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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Revista LiterAusten
Estudos, pesquisas e ensaios dedicados ao legado da
romancista inglesa
Número 02, 2o Semestre de 2017
ISSN 2526-9739
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Jane Austen Sociedade do Brasil
Revista LiterAusten – 2017 – Volume 02
ISSN 2526-9739
Publicação Semestral da JASBRA
https://janeaustenbrasil.com.br/literausten/
adriana@jasbra.com.br
Imagem da capa e contra-capa: manuscrito de Lady Susan (fundo) e
aquarela inacabada de Jane Austen, feita por sua irmã Cassandra Austen
Presidente
Adriana dos Santos Sales
Vice-Presidente
Cláudia Suzana Cristino
Corpo Editorial
Adriana dos Santos Sales
Fábio Paiva Reis
Marcelle Santos Vieira Salles
Pareceristas ad hoc
Adriana dos Santos Sales (UFMG/CEFET-MG)
Cláudia Suzana Cristino (UFOP)
Fábio Paiva Reis (Universidade do Minho, Portugal)
Flávia Luciene Azevedo Oliveira Lima (UEMG)
Lilian dos Anjos Afonso (UFPB)
Maria Clara P. Biajoli (UNICAMP)
Marcelle Santos Vieira Salles (JASBRA)
Rosângela Neres (UEPB)
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Revista LiterAusten
Rua Francisco Bicalho, 222 / 201
Padre Eustáquio 30.720-412
Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil
adriana@jasbra.com.br
Volume 02 - 2o Semestre de 2017
ISSN 2526-9739
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
APRESENTAÇÃO
A Revista LiterAusten tem como objetivo, publicar os artigos dos
Encontros Nacionais da Jane Austen Sociedade do Brasil, assim como
publicações de pesquisadores nacionais e internacionais a respeito da
escritora inglesa Jane Austen.
Esta Revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo
o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento ao
público proporciona maior democratização mundial do conhecimento.
A publicação é semestral e aceita artigos em fluxo contínuo.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
MENSAGEM DA PRESIDENTE
A segunda edição da revista LiterAusten é fruto de mais uma
conquista da Jane Austen Sociedade do Brasil em oferecer reflexões e
pesquisas sobre Jane Austen e suas obras. É com muita satisfação que
apresentamos os trabalhos aqui publicados e desejo à todos uma ótima
leitura.
Vida longa à LiterAusten!
Adriana dos Santos Sales
MENSAGEM DOS EDITORES
Temos como missão disseminar com seriedade e dedicação a obra da
escritora inglesa Jane Austen e, este propósito, tem vida e nome:
LiterAusten!
Este 2o Volume, traz artigos inéditos e outros já publicados em anais
de congressos e demais veículos de propagação digital.
Desejamos que a leitura seja proveitosa e que a mente e genialidade de
Austen sejam atributos cada vez mais reconhecidos entre os amantes
da literatura.
Adriana dos Santos Sales
Fábio Paiva Reis
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
SUMÁRIO
OPINIÃO
AMOR E MITO
(Lúcia Helena Galvão Maya) .................................................................................................. 07
ARTIGOS
JANE AUSTEN CIRCULANDO NO BRASIL NO SÉCULO XIX
(Adriana dos Santos Sales) ..................................................................................................... 10
QUEM RI POR ÚLTIMO, RI MELHOR: A PARÓDIA PÓSTUMA DE JANE
AUSTEN
(Kathia Brienza Badini Marulli) ............................................................................................. 21
O PODER DO CASTING
(Moira Biachi; Schirlei Rickli; Luciana Araújo) .................................................................... 32
ESTÉTICA DA RECEPÇÃO EM SALA DE AULA: JANE AUSTEN, FILME E
OBRAS EM ANÁLISE
(Rosiane Maria Gusberti Franke) ............................................................................................ 52
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
AMOR E MITO
Lúcia Helena Galvão Maya
1
Nestes dias, encontrei, por acaso, o conhecido quadro “Independência ou Morte”, do
pintor Pedro Américo e, com essa mania que os filósofos têm de querer refletir sobre tudo,
comecei a pensar sobre a cena. Todos sabem que havia um jogo de interesses por trás, que a
cena já havia sido “encomendada” por D. João VI antes de partir, e que aquele príncipe não
era lá o que se poderia chamar de um primor de moral. Mas, diante desta bela obra, todas
estas coisas se desvalorizam, e nasce o mito: um príncipe, um dia, sacou de sua espada e
declarou, em alto e bom tom, que os filhos desta terra (nós!) somos amantes da
independência, ou seja, da autonomia, da capacidade de nos impormos sobre as circunstâncias
adversas, e que só tememos a morte indigna. Se ele não era digno de dizê-lo, problema dele;
nós somos dignos de vivê-lo, e o tornamos real, através de nossas lutas diárias, às margens de
tantos “Ipirangas”, e sua espada corajosa e desafiadora é símbolo de nossa disposição ante as
dificuldades... e necessitamos deste símbolo.
Tantas vezes, Platão fala da necessidade do mito; tantos povos o souberam e
viveram, mas nós permanecemos indiferentes ante esta realidade, como crianças que se acham
muito maduras porque já não crêem em Papai Noel. Agora, crêem nos shoppings e no
dinheiro de seus pais... Que tipo de realidade estamos criando? Sim, porque, como sempre, a
realidade é criada pela imaginação dos homens, seja ela mítica ou não, e é ela que vai
concretizando os fatos.
Quando Jane Austen (já que é momento de confissões, quero deixar registrado que
amo Jane Austen!) mostra o seu famoso Sr. Darcy “impactado” por ter tocado a mão de
Elizabeth Bennet para ajudá-la a subir na carruagem, sentindo o leve perfume que restou da
mão dela em sua mão, sua intenção não era de mostrar um idiota que faz culto a uma jovem
nem tão nobre assim, cuja mão, dali a pouco, poderia estar cheirando a cebola. Trata-se do
mito da princesa, daquela cuja passagem perfuma o ar pela beleza e nobreza de suas ações e
1 Maya, Lúcia Helena Galvão: é professora da Nova Acrópole do Brasil, membro há 29 anos, além de diretora e
fundadora do Abrigo de crianças Nova Acrópole, em Valparaíso de Goiás. Atua como instrutora do curso regular
de Filosofia à Maneira. Possui mais de cem 150 palestras disponíveis no Canal de Nova Acrópole no YouTube,
com excelente repercussão. Mantém os blogs luciahga.blogspot.com.br e observações matinais.blogspot.com.br
e a página pública do facebook "Poesia filosófica da Profª Lucia Helena", com 85.000 curtidas.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
sentimentos. Isso não pode ser real? Alguém não pode buscar viver esse mito? Pode... e deve!
E como embeleza a vida!
Também nestes dias, eu lia um texto de alguém que dizia que, assim como o corpo
físico é parente da terra, a energia de nosso corpo é parente da água, e os sentimentos, da
mesma família do ar. Isso significa que, estimulados em sua natureza, os sentimentos tendem
a se elevar, a buscar as camadas mais rarefeitas da atmosfera. Não é certo tingi-los de terra;
isso os profana e descaracteriza.
O homem é sempre uma mistura “de um e do outro”, como diria Platão; é uma
escolha nossa o que vamos, não ignorar, mas, por pudor e amor a nós mesmos e ao outro,
ocultar e trabalhar secretamente, e o que vamos expor e o que vamos realçar, em nós e no
outro para ajudar a construir o mito, por exemplo, de um relacionamento. Se expusermos que
queremos exalar doces perfumes, ou um hálito de dignidade e nobreza, ou um rastro de
sobriedade e coerência, seremos príncipes e princesas, porque o sangue que corre em nossas
veias será, por definição, azul como o céu dos sentimentos que ele busca. E será porque o
queremos, e nada mais sólido e real do que a vontade humana, capaz de moldar a matéria do
mundo na forma que se empenhe em fazer, como tantas vezes nos demonstra a história.
E assim, os cavalheiros, já não mais simples homens - vencerão a inércia e abrirão caminhos,
e sua bravura não será predadora, pois os caminhos que abrirem serão cultivados por suas
damas - não apenas mulheres - com beleza e com vida. E matarão dragões, sobretudo o
dragão do egoísmo, pois o amor de suas damas não lhes permitirá que seu impulso atente
contra nada que é nobre e bom. E protegerão suas damas, sobretudo de si próprias, para que
sua imensa capacidade de amar não seja toda canalizada para coisas pequenas, limitadas ou
até fúteis, “sufocando” aqueles que a cercam de carência e sentimentos de posse e deixando
estéreis os caminhos do mundo. Que sociedade construiríamos, assim? Quem não gostaria de
viver nela?
Cervantes, no seu Dom Quixote, fala de um homem que acreditava nisso. E, para os
que pensavam que seu livro fosse uma simples sátira de costumes, deixa uma simbólica frase,
na portada de sua obra: “Após as trevas, espero a luz”. Sempre quis dizer a ele: estamos
tentando, querido Cervantes; estamos tentando ser luz, e distribuí-la por onde passamos, como
quixotes em pleno século XXI.
Amanhece, e saio para o trabalho. Não sou uma simples mulher, nem meu
companheiro, um simples homem: somos uma dama e um cavalheiro que saem para sua gesta
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
heroica; à noite, nos reuniremos em torno de nossa pequena “Távola Redonda”, e
compartilharemos nossos feitos, e saborearemos, mais que apenas alimentos físicos, a glória,
ou essa pequena parte dela a que fizemos jus. E imaginaremos formas de resgatar a grande
princesa, a humanidade, da fortaleza obscura onde não se permite sonhar, onde se encontra
prisioneira do dragão do materialismo. E assim será porque o queremos, e nada, nada há mais
real, neste mundo, que a imaginação e a vontade humana, ferramentas com que se constroem
realidades em todos os planos, e em todos os tempos.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
JANE AUSTEN CIRCULANDO NO BRASIL NO SÉCULO XIX
Adriana dos Santos Sales2
Apesar de Jane Austen hoje ser considerada um fenômeno literário global, as
primeiras traduções brasileiras só começaram a ser publicadas a partir da década de 40 do
século XX. Entretanto, existem registros de que traduções portuguesas de Austen já estavam à
disposição dos leitores brasileiros na cidade do Rio de Janeiro em meados de 1850.
Este artigo tem como objetivo fazer um levantamento das edições que circularam no
Brasil Império, com a finalidade de elucidar se as edições portuguesas estavam à disposição
dos leitores brasileiros, apesar de não existirem traduções de Jane Austen em português do
Brasil naquela época. Para alcançar esse objetivo, foi realizado um levantamento da primeira
edição portuguesa do livro ‘Persuasion’ de Jane Austen e posterior verificação da existência
de cópias dessa edição em três bibliotecas do Rio Janeiro. Conclui-se que essas cópias
existiram no Brasil, porém, não foi possível encontrar nem mesmo um exemplar
remanescente da obra. Entretanto, não podemos afirmar que apesar da oferta desses livros, os
brasileiros tinham contato com a obra de Jane Austen e eram seus admiradores e leitores,
tendo em vista que grande parte da população daquela época não sabia ler ou escrever. A
existência de obras da escritora na década de 1850 é um indício de que a autora tinha
apreciadores brasileiros, tendo em vista que a aquisição de livros naquela época estava
baseada na influência editorial francesa e também do público-leitor. Apesar de que apenas os
mais abastados e letrados é que possivelmente tiveram contato com esta obra da escritora.
As primeiras traduções para o português do Brasil foram publicadas a partir da década
de 1940. As traduções brasileiras não seguiram a ordem de publicação original da Inglaterra3.
Por iniciativa da Editora José Olympio, que desejava realizar traduções brasileiras e de
qualidade, optou-se por contratar tradutores e/ou escritores reconhecidos. Assim, esta editora
publicou o primeiro ‘Orgulho e Preconceito’ em 1940 com tradução de Lúcio Cardoso; em
2 Adriana dos Santos Sales é professora de Inglês no CEFET-MG, Doutoranda em Estudos Linguísticos na
Faculdade de Letras (UFMG) e Especialista em Jane Austen (Oxford University). E-mail: aszardini@gmail.com 3 Os livros de Jane Austen foram publicados nesta sequência temporal: Sense and Sensibility (1812), Pride and
Prejudice (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1816), Persuasion (1817) e Northanger Abbey (1817).
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
1942, ‘Mansfield Park’ com tradução de Raquel de Queiróz; e dois anos mais tarde, em 1944,
‘Razão e Sentimento’4
, com tradução de Dinah Silveira de Queiróz. Neste mesmo ano, a
editora Pan Americana publicou ‘A Abadia de Northanger’, com tradução de Lêdo Ivo. Anos
mais tarde, foi a vez de ‘Persuasão’ ser publicado em 1971 pela Editora Bruguera, com
tradução de Luiza Lobo. O último livro a receber uma versão de tradução brasileira foi
‘Emma’ em 1996, com tradução de Ivo Barroso e pela Editora Nova Fronteira.
Atualmente, as traduções brasileiras de Jane Austen seguem o fenômeno de
publicações em escalas cada vez maiores que começou a partir de 1995 com o sucesso da
exibição de ‘Orgulho e Preconceito’ pela BBC, na Inglaterra. Desde então, surgiu o
fenômeno conhecido como Austenmania, transformando a escritora e suas obras em marca
global, segundo afirma Todd (2013). Tal fenômeno é alimentado constantemente pelas novas
edições dos livros de Austen, pelas inúmeras adaptações para o cinema, televisão e Internet,
além de todo tipo de merchandising em torno da escritora.
Entretanto, muito pouco se sabe a respeito da circulação dos livros de Jane Austen em
território brasileiro provenientes de outros países. Ao procurar dados a respeito das
publicações brasileiras e portuguesas, foram encontradas pesquisas que relatam a circulação
de traduções portuguesas de Austen aqui no Brasil, a partir da década de 1850. A partir da
leitura de artigos sobre as traduções portuguesas em terras brasileiras, como as pesquisas de
Vasconcellos (2014; 2017); Rosa, Vicentini e Campos (2014) e Abreu (2011), foi possível
descobrir mais a respeito da circulação desses livros.
Nos anos de 1808 e 1821, entre os títulos enviados com mais frequência de Lisboa
para o Rio de Janeiro, “há 46% de obras compostas originalmente em francês, enquanto 30%
são de origem portuguesa” (ABREU, 2011, p. 122). Essa supremacia francesa é explicada por
Abreu (2011) não apenas por uma simples origem geográfica, mas também pelo gosto
literário que unia brasileiros e franceses. A autora afirma que há semelhança entre as obras
vendidas na França e aquelas enviadas ao Rio de Janeiro, entre os anos de 1808 e 1821.
Apesar das publicações de Austen em língua inglesa serem majoritárias, as traduções
francesas também apresentaram um número significativo de edições, principalmente se
compararmos com a inexistência de traduções brasileiras até a década de 1940. Os livros da
escritora foram publicados na Inglaterra em uma quantidade relevante entre os anos de 1811 e
1914 (ROSA; VICENTINI; CAMPOS, 2014). O gráfico 1 apresenta a quantidade de
4 No Brasil, há dois títulos para Sense and Sensibility: ‘Razão e Sentimento’ e ‘Razão e Sensibilidade’.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
publicações em língua inglesa no período entre 1811 e 1914. Segundo esses autores, a
quantidade elevada de publicações deve-se ao público-leitor, apesar de que a crítica
acadêmica da época não ter dado tanta credibilidade às obras da autora.
Gráfico 1: Edições em língua inglesa
Fonte: (ROSA; VICENTINI; CAMPOS, 2014, P. 252)
Já a França que também se destacava por ter um campo literário e o mais valorizado
da época, favoreceu também as publicações de traduções de Jane Austen. Nesta época, as
traduções de livros para o francês teve bastante êxito, o que influenciou também as traduções
em Portugal que posteriormente foram enviadas ao Brasil. Segundo Rosa, Vicentini e Campos
(2014, p. 253) “Austen obteve quinze edições de seus seis romances, e Orgulho e Preconceito
manteve-se como best-seller da autora”. O gráfico 2, apresenta as edições para a língua
francesa no mesmo período das edições inglesas (1811 a 1914).
Gráfico 2 – Edições em língua francesa
Fonte: (ROSA; VICENTINI; CAMPOS, 2014, P. 253)
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Ao analisar o gráfico 2, podemos observar que ‘Orgulho e Preconceito’ foi o título
que recebeu o maior número de edições, também em língua francesa. Ao longo de mais de
cem anos, desde a primeira edição em língua inglesa, Austen passou a ser traduzida em
território francês.
Isabelle de Montolieu traduziu ‘Razão e Sentimento’ em 1815, sob o título ‘Raison et
Sensibilité5’, ou ‘les Deux Manières d’aimer’. Em 1816, ‘Mansfield Park’ foi traduzido com
o título ‘Le Parc de Mansfield, ou lês Trois cousines’ por Henri Villemain; e ‘Emma’ recebeu
o título ‘La Nouvelle Emma ou lês caracteres anglais du siècle’, sem identificação do
tradutor.
Em 1821, ‘Orgulho e Preconceito’ recebeu a primeira tradução para o francês em 1822, sendo
que no ano seguinte foi publicada outra edição com um título diferente. A edição de 1821 de
‘Orgueil et Prévention’ com tradução de Éloïse Perks. E no ano seguinte, em 1822, sob o
título ‘Orgueil et Préjugé’ sem listar o nome do tradutor, segundo o site Wikiwand. Ainda em
1821, a versão francesa de ‘Persuasão’ foi publicada com o título 'La famille Elliot,
‘l'ancienne inclination', com a tradução de Isabelle de Montolieu. Por fim, em 1824, ‘A
Abadia de Northanger’ foi traduzido por Hyacinthe de Ferrières com o título ‘L’Abbaye de
Northanger’.
Como se pode constatar, ao longo de nove anos as seis obras principais de Austen já
haviam sido traduzidas na França. A influência francesa nesta época possivelmente
influenciou os tradutores portugueses. E, apesar de seus romances estarem disponíveis no
acervo da biblioteca ‘Rio de Janeiro British Subscription Library’ (VASCONCELLOS,
2014), existem registros de edições portuguesas de Jane Austen circulando no Brasil Império.
A primeira edição de Jane Austen para o português europeu foi ‘Persuasão’,
publicado em 1847, foi traduzido por Manuel Pinto Coelho Cota de Araújo e recebeu o título
de ‘A Família Elliot, ou a inclinação antiga’. Apesar de não haver indicação de que foi
traduzido a partir da versão francesa ‘La Famille Elliot, ou l'ancienne inclination’, “a
semelhança entre os dois textos não deixa dúvidas e confirma a informação no título da
página, bem abaixo do título, que a edição da Tipografia Rollandiana, publicada em Lisboa
em 1847, foi de fato traduzida do francês6” (VASCONCELLOS, 2017, p. 137). A figura 1
apresenta edição francesa de ‘Persuasão’ (1821), já que não foi possível encontrar a capa ou
5 Dados disponíveis no site<http://www.wikiwand.com/fr/Jane_Austen>. Acesso em: 05 de dezembro de 2017.
6 Tradução nossa: “The resemblance between the two latter texts leaves no room for doubt and confirms the
information on the title page, just below the title, that the edition by Tipografia Rollandiana, published in Lisbon
in 1847, was in fact translated from French (...)”
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
contracapa no formato digital ou algum exemplar nas bibliotecas cariocas: Real Gabinete
Português de Leitura e Biblioteca Nacional.
Figura 1 – La Famille Elliot
Fonte: Wikimedia Commons
Existem evidências de que o texto de Isabelle de Montolieu serviu de base para o
tradutor português, entre elas, segundo Vasconcelos (2017):
(...) as interjeições totalmente incorporadas no texto em português, a preservação das
alterações introduzidas na versão francesa, o tom adoçado, a linguagem
melodramática, a moderação da ironia, procedimentos adotados por Montolieu que
vai contra a reserva e a racionalidade da novelista inglesa (...)7. (VASCONCELOS,
2017, p. 137)
7 Tradução nossa: “(…) the interpolations fully incorporated into the text in Portuguese, the preservation of
alterations introduced into the French version, the sweetening of tone, the melodramatic language, the
moderation of irony, the very procedures adopted by Montolieu that go against the English novelist’s
characteristic reserve and rationality (…).
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Ao realizar a busca de dados a respeito desta tradução portuguesa foram encontrados
registros nos catálogos on-line da Biblioteca Fluminense (1852) e do Real Gabinete
Português de Leitura (1858). Sendo assim, é possível afirmar que os brasileiros, moradores da
cidade do Rio de Janeiro, tiveram acesso à obra de Austen já na década de 1850. A figura 2
mostra o livro disponível em formato de 2 volumes no catálogo da Biblioteca Fluminense
(1852). Coincidentemente, essa publicação no catálogo fluminense traz uma nota a respeito da
origem francesa da tradução.
Figura 2 – Catálogo da Biblioteca Fluminense
Fonte: Biblioteca Fluminense (1852)
Por sua vez, a figura 3 mostra o livro disponível em dois volumes no acervo do Real
Gabinete Português de Leitura (1858). Em uma visita pessoal ao Real Gabinete Português de
Leitura, não foi possível encontrar os dois volumes de ‘A Família Elliot’ e não há registro do
que houve com os livros para não estarem no acervo da biblioteca.
Figura 3 – Catálogo do Real Gabinete Português de Leitura
Fonte: Real Gabinete Portuguez De Leitura
Essa edição de 1847 também foi anunciada no Diário do Rio de Janeiro em 29 de
novembro e 19 de dezembro de 1854. A página do jornal contém um extrato do catálogo de
livros em português que se encontravam na Livraria B. L. Garnier, no Rio de Janeiro. Porém,
não há menção a respeito da escritora ou tradutor.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Figura 4 – Diário do Rio de Janeiro
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira
Os outros cinco livros de Austen só foram traduzidos em Portugal na década de 1940.
Os próximos quatro livros foram publicados pela Editora Inquérito: ‘Razão e Sentimento’ foi
publicado em 1943, com tradução de Berta Mendes; ‘Orgulho e Preconceito’, em 1943, com
tradução de Ersílio Cardoso e Álvaro Souza; ‘O Parque de Mansfield’, em 1943, traduzido
por Ainda Amélia Pêra; e, ‘Ema’, traduzido por José Pereira Alves em 1944. Em 1943 a
Editora Portugália publica ‘A Abadia de Northanger’, com tradução de Madalena Donas-
Bôtto. A primeira edição portuguesa de ‘Persuasão’ com base na versão original em inglês,
foi publicada pela Editora Romano Torres em 1944, sob o título ‘Sangue Azul’ e tradução de
Leyguarda Ferreira.
O quadro abaixo estabelece uma comparação de datas entre as publicações originais
de Jane Austen e as primeiras as traduções francesas, portuguesas e brasileiras. De um modo
geral, as traduções francesas saíram na dianteira das traduções ao publicarem num espaço de
nove anos, todos os livros de Jane Austen, ainda no século XIX. Por outro lado, Portugal
concentrou suas traduções na década de 1940, em um espaço de apenas dois anos. No Brasil,
apesar de quatro livros terem sido publicados também na década de 1940, ‘Persuasão’ e
‘Emma’ ficaram por último, já nos anos de 1971 e 1996, respectivamente. Entretanto, foi no
Brasil que as traduções modernas de Austen ganharam mais atenção das editoras nos últimos
anos, principalmente, nos últimos dez anos.
Foram inseridas duas datas de publicação de ‘Persuasion’ para as traduções
portuguesas por existir um debate acerca da edição integral, traduzida por Leyguarda Ferreira,
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
em 1944; e a tradução de Manoel Pinto Coelho Cota de Araújo em 1847, baseada na tradução
francesa de Montolieu.
Quadro 1 – Datas das publicações das traduções de Jane Austen
Título Original Inglaterra França Portugal Brasil
Sense and Sensibility
Pride And Prejudice
Mansfield Park
Emma
Northanger Abbey
Persuasion
1811
1813
1814
1816
1817
1817
1815
1821
1816
1816
1824
1821
1943
1943
1943
1944
1943
1847/19448
1944
1940
1942
1996
1944
1971
Fonte: Confecção própria
Lopes (2017) argumenta devemos considerar a tradução de Leyguarda Ferreira como a
primeira tradução portuguesa, tendo em vista o conceito de tradução estritamente ligado ao
contato direto com o texto original, ou seja, o texto integral em inglês. Entretanto, se
observarmos o fenômeno cultural da tradução como uma “tessitura de reescritas que vão
dando forma ao espaço cultural de uma língua, segue-se que ‘Sangue azul’ não é a primeira
tradução para o português europeu, porquanto existe um texto intitulado ‘A família Elliot, ou
a inclinação antiga’ é tradução indireta, via francês, de Persuasion” (LOPES, 2017, p. 49).
Além disso, Lopes (2017, p. 49) afirma que é necessário levar em consideração a
tradução feita por Manuel Pinto Coelho Cota de Araújo em 1847, por se tratar de uma obra
que “antecipa a recepção de Austen em Portugal em quase um século, o que constitui um
elemento significativo da história cultural”. Além disso, a autora esclarece que o fato de ter
sido uma tradução indireta não é motivo para inquietação dos leitores, tendo em vista que era
prática comum de tradução no século XIX; e por fim, a tradução “parece curiosa e
transformadora – Anne passa a Alice, o que talvez seja prenúncio de outras alterações”
(LOPES, 2017, p. 49).
Acrescento à discussão da importância da tradução de Montolieu, o fato de que em
uma segunda edição foi publicada com gravuras para ilustrar a história, em 1828. Fato este
que não ocorreu nas primeiras edições de Jane Austen na Inglaterra, apenas em 1833 é que as
primeiras edições ilustradas das obras da escritora foram publicadas por Richard Bentley, na
coleção Standard Novels Series.
8 Optou-se por inserir as datas de duas publicações para ‘Persuasion’, já que a primeira tradução é baseada na
edição Francesa de 1821 e não totalmente fiel ao original.
18
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
A figura 5 apresentada no frontispício do volume II de ‘La Famille Elliot’ mostra uma
passagem importante no livro: a carta do Capitão Wentworth. Entretanto. Como foi
mencionado anteriormente, Montolieu realizou mudanças na estrutura do livro e nome dos
personagens. Como é possível observar na legenda da figura 5 ‘aproximou-se da mesa,
mostrou a carta a Alice e saiu sem dizer uma palavra!9’
Figura 5 - Frontispício do volume II de ‘La Famille Elliot’
Fonte: Wikipedia
Diante do exposto, a primeira edição portuguesa de 1847 que circulou nas bibliotecas
e livrarias do Rio de Janeiro oitocentista pode ser considerada como a primeira tradução em
português, apesar de ser de origem europeia, disponibilizada para os brasileiros. Embora não
possa ser considerada a primeira tradução brasileira, a edição de Manuel Pinto Coelho Cota
9 Tradução nossa: “il s'approcha de la table, montra la lettre à Alice, et sortit sans dire un mot !
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
de Araújo é um marco importante da presença de Jane Austen no Brasil, mesmo que o nome
da autora Jane Austen não esteja na publicação. Sendo assim, apesar de o não ter sido
mencionada, o único fato concreto que temos é de que as edições de ‘A família Elliot, ou a
inclinação antiga’ circularam no Rio de Janeiro, mesmo em pouca quantidade e com
limitações de acesso, tendo em vista que menos de 25% da população brasileira era
alfabetizada, segundo dados do censo de 1872 (WIKIPEDIA).
REFERÊNICAS
ABREU, M. A. A Circulação Transatlântica dos Impressos: a globalização da cultura no
século XIX. Livro – Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição. Universidade de
São Paulo: São Paulo, 2011, pp. 115-130. Disponível em:
<http://www.circulacaodosimpressos.iel.unicamp.br/arquivos/ensaio.pdf>. Acesso em: 05 de
Dezembro de 2017.
BIBLIOTECA FLUMINENSE. Catálogo da Biblioteca Fluminense. Rio de Janeiro: Typ.
Commercial de Soares Garcia. 1852. 290 p.
HEMEROTECA DIGITAL BRASILEIRA. Diário do Rio de Janeiro. 22 de novembro de
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de 2017.
LOOSER, D. The Making of Jane Austen. Baltimore: John Hopkins University Press. 2017.
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REAL GABINETE PORTUGUEZ DE LEITURA. Catálogo dos Livros do Gabiente
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<https://books.google.com.br/books?id=eiE4AQAAMAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR>.
Acesso em: 05 de Dezembro de 2017.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
QUEM RI POR ÚLTIMO, RI MELHOR: A PARÓDIA PÓSTUMA DE
JANE AUSTEN
Kathia Brienza Badini Marulli10
INTRODUÇÃO
Uma autora nascida no final do século XVIII, que aborda temas cotidianos e tem um
romance publicado postumamente. O destino de uma obra com essas características poderia
ter sido o ostracismo. Entretanto, graças à qualidade do texto e da capacidade da autora, não
foi o que aconteceu a Northanger Abbey, de Jane Austen.
A Abadia de Northanger foi escrito por Jane Austen entre 1798-1799, revisado pela
autora em 1803 e publicado apenas após sua morte, em dezembro de 1817. Originalmente
denominado Susan, teve o título alterado quando a escritora decidiu mudar o nome da
personagem principal para Catherine – que também passou a ser o nome do romance.
Existem dúvidas, mas, provavelmente, foi o irmão de Jane, Henry, quem deu o título final à
obra, ao prepará-la para publicação.
Talvez A Abadia de Northanger seja a obra mais irônica e jovial de Jane Austen.
Neste livro, a jovem escritora – então com vinte e três anos – faz uma paródia a um gênero de
literatura muito popular, na época: os romances góticos. A protagonista é uma jovem ingênua,
que se deixa impressionar por suas leituras, e que parece acreditar que mesmo as maiores
fantasias descritas nos romances estarão a sua espera na vida real.
Nesta resenha crítica, pretende-se analisar A Abadia de Northanger evidenciando
alguns aspectos da paródia e da metalinguagem, técnicas narrativas empregadas pela autora.
A PARÓDIA PÓSTUMA DE JANE AUSTEN
Sobre a autora
10 Mestre em Literatura pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual
Paulista – UNESP, Assis, SP. kathiabrienza@hotmail.com
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Jane nasceu na noite de 17 de dezembro de 1775, a sétima filha de Cassandra Leigh
Austen e do reverendo George Austen, em Steventon, no condado de Hampshire, sul da
Inglaterra. O pai de Jane Austen “possuía educação, mas pouco dinheiro” (REEF, 2014, p.31)
e fazia parte da classe social denominada gentry (que viria a ser tão bem retratada nos
romances escritos por sua filha).
“Jane Austen viveu na era georgiana, que durou de 1714 a1830. Nesse período,
quatro reis de nome George – George I, II, III e IV – sentaram-se no trono inglês. Embora
tenha perdido suas colônias na América do Norte, a Inglaterra elevou-se ao posto de potência
mundial. Foi um período frutífero, quando Defoe, Fielding, Scott – e Austen – deram ao
mundo seus romances” (REEF, 2014, p. 39).
O início da carreira de Jane Austen como escritora se deu em 1811, com a publicação
de Razão e Sensibilidade. Entretanto, seu nome não foi estampado na capa deste, nem dos
outros três romances que publicou em vida. “Uma coisa era uma mulher escrever por ser
requintada, outra era ter seu nome impresso num livro” (REEF, 2014, p. 48).
Jane Austen “[...] não tinha um aposento separado onde pudesse se refugiar, e a
maior parte do trabalho deve ter sido feita na sala de estar principal, sujeita a todos
os tipos de interrupções casuais. Ela cuidava para que sua ocupação não fosse
suspeita pela criadagem, visitantes ou qualquer pessoa além de sua família. Escrevia
em pequenas folhas de papel que poderiam facilmente ser escondidas ou cobertas
com um pedaço de mata-borrão. Havia, entre a porta da frente e os escritórios, uma
porta vai-e-vem que rangia quando era aberta; mas ela protestava contra a
remediação desta pequena inconveniência, pois a mesma avisava quando alguém
estava vindo” (AUSTEN-LEIGH, 2014, p. 106).
Essa situação – da mulher que escreve na sala de estar por não ter um espaço
exclusivo para si – foi magnificamente explorada em um ensaio de Virginia Woolf. Ela
mencionou esse trecho do livro do sobrinho de Jane Austen para exemplificar a situação.
“Uma família de classe média do início do século XIX possuía apenas uma sala de estar para
todos” e se uma mulher quisesse escrever, “teria de escrever na sala de estar comum” e seria
“sempre interrompida” (WOOLF, s/d, p.83). Isso não impediu Jane Austen de produzir obras
de excelência: “Seu talento e suas condições de vida ajustavam-se completamente” (WOOLF,
s/d, p.85).
Jane Austen viveu com a família. Não se casou, não teve filhos, não viajou para
outros países. Mas foi uma grande observadora e conseguiu entender os sentimentos dos seres
humanos, em especial, das mulheres. “De acontecimentos, sua vida foi singularmente
precária: poucas mudanças e nenhuma grande crise jamais afetaram a fluida corrente de seu
curso. Mesmo sua fama pode ser dita póstuma: não conquistara qualquer vida vigorosa, até
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
que tivesse deixado de existir. Seus talentos não a introduziram à atenção de outros escritores,
ou conectaram-na ao mundo literário, ou, em qualquer grau, atravessaram a obscuridade de
sua reclusão doméstica.” (AUSTEN-LEIGH, 2014, p. 9).
Apesar de ter deixado uma obra de grande importância dentro da literatura de língua
inglesa, sua existência foi curta. Viveu apenas quarenta e um anos. “No começo do ano 1816,
alguns problemas de família perturbaram a comum tranquilidade do curso da vida de Jane
Austen; e é provável que a enfermidade interna, que, por fim, se provaria fatal, já começasse a
ser sentida por ela. [...] Quando o fim, de fato, veio, ela se foi rapidamente; e, quando seus
ajudantes perguntaram se ela queria alguma coisa, sua resposta foi: ‘Nada além da morte’.
Estas foram suas últimas palavras. Em quietude e paz ela respirou pela última vez na manhã
de 18 de julho de 1817” (AUSTEN-LEIGH, 2014, p. 175-176).
A importância de Jane Austen para a literatura inglesa e mundial é plenamente
reconhecida. “Como a primeira mulher que se tornou romancista importante, está acima dos
movimentos clássico e romântico; em certo sentido, preenche a lacuna entre os séculos XVIII
e XIX, mas não pode ser enquadrada em nenhum grupo – ela é única” (BURGESS, 2008, p.
209).
A Abadia de Northanger
O original de A Abadia de Northanger “foi vendido, em 1803, para um editor em
Bath por dez libras” (AUSTEN-LEIGH, 2014, p. 139); entretanto, inexplicavelmente, ele não
publicou o romance. Inconformada com isso, Jane Austen decidiu reaver essa obra, alguns
anos depois.
Os Tilney, Thorpe e Morland aparentemente condenados ao eterno esquecimento!
Mas quando quatro romances de constante e crescente sucesso haviam dado à
escritora alguma confiança em si mesma, ela quis recuperar os direitos autorais
desse antigo trabalho. Um de seus irmãos se encarregou da negociação. Ele
encontrou o comprador bastante disposto a receber de volta o seu dinheiro e a
renunciar a toda a reivindicação dos direitos autorais. Quando a barganha foi
concluída e o dinheiro foi pago, só depois disso o negociador teve a satisfação de
informá-lo de que o trabalho que fora tão levemente estimado era da autora de
Orgulho e Preconceito” (AUSTEN-LEIGH, 2014, p. 139-140).
Já nas primeiras linhas de A Abadia de Northanger, o leitor é informado que o livro
será sobre os acontecimentos da vida da heroína Catherine Morland. Filha de um clérigo e de
uma senhora de apropriado senso comum, “bom temperamento” e “boa constituição”
(AUSTEN, 2015, p. 7), Catherine é a quarta em um grupo de dez filhos.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
O chamado à aventura é feito a Catherine pelo casal Allen, que a convidam para uma
temporada em Bath, onde o senhor Allen, “proprietário da maior parte das terras perto de
Fullerton”, onde viviam os Morland, teria que ir “para cuidar de sua gota” (AUSTEN, 2015,
p. 9). Ir para Bath seria uma boa oportunidade para Catherine conhecer pessoas interessantes,
educadas, de boa posição social – já que muitos membros da burguesia e aristocracia inglesa
da época frequentavam o balneário para tratar de alguma enfermidade ou para apenas serem
vistos por seus amigos.
Em Bath, outras personagens vão sendo introduzidas, aos poucos. Assim, Catherine
conhece o Sr. Henry Tilney, por quem logo se interessa. Entretanto, depois do primeiro
encontro, o rapaz não é mais visto em nenhum lugar. O leitor saberá, posteriormente, que o
jovem ausentou-se de Bath por uma semana (e, da trama, por quatro capítulos).
Depois, surgem a Sra. Thorpe, uma antiga conhecida da Sra. Allen, e suas filhas. A
mais velha e mais bonita, Isabella, se tornará a amiga e confidente de Catherine.
Em vários momentos o leitor pode perceber a crítica social feita por Jane Austen,
apesar do tom leve que ela utiliza. A Sra. Allen, por exemplo, é uma personagem utilizada
para esse fim. Ávida por encontrar conhecidos ou fazer novas amizades em Bath, e só
pensando nela mesma, em inúmeras situações ela mostra-se mais preocupada com a roupa que
veste do que com sua convidada, Catherine. Entretanto, após encontrar a Sra. Thorpe, a Sra.
Allen fica “bem feliz e bem satisfeita com Bath” (AUSTEN, 2015, p. 20). A autora continua
descrevendo os motivos da alegria da senhora Allen: “[...] para completar sua boa sorte,
encontrou estes amigos não tão bem vestidos quanto ela. Sua expressão diária já não era mais:
‘Queria que tivéssemos alguns conhecidos em Bath!’. Isso se transformou em: ‘Como estou
feliz por termos encontrado com a senhora Thorpe!’ [...] Nunca estava satisfeita com o dia, a
menos que passasse a maior parte dele ao lado da senhora Thorpe, naquilo que elas
chamavam de conversa, mas na qual mal havia qualquer troca de opiniões ou qualquer
semelhança de assunto, pois a senhora Thorpe falava mais de seus filhos, e a senhora Allen,
dos seus vestidos” (AUSTEN, 2015, p. 20). Uma mulher fútil, que se alegra por ter mais
posses que a amiga, e que gosta de estar perto dela para que os outros percebam, por
comparação, que sua situação econômica é melhor. O diálogo travado entre as duas “amigas”
nem pode ser considerado uma conversa, pois elas falam sobre seus próprios interesses e,
provavelmente, nem escutam as réplicas que recebem.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Isabella Thorpe é uma personagem muito importante na trama. Ela é quatro anos
mais velha que Catherine e tem mais experiência em assuntos como “vestidos, bailes, flertes e
esquisitices” (AUSTEN, 2015, p. 18). Com seu jeito exagerado, tentando sempre mostrar ser
uma pessoa melhor do que é de verdade, ela faz um contraponto divertido com Catherine
Morland. Isabella é astuciosa, interesseira, volúvel, mas quer que a ingênua e sincera
Catherine acredite que ambas são igualmente inocentes e generosas.
As personagens femininas, seus anseios e contradições estão no centro da narrativa
de Jane Austen. “Jane Austen escreveu sobre o tipo de gente que ela conhecia bem, ladies e
gentlemen da Inglaterra rural. A trama é confinada ao âmbito da vida familiar, dos círculos de
amizades, dos galanteios e casamentos” (REEF, 2014, p. 19). A relação estabelecida entre
Catherine e Isabella, as duas mulheres principais da trama permitem ao leitor observar a
sociedade em que estão inseridas por pontos de vista muito diferentes. Austen constrói as
duas personagens de modo a permitir que o leitor as conheça, vibre com suas conquistas e
sinta suas desilusões. As personagens são como pessoas reais e ao leitor será permitido
conhecer a alma de cada uma delas.
O irmão de Isabella, John Thorpe, é arrogante, falastrão e mentiroso. Nas palavras do
sobrinho de Jane Austen, John Thorpe é uma pessoa de “mau gosto e sem educação, tais
como, de vez em quando, são realmente encontradas misturadas à boa sociedade” (AUSTEN-
LEIGH, 2014, p. 25). Isabella e John são frutos de uma mesma árvore, possuem origem e
valores bem diferentes dos de Catherine e James Morland.
De acordo com as palavras da narradora, traduzindo os pensamentos de Catherine,
“Sua própria família era ignorante, pois eram pessoas da vida real, que raramente buscavam a
sagacidade de qualquer tipo. Seu pai, no máximo, contentava-se com um trocadilho, e sua
mãe, com um provérbio. Eles não tinham, portanto, o hábito de mentir para aumentar sua
importância, ou de assegurar em um momento o que eles contradiriam no dia seguinte”
(AUSTEN, 2015, p. 37-38). “Austen é uma grande escritora pelo uso que faz da linguagem,
pela forma como constrói seus diálogos, ou quando inova na utilização do discurso indireto
livre, enfim, pela forma como constrói seus romances. E dentro dessa construção linguístico-
literária, a ironia ocupa lugar de destaque. Portanto, para saborear a intencionalidade de seus
textos, precisamos partilhar de seu discurso irônico e seus efeitos” (AZERÊDO, 2003, p.25).
O irmão de Catherine, James, e a família de Henry, os irmãos Eleanor e Frederick e
seu pai, o general Tilney, também surgem no cenário de Bath. E é graças a este último que
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Catherine recebe um segundo convite, agora para passar uma temporada na residência dos
Tilney, a Abadia de Northanger.
O espaço faz toda a diferença no romance. Na verdade, pode-se considerar que uma
nova história começa a partir do capítulo vinte, com a chegada à abadia. Antes disso, os
romances góticos são mencionados nas conversas das personagens; Catherine e Isabella são
companheiras de leitura da obra de Ann Radcliffe. Mas a verdadeira paródia aos romances
góticos começa quando Catherine se vê em um lugar que poderia ser o cenário de uma
daquelas histórias. E deixa sua imaginação voar.
Ao final de onze semanas, Catherine Morland volta para a casa da família. Ela se
divertiu, mas também sofreu decepções, foi humilhada, precisou encarar a realidade. Aos
dezoito anos, ela se casa com Henry Tilney, por quem se apaixonara em Bath. Apesar dos
interesses financeiros do general, é um casamento por amor, como quase todas as heroínas de
Jane Austen desejam.
A paródia ao Gótico
A trama construída por Austen é uma paródia aos escritores e leitores góticos que ela
conheceu. Cabe ressaltar que boa parte dos autores associados ao desenvolvimento dos
romances góticos era formada por mulheres – Ann Radcliffe, Mary Shelley e Emily Brontë. E
o público feminino era o principal consumidor dessas obras, consideradas pelos críticos da
época como uma forma de arte menor. “Juntamente com Mary Shelley, Emily e Charlotte
Brontë e outras escritoras, Austen serviu-se da paródia como veículo literário desarmante,
mas eficiente, para a sátira social” (HUTCHEON, 1989, p. 63).
Muitas vezes os romances góticos também eram responsabilizados por causar
perigos às leitoras, devido a seu conteúdo escabroso, capaz de provocar “efeitos maliciosos”,
de “corromper as leitoras”, muitas das quais, no “calor das emoções” ficavam suscetíveis e
impressionadas a ponto de se apegarem subitamente “a pessoas indignas de seu afeto e, assim,
apressarem-se em casamentos que terminavam por provocar sua infelicidade” (STEVENS,
2001, p.96).
O sucesso que o gênero fazia entre as mulheres e as críticas que ele recebia,
principalmente dos homens, devem ter sido fatores levados em consideração por Jane Austen,
também ela uma leitora, quando decidiu fazer uma paródia de romance gótico. De acordo com
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Greene, (1982, p.46 apud HUTCHEON, 1989, p. 21), “Toda a imitação criativa mistura a
rejeição filial com o respeito, tal como toda a paródia presta a sua própria homenagem
oblíqua”. Ao imitar o estilo e criar uma heroína ingênua e ávida leitora desse tipo de
romances – que se sugestiona pelo ambiente e pela imaginação, o que a coloca em situações
constrangedoras – Austen fez antes uma brincadeira e uma homenagem aos romances góticos
do que uma crítica ou ridicularização do gênero.
Sendo o romance um gênero com raízes nas realidades do tempo histórico e do
espaço geográfico, mas que ao mesmo tempo tem sua realidade apenas dentro da
própria narrativa, a paródia tem o poder de ressaltar a literariedade do texto, já que,
através dela, haverá um outro texto contra o qual a obra deverá ser simultaneamente
medida e entendida. Nesse contexto, a ironia, um de seus elementos essenciais, é um
mecanismo retórico primordial para despertar a consciência do leitor para o mundo
ficcional, permitindo que ele avalie e interprete a obra, e o comentário narrativo
torna-se fundamental para esse processo, já que ele pressupõe um distanciamento
crítico entre o texto parodiado e a nova obra que o incorpora, invertendo-a ou
negando-a precisamente através do tom irônico. [...] Desse modo, para que o texto
paródico seja identificado como tal, é necessário fazer coincidir sua elaboração com
seu reconhecimento ou interpretação. Isso evidencia que a função da paródia em
Northanger Abbey não é a de ridicularizar nem tampouco atacar o gênero
romanesco, conforme já argumentamos, mas, sim, destacar que a literatura não é a
vida real, e para isso Jane Austen utiliza-se habilmente de seu irônico narrador
(COLASANTE, 2005, p. 31).
A importância do narrador em A Abadia de Northanger é fundamental. O narrador é
heterodiegético, com focalização onisciente, e mantém a atenção do leitor utilizando-se de
variados recursos. Além de ser profundamente irônico, como ao afirmar “Quando as pessoas
querem conquistar, devem ser sempre ignorantes. Chegar com uma mente bem informada é
chegar com uma inabilidade de administrar a vaidade dos outros, o que uma pessoa sensível
sempre quer evitar. Uma mulher, especialmente se ela tem o infortúnio de saber tudo, deve
ocultar seus conhecimentos o melhor que puder” (AUSTEN, 2015, p.63), ele antecipa fatos,
como no trecho “Mas, quando uma jovem dama é predestinada a ser uma heroína, a
perversidade de quarenta famílias ao redor não pode detê-la. Algo deve e irá acontecer para
lançar um herói em seu caminho” (AUSTEN, 2015, p.9), e apela às leitoras que se
identifiquem com a protagonista, como em “Toda jovem dama leitora deve-se imaginar em
minha heroína, neste momento crítico, pois toda jovem dama deve ter conhecido, em alguma
ocasião, a mesma agitação. Todas estiveram, ou ao menos acreditaram ter estado, em perigo,
ao querer evitar alguém. E todas estiveram ansiosas pela atenção daqueles a quem queriam
agradar” (AUSTEN, 2015, p.42). Essas estratégias foram muito bem observadas por Azerêdo,
quando afirma: “Na obra de Jane Austen a ironia aparece de modo bastante variado; não só
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
discursos, mas principalmente através do discurso da voz narrativa. O narrador, em Austen,
detém um conhecimento superior – partilhado pelo leitor – que se opõe à ignorância dos
personagens, e o conflito entre esses dois níveis é responsável por gerar um primeiro tipo de
ironia” (AZERÊDO, 2003, p. 26-27).
O romance também é repleto de metalinguagem e de considerações sobre o processo
de construção da história, como a seguir: “É uma nova circunstância em romance, reconheço,
e terrivelmente depreciativa da dignidade de uma heroína, mas, se for tão novo para a vida
comum, o crédito de uma louca imaginação será, pelo menos, totalmente meu” (AUSTEN,
2015, p.135) ou em “Com relação a este em questão, portanto, tenho apenas a acrescentar –
ciente de que as regras da composição de uma trama proíbem a introdução de um personagem
não relacionado a minha fábula – que ele era o próprio cavalheiro [...]” (AUSTEN, 2015,
p.139).
Com uma narrativa leve e linguagem descomplicada, Jane Austen faz um retrato da
sociedade inglesa do século XVIII e nos proporciona uma leitura fluida e agradável. Nem por
isso a autora deixa de posicionar-se sobre a condição feminina e sobre a condição de
romancista:
Sim, romances, pois não adotarei este mau e insensato costume, tão comum entre
escritores de romances, de degradar, pelas suas desprezíveis censuras, os próprios
trabalhos; além disso, os daqueles aos quais eles mesmos se unem – juntando-se
com seus maiores inimigos para conferir os mais duros epítetos a tais trabalhos, e
quase nunca permitindo que sejam lidos pela sua própria heroína, a qual, se
acidentalmente pegasse um romance, certamente fecharia suas páginas insípidas
com desgosto. Ah! Se a heroína de um romance não for protegida pela heroína de
outro, de quem poderia esperar proteção e consideração? Não posso aprovar isso.
Deixemos aos críticos que abusem de tais efusões de imaginação o quanto quiserem,
e que falem sobre cada novo romance, nas rotas melodias do lixo com o qual a
imprensa agora se lamenta. Não abandonaremos umas às outras, somos um corpo
ferido. Embora nossas produções tenham propiciado prazer mais amplo e verdadeiro
do que aqueles de qualquer corporação literária no mundo, nenhum tipo de
composição tem sido tão desprezado. Do orgulho, da ignorância ou da moda, nossos
inimigos são tantos quanto os nossos leitores (AUSTEN, 2015, p.20-21).
A própria definição de romance, que Jane Austen dá em seu livro, serve para
qualificar A Abadia de Northanger: “[...] apenas algum trabalho no qual as maiores forças da
mente são exibidas; um trabalho no qual o mais completo conhecimento da natureza humana,
a mais feliz delineação de suas variedades, as mais vívidas efusões de gênio e humor são
levadas ao mundo, na mais bem escolhida linguagem” (AUSTEN, 2015, p.21).
Jane Austen declara seu amor ao romance, defende sua importância como obra de
arte. Demonstra que sua leitura não se destina apenas a jovens ingênuas, já que a principal
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
personagem masculina, Henry Tilney, declara-se apreciador de Os Mistérios de Udolpho,
enquanto o antagonista desdenha a obra. Ou seja, aquele que é o herói da história é também
um leitor de romances góticos, bem como Catherine.
E, já que duas jovens com caráter tão diferentes como Catherine e Isabella são
leitoras das mesmas obras, pode-se depreender que não são os romances que deturpam a
formação feminina na opinião de Jane Austen.
Nas primeiras obras de Jane Austen há uma tensão entre o desejo de exorcizar os
clichês ingênuos da ficção sentimental ‘das mulheres’ e a sua relutância ou
incapacidade de o fazer. Susan Gubar argumentou que a melhor via para Austen
inculpar a patriarquia literária e social era parecer inofensiva. Por exemplo, em
Northanger Abbey (A Abadia de Northanger), Austen parodia as convenções
góticas, apoiando-se, não obstante, nelas para a forma que dá ao seu romance. Como
resultado, consegue reinvestir o ‘gótico feminino’ de autoridade derivada da
interação da paródia com a sátira: a verdadeira causa da reclusão das mulheres não
são os muros ou a dependência financeira, mas uma educação errada [...]
(HUTCHEON, 1989, p. 101).
Em sua paródia, Jane Austen reconstrói o clima dos romances góticos. Assim, ao se
ver sozinha no quarto em que vai dormir na Abadia, Catherine ouve “sons característicos” que
trazem “até ela lembranças de incontáveis variedades de terríveis situações e cenas horríveis”
(AUSTEN, 2015, p. 92). Ela alterna seus sentimentos entre a fantasia advinda da leitura dos
romances e o desejo de se mostrar corajosa, já que sabe que não há nada a temer ali.
Entretanto, a visão de um “alto e antiquado armário negro” volta a despertar a curiosidade e a
imaginação de Catherine. “Embora não pudesse realmente haver algo nele, havia algo
fantástico” e “ela não dormiria enquanto não o inspecionasse” (AUSTEN, 2015, p. 93). E
Jane Austen continua criando suspense, com descrições como “o coração de Catherine bateu
acelerado”, “seu coração palpitou, seus joelhos tremeram e seu rosto empalideceu”, “com
terríveis sensações”, “a vela imediatamente se apagou”, “a escuridão impenetrável e imóvel
preencheu o quarto”, “um violento jorro de vento, erguendo-se com inesperada fúria,
acrescentou novo terror ao momento”, “Catherine tremeu dos pés à cabeça”, “O frio suor
surgiu em sua testa” (AUSTEN, 2015, p. 94).
Catherine encontra um rolo de papéis e tem a certeza de que com a leitura do
“precioso manuscrito” ela desvendará algum grande mistério. A descoberta acontece à noite e,
sem poder contar com a luz da vela para fazer a importante leitura, Catherine acaba
adormecendo. E, no dia seguinte, à luz do sol, tudo muda e a verdade é decepcionante: o
manuscrito consiste de apenas “algumas folhas soltas”, “muito pequeno e muito menos do
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
que ela supôs ser” e tudo não passava, ironicamente, de uma conta de lavanderia e uma receita
de veterinário! (AUSTEN, 2015, p. 95).
A ironia é a principal ferramenta empregada na construção de uma paródia. Assim,
Jane Austen nos mostra sua personagem envolvida em um clima de mistério e terror que
acaba por soar ridículo, quando o desfecho da cena acontece. “[...] o discurso irônico apenas
torna a transação, ou interação, entre narrador e leitor mais complexa, na medida em que
contrapõe uma realidade aparente a uma realidade verdadeira que contradiz, através da ironia,
essa primeira. Acredita-se, comumente, que a ironia acontece quando se diz algo querendo
significar outra coisa. O discurso irônico, portanto, lida de modo bastante substancial e
complexo, com a contradição e o conflito de significados, com a duplicidade e dialogicidade
da linguagem” (AZERÊDO, 2003, p. 26).
O resultado final é uma obra fascinante, agradável e divertida, que desperta no leitor
tanto a vontade de conhecer os verdadeiros romances góticos, como a de mergulhar mais
profundamente na obra de Jane Austen, por meio da leitura de seus outros romances.
CONCLUSÃO
Jane Austen é uma autora reverenciada dentro e fora da Inglaterra. Muitos de seus
livros foram adaptados para o cinema, e as reedições são inúmeras, mostrando que sua obra
permanece atual. Mais do que retratar as relações da classe média rural inglesa – aqueles que
eram proprietários de terras, mas não possuíam títulos de nobreza –, a autora conseguiu captar
a essência dos seres humanos e de seus dilemas. Por isso, duzentos anos depois da morte da
autora, as pessoas ainda conseguem estabelecer empatia e identificação com suas
personagens.
A Abadia de Northanger é um pouco diferente dos outros romances de Austen.
Existe um número menor de personagens, um narrador que se dirige constantemente ao leitor
e a ironia sendo empregada a todo o momento. Alguns dirão que é um romance menos sério,
menos maduro, menos profundo. Pode-se considerá-lo mais jovial, mais divertido e mais leve.
De qualquer forma, é digno do conjunto da obra de Austen.
A paródia aos romances góticos realizada por Jane Austen em nenhum momento é
depreciativa. Não existe o tom de crítica destrutiva ou de ataque, mas sim de homenagem. Os
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
romances de entretenimento não devem ser encarados como a vida real; cada coisa tem seu
espaço definido na vida de uma heroína. Essa parece ser a lição aprendida pela protagonista.
Catherine Morland teve um final feliz. Jane Austen consagrou-se como uma escritora
única no panorama das literaturas inglesa e mundial. A autora, que não teve reconhecimento
em vida, possui inúmeros fãs e leitores ao redor do mundo em pleno século XXI. Como diz o
ditado, “quem ri por último, ri melhor”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUSTEN, Jane. A Abadia de Northanger. Tradução de Eduardo Furtado. São Paulo:
Landmark, 2015. 240 p.
AUSTEN-LEIGH, James Edward. Uma Memória de Jane Austen. Tradução de José
Loureiro e Stephanie Savalla. Domingos Martins, ES: Pedrazul Editora, 2014.
AZERÊDO, Genilda. Jane Austen, Adaptação e Ironia: Uma Introdução. João Pessoa: Ed.
Manufatura, 2003. 120 p.
BURGESS, Anthony. A Literatura Inglesa. Tradução de Duda Machado. São Paulo: Editora
Ática, 2008. 312 p.
COLASANTE, Renata Cristina. A Leitura e os Leitores em Jane Austen. Dissertação de
Mestrado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,
2005. 130 p.
GENETTE, Gérard. Discurso da Narrativa. Tradução de Fernando C. Martins. 3. ed. Lisboa:
Vega Universidade, 1995. 276 p.
HUTCHEON, Linda. Uma Teoria da Paródia. Tradução de Teresa Louro Pérez. Lisboa:
Edições 70, 1989. 165 p.
REEF, Catherine. Jane Austen – Uma Vida Revelada. Tradução de Kátia Hanna. Barueri,
SP: Novo Século Editora, 2014. 220 p.
SILVA, Lajosy. Leituras de Jane Austen no Século XXI. São Paulo: Livrus, 2014. 208 p.
STEVENS, David. The Gothic Tradition. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
128 p.
WOOLF, Virginia. Um Teto Todo Seu. São Paulo: Círculo do Livro, sem data. 141 p.
32
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
O PODER DO CASTING
Moira Biachi11
; Schirlei Rickli 12
; Luciana Araújo13
Ao nos depararmos com um artigo muito ilustrativo do Jornal Britânico ‘The Guardian’
pudemos pela primeira vez comparar objetivamente a disparidade de idade entre as atrizes que
interpretaram as heroínas de Austen e suas personagens originais. Porém, como o artigo não
engloba heróis ou personagens secundários, resolvi me aprofundar no assunto e pesquisar a
influência do casting na narrativa dos romances de Jane Austen.
INTRODUÇÃO
Em agosto deste ano (2017), o Bicentenário de falecimento de Jane Austen foi
celebrado ao redor do mundo de diversas maneiras. Eu humildemente dei minha contribuição
participando da Antologia ‘Querida Jane Austen, uma homenagem’ com outras 10 autoras-
fãs-Janeites e preparo a segunda edição revisada e ampliada de meu primeiro livro
‘Friendship of a special kind’, fanfic de ‘Orgulho e Preconceito’.
Enquanto apreciava as celebrações do fandom cujo ponto alto foi o lançamento da nota de £10
com a efígie da autora, me deparei com uma publicação14
icônica e iconográfica do portal
online do jornal Britânico ‘The Guardian’ resumindo a obra, vida e influências de Austen em
formato de cards.
Objetivos e didáticos, bem-humorados e dotados de certo viés irônico que lembra o
estilo da autora, os cards, quatorze fichas ilustradas, listam dentre outras informações os fatos
históricos ignorados por Austen em suas obras, elencam as obras nas quais as heroínas mais
viajam e as distâncias percorridas, assim como profissões e fontes de renda dos personagens.
Informações maravilhosamente interessantes que alimentam um sem número de questões para
uma fã ávida por adaptações como eu, que traduzi e compartilhei em meu blog pessoal15
no
post ‘Jane Austen em números’ mantendo link direto para a magistral postagem original.
11
Moira Bianchi é arquiteta e urbanista, ergonomista e escritora. Website: www.moirabianchi.com. E-mail:
moirabianchi@icloud.com 12
Schirlei Rickli é assistente jurídica e escritora. E-mail: shirleirickli@gmail.com 13
Luciana Araújo é advogada e escritora. E-mail: lu.araujosantos@hotmail.com 14
https://www.theguardian.com/books/gallery/2017/jul/18/jane-austens-facts-and-figures-in-charts 15
http://www.moirabianchi.com/2017/08/jane-austen-em-numeros.html
33
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Um destes cards em particular abre lacuna para aprofundamento na pesquisa sobre a
disparidade entre a idade dos personagens nos canons e a idade das atrizes que os interpretam
nas adaptações de TV e cinema mais famosas.
No referido card se pode notar que o título diz ‘A heroína é MAIS NOVA DO QUE VOCÊ
PENSA’, o que sugere que a maioria dos ‘consumidores’ de Austen não leu a obra, mas viu a
adaptação, então tem como verdade o que "está na tela".
Figura 1- CARD reproduzido de The Guardian on line - direitos reservados aos autores - tradução livre
de Moira Bianchi
No presente artigo, porém, pretendo adicionar alguns outros elementos para fomentar a
comparação.
OS DADOS ESCOLHIDOS
No card do artigo do jornal ‘The Guardian’ estão listadas as personagens principais
das obras mais famosas com a média de idade das atrizes que as interpretaram sem, no
entanto, apresentar muitos detalhes, a saber:
Abadia de Northanger – Catherine Morland
Razão e Sensibilidade - Elinor e Marianne Dashwood
Orgulho e Preconceito - Lizzy Bennet
34
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Mansfield Park - Fanny Price
Emma - Emma Woodhouse
Persuasão - Anne Eliott
Aqui, porém gostaria de nomear as atrizes para tentar identificar na produção a
influência de sua idade cronológica – independentemente de sua qualidade profissional ou
reconhecimento por premiação que sua atuação obteve. Não me proponho a avaliar a
qualidade do roteiro ou da adaptação, pretendo somente avaliar a correlação entre o
personagem que Austen criou e a pessoa que o interpretou.
Além das heroínas, também são incluídos outros personagens para enriquecer a discussão
como os heróis: Henry Tilney (Abadia de Northanger), Coronel Brandon (Razão e
Sensibilidade), Fitzwilliam Darcy (Orgulho e Preconceito), George Knightley (Emma),
Capitão Frederick Wentworth (Persuasão).
E duas personagens secundárias que acredito terem sofrido com escolhas de elenco um
tanto diferenciadas:
Orgulho e Preconceito – Mrs Bennet
- Charlotte Lucas
E para comparação usaremos as produções mais famosas e de maior repercussão16
no
fandom, todas de contexto histórico – apesar da liberdade poética de ‘LiA’:
Abadia de Northanger – filme para TV de 2007, produção anglo-
americana
Razão e Sensibilidade - filme de 1995, produção anglo-americana
- minissérie de TV de 2008, produção britânica
Orgulho e Preconceito – minissérie de 1995, produção
inglesa
- filme de 2005, produção americana
- minissérie de TV de 2008 ‘Lost in Austen’, produção
inglesa
Mansfield Park - filme de 1999, produção inglesa
- filme para TV de 2007, produção anglo-americana
Emma - filme de 1996, produção anglo-americana
- minissérie para TV de 2009, produção inglesa
Persuasão - minissérie para TV de 1995, produção
inglesa
- filme para TV de 2007, produção anglo-americana
16
Informações e fichas técnicas: IMDB.com
35
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
A COMPARAÇÃO
As tabelas mostram os personagens de Austen seguidos por idade no canon (obra
original), observando em linha posterior à identificação de cada ator/atriz que o interpretou e
sua idade na ocasião. Entre parênteses está a diferença de idade (positiva +, negativa – ou
nula ! ).
Começo por ‘Orgulho e Preconceito que é meu romance favorito na obra de Austen:
Orgulho & Preconceito
Idade no canon Minissérie 1995 Filme 2005 Lost in Austen, 2008
Lizzy Bennet 20 Jennifer Ehle Keira Knightley GemmaArterton
26 (+6) 20 (!) 22 (+2)
Fitzwilliam Darcy 28 Colin Firth Matthew Macfadyen Elliot Cowan
35 (+7) 29 (+1) 33 (+5)
Mrs. Bennet ±45 Alison Steadman Brenda Blethyn Alex Kingston
49 (+4) 59 (+14) 45 (!)
Charlotte Lucas 27 Lucy Scott Claudie Blakley Michelle Duncan
29 (+2) 32 (+5) 30 (+3)
Quadro 1 - Orgulho e Preconceito
Os produtores da série da rede Inglesa BBC de 1995 contam que ao escolher o elenco
procuraram principalmente profissionais com charme, carisma e perspicácia para interpretar
um romance histórico tão famoso. Jennifer Ehle, então já com vinte e muitos anos e
apaixonada por Austen desde os doze quando leu Orgulho e Preconceito pela primeira vez, foi
escolhida dentre uma dúzia de candidatas. Colin Firth precisou ser convencido a fazer parte
das audições por sempre considerar Austen coisa de mulherzinha, mas a adaptação magistral
de Andrew Davis com foco em Mr. Darcy o convenceu.
Para o filme de 2005, o diretor Joe Wright conta que estava muito interessado17
em
encontrar atores cuja idade fosse correta e procurava entrevistar somente quem estava nesta
categoria. Em certa entrevista, ao ser perguntado por que não queria Keira Knightley para
Lizzy Bennet, ele diz que achava a atriz muito bonita para a personagem, mas como tinha a
idade certa, aceitou conversar com ela de qualquer maneira. Acabou por ver que a atriz e a
personagem tinham a mesma disposição de menina-moça-autêntica tipo tomboy.
17
‘I was very keen to cast people that were the right age.’
36
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
A produção mais famosa é sem dúvida a minissérie da BBC de 1995, com destaque
para a repercussão da cena do banho de lago de Mr. Darcy, entretanto, possivelmente a mais
querida entre os fãs é a adaptação trazida pelo filme de 2005 com a declaração de amor ao
amanhecer. Quanto à minissérie de 2008, é possível que Mrs. Bennet teria ficado mais
satisfeita em se ver bem representada nesta adaptação por uma atriz que finalmente deu ao
público contemporâneo uma visão mais próxima de como seria uma mãe jovem com cinco
filhas solteiras. Apesar da pequena diferença de idade para a atriz que a interpretou na famosa
série de 1995, a caracterização a fez parecer bem mais idosa e eu particularmente sempre me
perguntei: ‘Estranho, achei que ela era mais saidinha...’
O mesmo com Charlotte Lucas, personagem secundária tão importante para corrigir a
rota de Lizzy Bennet quando a heroína se perde em camadas de orgulho ferido e preconceito
auto protetor. Seria a solteirona assim tão envelhecida quando o filme de 2005 mostra?
O caso mais gritante de disparidade que posso pensar é o de ‘Razão e Sensibilidade’.
Vejamos:
Razão & Sensibilidade
Idade no canon Filme 1995 Minissérie 2008
Elinor Dashwood 19 Emma Thompson Hattie Morahan
36 (+17) 30 (+11)
Marianne Dashwood 16 Kate Winslet Charity Wakefield
20 (+4) 28 (+8)
Coronel Brandon 35 Alan Rickman David Morrissey
49 (+14) 44 (+9)
Quadro 2 - Razão e Sensibilidade
A grande atriz Emma Thompson já era famosa por ‘Retorno a Howards End’ dentre
outras produções quando o roteiro de Razão e Sensibilidade finalmente entrou em produção
depois que ela passou cinco anos trabalhando nele com a ajuda da produtora Lindsay Doran
que lhe fez a encomenda. Para as protagonistas, ela sempre teve em mente duas atrizes irmãs
de fato, Natasha e Joely Richardson, na época com 30 e 32 anos – idade cronológica nunca foi
uma preocupação real aparentemente.
Apesar de Emma Thompson admitir ter escrito o papel de Edward Ferrars com Hugh
Grant em mente, foi o diretor Ang Lee quem a persuadiu a interpretar Elinor. Quando ela
37
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
argumentou que era velha demais, ele (o diretor) sugeriu que a personagem fosse alterada
para uma solteirona de 27 anos (assim como Charlotte Lucas em Orgulho e Preconceito).
Na visão do fandom, Hattie Morahan, a Elinor da produção de 2008, tem mais espaço
exatamente porque, em comparação com Emma Thompson, como não tem a diferença de
idade tão gritante agindo contra ela, é possível prestar atenção em sua atuação. Falo disso
mais detalhadamente à frente.
Charity Wakefield que interpretou Marianne no seriado da rede BBC de 2008 disse em
entrevista na época de divulgação que sua personagem é a personificação da juventude e
esperança, no entanto, ela é raramente confiada a uma atriz que se aproxime de sua idade
cronológica por menos de meia década.
E quanto ao Coronel Brandon de Alan Rickman, existe certa dificuldade em aceitar
que um homem tão mais velho considere uma menina como esposa. O que leva a um
comentário de outro card do artigo do jornal ‘The Guardian’ que diz: “o final feliz de um
livro de Austen acontece quando a garota vira filha para seu marido, um homem mais
velho e sábio que tem sido seu professor e conselheiro”18.
Mas isso é assunto para outro artigo…
Northanger Abbey
Idade no canon Filme para TV 2005
Catherine Morland 17 Felicity Jones
22 (+5)
Henry Tilney 25 JJ Feild
27 (+2)
Quadro 3 - Abadia de Northanger
Em 2005, o produtor chefe da área de dramaturgia da rede ITV encomendou ao
roteirista Andrew Davies novas adaptações de Austen que apelassem para audiências mais
jovens, pois, segundo ele, a cada dez anos todas as grandes estórias precisam ser recontadas.
Concordo. Dessa forma, foram prometidos ‘grandes nomes dentre os maiores talentos
Britânicos’ para o elenco de Abadia de Northanger, Mansfield Park e Persuasão. Em nenhum
momento houve a preocupação com a idade real desses grandes profissionais.
18
The Madwoman in the Attic: The Woman Writer and the Nineteenth-Century Literary Imagination, livro de
Sandra Gilbert e Susan Gubar
38
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Mansfield Park
Idade no canon Filme 1999 Filme para TV 2007
Fanny Price 18 Frances O’Connor Billie Piper
32 (+14) 25 (+7)
Quadro 4 - Mansfield Park
Neste caso, a caracterização incomoda tanto quanto a diferença gritante de idades
cronológicas – especialmente no filme de 2007.
Persuasão
Idade no canon Minissérie 1995 Filme para TV 2007
Anne Elliot 27 Amanda Root Sally Hawkins
32 (+5) 31 (+4)
Capt Frederick Wentworth ±33 Ciarán Hinds Rupert Penry-Jones
42 (+9) 37 (+4)
Quadro 5 – Persuasão
Como a estória trata de pessoas e de tema mais maduro, atores e atrizes que aparentam
mais idade não chegam a incomodar, mas imaginar o Capitão como um velho lobo do mar é
com certeza uma fanfic...
Amanda Root quis tanto o papel que escreveu carta para o diretor com quem já havia
trabalhando antes. Na marca, Anne! Escritor de cartas melhor que Wentworth, só Darcy.
Certo?
Emma
Idade no canon Filme 1996 Minissérie 2009
Emma Woodhouse 20 Gwyneth Paltrow Romola Garai
24 (+4) 27 (+7)
George Knightley 37 Jeremy Northam Jonny Lee Miller
35 (-2) 37 (!)
Quadro 6 – Emma
No filme de 1996, o diretor Douglas McGrath aproveitou a fama que obteve com
produções anteriores para levar ao estúdio seu sonho de faculdade de filmar Emma – uma
39
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
paixão desde a faculdade quando leu Austen. Seu agente sugeriu Gwyneth para o papel
principal e apesar de duvidar, ele aceitou a indicação por tê-la visto fazendo sotaque texano
em outra produção recente. Assim que a atriz começou a ler como Emma, ele soube que ela
conseguiria ser uma heroína de Austen – mas ela estava cronologicamente próxima da
personagem e fez extensa preparação como aulas de equitação, arco e flecha, canto, dança e
maneirismos.
BÔNUS
Apesar de não entrar na lista de comparações de produções de contextualização
histórica, o filme ‘Patricinhas de Beverly Hills’ (Clueless em versão original) é um ícone no
fandom e assim como ‘The Lizzie Bennet Diaries’ conquista fãs jovens com as peripécias de
Emma e sua intenção de bancar cupido para a vizinhança.
Neste caso, uma adaptação moderna da obra, a diferença de idade é pequena para a heroína,
negativa para o herói e, no entanto no roteiro do filme, Cher (Emma) deveria ter 16 e estar no
high school.
Patricinhas de Beverly Hills (Emma)
Idade no canon As patricinhas de Beverly Hills - Filme 1995
Cher Horowitz-
Emma Woodhouse 20
Alicia Silverstone
19 (-1)
Josh Lucas -
George Knightley 37
Paul Rudd
26 (-11)
Quadro 7 - Clueless
Ainda assim, é uma ótima interpretação de Emma Woodhouse – com closet e tudo.
ASPECTOS PRÁTICOS
Quase todas as heroínas de Austen são jovens, muitas menores de dezoito anos. E as
produções listadas acima são Inglesas e norte-americanas onde há leis extremamente severas
sobre trabalho infantil que dificultam muito a escolha de crianças para personagens principais.
As horas de trabalho são reduzidas, elas devem ter tutores presentes no set para que seu ano
letivo não seja interrompido, são vetadas quaisquer alusões a sensualidade de qualquer forma,
40
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
a pressão emocional é grande e ainda há que se contar com a vigilância de pais e/ou
guardiões.
Produtores também admitem evitar o risco de enfrentar mudanças físicas em
produções alongadas (Orgulho e Preconceito de 1995, por exemplo, foi filmado durante 20
semanas) quando a puberdade pode mexer com a aparência de um adolescente.
Dessa forma, geralmente, os produtores e diretores de elenco preferem trabalhar com maiores
de idade.
Existem casos famosos e emblemáticos como os ‘adolescentes eternos’ da série de TV
Buffy a caça vampiros onde todos os atores estavam em torno dos 25 anos, mas os
personagens tinham 15.
CULPABILIDADE
A comparação deste artigo não objetiva evidenciar a desigualdade atribuída ao
envelhecimento feminino na indústria do entretenimento, entretanto trago exemplo.
Na campanha de lançamento do filme VII da saga Star Wars, ao ser criticada por parecer mais
velha que seu companheiro de cena e par romântico Harrison Ford, quatorze anos mais velho
do que ela, a atriz Carrie Fischer precisou se defender por ter ‘envelhecido mal’. Depois de
uma humilhante e desnecessária entrevista em um programa matinal, a ‘batalha’ continuou
em redes sociais onde ela retweetou a frase de outra mulher: ‘Homens não envelhecem
melhor que mulheres, eles só tem permissão de envelhecer.’19
Em um artigo muito contundente sobre feminismo contemporâneo discutido no evento
Casa TPM de 2016, houve uma espécie de tradução do tema como ‘efeito Dorian Grey20
’: as
mulheres devem manter a juventude a qualquer custo, não podem envelhecer em paz e isso é
fonte de sofrimento.
‘A conta é simples e cruel: se somos ensinadas, desde pequenas, que ser bonita é
uma das nossas missões no mundo (junto com a maternidade), e se a beleza está
conectada à ideia do que é jovem, o que tem viço, o que está dentro de padrões
estéticos definidos culturalmente, então, é quase como se tivéssemos que mantê-las
a qualquer custo: beleza e juventude.’
19
‘Men don’t age better than women, they´re just allowed to age.’ 20
O retrato de Dorian Grey livro de Oscar Wilde, 1890
41
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Reitero que este artigo não é sobre beleza ou idade das atrizes/atores, mas a idade dos
personagens que eles representam. Entretanto, não há como deixar de mencionar o sexualismo
da indústria cinematográfica, especialmente quando ela se encontra no vórtex de um
escândalo de grandes proporções com o afastamento de um grande produtor.
Como na era Regencial que Austen retratou tão bem, as mulheres ainda sofrem para
achar seu lugar.
Papéis femininos complexos são difíceis de achar para atrizes de qualquer idade,
mas aquelas mais jovens na casa dos 20 anos são especialmente pressionadas a achar
roteiros sobre mulheres dinâmicas perto de sua idade cronológica.
Então deveria uma atriz rejeitar um bom papel por ser cronologicamente discrepante
com a personagem mesmo sabendo da dificuldade em conseguir outro? Ou talvez de
contentar-se em interpretar a mãe da protagonista?
EXPLICAÇÃO
Em 'Orgulho e Preconceito', toda a trama se desenrola pelo fato de Lizzie Bennet,
gozando o ardor de seus 19 para 20 anos, entrando no que era considerado auge da idade
casadoira e vivendo com a repetição de que, apesar de ser formosa e espirituosa, era sua irmã
Jane a mais bela da região, escuta acidentalmente o rico e taciturno forasteiro Mr. Darcy
dizer: “Ela é tolerável, mas não bonita o suficiente para tentar-me; e eu não tenho paciência
no momento para dar atenção a senhoritas esnobadas por outros homens.”21
Uma grosseria capaz de destruir a autoestima de qualquer garota, mas uma mulher
madura de trinta e seis anos não teria mais capacidade de relevar isso dali a uns... Sete
capítulos? Boa fanfic, não seria?
Por isso a magnífica adaptação de Razão e Sensibilidade não faz sentido para mim. A
atriz é uma das minhas favoritas, Emma Thompson tem talento inegável e o discurso que ela
fez para receber o Golden Globe de melhor roteiro adaptado por esta obra é uma magistral
fanfic – Austen conta a festa de premiação com suas próprias palavras! Mas Elinor tinha só
dezenove anos e de repente deixou de ser a filha querida para virar arrimo emocional da mãe
e irmãs – dureza para uma adolescente, bem menos complicado para uma mulher madura.
21
‘She is tolerable; but not handsome enough to tempt me; and I am in no humour at present to give consequence
to young ladies who are slighted by other men.’ Pride and Prejudice by Jane Austen, chapter III, vol I
42
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Não devo exaurir o tempo discutindo inteligência emocional, obviamente existem
mulheres de dezenove mais firmes que mulheres de quarenta – a discussão não é essa. E
também há o fato de que a vida era duramente rigorosa no século XIX, dezenove anos
equivaleriam a muito mais em nossa vida de amenidades sociais.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Depois de muito pensar sobre o assunto sobre a disparidade na idade dos personagens
em relação a idade dos intérpretes comecei a vasculhar detalhes sobre como seria viver nos
tempos de Jane Austen.
Ao analisar as obras Austeneanas e a visão da autora sobre os costumes do século
XIX, onde uma jovem era apresentada à sociedade começando assim suas temporadas em
bailes e interlúdios afetivos que culminavam em casamento, observo que tudo seguia de
forma rápida. Isso talvez se devesse ao fato de que a expectativa de vida era baixa. Nesse
sentido, Doutor Leonardo Fontenelle22
, médico da família e comunidade, traz dados muito
interessantes ao traduzir em seu blog uma síntese do vídeo do Doutor Hans Rosling,
estatístico e médico23
, onde escreve que em “1810 todos os países eram pobres e doentes.
Apenas dois países tinham uma expectativa de vida maior que 40 anos: Reino Unido e
Holanda”. E ainda haviam as guerras.
Vê-se, portanto, a necessidade de uma mulher se casar cedo e de homens escolherem-
nas para deixar herdeiros e um nome para a posteridade, e consequentemente entendemos o
desespero da Sra. Bennet que tinha cinco filhas e um marido que provavelmente já estava na
‘prorrogação’, considerando que no livro originalmente denominado First Impressions, Jane
Austen, o escreveu entre outubro de 1796 e agosto de 1797, o Sr. Bennet era um homem
bastante idoso para a época. Devo acrescentar que quando assisto às primeiras cenas de
Orgulho e Preconceito de 2005 e vejo Elizabeth Bennet entrando em casa observo que o local
não era um primor de limpeza, o que faz todo sentido já que a expectativa de vida é ligada à
higiene pessoal, conforme comprovou o cientista Louis Pasteur, na segunda metade do XIX,
ao provar a relação existente entre a contração de doenças e a higiene pessoal.
22
http://leonardof.med.br/2011/01/14/como-a-expectativa-de-vida-evoluiu-em-200-anos/ 23
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=jbkSRLYSojo
43
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
A vida no século XIX era dura e miserável,24
especialmente nas primeiras décadas. A
mulher era mais considerada como uma máquina de produção em série de herdeiros. O
cenário realmente só começa a mudar com a revolução industrial já na metade do século. Não
era de admirar que os personagens transpareçam aquele ar sério nos filmes de época, se 40
anos era a idade média das pessoas, fico a imaginar como era viver com medo até de pegar
um resfriado.
Muitas vezes a beleza retratada nos filmes e o luxo dos bailes com toda a pompa e
circunstância não acompanha o real cenário. As pessoas possivelmente parecessem ter mais
idade do que realmente tinham, penso que talvez por isso e no caso específico de Razão e
Sensibilidade, o intuito era deixar que as irmãs Dashwood transparecessem a vida árdua e o
sofrimento em seu comportamento e estado de espírito – aqui, mais especificamente, Elinor.
A REALIDADE É IRREAL
Obviamente vários aspectos são levados em conta quando um profissional é escolhido
para assumir um personagem – especialmente em uma produção que carregue o peso de uma
adaptação de Jane Austen. O prestígio e a fama que esse profissional traz em sua carreira é
um fator inegável. Por exemplo, quem não adoraria ver mais da Lady Catherine DeBourgh da
Dame Judi Dench de Orgulho e Preconceito de 2005? Em sua meia dúzia de cenas, ela
abrilhantou a produção e seu nome trouxe peso ao elenco.
Além disso, há o potencial de futuras premiações, seu talento, background,
rentabilidade, retorno financeiro e claro, adequabilidade.
Em um fórum de discussão de atores, encontrei uma explicação bastante clara:
Ter mais experiência de vida e de atuação traz valor inegável para o trabalho de um
ator quando faz um papel de personagem mais jovem, o quanto mais ele trouxer para
sua atuação, melhor. Porém o mais importante é ser crível no papel e não casar na
idade do personagem.25
24
https://spotniks.com/7-razoes-porque-voce-odiaria-viver-no-seculo-19/ 25
Carole Swann em Quora digest - https://www.quora.com/Why-are-characters-in-films-and-television-often-
played-by-actors-who-are-older-than-the-character
44
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Realmente, parece claro. No entanto, voltando ao caso de Elinor Dashwood e Emma
Thompson, em uma acalorada discussão em um fórum Austeneite, encontrei observações
muito interessantes.
“Me distraio sempre, continuo vendo Nanny McPhee toda hora.
(outra personagem da mesma atriz, e de caracterização um tanto
cômica)”
“A relação principal da estória é entre as irmãs Elinor e Marianne e
nesta versão elas parecem mãe e filha! No mínimo tia e sobrinha... Ao
menos na versão de 2008 elas parecem mais como irmãs de verdade;
é mais emocional, estão mais niveladas.”
Ora, neste caso, o tema é completamente desvirtuado... Se quem assiste a produção
nunca leu Razão e Sensibilidade, entendeu outra estória. Quão interessante, não é mesmo?
Há o que se pode chamar de licença poética quando o autor/roteirista estica a realidade
em pequenos pontos para que a estória ganhe agilidade e credibilidade, o importante é manter
a narrativa. Para isso, o roteiro deve ser consistente, contar com a força de seus pivôs
emocionais e na atuação de seus profissionais. Emma Thompson ganhou inúmeros prêmios
tanto por seu roteiro quanto pela atuação em Razão e Sensibilidade como o Oscar, Globo de
Ouro e BAFTA.
E, no entanto, o sucesso de crítica não lhe blindou contra o estranhamento da diferença de
idade.
A VISÃO DE UMA AFICCIONADA EM FANFICS
Para quem é viciado em Austen – ler e reler e consumir mais e mais Austen – tudo é
fonte de inspiração. Especialmente os personagens envelhecidos. Isso dá pano para mangas...
Razão e Sensibilidade, filme de 1995.
Mesmo sendo a minha obra de entrada no reino de Austen, Razão e Sensibilidade
definitivamente não é minha favorita, mas ver Elinor tão mais madura nunca me pareceu
bem... Não fez sentido para mim aquela trama com aquelas pessoas, mesmo sendo elas
excelentes profissionais em uma produção primorosa. Sim, é um passaporte para a Era
Regencial Inglesa, porém visualmente os personagens parecem-me interpretar uma fanfic:
45
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
E se o Sr Dashwood tivesse aproveitado de mais dez anos de saúde e os eventos de
Razão e Sensibilidade só acontecessem muito tempo depois?
Orgulho e Preconceito
Tenho grande preferência pela versão da BBC de 1995, sem sombra de dúvidas. É
longa, detalhada, tem a cena do lago e tudo mais. Porém, gostaria muito que Lizzy tivesse 20
anos, acredito que a estória seria completamente diferente. Como disse acima e já é o enredo
inicial de meu primeiro livro, para uma Lizzy mais madura, de mais de 30 anos, a alfinetada
que ela ouve seria descartada com ironia e respondida à altura. O restante da trama seria bem
mais interessante...
Abadia de Northanger
Apesar da diferença de idade da heroína nestas adaptações, acredito que o casal
escolhido representa muito bem a mistura de curiosidade inocente e excitação juvenil que
move a estória. Sou fã do romance, da adaptação e das musselinas.
Mansfield Park
Novamente a diferença de idade parece dar à trama uma nova conotação. Fanny passa
por agruras da juventude que pedem a vulnerabilidade de uma menina recém-saída da
puberdade, ainda mais na situação sócio-familiar que ela se encontra.
Emma
Em Emma, incrivelmente, acredito que a diferença não incomoda de forma alguma,
mesmo sendo considerável no caso da produção de 2009 – talvez porque o herói está
compatível com o canon e isso talvez dilua a insensatez da heroina. Uma coisa que sempre me
deixa suspirando é ver Jennifer Ehle e Colin Firth no filme ‘O discurso do Rei de 2010’... São
Mr. Darcy e Lizzy Bennet – neste caso Mrs. Darcy – 15 anos depois, fazendo bodas de
cristal... Ah, que boa fanfic!...
46
Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
CONCLUSÃO
Mesmo levando em consideração todo o cenário do Reino Unido no século XIX, uma
jovem em seus 19 anos dificilmente transpareceria uma idade superior a 22 ou 23 anos.
Portanto, em certos casos, a licença poética é de tal forma forçada que não há como deixar de
notar a falta de sintonia da adaptação que não segue os critérios cronológicos da própria obra;
que na verdade, confunde quanto à trama, separando a criação original de seu contexto e
trazendo dúvidas à mente do leitor.
Temos nós hoje em dia mais tempo para amadurecer e por isso estamos mais distantes
das personagens de Austen? E por isso precisamos que profissionais mais experientes o
interpretem?... E que fique bem claro aqui, não é uma generalização...
Porém e por que não, diante de tantos jovens talentos, de tantos atores como de atrizes, ainda
espero ver uma adaptação mais próxima possível do que nossa eterna Jane Austen descreveu
em suas belas obras.
Aliás, se Jane Austen fosse contemporânea qual seria a idade de suas heroínas tão
amadas? Será que no século XXI elas ainda seriam adolescentes? Talvez isso seja assunto
para uma próxima vez e inúmeras fanfics.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
ESTÉTICA DA RECEPÇÃO EM SALA DE AULA: JANE AUSTEN,
FILME E OBRAS EM ANÁLISE
Rosiane Maria Gusberti Franke26
O presente estudo tem por objetivo analisar o filme O clube de leitura de Jane Austen, e, com
base na Estética da recepção e seus autores, identificar os diferentes efeitos que as obras da
autora causam nos personagens do filme, tratando-o como um novo subsídio para o ensino de
literatura em sala de aula. Serão analisadas as vozes dos personagens do filme, comparando-
as com as possíveis vozes dos alunos em sala de aula, buscando refletir sobre a importância
do professor trabalhar literatura utilizando a teoria da recepção. Além disso, será feita a
intertextualização dos personagens das obras da autora citadas no filme com os próprios
personagens do filme. Principalmente de Jocelyn que é a personagem central do filme. É
importante ressaltar que o foco principal, é, sob o olhar da estética da recepção, analisar a
recepção que cada personagem fez das obras, tendo em vista o horizonte de expectativas de
cada um.
PRIMEIRAS PALAVRAS
O presente estudo tem por finalidade analisar como algumas obras da autora Jane
Austen são intertextualizadas no filme O clube da leitura de Jane Austen relacionando a
teoria do efeito ou teoria da recepção, que foi pensada por Jauss (1994), Igarden (1979) e Iser
(1996). A finalidade principal deste artigo é tentar compreender a importância da teoria da
recepção em sala de aula, com base na análise do filme, que trata da recepção de diferentes
personagens às obras de Jane Austen.
Interpretar ou tentar entender obras literárias exige muito tanto por parte do professor,
como para o aluno, pois para a compreensão da obra é necessário uma leitura atenta a
questões como o contexto histórico. São necessárias leituras cautelosas, precisa-se ler nas
entrelinhas, conhecer o contexto. Porém para cada indivíduo a obra pode ser vista de forma
diferente, e isso vai depender de vários fatores como, a classe social, a faixa etária, a situação
emocional em que o leitor está quando ler a obra, entre outros fatores. Pensando no ensino de
literatura e que, ao trabalhar uma obra literária o professor irá se deparar com vários alunos,
26
FRANKE, Rosiane é pós graduada no curso de especialização “Ensino de Língua e Literatura”, pela
Universidade Federal Fronteira Sul UFFS,Campus Realeza, email: rosianefranke@gmail.com.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
de diferentes classes sociais, diferentes culturas, visões políticas, depreende-se que numa
mesma turma uma mesma obra lida poderá ter diferentes recepções, e o professor, baseado na
teoria da recepção, poderá auxiliar os alunos a compreenderem o texto.
Um texto sempre é escrito para alguém, e é essa essência que o educando precisa
compreender, e neste caso o professor deve ser o mediador desse entendimento. Quando as
ideias e perspectivas de alunos e professores se encontram e são debatidas, a leitura terá efeito
e fará sentido, já que, apesar de todos os alunos estarem teoricamente no mesmo nível, a
bagagem literária de cada um será diferente, e logicamente a bagagem do professor deverá e
será maior, e é por isso que os diferentes conhecimentos devem ser debatidos, abrindo
espaços para várias interpretações. Partindo desse pressuposto, a análise do filme buscará
mostrar como uma mesma obra pode ser vista de diferentes formas, dependendo de quem a lê.
No ensino de literatura, é muito relevante estudar as teorias em relação ao leitor,
situando-o no estudo das relações entre o autor e a obra. A estética da recepção trata do efeito
de sentidos e significados que a leitura de uma obra provoca em seu receptor, levando em
conta a compreensão do saber, que é construído na consciência de cada um. Sabe-se que
atualmente os professores muitas vezes encontram dificuldades em trabalhar obras literárias e
fazer com que seus alunos as leiam, compreendam ou se apropriem das leituras, alguns
fatores colaboram com isso, seja por falta de estímulo à leitura, falta de interesse, ou falta de
preparo ou metodologia por parte do professor. Então depreende-se que a teoria da recepção
possa auxiliar o professor em suas aulas, fazendo com que o aluno desenvolva um maior
interesse pela leitura. Portanto, num primeiro momento, será mostrado como a teoria da
recepção pode auxiliar o professor no ensino de literatura e no entendimento dos diferentes
efeitos que as obras literárias podem causar.
TEORIA DA RECEPÇÃO E SEUS AUTORES
Sabe-se que ao tratar de leitura e leitor, tem-se um longo caminho já trilhado, Costa
(2011) salienta que alguns estudiosos como Roman Ingarden (1893-1970) relatam que o texto
precisa do leitor para se concretizar, e que ele é essencial no jogo literário, já que sem ele o
texto não se concretizaria, pois ele é alguém que percebe a criação literária.
Segundo Eagleton “Quando a obra passa de um contexto histórico para outro, novos
significados podem ser dela extraídos” (EAGLETON apud COSTA, 2011). Isso acontece
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
devido ao horizonte de expectativas que é a troca de experiências entre a obra e quem está
lendo. Cada leitor constrói seu horizonte de expectativa, com sua posição histórica e
experiências anteriores, assim o leitor vai produzindo sentidos em relação ao texto.
Costa (2011) ressalta ainda que a estética da recepção surgiu quando Hans Robert
Jauss fez críticas à forma como a história da literatura é abordada, propondo reflexões a
respeito. Essa crítica surgiu porque a teoria literária estava utilizando apenas grandes autores,
não deixando espaço para os menores.
A autora argumenta ainda que a literatura não contemplava o valor histórico e a
recepção pelos leitores, desconsiderando assim o lado estético da criação literária. Para Costa
(2011) o saber prévio, ou seja, o horizonte de expectativas de cada um se torna responsável
pela primeira reação do leitor à obra, pois está na consciência individual de cada um, como
um saber construído socialmente e de acordo com a sua época. Segundo a autora, “o horizonte
de expectativas determina a recepção, pois a obra apresentada pela literatura dialoga com as
experiências que o leitor possui” (JAUSS apud COSTA, 2011), permitindo assim que o leitor
visualize o seu cotidiano, já que o autor do texto adentra o seu horizonte de expectativas.
Wolfgang Iser (1926-2007) também elaborou estudos em relação ao leitor. A teoria do
efeito, analisa os efeitos das obras literárias nos leitores. Segundo Iser (1996), ela dá destaque
à experiência da leitura para construir significados.
Para Costa (2011), Iser, com suas considerações, faz com que o leitor participe mais
ativamente do texto. Ressalta ainda que através da leitura o leitor reformula, reinterpreta, o
texto e isso tudo ocorre devido aos imprevistos que acontecem quando se está lendo, estes que
podem ser de ordem pessoal, fatos do dia a dia. Isso valoriza o texto e ajuda o leitor a
vivenciar experiências de outras pessoas, neste caso os personagens literários.
Desta forma Jauss (1967) e Iser (1996) fizeram uma reformulação literária, permitindo
ao leitor o exercício de estabelecer a recepção de cada época, permitindo assim que o adentre
em épocas diferentes da sua, analisando o período em que a obra foi escrita historicamente e
culturalmente, para depois desta análise recepcionar o texto.
Costa (2011) ressalta também a contribuição da teoria da recepção ao ato da leitura,
pois segundo ela “as vozes do leitor e do autor do texto se cruzam. Assim o leitor se torna
atuante no texto, sofrendo seus efeitos e produzindo sentidos” (COSTA, 2011) Isso explica o
fato de os leitores, ao lerem uma obra literária, se colocarem no lugar dos personagens.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Portanto, ao pensar em leitura de literatura em sala de aula, deve-se primeiramente
analisar a leitura como um fenômeno social e histórico em que cada leitor, a partir de suas
próprias referências individuais ou sociais, dá um sentido ao texto de que se apropria. Nessa
perspectiva, deve-se pensar a literatura em sala de aula sempre considerando o conhecimento
prévio que o aluno têm, suas leituras anteriores, para poder compreender o efeito ou a
recepção que uma obra literária terá sobre ele.
LEITURA LITERÁRIA E CINEMATOGRÁFICA
Para Costa (2011), quando uma obra que foi escrita em um contexto histórico é
analisada em outro contexto, novos significados podem ser dela extraídos, e isso só se torna
possível por meio do horizonte de expectativas do leitor com a obra no ato da leitura.
Desta forma, o leitor, através de sua posição histórica e leituras anteriores, vai
ganhando espaço no texto, fazendo com que ele passe a ter sentido. Sabe-se que a teoria
literária sob um olhar sociológico demonstra uma ligação entre a literatura e a sociedade, pois
a literatura nada mais é que um retrato da própria sociedade. “O leitor sob essa perspectiva,
torna-se o sujeito que iguala suas experiências pessoais ao interesse científico materialismo
histórico” (JAUSS, 1994, p.23), ou seja, ao fazer a leitura de uma obra literária o leitor
identifica e iguala suas experiências vividas com a própria história do livro, apropriando-se
assim da leitura e intertextualizando a sua vida com as vidas literárias existentes na obra lida.
O leitor precisa completar o texto, ler nas entrelinhas, compreender o texto com a
ajuda da sua imaginação. O leitor, ao ler o texto literário, precisa torná-lo familiar, só assim
ele passará a ter consciência crítica da sua própria realidade. Em relação ao deslocamento da
obra literária em épocas diferentes. Jauss (1994) diz que os textos não se comunicam apenas
com os leitores contemporâneos, mas também se comunicam ao longo do tempo com outros
públicos, assumindo formas diferentes conforme a recepção desse público.
Quando tratamos da análise de um filme que foi adaptado a partir de um texto
literário, nos deparamos com a questão da fidelidade e dependência do romance adaptado, isto
é, a forma como ele vai representar certos temas, significados e questões que já foram
apresentadas na obra literária. O filme O clube de leitura de Jane Austen (2007) é uma
adaptação que trata justamente da recepção que as seis obras da autora causam nos seis
personagens que se dispõem a lê-las. Pode-se então perceber e comprovar as teorias acima
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
citadas, onde o leitor participa e colabora com a leitura, e que é a partir do seu horizonte de
expectativas que a leitura fará sentido para ele. Os filmes também enaltecem e dão
importância às obras, já que são uma forma de retratar as obras literárias.
ESTÉTICA DA RECEPÇÃO EM SALA DE AULA
Segundo Todorov (1939), a obra literária produz vários sentimentos em seu leitor,
provocando a interpretação e esse efeito perdura por muito tempo depois da leitura. Estamos
sempre imersos em vários discursos que a sociedade nos apresenta e que espera que sigamos,
e isso reflete nas obras literárias, já que elas contam, na maioria das vezes, histórias o
cotidiano de pessoas e comunicam opiniões, dogmas, lugares de uma época. A recepção que
os personagens do filme fazem das obras de Jane Austen se dá pelo fato de haver a
apropriação das obras, pois conhecendo novos personagens pode-se interiorizá-los, uma vez
que, segundo o autor, quanto menos esses personagens se parecem conosco, mais eles
ampliam nosso horizonte.
Segundo Costa (2011) o ensino de literatura nos dias de hoje nas escolas públicas,
muitas vezes, é trabalhado com despreparo pelos professores, prejudicando assim o
aprendizado dos alunos. Sabe-se também que muitas vezes os professores se empenham ao
máximo para fazer com que os alunos se interessem pelas obras literárias e pela literatura e
mesmo assim alguns alunos não demonstram interesse pela disciplina. Entende-se que não
podemos culpar nem o professor, nem o aluno pela falta de interesse pela literatura, deve-se
sim procurar métodos para um melhor letramento literário, ou aperfeiçoarmos os métodos já
existentes, procurando sempre alcançar o aluno e a sua relação com o texto literário. A teoria
da recepção é um desses métodos. Zilberman (1982, p. 21) entende a leitura como “uma
descoberta de mundo, precedida segundo a imaginação e a experiência de cada um”. É na
escola que o aluno inicia sua participação ativa na literatura. Neste contexto, o professor deve
interferir. A Estética da Recepção ressalta o fato de que o sistema literário necessita da
interação entre autor, obra e o público leitor. Juntos eles dão vida ao efeito causado no público
leitor. Isso pode gerar um ambiente que seja democrático durante as aulas de literatura,
resultando no aprendizado. Assim o professor se torna um mediador, e a mediação só irá
ocorrer quando o professor conseguir tornar seus alunos leitores de diversos gêneros textuais,
e isso é extremamente importante na vida escolar que terá influência na vida adulta do aluno.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
A leitura acaba tornando-se uma experiência entre a narrativa do autor e as histórias da vida
do leitor. Segundo (ZILBERMAN 1989, p. 33) “A natureza histórica da literatura se
manifesta durante o processo de recepção e efeito de uma obra”. Quando o leitor lê a obra, a
historicidade acontece, e no mesmo tempo se atualiza. Ou seja, o aluno pode ler uma obra
escrita em 1815, como as obras de Jane Austen, que no ato da leitura se atualizarão e o leitor
fará a ponte entre os anos, reconstruindo diálogo entre autor e leitor, de modo que suas épocas
serão só um detalhe, já que o aluno terá o seu pré-conceito e horizonte de expectativas em
relação à obra lida.
Cada leitor poderá reagir de uma forma diferente a um determinado texto, levando em
conta sua experiência pessoal Assim sendo se o professor souber administrar essas idéias, seu
trabalho será mais que gratificante e seus alunos desenvolverão o gosto pelos textos literários.
Além disso, sabemos que a literatura pode formar a compreensão de mundo do leitor, e isso
terá consequências em seu futuro e em seu comportamento social, fazendo com que ele
compreenda melhor o mundo que o cerca.
Segundo Iser “Como atividade comandada pelo texto, a leitura une o processamento
do texto ao efeito sobre o leitor. Esta influência recíproca é descrita como interação” (ISER
1979, p. 83). Desta forma, o leitor constrói seu próprio mundo e encontra respostas para seus
questionamentos, por isso o professor deve levar diversos tipos de textos, de vários gêneros
textuais para sala de aula iniciando a comunicação entre autor e leitor.
Quando se trata de um texto ficcional, a estrutura desse tipo de texto pode provocar o
leitor, seja pela própria estrutura, pela expectativa do próprio leitor, ou pela representação da
realidade. Um conceito construído por Iser (1996) foi o dos espaços vazios, ou seja, os
espaços em branco deixados pelo autor e que devem ser preenchidos pelo leitor. No texto
literário isso acontece muito, já que esse tipo de texto abre espaço para inúmeras
interpretações, e isso varia de acordo com o horizonte de expectativa do leitor e experiências
já vividas. Portanto a escola é o lugar onde existem mais condições para realizar esse processo
de mediação entre a obra o autor e o leitor, conforme afirma Lajolo:
A escola é a instituição que há mais tempo e com maior eficiência vem cumprindo o
papel de avalista e de fiadora do que é literatura. Ela é uma das maiores
responsáveis pela sagração ou pela desqualificação de obras e autores.Ela desfruta
de grande poder de censura estética – exercida em nome do bom gosto – sobre a
produção literária (LAJOLO, 2001 p.19).
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Percebe-se então que a escola é responsável sim, pela formação literária do aluno e
que a leitura está intimamente ligada à literatura, e que os estudos desenvolvidos pela estética
da recepção demonstram ser eficazes nas aulas de literatura, pois essas ideias podem ser
muito bem aproveitadas, cabendo ao professor organizar as aulas fazendo com que o texto
literário seja o centro da sua aula e, a partir dele, trabalhar seu contexto histórico, vida do
autor e escola literária que pertence.
FILME E OBRAS EM ANÁLISE
Jane Austen (1775-1817) escreveu sobre pessoas que ela conhecia bem, ladies e
gentlemen da Inglaterra rural. A matéria de suas obras é extraída da vida familiar, e trata de
amizades, galanteios e casamentos. Seus romances oferecem impressões e lampejos da
imaginação da autora. Austen começou a escrever quando ainda era criança, porém seu
primeiro romance Razão e Sensibilidade, só foi publicado em 1811, quando ela tinha trinta e
cinco anos. Os leitores do atual século ao lerem um romance desses, entram num mundo
distante, onde dinheiro e classe social tornavam alguns melhores que outros, e as mulheres
solteiras possuíam uma terrível propensão à pobreza (REEF, 2014, p.62).
Segundo Reef (2014) Austen pertencia a uma família numerosa, não recebeu quase
nenhuma educação formal. Observava como as pessoas se portavam e escrevia sobre elas.
Uma coisa que não suportava eram os casamentos arranjados. Na sociedade em que vivia, as
mulheres deveriam ter um comportamento adequado na idade de contrair núpcias, “uma
jovem solteira deveria estar sempre acompanhada, ela poderia escrever para o rapaz apenas se
estivessem noivos e nunca deveriam ficar a sós”, (REEF,2014, p.63).
Talvez ela soubesse as consequências de escrever seus romances, já que naquela época
uma mulher escritora não era aceita pela maioria da sociedade, mas mesmo assim ela
escrevia. Segundo Reef (2014) geralmente Jane escrevia sobre os jovens da Inglaterra, mas
eles acabam tornando-se os jovens de qualquer época e lugar se compararmos as
preocupações e algumas situações relatadas pela autora, e isso explica o fato dos leitores de
todos os lugares e tempos se identificarem e compreenderem as palavras de seus personagens.
O filme começa com a morte de um dos muitos cães de criação de Jocelyn, uma
mulher solteira e que está convicta de que seus cachorros são melhor companhia que qualquer
outro homem. Existem ainda mais quatro mulheres. A primeira, Bernadette, é uma senhora
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
divertida, super moderna e que já passou por cinco casamentos. Depois vem Sylvia, dona de
casa que acaba de ser abandonada pelo marido e que é mãe de Allegra, pré-adulta e
orgulhosamente lésbica. A quarta mulher, Prudie, não faria parte do grupo não fosse por
Bernadette, que a conhece na fila de uma sessão de filmes baseados na obra de Jane Austen, e,
conversando com essa estranha, se dá conta de que o que une todas essas mulheres com
problemas pessoais é justamente a paixão pelas histórias da escritora Jane Austen, que traduz
o universo feminino para os livros da forma mais apaixonante e verdadeira possível.
É com esse gancho que Bernadette decide iniciar um clube de leitura onde a cada mês
as mulheres se reunirão em um lugar diferente pra colocar na mesa a discussão de um dos
livros. Cada uma delas fica encarregada de tocar uma das reuniões e um livro diferente. Só
que o problema é que são seis livros e apenas cinco mulheres, por isso cada uma delas parte
em uma missão para encontrar a sexta pessoa. E é aí que entra Grigg, um jovem viciado em
ficção científica e que nunca ouviu falar de Jane Austen, as mulheres acham isso um absurdo,
porém Grigg parece ser um ótimo partido para animar a recém-divorciada Sylvia.
Em relação à teoria da recepção será analisado cada um dos personagens com as suas
respectivas obras, suas recepções, para em seguida fazer a comparação com a sala de aula.
O clube de leitura de Jane Austen baseado na obra de Karen Joy Fowler, cada um dos
personagens é responsável pela leitura de um livro da autora, todos os personagens do filme
possuem um identificação com o personagem principal da obra que estão lendo, e isso tem
uma influência grande na recepção que eles fazem das obras, identificando-se assim com os
personagens e com a história das obras literária. Bernadette representa Elizabeth em Orgulho
e Preconceito, Sylvia é modelada como Fanny Price em Mansfield Park, Jocelyn reflete a
personagem título de Emma, Prudie é similar a Anne Elliot em Persuasão, Allegra é mais
parecida com Marianne em Razão e Sensibilidade, e Grigg, que representa todos os
incompreendidos personagens masculinos de Austen, fica responsável pela leitura de A
abadia de Northanger.
ANÁLISE DA RECEPÇÃO DAS OBRAS LITERÁRIAS PELOS PERSONAGENS
FÍLMICOS
O primeiro encontro dos seis integrantes do clube de leitura acontece em uma
cafeteria, Prudie é uma professora de francês que se mostra auto-confiante para seus alunos,
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
porém internamente vive insegura, principalmente em seu casamento.Quando Prudie é
questionada com qual obra gostaria de ficar responsável ela diz: “Persuasão, pois estou
tentando superar uma fase de lamento,” (SWICARD, 2007, 00:22:26), essa fase de lamento
refere-se a sua vida matrimonial, a personagem do filme então se identifica com a obra
comparando-a com sua vida. Allegra, filha de Silvya e homossexual, fica com Razão e
Sensibilidade: “Já que vou voltar a morar com minha mãe a relação daquelas duas mulheres
tão opostas, mas que vivem juntas é uma coisa que me intriga” (SWICARD, 2007, 00:22:34).
Ao dizer isso Allegra também se identifica com a obra tanto que Prudie interfere, dizendo:
“Acho que na verdade Austen escreve sobre duas irmãs indo separadamente em direção ao
que cada uma acredita que seja o amor perfeito”(SWICARD, 2007, 00:22:5). Si1lvya recém
separada escolhe ler Mansfield Park pois segundo ela: “me sinto como a Fanny Price, aquela
mulher esta vivendo a minha vida”, (SWICARD, 2007, 00:32:20).
É evidente aqui a identificação de ambas as personagens, pois tanto a personagem do
livro, quanto ela estão passando por momentos difíceis.
Bernadete fica com Orgulho e preconceito, ela possui uma certa identificação com
Elizabeth Bennet a personagem principal da obra Orgulho e Preconceito, ambas são
autoconfiantes e só se relacionam com um homem se estiverem realmente envolvidas.
A Abadia de Northanger fica para Grigg, que adora ficção científica obras de Ursula
Le Guin por exemplo, além disso Grigg se identifica com todos os personagens masculinos de
Jane Austen, é incompreendido inicialmente pelas personagens femininas do filme, como os
próprios personagens masculinos de Jane Austen.
A primeira obra lida foi Emma, o encontro foi na casa de Jocelyn. Emma Woodhouse
vive em um palacete com seu pai idoso, que possui uma grande fortuna, e se sente satisfeita
com sua situação.Decidida a não se casar, às vezes sente-se entediada, principalmente depois
que sua governanta se casa e muda-se. Uma das alternativas de distração de Emma passa a ser
arranjar casamentos, promover encontros entre rapazes e moças. Ela se torna uma espécie de
cupido, mas sempre dando a sua opinião a respeito das pessoas e interferindo nos sentimentos
alheios. Isso se torna uma diversão para ela, e muitas vezes Emma é repreendida pelo senhor
George Knightley, um homem solteiro muito amigo da família. Mesmo assim ela insiste em
continuar arranjando casamentos.
Quando Emma conhece Harriet Smith, uma moça de status social inferior ao dela,
decide que irá arranjar um casamento para a amiga, e o pretendente deve ser um verdadeiro
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
cavalheiro. Porém em certo ponto da história, de tanto influenciar nos relacionamentos de
Harriet, acaba percebendo que tanto esforço não vale a pena, e isso começa a acontecer
quando sua amiga começa a demonstrar interesse pelo Sr. Knightley. Emma percebe que seus
sentimentos passam por uma reviravolta, e ela sente-se desestabilizada, percebe que não
exerce total controle sobre seus próprios sentimentos, sente a necessidade de não interferir
mais na vida e nos relacionamentos das pessoas e para isso ela precisa superar seus
preconceitos e compreender o que se passa em seu coração, descobrindo assim que é
apaixonada pelo Sr. Knightley então acontece um amadurecimento da personagem, que deixa
seus princípios, arrogâncias e ironias de lado para ficar com seu amado.
No filme, Jocelyn apresenta características parecidas com a personagem Emma,
também nunca se casou apesar de ser mais velha que a personagem Emma. Possui princípios
e adora seus cachorros, tratando-os como filhos. Sua real intenção é unir Grigg e Silvya. No
entanto Grigg se apaixona por Jocelyn e é aí que se retoma Emma, que fazia o mesmo,
tentava unir as pessoas sem observar o que estava acontecendo ao seu redor. Essa é uma das
principais características que assemelha Jocelyn e Emma, pois o fato de querer unir duas
pessoas se torna o objetivo principal das duas em ambas as obras.
Jocelyn e Emma possuem uma arrogância e uma certa independência, pensam ter
controle sobre tudo e sobre todos, pensam poder resolver os problemas de todos, mesmo
contra a vontade de alguns, elas acham que suas opiniões devem sempre prevalecer,
observa-se isso nos seguintes diálogos:
-Ah é claro - Exclamou Emma - Um homem nunca entende que uma mulher possa
recusar uma proposta de casamento. Acham sempre que as mulheres devem estar
dispostas a aceitar o primeiro que as peça (AUSTEN, 2011, p.44).
- Sempre tomei como regra geral, Harriet, que se uma mulher tem dúvidas se aceita
ou não um homem, que deve certamente recusá-lo. Se hesitou em dizer “Sim”, então
deve dizer francamente “Não”. O casamento não é um estado civil em que se possa
entrar com segurança através de sentimentos dúbios, com meio coração apenas.
Creio de meu dever como amiga, e mais velha, dizer-lhe tudo isto. Mas não pense
que desejo influenciá-la. (AUSTEN, 2011, p.84).
Silvya: “Ela nem é jovem!”
Jocelyn: “acha que ele tem um tumor cerebral?”
Silvya:”Acho que ele se apaixonou!”
Jocelyn: “Torço pelo tumor cerebral!. Nesta idade não se apaixona!Eu nunca me
apaixonei! Ficar sozinha não é o fim do mundo! A mesma quantidade de tempo que
você ficou casada eu fiquei feliz e solteira! !.(SWICARD, 2007, 0:14:56).
No trecho acima observa-se que mesmo vivendo em uma época que as mulheres não
tinham voz, Emma tinha coragem de falar o que pensava, o mesmo acontece com Jocelyn
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
quando ela se refere à separação da amiga Silyia e sobre se apaixonar. Jocelyn fala com toda
certeza que é feliz sem uma companhia masculina, e tenta convencer a amiga a pensar assim,
como Emma também aconselhou Harriet.
Também observa-se que as duas personagens, mesmo ao descobrirem o amor, são
resistentes, como observamos nos seguintes diálogos:
Emma nunca soubera quanto sua felicidade dependia de ser a primeira aos olhos de
Mr.Knightley... E apenas quando sentiu o temor de ser suplantada percebeu o quanto
isso era importante...Ela não podia se vangloriar de imaginar que Mr.Knightley
ficaria cego aos seus defeitos por amor a ela...Nada devia separa-lá do pai.Ela não se
casaria, mesmo que Mr.Knightley a pedisse.(AUSTEN, 2011, p.280-281)
Grig: “Por que não para de interferir?” Deixa a Silvya tocar a vida dela!
Jocelyn: “Se interferir é desejar minha melhor amiga feliz então eu não vou parar!”
Grigg: “E quanto a mim? sou seu amigo? ou sou só um desconhecido que ajudou a
Silvia se sentir melhor com ela mesma?Por que me convidou pra fazer parte do seu
clube do livro?O que passou pela sua cabeça a primeira vez que me viu?Tem um
homem que está morrendo pra ler cada livro que Jane Austen já escreveu? Foi isso?
Mas eu pensei, que mulher linda!espero que ela olhe pra mim!Achei que se tivesse
lido seus livros favoritos leria os meus!Mas não!Você só quer que eu obedeça, é por
isso que tem cachorros! ?”(SWICARD, 2007, 1:16).
Pode-se observar que Grigg deixa transparecer seus sentimentos por Jocelyn, e a
descoberta a assusta, como assustou Emma, ambas mesmo sabendo do interesse dos homens,
sentiram-se inseguras, como se tivessem que abrir mão de algo. Quando Grigg diz que
Jocelyn só quer que ele obedeça e cita os cachorros, ele se refere ao fato dela não ter se
casado ainda porque não abre mão de seus princípios, e tem nos cães uma companhia, do
mesmo modo que Emma, mesmo sabendo que Sr. Kningtley a amava, não quer deixar seu
pai.
Porém, quando as histórias chegam perto de seu final, as duas personagens descobrem
estar apaixonadas, e aí acontece a mudança de comportamento de ambas, Sr. Kningtley
surpreende Emma dizendo que irá morar com ela e seu pai depois do casamento, o que não
era comum na época, já que as esposas sempre deviam acompanhar os maridos e deixar a casa
dos pais. Jocelyn resolve ler os livros de ficção científica que Grigg havia lhe emprestado e
ela havia ignorado com o preconceito de que não eram bons o suficiente, acaba gostando dos
livros, e indo atrás de Grigg que a recebe de braços abertos.
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
Conclui-se que Emma e Jocelyn, possuem muitas características semelhantes, como o
orgulho, a teimosia, a vontade de arranjar casamentos para todos menos pra elas mesmas, e
ambas no final das histórias abrem mão de algumas dessas características por amor.
Jocelyn é a personagem central do filme, e é evidente a sua intertextualização com a
personagem Emma. Entretanto, os demais personagens, ao comentarem a respeito da obra,
também têm suas identificações. Allegra diz: “Na minha opinião não existe uma paixão
animal entre Emma e o senhor Kningtley” (SWICARD, 2007, 00:34:15). Allegra é
aventureira e se apaixona facilmente, isso justifica a sua afirmação. Prudie, que devido à crise
em seu casamento se apaixonou por um aluno, luta com todas as suas forças para não se
envolver mais ainda com ele e diz: “Emma age baseada em suas fantasias, sem paixão o amor
não é nada, o que pretendemos ver não é a falta de paixão e sim o controle dela em não ceder,
porque um homem pode fazer o que quiser com a mulher que ele ama”. (SWICARD, 2007,
00:34:48). Contudo Silvya, que está sofrendo pela traição do ex-marido intervém: “Não há
desculpa para má comportamento”. (SWICARD, 2007, 00:35:19). Grigg o mais aventureiro,
diz: “é, mas a atração física não é uma das forças ingovernáveis? É como a gravidade, morro
abaixo! solte os freios! perca a força!” (SWICARD, 2007, 00:35:11). Jocelyn o rebate:”O
amor é um ato de insanidade, Emma parou de ser louca depois que se
apaixonou”(SWICARD, 2007, 00:35:34) aqui ela mostra sua visão contra o apaixonar-se, o
seu medo de se entregar, e até mesmo a incorrespondência a Grigg.
A obra seguinte foi Mansfield Park a qual Silvya ficou responsável. Sua identificação
com a obra é evidente quando compara a obra escrita com seu casamento “Assim que Daniel
fizer cinquenta anos deverá partir, olha o que consegui com Mansfield Park essa obra está
cheia de vaciladores, a Maria, por exemplo, se casou e seis meses depois largou o marido”
(SWICARD, 2007, 00:44:36). Aqui é evidente a revolta da personagem, que também sofreu
abandono por parte do marido. Ela ainda complementa sua fala a respeito das necessidades de
uma mulher: “Fanny nunca desiste, coloca as necessidades da família acima das dela, ela
nunca deixou de amar Edmund, mesmo quando ele foi extremamente estúpido” (SWICARD,
2007, 00:47:54). Aqui ela compara seu marido Daniel com o personagem de Edmund e
Mansfield Park Jocelyn argumenta: “não é de se admirar que Jane Austen nunca tenha se
casado!” (SWICARD, 2007,00:49:00), Já Grigg aponta uma de suas dúvidas, na verdade uma
inter-relação que fez com as obras que já tinha lido, e que fazem parte de seu horizonte de
expectativas: “A relação entre Edmund e Fanny, eles parecem irmãos, mas depois o final é
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
como O Império contra ataca porque o Jedi Luke Skywalker ele vence a princesa Leia quando
ela vira irmã dele, Edmund vence Miss Crowford se envolve com Fanny que é a primeira
prima dele” (SWICARD, 2007, 00:49:03).Grigg, ao ler a Abadia de Northanger, que foi a
obra subsequente em sua recepção, identificou a personagem principal como gótica, pois ela
sonhava com lugares sombrios, e aqui pode-se citar Todorov (1939) que, diz que o leitor ao
ler uma obra identifica-se com o personagem fictício de tal forma, internalizando-o e
tornando-o tão próximo e íntimo, sendo capaz de imaginar sua vivência e sonhos, e é isso que
Grigg faz, decorando sua casa como se fosse Halloween para que todos conseguissem
imaginar uma personagem gótica.
Na leitura de Razão e Sensibilidade, Silvya deixa claro sua revolta quanto ao
personagem principal escolher se envolver com a filha e não com a mãe, que segundo ela era
apenas alguns anos mais velha, ficando evidente o fato dela mesma ter sido trocada por uma
mulher um pouco mais jovem. Prudie diz que se trata de um romance onde uma mulher seduz
um jovem e recorda-se o fato dela mesma estar apaixonada por um jovem aluno seu. Grigg,
que está sofrendo por não ser correspondido por Jocelyn, argumenta: “As mulheres nunca
gostam do cara legal, talvez a senhora mais velha não lhe desse tanta atenção” (SWICARD,
2007, 01:10:03), Jocelyn lhe responde:”Os homens reclamam de tudo talvez não sejam tão
legais assim!”(SWICARD, 2007, 01:17:29).
O próximo livro debatido foi orgulho e Preconceito, Silvya começa falando de sua
admiração por uma das personagens: “Admiro Charlotte, olhando para a situação dela e
decidindo se casar com o senhor Collins. Ela Sabe que ele nunca será o amor da vida dela,
mas mesmo assim se casa”. (SWICARD, 2007, 01:17:38). Vemos que Silvya faz uma relação
com a amiga Jocelyn que nunca se casou: “Essa é a razão de Jocelyn ter odiado essa obra, ela
tem desprezo por qualquer um que queira coisa menor que o amor perfeito, por isso ela nunca
se casou” (SWICARD, 2007, 01:18:38) Já Allegra, que é homossexual, intervém, dizendo
que acha que Charlotte era, gay, por isso não havia se casado ainda. Prudie, ao ouvir Allegra,
não concorda e diz que a personagem não era gay, e que a obra num todo trata de casamentos
bizarros, e que Jane Austen nunca mostra o que acontece depois do casamento: “Talvez
Elizabeth e o senhor Darcy passaram a se odiar depois do casamento” (SWICARD, 2007,
01:18:38), diz Prudie, retomando sua visão a respeito do casamento e relacionando com o seu
próprio .Também fala a respeito da mãe de Elizabeth, a senhora Bennet, que parece ser louca,
lembrando de sua própria mãe que era alcoólatra e que morreu havia poucos dias. A esse
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Jane Austen Sociedade do Brasil - JASBRA
respeito, ela diz: ”Nossas mães são como bombas relógios, falta pouco pra elas explodirem
dentro de nós!” (SWICARD, 2007, 01:18:41). Grigg fala do pai de Elizabeth e Prudie
intervém chorando: “Que pai? Sabe, minha mãe me mostrou a foto de um cara de uniforme
dizendo que era meu pai! Talvez ela inventou esse cara, e eu tenho a foto guardada até hoje!”
SWICARD,2007, 01:18:50), Aqui percebe-se a revolta da personagem, e a forma com que
suas emoções interferiram na interpretação da obra literária.
A última obra lida foi Persuasão. Essa é considerada uma obra de perdão e
reconciliação. O enredo principal é de duas pessoas que se amavam, mas, estando em
conflitos, resolvem se dar uma segunda chance, e é isso que acontece com os personagens do
filme. Motivado pelo livro, Daniel, o ex-marido de Silvyia, se arrepende e resolve escrever
uma carta pedindo perdão. Ele se inspirou no livro, onde o personagem também envia uma
carta de perdão para a amada. Silvya perdoa e lhe dá uma segunda chance. Prudie faz com
que o marido leia a obra. Ao ler, ele passa a compreender a esposa e os dois também se
entendem. Jocelyn sai de sua zona de conforto e dá uma chance a Grigg, descobrindo estar
apaixonada, apesar dos defeitos que ela via nele.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalhar com a estética da recepção pode fazer com que tenhamos um olhar
diferenciado para a forma de ensinar a literatura. Segundo essa teoria devemos partir dos
conhecimentos prévios dos alunos e a partir daí direcionar o conteúdo a ser trabalhado,
mostrando para os alunos que o conteúdo não é algo tão inacessível, mas sim algo que pode
ser conhecido e discutido, pois sabe-se que quando a literatura é bem trabalhada o resultado
são alunos que conseguem fazer diferentes leituras do meio em que vivem.
Na intertextualização do filme O clube de leitura de Jane Austen pode-se inferir que
as teorias de Iser e Jauss, podem ajudar nas aulas de literatura pois a recepção que cada
personagem teve das obras literárias foi influenciada pelo seu horizonte de expectativa, ou
seja, houve uma identificação do personagem fílmico para com o personagem literário,
comprovando assim que a estética da recepção pode ser uma excelente forma de trabalharmos
textos literários em sala de aula, fazendo com que os alunos se interessem pelas leituras. Além
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disso, ao trabalhar os textos através da estética da recepção, formar-se-ão leitores para a vida
toda, pois os mesmos desenvolverão interesse pela leitura e suas análises.
Trabalhar a estética da recepção em sala de aula pode possibilitar ao aluno adentrar em
diversas histórias literárias e gêneros textuais, além de estabelecer uma relação entre a
sociedade de diversas épocas, relacionando os problemas sociais da sociedade em que vive,
fazendo-o assim refletir sobre diversos temas.
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ZILBERMAN, Regina (org). Leitura em crise na escola: As alternativas do professor. 4º Ed.
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Revista LiterAusten
Estudos, pesquisas e ensaios dedicados ao legado da romancista inglesa
Número 02 - 2o Semestre de 2017
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