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https://www.youtube.com/watch?v=qAS-StDRAgk&feature=youtu.be
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Passageiros
Solitários
Lucas Takahaschi
O trabalho foi realizado sobre
uma visão de mundo pessoal,
baseado em uma vivencia
condicionada a transitoriedade.
Sendo essa transitoriedade uma
característica da nossa
sociedade, penso sobre a
utilização desse espaço de
passagem como possível
momento de relações e trocas..
Assumo o papel de passageiro, transeunte que é
pressionado pela estrutura social, este é embutido
de convenções sociais e obrigações contraditórias,
refém do que seria o “cotidiano” e caracterizado
pela fadiga. Em espaços públicos, ou nos
transportes que somos contabilizados e
apresentados como estatísticas, exerço meu papel
de cidadão registrando a situação da falsa
comodidade, compreendendo que o proletariado é
condicionado à incapacidade de transformação
social. Pois as estruturas regentes têm a
segregação social, o cansaço e a falta do registro
da memória, sobretudo das classes sociais mais
baixas, como características de uma sociedade de
consumo desmedido.
Faço anotações sobre
esse cansaço
do cotidiano maçante e
infinito, no intuito
de desenvolver ações que
contribuam com o olhar e
espectador sobre sua
posição na sociedade.
Penso que a arte
possibilita essa abertura
para uma reflexão e
interpretação mais
ampliada sobre si.
“É com a imagem de si mesmo que ele se acha confrontado em
definitivo, mas uma estranhíssima imagem, na verdade. O único
rosto que se esboça, a única voz que toma corpo, no dialogo
silencioso que ele prossegue com a paisagem-texto que dirige a
ele como aos outros, são os seus – rosto e voz de uma solidão
ainda mais desconcertante porque evoca milhões de outras.O
passageiro dos não-lugares reencontra sua identidade no
controle da alfândega, no pedágio ou na caixa-registradora.
Esperando obedece ao mesmo código que os outros, registra as
mesmas mensagens, responde as mesmas solicitações. O
espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem
relação, mas sim solidão e similitude” Marc Auge.
Crítica feita por
Julia Cazazzini Cunha.
A performance registrada no
metrô e apresentada na
instituição Belas do artista Lucas
Takahaschi ironiza a obra de arte
como objeto de fetiche e critica ao
mesmo tempo o transporte
público. Quando dentro do metro,
o artista, agora ambulante da
arte, torna a obra de arte algo
ingênuo, do mesmo valor
simbólico de um chiclete ou
chocolate, tipicamente vendidos
no metrô.
Com um histórico de obras que abordam o urbano, as
dificuldades do transporte público e o cotidiano de quem os
freqüenta, Lucas volta para suas origens e aos seus modelos
de trabalho para procurar um novo público alvo de seu
trabalho.
Assim como o artista Paulo Bruscky que se aproveita de figuras
cotidianas urbanas, como os homens sanduíches, para fazer a
sua performance “O que é arte, pra que serve? (1978), Lucas
encarna o ambulante e sem fazer um marketing pessoal,
oferece suas gravuras que acompanhavam apenas a simples
mensagem escrito a mão: “Essa gravura foi feita sobre pedra,
e o tema é você que utiliza e sofre nesse trem. Aceito o valor
que me oferecer apenas para difusão dessa arte.” De pessoa
em pessoa,Takahaschi passa distribuindo sua obra por um
vagão inteiro, depois as recolhendo e coletando o dinheiro
daqueles se interessaram. Recebendo diversas reações, o
processo se estende por 6 horas, resumidos em um vídeo de
30 minutos.
O preço simbólico de suas gravuras acabam as tornando
acessíveis e fugindo do usual mercado da arte, onde se exige
cada vez mais do artista estar vinculado a uma galeria ou um
merchan, para que estes estipulem os preços do mercado.
O coletivo Filé de Peixe desenvolve um projeto chamado
“Cm²Arte Contemporânea” do se discute quanto
vale um cm² de uma obra de artistas como Cildo Meireles ou
Rosangela Rennó. A partir de uma fórmula, o coletivo descobre
o preço de cada cm²e os vendendo por preços também
mais acessíveis.
A performance de Lucas também pode se
relacionar com o termo “Descatracalização da
vida” inventado pelo coletivo Contrafilé, no qual
eles dizem que a catraca serve como um
símbolo revelador de forças visíveis e invisíveis.
Portanto quando Lucas Takahaschi vende sua
obra no metrô, ele não só revela as catracas
visíveis (própria catraca física, vendendo
“ilegalmente” dentro do metrô), como também
as catracas invisíveis (fetichismo de mercado de
arte).
Mas além da crítica ao mercado e ao transporte
público, o artista deixa transparecer uma realidade
própria, uma realidade em que diariamente exige horas
de viagem para poder voltar pra casa ou ir pro
trabalho. Quando o Lucas se diz incorporar o
ambulante no metrô para vender seu trabalho, ele diz a
verdade. Como descreve o dicionário Michaelis (2009),
“O ambulante é aquilo que se move ou é capaz de ser
movido de um lugar ao outro”. Portanto ele nunca sai
desse personagem de ambulante, as viagens diárias e
as muitas horas gastas em suas conduções fazem
parte dele, tornando-se um viajante diário. Assim como
quando Paulo Nazareth passa a registrar sua andanças
e faz disso seu trabalho, o mesmo acontece com ele.
Muito de seu tempo
é depositado nessas
viagens, portanto nada
mais justo que fazer
desse tempo e espaço,
uma experiência
completa, não apenas
passageira. Uma
experiência que resulta
por ser dividida com
aqueles que freqüentam
o mesmo lugar
diariamente.
https://www.youtube.com/watch?v=qAS-
StDRAgk&feature=youtu.be
“O solitário passageiro que reflete a minha imagem, vislumbra
distante o silencio opressor da viagem que é marcada
pelas rugas.”
Lucas Takahaschi
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