STAKEHOLDERS - Roberto Rodrigues (Novemebro/Dezembro - 2011)

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Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

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Roberto Rodrigues

Coordenador do Centro de Agronegócio da

Fundação Getúlio Vargas (FGV)

STAKEHOLDERSMão de obra capacitada, tecnologia na agricultura tropical e terras disponíveis. Essas são as vantagens competitivas do Brasil na produção de alimentos e de matrizes energéticas apontadas por Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro da Agricultura. De outro lado, ele identifica gargalos capitaneados pela inexistência de uma estratégia nacional da agricultura, além dos problemas de logística e estrutura, ausência de um programa de renda no campo e de políticas comerciais e sanitárias mais consistentes.

Publicação TRANSAEX | Venda ProibidaD i s t r i b u i ç ã o D i r i g i d a

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TRANSAEX

Atenciosamente,Paulo Eduardo Pinto

DIRETOR CORPORATIVO

Vivemos um momento de inserção mais definitiva do Brasil no mercado global não apenas em questões mercantis, mas tam-bém com propostas de caráter intelectual e organizacional. Por isso, é fundamental termos frequência e fluidez na troca de ideias e experiências como forma de garantir que o país amadureça e diversifique sua capacidade de influência. Convidamos todos a uma boa leitura e participação.

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MATRiz: Rua Alagoas , 1000 - Conj 1001 Funcionários - Belo Horizonte / MG - 30130-160Tel: (31) 3232.4252 - www.transaex.com.br

PUBLICAÇÃO TRANSAEX • TSX NEWSDEzEMBRO/2011| Venda Proibida

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TSXNEWS

“O Brasil é líder na produção mundial de alimentos, um grande exportador e muito competitivo. Não há porque diminuir a importância

que isso tem. A participação da indústria no todo do comércio exterior está em aproximadamente 50%, um percentual considerável.”

Ivan Ramalho - Presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece) - STAkEhOlDERS - outubro 2011

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“É necessário o compartilhamento da decisão, de visão, dos números, dos controles, das dificuldades, ou seja, tem de ser uma troca de informações.

E o fundamental nisso tudo é a transparência.”

Constantino de Oliveira Júnior - Presidente da Gol linhas AéreasSTAkEhOlDERS - agosto 2011

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• Como o senhor avalia o cenário mundial da produção de alimentos?

A Organização para Cooperação e De-senvolvimento Econômico (OCDE), uma das entidades mais sérias do mundo na área acadêmica, fez um estudo mos-trando que daqui a dez anos a oferta mundial de alimentos tem de crescer 20% para atender à demanda mundial. A própria OCDE diz que a União Euro-peia vai crescer 4%; a Austrália, 7%; EUA e Canadá, 15%; China, Índia, Rússia e Ucrânia, 26%; e o Brasil, 40%, o dobro do resto do mundo. isso é ainda mais sério na área de energia, porque a de-manda por energia crescerá mais que a demanda por alimentos e, dado o tema do aquecimento global e das questões climáticas, o petróleo tende a ser substi-tuído por alternativas energéticas renová-veis, entre as quais a agroenergia.

• Qual seria o papel do Brasil nessa meta estipulada pela OCDE?

O papel do Brasil é muito importante. Há um desafio colocado pelo mundo. Pode-

mos dizer que essa é a primeira vez na história universal que o mundo olha para o Brasil agrícola com um grito de socor-ro: por favor, cresçam para que a gente possa eliminar a fome e manter a paz e a democracia no mundo. isso está base-ado em três vantagens competitivas que o Brasil tem: terras disponíveis, tecnologia tropical e recursos humanos capacitados.

• O senhor elogiou a mão de obra agrícola no Brasil. A que isso se deve já que enfrentamos gargalo de capa-citação profissional em outros setores?

Com relação aos recursos humanos, te-mos um agricultor muito competente no Brasil. Por várias razões. A primeira é que até 1990 o Brasil era um país com infla-ção altíssima, políticas públicas paterna-listas e fechado em relação ao resto do mundo. Entre 1990, com o Plano Collor, e 1994, com o Plano Real, o Brasil pas-sou a ter uma inflação civilizada, de um dígito por ano, as políticas públicas aca-baram porque o Estado perdeu a capa-cidade de intervir como antes e o país foi arrombado comercialmente. Houve

uma colisão que provocou duas ondas, uma de exclusão com milhares de pe-quenos produtores do Sul e do Nordeste e grandes produtores do Centro-Oeste abandonando a atividade, e a outra, de competitividade. Quem sobrou teve de procurar tecnologia de gestão para poder competir, aumentando a produ-tividade. Ou seja, quem sobrou é bom de serviço, com uma característica inte-ressante - são jovens. No Primeiro Mundo, os produtores são muito velhos, os jovens não querem ficar no campo. A idade média nossa é muito menor que a ida-de média dos países europeus.

• Então temos gente, tecnologia e terra disponível. Isso resolve tudo?

Não, porque o país tem problemas sérios com logística e estrutura. Temos o planeja-mento, que é o Programa de Aceleração

Roberto Rodrigues

“Precisamos de uma política comercial mais agressiva, inclusive contemplando a agregação de valor para não exportar matéria-prima”

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do Crescimento (PAC), mas que precisa ser implementado. Além disso, não temos política de renda no campo. O mundo inteiro tem subsídio, seguro rural e preços mínimos de garantia. Nós até temos, escri-to na lei, mas o Estado não cumpre. Tam-bém não temos uma política comercial consistente. Apesar disso, há uma grande evolução nos últimos dez anos. Em 2000, exportamos US$ 21 bilhões em produtos agrícolas. No ano passado, foram US$ 76 bilhões. Crescemos três vezes e meia em dez anos. Nenhum país conseguiu esse avanço, sem nenhuma política comercial. É só a eficiência e a competitividade do produtor rural brasileiro. Claro, com tecno-logia, com crédito rural, com mecanismos de política pública, mas nenhuma política

de comércio. Precisamos de uma política comercial mais agressiva, inclusive con-templando a agregação de valor para não exportar matéria-prima. Também é necessário ter uma política sanitária mais consistente. É o fim do mundo que o Brasil ainda tenha aftosa. Precisamos manter a força na tecnologia. Atualmente temos a melhor tecnologia tropical do mundo. Só que isso não pode parar. Tudo isso se deve a um único tema que é a inexistência de uma estratégia nacional da agricultura. O ministro da Agricultura fez um projeto in-tegrado que prevê crescimento de 40% em dez anos. O problema é que quem cuida do orçamento é o Ministério do Planejamento, quem libera o recurso é o Ministério da Fazenda, quem estabelece

a taxa de juros é o Banco Central, quem define as garantias é o BNDES e o Banco do Brasil, quem resolve sobre as estradas é o Ministério dos Transportes, quem dis-cute os mecanismos de comércio é o MDiC, via Camex, quem fala de acordo internacional é o itamaraty, quem define a questão de bioenergia é o Ministério de Minas e Energia, Petrobras e ONP, quem decide onde vai plantar florestas é o Mi-nistério do Meio Ambiente, quem discu-te as questões agrárias é o Ministério de Desenvolvimento Agrário, enfim a política agrícola, definida pelo Ministério da Agri-cultura, está dispersa em uma dezena de instituições que não conversam entre si. Se não há estratégia de Estado, nunca vamos sair desse cenário.

Exportar é o que importa ou importar para exportar? Há mais de 30 anos, em plena ditadura militar, a expressão “Exportar é o que importa” foi criada para incentivar as exportações de manufaturados aliada à política de proteção à importação com alíquotas elevadas. A importação era apenas um instrumento necessário para complementar a produção nacional, deixando para a exportação o papel de fomentar o crescimento.

Vinte anos depois, nos anos 90, vivencia-mos uma revolução no comércio exterior, com a redução das tarifas de importa-ção. A compra de ativos estrangeiros migrou do status de vilão para correspon-sável pelo sucesso das exportações. Ao identificar na cadeia de suprimentos a compra como um diferencial, o produto importado traduziu a necessidade de tra-balhar um novo modelo de gestão, ge-rando competitividade. O país pôde mo-dernizar seu pátio fabril alavancando a produção de itens destinados ao exterior.

Em 2011, o Brasil se configura como a sexta maior economia do mundo e previsões indicam que chegará à quinta nas próximas décadas. Hoje, mais do que produção de insumos agrícolas, debate-mos minérios, aeronaves e combustível.

O crescimento das importações é expli-cado pela evolução do PiB e do câmbio real efetivo. A recente deterioração do saldo comercial é causada pela queda expressiva no ritmo de crescimento das exportações, por conta da gradativa per-da de competitividade brasileira. Apesar de ter diversificado sua pauta exportado-ra, o Brasil ainda é vulnerável nas nego-ciações de commodities, já que, apesar de expressiva participação, não controla as cotações de preços.

Parte significativa da importação é com-plementar, e não substituta à produção nacional. O crescimento recente dessa importação reflete o ritmo da economia interna e o crescimento dos investimentos. A aquisição de itens no exterior impulsiona

a dinâmica da atividade econômica e a expansão da capacidade produtiva. A importação não pode mais ser vista como “mal” e seus escassos incenti-vos não são os responsáveis pela deterio-ração do saldo comercial.

Uma vez que nenhum país é autossufi-ciente em tudo, e que comércio é uma via de mão dupla - para comprar preci-samos de quem deseje vender e para vender precisamos de quem queira comprar, notamos que o movimento de internacionalização do Brasil ainda figura entre os menores do mundo.

Faz-se necessário analisar os reflexos da interdependência global como fator fundamental do século 21. A maior movimentação de pessoas, bens e ser-viços é inexorável. Mais do que importar ou exportar, nosso país precisa conjugar o verbo “comercializar”, diversificando sua retórica e adotando políticas mercantis maduras para ampliar sua participação no fluxo global de bens e serviços.

ARTIGO

Paula Pimentel, da TRANSAEX Comércio Internacional

A necessidade de uma política comercial

Stakeholders

DIbIARRoberto Rodrigues

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