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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – FAED

CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

ANDRÉ LUIZ MOREIRA DOS SANTOS

O ESPAÇO GEOGRÁFICO

FLORIANÓPOLIS – SC

2006

ANDRÉ LUIZ MOREIRA DOS SANTOS

O ESPAÇO GEOGRÁFICO Trabalho de Conclusão de Estágio, apresentado ao curso de Licenciatura em Geografia, do Centro de Ciências da Educação – FAED. Coordenadora Geral de Estágio: Profª Nadir Azevedo Orientador: Prof. Dr. Márcio Ricardo Teixeira Moreira

FLORIANÓPOLIS – SC 2006

RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Estágio foi realizado na maior escola pública da América Latina, Instituto Estadual de Educação, no centro da capital do Estado de Santa Catarina. Objetivou abordar o assunto Espaço Geográfico junto à turma 355 do curso de Magistério desta instituição. Através de recursos pedagógicos, buscou-se trabalhar este tema de forma prazerosa para os educandos, com a execução da música “Parabolicamará” de Gilberto Gil, juntamente com exposições de transparências, exercícios de fixação e discussões/debates em sala. Obteve-se um resultado além do esperado, pois os alunos gostaram da forma como foi trabalhado o assunto, bem como o modo de explicá-lo, transmiti-lo para os educandos, instigando nos mesmo o senso crítico e transformando a aprendizagem mais significativa e importante para esta turma. PALAVRAS-CHAVE: Espaço Geográfico. Meio ambiente. Homem. Aprendizagem.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................... 4

1 TRAJETÓRIA DE ESTÁGIO ................................................... 6

1.1 Trabalhos Desenvolvidos ...................................................................... 6 1.2 Planos de Aula ...................................................................................... 14

2 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO ESTÁGIO................................ 17

2.1 Relatório de Observação ....................................................................... 17 2.2 Relatório das Aulas ............................................................................... 18

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 21

REFERÊNCIAS .......................................................................... 22

ANEXOS ..................................................................................... 23

ANEXO A – O CAPITALISMO E O ESPAÇO MUNDIAL .......... 24

ANEXO B – REGIÕES ADMINISTRATIVAS E GEOECONÔMICAS DO BRASIL ..............................................

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ANEXO C – MAPA MÚNDI ........................................................ 26

ANEXO D – MÚSICA PARABOLICAMARÁ ............................. 27

ANEXO E – EXERCÍCIO SOBRE “O ESPAÇO GEOGRÁFICO” .........................................................................

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ANEXO F – O ESPAÇO GEOGRÁFICO ................................... 30

ANEXO G – PROJETO DE ESTÁGIO ....................................... 31

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INTRODUÇÃO O espaço geográfico, tal qual o conhecemos hoje, na visão de nossa cultura,

é um legado das gerações passadas, que já exerceram modificações sobre ele. Mas

antes de qualquer geração humana ter feito modificações no espaço, este também

não era como hoje vemos, mesmo nos rincões mais remotos e intocados.

Segundo Vigotsky citado por Rego (1995, p. 98): Em síntese, [...], o sujeito produtor de conhecimento [e transformações] não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real, nem o portador de verdades oriundas de um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto de estudo [espaço geográfico], reconstrói este mundo. O conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem.

O espaço geográfico mudou muitas vezes ao longo da história do homem, e

principalmente da Terra. E o problema que se tem, de uma crise neste espaço, tão

discutido por autores e especialistas da área, sabe-se que não é um problema novo.

Outras crises, por razões naturais, já ocorreram em nosso planeta, mas esta do

“nosso” espaço geográfico é decorrente da intervenção desenfreada do próprio

homem.

Considerando a dinâmica do espaço geográfico, o homem enquanto

educando e cidadão poderá buscar sua inserção no tema através das diferentes

escalas da realidade, local, regional, nacional ou mundial. Necessário se faz a

compreensão do espaço construído/produzido pelo homem como um resultado de

um jogo de forças e de poder entre os homens, e destes com a natureza. É preciso

conhecer as formas como se associam nos diversos lugares, os fenômenos físicos e

humanos em si e entre si, e conseguir explicar as paisagens resultantes. É

fundamental um conhecimento cada vez mais preciso do espaço terrestre, das

possibilidades que o ambiente natural coloca e das condições que os homens tem

de construir o seu espaço.

Já dizia Freinet apud Elias (2000, p. 44) que, O essencial é permitir que [o educando], desde pequeno conheça não só o que está a sua volta, aquilo que lhe vem dos sentidos, mas também o que está distante, no passado ou no espaço; não apenas ensinar-lhe os elementos da história, geografia das ciências ou da matemática, mas permitir que conheça para enriquecer e exaltar seu poder sem limite e imaginação (adaptação dos autores).

Neste sentido e num esforço para compreender a posição em que o homem

encontra-se diante do espaço geográfico, aliando a ciência geográfica e a educação,

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empreendeu-se neste estágio, o objetivo de se estudar a visão dos educandos

quanto as suas percepções a cerca do espaço geográfico em que estão inseridos a

partir de uma releitura de uma música de Gilberto Gil. Educandos estes pertencentes

à terceira série do Magistério, do Instituto Estadual de Educação – IEE, localizado na

capital do Estado de Santa Catarina.

Para tanto, utilizou-se o ambiente de sala de aula para propor uma reflexão

pelos educandos baseada na música “Parabolicamará” de Gilberto Gil. Em que se

trabalhou o tema Espaço Geográfico, a partir da música, dinâmicas de grupo e

debate sobre o tema. Findando com avaliações constantes em sala de aula sobre o

conteúdo proposto.

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1 TRAJETÓRIA DO ESTÁGIO 1.1 Trabalhos Desenvolvidos INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO FLORIANÓPOLIS – SANTA CATARINA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA PROFº: Ana Paula dos Santos

O Surgimento da Geografia

Ao longo dos tempos, a Geografia vem sendo utilizada pelas pessoas, desde

aquelas que viveram nos períodos mais remotos da nossa história até as que vivem

nos dias atuais, embora a maioria delas nunca tenha se dado conta disso.

O termo Geografia é bastante antigo. Os primeiros povos a fazerem registros

sistemáticos acerca dessa ciência foram os gregos, graças a sua intensa atividade

comercial, realizada ao longo do mar Mediterrâneo, o que lhes permitiu conhecer

povos de diferentes lugares. Ao mesmo tempo, essas viagens exigiam

conhecimentos cada vez mais apurados sobre a Terra, pois era preciso transitar com

maior segurança pelos locais por onde se aventuravam conhecer.

A origem da palavra Geografia está relacionada, portanto, com os gregos, que

criaram: Geo = terra; grafia = escrita, descrição. Ressaltamos, porém, que esses

conhecimentos iniciais pouco têm a ver com a Geografia que é considerada

atualmente, embora “os trabalhos de pensadores e escritores gregos, relativos à

forma e dimensão da Terra, aos sistemas de montanhas, ao tipo de clima e à

relação entre o homem e meio constituíram importantes subsídios para o

conhecimento geográfico que se desenvolveria bem mais tarde” (KOZEL, 1996).

Essas primeiras informações se encontravam dispersas em diversas obras e,

até o final do século XVIII, correspondiam a relatos de viagem, relatórios estatísticos,

estudos históricos, filosóficos, compêndios de curiosidades sobre lugares exóticos e

outros documentos de diferentes tipos, muitas vezes confusos, imprecisos e envoltos

em crendices e lendas.

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A expansão da atividade comercial e a difusão da fé religiosa entre os povos,

a partir do século XI, estimulavam o espírito aventureiro dos italianos, portugueses,

espanhóis e árabes, que visavam a atingir lugares cada vez mais distantes. A

sistematização dos conhecimentos, porém, apresentava um caráter meramente

quantitativo e descritivo a respeito das impressões das viagens, além das suas

limitações técnicas e das influências da igreja, que não lhes possibilitava avançar

muito.

Foi somente durante o processo de constituição do capitalismo que esses

conhecimentos geográficos foram sendo organizados de forma precisa e, no início

do século XIX, o trato com as questões relativas à Geografia já apresentavam um

caráter de cunho científico. Era necessário conhecer, por exemplo, a extensão real

do planeta, a dimensão e a real forma dos continentes para obter uma idéia do

conjunto terrestre. Nessa época, algumas terras ainda não haviam sido visitadas,

mas já havia consciência dos contornos gerais da superfície das terras existentes.

Por outro lado, a apropriação de um determinado território exigia o conhecimento

dos elementos locais que a Geografia poderia lhes oferecer.

Era necessário, ainda, representar os fenômenos observados, além de

localizar os lugares que iam sendo conhecidos, e isso só foi possível com o

aperfeiçoamento das técnicas cartográficas. A difusão do comércio, pelos mais

longínquos recantos na Terra, exigiu mapas e cartas cada vez mais precisos. O

cálculo das rotas, a orientação das correntes e dos ventos, a localização correta dos

pontos foram fundamentais para o sucesso das viagens marítimas.

Embora o emprego dos conhecimentos geográficos tenha sofrido significativo

avanço, a sua sistematização continuava de forma descritiva e fragmentada, com

enfoque na enumeração de dados e observação dos elementos físicos ou naturais,

sem dar a devida importância às questões sociais e, portanto, voltadas aos

interesses do capitalismo, o qual necessitava dessas informações para se expandir.

O objeto de estudo da Geografia era ainda indefinido para muitos autores e,

conforme destaca Moraes1 (1999), ainda hoje trata-se, para muitos, do estudo da

superfície terrestre.

1 MORAES, A. C. R. de. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1999.

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Essa concepção de Geografia se perpetuou pós muitas décadas no meio

geográfico mundial e brasileiro e, infelizmente, ainda persiste entre alguns

geógrafos.

Em sua trajetória, muitos foram os estudos e as formas de abordar os

conhecimentos geográficos que procuraram explicar a questão do objeto de estudo

da geografia.

INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO FLORIANÓPOLIS – SANTA CATARINA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA PROFº: Ana Paula dos Santos

A geografia tradicional

A tão conhecida Geografia tradicional possui, no positivismo, o seu

fundamento teórico-metodológico. É nos postulados dessa corrente teórica que o

pensamento geográfico tradicional ergue suas bases e continua alimentando os

discursos de alguns geógrafos e professores em sala de aula.

Essa Geografia apresenta uma característica extremamente exaustiva, na

medida em que se restringe a apresentar compêndios enumerativos, de forma

descritiva e catalogada. Essa forma de estudar quase nada contribui para a

compreensão do espaço e da forma como ele foi e está sendo (re) produzido e,

muito menos, ajuda a perceber qual é o papel ocupado pelo homem no processo de

sua organização.

Um aspecto importante a ser destacado diz respeito ao profundo naturalismo

impregnado nessa concepção: a consideração/visão do homem como um elemento

a mais na paisagem, como apenas um dado do lugar, como mais um fenômeno da

superfície terrestre. Essa perspectiva naturalizante busca explicar o relacionamento

entre o homem e a natureza, sem se preocupar com a relação entre os homens,

ficando as relações sociais fora do seu âmbito de estudo.

Uma outra idéia presente em suas formulações, e que indiretamente se

vincula a esse fundamento, é a de que a Geografia é uma ciência de síntese. Nesse

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caso, a Geografia seria uma culminância de todo o conhecimento científico, que

relacionaria e ordenaria os conhecimentos produzidos por todas as demais ciências.

Assim, tudo aquilo que acontece na superfície da Terá seria passível de integrar o

estudo da Geografia. Essa forma de conceber tal ciência representa uma maneira de

encobrir a vaguidade e a indefinição do objeto defendido por essa concepção

positivista.

Também é conveniente ressaltar, nessa discussão, os dualismos presentes

no pensamento geográfico tradicional: Geografia Física x Geografia Humana;

Geografia Geral x Geografia Regional; Geografia Sintética x Geografia Tópica; e

Geografia Unitária x Geografias Especializadas. Nessas dualidades, ou se dá ênfase

aos fenômenos humanos, ou aos naturais; ou se trabalha com uma visão global do

planeta, ou se avança na busca da individualidade de um dado lugar; ou se analisa,

em nível superficial, a totalidade dos elementos presentes, ou se aprofunda o

estudo, apenas, de uma classe de elementos (Op. Cit., 1999).

O mais grave é que essa Geografia foi sendo incorporada ao trabalho de

muitos geógrafos, de maneira não crítica, cujas afirmações são tomadas como

verdadeiras e não podem ser questionadas. Tal atitude se justifica no receio de que

a crítica aos seus posicionamentos poderia ruir a “autoridade” da Geografia, além

de, principalmente, comprometer os projetos de quem domina e necessita das

informações coletadas por essa Geografia neutra, que não questiona, não critica e,

portanto, não transforma a realidade então posta. Dessa forma, essa Geografia

positivista e acrítica, que não contesta, exerce, antes de tudo, a função de legitimar

o poder soberano, a quem não interessa a reflexão, os questionamentos e as

críticas à realidade social.

As primeiras colocações, em se tratando de uma Geografia sistematizada,

são fruto da obra de dois autores prussianos ligados à aristocracia: Alexandre Von

Humbolt e Karl Ritter, considerados como os pais da Geografia.

A Alemanha foi o país que sediou, no século XIX, todo o eixo principal da

elaboração geográfica. Foi nesse país onde apareceram as primeiras cátedras

dedicadas a essa disciplina, bem como vieram de lá as primeiras teorias e as

primeiras propostas metodológicas. Enfim, foi lá que se formaram as primeiras

correntes desse pensamento.

Um outro representante da Geografia tradicional é Friedrich Ratzel. Seus

discípulos partiram de suas colocações para construir o que passou a se denominar

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“escola determinista” de Geografia, ou doutrina do “determinismo geográfico”. Os

autores dessa corrente orientaram seus estudos por máximas, como: “as condições

naturais determinam a História” ou “o homem é um produto do meio”, empobrecendo

muito as formulações de Ratzel, que falava em influências, não em fatores

determinantes.

Uma outra corrente que partiu das formulações de Ratzel foi a chamada

“escola ambientalista”. Essa corrente representa um determinismo atenuado, sem

visão absoluta. A natureza não é mais considerada como fator determinante, mas

como suporte de vida humana, ou seja, a concepção naturalista é mantida, mas sem

a causalidade mecanicista.

Outro importante representante da Geografia tradicional é Vidal de La Blache.

Na segunda metade do século XIX, o autor fundou a escola francesa de Geografia,

conseguindo deslocar para esse país o foco da discussão geográfica, até então

sediado na Alemanha, que tinha em Ratzel o seu principal responsável.

Apesar de ter imprimido um caráter mais humano à análise geográfica, La

Blache não rompeu totalmente com a visão naturalista ao defender a “necessária

neutralidade do discurso científico”, ou “a Geografia como uma ciência dos lugares,

não dos homens”. Essa proposta é uma forma de descomprometer o homem com a

prática social e dissimular o conteúdo ideológico de Vidal.

Muitos geógrafos, posteriores a Vidal de La Blache, foram influenciados pelas

suas formulações, resultando num farto número de discípulos que desenvolveram a

proposta lablachiana em toda sua potencialidade.

Enquanto que na Europa a sistematização da Geografia já havia alcançado

um certo desenvolvimento, na América, essa ciência começava a desenvolver

somente a partir de 1930, quando os Estados Unidos chegavam a ser um dos

centros mundiais da produção geográfica.

Richard Hartshorne, um renomado geógrafo americano, é, sem dúvida, quem

encontrou maior repercussão na Geografia americana. Sua proposta manteve a

essência da Geografia tradicional, ao propor uma Geografia unitária e sem um objeto

próprio de estudo, encarregada de abordar fenômenos variados e estudados por

outras ciências, mas esse geógrafo abriu a perspectiva de trabalhar com um número

muito elevado de elementos, o que acabou imprimindo uma versão mais moderna

aos estudos geográficos.

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Hartshorne encerrou, por um lado, as derradeiras tentativas de se postular

uma Geografia tradicional.

A renovação do pensamento geográfico

Veremos, nesta seção, que, graças às alterações nas bases econômicas e

sociais ocorridas no mundo, os caminhos trilhados pela Geografia começaram a

seguir novos rumos e alcançaram grande parte dos geógrafos, que passaram a

defender o seu rompimento com a Geografia tradicional. As certezas e verdades, até

então inquestionáveis, se desgastaram e geraram a busca de novas propostas que

conduzissem a uma liberdade maior de reflexão e ação. Essa nova postura

ascendeu o debate sobre o objeto, o método e o significado da Geografia

(MORAES, 1999)2.

Em meados da década de cinqüenta (1950), as manifestações de negação e

de rompimento com a Geografia tradicional já eram comuns nos meios geográficos e

se desenvolveu com maior intensidade nos anos seguintes. As razões que explicam

esse fato são encontradas nas alterações da base social que estrutura os

fundamentos da Geografia tradicional e que alcançavam maior vigor na década de

setenta (1970).

O desenvolvimento do capitalismo havia tornado a realidade mais complexa,

provocando, por exemplo, o surgimento das megalópoles como resultado de uma

urbanização que atingia níveis assustadores. O meio rural também sofria profundas

transformações, advindas da industrialização e mecanização da atividade agrícola.

O lugar, articulado e intricado numa rede de relações, já não se explicava em si

mesmo. Vivia-se o capitalismo das transnacionais, dos transportes e das

comunicações globais. Esses fatores, apenas para citar alguns, defasaram o

instrumental de pesquisa da Geografia, implicando numa crise em suas técnicas

tradicionais de análise.

Para atender às novas exigências, fazia-se criar novas possibilidades de

análise, pois a simples descrição e representação dos fenômenos terrestres já não

davam mais conta de apreender a complexidade da organização do espaço. Assim,

novas técnicas passaram a ser empregadas pela Geografia, como: sensoriamento

2 MORAES, A. C. R. de. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1999.

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remoto, as imagens de satélites, o computador, entre outros, bem como novos

métodos de análise e compreensão do espaço.

Como resultado dessas profundas alterações nas bases econômicas sociais,

o próprio fundamento filosófico sobre o qual se assentava o pensamento da

Geografia tradicional havia desmoronado. “Este havia sofrido críticas internas e

renovações, das quais a Geografia passou ao largo” (MORAES, 1999, p. 96). Agora,

era preciso mudar, pois os conhecimentos geográficos já não podiam estar

sustentados por essa concepção filosófica que já não atendia às necessidades do

momento.

Essas razões forneceram as bases formais para a crítica ao pensamento

geográfico tradicional e foram as condutoras do início de renovação do pensamento

geográfico.

Entretanto, se a insatisfação em relação às propostas tradicionais atingia a

maioria dos geógrafos, os níveis de críticas variavam bastante. Todos concordavam

com o afastamento do positivismo clássico, porém não existia uma unidade de

pensamento e havia uma grande controvérsia a respeito do que poderia substitui-lo.

As teorias científicas e os posicionamentos filosóficos que cada um começou a

seguir foram os mais antagônicos e variados. Nessa perspectiva, surgiram autores

diversos que, de acordo com seu nível de questionamento, foram imprimindo maior

enfoque àqueles pontos que melhor introduzissem sua proposta.

Observamos, assim, que o movimento de renovação geográfica foi

abrangendo um leque muito amplo e diversificado de concepções de mundo por

parte dos autores. O rompimento com a Geografia tradicional gerou, por um lado,

uma unidade de postura e, por outro, o aparecimento de novas e variadas

perspectivas metodológicas de análises do espaço.

Nesse contexto, desenvolve-se a Geografia Crítica, a qual defende objetivos e

princípios comuns, mas convive com propostas díspares. Isso, no entanto, não reduz

o conteúdo dessa área; ao contrário, enriquece as discussões e produções nesse

vasto e tão importante campo do conhecimento.

Assim, é nessa contradição, nesse conflito e confronto de idéias que os

conhecimentos vêm se construindo. Observamos que quando há unidade de

pensamentos, sem questionamentos, debates e discussões nascem poucas

propostas e, por isso mesmo, poucos acenam para a transformação da realidade

atual. O mundo não é harmônico, nem tampouco as relações sociais o são. Nessa

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perspectiva, a apreensão do mundo, enquanto desigual e conflituosa, só pode

acontecer se questionada em diferentes enfoques de análise.

Surgiram, portanto, aqueles que se restringem a fazer uma crítica à influência

da análise tradicional, sem, contudo, demonstrar a preocupação com seus

fundamentos e com a sua base social e tampouco abordam os seus compromissos

sociais (MORAES, 1999).

Por outro lado, o movimento de renovação do pensamento geográfico conta

ainda com aqueles autores que defendem uma postura mais crítica frente à

Geografia existente, à realidade, à “ordem” constituída. Desse postulado, advém a

Geografia Crítica, que rompe com a Geografia tradicional. Os autores filiados a essa

corrente se posicionam por uma transformação da realidade social, pretendendo

utilizar seus conhecimentos como uma arma no combate ao poder hegemônico do

Estado e às injustiças sociais, pensando na Geografia como um instrumento de

libertação do homem.

Essa Geografia Crítica defende objetivos e princípios comuns, mas também

convive com propostas díspares. Isso, no entanto, não reduz o conteúdo dessa área;

ao contrário, enriquece as discussões e produções nesse vasto e tão importante

campo do conhecimento.

Yves Lacoste foi o autor que formulou a crítica mais contundente e extremista

à Geografia tradicional, ao escrever: A Geografia serve antes de tudo para fazer a

guerra. Segundo esse autor, o saber geográfico manifesta-se em dois planos: a

“Geografia dos Estados-Maiores” e a “Geografia dos Professores” (LACOST apud

MORAES, 1999). Para ele, esta primeira Geografia sempre esteve ligada à prática

do poder, uma vez que pode fornecer informações que facilitem as estratégias de

domínio num dado território. Por outro lado, segundo esse autor, a “Geografia dos

Professores, se aqui for considerada a tradicional, tem dupla função: primeiro,

mascarar a existência da 'Geografia dos Estados-Maiores', apresentando o saber

geográfico como algo neutro e inútil, tornando-o desinteressante para a maioria dos

alunos: segundo, levantar, de uma forma camuflada, dados para a 'Geografia dos

Estados-Maiores'”. Dessa forma, os professores fornecem informações precisas

sobre os mais variados lugares da Terra, sem despertar suspeitas, pois se trataria

de um conhecimento apolítico.

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Na realidade, a Geografia Crítica abre um leque bastante extenso de

defensores, com posturas diversas, mas com o mesmo propósito: o de colocar a

Geografia no combate e busca por melhores condições sociais.

Essa nova proposta tem, entre seus maiores representantes, o renomado

geógrafo Milton Santos. Em suas obras, esse autor afirma que o processo de

produção espacial deve ser o objeto das análises geográficas, reconhecido em cada

manifestação concreta, na perspectiva de uma geografia mais atuante, a que

considera o espaço como um lugar de luta. Ressaltamos que a obra de Milton

Santos é uma das mais amplas e acabadas da Geografia Crítica.

Observamos que, muito embora as escolas e alguns livros didáticos

divulguem um discurso geográfico crítico e renovador, atualmente, ainda

presenciamos, na realidade escolar como um todo e na prática do professor,

especificamente, um ensino tradicional. Infelizmente, a realidade confirma que esse

ensino, que quase nada contribui para a formação cidadã do estudante, ainda

persiste em muitas de nossas escolas.

1.2 Planos de Aula

PLANO DE AULA 13

TEMA: A formação do espaço mundial

Objetivos:

• Refletir sobre o Capitalismo e a formação do espaço mundial (ANEXO A);

• Relacionar alguns fatos importantes e suas conseqüências na percepção do

espaço mundial – avanços tecnológicos;

• Refletir sobre a globalização e sua importância no espaço mundial.

Cronograma: 1 (uma) aula ( + 45 min.) em 22/09/2006.

3 Plano de Aula baseado no livro: SENE, E. de; MOREIRA, J. C. Trilhas da geografia. São Paulo: Scipione, [19--].

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Conteúdo:

• Espaço;

• Fatos históricos;

• Mapas brasileiro e europeu;

• Invenções;

• Avanço tecnológico;

• Progresso científico;

• Globalização;

• Noções de cartografia/mapa.

Procedimentos:

• Aula interativa;

• Apresentação de transparências;

• Exposição de mapas (ANEXOS B e C);

• Dinâmica de grupo;

• Execução da música “Parabolicamará” (ANEXO D) de Gilberto Gil para uma

reflexão sobre o “encurtamento” do mundo.

Recursos:

• Transparências;

• Retro-projetor;

• Gravador de CD;

• Quadro-negro;

• Mapas (brasileiro e europeu);

• Atlas.

PLANO DE AULA 2

TEMA: Plano de Aula

Objetivos: Propiciar aos alunos uma uniformidade de seus planos de aula para

posterior aproveitamento na atividade acadêmica.

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Cronograma: 1(uma) aula de 40 minutos.

Conteúdo: Primeiramente uma discussão em grupo.

Procedimentos:

• Exposição de um plano de aula no quadro-negro;

• Exercício prático: “Faça um plano de aula que tenha como objetivo a

espacialização das festas em Santa Catarina durante o mês de Outubro”.

Recursos:

• Quadro-negro;

• Texto distribuído pelo professor.

Avaliação: A avaliação será individual observando a produção da atividade (ANEXO

E).

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2 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO ESTÁGIO 2.1 Relatório de Observação

Primeira aula (13/06/2006 – Sexta-feira): Sala 20, turma 355

Cheguei ao Instituo Estadual de Educação (IEE) com trinta minutos de

antecedência para me ambientar e ver um pouco da estrutura da escola, que é

impressionante. Salas grandes, bem arejadas, embora um pouco negligenciadas em

sua manutenção.

Tomei um suco e fiquei observando a movimentação dos estudantes. Muita

algazarra e brincadeira. Faltando dez minutos para o início da aula fui para a sala.

Na hora marcada, 19 horas e 50 minutos, já me encontrava com a professora

Ana Paula Santos que nos apresentou a turma e informou o propósito da nossa

presença.

Sentamos no fundo da sala. Peguei meu caderno e comecei a fazer algumas

anotações. Algumas alunas perguntaram-se se nós daríamos prova e, eu respondi

que sim. Espanto geral!

Bem, a aula começou e a professora passou uma folha de papel para a

presença, pois se fosse fazer a chamada oral perderia muito tempo, já que a aula

tem apenas quarenta minutos.

Noto que a sala é composta em sua maioria por estudantes do sexo feminino

e apenas um rapaz.

Por ser um dia de aula após o feriado, a presença dos alunos é parcial,

apenas 21 alunos. Todos, ou quase todos já dispunham de um texto sobre a história

da Geografia que a professora havia deixado no xerox da escola. A leitura é feita em

partes e a professora ao final de um parágrafo faz alguns comentários e perguntas

aos alunos. Tentando estabelecer um diálogo.

Percebo o interesse de alguns alunos que fazem perguntas e comentários.

Porém, a grande maioria está com a atenção dispersa. Neste momento penso como

é dura a profissão, pois manter a atenção de cerca de vinte alunos não é fácil. Isto

que é um grupo que faz o terceiro ano do Magistério imagina no ensino regular!!!

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Na metade do texto o tempo se esgota e bate o sinal. A professora encerra as

atividades e dá uma tarefa para a aula seguinte. Ela arruma suas coisas e sai

apressadamente para outra turma (sexta aula do dia).

Pontos importantes:

1 A qualidade do texto sobre a evolução da Geografia. Lembrei-me das aulas de

Evolução do Pensamento Geográfico (Profª Paula) e das aulas das professoras

Graciana e Isa com certa nostalgia;

2 A disciplina em sala de aula surpreendeu-me bastante. Talvez por ser uma turma

bem heterogênia em relação à idade. Há meninas de dezoito anos e há

senhoras. Mas, a maioria deve estar na casa dos vinte seis anos, o que já devota

uma certa maturidade.

Segunda aula (30/06/2006 – Sexta-feira): Sala 20, turma 355

Como a professora participava de uma reunião do Conselho Escolar, esta

deixou uma tarefa no quadro negro para os alunos entregarem na aula seguinte.

A tarefa era a seguinte: Com base no ensino de Geografia que você recebeu

durante a sua vida escolar, disserte sobre a importância do ensino de Geografia

para as turmas do ensino fundamental (15 linhas).

“Talvez não importe muito que coisas amamos neste mundo. Mas devemos”.

Alguns alunos se debruçaram sobre a tarefa, porém cerca de dez alunos

foram embora. Por certo para fazer a tarefa em casa e começar a aproveitar o fim de

semana.

2.2 Relatório das Aulas

Primeira aula (22/09/2006 – Sexta-feira): Sala 20, turma 355

Apresentei-me e logo defini um trabalho que valeria como avaliação. Com o

intuito da aprendizagem do tema – Espaço Geográfico -, propus a utilização de uma

música para que a aula se tornasse mais agradável.

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Comecei fazendo uma pequena explanação/introdução e na seqüência a

exposição de uma transparência (ANEXO D). Logo em seguida pedia à turma que se

dividisse em grupos de duas a quatro pessoas.

Toquei a música “Parabolicamará” de Gilberto Gil, do CD MTV Unpluged.

Fiquei observando os aluno, alguns cantarolavam, já que a música é bastante

conhecida.

Ao final da execução da música distribui duas questões que abordavam o

tema. Algumas alunas pediram uma nova audição. Perguntei a turma e todos

concordaram. Novamente se fez o silêncio para a segunda audição.

Ao término pedi que os grupos respondessem as questões. Alguns grupos

responderam durante a aula, porém outros não conseguiram terminar. Sugeri que

me entregassem na aula seguinte.

Aula terminada (apenas quarenta minutos). A chamada foi feita através de

uma lista de presença.

Fato Curioso: Ao pedir para que a turma se dividisse em grupos, uma aluna

fitou-me com um olhar sem vergonha e disparou: “De quatro professor?!!”,

fingi que não entendi e respondi: “Sim, pode ser...”.

Segunda aula (29/09/2006 – Sexta-feira): Sala 20, turma 355

Começo a aula fazendo uma revisão da última aula. Tento estimular a turma

com perguntas e ao ver que muitas alunas participavam, estabeleceu-se uma

discussão sobre o tema. Ao final do debate recolhi o exercício da aula anterior dos

grupos que faltavam entregar. Logo em seguida projeto novas transparências

(ANEXOS F), para fixar a matéria.

Posteriormente, distribui um texto com conceitos de diversos autores sobre o

espaço geográfico (ANEXO A). Peço aos alunos a colaboração na leitura dos

conceitos e tento instigar uma discussão.

A turma colabora fazendo perguntas e debatendo entre si. Faltando dez

minutos para o término da aula dou uma tarefa/atividade. Os alunos deveriam fazer

um plano de aula sobre a espacialização das festas de outubro no Estado de Santa

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Catarina. Recomendo que tenham seriedade na elaboração da atividade, pois o

trabalho poderá ser aproveitado no ano seguinte quando eles próprios terão que

estagiar em uma escola (atividade própria do curso de Magistério).

Terceira aula (06/10/2006 – Sexta-feira): Sala 20, turma 355

Inicio a aula recolhendo os trabalhos/planos de aulas dos alunos. Verifico que

alguns se empenharam bastante na atividade, enquanto que outros não. Penso que

na minha classe na faculdade a mesma coisa acontecia.

Distribuo um exercício de fixação (ANEXO E) para que seja feito

individualmente. Alerto que a última questão fora tirada do concurso de vestibular da

Universidade Federal do Ceará e quem primeiro acertá-la, justificando a resposta

ganhará uma barra de chocolate. Alvoroço geral!

Porém, apenas uma aluna chegou perto da resposta correta com uma

justificativa adequada. Dei o chocolate assim mesmo!

Ao final pedi que quem quisesse se manifestar sobre as aulas, teria a minha

atenção; visando uma melhoria e aperfeiçoamento profissional. Algumas alunas

expuseram suas opiniões e eu fiquei bastante satisfeito com o que foi dito.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o trabalho concluído, muitos anseios sobre como seriam as aulas junto

aos alunos foram desaparecendo e surgiram novas perspectivas de trabalhos e

possíveis estudos futuros.

Diante dos resultados, pode-se afirmar que foram alcançados os objetivos,

podendo considerar que houve contribuição significativa para a formação e

aprendizado dos educandos envolvidos neste estágio. O estágio tramitou por meio

de uma aprendizagem significativa e bastante prazerosa para todos os participantes

(professore – estagiário e alunos).

Para tanto, quanto mais estímulo e motivação forem dados aos educandos,

mais oportunidades se criam no processo de interação com a natureza e sociedade,

produzindo uma educação efetiva para a vida, propiciando aos educandos

expressarem-se e serem ouvidos, trabalhando para contribuir de fato com a

construção da democracia e que sejam sujeitos capazes de questionar e transformar

a realidade continuamente.

Espera-se que as contribuições deste trabalho realizado no Instituto Estadual

de Educação – IEE, possibilite aos educandos, vivências mais criativas e

significativas durante a sua aprendizagem escolar e que, suas futuras interações

com o espaço geográfico sejam conscientes, produtivas e, principalmente que não

deixem que o ambiente seja agredido de forma predatória.

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REFERÊNCIAS: ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 8. ed. São Paulo: Loyola, 2002. CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas. [S.l.]: Bertrand Brasil, [19--]. ELIAS, M. D. C. De Emílio a Emilia: a trajetória da alfabetização. São Paulo: Scipione, 2000. LIBANEO, J. C. Adeus professor, adeus professora: novas exigências educacionais e profissão docente. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2002. LUCCI, L. E. A.; BRANCO, A. L.; MENDONÇA, C. Geografia geral. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004. REGO, C. T. Vigotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1997. HARTSHORNE, R. A natureza da geografia. [S.l.: s.n.], 1939.

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ANEXOS

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ANEXO A – O CAPITALISMO E O ESPAÇO MUNDIAL

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ANEXO B – REGIÕES ADMINISTRATIVAS E GEOECONÔMICAS DO BRASIL

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ANEXO C – MAPA MÚNDI

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ANEXO D - MÚSICA PARABOLICAMARÁ

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ANEXO E – EXERCÍCIO SOBRE “O ESPAÇO GEOGRÁFICO”

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ANEXO F – O ESPAÇO GEOGRÁFICO

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ANEXO G – PROJETO DE ESTÁGIO

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