bolsa Família, Vale-Renda, entre outros) e mesmo assim
é possível encontrar pessoas fora da escola.
De acordo com a pesquisa, o município conta com um quadro de 345 docentes que
atuam no Ensino Fundamental, 96 no Ensino Médio e 55 na Educação Infantil. Ressalta-se
63
que os dados aqui apresentados registram números das escolas públicas municipais, estaduais
e privadas.
É possível verificar que a educação brasileira tem pouco a pouco adquirido resultados
bem melhores se compararmos os dados apresentados pela PNAD de 2009 aos de 1999.
Melhoras na frequência escolar, diminuição da taxa de analfabetismo e os índices atingidos
pela educação básica demonstram mudanças. No entanto, é perceptível a ruptura que há na
segmentação dos níveis de ensino. É necessário reavaliar as formas de mensurar os índices de
qualidade do Ensino Fundamental, pois é intrigante que alunos que demonstram alto nível de
conhecimento no início da escolarização sejam aqueles que posteriormente serão índices de
evasão escolar ou que estão, há algum tempo, mantendo a média das séries finais, tão abaixo
da meta estabelecida nacionalmente.
Em 2012 houve uma reformulação no plano de cargos e carreiras do magistério.
Embora muitas dessas mudanças tenham favorecido a categoria, o município está longe de
ações que valorizem efetivamente os docentes. O que se tem constatado é que os professores
estão desmotivados e sem interesse em buscar formação para se aperfeiçoarem.
De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), “a qualidade do ensino só
poderá acontecer se houver a valorização dos profissionais do magistério, por meio de uma
política global capaz de articular a formação inicial, as condições de trabalho, o salário, a
carreira e a formação continuada” (BRASIL, 2010b). Assim, falta ao município políticas que
incentivem os docentes a investirem em cursos de formação visando à qualidade no ensino e
não apenas com interesse de acrescentar cursos extras aos seus currículos.
O levantamento de dados sobre o município possibilitou informações sobre dados
estatísticos, demográficos e quantitativos, fatores importantes para a distribuição do primeiro
questionário. A pesquisa estatística demonstrou que o número de estudantes do município de
Naviraí, MS (Figura 14) está em torno de 9.090 matrículas do Ensino Fundamental e Médio
(BRASIL, 2010). Há de se considerar que muitos destes são irmãos, já que é comum ao
município ter famílias numerosas. Por tal razão, optou-se por desconsiderar um terço dessas
matrículas e foram envolvidos cerca de 600 estudantes.
64
Figura 14 – Gráfico de número de matrículas realizadas no município de Naviraí,
MS -2009. Fontes: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. Censo educacional 2009. Brasília: MEC/INEP; IBGE, 2010.
Verificou-se a quantidade de escolas do município e clientela atendida por elas,
configurando assim o perfil das escolas: escola pública central de grande e médio porte,
escola pública periférica de grande e médio porte, escola rural, escola particular (Figura 15).
Figura 15 - Gráfico de número de escolas em Naviraí, MS. Fontes: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. Censo educacional 2009. Brasília: MEC/INEP; IBGE, 2010.
O município conta ainda com duas universidades (Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul - UEMS e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS) e uma
faculdade particular (Faculdades Integradas de Naviraí - FINAV); entretanto, muitos jovens
residentes na cidade se deslocam para outros municípios para cursarem o Ensino Superior.
Matrículas realizadas em escolas de Naviraí em 2009
4152
0
1259
2707
1750
0361
120 63
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
E.F E.M E.I
ESCOLA MUNICIPAL
ESCOLA ESTADUAL
ESCOLA PARTICULAR
Números de escolas
0
1
2
3
4
5
6
7
Públicas
Municipais
Públicas
Estaduais
Privadas Rurais
Públicas Municipais
Públicas Estaduais
Privadas
Rurais
65
Em relação ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, a Figura 16 apresenta
a situação do município comparada a do Brasil e a do Estado de Mato Grosso do Sul.
Figura 16 - Gráfico de comparação de médias municipais – 2011. Fontes: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. Censo educacional 2009. Brasília: MEC/INEP; IBGE, 2010.
A Figura 17 demonstra a progressão do IDEB na Rede Municipal de Ensino. As letras
de A até F representam as seis escolas da Rede Municipal de Naviraí, MS.
Figura 17 - Gráfico de progressão do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica na
Rede Municipal de Ensino. Fontes: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.
Censo educacional 2009. Brasília: MEC/INEP; IBGE, 2010.
A Figura 18 demonstra a trajetória de aprovação nas escolas municipais de Naviraí,
MS, um comparativo entre 2009 e 2011.
4,2
4,4
4,6
4,8
5
5,2
5,4
5,6
Naviraí Brasil MS
Naviraí
Brasil
MS
PROGRESSÃO DO IDEB - REME
0,810,89 0,88 0,88
0,99
0,840,91 0,93 0,95 0,93 0,940,91
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
A B C D E F
2009
2011
66
O município apresenta média no IDEB acima das médias nacionais e estaduais e o
índice vem progressivamente se elevando. Importante observar que algumas escolas estão
mantendo o índice em duas avaliações consecutivas, o que não é muito bom, considerando
que elas acontecem a cada dois anos.
Figura 18 - Gráfico de trajetória da aprovação nas escolas municipais de Naviraí, MS. Fontes: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. Censo educacional 2009. Brasília: MEC/INEP; IBGE, 2010.
Atualmente, muitas medidas estão sendo tomadas pelos gestores municipais para
alavancar o índice; entretanto, há de se ressaltar que índice elevado não significa ensino de
qualidade. São necessários mais que bons índices. São conjuntos de ações que devem ser
organizados desde o inicio do Ensino Fundamental e que envolvem práticas docentes,
currículos bem-elaborados, planejamento com objetivos e aprendizagem significativa.
3.1.2 A aplicação dos instrumentos da pesquisa
Foram delimitados ano/série para a distribuição dos questionários. As famílias
selecionadas foram as de estudantes do 3º e 7º ano do Ensino Fundamental. Também foram
distribuídos questionários no 2º ano do Ensino Médio, pois, a princípio, se conjecturou a
possibilidade de esses estudantes serem variáveis importantes na pesquisa.
Para que os questionários fossem distribuídos, os gestores das escolas foram
contatados, foi-lhes apresentado o objetivo da pesquisa e solicitada autorização para a
distribuição dos questionários e colaboração na coleta destes. Inicialmente, deveriam ser
distribuídos os questionários em três escolas que se enquadrassem no perfil preestabelecido.
No entanto, não foi possível trabalhar apenas com esse número de escolas, pois alguns fatores
Trajetória da aprovação
0,810,89 0,88 0,88
0,99
0,840,91 0,93 0,95 0,93 0,940,91
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
A B C D E F
2009
2011
67
dificultaram o desenvolvimento da pesquisa, entre os quais, a insuficiência no número de
turmas e a ausência de turmas com a faixa etária que atendia ao perfil desejado.
Foram distribuídos aproximadamente 695 questionários para que pudesse abranger o
público pretendido. Como previsto, dos questionários distribuídos muitos não foram
utilizados, pois foram devolvidos em branco ou com informações insuficientes; além disso,
aproximadamente 30% destes não obtivemos retorno.
Dos questionários que retornaram, extraíram-se os seguintes dados: 32,80% das
famílias declararam participar razoavelmente ou muito; 13,24% declararam não participar ou
participar pouco; os demais questionários foram descartados por estarem parcialmente
preenchidos ou em branco, o que impossibilitaria tirar informações relevantes. A partir dos
dois grandes grupos, constituíram-se os perfis e foram selecionadas 45 famílias, para
participarem da segunda etapa da pesquisa (Apêndice B).
Considerando os perfis, prosseguiu-se aplicando o questionário intermediário, cujo
objetivo era identificar os motivos que levavam essas famílias a participar ou não da vida
escolar dos estudantes. Do segundo questionário, foi distribuído um total de 45. Para tanto, foi
necessário contato com as famílias selecionadas, o que não foi muito fácil, considerando a
proximidade das férias. Foram enviados alguns questionários por e-mail, os quais não
retornaram. Outros foram entregues aos estudantes nas escolas, mas poucos retornaram
também. Dessa forma, optou-se por estabelecer contato por telefone e pedir o endereço
residencial para concluir essa etapa da pesquisa. Percebeu-se que há uma grande resistência
das famílias em participar de pesquisa, talvez por desconhecerem o processo, ou ainda por se
sentirem expostas.
Os participantes encontravam-se distribuídos em diversos bairros e até mesmo na zona
rural, o que requeria disponibilidade de tempo para visitá-los. Como há uma grande facilidade
em trocar números de telefones, o contato por esse meio de comunicação também foi
complicado, restando apenas como opção, estabelecer contato por intermédio dos estudantes. Isto
não foi nada fácil, visto que estes se mostraram arredios e desinteressados em colaborar.
Convém ressaltar que no primeiro grupo havia pessoas residentes na área rural, em
virtude do deslocamento de transporte escolar para a cidade. Assim, entre as escolas em que
foram distribuídos questionários, havia um número significativo de alunos da área rural, que
compõem o quadro de estudantes da escola urbana.
A próxima etapa foi a distribuição de um questionário específico as 15 famílias
selecionadas entre as 45 que haviam participado do questionário anterior, além das entrevistas
individuais (Apêndice C).
68
As entrevistas foram utilizadas com o objetivo de aproximação com os participantes e
acesso ao que eles pensam, como percebem a participação, a representatividade da escola, e
ouvir seus argumentos sobre o tema. Para a realização das entrevistas, recorreu-se às visitas
aos participantes e, por meio delas, manteve-se uma interação com os sujeitos (Apêndice F).
Elaborou-se um roteiro de entrevista estruturada com questões direcionadas visando a
obter dados que as preenchessem categoricamente. Paralelos às entrevistas, os momentos de
contato com a realidade dos sujeitos permitiram aprimorar a técnica de observação. Utilizou-
se como recurso para registro das entrevistas, o notebook. Os áudios foram gravados no
equipamento e posteriormente transcritos.
Foram entrevistas que possibilitaram ao entrevistado discorrer sobre o tema proposto.
Optou-se pela entrevista por se tratar de um instrumento que permite coletar informações que
somente a pesquisa bibliográfica ou os questionários não possibilitariam. As entrevistas foram
realizadas com a pessoa adulta responsável pelo acompanhamento da vida escolar.
Inicialmente foi difícil adquirir confiança dos entrevistados para falarem sobre o tema
proposto. Alguns se mostraram indecisos se deveriam ou não falar o que pensavam, por
acreditarem que poderíamos levar seus depoimentos ao conhecimento da escola. Passou-se
por uma fase de convencimento para que acreditassem que o objetivo era tão somente
colaborar para que a relação família/escola, no que tange à participação, seja vista com outros
olhos a partir desta pesquisa.
3.2 Os perfis das famílias envolvidas na pesquisa
Para desenvolver a pesquisa, fez-se necessário constituir perfis de famílias. Não havia
a intenção de estipular um padrão único, pelo contrário, buscaram-se perfis diferentes que não
permitissem uma padronização. Os questionários permitiram identificar os sujeitos e
configurar os perfis que serão apresentados nos próximos parágrafos.
As famílias selecionadas apresentam renda que variam de 1 a 5 salários mínimos;
muitos adultos estão cursando ensino fundamental, médio ou superior e a maioria se
caracteriza como família nuclear (pai, mãe e filho(s)). A maioria dos adultos participantes
trabalha fora, em alguns casos, o casal e, em raríssimos casos, apenas um deles.
Outro critério adotado foi selecionar famílias dos mais diversos bairros da cidade, por
isso as escolas selecionadas para a distribuição dos questionários também foram
criteriosamente escolhidas. Foram assim selecionados participantes da área central cujos
69
filhos estudam em escolas públicas centrais e privadas, bem como residentes na área
periférica com filhos que compõem a clientela de escolas da periferia.
Compuseram ainda esses perfis, famílias que declararam participar muito,
razoavelmente ou pouco. Esse critério foi o primeiro observado para a composição dos dois
grandes grupos do início da pesquisa.
Por fim, o critério da composição familiar. Pretendia-se verificar a possibilidade de a
participação estar condicionada à forma como essas famílias se configuram e, para tanto,
buscou-se participantes que apresentassem diferentes organizações familiares, como lares
com formação nuclear ou famílias chefiadas por mulheres.
Os dados apresentados, a partir de então, foram resultados dos questionários aplicados.
a) Renda mensal familiar em salários mínimos
Identificou-se que os participantes que declararam renda mensal mínima estão entre os
que participam muito ou que consideram ter uma participação mediana (Figura 19). Embora
um número expressivo de participantes tenha declarado renda mínima de até um salário
mínimo, ressaltamos que aparentemente a renda não condiz com a declarada, fator observado
nas visitas. Entretanto, considerou-se o depoimento dos sujeitos.
Figura 19 - Tabela de renda mensal dos participantes.
b) Escolaridade
No que se refere à escolaridade (Figura 20), a maioria dos adultos que responderam
aos questionários está cursando, já cursou ou tem o Ensino Fundamental incompleto. Outros,
na mesma situação, em relação ao Ensino Médio e Nível Superior. Há no município um
número crescente de adultos procurando por matrículas nas escolas: muitos, para concluir a
escolaridade, e outros, em busca de declarações como “cursando” para garantir vaga no
4 a 5 salários
mínimos
2 a 3 salários
mínimos Até 1 salário mínimo
33,5% 33,5% 26,5%
70
emprego. Importante ressaltar que o nível de escolaridade dos participantes desta pesquisa não
será considerado fator determinante no acompanhamento da vida escolar.
Cursando, com Ensino
Superior completo ou
incompleto
Cursando, com
Ensino Médio
completo ou
incompleto
Cursando, com
Ensino Fundamental
completo ou
incompleto
Nenhuma
26,5% 33,5% 33,5% 6,5%
Figura 20 – Tabela de escolaridade dos participantes da pesquisa.
c) Composição familiar
A forma como se compõem essas famílias varia muito (Figura 21). Há perfis do tipo
nuclear (pai, mãe e filhos), estendidas (pai, mãe, filhos, avó(s) e tio(s)). Quarenta por cento
das famílias são chefiadas por mulheres, o que não surpreende se considerarmos que dados
estatísticos informam que o município tem 487 lares, cujas mulheres não têm cônjuges (IBGE,
2011). E ainda, família que têm como característica outras pessoas agregadas (avós, tios e netos).
Figura 21 – Tabela de composição familiar dos participantes.
De acordo com o IBGE (2006), houve mudanças na família brasileira de 1995 a 2005.
A Síntese dos Indicadores Sociais revela que, entre 1995 e 2005, na região Sudeste,
o percentual de famílias formadas por casais com filhos caiu de 56,6% para 48,5%.
Fatores como o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho
podem ter ocasionado mudanças na estrutura das famílias brasileiras: o número das
que eram chefiadas por mulheres cresceu 35%, no período. Esse aumento vem
ocorrendo mesmo nas famílias onde há a presença do cônjuge.
Ainda conforme o IBGE (2006), o número de famílias chefiadas por mulheres
aumentou aproximadamente 35%, passando de 22,9%, em 1995, para 30,6%, em 2005; e que
a chefia feminina é mais expressiva entre as idosas (27,5%). Acredita-se que isso seja reflexo
Homem, mulher
e filho(s)
Homem,
mulher, filhos,
avó e tio
Mulher e filho(s) Mulher, avó
e filhos
Padrasto, mulher
e filho
40% 6,5% 33,5% 6,5% 13,5%
71
da maior expectativa de vida das mulheres e da maior presença delas em domicílios
unipessoais (com um só morador).
Os indicadores apontam que em regiões metropolitanas, onde o acesso à informação e
ao mercado de trabalho é mais fácil, as mulheres têm mais condições de assumir a chefia
familiar. A chefia feminina, porém, ainda é fortemente representada nos lares onde não há
cônjuge, principalmente no tipo de arranjo no qual todos os filhos têm 14 anos ou mais de
idade. Nesse caso, é possível encontrar mães solteiras ou separadas com filhos já criados ou
até mesmo viúvas, cujos filhos permanecem em casa por opção ou necessidade. Com a
presença das mulheres no mercado de trabalho, houve redução da fecundidade e o tamanho
médio das famílias diminuiu.
d) Participação na vida escolar
É possível perceber que há um equilíbrio entre os percentuais de participação (Figura
22). Embora a maioria tenha declarado uma participação mediana, ao longo da pesquisa,
principalmente nas entrevistas, apresentam momentos em que participam mais, outros em que
a participação fica abaixo do que poderia ser esperado.
Figura 22 - Tabela de participação na vida escolar.
Os participantes da pesquisa são conscientes da importância do papel da escola e da
família. Declararam acreditar que os estudos são importantes na vida de uma pessoa,
principalmente por gerarem possibilidades de bons empregos. Acreditam que o
acompanhamento da vida escolar é necessário, a partir do momento em que se espera algo
melhor para os filhos, como uma boa formação ou um bom emprego.
3.2.1 Como se compõem as famílias entrevistadas
A concepção idealizada de família já não existe há muito tempo. O modelo formado
por marido, esposa, filhos, em que somente o pai trabalha fora para o sustento da família e a
Participam
muito
Participação
mediana
Participam
pouco
33,5% 40% 26,5%
72
mãe cuida dos afazeres domésticos com tempo para acompanhar a educação dos filhos,
tornou-se raridade nos dias atuais (SANTOS, R., 2009).
Evidenciam-se aqui as diferentes maneiras de composição e convivência que
encontramos em contato com as famílias envolvidas na pesquisa.
Família 1:
- marido (47 anos) e esposa (43 anos) legalmente casados em primeira união;
- um filho (11anos) de ambos;
- os adultos trabalham fora;
- possuem casa própria, localizada próxima à escola, porém longe do local de trabalho;
- a mãe é responsável pelo acompanhamento da vida escolar;
Família 2:
- marido (38 anos) e esposa (32 anos) em união estável, ambos em primeiro
“casamento”;
- eles têm ensino médio completo;
- são três filhos dessa união (15,13 e 10 anos de idade);
- além do casal e dos filhos a avó materna (62 anos) e o irmão da esposa, residem com
a família;
- trabalham fora o marido, a esposa e o irmão da esposa;
- residem em casa própria;
- a avó e a mãe dividem a responsabilidade pelas crianças.
Família 3:
- marido (45 anos) e esposa (38 anos) em primeira união estável;
- um casal de filhos (14 e 11anos);
- marido e esposa com ensino médio;
- adultos trabalham fora;
- residem em casa própria, que fica próxima da escola dos filhos e longe do trabalho;
- marido e mulher compartilham as responsabilidades no acompanhamento da vida
escolar;
Família 4:
- marido (32 anos) e esposa (29 anos). A mulher em segundo casamento.
73
- um filho (11 anos) do primeiro casamento e três do atual (8, 6 e 3 anos);
- o marido trabalha fora;
- a esposa trabalhava fora, mas parou de trabalhar para cuidar dos filhos;
- não residem em casa própria, que fica distante da escola e do trabalho;
- a mãe é responsável em acompanhar a vida escolar;
Família 5:
- mulher (35 anos) divorciada;
- uma filha (15 anos) adolescente do primeiro casamento;
- não residem em casa própria;
- o pai da menina reside na mesma cidade e é bastante presente;
- a mãe é responsável pelo acompanhamento da vida escolar, mas o pai contribui;
- a mãe tem Ensino Superior Completo;
Família 6:
- marido (60 anos) e mulher (52 anos) ambos em segundo casamento;
- os dois viúvos com filhos do casamento anterior;
- a filha (9 anos) da mulher reside com o casal, e é fruto de um relacionamento entre o
primeiro e o segundo casamento;
- adultos com pouco estudo;
- os dois são aposentados;
- residem em casa própria;
- mãe é responsável pelo acompanhamento escolar;
Família 7:
- mulher (37 anos) nunca casou;
- tem um filho (10 anos) de um relacionamento anterior;
- é responsável pelo sustento da casa e pelo acompanhamento da vida escolar;
- trabalha fora;
- não residem em casa própria;
- concluiu o Ensino Médio;
Família 8:
- marido (34 anos) em primeiro casamento, mulher (36 anos) em segundo casamento;
74
- mulher com filhos (16 anos) primeiro casamento (13 e 10 anos de idade) do atual;
- o casal trabalham fora;
- casal concluiu o Ensino Fundamental cursando a Educação de Jovens e Adultos
(EJA);
- a mãe é responsável pelo acompanhamento da vida escolar;
- residem em casa própria, próxima da escola;
Família 9:
- marido (29 anos) e esposa (31 anos) ambos em primeiro casamento;
- dois filhos da união (11 e 9 anos);
- o casal trabalha fora;
- residem em casa própria, próxima da escola e do trabalho;
- a mãe é responsável por acompanhar a vida escolar;
Família 10:
- marido (36 anos) e esposa (31anos) em primeira união estável;
- dois filhos da união (11 e 5 anos de idade);
- residem em casa própria, próxima da escola e do trabalho;
- comerciantes;
- a mãe é responsável pelo acompanhamento na vida escolar;
- os adultos têm Ensino Superior.
Família 11:
- mulher (37 anos) não é casada;
- três filhos (22, 14 e 12 anos de idade), de pais diferentes com os quais a mãe não foi
casada;
- residem junto com a avó (63 anos) aposentada que ajuda nos cuidados;
- a mulher e o filho mais velho trabalham fora para o sustento da família;
- a avó não estudou e a mãe tem Ensino Superior;
Família 12:
- mulher divorciada (37 anos);
- um filho (12 anos);
- trabalha fora para o sustento da família;
75
- não reside em casa própria;
- é responsável pelo acompanhamento da vida escolar;
Família 13:
- mulher (34 anos) separada;
- tem cinco filhos (15, 13, 9, 6 e 2 anos de idade), de cinco pais e relacionamentos
diferentes;
- reside em casa própria, próxima ao trabalho e escola;
- trabalha fora e recebe pensão para ajudar no sustento dos filhos;
- é responsável pelo acompanhamento da vida escolar;
Família 14:
- marido (33 anos) e mulher (28 anos) em primeira união;
- mulher tem um filho (9 anos) de um relacionamento anterior e está grávida do
relacionamento atual;
- trabalham fora;
- o pai biológico participa e acompanha a vida escolar;
- o padrasto compartilha com a mulher as responsabilidades na educação do menino;
- residem em casa própria, distante do trabalho e da escola;
Família 15:
- mulher (40 anos) divorciada;
- filho (14 anos) do casamento;
- reside em casa própria, próxima à escola do filho;
- trabalha autônoma;
- é responsável por acompanhar a vida escolar;
- está fazendo curso de graduação.
3.2.2 A escola sob o ponto de vista das famílias
Há uma grande discussão sobre o conceito de participação que permeia a relação
escola e família. Para a escola, as formas como as famílias participam são insatisfatórias,
inadequadas e insuficientes para contribuir no processo ensino-aprendizagem. Comumente
são apresentados estudos que discutem essa participação, sob a ótica da escola, professores e
76
gestores. O que se pretende com esta pesquisa é apresentar a perspectiva de participação sob o
ponto de vista das famílias, dando vez e voz às pessoas que se encontram do outro lado dessa
relação, e que muitas vezes são envolvidas por um discurso padronizado que lhes atribui a
culpa pelo fracasso do processo educativo.
As famílias entrevistadas relataram fatos sobre a importância dos estudos, a relação
com a escola, os motivos de participarem ou não, como fazem o acompanhamento da vida
escolar, entre outros assuntos. Nos próximos parágrafos serão apresentadas as falas dos
participantes que, embora relutantes, contribuíram significativamente com esta pesquisa.
Interessante nos trechos a seguir, a importância que os sujeitos acreditam ter os
estudos na vida de uma pessoa:
O estudo é tudo, até para arrumar serviço é mais fácil. Sem estudo não dá pra ter
uma boa profissão, tem que puxar enxada como eu já puxei tanto. Tenho 52 anos e
nunca estudei meus pais nunca me deixaram estudar. A primeira caneta, o
primeiro lápis que meu pai colocou na minha mão, foi o cabo da enxada.
Comecei a estudar tem dois anos para aprender assinar o nome. Já reconheço muitas
letras. A matemática eu acho mais fácil. Na caneta ainda não aprendi a fazer conta
direito, mas na cabeça faço qualquer conta. Vou ficar mais um ano tentando porque
está muito difícil de aprender, depois eu desisto. (Família 62, grifos nossos).
O estudo é muito importante. Eu parei de estudar há 12 anos e depois de um tempo
caí na real e disse pra mim mesma que tinha que voltar a estudar. Meu esposo
também voltou a estudar porque o patrão começou a cobrar. Uma mulher do
Vale Renda me visitou e me disse para entrar no PROJOVEM. Ela me disse que eu
precisava embarcar nessa, era a minha chance de voltar a estudar. Eu disse a ela que
não dava porque não podia deixar as crianças sozinhas, mas ela me falou que teria
uma renda. Voltei a estudar porque tinha uma renda que me ajudava a pagar uma
babá para cuidar das crianças. Estou na luta porque quero o melhor para os meus
filhos. (Família 8, grifos nossos).
Nessas falas percebe-se que, por diferentes motivos, os participantes agregam
importância aos estudos. Na primeira fala, destaque para o trecho em negrito que elucida bem
o porquê desse participante acreditar que deixar de frequentar a escola acarreta consequências
não favoráveis à vida de uma pessoa. Esse participante representa milhares de brasileiros que
tiveram que trocar os bancos da escola para ajudar no sustento da família, e estudar era um
luxo desnecessário. Carraher, Carraher e Schliemann, (1993, p.25) contribuem com a seguinte
colocação: os pais “[...] não podem permitir aos seus filhos o luxo de uma educação
prolongada diante de sua necessidade de empregá-los precocemente para contribuir para o
sustento da casa”.
Com a Lei de Diretrizes e Bases (9.394/1996), as crianças passam a ter seus direitos
garantidos à educação. Em seu art. 6º, a LDB descreve: “É dever dos pais ou responsáveis
2Além de apresentar dados mais concretos sobre as famílias nas páginas 72 a 75, também é possível no Apêndice
F remeter-se aos perfis dessas famílias, por não ser possível estar a todo o momento repetir tais dados.
77
efetuar a matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental”
(BRASIL, 1996).
No segundo caso, percebe-se que a mãe voltou a estudar em busca de um emprego
melhor e, consequentemente, um salário que possibilite melhorar a qualidade de vida
oferecida aos filhos. O município de Naviraí conta com um grande número de pessoas
cursando projetos como EJA e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM).
As empresas que atualmente estão se instalando no município têm exigido escolaridade para
contratar funcionários, o que aumentou a demanda por vagas em projetos como os
anteriormente citados.
Estudar é importante porque na escola aprendemos coisas que serão úteis para nossa
vida. Eu quero que meus filhos estudem e acho que através dos estudos eles vão
realizar os sonhos deles, assim como realizei os meus. Se hoje tenho um bom
emprego, devo ao meu esforço na escola. Concluir o ensino superior me
proporcionou um bom trabalho, por isso cobro deles, para garantias no futuro.
(Família 11).
É possível perceber que as famílias estão apostando muito na escola, embora, às vezes,
o façam equivocadamente, por não agregarem à escola o papel que lhe compete e sim a
perceberem como instituição para cuidar de seus filhos. Grande parte já apresenta uma visão
diferente, quer educação de qualidade, seus filhos qualificados. São pessoas mais críticas,
participativas. Demonstram sua insatisfação com a certeza de estarem usufruindo de um
direito que lhes é garantido.
A escolha da escola nem sempre é uma missão fácil.
Na boa? Eu tinha escolhido a escola por proximidade e por causa das dicas que as
pessoas dão. A gente procura uma escola que é considerada boa, fiz a pré-matrícula,
mas meu filho foi matriculado em outra. Estou insatisfeita porque estão tirando o
direito da gente escolher. Por ser estadual, matriculam onde tem vaga e ele terá que
atravessar quase que a cidade toda pra estudar em uma escola que eu não queria. Na
escola em que ele foi matriculado não conheço ninguém. Já chega a escola em que
ele estudava o ano passado que pra mim é uma porcaria. Tinha muitos alunos
grandes que até fumavam dentro da escola e ameaçavam os alunos menores. Eu
tinha muito medo e orientava para não se envolver em confusão e não adiantava
reclamar porque a diretora não fazia nada para mudar a situação. Tirei meu filho de
lá, você acha que ele poderia aprender coisas boas estudando em uma escola desse
nível? (Família 4).
A escola é longe da minha casa, mas até agora tem sido ótima no meu ponto de
vista. Eu escolhi a escola por dois fatores: foi em primeiro lugar por segurança e em
segundo lugar pela qualidade de ensino. Acredito que a escola deve oferecer
segurança porque fico mais tranquila sabendo que eles estão seguros. (Família 3).
Muitos escolhem a escola que geograficamente fica mais próximo de casa. Outros
porque ouviram falar bem da escola ou ainda por acreditarem que ela oferece segurança aos
78
filhos. Ressalta-se que, no caso da família 4, não houve titubeio em trocar o filho de escola,
quando esta já não satisfazia suas ansiedades.
Fica evidente que as famílias buscam escolas que oferecem mais segurança e, de
acordo com elas, qualidade de ensino. Observou-se por meio de conversas informais que os
participantes medem a qualidade do ensino oferecido na escola conforme aquilo que as
pessoas comentam sobre esta. Embora o Governo Federal tenha se empenhado em divulgar
nos meios de comunicação os processos pelos quais tem verificado a qualidade de ensino no
País, muitos dos entrevistados informalmente afirmaram que desconhecem o IDEB da escola
em que matriculam seus filhos.
Escolhi a escola que fica perto da minha casa e minha filha pode ir até sozinha.
Também porque gosto das pessoas da escola. Por morar perto da escola, posso estar
presente sempre que me chamarem. Se não chamam, venho mesmo assim, porque
gosto de saber como ela está se comportando na escola, se está respeitando os
professores e se não está procurando encrenca com os colegas. (Família 6).
Conhecer as pessoas que trabalham na escola também influencia na escolha da escola.
Muitos pais se sentem mais seguros quando têm uma pessoa conhecida na escola. Importante
destacar que, nesse trecho, o participante afirma uma participação espontânea. Mesmo que a
escola nãoo chame, está sempre presente buscando informações sobre o desempenho da filha.
A opinião das famílias sobre as escolas diverge bastante e em alguns momentos há até
mesmo certa contradição entre as falas, pois, ao mesmo tempo em que elogiam a instituição,
apresentam críticas sobre a gestão.
A escola deveria pensar em formas de dar prioridade à nossa participação. A escola
tinha que ser mais aberta para os pais. Os pais tinham que ter mais conhecimento do
que acontece na escola. Alguns não têm interesse em se informar, mas acho a escola
muito fechada para certos assuntos. O contato se restringe as reuniões. Não dão
liberdade para a gente falar com a coordenação e direção. Já tentei mais de cinco
vezes falar com o diretor e não consigo. Sempre inventam uma desculpa e não me
deixam falar com ele. (Família 3).
Destaca-se a fala desse participante que anteriormente conceitua a escola como ótima
por oferecer qualidade e segurança. Já nesse momento, demonstra insatisfação com a forma
de como a gestão lida com a presença dos pais. A LDB (art.12, parágrafo VI) enfatiza que
cabe à escola “articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração
da sociedade com a escola” (BRASIL, 1996). Porém, esse princípio não parece estar sendo
considerado nesse caso, já que a equipe gestora (diretor e coordenação) não disponibiliza tempo
para a interação com os pais.
Importante salientar que alguns participantes demonstraram insatisfação com a forma
de gerir as escolas.
79
De um tempo pra cá, minha opinião sobre a escola mudou. Os professores estão
enfrentando muitos problemas porque os alunos não respeitam nem mesmo os
colegas de turma. Acho que o diretor deu muita liberdade para os alunos. Agora os
alunos não respeitam mais os professores. Acredito que a indisciplina está
atrapalhando e os professores estão avaliando os alunos pelo comportamento. Outro
dia fui à escola conversar com o diretor sobre o professor de história. O professor
levava tudo a ferro e fogo e dava aula para as crianças como se tivesse dando aula na
faculdade. O diretor o chamou o professor e ele disse que ou os alunos saíam ou ele
sairia e acabou que ele saiu. (Família 11).
Observa-se que o participante fez uma avaliação do gestor (diretor) em sua fala.
Acredita que os professores enfrentam problemas ocasionados pela indisciplina porque o
diretor permitiu que os alunos tivessem uma liberdade que foi além dos limites. Há também
uma avaliação do trabalho pedagógico e, nesse caso, a expressão utilizada denota que o
participante, embora não esteja o tempo todo na escola, observa que o professor tem
dificuldades em lidar com adolescentes.
A escola não é ruim, mas está sendo bem difícil ver que minha filha não está
conseguindo acompanhar a turma. Ela tem muita dificuldade e piorou depois que a
professora tirou licença. O pior é que teve muita troca de professores. Quando ela
estava se acostumando com uma, vinha outra. Acho que ela não conseguirá passar
de ano se continuar assim. (Família 5).
As famílias observam que a rotatividade de professores tem influenciado na
aprendizagem. Algumas até contam o número de professores que já passaram pela sala dos
filhos. A rotatividade acarreta ainda problemas com a metodologia, pois são muitos
professores com diferentes metodologias. Para os alunos das séries iniciais principalmente,
esse fator pode ser fatal, já que demoram a assimilar as trocas.
Com o aumento das horas atividades para os professores do Ensino Fundamental, o
município de Naviraí implantou algumas disciplinas na grade, que são parte diversificada. Tal
decisão fez aumentar o número de professores desde o primeiro ano do Ensino Fundamental.
Há críticas em relação a essa ampliação, por parte de algumas famílias, pois acreditam que a
ampliação dificultou o contato com os professores, já que todas as vezes que vão à escola,
encontram professores diferentes e nem sempre preparados para lhes informar sobre o aluno
do qual foram buscar informações. Em contrapartida, há os que acreditam que a ampliação faz
aumentar a qualidade, pois os estudantes terão acesso a mais conhecimento.
3.2.3 Como e quanto a família participa da vida escolar
O conceito de participação apresentado pelos sujeitos envolvidos nesta pesquisa vem
para contrapor o conceito preestabelecido pela escola e nos proporciona uma reflexão sobre
80
estabelecer níveis quantitativos para essa participação e se esta estaria condicionada somente
à presença física na escola.
Importante dar voz a esses sujeitos porque, normalmente, seus discursos são
desconsiderados. Discute-se a participação mensurada nos discursos de professores, gestores e
a conclusão é sempre a mesma: o aluno tem dificuldade porque a família não participa ou
participa pouco.
Analisando dados coletados, observou-se que:
a) as famílias que declararam ter uma participação mediana participam razoavelmente
das atividades escolares, quer sejam nas reuniões ou acompanhamento de
atividades extraclasses. Na maioria são famílias com baixa escolaridade e
compostas de diferentes maneiras;
b) os participantes que declararam pouca participação apresentam algum
conhecimento escolar, mas, por diferentes motivos, declararam que participam
menos do que deveriam;
c) aqueles que consideram participar muito, tem um número expressivo de pessoas
com ensino superior ou algum curso de graduação.
Como já citado, não se acredita que a falta de escolaridade seja fator condicionante à
baixa participação, pois, ao observar as famílias que declararam participar pouco da vida
escolar, são pessoas que apresentam certo grau de instrução e que por outros motivos deixam
de participar. Nos trechos a seguir fica evidente que os participantes estão cientes da
importância de sua participação.
A minha forma de participar é assim: tudo o que tem relacionado à escola e que
convoca os pais para irem eu estou dentro. Já aconteceu de ter duas coisas no mesmo
horário, uma na escola do menino maior outra na escola da Educação Infantil. Eu
tento ir a tudo e se não tem jeito, peço para alguém (parente) ir em meu lugar. Tento
participar o máximo possível. Já participei até de atividades que era para o pai dele
no dia dos pais e ele não pode ir, então eu fui. Participo porque assim fico sabendo
das coisas que acontecem dentro da escola e se eu tiver que reclamar de alguma
coisa, estarei no meu direito. Considero que participo mais ou menos, porque
tem coisas que não consigo participar. Participar muito seria ir a tudo, estar
100% presente e isso não é possível. (Família 1, grifos nossos).
Nesse caso, destaca-se a fala da mãe que, embora consciente da importância da sua
participação, admite que não participa de tudo. Observa-se que ela se esforça para estar
presente, acompanhar e, mesmo com seus esforços, não se permite declarar-se como mãe que
participa muito.
81
Tem que acompanhar todos os dias. A conversa é muito importante para saber quais
são as dificuldades. Ela tem bastante autonomia, mas acredito que o estudante
valoriza quando a família está próxima, acompanhando. (Família 5).
Se eu não participasse da vida escolar dos meus filhos, tenho certeza que iria
complicar muito. Tem aluno que “vai” sem a participação dos pais, eu, por
exemplo, sempre fui boa aluna e minha mãe quase não participava. Mas no meu
ponto de vista se eu não fosse uma mãe sempre presente, acompanhando,
complicaria muito a vida deles e eu teria muitas surpresas no final do ano como, por
exemplo, saber que eles reprovaram. (Família 8, grifos nossos).
Como mãe, acredito que o estudo é a base de tudo. A gente percebe a diferença de
uma criança que tem apoio pra estudar em relação a que não tem. A criança que não
tem apoio não faz tarefas e os pais só recebem reclamações. Nunca recebi
reclamações do meu filho, pois estou sempre atenta às atividades escolares. (Família
4).
Eu gosto da metodologia da escola. Meu filho foi alfabetizado bem rápido. Os
professores dão bastante tarefa. Eu participo para acompanhar porque criança a
gente sempre fica em dúvida. Procuro estar presente em todas as reuniões e nas
comemorações. Todos os dias eu levo e busco na escola e se tiver dúvidas, aproveito
para perguntar. Quando não posso ir, vai meu marido (padrasto) ou o pai dele
(filho). Não sei se poderia participar de outro jeito porque a escola nunca passou
nenhuma outra possibilidade. Em casa determino tempo e local pra ele fazer a tarefa.
Quando chega da escola ele lancha, toma banho e depois vai para a mesa da cozinha
fazer a tarefa enquanto eu faço janta. Ele gosta de falar muito sobre a escola. Se não
fala a gente pergunta para saber se está tudo bem. (Família 14, grifos nossos).
Destaque para dois trechos dos discursos, para enfatizar tais falas. No primeiro
momento, ao declarar que sempre foi boa aluna apesar da não participação da mãe, a
participante destaca um ponto relevante na condição de família participante. Nem todas as
pessoas são iguais. Os pais terem sido bons alunos não determinam filhos bons alunos. Há
exceções de estudantes que, independentes da colaboração da família e de ter ou não bons
professores, apresentam bom desempenho.
No segundo momento, chama-se a atenção para a composição dessa família
participante. A mãe não vive com o pai da criança e sim com outro homem, nesse caso, o
padrasto e todos compartilham a responsabilidade de participação.
Outro ponto relevante nessa fala diz respeito à escola que em momento algum parece
ter oferecido outras condições de participação a essa família que não seja a presença em
reuniões e comemorações. Talvez por esse motivo muitas declarem que a participação se dá
em casa, acompanhando/ajudando nas tarefas escolares e/ou participando das reuniões
promovidas pela escola. O art. 12, inciso VII, da LDB deixa evidente que a escola tem como
dever: “informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os
responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução
da proposta pedagógica da escola” (BRASIL, 1996).
82
Importante dizer que se encontrou entre os participantes apenas uma pessoa que
participa da Associação de Pais e Mestres (APM) da escola dos filhos, mas a maioria
desconhece os segmentos da escola que necessitam ter como integrantes os pais ou
responsáveis.
Ressalta-se que muitos entrevistados, ao serem questionados sobre a forma como
participam, imediatamente, se referem às reuniões de pais e mestres. Talvez isso ocorra por a
escola tradicionalmente entender como participação da família, a presença nas reuniões.
Geralmente eu pergunto se tem tarefa, se tiver ele escolhe se quer fazer à tardinha ou
de manhã antes de ir para a escola. Não pode ir sem fazer a tarefa. Deixo fazer a
tarefa sozinho, não fico em cima, mas oriento a me chamar se estiver com dúvidas.
Uma vez por semana olho todos os cadernos para ver se está tudo certinho. Aí pego
no pé com letra, se tem coisa mal feita. Tenho costume de olhar até as bordinhas do
caderno. Se estiver feio o caderno, pego no pé mesmo. (Família 7).
Percebe-se que as famílias estão se esforçando e realizam o acompanhamento da
melhor maneira possível. Eventualmente pode não ser a forma mais indicada ou ainda a que
agrada a escola, no entanto, concluímos que elas, em suas especificidades, acreditam estar
contribuindo significativamente para o bom desempenho escolar de seus filhos.
Eu estou sempre lá na escola, principalmente nas reuniões em que os pais são
chamados. Procuro saber como está tanto um quanto o outro. Eles estudam em
horários diferentes, então vou de manhã para saber de um e volto à tarde para saber
do outro. Vou à escola pra saber sobre o comportamento, se estão no “caderninho
amarelo”. Dou prioridade para essas coisas. Se meus filhos estão se comportando
mal dentro da sala eu gosto de saber. Se os professores falarem que estão no
caderninho amarelo, já sei que é porque não fizeram a tarefa ou teve algum
problema na sala. Às vezes eu e meu marido fazemos um revezamento. Vou à
reunião da manhã e se à tarde estou no horário de serviço, ele vai e vice-versa. Não
vou chegar na minha patroa e pedir pra me liberar de novo. Fazemos isso para não
pesar só pra um. Em casa eu pergunto todos os dias como foi na escola, se teve
prova, se tem tarefa... Olho os cadernos também. Se tiver trabalho pergunto do que é
e para que. Sou meio “xereta” às vezes “(risos)”. (Família 3).
Estou sempre perguntando aos professores como estão meus filhos na escola. Tenho
um bom relacionamento com todos. Em casa não tem horário certo para fazer a
tarefa. Não acompanho meus filhos fazer a tarefa, é mais entre eles, se tiverem
dúvidas eles me perguntam e eu explico. Um passa para o outro porque estão sempre
brincando de escolinha. Não sento para acompanhar porque não tenho tempo e acho
que não tem necessidade. Participo do jeito que posso. (Família 9).
O acompanhamento das tarefas ou dos trabalhos extraclasses é realizado da maneira
como cada família considera mais adequada. Não há uma orientação por parte da escola e
muitos não adotam o costume de participarem da execução dessas atividades, como ficou
claro em um desses discursos.
Concluiu-se que o contato com a escola é mais frequente por meio do caderno de
recados. Algumas famílias consideram esse meio de comunicação insuficiente, pois muitos
83
alunos não chegam a entregar o bilhete, deixando muitas vezes a família alheia aos
acontecimentos.
As visitas à escola acontecem quando esta solicita a presença ou conforme depoimento
da maioria, de forma voluntária e se houver necessidade.
A participação nas reuniões escolares, de acordo com as declarações, é frequente e,
apenas em alguns casos, declararam que raramente comparecem. Acreditam que, por
trabalharem fora, a frequência nas reuniões nem sempre é possível. Não souberam informar se
haveria um horário mais conveniente, apenas que não é sempre que encontram
disponibilidade para atenderem ao convite da escola.
Em aproximadamente 99% das famílias, a figura feminina é a responsável pelo
acompanhamento da vida escolar, ainda que as mulheres, em grande número, trabalhem fora,
acumulam tal função. Ressalta-se que o acompanhamento normalmente é realizado enquanto
se desempenham alguma outra função doméstica, ou seja, muitas vezes o tempo destinado a
verificar ou ajudar nas tarefas escolares é compartilhado com outras obrigações que lhes
competem. Raramente observou-se famílias em que a figura masculina tenha mais participação.
Corroboram para ressaltar esses índices, os indicadores do IBGE (2006), que apontam
os seguintes dados:
Mesmo com a maior participação das mulheres no mercado de trabalho e as
mudanças nos padrões familiares brasileiros, a responsabilidade no cuidado dos
afazeres domésticos ainda era predominantemente feminina em 2005. Entre as
mulheres ocupadas 92% declararam cuidar de afazeres domésticos. De 1995 a 2005,
foi observado um tímido aumento da participação dos homens no cuidado de
afazeres domésticos (cerca de 2 pontos percentuais na população de 10 anos ou mais
de idade) e uma variação um pouco menor entre a população ocupada (0,8 p.p.). A
análise desses indicadores mostra que ainda está longe uma divisão igualitária de
tarefas entre homens e mulheres no ambiente doméstico: em média as mulheres
gastavam 25,2 horas semanais nessas atividades contra 9,8 horas dos homens.
3.2.4 O papel da escola e da família na visão dos sujeitos participantes da pesquisa
Concluiu-se que a família sabe bem sua função na vida escolar e, mais, tem
consciência da importância de seu papel. Sabe que não basta apenas cobrar resultados, é
preciso participar, acompanhar, estabelecer diálogos com a escola e com os filhos.
Na minha opinião o papel da escola é o ensinamento. Educação sim, mas acho que a
educação tem que vim de casa principalmente. Não é chegar na escola sem educação
e o professor tem que dar jeito. Sou contra as pessoas que falam: “não dão educação
na sua escola?” A escola dá educação sim, porque os professores não vão ensinar o
que é errado. A escola tem que manter a educação que os pais dão em casa. Acho
que pais e professores tem que estar unidos, se acontecer alguma coisa, mesmo que
não seja época de reunião, escreve um bilhete e manda para os pais. A escola tem
84
que procurar os pais e informar sobre o que está acontecendo. Trabalhar unidos. O
papel da família é sempre buscar informações sobre o filho na escola, acompanhar
as notas e também ver se pode colaborar para melhorar a escola. Por exemplo: o
muro está quebrado os pais podem perguntar ao diretor se precisa de ajuda, afinal seu
filho estuda naquela escola e se a gente quer segurança, precisa ajudar. (Família 8).
A função da escola é passar para os pais informações sobre tudo o que acontece com
a criança durante o período em que ela está na escola, do mínimo ao máximo, sem
deixar faltar nada e também a questão da aprendizagem. Não que a escola tem que
ensinar para o aluno coisas que ele tem que trazer de casa. Ah! Respeitar as pessoas,
por exemplo. A família tem que participar, se unir com a escola. (Família 13).
Eu acho que o papel da família é participar, dialogar com a criança e com a escola,
cobrar resultados e acompanhar. Não é só deixar a criança na escola. Se a gente quer
bons resultados, tem que participar para poder cobrar. (Família 14).
O papel da família é ajudar em tudo. Eu não tenho todos os estudos terminados, mas
acho que ajudar no que a gente sabe. E quando a gente não conseguir ajudar,
procurar alguém que sabe. O importante é não deixar as crianças voltar para a escola
sem fazer a tarefa e dizer que não fez porque minha mãe ou meu pai não sabiam.
Buscar junto com a criança quando tiver dúvida. O papel da escola também é ajudar.
A gente encontra muitos professores que gostam daquilo ali que fazem e muitos que
estão ali só pelo trabalho, o dinheiro, o financeiro. Então acho que o papel da escola
é ter o amor, ajudar. Tendo amor você consegue de longe ver o aluno que não
entendeu que tem dúvidas e com amor explicar de novo, não deixar o aluno sair da
escola sem aprender. (Família 7).
“Educar é papel da família. Não é papel da escola, ensinar como tratar as pessoas.
Ensinar o respeito e a educação é em casa. A família deve participar da vida do filho
na escola, saber como está se desenvolvendo, o que está acontecendo, o que está
faltando”. (Família 11).
O papel da família é orientar, participar, incentivar. Os adolescentes gostam mais de
fazer outras coisas do que estudar. É preciso cobrar, estar presente e mostrar que
estudar é importante. (Família 5).
Esses trechos denotam insegurança dos participantes em estabelecerem o papel da
escola, porém, quanto ao papel da família, demonstram estarem cientes do que lhes compete
nessa parceria. Importante destacar a fala do participante da família 7 ao dizer que muitos
professores estão na escola somente pelo dinheiro. Conversando informalmente com essa pessoa,
ela destacou que observa isso pela forma como alguns professores tratam os alunos e até mesmo
os pais, quando estes vão até a escola voluntária ou involuntariamente para conversar.
3.2.5 Os fatores que interferem na participação
Grande parte das famílias optou por declarar que sempre participaram da vida escolar
dos estudantes e aproximadamente 5% destas declararam que participavam mais e hoje
participam menos ou, ainda, que participavam menos e hoje são mais atuantes.
Os horários atrapalham a participação. A escola deveria marcar uma reunião geral
em horário que fosse possível a participação de todos os pais. Se eu tenho dois filhos
85
e estudam um de manhã e outro à tarde, tenho que ir a duas reuniões. Parece que a
escola não analisa a realidade dos pais. (Família 3).
No meu caso, o que me atrapalha realmente é a falta de tempo, seu eu tivesse mais
tempo, com certeza teria o maior prazer de estar mais presente e participar das
atividades que a escola propõe. (Família 10).
Todos precisam trabalhar, mas acompanhar a vida escolar é importante. Não
podemos deixar nossos filhos sem acompanhamento, até porque eles podem pensar
que não gostamos deles. Muitos pais dizem não participar porque não tem tempo.
Acredito que o mais importante é fazer do pouco tempo que temos, tempo com
qualidade. Às vezes os pais passam tanto tempo chamando a atenção, brigando, isso
não resolve. Penso que seria mais interessante acompanhar, dialogar e ajudar no
processo. (Família 15).
De acordo com os dados coletados, a falta de tempo é o principal fator a dificultar uma
participação mais efetiva da família, seguida de famílias que não a julgam importante ou não
veem necessidade de participar, já que os estudantes apresentam bom desempenho.
Entretanto, sabe-se que o tempo é relativo a cada participante e que ele não dever ser
considerando fator único, mas que, associado a outros fatores, pode sim comprometer a
participação.
Sempre que vou à escola sou bem recebida, mas acho que a escola deveria explicar
melhor as coisas. Por exemplo: minha filha não teve reforço. Fiquei me perguntando
o que teria acontecido se era pelo problema de saúde dela, porque ela tem os
mesmos direitos que os outros alunos. Alguém poderia ter me orientado melhor
porque às vezes eu entendo bem o que a escola explica outras não. Acho que teriam
que explicar melhor quando eu pergunto. Só isso. (Família 1).
Às vezes acontece alguma coisa no começo do ano e só fico sabendo no final do
bimestre. Uma coisa que poderia ser resolvida no mesmo dia acaba passando
despercebido. Já aconteceu de chegar à escola pra deixar meu filho e não ter aula.
(Família 14).
As falas dos participantes apresentam queixas relacionadas a uma comunicação mais
eficaz entre escola e família. A demora em passar informações, a falta de contato por telefone
nos casos urgentes, a dificuldade em explicar o que a família questiona causam insatisfação.
Sempre que posso eu vou à escola saber como meu filho está se desenvolvendo, mas
moro longe e trabalho o dia todo. Por isso, nem sempre é possível estar presente.
Chego do trabalho muito cansada e sempre ao final da tarde. Como a escola fica
longe, para chegar antes de fecharem eu teria que sair do meu serviço mais cedo e
não dá pra ficar saindo, a não ser em casos de urgência. Em casa estou sempre
orientando meu filho a se comportar bem e aproveitar as aulas. Quando posso vou à
escola, converso com os professores ou com a coordenação e fico informada. Se
demorar em ir à escola, ligo e peço informações para saber como está o desempenho
dele. Quem me atende sempre é a coordenadora, aí ela me diz se tem alguma
anotação na ficha dele. (Família 9).
Trabalho o dia inteiro. Quando chego em casa no final da tarde pergunto se tem
tarefa se já fizeram. Se ainda não fizeram eu oriento a fazer e se tiverem dúvidas eu
ajudo. Se tiver trabalho de pesquisa, vamos para o computador, mas se for outros
tipos de trabalhos vão para a mesa da cozinha e eles fazem. Nem sempre consigo
86
acompanhar porque o dia todo trabalhando dificulta um pouco. Às vezes tem tarefa
que precisa de mais tempo e nesse caso eles se viram e só me pedem para olhar
quando chego. Acompanho mais, olhando os cadernos, porque através dos cadernos
já tenho noção de como estão na escola, se estão fazendo as atividades ou apenas
brincando. (Família 11).
Nesses trechos, fatores como a distância e a necessidade de trabalhar fora aparecem
como condicionantes à participação. Entretanto, de uma forma ou de outra, não deixam de
acompanhar a vida escolar. Cada qual da sua maneira busca conciliar trabalho, distância, entre
outros fatores, com o acompanhamento do desempenho na escola. Embora a cidade de
Naviraí, MS, não apresente grandes proporções geográficas, os alunos que estudam na Rede
Estadual de Ensino estão enfrentando dificuldades relacionadas à distância da escola.
Consequentemente, o responsável da família em acompanhar a vida escolar se depara
constantemente com a impossibilidade de conciliar as distâncias. Assim, muitos acompanham
por meio dos cadernos, observando se há recados dos professores e a organização das
atividades realizadas.
Muitos são os casos, também, dos alunos que residem na zona rural e que, por meio do
transporte escolar, frequentam as escolas da cidade. As poucas famílias com as quais
mantivemos contato alegam que não participam mais da vida escolar por estarem longe da
escola e por inviabilidade em conseguir transporte para marcarem presença nas reuniões.
Esses alunos se encontram distribuídos em diversas escolas pela cidade, dificilmente a
comunicação entre as escolas e essas famílias é realizada com sucesso.
As famílias demonstram insatisfação com o modo de como a escola organiza as
atividades em que a família é convidada. “As reuniões são sempre muito demoradas e tenho
que ficar ouvindo coisas que eu já sei como funcionam”. (família10). Nessa fala, percebe-se
que falta objetividade por parte da escola, que insiste em fazer reuniões tradicionais e nada
dinâmicas.
Há ainda famílias que acreditam que a escola dificulta a participação. Elas afirmam
que não se sentem bem-acolhidas na escola. Declararam que o acesso a pessoas, como
diretores, coordenadores e professores, é muito remoto. A falta de acolhimento também se faz
presente na parte administrativa. Houve reclamações de que nem sempre são bem-atendidas
quando comparecem à escola ou ligam em busca de informações. Em alguns casos, as
famílias elogiaram a receptividade da escola e complementaram dizendo que gostam de
participar porque são bem-recepcionados por todos na escola.
Outro fator que foi citado pelas famílias é a falta de escolaridade e recursos para a
realização das tarefas.
87
A escola sempre manda tarefas, mas às vezes são difíceis de entender, porque tenho
pouco estudo. Se eu tivesse um pouco mais de estudo poderia entender tudo o que os
professores passam. (Família 8).
Outro dia a professora mandou fazer uma pesquisa na internet. Meu filho me deixou
quase louca porque o computador estava sem internet. Mandei ele voltar com a folha
e explicar para a professora porque não tinha feito e que se fosse preciso eu iria na
escola. Porque não fazem a pesquisa na escola se lá tem sala de informática? Um
professor tem que saber que não são todos que tem internet. A gente vê tanta coisa
acontecendo que não dá para deixar uma criança ir sozinha na lan house. Acho que
não podem exigir que na idade do meu filho as coisas sejam na internet porque nem
todos tem internet em casa. (Família 2).
A falta de compreensão associada à falta de recursos para a realização de algumas
tarefas parece atrapalhar a participação. Acredita-se que a escola deveria mandar tarefas mais
objetivas e com atividades complementares aos conteúdos de sala de aula. O que se observa é
que não há planejamento para as tarefas, falta orientação para a execução delas, dificilmente o
professor dá uma devolutiva ao aluno e o pior é que, na maioria das vezes, são atividades que
deveriam ter sido feitas em sala e que, por falta de tempo, são destinadas como tarefa.
Dias (1986, p. 9) destaca que a lição de casa é a oportunidade de a escolar entrar no lar
do estudante, ou seja, é uma forma de se oportunizar entrosamento entre pais e filhos. A
Revista Nova Escola (2013) traz uma reportagem sobre as etapas da lição de casa,
salientando:
Tudo o que é realizado em sala de aula requer planejamento - e com a lição de casa
não poderia ser diferente. O segredo é propor atividades com objetivos claros e
articulados ao conteúdo visto em sala. Ao mesmo tempo, esse trabalho não deve ser
uma mera repetição do que o aluno fez na escola [...].
A falta de diálogo entre família e escola e, ainda, entre os membros da própria família
também foi citada como fator que dificulta o acompanhamento e a participação.
Acho que quando os filhos são pequenos é mais fácil para os pais acompanharem.
Eles dependem da gente pra muitas coisas e assim podemos estar a par do que
acontece na escola. A maior dificuldade que encontro em participar é que meu filho
é adolescente. Sabe como é né? Fase difícil, não entende quando eu chamo a atenção
dele ou faço perguntas. Acha que eu sou chata, que fico pegando no pé dele por
qualquer coisa. Ele não aceita que o que falo ou faço é para o bem dele. (Família 7).
Importante ressaltar que a relação entre os membros da família é bastante estreita, não
há abertura por parte dos filhos em aceitar que os pais devem orientar. Muitas transformações
incorreram em mudanças no perfil da família, tornando-a com perfil multinuclear, matriarcal
e instável (SANTOS, R., 2009). De acordo com o autor, “o tempo/espaço de interação direta
entre pais e filhos (diálogo, refeições e atividades sociais conjuntas) está quase
desaparecendo” (SANTOS, R., 2009, p. 165).
88
A maioria dos sujeitos que declararam ter uma participação mais efetiva são famílias
cujos estudantes estão cursando as séries iniciais do Ensino Fundamental. Estes julgam a
participação muito importante, pois acreditam que, quando estão iniciando a vida escolar, a
presença da família é fundamental.
Em alguns casos, encontrou-se famílias que declaram participar mais hoje do que
antes, principalmente nos casos em que os estudantes são adolescentes e acreditam dar mais
trabalho. Nessas situações, as queixa são porque os adolescentes estão sempre envolvidos
com atividades que normalmente não estão ligadas aos trabalhos ou tarefas escolares.
No entanto, foi possível encontrar famílias que acreditam que, ao crescerem, os filhos
não necessitam mais de acompanhamento, podem se virar sozinhos. São famílias que não
desenvolvem o hábito de acompanhar diariamente a vida escolar. Acreditam que os filhos são
capazes de estudarem com autonomia, sem que seja necessário estar o tempo todo lhes
cobrando.
De acordo com os entrevistados, a escola deveria ter uma organização diferente para
favorecer a participação das famílias.
Acredito que poderia ter mais ações escolares em conjunto com os pais, avós e até
tios. Que houvesse mais reuniões para apresentação das atividades escolares
desenvolvidas pelos professores, diretores, coordenadores. Que o aluno pudesse
mostrar aos pais seu desenvolvimento diante da classe e dos professores. As escolas
também poderiam enviar mais bilhetes com questionamentos perguntando aos pais
como anda o desenvolvimento dos filhos em casa também. (Família 10).
Não há muitas reuniões de pais na escola. Eu procuro mais a escola do que vice-
versa. Só entram em contato em situações de indisciplina e resultados ruins, quando
deveriam chamar os pais para mostrar coisas boas. Não que devem deixar de
comunicar os problemas, mas é muito chato ir à escola e ficar ouvindo só
reclamações. (Família 5).
É preciso estreitar os laços dessa relação por meio de diálogos esclarecedores. Não
basta trocar críticas não construtivas; é importante uma participação na qual a família possa
intervir, formulando suas opiniões e efetuando ações que lhe façam perceber sua importância
dentro da escola.
A relação família e escola parece ser algo frágil. Indiretamente, a família critica a
atuação da escola nessa relação. Há casos em que a família acredita que a escola até dificulta
uma relação pautada na comunicação clara e transparente. A maioria das famílias entrevistadas
espera mais da escola. Quer informações mais precisas, que não deixem pairar dúvidas.
Há casos em que as famílias acreditam que não participam mais porque se
acomodaram com algumas situações.
89
Às vezes fico pensando se como mãe deveria sugerir algumas coisas à escola para
que os pais participassem mais. Mas depois penso que não, pois podem achar que
quero me intrometer no trabalho deles. Minha filha é boa aluna, nunca me deu
trabalho por isso e sinto que me acomodei porque a escola não me chama. Acho que
deveria ir mais à escola e apontar o que me deixa insatisfeita. (Família 5).
Algumas famílias acreditam que o acompanhamento só é importante se o estudante
apresenta problemas com indisciplina ou aprendizagem. Nesses casos, a escola manda
comunicados para que os pais compareçam à instituição. Se o estudante tem bom desempenho
e a escola não reclama, não há por que se preocupar.
Entende-se que a participação da família na vida escolar pode contribuir e muito para
o bom desempenho, desde que seja uma participação saudável, com compromisso, baseada no
diálogo.
Dessa forma, concluí-se que as famílias, conscientes de que a participação contribui
para o bom desempenho escolar dos estudantes, identificam fatores que desfavorecem essa
participação. Mesmo assim, demonstram uma percepção da necessidade de participarem mais,
acompanhando a vida escolar, certas de que não é nada fácil desempenhar os papéis sociais
que competem à família, em uma sociedade em constante transformação.
Os relatos aqui apresentados são contribuições para futuras discussões relacionadas à
relação família e escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As famílias participantes da pesquisa são aqui representadas por um adulto
responsável (nesse caso, por mães) e apresentam diferentes formas de organização. As
características das mesmas variam entre famílias chefiadas por mulheres, com duas, três
pessoas ou numerosas, outras do tipo tradicional nuclear e ainda a família estendida, em que
seu núcleo se encontra acrescido de agregados tais como filhos de relacionamentos anteriores,
avós, tios.
Em poucos casos foram encontradas famílias em que um dos adultos não tivesse
atividade remunerada. As mulheres são as que mais acumulam responsabilidades,
principalmente em relação ao acompanhamento escolar. Assim, não é difícil entender o
porquê de termos obtido apenas relatos femininos. Entretanto, já há casos em que os homens
compartilham de tal responsabilidade, mas se negaram a participar.
Muitas famílias possuem escolaridade e apenas um dos participantes está cursando
agora o ensino fundamental, por não ter tido oportunidade quando criança. Um bom número
de participantes reside em casa própria e apresentam disponibilidade de participação na vida
escolar, quer seja nas reuniões escolares ou através do acompanhamento das atividades
escolares em casa.
Mensurando as perspectivas apresentadas pelas famílias no que se refere à relação
família-escola e à participação destas na vida escolar, encontraram-se indicações de que a
escolarização é vista como colaboradora de acesso ao mercado de trabalho ou meio de
conquistas para realizações pessoais. Acredita-se que somente por meio da escola se obtém
requisitos para a inserção no mercado de trabalho, assim, esperam que a escola ofereça ensino
de qualidade para melhor qualificar os estudantes.
Fica evidente que as famílias se preocupam com fatores como segurança, qualidade,
destacando que muitas destas se empenham em acompanhar os filhos para que estes tenham
bom desempenho escolar. Embora o fator tempo tenha aparecido em diversos momentos nas
91
entrevistas, percebemos que cada família procura se organizar de forma a atender as
solicitações da escola e realizam o acompanhamento de diversas maneiras, mas sempre o
adequando ao seu contexto.
É perceptível o envolvimento das famílias na vida escolar, fator que se evidencia no
discurso e relatos das ações diárias. Ainda que insatisfatória para a escola a forma como as
famílias desempenham seu papel social, é possível identificar que estas estão ativamente
participando na vida escolar dos filhos, quer seja comparecendo às reuniões escolares ou em
casa acompanhando-a por meio dos cadernos.
As famílias se mostraram ressentidas com o acolhimento que a escola lhes destina.
Nas falas deixam claro que muitas vezes evitam ir às escolas por não serem bem
recepcionadas ou ainda, por a escola não atender satisfatoriamente aos questionamentos
realizados, como o esclarecimento de eventuais dúvidas. Alegam ainda que a gestão escolar
não é transparente e aberta à sugestões. Apontam conhecimento em relação ao funcionamento
da escola e declaram insatisfação com acontecimentos como rotatividade de professores,
metodologia inadequada na execução de algumas atividades, falta de respeito às
especificidades de alguns alunos e necessidade de se estabelecer algumas regras.
Revelaram estar cientes de suas responsabilidades para o bom desempenho escolar dos
filhos e reconhecem que contribuir com a escola na educação dos mesmos é importante.
Ações como verificar cadernos, comparecer às reuniões de pais, auxiliar nas tarefas escolares,
cobrar resultados, buscar informações na escola, foram mencionadas pelos participantes, o
que indica que estes destinam importância à participação da família na vida escolar e se
empenham em estabelecer bom relacionamento entre família-escola.
Algumas considerações se fazem necessárias relacionadas às observações realizadas.
Os depoimentos nem sempre foram claros e coesos, havendo uma dicotomia nos discursos.
Muitas famílias parecem ter incorporado um discurso que pertence à escola e assim,
demonstraram incertezas em seus depoimentos.
Os estudos para a realização desta pesquisa possibilitaram observar que há certa
resistência da família em estabelecer papéis que competem a si e à escola. Parece haver certa
confusão em distinguir esses papéis. A escola espera da família coisas que esta muitas vezes
não pode oferecer, seja por falta de tempo, conhecimento ou ainda por ignorar que algumas
ações são de sua responsabilidade. A família, por sua vez, tende a esperar que a escola
solucione problemas que dificultam a boa relação familiar. Vê na escola a possibilidade de
mudança de vida.
92
Importante ressaltar que não há uma regra para estabelecimento de horários e locais
para a realização das tarefas. Essa organização fica mais a critério do próprio estudante,
exceto em um caso ou outro. A maioria das mães entrevistadas disse conversar com os filhos
sobre a escola, indagando o que aconteceu durante o período de aula e se houve algum
problema com colegas e professores. Essa é a forma que acham mais fácil de manterem
informadas sobre a vida escolar, além, é claro, do acompanhamento pelo caderno.
As maneiras de intervir quando surgem as dúvidas relacionadas às metodologias
utilizadas por professores, normalmente acontece por meio de bilhetes, já que ausentar-se do
trabalho nem sempre é possível. Quando não solucionado o problema, aproveitam a reunião
de pais ou a folga do trabalho para buscarem respostas.
Acreditam que deixar de participar ou não acompanhar a vida escolar pode trazer
graves consequências ao bom desempenho dos estudantes. Ressalta-se que as famílias fazem
esse acompanhamento de diferentes formas e nem sempre são consideradas ideais pela escola.
Por esse motivo, ressalta-se que o fator participação pode representar diferentes modos de
pensar e agir.
O que considerar como ideal de participação? Ao organizar-se para acompanhar as
tarefas escolares a família não está participando? A maioria dos docentes e gestores considera
que a família que participa é aquela que se faz presente na escola, quer seja em reuniões ou
espontaneamente em horários não combinados para se inteirar do desenvolvimento escolar
dos filhos. Entretanto, embora a família por motivos de ordem social muitas vezes não se faça
presente fisicamente na escola, ficou evidente nos discursos dela que a participação acontece
conforme suas possibilidades, ou seja, a participação não pode estar condicionada ao
deslocamento da família até a escola.
Analisando os depoimentos, percebe-se que, em relação à quantidade, há certa
dificuldade em expressar uma opinião exata, principalmente se considerarmos que as famílias
participam à medida que julgam necessário participar e acreditam ser suficiente o
acompanhamento que estão realizando. Se não comparecem às reuniões, fazem o
acompanhamento em casa. Como dizer, então, que não estão participando?
No que tange à qualidade dessa participação, não há intenção em fazer um julgamento
para não incorrer a erros desnecessários. Acredita-se que cada família, em suas
especificidades, tem procurado fazer uma participação de qualidade na vida escolar dos filhos.
Qualidade esta que está suscetível à análise do ponto de vista de quem observa a participação.
Questionadas sobre os motivos dessa condição, alegam que precisam trabalhar e sobra
pouco tempo para irem à escola e aquelas que atualmente são mais participativas, o fazem por
93
perceberem que a participação é muito importante para melhorar o desempenho escolar dos
filhos.Entretanto, o fator tempo aparece como motivo determinante em alguns casos. Embora
saibamos que o tempo é muito relativo em algumas situações, algumas famílias se pautam na
falta de tempo para justificar a participação pouco efetiva na vida escolar.
A insatisfação com a escola parece ser um dos fatores que comprometem a
participação. Ao se demonstrarem insatisfeitas, as famílias indiretamente justificam o
desinteresse em participarem mais ativamente das atividades oferecidas pela escola, aliado ao
fato de que muitas acreditam não verem resultados nas reuniões organizadas pela escola,
principalmente em relação aos horários.
Ressalta-se, que muitas famílias declararam não participar mais pela distância em que
se encontra a escola. As escolas estaduais inovaram no sistema de matrícula, que há algum
tempo é online. Entretanto, existe uma insatisfação muito grande das famílias com esse novo
sistema, pois já não podem escolher a escola em que seus filhos vão estudar e frequentemente
de serem encaminhados para escolas geograficamente distantes do bairro onde residem. As
famílias criticam o sistema por não lhes concederem o direito de optarem pela escola que
consideram melhor.
Não há intenção em achar culpados pelo sucesso ou insucesso nessa relação, pelo
contrário, objetiva-se contribuir para que família e escola tenham uma relação menos
tumultuada e que esta favoreça o processo de ensino-aprendizagem.
A pesquisa possibilitou compreender que as famílias, embora tenham participado
menos do que gostariam, estão se esforçando para que os poucos momentos de participação
façam diferença na vida dos filhos. A escola critica a pouca participação, talvez porque dê
prioridade à quantidade, enquanto que as famílias estão buscando desempenhar suas funções
priorizando a qualidade, seja ela para o bem-estar da vida em família ou para o sucesso no
trabalho.
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APÊNDICES
100
APÊNDICE A – Questionário geral.
1 Questionário de pesquisa geral
Meu nome é Geiliane, sou pesquisadora do Mestrado em Educação da UFGD
(Universidade Federal da Grande Dourados) e solicito sua colaboração no preenchimento
deste questionário. O mesmo é parte do Projeto de Pesquisa intitulado A PARTICIPAÇÃO
DA FAMÍLIA NO DESEMPENHO DE ESTUDANTES DE 11 A 14 ANOS E SUA
INFLUÊNCIA NA VIDA SOCIAL, CULTURAL E ESCOLAR, a título de elaboração da
dissertação do Mestrado em Educação da UFGD. Seu principal objetivo é analisar como se dá
a participação da família na vida escolar e sua influência no desempenho dos filhos, para com
isso buscar estratégias que contribuam com possíveis mudanças. As informações serão
utilizadas na pesquisa e não haverá identificação individual daqueles que responderem a esse
questionário.
1- Qual a renda média mensal familiar em salários mínimos:
( ) até 1 ( ) 2 a 3 ( ) 4 a 5 ( ) 6 a 8 ( ) 9 ou mais
Bairro em que reside: _________________________________________________
2- Como considera a participação dos adultos da família na vida escolar das crianças,
adolescentes e jovens?
( ) não tem na família, criança, adolescente ou jovem que estuda
( ) não participa
( ) participa muito pouco
( ) participa razoavelmente
( ) participa muito
( ) participa quase sempre
3- Como considera o desempenho/rendimento escolar das crianças, adolescentes e jovens
da família?
( ) todos apresentam desempenho insatisfatório
( ) parte apresenta desempenho insatisfatório e parte desempenho mediano
( ) parte apresenta desempenho insatisfatório e parte bom desempenho
( ) todos apresentam desempenho mediano
( ) parte apresenta desempenho mediano e parte bom desempenho
( ) todos apresentam bom desempenho
10
1
Complete com as informações sobre as pessoas da família
Pessoa Idade Sexo Escolaridade Profissão Trabalha fora
1 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
2 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
3 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
4 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
5 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
6 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
7 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
8 - ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Faculdade ( ) Sim ( ) Não
Pessoa Estuda Série Escola Turno
1 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
2 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
3 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
4 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
5 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
6 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
7 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
8 - ( ) Sim ( ) Não ( ) 1-5 ano ( ) 6-9 ano ( ) EM ( ) Univ. ( ) Pública ( ) Particular ( ) M ( ) T ( ) N
102
APÊNDICE B – Questionário intermediário.
2 Questionário de pesquisa intermediário
Esse questionário é continuação da Pesquisa intitulada: “A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA
NO DESEMPENHO DE ESTUDANTES E SUA INFLUÊNCIA NA VIDA SOCIAL,
CULTURAL E ESCOLAR”, da qual você participou respondendo ao questionário geral.
Agora, alguns participantes da etapa anterior foram selecionados para darem continuidade à
pesquisa. Lembrando que, os dados serão utilizados apenas na pesquisa e trabalhos resultantes
da mesma, e seu nome será mantido em sigilo.
Solicito por gentileza, que responda as questões com sinceridade, pois os dados coletados
serão de suma importância para o sucesso desta pesquisa.
1- Escolha a opção que retrata a participação da família na vida escolar da(s)
criança(s).
( ) Nunca participou e atualmente não participa
( ) Participava mais e hoje participa menos
( ) Participava menos e hoje participa mais
( ) Participava antes e hoje não participa
( ) Não participava antes e hoje participa
( ) Sempre participou.
2- Marque o principal adulto responsável por acompanhar a vida escolar do (s)
estudante(s) na família.
( ) pai ( ) mãe ( ) avô ( ) avó ( ) tio
( ) tia ( ) padrasto ( ) madrasta ( ) irmão (ã) ( ) outro
3- Como a família participa da vida escolar dos estudantes da casa?
( ) Em casa, acompanhando/ajudando nas tarefas escolares.
( ) Comunicando-se com a escola e professores por meio de recados
( ) Comparecendo às reuniões escolares.
( ) Participando da APM ou Conselho Escolar.
Outros _______________________
103
4- Com que frequência a família acompanha/ajuda nas tarefas escolares dos estudantes
( ) Nunca
( ) Raramente
( ) Pouco
( ) Bastante
( ) Quase sempre
5- Com que frequência a família mantém contato com a escola por telefone, e-mail,
caderno de recados?
( ) Quase nunca
( ) De vez em quando
( ) Somente quando solicitado
( ) Bastante
6- Com que frequência a família visita a escola?
( ) Quase nunca
( ) Somente quando chamando
( ) Sempre que necessário e de forma voluntária
7- Em relação à participação da família nas reuniões escolares:
( ) Nunca vai
( ) Vai raramente (de vez em quando)
( ) Vai à maioria
( ) Vai a todas
8- Marque os motivos/razões que levam a família a não participar com mais
frequência?
( ) Não tem tempo
( ) Não vê necessidade
( ) Não acha importante
( ) Acha que não é papel da família
( ) Não vê resultados
( ) Não se sente bem participando
( ) Não está preparado para participar
104
( ) Não é acolhido satisfatoriamente na escola
Outros ___________________________________
9- Quais os fatores que você considera que favoreceria/permitiriam que a família
participasse da vida escolar dos estudantes?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
105
APÊNDICE C – Questionário específico.
3 Questionário de pesquisa específico
1- Quais são as principais dificuldades encontradas em estabelecer uma relação entre a
família e a escola?
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
2- Quanto e como a família é importante ao desempenho escolar dos estudantes?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3- Como considera a participação da sua família com a escola do(s) estudante(s)?
Justifique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4- Descreva como a família auxilia nas atividades escolares.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5- Em quais situações a família é chamada na escola? É possível comparecer sempre?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6- Como seria a relação ideal entre família e escola?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
106
APÊNDICE D - Roteiro elaborado de entrevista.
1- Qual a importância dos estudos na vida de uma pessoa?
2- Quais foram os critérios adotados pela família para escolha da escola?
3- A família conhece os professores, diretor e coordenadores da escola?
4- Qual a opinião da família sobre a escola?
5- Como avalia o trabalho pedagógico da escola?
6- Já houve algum problema pedagógico que a família necessitou intervir? Qual foi a
solução?
7- Quando surgem dúvidas sobre a metodologia adotada pela escola, o que a família faz?
8- Como a família participa da escola?
9- Qual pessoa da família é responsável por acompanhar as atividades escolares? Por
quê?
10- Como é feito o acompanhamento da vida escolar?
11- A família estabelece tempo para estudo e horário para realização das lições?
12- Quando o estudante tem trabalhos a fazer, qual é a organização da família?
13- A família conversa com o estudante sobre a escola?
14- Família e escola têm seus papéis na sociedade. Qual é o papel da escola na vida
escolar e na relação com a família?
15- Qual é o papel da família na vida escolar e na relação com a escola?
16- O que seria possível dizer sobre a relação da família com a escola?
17- Quando a família vai à escola, como é recebida?
18- A família acredita que a escola está desempenhando bem o seu papel?
19- Enquanto família, quais as dificuldades encontradas para desempenhar o papel social
que lhes compete?
20- As formas que a escola utiliza para informar a família sobre o desempenho escolar do
estudante são satisfatórias?
21- O que a escola poderia fazer para que a família participasse mais?
22- Se a família deixar de participar da vida escolar, o que pode acontecer?
107
APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento.
5. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado (a) e/ou participar na
pesquisa de campo referente ao projeto/pesquisa intitulado (a) A INFLUÊNCIA DA
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO DESEMPENHO ESCOLAR DE ESTUDANTES
DE 11 A 14 ANOS desenvolvida (o) por GEILIANE APARECIDA SALLES TEIXEIRA
a quem poderei contatar / consultar a qualquer momento que julgar necessário pelos telefones
(67) 9958-0765/ 9288-0598 ou e-mail geilianesalles@yahoo.com.br e orientada pelo Prof. Dr.
REINALDO DOS SANTOS.
Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo
financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da
pesquisa. Fui informado (a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas
gerais é Identificar as limitações e potencialidades da participação da família na vida
escolar dos filhos.
Fui também esclarecido (a) de que os usos das informações por mim oferecidas estão
submetidos às normas éticas destinadas à pesquisa.
Minha colaboração será de forma anônima, por meio de questionários, entrevistas
semiestruturadas, acompanhamento periódico, etc. a serem desenvolvidos a partir da
assinatura desta autorização.
O acesso e a análise dos dados coletados far-se-ão apenas pela pesquisadora e/ou seu
orientador.
Fui ainda informado (a) de que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem
sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos.
Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP).
Naviraí - MS, ____ de _________________ de 2012.
Assinatura do (a) participante: __________________________
Assinatura da pesquisadora: ____________________________
Assinatura do (a) testemunha: __________________________
108
APÊNDICE F – Dados de entrevistas com as famílias.3
Família 1: Entrevista realizada em 10/12/2012, com duração de 47min14seg. Marido (47
anos) e esposa (43 anos) legalmente casados em primeira união com um filho (11anos) de
ambos.
Família 2: Entrevista realizada em 12/12/2012, com duração de 35min08seg. Marido (38
anos) e esposa (32 anos) em união estável; são três filhos dessa união (15,13 e 10 anos de
idade); além do casal e dos filhos a avó materna (62 anos) e o irmão da esposa (22 anos),
residem com a família.
Família 3: Entrevista realizada em 8/1/2013, com duração de 52min 12seg. Marido (45 anos)
e esposa (38 anos) em primeira união estável; um casal de filhos (14 e 11anos).
Família 4: Entrevista realizada em 21/1/2013, com duração de 38min 01seg. Marido (32 anos)
e esposa (29 anos). A mulher em segundo casamento; um filho (11 anos) do primeiro
casamento e três do atual (8, 6 e 3 anos).
Família 5: Entrevista realizada em 22/1/2013, com duração de 45min 22seg. Mulher (35 anos)
divorciada; uma filha (15 anos) adolescente do primeiro casamento.
Família 6: Entrevista realizada em 25/1/2013, com duração de 40min 52seg. Marido (60 anos)
e mulher (52 anos) ambos em segundo casamento; os dois viúvos com filhos do casamento
anterior; a filha (9 anos) da mulher reside com o casal, e é fruto de um relacionamento entre o
primeiro e o segundo casamento.
Família 7: Entrevista realizada em 28/1/2013, com duração de 28min 19seg. Mulher (37 anos)
nunca casou; tem um filho (10 anos) de um relacionamento anterior.
3Além desses dados principais das entrevistas com as famílias nas páginas 72 a 75 é possível encontrar dados
mais completos sobre as mesmas.
109
Família 8: Entrevista realizada em 29/1/2013, com duração de 38min 27seg. Marido (34 anos)
em primeiro casamento, mulher (36 anos) em segundo casamento; mulher com filhos (16
anos) primeiro casamento (13 e 10 anos de idade) do atual.
Família 9: Entrevista realizada em 30/1/2013, com duração de 44min 30seg. Marido (29 anos)
e esposa (31 anos) ambos em primeiro casamento; dois filhos da união (11 e 9 anos).
Família 10: Entrevista realizada em 30/1/2013, com duração de 39min 18seg. Marido (36
anos) e esposa (31anos) em primeira união estável; dois filhos da união (11 e 5 anos de
idade).
Família 11: Entrevista realizada em 2/2/2013, com duração de 57min 10seg. Mulher (37 anos)
não é casada; três filhos (22, 14 e 12 anos de idade), de pais diferentes com os quais a mãe
não foi casada; residem junto com a avó (63 anos).
Família 12: Entrevista realizada em 3/2/2013, com duração de 24min 09seg. Mulher
divorciada (37 anos); um filho (12 anos).
Família 13: Entrevista realizada em 5/2/2013, com duração de 36min 23seg. Mulher (34 anos)
separada; tem cinco filhos (15, 13, 9, 6 e 2 anos de idade), de cinco pais e relacionamentos
diferentes.
Família 14: Entrevista realizada em 10/2/2013, com duração de 39min 07seg. Marido (33
anos) e mulher (28 anos) em primeira união; mulher tem um filho (9 anos) de um
relacionamento anterior e está grávida do relacionamento atual.
Família 15: Entrevista realizada em 11/2/2013, com duração de 20min 43seg. Mulher (40
anos) divorciada; filho (14 anos) do casamento.
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