Reflexões sobre um homem doente

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REFLEXÕES E POESIA

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REFLEXÕES SOBRE UM HOMEM DOENTE

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WILSON LUQUES COSTA

3

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PRIMEIRA EDIÇÃO

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2013

5

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SÃO PAULO

BRASIL

2013

6

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Quando a cidade acorda

o homem doente dorme,

mas quando a cidade dorme

o homem doente também

dorme.

7

7

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A dor é o sinal vital

do homem doente.

8

8

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Basta de louros!

O homem doente

já é reconhecido

pela sua própria dor.

9

9

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O

homem sadio inveja

a

saúde do

homem doente

mas o homem doente

não inveja a doença

do homem sadio.

10

10

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Quem

Inventou

O

infinito

foi

o

homem

doente

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Não há placebo

drágea

o homem doente é

assintomático

sofre de ausência de vida

12

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uma premissa

infundada

ou

oriunda

da indução

´todo homem é mortal´

paradoxo

de

karl popper

ou verificabilidade

de carnap

13

13

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o homem sadio é

muitas vezes

solidário

ao solitário

homem doente

porque não se deve

contrariar

o Princípio

da Identidade

14

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o homem

doente

caminha

lentamente

porque sabe

aonde

não

quer

chegar

15

15

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O homem doente

Inventa vocábulos

para suportar a

dor distorce

a sintaxe

da vida

16

16

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O homem doente

não tem

passado

nem futuro.

O homem

doente

é

contemporâneo

da

sua

própria

dor.

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O homem sadio aspira

à eternidade

já o homem doente

a rejeita

mesmo

estando

junto a ela

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o mundo

do homem

doente

é um

outro mundo

19

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O homem doente olha, olha, olha...

E por fim não nos diz nada.

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A reflexão de um

homem doente

é um pensamento

sadio

21

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O homem sadio faz greve

Para comer

o homem doente faz

greve para viver

22

22

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O homem sadio faz greve

Vez em quando

O homem doente está consigo

E com os outros em greve constante

23

23

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O homem sadio

possui desígnios

O homem doente

aceita os seus

24

24

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Para o homem sadio

a sua cidade

é o seu nosocômio

Para o homem doente

o seu nosocômio

é a sua cidade

25

25

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O homem sadio

corre atrás da fortuna

O homem doente

lamenta a sua

26

26

26

O homem sadio

quer mudar

o mundo

O homem doente quer do mundo

mudar

27

27

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O homem sadio é

guloso

O homem doente é

generoso

28

28

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O homem doente

Não tem curador.

29

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no hospital

o homem doente

vê o seu destino

cavalgar sobre

os outros ombros

dos outros

homens doentes.

30

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o homem sadio é racional

o homem doente é cordial

só não o é

com a sua própria morte.

31

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A verdadeira filosofia

necessita da solidão

dos enfermos.

32

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É necessário ser um homem doente

para se tornar um filósofo.

Só a um homem doente

é permitido

o silêncio filosófico.

33

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No olhar

do homem

doente

uma

névoa

Um tipo

de

catarata

anêmica

Um

verde

azul

Glauco

34

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Em

Seus

ouvidos

brotam

tufos

de

pêlos

lembrando

Ulisses

Diante

Do

perigo

35

35

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O homem

doente

é uma

espécie

de Odisseu

encapelado

Um

Borges

Tirésias

Milton

Soçobra

em

mares

estranhos

o

homem

doente

36

36

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Poeta

Da

morte

Poeta

Da

vida

37

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o

homem

doente

38

38

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Para

o

homem

doente

a

vida

é

uma

enfermidade.

39

39

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O

futuro

do

homem

doente

é

o

hoje.

O

homem

doente

transcende

a

lei

de

espaço e tempo.

40

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O homem sadio é um homem doente, portanto o homem doente

é um homem sadio.

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Trair-nos com os homens sadios é uma característica das cortesãs,

bem como das enfermidades.

42

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A vida só pode ser amada por um homem doente, mas também

desprezada.

43

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O homem

doente é aquele

que tem

uma

esperança

desesperada.

44

44

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A diferença

entre um homem

doente e um homem

sadio é o homem.

45

45

45

É necessário ser

um homem doente

para se tornar um filósofo.

Só a um homem doente

é permitido

o silêncio

filosófico.

46

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O

homem

doente

está

no seu leito

sozinho

ele fala

ninguém

escuta

ele

escreve

ninguém lê

o homem doente sofre

de

solipsismo imposto

e

autoimposto

47

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O homem doente

está doente

(tem catarata)

mas vê

coisas que

nem ele

quer ver.

48

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O homem

sadio tem um pensamento

doente

que a sociedade

considera sadio

já o homem doente

tem um pensamento

sadio

que a mesma

sociedade

considera doente´

49

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O homem sadio escreve

para ampliar

a sua memória -- já o homem doente

escreve

para diminuir a sua

50

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o homem sadio é amigo

dos seus

amigos

o homem

doente é amigo

da sua dor

51

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o homem sadio

move-se

para dentro

de sua cidade

52

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o homem

doente

também

se

move

53

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que

Para

dentro

de si

54

54

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o

homem

sadio

é

elétrico

55

55

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o

homem

doente

é

neutro

56

56

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o

homem

sadio

passa

pela

sua

cidade

57

57

57

o

homem

doente

permanece

na sua

58

58

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o

homem

sadio

é

prisioneiro

e

não

aspira

à

liberdade

59

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O

homem

doente

é

liberto

e

não

aspira

à

sua

prisão

60

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O

homem

sadio

tornar-se-á

um

dia

também

um homem doente

mas não

um homem

doente

sadio

61

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O homem doente

quando quer

dizer tudo

diz tudo

pelo silêncio

O homem sadio

quando

não quer dizer

nada

diz nada

pela retórica

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O homem

sadio

discursa

pelo

discurso

O homem doente

discursa

pelo

silêncio

63

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A

retórica

do

homem

doente

é

o

silencio

64

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FIM

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