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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Estudo sobre a diversidade da população e o reconhecimento étnico dos alunos do ensino fundamental - Colégio Estadual
Carlos Gomes, Ubiratã – PR
Ana Candido da Costa1 Fábio Rodrigues da Costa2
RESUMO:
Em razão dos processos históricos, como a escravidão de negros e indígenas, muitos brasileiros não se reconhecem descendentes desses povos e não se visualizam com as características dos mesmos. Por vários fatores as pessoas se declaram brancas, afirmação essa construída historicamente pelas ideologias de superioridade ariana e pela política de branqueamento que ocorreu no Brasil. No entanto, são poucos os brasileiros que têm características apenas de uma etnia, o que indica a diversidade da população. Este trabalho teve como principal objetivo estudar a diversidade étnica da população brasileira e paranaense com ênfase no reconhecimento da identidade dos alunos do Colégio Estadual Carlos Gomes. Espera-se que conhecendo o processo histórico e geográfico do Brasil possa ocorrer o auto reconhecimento. Para isso, foi elaborado um material Didático direcionado aos alunos do ensino fundamental com textos bibliográficos, indicação de filmes, imagens, gráficos, mapas e tabelas que subsidiam a compreensão da temática.
Palavras- chave: Etnia. População. Diversidade. Identidade.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho propõe estudar a composição étnica da população
brasileira, paranaense e de Ubiratã, e refletir sobre a contribuição cultural de
diferentes etnias na produção do espaço, analisando o reconhecimento étnico
dos alunos do ensino fundamental no Colégio Estadual Carlos Gomes no
município de Ubiratã, especialmente os alunos do 7º ano.
Em razão dos processos históricos como a escravidão de negros e
indígenas, inúmeras pessoas não se reconhecem descendentes desses povos e
não se visualizam com as características dos mesmos. Para Gurgel (2007,
p.36), “As teorias racistas atribuíram superioridade de ordem intelectual,
fisiológica e moral a raça ariana em detrimento de outras [...].” Assim, para
1 Professora do Colégio Estadual Carlos Gomes em Ubiratã - PDE
2 Professor da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão – Orientador PDE
desconstruir essas ideologias são necessárias ações que partam de dentro da
escola na abordagem de conteúdos sobre a população.
O espaço geográfico está permeado de elementos materiais e imateriais
das diversas etnias, seja na arte, nos monumentos, nas edificações, nas praças,
nos bairros, na arquitetura das casas e no próprio homem, que carrega sua
identidade étnica.
Segundo Gurgel (2007, p.30) “A fragmentação racial da população, cor ou
raça são fatores determinantes na estrutura das classes sociais, traduzem-se na
inclusão-exclusão social das pessoas.” Nos dados estatísticos essa situação se
confirma no Brasil, no qual as pessoas mais pobres são excluídas da riqueza
produzida. Tal realidade afeta todo o país, desde os grandes centros urbanos
como nas pequenas cidades, não tendo fronteiras físicas.
Promover o debate crítico na escola é o começo para a reflexão e o
reconhecimento de quem somos e qual é a nossa origem étnica. Esse processo
deve ocorrer de modo consciente, com a superação dos tabus, o conhecimento
da própria história e a auto-afirmação, não ficando aprisionado entre os muros
escolares e avançando pela comunidade escolar e espaços públicos de Ubiratã.
Assim, entender a sociedade brasileira, diversa na cultura e na etnia, mas
que foi construída com valores e conceitos baseados no eurocentrismo - que
segrega, estereotipa e exclui as pessoas e as coloca em uma condição de
inferioridade, é muito importante para os alunos, docentes e comunidade escolar
para provocar uma reflexão sobre nossas falas, ações e conceitos. Como
esclarece as Diretrizes:
Um projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural e às possíveis necessidades especiais para aprendizagem. (DIRETRIZES CURRICULARES DE GEOGRAFIA, 2008, p.15).
Com isso, é importante repensar a prática docente buscando
embasamento teórico e o significado dos conteúdos trabalhados, a fim de que
estejam voltados para todos os sujeitos da escola, tendo uma visão multicultural
e uma prática que valorize as diversidades, sem preconceitos e exclusões. A
preocupação é promover uma educação de qualidade que contemple a
diversidade no espaço escolar. Assim, produzimos um material didático pensado
e posteriormente implementado, tendo como foco um trabalho didático
pedagógico para responder a pergunta problema que motivou e orientou esse
trabalho de investigação durante a formação continuada do PDE. Desse modo,
a pesquisa no ambiente escolar atentou para os seguintes questionamentos:
- Qual foi à contribuição das diferentes etnias na produção do espaço
brasileiro, paranaense e de Ubiratã?
- Os alunos do ensino fundamental do colégio Carlos Gomes reconhecem
sua identidade étnica?
Problemas esses que precisam ser discutidos não somente em datas
estabelecidas no calendário escolar, mas no trabalho cotidiano inseridos nas
ações pedagógicas de cada docente fazendo com que essas reflexões sejam
práticas concretas das ações escolares.
Tendo como ponto inicial esses problemas e com base nos dados
coletados durante a pesquisa apresentamos os objetivos selecionados para este
trabalho:
- Estudar a diversidade étnica da população brasileira e paranaense com
ênfase no reconhecimento da identidade dos alunos do Colégio Estadual Carlos
Gomes.
- Estudar a contribuição cultural das diferentes etnias na produção do
espaço;
- Verificar a composição étnica dos alunos do ensino fundamental do
Colégio Estadual Carlos Gomes;
- Refletir sobre as dificuldades dos alunos em reconhecer a própria
identidade étnica.
A linha de pesquisa para a realização desse trabalho foi qualitativa e
quantitativa, abrangendo o tipo da pesquisa Crítica dialética.
No processo dialético de conhecimento da realidade, o que importa fundamentalmente não é a crítica pela crítica, o conhecimento pelo conhecimento, mas a crítica e o conhecimento crítico para uma prática que altere e transforme a realidade anterior no plano do conhecimento e no plano histórico-social. (FRIGOTTO, 2004, p. 81).
A prática e a teoria são indissociáveis e necessárias para a
transformação da realidade. A dinamicidade da sociedade exige ações
frequentes e a escola é um espaço importante dentro desse contexto.
A implementação aconteceu no Colégio Estadual Carlos Gomes da rede
pública estadual de ensino, de porte grande com mais de 1000 alunos
matriculados nos três períodos de funcionamento, localizado no município de
Ubiratã – Paraná. A turma escolhida para desenvolver o trabalho de
implementação durante o primeiro semestre do ano letivo 2014, foi um 7º ano do
Ensino Fundamental do período matutino com 29 alunos e faixa etária dos 11
aos 15 anos, com nível socioeconômico médio-baixo.
Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram: diário da professora
pesquisadora; atividades planejadas e aplicadas durante o período de
implementação, as quais foram realizadas e registradas pelos alunos em
caderno específico; questionário realizado com duas turmas distintas; além da
observação empírica. Os sujeitos diretamente envolvidos na pesquisa foram os
alunos do 7º ano B e alunos do ensino fundamental, Equipe pedagógica,
Professores da rede pública e a Professora PDE.
2. REVISÃO DA LITERATURA
O Brasil possui espalhados em seu território populações que vieram de
diferentes continentes. Em virtude da sua grande área apresenta tipos de clima
com amplitude térmica que vão das altas temperaturas até a geada, o que
possibilita a adaptação de pessoas de variados lugares. O retrato da nossa
população é colorido, mesclado e heterogêneo contribuindo para uma cultura
rica e diversa. A figura 1 apresenta a distribuição da população brasileira
conforme estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Figura 1 - Distribuição da população brasileira por cor e raça 2010
Fonte: Censo Demográfico 2010: características da população e dos domicílios: resultados do universo. In: IBGE. Sidra: sistema IBGE de recuperação automática. Rio de Janeiro, 2011.
Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=3175&z=cd&o=5>. Acesso em: mar. 2013.
Definir as pessoas de acordo com sua cultura, cor ou ascendência e
definir se a pessoa pertence à etnia ou raça sempre gerou discussões, mas
conforme os PCNs:
Por sua vez, o conceito de etnia substitui com vantagens o termo “raça”, já que tem base social e cultural. “Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se diferencia de outros por sua especificidade cultural. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p.132).
Assim, dizer que o Brasil tem em seu quadro populacional várias etnias é
plausível, mas, mesmo com esse reconhecimento, isso se dá de modo
superficial, como se essa diversidade étnica fosse algo distante de nós, pois
muitos ainda não reconhecem as características herdadas dos antepassados.
O país no início da “ocupação” portuguesa tinha o predomínio de
população indígena que habitava todo o território, sendo esses diferentes entre
si: na língua, arte, culinária e cultura. Divergências que ocorrem também entre
os portugueses que iniciaram o processo de colonização e os africanos que na
sequência foram trazidos para trabalhar de forma escrava. Assim, o Brasil foi e
vem sendo constituído por diferentes etnias.
A dificuldade para categorizar os grupos que vieram para o Brasil e formaram sua população é indicativo da diversidade, seja o recorte continental, ou regional, nacional, religioso, cultural, lingüístico, racial/étnico. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p.125).
O brasileiro não tem uma característica única, ele pode ser branco, negro,
amarelo, baixo, alto, etc. No entanto, cada etnia tem a sua cultura. Não
podemos homogeneizar o Brasil, pois cada região trás as marcas do seu
povoamento e de seu processo histórico e geográfico. A beleza do país está na
diversidade da cultura e do povo, perceptível nas danças, comida, música,
religião e arte.
A idéia veiculada na escola de um Brasil sem diferenças, formado originalmente pelas três raças — o índio, o branco e o negro — que se dissolveram, dando origem ao brasileiro, também tem sido difundida nos livros didáticos, neutralizando as diferenças culturais e, às vezes, subordinando uma cultura à outra. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1999, p.126).
Até hoje existem etnias que são discriminadas e lutam pelos seus
direitos, mesmo sendo-lhes assegurados na lei maior do país. Essa garantia
possibilita uma ferramenta legal de luta e derruba o “mito da democracia racial”.
Na Constituição da República Federativa do Brasil (1988. p. 5), art. 5º diz que:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Porém,
as manifestações de discriminação às vezes ficam ocultas, ou pior, para muitos
não são consideradas como discriminação.
Os grupos étnicos e sua cultura sobreviveram a partir de muita
resistência, logo que uma das formas de subjugar o outro é destruindo a cultura
alheia. Os indígenas foram os primeiros a serem perseguidos, mortos,
escravizados e expulsos de suas terras. Em seguida os negros, que foram
trazidos como escravos do continente africano e durante décadas sofreram
exploração e tiveram sua cultura oprimida. Devido a essas questões, a cultura
européia - a dos colonizadores - predomina e é valorizada. A cultura dos povos
indígenas e negros é considerada por muitos como uma cultura popular. Se hoje
há lugares onde essas manifestações culturais são preservadas é devido à
resistência dos grupos étnicos no Brasil.
Uma das formas de resistência refere-se ao fato de que cada grupo — indígena, africano, europeu, asiático e do oriente médio — encontrou maneiras de preservar sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma clandestina e precária. (PARÂMETROS CURRICULARESNACIONAIS, 1997, p.130).
No Paraná o processo de formação da população não é tão diferente do
Brasil, mas apresenta as suas particularidades. Os primeiros habitantes foram
os indígenas – especialmente o Guarani, o Kaingang e o Xetá. Posteriormente,
no interior, ocorreu a presença dos espanhóis através das missões jesuíticas.
No litoral a ocupação se deu através da presença dos portugueses. Os
bandeirantes paulistas penetraram em direção ao interior destruindo as missões
jesuíticas e capturando os índios para escravizá-los, mas não permaneceram
para colonizar as terras. Os negros também foram trazidos para exercer trabalho
escravo.
No norte do Paraná, a partir do final do século XIX, a ocupação ocorreu
através da presença de paulistas, mineiros e nordestinos impulsionados pelo
cultivo do café, que se acelerou nas primeiras décadas do século XX. No
sudoeste e oeste a colonização ocorreu através da presença dos gaúchos
oriundos do Rio Grande do Sul. A relação de convívio entre essas etnias no
decorrer do processo de colonização do Paraná se deu com conflitos,
resistência, escravidão e mortes de inúmeros índios, caboclos, negros e
posseiros.
Povos vindos de outros países também contribuíram com a ocupação do
Paraná, dentre eles os ucranianos, poloneses, russos, sírio-libaneses, alemães,
italianos, franceses e suíços. Difícil definir uma única cultura no estado, dizer um
prato típico, uma dança, religião ou uma etnia; há pluralidade em todos esses
aspectos.
No Paraná a língua apresenta diferença na oralidade de acordo com a
região. As pessoas de Curitiba, por exemplo, pronunciam a palavra como se
escreve “leite”, as pessoas do norte já falam “leiti”. A língua Portuguesa
predomina, mas muitas etnias preservam suas línguas, tanto as indígenas -
Tupi-Guarani - como italiana, alemã, polonesa, espanhola e japonesa, que
ocupam com maior concentração algumas cidades.
Assim como a língua e religião, a alimentação também é variada, vão
desde o arroz com feijão até o churrasco, peixes, pinhão, chimarrão e pratos
típicos de outros países como a polenta, pizza, macarrão, chucrute, saquê e
outros. Como prato típico temos o Barreado que é mais consumido no litoral e
pouco conhecido no interior do estado.
Como manifestação artesanal há as peças produzidas a partir de
matérias primas locais como a madeira. Pode-se citar também a tradição dos
ucranianos que no período da páscoa pintam ovos a mão, denominados
pêssankas, que simbolizam proteção e longevidade. “Os artesanatos típicos do
litoral são: canoas, remos, tarrafas, cestas, peneiras e redes. Cochos, raladores,
pilão, cuscuzeiro, gamelas de madeira são usados na produção de farinha”.
(TUMA, 1992, p.166).
As danças também são diversificadas e representam seus grupos
étnicos. No entanto, o fandango é reconhecido como dança típica do estado,
sendo mais conhecida no litoral. Desse modo, o Paraná tem uma riqueza
cultural imensa, muitas vezes não identificada claramente.
No caso específico de Ubiratã a população também é diversificada
etnicamente. De acordo com registros arqueológicos, há indícios que antes de
ser povoada pelos brancos a região foi habitada por indígenas há mais de
novecentos anos. “Pelo exame das peças encontradas, concluiu-se que antes
da chegada dos europeus, essa região era habitada por índios das tribos
Kaingangues, nação Ge, ou Tapuia, às margens do Rio Carajá.” (SPERANÇA,
2008, p. 16).
O nome Ubiratã é de origem tupi, que significa madeira dura. Foi
colonizado pela SINOP - Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, que
adquiriu a Gleba Rio Verde em 1954. Dois anos após foi lançada a pedra
fundamental da Vila Ubiratã. Em 1960 se tornou município e o primeiro prefeito
nomeado pelo governador Moisés Lupion foi o Sr. Osmar João Bertoli. Com o
início das vendas dos lotes, tanto rurais como urbanos, o fluxo migratório
aumentou, assim os primeiros ranchos foram construídos, em seguida casas e
pontos de comércio. Em 04/11/1961 foi empossado o primeiro prefeito municipal
Alberoné Bittencourt. (IBGE – CIDADES, 2013).
Ubiratã está localizada na região Centro-Ocidental do Paraná, com uma
superfície de 655.845 km². (IBGE - CIDADES, 2013). A figura 02 apresenta a
localização de Ubiratã no estado do Paraná.
Figura 2 – Localização de Ubiratã
FONTE: IPARDES Base Cartográfica ITCG (2010)
Devido à jovialidade de Ubiratã, colonizada a partir da década de 1950,
não foi possível a convivência dos povos que aqui chegaram com os indígenas.
A população não herdou costumes desse povo. No entanto, a cultura indígena
está presente nos hábitos da comunidade em alguns aspectos, como a comida,
artesanato, palavras de origem indígena, que são oriundos de um contato
indireto.
Na época em que ocorreu a colonização vieram pessoas de diversos
estados do Brasil, pessoas de Minas Gerais, da região Nordeste, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. A composição da população conforme
o censo de 2010 está disponível na tabela 1.
Tabela 1 - COR / RAÇA POPULAÇÃO UBIRATÃ - 2010
Branca 13.491
Preta 560
Amarela 415
Parda 7.081
Indígena 11
Sem declaração da cor/raça -
Total 21.558
FONTE: IBGE - Censo Demográfico
NOTA: Dados do universo.
http://www.ipardes.gov.br/cadernos/Montapdf.php?Municipio=87350&btOk=ok. Acesso:
(Outubro, 2014).
Os japoneses também se fizeram presentes: “Um aspecto importante da
colonização de Ubiratã foi à presença dos colonos japoneses.” (SPERANÇA,
2008, p. 86).
Os libaneses também vieram para Ubiratã, dentre eles o senhor
Muhieddine que diz: “Eu tava lá no Líbano arrumando meus documentos e
minha mãe ficou rezando, ela não queria que eu viesse tão longe. Ela quer que
eu fica perto dela.Eu falei pra ela: mãe, me solta eu;eu acho que a senhora está
me segurando.” (SPERANÇA, 2008, p.125).
Assim, na sua diversidade Ubiratã tem uma população etnicamente plural
que mantém nas suas comunidades a sua cultura e tradições. Dentre as festas
da cidade temos a Folia de Reis e a festa de São João com fogueira. Há igrejas
católicas, protestantes e centro espírita. Não há uma dança típica do local, a
mistura é de todos os ritmos do Brasil. A língua é a Portuguesa, existem alguns
núcleos étnicos que em família ainda preservam a língua mãe, já a culinária é
variada.
3. RESULTADO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM OS
EDUCANDOS
A implementação do projeto PDE é o momento de integração entre teoria
e prática. “Se a teoria desvinculada da prática se configura como contemplação,
a prática desvinculada da teoria é puro espontaneísmo. É o fazer pelo
fazer.”(SAVIANI, 2005, apud GUEDES, p. 9421, 2009).
Quando entendermos que a prática será tanto mais coerente e consistente, será tanto mais qualitativa, será tanto mais desenvolvida quanto mais consistente, e desenvolvida for a teoria que a embasa, e que uma prática será transformada à medida que exista uma elaboração teórica que justifique a necessidade de sua transformação e que proponha as formas da transformação, estamos pensando a prática a partir da teoria. (SAVIANI, 2005, apud GUEDES, 2009, p. 9419).
A realização do trabalho foi em consonância com os autores citados nas
referências que deram suporte à prática. Uma prática embasada, consistente e
diversificada, cuja finalidade é atingir os objetivos propostos: transformar a
realidade dos alunos através do reconhecimento étnico, cultural e valorização da
sua história.
Com isso, o trabalho está estruturado em 7 ações que sistematicamente
organizam a reflexão, o conhecimento e a percepção das problemáticas que
envolvem a temática proposta.
A 1ª ação proposta foi à apresentação do projeto para a Direção escolar e
equipe pedagógica do colégio, que avaliaram positivamente o tema e as
propostas didáticas a serem desenvolvidas.
A 2ª ação corresponde à construção da árvore genealógica. No início, os
alunos tiveram dificuldade e argumentaram que não sabiam responder sobre
sua história familiar. Em seguida, foi exposto como iriam realizar a atividade que
contaria com a ajuda dos familiares. Como resultado 2 alunos concluíram toda a
árvore, os demais pararam nos avós e outros responderam apenas a parte da
linhagem materna. Constata-se que grande parte dos alunos não conhecia sua
história familiar. De modo geral todos os alunos no momento da discussão em
sala de aula queriam apresentar os dados coletados e se mostraram orgulhosos
de falar das origens da família. As atividades propostas foram:
a) Complete a árvore genealógica (figura 3), colocando o nome do familiar e a
etnia de acordo com a classificação do IBGE: branco, pardo, índio, amarelo e
preto.
b) Colocar a origem dos ascendentes.
Figura 3 – Árvore Genealógica
Fonte: Portal do professor
Figura 4- Árvore Genealógica preenchida por um aluno.
Fonte: Arquivo próprio
A 3ª ação foi à exibição do filme “Vista a Minha Pele”. Os alunos
perceberam claramente a inversão da história apresentada no filme e as
contradições da sociedade, e conseguiram identificar as práticas racistas
mostradas no cotidiano do filme. Durante o debate, atividade proposta para o
filme, os alunos expuseram situações vivenciadas por eles ou algum familiar ou
de casos que são mostrados na mídia. Também foi questionado sobre outros
povos que compõem a população brasileira: índios, brancos e amarelos e como
são as relações raciais entre esses povos. Foi um momento de muita
participação oral.
Na sala de aula, como em qualquer espaço educativo, o cinema é um rico material didático. Agente socializante e socializador, ele desperta interesses teóricos, questionamentos sociopolíticos, enriquecimento cultural. E cada vez mais, tem-se intensificado o número de programas educativos e formativos em que o cinema é utilizado como um dos aparatos tecnológicos da educação. (SOUZA, 2006, apud, DINIZ, 2009, p.12).
A disciplina de Geografia faz uso de vários recursos, entre eles estão os
filmes, que aguçam a curiosidade do aluno e possibilitam a visualização do que
é estudado através dos livros. O uso correto desse material ajuda a desconstruir
preconceitos e visões tendenciosas que ao longo da história foram consolidadas
e tidas com naturalidade.
Na 4ª ação foi proposto estudar alguns lugares de Ubiratã com o intuito
do aluno perceber a relação existente entre esses lugares com a cultura e as
etnias que o construíram. Logo, tiveram que discutir ,pensar e escrever. A
atividade foi organizada da seguinte forma: os alunos foram divididos em grupos
para estudar a influência das diferentes etnias na produção do espaço de
Ubiratã. Nessa atividade foi estruturada uma lista de lugares como:
monumentos, praças, igrejas e prédios da cidade, para que o grupo identificasse
a contribuição cultural e econômica das variadas etnias nesses espaços.
As manifestações culturais perpassam gerações, criam objetos geográficos e são, portanto, parte do espaço, registros importantes para a Geografia. A cidade e a rede urbana constituem-se em terreno fértil para esta abordagem, pois são formadas por complexos e diversificados grupos culturais (sociais e econômicos) que criam e recriam espaço geográfico mediante as determinações das forças políticas hegemônicas e contra-hegemônicas. (DIRETRIZES CURRICULARES DE GEOGRAFIA, 2008, p. 74).
A 5ª ação ocorreu por meio do uso de músicas que é um recurso
pedagógico que aproxima o aluno do conteúdo. Primeiramente foi feita a leitura
da letra da música, em seguida o conteúdo foi explicado e contextualizado para
posteriormente ouvir a música e realizar a atividade proposta. Os alunos
gostaram das atividades e perceberam a importância das letras das músicas no
ensino de geografia. As músicas trabalhadas foram as seguintes: Balança Brasil
(Araketu), Olhos Coloridos (Macau), Canto das Três Raças (Clara Nunes), Racismo é
Burrice e Brasis (Seu Jorge - Gabriel O Pensador). Uma das atividades propostas
foi com a música Balança Brasil:
a) Escrever uma característica sobre cada um dos estados brasileiros.
b) Em seguida, cada aluno de posse do seu mapa, comparar o que marcou em
cada estado e o que pode ser acrescentado.
c) Discutir sobre as características culturais dos estados brasileiros.
Figura 5- Mapa do Brasil atividade realizada por um aluno
Fonte: Arquivo Próprio
Atividade proposta para a música Brasis:
a) Após assistir o vídeo da música acompanhado da letra registre seu
conhecimento sobre nissei, mameluco e cafuzo.
b) Em seguida pesquise no dicionário o significado dessas palavras e verifique
se você acertou.
As músicas, imagens e vídeos estão repletos de elementos culturais, com
as marcas da nossa população e da cultura do nosso país.
Assim, a partir da exibição de um filme, da observação de uma imagem (foto, ilustração, charge, entre outros), deve iniciar-se uma pesquisa que se fundamente nas categorias de análise do espaço geográfico e nos fundamentos teóricos conceituais da
Geografia. O recurso audiovisual assume, assim, o papel que lhe cabe: problematizador, estimulador para pesquisas sobre os assuntos provocados pelo filme, a fim de desvelar preconceitos e leituras rasas, ideológicas e estereotipadas sobre lugares e povos. (DIRETRIZES CURRICULARES DE GEOGRAFIA, 2008, p.82).
A 6ª ação foi uma visita ao museu da cidade juntamente com os alunos.
Através do monitoramento da funcionária do local conhecemos várias peças
indígenas que foram encontradas na cidade durante o início da sua colonização.
Também visitamos um painel localizado na praça e que retrata toda a história da
cidade desde os primeiros habitantes até a atualidade.
Figura 6 – Painel na Praça Vereador Horácio Ribeiro de Ubiratã
Fonte: Arquivo Próprio
Posteriormente, no Dia do Índio, foi realizada uma exposição com
apresentação de peças, danças, poesia, lendas, fotos, comidas, maquete e
caracterização. Toda a turma participou e foi visto por todos os alunos do ensino
fundamental.
A organização da visita ficou por conta da equipe pedagógica da escola.
Os alunos tiveram que pesquisar preparar os materiais e perceber como a
cultura indígena está inserida no nosso cotidiano.
Figura 7- Apresentação Dia do Índio
Fonte: Arquivo próprio
Na 7ª ação os alunos fizeram uma mostra na sala de aula. Trouxeram
elementos de casa como fotos, documentos, moedas, objetos, etc. Cada um
explicou a relação entre o objeto, sua família e as etnias estudadas. As DCNs
afirmam que: “As manifestações culturais perpassam gerações, criam objetos
geográficos e são, portanto, parte do espaço, registros importantes para a
Geografia.” (DIRETRIZES CURRICULARES DE GEOGRAFIA, 2008, p.74).
Cada ação desenvolvida colaborou para a construção do conhecimento
sobre o tema na sua totalidade. Temos que considerar o conhecimento prévio
dos alunos diagnosticado no início da implementação e o quanto avançaram
dentro do esperado. Os estudantes saíram do senso comum para um
conhecimento sistematizado.
4. RESULTADO DO QUESTIONÁRIO APLICADO NA TURMA 7ºB
Para finalizar a implementação foi realizada uma pesquisa por meio de
questionário com os alunos da turma para verificar como ocorre o
reconhecimento étnico, suas práticas culturais e a percepção da diversidade
étnica e cultural existente em nosso país e cidade. Foram entrevistados 24
alunos que responderam as perguntas em sala de aula. As questões referentes
ao gráfico 1, 2 e 3 eram objetivas; já as questões dos gráficos 4, 5 e 6 eram
questões abertas, por isso obteve-se uma grande variedade de respostas.
Verificou-se que depois que o aluno conhece a história da sua etnia, as
riquezas culturais e se vê reconhecido dentro do ambiente escolar, ele consegue
se reconhecer etnicamente. Também percebe que a cultura está inserida no seu
cotidiano através das suas práticas como a religião, as festas comemorativas, a
alimentação e as danças.
O resultado apresentado no gráfico 1 reflete o amplo debate realizado em
sala de aula, subsidiado por textos, imagens e músicas que mostraram um
Brasil heterogêneo, visto que 96% dos alunos consideram o Brasil composto
por várias etnias.
Gráfico1- Você considera o Brasil um país com várias etnias/cor na composição da população?
Fonte: Questionário aplicado na turma 7ºB (2014)
O resultado obtido com o gráfico 2 complementa o primeiro gráfico, no
qual os alunos compreendem como rica e variada à composição étnica do país.
Após estudarem a Unidade Didática os estudantes perceberam que a
alimentação, as danças, as festas e a língua são resultados das expressões
culturais de cada povo.
Gráfico 2- Em sua opinião um país composto por várias etnias/cor possui uma grande riqueza e variedade cultural?
Fonte: Questionário aplicado na turma 7ºB (2014)
O gráfico 3 demonstra que no decorrer da implementação os alunos se
reconheceram etnicamente, fato que não estava totalmente claro para os
mesmos antes do início da implementação. Os números refletem as diferentes
etnias que ocupam e produzem o espaço no município de Ubiratã. Os alunos
que participaram do projeto entenderam o processo histórico e geográfico de
constituição do povo brasileiro, paranaense e ubiratanense. Desta forma, não
apresentaram problemas na sua declaração e reconhecimento.
Gráfico 3 - Qual é a sua raça/cor (de acordo com o IBGE)?
Fonte: Questionário aplicado na turma 7ºB (2014)
Gráfico 4 - No seu cotidiano quais práticas culturais foram herdadas da sua etnia?
Fonte: Questionário aplicado na turma 7ºB (2014
É importante que o aluno reconheça como cultura as práticas realizadas no
seu dia-a-dia, e é isso que o gráfico 4 expressa. Muitas pessoas reconhecem como
cultura apenas os clássicos da música, cinema, obras de arte, etc. No entanto, as
respostas elencadas pelos alunos mostram que eles são, também, produtores e
receptores de cultura das várias etnias, e que estas são democráticas e fazem parte
da nossa cidade e de suas vidas.
No mundo globalizado em que vivemos a valorização da cultura é
desigual e a cultura popular na maioria das vezes acaba sendo inferiorizada.
Isso se dá pela falta de conhecimento das práticas culturais, principalmente
daquelas que acontecem nas pequenas cidades. O reconhecimento pelo aluno
das práticas culturais da sua cidade, do seu grupo e da sua família como cultura,
conforme dados disponibilizados no gráfico 5, é um avanço diante da
globalização e do poder exercido pela mídia que impõe certos modelos e tenta
enquadrar as pessoas em uma sociedade de consumo, na qual quase tudo se
transforma em mercadoria com a finalidade de ampliação dos lucros. A
valorização étnica acontece somente quando o aluno percebe a importância das
suas práticas culturais.
Gráfico 5 - Você valoriza suas práticas culturais?
Fonte: Questionário aplicado na turma 7ºB (2014)
A cultura de um povo está intrínseca nas paisagens, na alimentação, nos
costumes e nas festas. Os alunos perceberam que possuem uma cultura, que a
cidade tem expressões culturais e que cada um desses elementos têm uma
história e significação para quem vivencia. O gráfico 6 mostra as principais
práticas culturais encontradas em Ubiratã conforme o entendimento dos alunos.
As mais citadas foram religião com 20%, danças com 15% e as músicas com
13%.
Gráfico 6 - Quais práticas culturais você encontra em Ubiratã?
Fonte:Questionário aplicado na turma 7ºB (2014)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção da Unidade Didática ofereceu uma grande variedade de
materiais para leitura, pesquisa e proposta de atividades diferenciadas, que
possibilitaram aos alunos do 7º Ano B um aprendizado contextualizado da
temática: diversidade étnica e cultural.
A Unidade Didática abordou textos relativos tanto ao Brasil quanto à
cidade de Ubiratã, com o intuito de aproximar conteúdo e aluno. As atividades
também foram elaboradas para permitir a contextualização do local com o
global, sem esquecer a paisagem, a cultura, as relações históricas e o próprio
homem; elementos importantes no estudo da Geografia.
A implementação do projeto trouxe resultados que mostram a importância
do tema e a relevância da pesquisa, conhecimento e educação na formação de
alunos críticos. Também contribuiu para que os alunos participantes estudassem
sobre as etnias que compõem a população brasileira e paranaense e, a partir
disso, se reconhecessem etnicamente. Outro aspecto importante durante o
projeto foi conhecer a contribuição das diferentes etnias na produção do espaço
e na paisagem do nosso país e cidade.
Os alunos também refletiram sobre as dificuldades que as pessoas têm
em se reconhecerem pertencentes a determinadas etnias. Fato que deriva de
todo processo histórico que o Brasil passou e de como a mídia e outras
estruturas disseminam indiretamente o racismo e os preconceitos.
A pesquisa contribuiu com o estudo da temática no ambiente escolar de
acordo com o conteúdo estruturante das Diretrizes Curriculares de Geografia do
Paraná, Dimensão Cultural e Demográfica do Espaço Geográfico. A partir da
pesquisa foi possível, dentro da disciplina de Geografia, compreender as
relações sociais partindo dos conceitos de etnia, cultura e diversidade;
possibilitando aos participantes - alunos, professores, equipe pedagógica e
direção – a aprendizagem e a reflexão sobre a diversidade étnica da população.
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