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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS: o êxodo hebreu e o contexto

do deslocamento de alunos

Autor: Derli Antonio Klein1

Orientador: Dr. Nilceu Jacob Deitos2

Resumo

O estudo dos movimentos migratórios está relacionado à migração das famílias dos alunos do Primeiro Ano A do Ensino Médio, pois seu contexto cultural está impregnado pela cultura judaico-cristã. O artigo tem como objetivos trabalhar o conceito de migração; a percepção da experiência do desinstalar-se, de sair de um lugar para outro; o entendimento que a conquista da liberdade é fruto de organização, união, perseverança e muita luta; o reconhecimento de que a história dos hebreus é mais aprofundada daquela que os livros didáticos apresentam; identificar a causa da escravidão dos hebreus pelos egípcios; relacionar a história do “povo eleito” apresentada no livro didático com a do livro sagrado e conhecer o contexto histórico do Êxodo. A metodologia consistiu na pesquisa bibliográfica sobre o êxodo, as migrações, e pesquisa de campo sobre a história da migração dos alunos e da de seus familiares identificando suas razões. Houve um relato da experiência das atividades realizadas com os alunos e da pesquisa realizada por eles sobre a experiência do “êxodo” dos seus antepassados; e da experiência realizada com os colegas professores no Trabalho de Grupo em Rede (GTR). Por fim apresento as conclusões sobre todo trabalho de pesquisa realizada no período de duração do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Palavras-chave: Migrações. Êxodo. Hebreus. História privada.

Introdução

Este artigo consiste numa reflexão teórica da pesquisa realizada num período

de dois anos, 2013 – 2014, sobre “A história dos hebreus: relação da história

dos livros didáticos com a história sagrada de acordo com o livro do Êxodo (a

Bíblia). Um estudo sobre os processos migratórios” enfocando os

“Movimentos migratórios – o êxodo hebreu e o contexto do deslocamento de

alunos” do Colégio Estadual Belo Horizonte – do município de Medianeira –

PR.

O estudo realizado faz parte do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE) da Secretaria do Estado da Educação (SEED), um

programa de formação continuada para professores. Ele está fundamentado

em autores como Milton Schwantes3 que descreve a migração dos hebreus

1 Professor da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail: [email protected]. 2 Professor da UNIOESTE e doutor em História. E-mail: [email protected].

3 SCHWANTES, Milton, História de Israel V. 1: Local e origens. 3 ed alt. e amp. São

Leopoldo: Oikos, 2008).

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para o Egito bem como seu êxodo; Emmanuel Lévinas4 que analisa o

conceito de alteridade que consiste em pensar o outro na condição de outro;

Sérgio Odilon Nadalin5 que escreve sobre a ocupação do território do Estado

do Paraná, o que necessariamente implicou no deslocamento dos que vieram

se estabelecer em nosso Estado; a Bíblia sagrada6 que narra o êxodo a partir

da experiência religiosa do povo hebreu; Samuel Klauck7 escreve sobre a

colonização da Gleba dos Bispos, atual município de Missal localizado na

região Oeste do Estado do Paraná. A “World wide web”8 foi utilizada para

pesquisas em dossiês sobre migração e educação e consultados vocabulários

no dicionário “on line”9.

As razões que levaram à escolha deste tema estão relacionadas ao contexto

dos alunos que pertencem a uma cultura marcada pela tradição judaico-cristã.

Entre os conteúdos da história antiga propostos para ser estudado com o

Primeiro Ano do Ensino Médio está a história dos hebreus. Quando este

estudo era feito os alunos mostravam interesse em aprofundar o assunto; os

livros didáticos abordam o tema muito sintética e superficialmente. Interessei-

me então em aprofundar o estudo da história desse povo. Encontrei o desafio

de enquadrar meu interesse e o dos alunos em um problema encontrado no

colégio. Constatei então que um dos problemas encontrados no processo

ensino-aprendizagem é a questão migratória dos alunos. No estudo da

história do povo hebreu, o “êxodo” é um processo de migração deste povo do

Egito para a Palestina. Percebi então que o “êxodo hebraico” poderia ser

relacionado com a questão migratória dos alunos e da de seus familiares

mesmo sendo um assunto de um período cronologicamente muito distante

(aproximadamente 1200 a.C.), pois o processo migratório perpassa toda a

história da humanidade até os dias atuais e tem em comum as dimensões

cultural, política, social e religiosa.

4 LÉVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. 2 ed. Petrópolis, RJ : Vozes,

2005 5 NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e migrações. Curitiba :

SEED, 2001. 6 BÍBLIA SAGRADA: Edição Pastoral. Paulinas, SP, 1993. 7 KLAUCK, Samuel. Gleba dos Bispos. Colonização no Oeste do Paraná. Uma experiência

católica de ação social. Porto Alegre: Est, 2004, p.11. 8 Rede Mundial de computadores.

9 http://www.priberam.pt.

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Os movimentos migratórios estão relacionados com a vida dos alunos

e é uma reflexão sobre a problemática dos deslocamentos e pode suscitar

uma reflexão sobre outras problemáticas causadas pela migração na história

da humanidade. O estudo traça um paralelo entre migração do povo hebreu e

da dos alunos ou da de seus familiares. Ele remete ao histórico da migração

dos educandos bem como da de seus familiares.

Revisão de Leitura

Este estudo realizou-se, num primeiro momento, através da pesquisa

bibliográfica. Depois foi realizada uma pesquisa de campo por meio de um

formulário respondido pelos alunos ou pelos seus familiares no qual colheu-se

dados sobre motivações, lembranças, dificuldades, com dado específico

sobre dificuldades encontradas nos estudos por causa do processo

migratório. Foi estudado o tema da pesquisa com os alunos do Primeiro Ano

A do Ensino Médio o que possibilitou a aplicabilidade à sala de aula do

conteúdo pesquisado. Discutiu-se o mesmo assunto com colegas professores

no Grupo de Trabalho em Rede (GTR) na educação à distância.

1. Conceito de migração

Muitas vezes encontramos palavras que se utilizadas em contextos

diferentes adquirem significados diferentes. O termo migração se enquadra

nesta realidade de adquirir significado de acordo com o emprego da mesma.

Para dominar bem seu significado em diferentes contextos, com a ajuda de

dicionário, no diálogo bibliográfico com Nadalin e baseado em sites de busca

foi feito uma análise do termo. A etimologia da palavra migrar vem do latim

migro – are e significa “passar de um lugar para outro” e migração é o “ato ou

o efeito de migrar, de passar de um país ou de uma região para outro”. 10

Segundo Nadalin (2001) existem dois modos de compreensão de migração.

No sentido restrito “migrar implica a mudança da ‘residência’”. 11 No sentido

mais amplo as viagens, peregrinações ou vida errante são atos de migrar.

10

Http://www.priberam.pt. Consultado em 12/06/2013. 11

NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: Ocupação do território, população e migrações – Curitiba: SEED – 2001.

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Existem vários usos da palavra migração. Ela pode designar o deslocamento

humano que passa de um lugar para outro ou pode ser utilizada para se

referir às pessoas que saem de uma tradição religiosa e ingressam noutra. É

o fenômeno da migração religiosa. Na política temos a migração partidária

quando um cidadão sai de determinado partido para se filiar a outro partido.

Usa-se também o termo migração quando nos referimos ao deslocamento de

animais de um hábitat para outro. Quando falamos das migrações humanas,

outras denominações advêm conforme os tipos de deslocamentos tais como:

imigrante, emigrante e migrante. Com relação à frequência do deslocamento o

migrante pode ser nômade, seminômade ou sedentário.

2. Dimensão geográfica e temporal das migrações

Da dimensão geográfica e temporal da migração faz parte a experiência

do desinstalar-se, muitas vezes, de uma situação “confortável”, porém

limitada para seguir rumo a outra região marcada de incertezas, porém com

perspectivas que se esperam positivas. A migração implica no deslocamento

de um território para outro, de um espaço para outro, em um determinado

tempo, numa determinada época.

A região Oeste do Paraná recebeu migrantes que vieram do Rio

Grande do Sul e de Santa Catarina a partir de meados do século XX. Na

década de 1970 registra-se um movimento migratório do Oeste do Paraná

para o Paraguai em busca de terras para cultivar porque a venda de terras

nesta época já era escassa no Oeste do Paraná. Além da migração do Rio

Grande do Sul outras regiões e países tem sido lugar de origem de muita

gente que atualmente habita o Oeste do Paraná e que vieram em épocas

diferentes. Exemplo é a presença cabocla, cuja migração se registra antes

dos sulistas. E dos povos orientais na região de Foz do Iguaçu num período

mais recente. Dessa dimensão migratória cabe lembrar os deslocamentos do

campo para a cidade e vice-versa.

3. Dimensão cultural das migrações

A sociedade brasileira é formada, desde sua colonização, pela

miscigenação de brancos, índios e negros. Considerando que não existe

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população autóctone na América, estes três grupos chegaram aqui através do

processo migratório. Quanto aos nativos, a teoria mais aceita é que teriam

vindo da Ásia pelo Estreito de Bering; o homem branco veio do continente

europeu e o negro é originário da África. Cada etnia trouxe consigo valores,

ideologias, religiões, costumes, idiomas próprios. Entre os indígenas há

diferentes grupos com características próprias. O Brasil acolheu na época da

colonização, além dos portugueses, povos de outras nações europeias como

franceses, holandeses. Mais tarde vieram os imigrantes alemães, poloneses,

italianos, húngaros, japoneses e mais recentemente libaneses, chineses,

coreanos, entre outros. Cada povo trouxe elementos da sua cultura e

atualmente são constituintes da cultura brasileira. Na língua portuguesa temos

vocábulos indígenas como, por exemplo, a palavra Itaipu que em Tupi-guarani

significa “pedra que canta” 12. Dos africanos herdamos o Candomblé e a

Umbanda. Na língua portuguesa encontramos vocabulários dos bantos

“oriundos da Angola, Congo e Moçambique”13 como “bagunça, moleque,

dengo, gangorra”.14

Nos estados ou regiões do Brasil há o cultivo de tradições e que são

características culturais próprias daquele povo. Expressões linguísticas,

alimentações, músicas, indumentárias, crenças, costumes são elementos que

podem dar uma característica própria à população de certa região. Os

gaúchos, por exemplo, cultivam a tradição do chimarrão, do churrasco, trajes

típicos, a comemoração da semana farroupilha, da missa crioula, da música

gauchesca. O frevo é música característica dos pernambucanos15. O pagode

ou o samba é próprio dos cariocas16. A carne ao sol é um prato típico da

região Nordeste do Brasil. O charque é alimento característico da região Sul

do Brasil. Estas tradições, que formam a cultura de uma população regional

são propagadas com o fenômeno migratório. O migrante leva sua cultura para

o destino da sua migração, mas também assimila a cultura local do seu

12

https://www.google.com.br (Acessado dia 15.11.2013)

13 http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/nossas-lutas/educacao/planos-de-aula/2292-a-

influencia-africana-no-processo-de-formacao-da-cultura-afro-brasileira (consultado em 15/11/2013) 14 http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/vocabulario-brasileiro-culturas-

africanas-influenciaram-nosso-idioma.htm (Consultado em14/11/2013) 15

http://pt.wikipedia.org/wiki/Frevo(Consultado dia 20/11/13) 16

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pagode_(estilo_musical) (Consultado dia 20/11/13)

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destino. Portanto, podemos dizer que no processo migratório acontece um

intercâmbio cultural. Outra razão cultural das migrações são os estudos.

Jovens migram de uma cidade para outra, do campo para a cidade, de um

país para outro em busca dos seus cursos preferidos, do aperfeiçoamento de

sua formação, de um acesso mais fácil aos estudos. Algumas vezes toda

família migra para acompanhar aquele que precisa se mudar por causa dos

estudos.

A migração requer desapego de laços culturais, de laços de amizade,

exige abandonar um estilo de vida, traz consigo renúncia de costumes

comunitários, familiares, práticas esportivas e de lazer e envolve novas

adaptações ao lugar de destino. Traz consigo a formação de novos laços de

amizade, de assimilação de novos valores culturais e pode exigir adaptação

de uma nova forma de vivência.

4. A Dimensão econômica das migrações

A dimensão econômica das migrações está presente nas diversas

épocas da história da humanidade e continua sendo uma das principais

razões dos deslocamentos populacionais do nosso tempo. Atualmente as

pessoas migram em busca de melhores condições de vida, de oportunidade

de emprego, de localização para expansão dos negócios com objetivo da

obtenção de riquezas em recursos financeiros, em meios de produção, em

imóveis. A migração motivada pela dimensão econômica está presente no

mundo inteiro. A mídia noticia frequentemente a migração africana para o

continente europeu entrando pelo Sul do continente (Itália) em busca de uma

vida melhor, de melhores oportunidades. Na América do Sul um fenômeno

migratório mais evidente é o dos haitianos. Sua presença já é marcante no

Oeste do Paraná. O Haiti foi atingido, em 2010, por um terremoto que

devastou aquele país e deixou muitas famílias sem casa e sem trabalho. Hoje

eles procuram uma nova oportunidade de emprego fora do seu país.

Na segunda metade do século XX o Oeste do Paraná era visto como

uma região de oportunidade. Configurava-se como terra fértil para a prática

da agricultura e propícia para diversas culturas, além da possibilidade da

continuação da extração da madeira que era abundante e outra fonte

promissora de riqueza, embora pouco habitada. Por isso, nessa mesma

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época, muitas famílias, principalmente do Rio Grande do Sul e Santa

Catarina, vieram para desbravar esta região e buscar uma oportunidade de

riqueza. Com a presença dos colonizadores outras atividades econômicas se

fizeram necessárias como o comércio, a pecuária a suinocultura. As serrarias

foram outro negócio gerador de renda e produção de riqueza. Depois ainda

muitas outras atividades econômicas foram fontes geradoras de renda e lucro,

surgindo ao longo das seis décadas no Oeste do Estado. Nas últimas duas

décadas a industrialização da região foi se tornando uma atração e gerando

uma afluência de pessoas de diversas regiões do país bem como de outros

países que se tornaram uma opção na busca de oportunidade de uma vida

melhor.

O migrante pode buscar trabalho como também pode trazer seu

trabalho quando o local ou região onde ele se estabelece está carente do

serviço que ele oferece.

5. Dimensão política das migrações

Quando, no século XV, os portugueses ocuparam as terras do qual se

formou o atual território brasileiro o governo de Portugal organizou um

sistema de controle para defender as terras conquistadas das ameaças de

invasão por outros povos incentivando a vinda de cidadãos do seu país para

participar do processo de colonização deste território.

Este breve recorte histórico que caracteriza a introdução do Brasil no

contexto da modernização aponta para a dimensão política da questão

migratória. Outro exemplo é num período bem mais próximo, a meta de

Juscelino Kubistchek em construir uma nova capital para o país no planalto

central do território brasileiro e cujo sonho começou a se concretizar com a

sanção da lei nº 2.874, que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital

(Novacap) em 19 de Setembro de 195617 e teve seu auge com a inauguração

da nova capital, Brasília em 21 de Abril de 1960. Este ato político gerou

afluência de muita gente para o local desde o início das obras. Operários,

engenheiros, políticos, líderes religiosos, pessoas de diversas categorias

17

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Brasilia/Construcao (Consultado dia 20/11/13).

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sociais se deslocaram e continuam migrando para a capital ou seus arredores

ou dela/deles saem para outro destino.

A colonização do Oeste do Paraná está situada no contexto da

campanha da “Marcha para o Oeste”, uma meta do Governo Federal, do

período do Estado Novo, quando Getúlio Vargas era presidente da república,

de ocupar, povoar e proteger as fronteiras no Oeste brasileiro.18 Várias

colonizadoras iniciaram a venda de terras no Oeste do Paraná, e que levou

ao povoamento da região em poucas décadas. O governo do Paraná, na

gestão política de Moisés Lupion, doou para as dioceses de Jacarezinho,

Palmas e Toledo uma região no Oeste do Estado, para que elas

promovessem sua colonização. Esta área foi colonizada pela Sociedade de

Incremento à propriedade Agrícola Ltda – SIPAL, mandatária das dioceses

acima citadas. (Klauck 2004 p.10) e atualmente corresponde ao município de

Missal.

Para o incremento da região, os governos municipais no Oeste do

Paraná procuraram atrair indústrias através de incentivos fiscais e ou

concessão de terrenos onde se estabeleciam as empresas que podiam vir de

fora ou resultar de uma iniciativa local. Este fato gerava a afluência de

trabalhadores que chegaram e continuam chegando em busca de

oportunidade de emprego.

Não poderia deixar de destacar que a construção da Usina de Itaipu, a

partir da década de 1980, forçou o deslocamento de centenas de famílias em

toda extensão do lago, de Foz do Iguaçu até Guaíra. Bem como a construção

de usinas hidrelétricas ao longo do rio Iguaçu também forçou e força a

migração de muitas famílias.

A formação do Lago de Itaipu e dos balneários levou os municípios

lindeiros a adotarem uma intensa campanha para atrair turistas. Sendo que

alguns acabaram se estabelecendo no local. Esta propaganda também atraiu

aqueles que viram no turismo uma oportunidade de abrir ou expandir seu

negócio.

A ausência de uma política efetiva de geração de empregos por parte

dos governos nas esferas federal, estadual e municipal é razão que leva a

18

Klauck, Samuel. Gleba dos Bispos. Colonização no Oeste do Paraná. Uma experiência católica de ação social. Porto Alegre: Est, 2004, p.11.

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população a se deslocar de um espaço para outro. A região Oeste do Paraná

é marcada pela atividade informal dos chamados muambeiros ou sacoleiros

oriundos de todas as regiões do país para realização da referida atividade

com fins de ganhar seu sustento. Estas ações políticas ou de sua inexistência

incitam o deslocamento da população de um local para outro.

6. Dimensão religiosa das migrações

A migração do ser humano está intimamente relacionada com a

religiosidade bem como as outras dimensões que lhe são afetas. Não é

possível dissociar a migração do homem e da mulher da religião, pois a

religiosidade é algo intrínseco a cada pessoa. Já o êxodo hebraico que

caracteriza a emigração daquele povo do Egito possuía uma motivação

religiosa, pois para este povo romper com o jugo da escravidão se

configurava como uma expressão da vontade de Deus. De acordo com o livro

do Êxodo (3,1- 4,17) Deus teria chamado Moisés para liderar a saída do povo

hebreu do Egito.19

Jesus Cristo, o fundador do cristianismo, fez a experiência da migração.

Ele nasceu em Belém, na Judeia ( Mt 2,1),20 estabeleceu-se por um período

no Egito por causa das ameaças de Herodes (Mt 2,13-15)21, morou em

Nazaré, da Galileia, (Mt 2,23)22 e durante sua vida pública peregrinou por toda

Palestina. Os líderes das primeiras comunidades cristãs migraram, exemplo

disso são os apóstolos Pedro e Paulo. Este viajava e fundava comunidades

por toda Ásia Menor. Ambos foram para Roma onde sofreram o martírio e até

hoje seus túmulos lá se encontram. Acredita-se que o apóstolo Tiago teria

chegado até a Espanha.

A diáspora, dispersão dos judeus pelo mundo, no Século I, propagou

rapidamente a religião judaica pelo mundo. A ação migratória também se

expressa no islamismo por ocasião da fuga de Maomé de Meca para Medina

no século VIII.

19

BÍBLIA SAGRADA: Edição Pastoral. Paulinas, São Paulo, 1993, p.72- 73. 20

Ibidem, p.1239. 21

Ibidem, p.1240. 22

Ibidem, p.1240.

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No século XVI, com a reforma protestante que marcou a Europa, os

deslocamentos da população, para fugir das perseguições religiosas, eram

frequentes. Quando na Inglaterra, com Henrique VIII, se fundou o

Anglicanismo muita gente migrou para América do Norte em busca de um

lugar mais seguro onde podia gozar da liberdade de viver sua crença. Calvino

fugiu da perseguição religiosa da França e se estabeleceu em Genebra, na

Suíça. Quando os portugueses resolveram tomar posse do território que

formou a nação brasileira a Igreja Católica impelida pela sua vocação

missionária também enviou padres para que dessem assistência religiosa aos

colonizadores e iniciassem um trabalho de catequização dos nativos para

convertê-los ao cristianismo. Os indígenas tinham sua religião, a nativa. Com

o tráfico negreiro os africanos trouxeram outras crenças. Mas a religião oficial

do Brasil seria o catolicismo, sendo vedado o culto público das outras

tradições religiosas. Com a proclamação da república em 1889 e a primeira

constituição republicana, o catolicismo deixou de ser a religião oficial do

governo. Lideranças de outras tradições religiosas começaram a fundar suas

igrejas para reunir seus fiéis para o culto público.

A vinda de outras tradições religiosas ou sua fundação foi mais

perceptível a partir da década de 1970 quando do auge da colonização do

Oeste do Paraná. Com a vinda dos colonos a Igreja Católica também se

preocupou em dar assistência religiosa aos fiéis que se estabeleciam na

região. Quando nascia uma nova comunidade já se reservava uma área para

construção da capela onde os fiéis se reuniam para os cultos dirigidos por

lideranças leigas supervisionadas por um padre que fazia visitas periódicas

com a celebração da missa. Outras lideranças, não católicas, também foram

se estabelecendo nesta região para assistir seus fiéis. As famílias procuravam

se estabelecer considerando a possibilidade de acesso ao culto da sua

tradição religiosa. Assim formaram-se alguns núcleos onde a presença de

evangélicos hoje é bem visível como é o caso de Marechal Cândido Rondon,

Nova Santa Rosa e Vila Nova, no município de Toledo. Já no município de

Missal, onde a Igreja Católica foi protagonista da colonização, formou-se um

núcleo com uma presença marcante de católicos. Os seguidores do

Islamismo se concentram mais na cidade de Foz do Iguaçu onde também se

registra a presença de um grande número de budistas porque ali se encontra

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um templo onde residem seus monges para prestarem um serviço aos

seguidores da sua doutrina. Mais recentemente os anglicanos também se

estabeleceram em Foz do Iguaçu. Nas últimas décadas inúmeras tradições

religiosas se estabeleceram na região Oeste do Paraná e multiplicam suas

igrejas motivadas pelo ideal da missão, bem como, visando arrebanhar fiéis

para seu grupo religioso.

A afluência de várias tradições religiosas para o Oeste o Paraná com

formas distintas de expressão da sua religiosidade e viver sua fé dá uma

matiz multirreligiosa e multicultural a esta região. Alguns elementos culturais

trazidos pela religiosidade dos (i) migrantes podem ser assimilados pela

cultura local bem como a cultura religiosa local pode influenciar as tradições

religiosas que chegam. Elementos comuns entre as religiões as aproximam a

ponto de realizarem celebrações conjuntas, as ecumênicas. A presença de

uma nova tradição religiosa torna-se uma oportunidade de conhecer uma

religião diferente e não raras vezes leva a pessoa a uma migração religiosa,

ou seja, sai da sua religião e ingressa em outra. Acontece também que

alguns, por conveniência, ora frequentam uma tradição religiosa, ora

frequentam outra.

7. O êxodo hebraico

O episódio do êxodo hebraico está inserido na história do povo hebreu.

Segundo este fato histórico, que marcou a experiência de emigração desse

povo, é perceptível as dimensões econômica, política, cultural, geográfica,

temporal e notadamente a religiosa.

Para compreendermos o êxodo precisamos retomar alguns fatos da

história do povo hebreu que o antecederam. Estes fatos estão registrados no

primeiro livro da Bíblia que é o Gênesis. Este livro foi escrito enfatizando a

dimensão histórica e serve como uma fonte documental cujo texto contribui

para a compreensão deste processo migratório.

A opressão dos hebreus no Egito ocasionou revoltas e resistências

organizadas por parte dos oprimidos. Conforme Schwantes, o êxodo hebraico

é uma evidência da organização deste povo contra a opressão

(SCHWANTES, 2008, P 96).

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Pouco a pouco os hebreus oprimidos no Egito foram se organizando

para sair daquele império. Conforme o texto bíblico, a saída dos hebreus do

território egípcio e sua libertação da opressão são atribuídas a Javé, e é isso

que dá ao episódio uma conotação religiosa. Para isso Deus chamou Moisés

e o enviou para libertar seu povo do sofrimento da escravidão. Segundo o

texto sagrado, no diálogo do chamado, Javé disse a Moisés:

Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios e para fazê-lo subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel, o território dos cananeus, heteus, amorreus, ferezeus, heveus e jebuseus. O clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e eu estou vendo a opressão com que os egípcios os atormentam. Por isso, vá. Eu envio você ao Faraó, para tirar do Egito o meu povo, os filhos de Israel. (Ex 3,7-10)23

O recorte histórico que faz referência à saída do povo hebreu

configura-se como o elemento central e inspirador deste artigo. Partindo da

documentação histórica registrada na Bíblia e a partir da contribuição da

reflexão teológica é possível lançar um olhar historiográfico e perceber

naquele contexto humano como se construíram as relações políticas: a

prática da opressão exercida sobre um grupo; as relações econômicas: o

trabalho forçado e o sistema de escravidão estabelecido; as relações sociais:

o desrespeito à condição humana fazendo com que esta situação os levasse

a se organizar para fugir; as relações geográficas e temporais: para superar

este quadro opressivo articula-se o deslocamento, saindo do espaço territorial

que está sobre o domínio do poder egípcio. O distanciamento cronológico,

que ultrapassa três milênios, expressa o aspecto temporal de um episódio

que a memória registrada permite uma profunda reflexão; e por fim as

relações religiosas: todo o processo migratório considerando a situação que

antecede, bem como a experiência efetiva do deslocamento e o contexto

posterior à migração é construído a partir de um campo representativo e

simbólico muito vinculado à religiosidade que se configura como elemento

encorajador, motivacional e de construção de sentido a esta experiência

radical que beira o caos, projetando uma dimensão suportável que vislumbra

a possibilidade de romper com a opressão e construir a liberdade. A

dimensão religiosa dá sentido a essa experiência.

23

BÍBLIA SAGRADA: Edição Pastoral. Paulinas, São Paulo, 1993, p.72.

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A história do povo hebreu marca um episódio cronologicamente muito

distante. De tempos em tempos registram-se, com frequência, êxodos, e isso

remete a pensar a experiência de êxodos mais recentes e, em particular,

aquela que envolve a história de cada aluno.

8. Experiência com alunos

Durante a terceira etapa do PDE foi implementada a Produção Didática

Pedagógica com os alunos. Foram ministradas 32 aulas de Fevereiro a Junho

de 2014. Durante as aulas os alunos estudaram o conceito de migração, as

dimensões geográfica, temporal, cultural, econômica, política, religiosa das

migrações e o êxodo hebraico. As aulas foram expositivas e com debates.

Algumas foram ministradas no horário normal porque os conteúdos estavam

no planejamento, outras foram ministradas no contra turno. No primeiro

momento a participação foi total, mas no contra turno houve algumas

desistências porque alguns alunos trabalhavam, outros não tinham transporte

ou porque os pais não permitiam a participação. No decorrer do estudo

teórico os alunos realizaram pesquisa com seus familiares sobre o processo

migratório. Foram distribuídas 71 fichas de pesquisa migratória para 37

alunos. Destes, 22 alunos devolveram 56 fichas com a pesquisa realizada. À

primeira pergunta que dizia respeito à motivação da migração 3,5% não

responderam, 64,2% responderam que a dimensão econômica motivou sua

migração, 3,5% responderam que migraram por questão humanitária, 3,5%

migrou por causa do clima, 3,5% migraram motivados pela dimensão cultural,

5,3% migraram por causa das dimensões econômica e humanitária

simultaneamente, 8,9% migraram por razão social e 7,1% migraram por

outras razões, entre elas acompanhar seus responsáveis ou em busca da

realização dos seus sonhos. Perguntados se tem alguma fotografia do local

de saída ou da viagem migratória 66% responderam que não possuem e 34%

tem fotografia. Questionados sobre que lembranças possuíam antes da saída,

alguns responderam que não tinham lembranças, outros responderam que se

lembravam dos rios, sítios, casas, do clima frio, da serra, dos pinhais, das

matas, das terras, dos amigos, da comunidade, da igreja, da cidade, das

plantações, da família, dos parentes, das estradas de chão, dos shoppings,

dos parques, dos museus, dos vizinhos, da cultura alemã, do jardim, dos

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registros fotográficos, das brincadeiras, da colheita do café, dos cafezais, das

vestimentas simples, dos trabalhos, da violência, da infância, dos potreiros,

dos prédios, dos carros, do trabalho, dos colegas de trabalho, da terra

vermelha. Sobre a pergunta “que lembranças possui do período de

deslocamento?” alguns responderam que não tinham nenhuma lembrança,

outros se lembravam das cidadezinhas, da balsa para atravessar rios, das

estradas de chão, do dia ensolarado, da noite chuvosa com raios, da sede

que passou, das estradas esburacadas, da demora, dos rios, das tradições

gauchescas, da não violência, da distância, do asfalto, do cachorro que vinha

na mudança, do parque nacional, da chegada a Medianeira, do cansaço da

viagem demorada, das paisagens, do algodão, das árvores, dos carros, da

primeira viagem de avião, das pessoas de outros países, da infância, dos

amigos, do medo de não se acostumar com o lugar, dos acessos difíceis, da

adaptação, da felicidade, das casas, da despedida, das paradas, do calor. À

questão “Quais dificuldades encontradas no processo migratório?” os

entrevistados responderam: discussões familiares, construção da casa, o fato

de não conhecer ninguém, dificuldades financeiras, a incerteza, o trabalho, a

cultura diferente, a adaptação, as más estradas, a distância, a transferência

da documentação, a moradia, a falta de emprego, o caminhão que quebrou

na viagem e a espera de um dia para consertá-lo, a distância da família, o fato

de sair da própria casa para ir morar de aluguel, o desconhecimento do local,

a escassez da alimentação, a falta de sal para temperar comida, a ausência

de estradas no meio do mato, andar pelas picadas, a locomoção era difícil, a

falta de estudo, o fato de ter que abandonar a escola, os amigos, a cidade, a

mudança de clima, o preconceito, a dificuldade de vender a produção. Sobre

a questão “você é: migrante? Imigrante? Autóctone?” 57,1% responderam

que são migrantes, 23,2% responderam que são imigrantes e 19,6%

responderam que são autóctones. À pergunta você já emigrou? 69,6%

responderam que nunca emigraram, 1,7% não responderam e 28,5%

responderam que já emigraram. Neste caso os países de destino citados

foram Inglaterra, Paraguai, Bolívia e Argentina. À pergunta “Encontrou

dificuldades nos estudos? Quais?” 58,9% responderam que não tiveram

dificuldades, 5,3 % não responderam e 35,7% responderam que tiveram

dificuldades e entre estas citaram as diferenças de ensino, a distância da

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escola, a reprovação, a interrupção do estudo, a ausência do transporte

escolar, o ensino fraco, o recomeço dos estudos e a adaptação com

professores e colegas.

Socializou-se em sala de aula com alguns alunos a experiência

individual da migração.

9. Experiência com o Grupo de Estudos em Rede (GTR)

O Grupo de Trabalho em Rede foi muito enriquecedor no trabalho

de pesquisa no PDE pois contou com a participação significativa do grupo de

professores que confirmou a importância da pesquisa realizada. Segundo

alguns participantes a pesquisa é multidisciplinar e pouco explorada nas

escolas. Para outros o estudo da história religiosa dos hebreus poderá nos

ajudar a entender nossa própria história. Este povo da antiguidade nos legou

a herança cultural do monoteísmo e da Bíblia (Antigo Testamento). Era um

povo que migrou em busca de melhores condições de vida e suas conquistas

foram lentas assim como as conquistas na atualidade também são lentas.

Segundo os professores quanto à interferência das migrações no

ensino aprendizagem é preciso considerar que os alunos, muitas vezes,

encontram dificuldades na integração com o grupo do destino de sua

migração. Ela às vezes é conflituosa e requer mediação de professores e da

equipe da direção na adaptação do educando à nova realidade. Quando a

migração é de um país para outro as diferenças se acentuam e a adaptação

se torna mais difícil. A cultura que o aluno traz pode ser enriquecedora para a

comunidade escolar que o acolhe. Os professores confirmaram que o

conteúdo da pesquisa é apropriado para o 1° ano do ensino médio; pode ser

utilizado para estudo sobre os hebreus; está relacionado com a vida dos

alunos; é uma reflexão sobre a problemática da migração; pode levar a refletir

sobre outras problemáticas causadas pela migração na história da

humanidade; suscita memórias, sentimentos, afetos; possibilita traçar um

paralelo entre a migração do povo hebreu e da dos alunos ou da de seus

familiares; possibilita refletir o histórico das migrações dos educandos bem

como da de seus familiares; interage com a família do aluno.

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Alguns professores relataram experiências vividas na prática do ensino sobre

o tema migrações e testemunharam que os alunos superaram preconceitos e

compreenderam a importância da acolhida dos migrantes.

No GTR registrou-se algumas dificuldades, pois nem sempre o

sistema possibilitava conecção e o prazo para conclusão do trabalho tinha

data fixa e sem possibilidade de alteração. Alguns professores desistiram ao

longo do curso outros esperavam para postar suas atividades no final do

prazo do curso.

Orientações metodológicas

A Produção Didático-Pedagógica foi apresentada aos professores,

pedagogos e direção do Colégio Estadual Belo Horizonte durante semana

pedagógica no início do ano letivo de 2014. No começo das aulas os alunos

da aplicação desta Produção Didático-Pedagógica foram informados da

metodologia do trabalho. No total foram trabalhadas 64 horas, sendo que em

sala de aula foram trabalhadas 32 horas e mais 32 horas foram trabalhadas

extra classe em forma de pesquisa e trabalhos sobre os temas estudados. A

forma de trabalho realizou-se através de aulas expositivas, debates

comparativos, pesquisa sobre a migração dos alunos e ou de seus

antepassados. Foram encaminhadas tarefas sobre os conteúdos estudados.

Para isto usou-se de meios tecnológicos, como data-show, notebook, tv

multimídia, além de mapas, quadro e pincéis. Os alunos foram avaliados

sobre os temas estudados. Foi articulada a possibilidade de divulgação e

socialização das experiências realizadas nas atividades propostas.

Na conclusão da implementação do Projeto Didático-Pedagógico

realizou-se uma avaliação com os alunos. Nela os alunos disseram que os

conteúdos estudados contribuíram para enriquecer seu conhecimento sobre o

processo migratório. Alguns disseram que o processo migratório pode

dificultar a aprendizagem, já para outros facilitava o processo de

aprendizagem. Outros disseram ainda que o processo migratório não

interferia no processo de aprendizagem.

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Conclusão

As conclusões são apresentadas a partir da pesquisa realizada e das

possibilidade que ela expressa, por isso não são absolutas. Farei conclusões

a partir da pesquisa realizada e do que ela me possibilita. Outras

possibilidades de pesquisas poderão levar a outras conclusões.

O “êxodo hebraico” pode ser relacionado com a questão migratória dos

alunos e da de seus familiares mesmo sendo um assunto de um período

cronologicamente muito distante (aproximadamente 1200 a.C.), pois o

processo migratório perpassa toda a história da humanidade até os dias

atuais e tem em comum as dimensões cultural, política, social, religiosa e

humanitária. Este processo implica no desinstalar-se, em sair de um lugar

para outro e pode significar conquistas de liberdade, dos objetivos propostos,

de melhores condições de vida. O migrante leva sua cultura para o destino da

sua migração, mas também assimila a cultura local do seu destino. A

influência cultural é recíproca. A migração dos alunos das escolas é uma

realidade. Em alguns casos influencia na aprendizagem. Alunos transferidos

podem encontrar dificuldades na adaptação com os professores da escola do

destino de sua migração o que pode levar à reprovação, gerar interrupção ou

desistência dos estudos. Em outros casos não influencia conforme dados

colhidos na pesquisa migratória. Os alunos, muitas vezes, encontram

dificuldades na integração com o grupo do destino de sua migração. Ela às

vezes é conflituosa e requer mediação de professores e da equipe da direção

na adaptação do educando à nova realidade. A pesquisa, realizada com

alunos e seus familiares, mostrou que o processo migratório suscita

memórias, sentimentos e afetos. Ele exige planejamento e organização. E

muitas vezes é acompanhado de grandes desafios, muitas lutas e

sofrimentos.

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Referências

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Sites

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9. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pagode_(estilo_musical). (Consultado dia 20/11/13)

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