muito prazer 26 fev 2012

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Coluna Muito Prazer do dia 26 de fevereiro de 2012

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degustaE S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 2 6 D E F E V E R E I R O D E 2 0 1 2

EDUARDO AVELAR

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MUITOprazer

Designer, Kláucia Badaróse entrega à gastronomiacom o mesmo prazere talento para a criação

RAFAEL MOTTA/TV ALTEROSA

De volta

ao futuroHoje convido você, leitor do

caderno Degusta, a uma reflexão quejá havia dividido com os leitores donosso Clube A: o futuro só existe apartir de alguma referência passada –o que você pensa a respeito? Ojoguinho de palavras, para mim,retrata a realidade em tudo nesta vida.E não poderia ser diferente em nossoassunto predileto: a gastronomia.

Antigamente, o homem comiaaquilo que estava ao alcance das mãos.Vieram as grandes viagens, como a deApicius, o Grego (ou Italiano, comoalguns afirmam), o primeiro viajantegastrônomo de que se tem notícia,que visitou a costa do Egito paraexperimentar os camarões de lá e

compará-los aos de sua terra.A ocupação moura na Península

Ibérica por 800 anos carregou ossabores e costumes alimentares daPérsia para todo o mundo a partir dasgrandes navegações portuguesas eespanholas. A viagem de Marco Polotrouxe novidades do Oriente, entreelas o macarrão “da Itália”.

As grandes conquistas,especialmente as viagens de Colombo,foram fundamentais pela descobertada batata (que salvou a Europa dafome), do tomate, do chocolate, dapimenta e de tantos outros produtosque mudaram os hábitos alimentaresdo planeta. Seguiram-se novas guerrase tantas outras conquistas, com os

LILIAN MONTEIRO

láucia Badaró faz parte da indústria criati-va. Exerce a formação em belas-artes no de-sign de acessórios da sua loja, Rose is Rose,uma das mais bacanas da capital. A criaçãoa alimenta e, se não está envolvida com odesenvolvimento de bijus deslumbrantes,está fazendo arte na cozinha. Mineira deBelo Horizonte, casada com o advogadoFrancisco e mãe de Francesca, de 6 anos, elanão tem palavra melhor para definir suapaixão pela culinária: “Prazer”. Não sabe aocerto de quem herdou tamanho gosto. Sa-be que as tias por parte do pai, Pedro Paulo,são “doceiras maravilhosas, o de laranja embarras douradas só de pensar dá água naboca”. A mãe, Adair, é “cozinheira de mãocheia e bordadeira com mão de fada”, o quetalvez explique suas predileções.

um ano, formou um grupo de oito amigas,mães das coleguinhas de Francesca, que sereúne em sua casa uma vez por mês parajantarestemáticos.Odecomidamineirafoioprimeiro,comdireitoatalherdeprata,me-saforradacomchitaeadornosemformadegalinha-d’angola:“Aentradafoiumcaldodefeijãocommicrobaconecouvefrita.Depois,num minitacho de cobre, servi guisado decogumelo com linguiça defumada e angumole com queijo canastra ralado em cima.A sobremesa foi doce de leite quente comsorvete de queijo e queijo canastra ralado.Fiz ainda uma madeleine de fubá paraacompanhar o café”. Nesses encontros, elapassa as receitas e, de maneira informal, dáaula: “O papo é ótimo. A maioria não queraprender, mas comer e ser feliz”.

Ao lado do marido, Kláucia adora viajare desbravar restaurantes: “Gostamos de co-mer fora e o Francisco, um enófilo, juntoudois prazeres. As viagens têm roteiro gas-tronômico e degustação de vinhos. Numadelas, fomos a 17 vinícolas no Chile”.

Seus pontos turísticos preferidos, ondequer que esteja, são os mercados e o super-mercados locais. Ela também é dona deuma literatura gastronômica vasta. Nas an-danças pelo mundo, teve um encontro sen-sacional: “Por acaso, esbarrei com uma co-nhecida em Nova York que me levou paraconhecer o chef francês Daniel Boulud, jáque trabalhava para ele. Foi um presentemaravilhoso. Ele é muito simpático, sim-ples e me convidou para conhecer a sua co-zinha. Se era fã, depois disso...” Por aqui,Kláucia, que não é de fazer propaganda, dizque precisa celebrar o Restaurante Ephigê-

nia, na Rua Grão Pará, sob o co-mando do chef Robson Viana:“É notável. Preço justo e o me-lhor da cidade pelo ambiente,decoração, alegria e comida”.

AFETIVA Kláucia tem no mari-do um apreciador constantedas suas receitas, mas espera odia em que a xodó, Francesca,decida provar de tudo porque,por enquanto, “ela não comenada”. O ato de cozinhar é leva-do a sério por Kláucia, que tem

no apartamento um fogão industrial: “Jáestou no segundo, daquele modelo pé du-ro, de restaurante, com trempe gigante,que cozinha rápido e da melhor maneira”.

Para ela, a culinária, além do prazer, ofe-rece a comunhão com a família e a oportu-nidade de fazer amigos.. E assim ela defineesse universo: “É um pensamento empres-tado, que encontrei nas minhas leituras,mas é perfeito: ‘Cozinhar é uma forma afe-tiva de cultuar amigos. Mais que a gula, éum ritual de doação’”.

A primeira incursão solo na cozinha foiaos 18 anos. E nada de pratos simples. Co-mo toda artista, quis se destacar e começoufazendo comida enfeitada: “Cavava o pão eenchia de recheios diferentes, fazia ninhode batata com ovo de codorna, ia tentando.Sigo o lema do meu avô: ‘Não tem nadaque não sei fazer. É só tentar’. Sou meio as-sim. Só não faço chover – ainda!”. Com tan-ta inventividade, Kláucia não é de seguir re-ceitas: “Eu as respeito e as tenho sempre àmão”, diz, embora não seja refém delas.Quando se trata de pâtisserie, porém, ad-mite que “a receita é fundamental”. Donade um paladar eclético, prova e come de tu-do, mas confessa que a sua perdição são os“biscoitos, bolos e o pão de queijo, do qualnão vivo sem”. É louca por quitandas: “Soumineira mesmo. Amo a nossa comida por-que é completa, mas aquela feita de formaleve e delicada, que é a melhor”.

Kláucia cozinha sempre. Seja em casa,para a família e convidados, ou a convite deamigos. Os elogios são constantes, princi-palmente aos menus degustação com, nomáximo, seis pratos: “O suficiente”. Sua co-zinha não é molecular, mas ela vive a in-ventar: “Detesto fazer coisa repetida. Nãotenho medo. Se não funcionou, tento denovo ou mudo. Na cozinha, além da criati-vidade é preciso pensar rápido para encon-trar a solução se algo não sair como o pla-nejado”. E até o trivial é elaborado: “Nada émais ou menos, nem simples”.

Kláucia cozinha no erro e acerto, semprelembrando as preciosidades que aprendeucom o chef Ivo Faria, do Vecchio Sogno: “Eleme mostrou como fazer e como funciona acomida profissional”.

ANGU Além de fazer, degustar e falar, Kláu-cia também sente prazer em ensinar. Há

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Sorvete demanjericão dá

um toqueespecial à salada

Arte na cozinha

futuro da gastronomia:sustentabilidade.

O conceito tem sido discutido há jáalguns anos nos principais eventos domundo. Seu enfoque principal, nocontexto gastronômico, é apreservação das tradições na utilizaçãode produtos regionais para as criações,valorizando a cultura local. E não foidiferente no último encontro MadridFusion, do qual participei, realizadoem janeiro, na Espanha.

Os homens continuam a viajarpara conhecer os costumesgastronômicos de seus destinos, sejameles Paris, Florença, Sete Lagoas ouVarginha. Porém, sem se preocuparem importá-los. O que vale é o quecada um tem como expressão da suacultura. Ser chique é valorizar,novamente, o que está ao alcance dasmãos. O planeta agradece, e osprodutores rurais mais ainda. Nossahistória e cultura, penhoradamente,rendem homenagens ao Rei Sol pelatransformação do futuro num déjá vu,nesse retorno às origensvanguardistas.

Saudações gastronômicas!

vencedores alterando a cultura dosconquistados, além das migraçõesnaturais resultantes da vocaçãonômade dos homens.

Catherine de Medici levou o garfopara a França ao se casar com o reiHenrique II, e o mundo modernochegou. Com ele, a cozinha dos reispor Antoine Carême, a gastronomiade Auguste Escoffier, a nouvellecuisine de Paul Bocuse e o turismogastronômico que aflorou pelosquatro cantos da Terra. Todo mundoqueria visitar a França do foie-gras, aItália das trufas, todas as cozinhas“modernas” preparavam steak aupoivre, bife parmegiano, talharimparisiense, risoto milanês,estrogonofe, etc.

De alguns anos para cá, parece queo planeta finalmente se alinhou com oSol, que iluminou a mente dosprincipais gourmets do mundo. Apartir do momento em que seespelharam nas mammas, nonnas eoutras lembranças para realizar seussonhos criativos, defendendo o seuterroir, perceberam, enfim, que umapalavrinha mágica mudaria todo o

SSaallaaddaa bbuuqquuêê

●● INGREDIENTES PARA 4 PORÇÕES

1 maço de rúcula ( baby ou selvagem); 1 pé dealface baby roxo; 1 pé de alface baby verde; 1pé de alface frizée; 4 bolas de sorvete demanjericão (encontrado na sorveteria EasyIce); molho pesto (pode ser comprado pronto,em supermercados gourmet); redução deaceto balsâmico; flores comestíveis(capuchinha, amor-perfeito, dente-de-leão);8 fatias de presunto de parma; flor de sal epimenta-do-reino.

●● MODO DE FAZER

Lave e seque os verdes. Em um prato grande ebranco, desenhe com o aceto um fundo degalhos e preencha com o molho pesto. Enroleo parma como se fosse uma fita e ponha nocentro. Logo acima, ponha a bola de sorvete demanjericão. Vá distribuindo folhas e florescomo se estive montando um buquê. Por fim,salpique flor de sal e pimenta-do-reino moídana hora e regue com um fio de azeite.

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