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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL ULBRA Canoas / RS
UNIDADE ACADMICA DE GRADUAO
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
Roberta Dias Fagundes
O CORPO COMO REPRESENTAO E EXPRESSO NA ARTE
Canoas, novembro de 2013.
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Roberta Dias Fagundes
O CORPO COMO EXPRESSO NA ARTE
Trabalho de Curso apresentado como pr-requisito parcial para a obteno de ttulo acadmico de Licenciada em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientao da Dra.Prof.Rejane Ledur e Ms. Renato Garcia.
Canoas, novembro de 2013.
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Resumo
O presente Trabalho de Concluso do Curso de Licenciatura em Artes Visuais foi elaborado a partir de observaes em duas escolas, o Instituto Pr Universidade Canoense - IPUC e o Tuiut; de estudo sobre o tema Corpo, movimento e expresso; e, por fim, da aplicao do projeto educativo de ensino Corpo como representao e expresso na Arte ao sexto ano do ensino fundamental do IPUC). O tema surgiu atravs da preocupao com a motivao dos alunos pelas Artes como contedo escolar e tambm pela apatia apresentada pelos alunos e professores nas aulas de Artes. Para compor a pesquisa utilizei diversos autores, como Ana Mae Barbosa por sua experincia em leitura de imagens e a sua importncia no ensino de Arte; Bernd Growe por sua dedicao ao trabalho a Degas e relatos sobre o trabalho do artista; Florence Braunstein e Jean Franis Ppin pela compreenso da representao do corpo ao longo dos anos. Utilizei tambm, o artista Hlio Oiticica como artista que possui uma contribuio fundamental para o uso do corpo e do espao e, a relao de ambos entre si na Arte Contempornea. O objetivo deste Trabalho de Curso era estimular os alunos a terem interesse por Arte Contempornea, utilizando o corpo como principal objeto de estudo e expresso atravs de sua representao e expresso. A metodologia de ensino empregada foi sadas para salas adequadas para a as prticas das aulas, a utilizao de msica, vdeos e o uso do corpo como uma interveno incomum nas aulas de Arte, atravs dos Parangols de Hlio Oiticica. O resultado mais significativo foi a expresso adquirida pela turma, aps uma reflexo sobre a importncia do corpo na histria da Arte. Esta expresso foi manifestada no evoluir do projeto, e mais significativamente, no trmino da prtica de ensino atravs da interveno feita com os Parangols.
Palavras chave: Artes Visuais ; Parangols; Corpo como expresso;
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SUMRIO
CAPTULO 1. Reconhecimento do espao de Ensino ..................................................... 11
1.1 Dados gerais da escola observada. ........................................................................... 11
1.2 Observaes silenciosas ........................................................................................... 13
1.2.1 Ensino Fundamental 6 ano ............................................................................... 13
1.2.2 ENSINO MDIO 1 ANO ............................................................................................ 18
1.3 Anlises das observaes silenciosas ....................................................................... 24
1.4 Anlise do questionrio respondido pela professora .............................................. 25
1.5 Anlise do questionrio respondido pelos alunos .................................................. 26
1.5.1 Questionrio Ensino Fundamental 6 Ano ........................................................ 27
1.5.2 Questionrio Ensino Mdio 1 Ano .................................................................... 28
1.6 Motivos da escolha do tema de pesquisa em Artes Visuais.................................... 29
CAPTULO 2. Pesquisa sobre o tema em Artes Visuais .................................................. 31
2.1 Representao do Corpo na histria da Arte .......................................................... 31
2.1.1 A representao do Corpo no Egito Antigo ........................................................... 31
2.1.2 A representao do Corpo na Grcia Antiga ....................................................... 34
2.1.3 A representao do Corpo no Imprio Romano ................................................... 40
2.1.4 A representao do Corpo na Idade Mdia .......................................................... 40
2.1.5 A representao do Corpo atualmente ................................................................. 44
2.2 A expresso artstica do Corpo atravs do Movimento ........................................... 46
2.2.1 Corpo e Movimento............................................................................................... 46
2.2.2 Artistas e suas obras na representao do Corpo e Movimento .......................... 47
a) A arte de Edgar Degas (1834-1917) ........................................................................ 48
b) A arte de Henri Matisse (1869-1954) ...................................................................... 52
5
c) A arte de Hlio Oiticica (1937-1980) ....................................................................... 54
CAPTULO 3. .................................................................................................................... 57
Projeto de Ensino ............................................................................................................ 57
CONCLUSO .................................................................................................................. 164
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................................... 179
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NDICE DE IMAGENS
Figura 1. Egyptian Lotus.................................................................................................. 32
Figura 2. Atum with a colourful necklace. ...................................................................... 32
Figura 3. Escriba sentado ................................................................................................ 32
Figura 4. Mscara de Ouro de Tuntankhamon ............................................................... 32
Figura 5. Ancient Egyptian Mummies ............................................................................. 33
Figura 6. Anupu Deus da Mumificao ........................................................................... 33
Figura 7. Rainha Ankhesenamon diante do marido, Tutankhamon .............................. 34
Figura 8. Laocoonte e seus filhos ................................................................................... 36
Figura 9. Afrodite de Cnido, de Praxteles ...................................................................... 36
Figura 10. Vitria da Samotrcia .................................................................................... 38
Figura 11. O Gauls Moribundo ..................................................................................... 39
Figura 12. O nascimento de Vnus (1492) ..................................................................... 43
Figura 13. O Homem Vitruviano ..................................................................................... 43
Figura 14. Bailarinas de azul (1890) ................................................................................ 49
Figura 15. Joqueis Antes da Corrida (1878-1879) .......................................................... 50
Figura 16. As Bailarinas - Esculturas de bailarinas em movimento (Degas) ................... 51
Figura 17. A Idade do Bronze.......................................................................................... 52
Figura 18. Mulher Picada por uma Serpente.................................................................. 52
Figura 19. Nu no Atelier (1898) ...................................................................................... 53
Figura 20. A Dana (1910)............................................................................................... 53
Figura 21. Parangol ....................................................................................................... 55
Figura 22. Parangol, vestido por Caetano Veloso ........................................................ 55
7
Introduo
Este Trabalho de Curso intitulado O corpo como representao e
expresso na Arte contm em sua estrutura trs captulos: o primeiro,
reconhecimento do espao de ensino, o segundo captulo contem a pesquisa da
representao da figura humana e do movimento na Arte nos diferentes perodos
histricos, e o terceiro captulo contem a prtica de ensino realizada no Instituto Pr
Universidade Canoense e na escola Estadual Tuiuti.
Durante o estgio I, no primeiro semestre de 2012, observei a turma de
sexto ano e primeiro ano do Ensino Mdio no Instituto Pr Universidade Canoense.
Observei sete aulas de dois perodos consecutivos. Durante esta prtica observei um
agravante nas turmas: os alunos e professora mostravam-se muito desanimados.
Abatia-se sobre a turma uma apatia nas aulas de Artes.
Na Escola Estadual Tuiuti no municpio de Gravata, realizei o estgio III
com o Ensino Mdio nos dois ltimos perodos de sexta-feira. Iniciavam-se as aulas de
Artes s 21h30min e encerrava s 23h. Escola com bons recursos tecnolgicos, mas
uma desorganizao no setor pedaggico que refletia nas aulas, principalmente nas
aulas de Artes. A turma era mista de idades entre 15 e 18 anos e com o ndice muito
grande de faltas. Nenhum material era exigido dos alunos e todos os recursos
utilizados durante a prtica foram doados pela estagiria.
No estgio II realizei as prticas com o sexto ano do Ensino Fundamental
no Instituto Pr Universidade Canoense na cidade de Canoas. As aulas iniciavam s 10
horas e 30 minutos at s 12 horas. Esta escola possui muitos recursos tecnolgicos e
espaos fsicos apropriados para a prtica do projeto estgio. A turma era mista
composta de 32 alunos de idades entre 11 a 12 anos. Eram reconhecidos como uma
turma extremamente agitada, sem compromisso com trabalhos e materiais, mas que
durante a prtica do estgio, mostraram serem competentes, responsveis e
esforados.
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Ao observar esta realidade, notei que seria necessrio que as aulas de Arte
tornassem os alunos mais ativos e expressivos nas aulas. Havia a necessidade de um
incentivo para com o interesse pelas Artes como contedo. Assim, iniciei meu captulo
de pesquisa, unindo minha experincia em Educao Fsica, com a minha paixo pelas
Artes. Sabendo que o mundo no para de se mover e que estamos em constante
evoluo, refinei os conceitos de movimento do corpo, corpo em expresso, corpo
como representao na Arte e a influncia do corpo na Arte. Desta forma pesquisei
vrios artistas como Henry Matisse que ficou conhecido por sua obra A Dana, Edgar
Degas, reconhecido como um artista que representava o movimento em seus quadros
de bailarinas e o artista principal deste TC, Hlio Oiticica, que com seus Parangols
modificou o conceito de que Arte deve ser apenas observada. Hlio iniciou uma
modificao no comportamento das pessoas em relao s obras de Arte. Incitou-as a
agir sobre as obras, expressar-se atravs delas.
Nos estgios II e III partimos para a prtica. Nesta etapa eu colocaria em
ao os desejos e objetivos propostos no TC, mas no incio destes estgios fui
informada da inviabilidade de pratic-los nas turmas as quais observei, pois como
regra do Curso de Artes, no possvel a prtica do estgio na mesma escola em que
se trabalha. A partir disto, tive que procurar uma outra instituio de ensino que me
acolhesse para a prtica. Busquei ento a Escola Estadual de Ensino Mdio Tuiuti em
Gravata para o estgio III.
Antes de iniciar nas Artes Visuais, cursei Educao Fsica. Neste curso me
encantei com o fato das pessoas se expressarem atravs dos movimentos de seus
corpos nos esportes e danas. Ao decidir mudar meus estudos para as Artes Visuais
no deixei estes aspectos de lado, eu os trouxe comigo para a minha jornada nas Artes.
Durante toda a faculdade, assistia as apresentaes das bancas dos alunos
que estavam concluindo seus estudos e notava certa mesmice e falta de criatividade
na abordagem dos temas escolhidos para a prtica dos estgios. Notava que os alunos
no conseguiam se expressar de uma maneira diferente a no ser atravs de
desenhos. Assim, uni o meu interesse pelas expresses corporais e a Arte. Pesquisei
sobre o corpo como principal tema de representao na Arte, como foi a sua evoluo
ao longo da histria, e como artistas como Edgar Degas, representaram o movimento
9
em suas obras. A partir da, uni o tema do corpo em movimento e suas formas de
expresso mais modernas com o artista Hlio Oiticica e os Parangols.
Para compor este TC, fiz a minha pesquisa em Artes Visuais no tema
Corpo como expresso e representao na Arte. Iniciei minha pesquisa com a
representao do corpo, de acordo com a cultura de cada povo, representando
distintos significados, que h uma diversificao de sentidos para o corpo.
Dependendo do contexto e da poca o corpo toma um sentido e as pessoas podem
represent-lo de distintas formas, pois os significados que damos s coisas so
dependentes de um conjunto de condies especficas e variveis. Para dar
significao ao meu projeto, passo a apresentar algumas das representaes do corpo
ao longo da histria da Arte.
No Egito Antigo, segundo Pires (2005), trs reas do conhecimento se
desenvolveram juntas: Magia, Cincia e as Artes. Para que estas se desenvolvessem,
um objeto para estudo era comum s trs reas, o corpo humano.
A Arte Grega influenciou os padres estticos de todo o mundo. Os gregos
tinham a grande preocupao em pensar e retratar as aes humanas. Estabeleceram
a explorao de temticas que valorizavam o aparecimento do homem nas artes,
atravs da pintura e da escultura.
Durante o imprio Romano a relao do indivduo com o seu corpo sofre
uma grande alterao de valores devido o advento da religio crist. O corpo, antes
objeto de admirao e prazer, torna-se neste perodo, objeto secundrio. Para a
religio Crist o corpo sofre dores fsicas, flagelaes, sacrifcios, abnegao do prazer,
pois assim a alma do indivduo engrandece e assim mostra-se digno de Deus, com a
exaltao do esprito, o corpo retratado na Arte como era visto pela religio: um
desapego.
O corpo contemporneo encontra-se em plena transformao. No se
trata mais de aceit-lo como ele foi concebido, mas sim de corrigi-lo, transform-lo e
reconstru-lo. O corpo aparece ento, como o lugar por excelncia da exposio da
subjetividade de cada um.
10
Alguns artistas me auxiliaram na compreenso destes significados, como
Degas, e sua representao de movimento nas telas onde danam suas bailarinas.
Matisse que atravs da obra a Dana, representou em sua pintura os corpos e suas
levezas nos movimentos, e Hlio Oiticica como principal artista deste TC, em que
utilizando os Parangols fez do corpo o objeto principal de representao e expresso
na Arte. Para compor estes conceitos utilizei os autores Ana Mae Barbosa com sua
experincia em leitura de imagens e a importncia do mesmo no ensino de Arte, Bernd
Growe com sua dedicao ao trabalho de Degas e relatos sobre o trabalho do artista,
Braunstein, Florence & Ppin, Jean-Franis com a compreenso da representao do
corpo ao longo dos anos.
Os conceitos que abordo neste Trabalho de Curso nortearam a pesquisa no
tema e principalmente me guiaram no trabalho em sala de aula. O conceito de corpo,
de acordo com a cultura de cada povo, representa distintos significados. Pode-se dizer
que h uma diversificao de sentidos para o corpo que se vinculam a anatomia,
aos usos, aos contextos e s prticas a ele associadas. Dependendo do contexto e da
poca o corpo toma um sentido e as pessoas podem represent-la de distintas
formas.
O conceito de que movimento toda a translao ou todo o deslocamento
de um corpo ou de um objeto no espao. Ao tentar elucidar sobre o movimento
humano, diz tratar-se de todo e qualquer deslocamento de um ou vrios segmentos,
ou do corpo em seu conjunto.
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CAPTULO 1. Reconhecimento do espao de Ensino
1.1 Dados gerais da escola observada.
O instituto Pr Universidade Canoense IPUC uma instituio de ensino
mantida pela Associao Pr-Universidade Canoense - APUC, entidade jurdica de
Direito Privado, fundada em 14 de outubro de 1964. Sua criao resultou do esforo
de diferentes pessoas oriundas dos mais diversos segmentos da sociedade da poca,
coordenadas pelo professor Francisco Dequi. Estes fundadores viam na instalao de
cursos, nos mais variados nveis de ensino, uma condio para a promoo do
desenvolvimento da regio metropolitana e, em especial, da cidade de Canoas.
O IPUC, segundo seu Projeto Poltico Pedaggico PPP, trabalha dentro de
uma concepo progressista, voltada para todas as classes sociais, na qual a
construo do conhecimento seja significativa para educando e educador. Consta
ainda, que a instituio desenvolve uma pedagogia funcional, focada na aprendizagem
de competncias e habilidades direcionadas ao cultivo de valores, na cultura da
solidariedade, na excelncia acadmica e na crena de que todo sujeito tem potencial
para aprender, inserido nas mediaes que concorrem para a formao integral.
Seguindo os referenciais pedaggicos, a sua viso de ser referncia na
promoo educacional e profissional do ser humano, atuando com comprometimento,
responsabilidade e tica, inovando de acordo com as novas necessidades e exigncias.
E, a sua misso de produzir e disseminar o conhecimento nos diversos campos do
saber, contribuindo para o exerccio pleno da cidadania, mediante formao
humanista, crtica e reflexiva, e preparando profissionais competentes e atualizados
para o mundo do trabalho e para a melhoria das condies de vida em sociedade.
Ainda de acordo com o PPP, segue abaixo as referncias da instituio em
relao aos valores norteadores:
Promover a autoavaliao e a educao permanente;
12
Atuar com autonomia e responsabilidade social;
Instituir o aprender a aprender de forma integral e humana;
Construir o ambiente formador considerando os educandos e
suas diferenas;
Praticar aes que envolvam os cidados empenhados na
constituio de uma sociedade mais justa.
O Instituto Pr-Universidade Canoense, localiza-se na Avenida Guilherme
Schell, nmero 5000, bairro Centro, em Canoas no estado do Rio Grande do Sul.
Mapa:
1.2 Observaes Silenciosas
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1.2 Observaes silenciosas
1.2.1 Ensino Fundamental 6 ano
Primeira Observao Silenciosa
Ensino Fundamental 6 ano
Data: 20/09/2012
A turma tem um perodo semanal de Arte, com a durao de 50 minutos. A
aula inicia as 11h10min e encerra as 12 horas.
Ao entrar na sala observo que a turma se dispersa bastante com a troca de
professores, mas nada preocupante. A professora demora uns 3 minutos para chegar,
pois sua aula anterior no andar de cima.
Aguardo a entrada da professora e me coloco ao fundo da sala, pois a sala
disponibiliza mais de 40 classes e cadeiras.
Observo a professora e noto que ela entra calma e serena, falando em um
tom baixo, pedindo que os alunos sentem-se para comear a aula.
Nesta aula a professora dividiu a turma em quatro grupos, pois foi lanada
no perodo anterior a proposta para a FECIPUC, Feira de conhecimentos do Instituto
Pr Universidade Canoense. Esta feira tem por objetivo integrar os conhecimentos
adquiridos na escola e organiz-los em trabalhos que so expostos em um dia
especfico. Neste dia os trabalhos so expostos, apresentados e avaliados por uma
banca de professores. Os professores trabalham com as turmas de maneira
interdisciplinar, auxiliando os grupos em suas necessidades.
A professora ouviu o ttulo dos projetos de cada grupo e depois fez uma
conversa com a turma falando para os alunos terem organizao, empenho, dedicao
e estudo. Falou tambm na ajuda que daria para cada grupo, assim que eles
definissem o contedo do trabalho.
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A turma estava muito empolgada e agitada, pois muitos na sala no haviam
participado de edies anteriores da FECIPUC.
Segunda Observao Silenciosa
Ensino Fundamental 6 ano
Data: 27/09/2012
Cheguei juntamente com a professora na sala de aula. A turma estava
muito agitada, pois alguns alunos haviam brigado no recreio (nada grave), mas o
assunto perdurava entre os colegas.
Ao iniciar a aula com a chamada, algumas alunas pediram para falar com a
professora sobre o banner do trabalho para a FECIPUC. A professora pediu para elas
esperarem para falar no final da aula, aps a tarefa que seria dada.
A professora iniciou falando sobre o que Arte Contempornea. Perguntou
se esse conceito era familiar e se algum sabia discursar sobre ele. Poucos levantaram
a mo e no conseguiam se expressar para explicar e muitos risos surgiram. Com isso a
professora ento explicou com exemplos o que seria a essa arte. Mostrou algumas
imagens em livros que ela trouxe para a sala e falou de obras vistas nas Bienais do
MERCOSUL.
Perguntou tambm se os alunos j haviam visitado alguma Bienal e trs
alunos levantaram a mo. Ento a professora pediu que eles relatassem a experincia
de ver a Arte Contempornea da Bienal.
Duas meninas disseram que no gostaram das obras que viram no Cais do
Porto. A professora interferiu perguntando se elas no gostaram por que no
entenderam ou porque no consideravam que era uma obra de arte.
As alunas responderam que no entenderam e no acharam bonitas
tambm.
A aula encerrou com o toque do sinal, os alunos se levantaram e saram.
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Terceira Observao Silenciosa
Ensino Fundamental 6 ano
Data: 04/10/2012
Cheguei na sala antes da professora e sentei-me ao lado direito da sala ao
fundo. Ao chegar, a professora estava com alguns livros na mo, e colocou-os nas
mesas da frente, pois nas salas no h uma mesa diferenciada para o professor.
A professora comeou a aula com uma expresso sria, retomando a
conversa da aula anterior e perguntou se algum havia pesquisado algo sobre arte
contempornea. Achei curioso, pois no havia sido pedido nada, e mesmo que fosse
no houve um despertar de curiosidade na aula passada. E obviamente nenhum aluno
se manifestou.
A professora foi at a sua mesa, pegou um livro que havia trazido para a
sala e comeou a escrever no quadro um texto sobre Arte Contempornea, pediu para
os alunos copiarem no caderno. Aps alguns minutos esperando que eles copiassem, a
professora mostrou algumas imagens de obras consideradas contemporneas, como o
mictrio de Duchamp.
Tocou o sinal para o final da aula e os alunos se levantaram, notei que
alguns no copiaram do quadro o que foi escrito.
Quarta Observao Silenciosa
Ensino Fundamental 6 ano
Data: 211/10/2012
Cheguei a sala de aula juntamente com a professora. Posicionei-me no
mesmo lugar de sempre. Nesta aula a professora props uma aula prtica para os
alunos. Relembrou as falas da aula passada e definiu com a turma a tarefa do dia, que
deveria ser iniciada na aula de hoje e concluda na aula da prxima semana.
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A tarefa consistia em fazer uma releitura de uma imagem da Arte
Contempornea. A professora trouxe livros j com as marcaes, nestas pginas
continham imagens de obras de Arte Contempornea. Utilizariam folhas A4, lpis de
cor, giz de cera e hidrocor podendo tambm fazer recortes e colagens e desenhos.
A turma pode formar trios para realizar a tarefa. A professora distribuiu as
folhas em branco e deixou os alunos conversarem sobre a proposta. Durante este
tempo a professora interrompia os alunos para mostrar imagens que haviam nos livros
que ela trouxe para a aula. E assim, deixou os livros abertos em cima das mesas,
algumas meninas foram at os livros para observar as imagens, mas grande parte da
turma se reuniu em trios e comearam a conversar sobre assuntos paralelos.
A aula se encerrou com o sinal e a professora pedindo material para a aula
da prxima semana.
Quinta Observao Silenciosa
Ensino Fundamental 6 ano
Data: 18/10/2012
A aula iniciou com a professora pedindo aos alunos para se reunirem em
seus trios para iniciarem o trabalho. Alguns alunos pediram folhas, por terem perdido
a folha da semana passada e outros no trouxeram materiais. Pude constatar que
alguns grupos estavam empenhados, mas uma parte pequena da turma estava muito
desinteressada e at mesmo ignorando as falas da professora.
A professora se dirigia aos grupos para auxili-los com ideias e instigando
os alunos a buscarem o lado criativo da atividade.
Alguns trios folhavam os livros buscando imagens, outros, nem se
levantaram para busc-los na mesa do professor.
Pouco antes de terminar o perodo a professora falou que na prxima
semana seria a apresentao e entrega dos trabalhos.
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Sexta Observao Silenciosa
Ensino Fundamental 6 ano
Data: 25/10/2012
Nesta aula, ao chegar notei uma correria de alguns alunos na sala, muito
agito e conversa e muitos alunos fora do seu lugar. Ao observar, percebi que a correria
se dava por que alguns trios no haviam feito o trabalho proposto pela professora e
durante a troca de professores alguns, com medo de ficar com nota vermelha,
comearam a desenhar e pintar nas folhas em branco, sem propsito.
Quando a professora chegou, as apresentaes comeariam e aps ela
auxiliaria os grupos da FECIPUC no que precisavam.
A professora foi fazendo a chamada e os alunos se organizando nos trios
novamente. A professora deixou que os trios se apresentassem na ordem que
gostariam. Alguns dos trabalhos ficaram bem criativos, mas a grande maioria foi, para
mim, decepcionante. Dos nove trios, sete apresentaram e dois no fizeram.
Um dos trabalhos me chamou a ateno, pois utilizou recortes e
desenhos para constituir seu trabalho. O trio, formado por meninas, criou uma obra
composta por vrias obras, identifiquei travs do desenho a obra Medusa, after
Caravaggio de Vik Muniz.
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1.2.2 ENSINO MDIO 1 ANO
Primeira Observao Silenciosa
Ensino Mdio 1 ano
Data: 21/09/2012
As aulas de Artes no primeiro ano do Ensino Mdio comeam s
11h15min e terminam s 12 horas de sexta-feira.
Cheguei sala e a professora ainda no havia chegado, ento aguardei
na porta, pois a turma muito agitada e os alunos me olhavam com estranheza. Ao
chegar, a professora foi colocando os alunos para dentro, pois alguns estavam fora da
sala. Entrei e me sentei ao fundo. Notei muita agitao naquela turma, e a professora
entra com uma expresso sria e um tom de voz um pouco alterado. Os alunos
estavam dispersos e, alguns no paravam de conversar, uns falavam de assuntos dos
trabalhos da FECIPUC sorteados um dia antes e outros de fofocas clssicas de Ensino
Mdio.
A professora j havia comeado o assunto para o bimestre nas aulas
anteriores e havia pedido materiais para esta aula. Ao perguntar se os alunos
trouxeram, poucos responderam que sim. Notei que, de 29 alunos presentes, apenas
10 trouxeram algo do que foi solicitado. (Foi pedido para fazer os trabalhos materiais
diversos como tintas, giz pastel, hidrocor, telas e etc.)
A professora levou para a aula fichas com imagens de obras de artistas
contemporneos, mais especificamente artistas da 30 Bienal de So Paulo. A
professora mostrava as imagens para a turma, enquanto lia as sinopses das fichas,
algumas delas com comentrios dos prprios artistas e outras com citaes de outras
pessoas, artistas ou crticos de arte. Achei o material bem interessante e deteve a
ateno de muitos alunos por um bom tempo.
Com a leitura das fichas sobrou pouco tempo para a execuo do
trabalho, ficando assim, para a prxima aula. A mesma encerrou-se com a
professora pedindo novamente material para a prxima aula.
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Segunda Observao Silenciosa
Ensino Mdio 1 ano
Data: 28/09/2012
Ao chegar na sala a professora ainda no havia chegado, ento
aguardei-a na porta. Ao chegar foi colocando os alunos para dentro e pedindo que se
sentassem.
Comeou a aula com a chamada e aps pediu para os alunos se
dividirem em duplas. A turma se alvoroou, mas todos se organizaram em duplas.
Totalizando 15 duplas e um trio, pois a turma tem nmero mpar.
A professora solicitou aos alunos que dissessem a composio das
duplas para anotaes, para as avaliaes.
O trabalho consistia em escolher uma das fichas com imagens de obras
expostas na 30 Bienal de So Paulo e em duplas os alunos fazerem uma releitura,
dando nfase para a imagem ou sinopse da imagem.
A professora deixou disponvel o material em cima da mesa e, pediu
para que um representante da dupla escolher a obra para a execuo do trabalho.
Muitos alunos se levantaram e foram at a mesa escolher as obras. Um
bom tempo se passou durante essa escolha. Enquanto as duplas iam escolhendo, os
que j haviam escolhidos, sentaram-se em suas duplas e discutiam o que fariam do
trabalho. Notei que algumas duplas no estavam interessadas no trabalho, e mal
olhavam para as imagens.
A professora ficou conversando com alguns alunos sobre ideias do que
fazer em seus trabalhos baseados nas obras que escolheram. Notei que a turma
escolhia fotografias e desenhos e no as imagens de instalaes.
A aula encerrou-se com o sinal e a professora pedindo para os alunos
entregarem as fichas antes de sair.
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Terceira Observao Silenciosa
Ensino Mdio 1 ano
Data: 05/10/2012
Ao tocar o sinal me dirigi sala e aguardei a professora chegar. Aps me
posicionei no lugar de sempre para observar.
A professora iniciou a aula com a chamada e em seguida pediu para as
duplas se organizarem para a execuo do trabalho, pois esse seria o ltimo dia para as
duplas realizarem a tarefa proposta.
A turma estava bem agitada e os alunos demoraram em entrar no ritmo,
e durante o alvoroo, um aluno disse a professora que um outro aluno havia sido
suspenso por falta de educao com uma professora, mais cedo aquele dia. A turma
estava indignada, pois a maioria dos alunos da turma no gosta daquela professora em
particular. A professora tentou argumentar sobre o ocorrido dizendo que todos devem
respeito uns aos outros, mesmo que no se goste daquela pessoa. Apontou algumas
falhas que a turma comete corriqueiramente, como no entregar trabalhos, ser muito
agitados, alguns faltarem com respeito com os professores e disse que eles deveriam
amadurecer alguns pensamentos antes de julgar ou tomar partido. Foi uma conversa
bem madura, apesar de alguns defenderem o colega, a meu ver, errado na histria.
A conversa demorou mais ou menos uns vinte minutos, tomando quase
todo o tempo da aula. Com isso a professora disse que os alunos teriam a chance de
fazer tambm na prxima aula, mas que este perodo seria retirado do combinado
feito entre eles para a ajuda na execuo dos trabalhos da FECIPUC. A aula encerrou
com o sinal e os alunos recolhendo seus materiais.
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Quarta Observao Silenciosa
Ensino Mdio 1 ano
Data: 19/10/2012
Aguardei a chegada da professora na sala de aula. Ao entrar me posicionei
no fundo da sala.
A professora fez a chamada e solicitou aos grupos que se reunissem para a
execuo da tarefa proposta.
A turma posicionou-se em suas duplas e comearam a procurar no material
da professora as imagens escolhidas.
Notei que uma das duplas trouxe para a aula uma pequena tela de mais ou
menos 15x20 cm e, nela, j havia algo desenhado. As duplas tinham materiais diversos
como hidrocores, lpis de cor e tmpera. E claro, algumas duplas s tinham lpis e
papel.
A professora auxiliava os trabalhos e questionava a inteno dos alunos,
pois esta devia aparecer em suas releituras.
A aula encerrou-se com o sinal e a professora dizendo que a apresentao
seria na prxima aula.
22
Quinta Observao Silenciosa
Ensino Mdio 1 ano
Data: 26/10/2012
Cheguei sala e a professora no estava. Enquanto aguardava, a
coordenadora disciplinar veio at a turma, colocou os alunos para dentro e conversou
com eles sobre um fato ocorrido mais cedo, que ocasionou outra suspenso por mal
comportamento na escola. Alguns alunos haviam furado classes e cadeiras da escola.
Aps uma sria advertncia turma a professora entrou na sala, sentou-se e fez a
chamada. Nunca vi a turma to quieta antes.
Aps tudo isso, iniciaram-se as apresentaes de trabalhos. Como o tempo
estava curto, as duplas no teriam como apresentar todos os trabalhos nesse dia,
ento a professora definiu a ordem das apresentaes, dividindo a turma e quem
deveria se organizar para montar uma exposio dos trabalhos nos murais da escola na
prxima aula. Devendo ter identificao com nome dos integrantes, nome da obra e
uma breve explicao do uso dos materiais alm de ter escrito a qual obra seus
trabalhos se referiam.
As duplas que se apresentaram estavam preparadas para mostrar o
trabalho feito. Neste dia oito duplas apresentaram de maneira sucinta seus trabalhos.
O que me chamou ateno foi o trabalho executado por uma dupla de meninas que
utilizaram como material uma tela e tinta acrlica. Uma das meninas disse que a me
tinha estes materiais pois trabalhava com artesanato. As meninas fizeram uma
releitura da obra: 1) um Rei Shik; 2) um Maori; 3) umSertanejo brasileiro 2006 Da
srie: Emritos Caadores de Borboletas de Marques Penteado.
As meninas pintaram os mesmos objetos (caa borboletas) relacionando a
forma encontrada na obra original. Colado na tela as meninas colaram fotos de colegas
da sala. E, explicaram, com muita vergonha, a relao da sua obra com a original. -
como se a gente fosse capturar esses momentos, como o artista queria capturar as
imagens que ele pintou.
Essa eu adorei.
23
Sexta Observao Silenciosa
Ensino Mdio 1 ano
Data: 09/11/2012
Cheguei sala de aula e aguardei a entrada da professora. Para iniciar a
aula a professora pediu aos alunos que sentassem em seus lugares e conferiu o
espelho de classe que havia sido elaborado no incio da semana. Como essa turma
apresenta muita agitao alguns professores se reuniram e montaram um espelho de
classe. Aps, a professora fez a chamada. Depois de um breve momento conferindo o
caderno de chamada e seus materiais a professora iniciou as apresentaes dos
trabalhos. Chamou a primeira dupla que estava ausente da aula. Notei uma expresso
de desgosto da professora. Aps os alunos foram apresentando seus trabalhos. Neste
momento a turma no prestava muita ateno nas apresentaes dos colegas.
Observei que os trabalhos no tinham criatividade, como se fizessem por
obrigao, e sem vontade. As ltimas duas duplas apresentaram desenhos em papel
ofcio e sem muita explicao, pois disseram que no haviam entendido o que tinha
sido proposto. A professora argumentou que eles no paravam de conversar nas aulas
e que tiveram tempo suficiente para esclarecer as dvidas sobre o trabalho e suas
exigncias. Terminadas as apresentaes, a professora chamou a turma para descer
at o corredor de entrada para montarem a exposio dos trabalhos realizados. A
professora pediu que levassem estojos para escreverem as identificaes. Apenas uma
dupla j havia feito esta tarefa em casa.
A turma se deslocou at o local e alguns alunos se organizavam, enquanto
outros iam ao banheiro, iam tomar gua e outros conversavam nas escadas. A
professora foi buscar a chave, pois os murais so protegidos por vidros com
fechaduras. A professora foi liberando os alunos que haviam terminado de expor seus
trabalhos antes do sinal, pois faltavam poucos minutos. Quando todos os trabalhos
foram colocados a professora fechou o mural e dirigiu-se para a sala para buscar seus
materiais. Alguns alunos a acompanharam e outros j estavam descendo as escadas
com os materiais em mos para irem embora.
24
1.3 Anlises das observaes silenciosas
Observei seis aulas do primeiro ano do Ensino Mdio e seis aulas do sexto
ano do Ensino Fundamental no Instituto Pr Universidade Canoense no perodo de
vinte de setembro a nove de novembro de dois mil e doze.
A turma do sexto ano do Ensino Fundamental que observei, uma turma
considerada pequena. Este fator j contribui para uma dificuldade de realizao de
trabalhos em grupo, contando como um ponto negativo, a meu ver. Outro fator
negativamente alarmante o desinteresse por grande parte dos alunos s Artes. A
turma demonstra escassa curiosidade e empenho em realizar as tarefas pedidas pela
professora, alm de poucos se aventurarem a querer saber mais sobre o assunto.
O artista precisa se cuidar para nunca chegar a um ponto em que ele acha que j viu tudo. Ele deve ficar constantemente em transformao, sabe? E enquanto puder permanecer neste estado, as coisas vo funcionar. (Bob Dylan, em "No Direction Home", de Martin Scorsese, 2005)
Posso dizer que dedico este desnimo didtica exercida pela professora.
H pouca motivao e criatividade nas tarefas solicitadas. Infelizmente, o exerccio de
sua prtica diria me parece desgastada. No h incentivo nem provocaes ao ensino
da Arte. Por isto, acredito que a turma reflete esse comportamento acomodado e sem
desafios.
Ao analisar a turma de primeiro ano do Ensino Mdio, pude destacar
alguns pontos que se diferenciam dos j citados acima na turma de Ensino
Fundamental:
A turma pouco comunicativa. Durante os dilogos da professora os
alunos pouco opinam.
A turma se dispersa com mais facilidade com assuntos fora da aula.
A professora se expressa mais seriamente em suas falas.
Esta turma demonstra um grande desanimo na execuo das atividades
propostas e dedico este fator ao relacionamento professor x aluno formado na sala de
aula.
25
1.4 Anlise do questionrio respondido pela professora
Com base na leitura das respostas do questionrio realizado com a
professora de Artes do Instituto Canoense, posso concluir que sua metodologia e
teoria se baseiam na abordagem metodolgica triangular de Ana Mae Barbosa (1992).
O que me deixou intrigada e que acredito que no deva julgar, o fato da professora
em nenhum momento ter demonstrado alegria, prazer ou entusiasmo nos contedos a
serem aplicados nas turmas. Notei que ela no desafiou os alunos a quererem criar,
mostrar o lado criativo e produtivo de cada um. Assim defende a pesquisadora e arte
educadora Ana Mae Barbosa:
O desenvolvimento da capacidade criadora, to caro aos defensores do que se convencionou chamar de livre expresso no ensino da arte, isto , aos cultuadores do deixar fazer, tambm se d no ato de entendimento, da compreenso, da decodificao das mltiplas significaes de uma obra de arte. (BARBOSA, 1992, p.41)
Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais de Artes, o artista realiza
suas obras de maneira nica e desafiadora, em um instante em particular e que o
professor deve ser o propiciador destes momentos.
funo da escola instrumentar os alunos na compreenso que podem ter dessas questes, em cada nvel de desenvolvimento, para que sua produo artstica ganhe sentido e possa se enriquecer tambm pela reflexo sobre a arte como objeto de conhecimento. (PCN, 1998,p.25)
Acredito que observando o comportamento a as atitudes da professora
em sala de aula, estes momentos desafiadores e enriquecedores do desenvolvimento
artstico foram pouco enaltecidos.
Ao mesmo tempo noto que as aulas so planejadas, visando o pblico
da escola, mesmo sendo uma instituio particular, os alunos no adquirem materiais,
pois no h uma lista que exija isto. Assim a professora tambm propicia a utilizao
de matrias de fcil acesso como lpis, hidrocor, cola e revistas para recorte e etc.
Tambm auxilia fazendo trabalhos em grupo para a utilizao dos mesmos.
26
O mtodo de avaliao da professora diversificado, com avaliaes das
produes, de textos reflexivos realizado pelos alunos e de uma avaliao escrita, pois
h esta exigncia por parte da escola.
Pretende-se avaliar se o aluno sabe identificar e argumentar sobre valor e gosto em relao s imagens produzidas por si mesmo, pelos colegas e por outros, respeitando o processo de criao pessoal e social, ao mesmo tempo que participa cooperativamente na relao de trabalho com colegas, professores e outros grupos. (PCN,1998,p.63)
Os Parmetros Curriculares Nacionais de Artes norteiam o mtodo de
avaliao da produo artstica dos alunos. Desta forma acredito que a professora
esteja se baseando nestes critrios para avaliar a produo dos alunos e formular as
notas.
1.5 Anlise do questionrio respondido pelos alunos
Segundo Ana Mae Barbosa (1992), o conhecimento dos padres de artes
avaliados atravs do tempo, flexibiliza o indivduo para criar padres para avaliar o
novo, o que ele no conhece. Assim como foi citado pela pesquisadora e arte
educadora, este estudo mostra a realidade que notei atravs do questionrio
respondido pelos alunos. Apliquei o mesmo questionrio com os alunos do Ensino
Fundamental e Ensino Mdio.
O questionrio foi elaborado como forma de verificar o conhecimento dos
alunos sobre o que arte na viso deles.
As observaes foram realizadas previamente, com isto, pude montar o
questionrio. Nele investiguei o que os alunos considerariam sobre arte. As respostas
foram tabuladas atravs de grficos.
Com as respostas obtidas, pude elaborar um plano de ao mais eficaz.
27
1.5.1 Questionrio Ensino Fundamental 6 Ano
O grfico a seguir mostra os resultados do questionrio aplicado com o
Ensino Fundamental.
87%
13%
1-Voc gosta da aula de Artes?
SIM NO
7%
93%
2-Voc costuma frequentar atelies e exposies de Artes??
SIM NO
27%
6%
0%
60%
7%
3-Qual destas imagens voc considera uma obra de Arte?
A- Degas B- Matisse C-Hlio Oiticica
D-Michelngelo E-Aldemir Martins
28
1.5.2 Questionrio Ensino Mdio 1 Ano
Os grficos abaixo mostram os resultados do questionrio aplicado com os
alunos do Ensino Mdio.
23%
10%
3%
17%
3%
44%
4-Quais as reas artsticas voc mais gosta?
A-Desenho B-Pintura C-Escultura D- Dana E-Teatro F-Fotografia
73%
27%
1-Voc gosta da aula de Artes?
SIM NO
12%
88%
2-Voc costuma frequentar atelies e exposies de Artes??
SIM NO
29
Ao verificar as respostas elencadas, notei claramente a viso padronizada
sobre o que Arte para os alunos. Uma viso arcaica e nada emotiva. Segundo William
Wordsworth apud Barbosa (1992, p.41), As Artes tm que ver com as emoes, mas
no to profundamente para levar as lgrimas.
1.6 Motivos da escolha do tema de pesquisa em Artes Visuais
Durante o intensivo de janeiro de 2012, cursei a disciplina de Projetos
Educativos Interdisciplinares com a professora Caren Burer. Nessa disciplina, tnhamos
que fazer um projeto interdisciplinar fictcio, integrando no mnimo duas matrias.
Neste processo executei a pesquisa para o projeto com o tema Arte em movimento.
Para realizar a pesquisa estudei muito sobre o artista Degas e suas obras. Assim, uni a
42%
6% 0%
52%
0%
3-Qual destas imagens voc considera uma obra de Arte?
A- Degas B- Matisse C-Hlio Oiticica
D-Michelngelo E-Aldemir Martins
40%
24%
6%
15%
3% 12%
4-Quais as reas artsticas voc mais gosta?
A-Desenho B-Pintura C-Escultura D- Dana E-Teatro F-Fotografia
30
minha paixo sobre a Arte e meu interesse particular sobre a Educao Fsica, curso
que estudei anteriormente a Artes.
Na Educao Fsica, trabalhei questes como o movimento, sua
importncia, biomecnica e desenvolvimento. Com a chegada do estgio e a temida
escolha do tema, me deparei com a questo do movimento na Arte.
Em uma disciplina em especial, Desenho da figura humana, me encantava
o fato de uma estudante da dana movimentar-se com a msica e os alunos
observando e desenhando-a. Isto tornou a forma de fazer arte, mais acessvel a mim,
mais meu cho. Assim defini meu tema unindo duas paixes: Arte e Ao.
Coincidentemente, ao observar as turmas de Ensino Fundamental e Ensino
Mdio, me deparei com uma realidade conhecida, aplicada a grande maioria dos
jovens: a acomodao.
Deparei-me com turmas pouco incentivadas, e que, ao meu ver, afetam e
muito o desempenho acadmico do estudante. Mas, notei um dos fatores do
desinteresse e comodismo: a tecnologia. o conforto de um computador, celular ou
tablet para realizar as tarefas e ocupar os corpos. Esta mesma tecnologia que
possibilitou aos alunos um mundo novo de possibilidades e novos conhecimentos, faz
com que os jovens perdessem o interesse pela ao, pela experimentao que as
aes artsticas proporcionam. Assim afirma Daniel Buren (1967-2000), calar sobre
uma obra sem dvida o que de pior lhe pode acontecer, alm do fato de sequer ter
sido contemplada. (do livro organizado por Paulo Srgio Duarte, "Daniel Buren: textos
e entrevistas escolhidos, 1967-2000")
31
CAPTULO 2. Pesquisa sobre o tema em Artes Visuais
2.1 Representao do Corpo na histria da Arte
O corpo, segundo Jodelet (2001), de acordo com a cultura de cada povo,
representa distintos significados. Pode-se dizer que h uma diversificao de sentidos
para o corpo que se vinculam a anatomia, aos usos, aos contextos e s prticas a
ele associadas. Dependendo do contexto e da poca o corpo toma um sentido e as
pessoas podem represent-la de distintas formas, pois os significados que damos s
coisas so dependentes de um conjunto de condies especficas e variveis. E, para
dar significao ao meu projeto, passo a apresentar algumas das representaes do
corpo ao longo da histria da Arte.
2.1.1 A representao do Corpo no Egito Antigo
No Egito Antigo, segundo Pires (2005), trs reas do conhecimento se
desenvolveram juntas: Magia, Cincia e as Artes. Para que estas se desenvolvessem,
um objeto para estudo era comum s trs reas, o corpo humano.
Ainda, a mesma autora argumenta que para os egpcios assegurarem que
a alma do rei pudesse retornar, seu corpo, um objeto divino, deveria ser representado
e conservado. Para isso, as tcnicas artsticas de representao foram sendo cada vez
mais aprimoradas.
O mesmo estudo indica que as pinturas encontradas no interior das
pirmides serviam como guia para que a alma do rei encontrasse o caminho correto
entre os labirintos da tumba. A pintura egpcia seguia um padro rgido, chamado hoje,
de a lei da frontalidade. Esta lei consistia em representar o corpo sempre de frente,
enquanto sua cabea, suas pernas e seus ps eram vistos de perfil. No importava a
32
situao a ser representada, a posio devia sempre seguir o mesmo esquema
corpreo. (Figuras 1 e 2).
A escultura fiel do rei servia para assegurar-lhe a imortalidade e, ao chegar
em sua tumba, encontraria sua imagem esculpida a sua semelhana. Como
comprovado na figura 4.
Figura 1. Atum with a colourful necklace.
(Fonte:http://fmkorea.net/mystery/20364361,acessado 10/12/2012)
Figura 2. Egyptian Lotus
(Fonte: Arte Egpcia,2008,p.54)
Figura 3. Escriba sentado
(Fonte: http://quhist.com/retratos-
funcionarios-arte-egipto/ acessado em
02.12.2012)
Figura 3. Mscara de Ouro de Tutankhamon
(Fonte: Arte Egpcia,2008, p.75)
33
A mumificao consistia na arte de embalsamar corpos com frmulas e
encantamentos. Com o objetivo de assegurar a imortalidade, o corpo sem vida do rei
era submetido a este longo processo que garantiria a reencarnao do rei em seu
corpo, mantido intacto. (Figuras 5 e 6).
Figura 4. Ancient Egyptian Mummies
(Fonte: http://www.khanelkhalili.com.br/egiptologia02.htm, acessado em 10/12/2012)
Figura 5. Anupu Deus da Mumificao
(Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/civilizacao-egipcia/mumificacao1.php,acessado em
10/12/2012)
34
Segundo Beatriz Ferreira Pires (2005 p. 29), os egpcios sempre se
mantiveram fiis aos ensinamentos dos antigos, talvez pelo fator mgico incluso nas
obras feitas at ento. Na tumba do rei Tutancmon (Figura 7), foi encontrado a
imagem do rei sentado ao trono e sua esposa Ankhesenamon. Esta imagem o
registro de uma mudana, uma evoluo na maneira de se representar o corpo
humano.
Figura 6. Rainha Ankhesenamon diante do marido, Tutankhamon
(Fonte: Arte Egpcia,2008,p.1)
Uma maior mudana na forma de representao do corpo ocorreu em
outra civilizao a grega quando a arte se distanciou da magia, especialmente no
perodo Helenstico.
2.1.2 A representao do Corpo na Grcia Antiga
A Arte Grega influenciou os padres estticos de todo o mundo. Os gregos
tinham a grande preocupao em pensar e retratar as aes humanas. Estabeleceram
a explorao de temticas que valorizavam o aparecimento do homem nas artes,
atravs da pintura e da escultura.
35
Aps a morte de Alexandre, um turbilho de mudanas ocorreram nas
cidades gregas desencadeando uma fragmentao do reino Alexandrino. E, seria este o
motivo para Siebler (2009) afirmar que a arte grega perdeu a sua uniformidade.
As polis gregas formaram reinos independentes e a arte acompanhou
esse movimento. Toda a dramaticidade deste momento vista nas artes que se
sucederam. Como exemplo, nas esculturas, as cenas so mais violentas, com muito
mais movimento, contam histrias mais complexas, e para isso, comeam esculpir no
uma figura ou duas, mas um grupo escultrico. O exemplo o famoso Laocoonte1,
como demonstrado na figura 8.
Outra mudana, a apario do nu feminino. No perodo clssico as figuras
femininas aparecem desnudas da cintura para cima, mas no helenismo a mulher
aparece totalmente nua.
Muitos estudiosos acreditam que a primeira escultura feminina nua foi a
Afrodite de Cnido, de Praxteles (figura 9). A deusa aparece nua antes de entrar em seu
banho, e numa atitude de recato esconde seu sexo com a mo. Ressalta-se na obra o
sutil movimento do corpo, passe o dedo desde a cabea at seus ps. A escultura
original no foi encontrada, e se conhece a obra por escritos e pelas cpias realizadas
pelos romanos.
1 Grupo escultrico Laocoonte e seus filhos. uma das obras mais representativas do
perodo helenstico. Foi realizada por Agesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodas em 50 d.C. de Rodas hacia 50 d. C. (Museo Po-Clementino, Vaticano)
36
Figura 7. Laocoonte e seus filhos
Figura 8 Afrodite de Cnido, de Praxteles
(Fonte: http://umanonu.com/dia-zero/acessado em 10/12/2012)
37
A pintura do perodo helenstico bem conhecida a partir dos tmulos do
sul da Rssia, Macednia e Alexandria, bem como atravs de cpias encontradas nos
stios arqueolgicos de Herculano e Pompia. Certos mosaicos, contudo, demonstram
a grandiosidade da pintura do perodo. Um exemplo o Mosaico de Alexandre,
descoberta em Pompia, baseada em uma pintura helenstica.
A cultura helenstica logo desenvolveu uma arte pela arte, tornando-se
mais decorativa e suntuosa. Os elementos religiosos passaram segundo plano.
Segundo Plnio apud Siebler, (2009), a arte helenstica estava em todos os lugares, de
casas at sapatarias. A maior preocupao dos helensticos era a fidelidade com a
realidade e eles tendiam a pintar aes dramticas e violentas. Esse estilo
exemplificado nas esculturas do perodo.
Durante a poca helenstica, tal como se verificara na Grcia clssica, foi a
escultura em pedra ou em bronze o gnero artstico que atingiu um maior nvel de
desenvolvimento. Abandonando, desde o sculo III a. C., o rgido grupo tipolgico e o
ideal clssico que caracterizou a estaturia grega, o artista helenstico torna-se mais
livre e naturalista. Produz obras de arte sedutoras e fortemente expressivas, de grande
destreza e virtuosismo tcnico, algumas das quais de grande monumentalidade, como
o celebrado Colosso de Rodes. O seu ecletismo permite-lhe copiar e fundir de forma
livre os estilos do passado.
A obra Vitria de Samotrcia (figura 10), esttua comemorativa de uma
batalha, realizada em mrmore aproximadamente em 200 a. C., representava uma
deusa alada que fazia parte de um vasto conjunto que se perdeu. A complexidade
barroquizante e a riqueza plstica transmitida pela toro do corpo e pelo movimento
e agitao dos panejamentos foram algumas das caractersticas fundamentais do estilo
helenstico.
38
Figura 9. Vitria da Samotrcia
(Fonte: www.Olhares.uol.com.br. Acessado em 10.12.12)
Outra pea importante deste perodo, O Gauls moribundo (figura 11),
encontrado em Prgamo e realizado no sculo III a. C., demonstra a importncia
conferida individualizao da representao, atravs de um realismo capaz de
traduzir emoes fortes.
39
Figura 10. O Gauls Moribundo
(Fonte: http: herdeirodeaecio.blogspot.com.br)
Nesse perodo, no sculo IV a.C., as caractersticas da escultura so:
Naturalismo: representada pela idade, personalidade, emoes e
sentimentos;
Representao: a escultura traduzia a paz, a liberdade, o amor, etc.;
Nu feminino: as figuras esculpidas de mulher, anteriormente eram
sempre vestidas;
Princpio de Policleto: opor membros tensos aos relaxados
combinando-os com o tronco, garante movimento e sensualidade. Ex.: Afrodite de
Melo, Vnus de Milo, com uma nudez parcial e esse princpio.
As esculturas eram representadas em grupos: na segunda metade do
sculo III a. C. Ex.: a cpia romana de O Soldado Glata e sua mulher, o original grego
se perdeu. Feita de forma a ser bela vista de todos os ngulos e revelando uma carga
de dramaticidade.
40
Obras famosas do perodo:
Afrodite de Cnido, esculpida por Praxteles;
Afrodite de Cpua, de Lisipo, representando a sensualidade de uma
deusa com os troncos despidos;
Vitria de Samotrcia, marcou o sculo III a. C. Pela mobilidade,
traduzida pelo vento, em suas vestes e com asas abertas, significando vitria.
2.1.3 A representao do Corpo no Imprio Romano
Segundo Beatriz Ferreira Pires (1992 p.32), durante o imprio Romano a
relao do indivduo com o seu corpo sofre uma grande alterao de valores devido o
advento da religio crist. O corpo, antes objeto de admirao e prazer, torna-se neste
perodo, objeto secundrio. Para a religio Crist o corpo sofre dores fsicas,
flagelaes, sacrifcios, abnegao do prazer, pois assim a alma do indivduo
engrandece e assim mostra-se digno de Deus.
A mesma autora acima afirma que, com a exaltao do esprito, o corpo
retratado na Arte como era visto pela religio: um desapego. O que identificava o
homem no era o corpo, pois todos eram iguais perante aos olhos de Deus. Neste
perodo a censura se apropria da Arte, o corpo deixa de ser retratado nu e passa e ser
representado de maneira realista. No h retoques para embelezar o indivduo.
2.1.4 A representao do Corpo na Idade Mdia
Schmitt (1995) afirma que, no sculo VI, vrios autores mencionam o uso
do corpo a propsito dos vcios a gula em Pomerius, a fornicao (relacionamento
sexual ilcito) em Cassiano e o orgulho em Gregrio. J na baixa Idade Mdia2, surge
2 A Idade Mdia (adj. medieval) um perodo da histria da Europa entre os sculos V e XV. o perodo
intermdio da diviso clssica da histria ocidental em trs perodos; a Antiguidade, Idade Mdia e Idade moderna. A Idade Mdia ainda frequentemente dividida em dois ou trs perodos.
41
uma nova viso de corpo, que no mais apenas a priso da alma: quando bem
governado, o corpo pode se tornar meio e lugar de salvao do homem.
De acordo com Matos e Gentile (2004), na Idade Mdia, o corpo foi
considerado perigoso, em especial o feminino, visto como um "lugar de tentaes".
Alguns telogos chegaram a dizer que as mulheres tinham mais conivncia com o
demnio porque Eva havia nascido de uma costela torta de Ado, portanto nenhuma
mulher poderia ser reta.
Segundo Rodrigues (1999), a abertura do corpo humano e a dissecao de
cadveres, para a mentalidade medieval, era uma ao inconcebvel, um gesto do mais
supremo sacrilgio e por este motivo, conforme nos mostra Pereira (1988), a anatomia
passa por um perodo de estagnao representando um perodo negativo para a
Educao Fsica tendo seus estudos retomados com a chegada do Renascimento. O
corpo jamais poderia ser considerado como objeto; para os medievais, a putrefao
era continuidade da vida, era hmus. Existiam valas coletivas que ficavam abertas at
serem preenchidas por corpos e era comum t-los em putrefao em casa. H imagens
da poca que retratam homens danando com cadveres que se desfaziam.
Rodrigues (1999) diz ainda que, com frequncia, os reis da Frana, ao
morrer, tinham seus corpos esquartejados e seus fragmentos espalhados pelas Igrejas
importantes do territrio. Os medievais acreditavam que tais relquias reais
propiciariam boas colheitas. Alm disso, de acordo com Besen (2004), havia tambm o
culto s relquias dos santos, ocorrendo at roubos de partes dos corpos. No se
concebia fundar uma cidade sem o tmulo de um santo, havendo, deste modo, lutas
violentas para garantir o corpo, que traria proteo.
Segundo Besen (2004), a festa de Corpus Christi nasce na Idade Mdia com
a finalidade de fazer a adorao pblica da Hstia, o corpo de cristo. Com o
propsito de libertar o Santo Sepulcro de Cristo do domnio muulmano, surgiram as
Cruzadas lutas em busca da posse de Jerusalm e da Terra Santa, onde estava a
sepultura do filho de Deus.
O mesmo autor revela que corpo era o veculo do pecado, devia ser
escondido, expurgado, esquecido, enquanto a alma devia ser exaltada, devia ser
42
buscada em preferncia ao corpo. Dos mais diversos exemplos de esquecimento que o
medievo nos traz, o corpo o smbolo mximo, exatamente pela sua ausncia. As
pinturas da poca so fortes, mostram o sofrimento do corpo retratado pelo cristo
crucificado, ou dos mrtires. Outra forma de retratar o corpo vem dos corpos bem
vestidos de santos, apstolos e da prpria virgem. O corpo medieval, ocupado em
salvar sua alma, renunciava seus bens materiais e os prazeres terrenos, pois assim, iria
para o paraso depois de sua morte na Terra. (BESEN, 2004).
Ainda, em seu estudo, no final da Idade Mdia que ocorre um
movimento novo em relao ao corpo. Os estudos anatmicos, cinesiolgicos e
biomecnicos, embora proibidos, foram decisivos para um desvelar do corpo, que de
objeto pecaminoso ressurge como fonte de pesquisas e de novas descobertas e que,
somado a transformaes culturais, sociais e econmicas nos levam ao perodo do
renascimento.
no renascimento3 que os corpos so redescobertos. Durante muito
tempo escondidos, os corpos que surgem so volumosos, so grandes e fartos, so
rosados pela falta de sol, praticamente so corpos de bebs que recm chegaram ao
mundo. nesta poca que se tem uma ateno especial ao corpo da mulher, que
antes era ligado reproduo e fertilidade passando at ao pecado, reaparece, seminu
e deslumbrante. Das muitas pinturas que retratavam mulheres nenhuma supera O
Nascimento de Vnus,(figura 7) tela de Sandro Boticelli pintada em 1485.
3 Renascimento, Renascena ou Renascentismo so os termos usados para identificar o perodo da
Histria da Europa aproximadamente entre fins do sculo XIII e meados do sculo XVII. Os estudiosos, contudo, no chegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo variaes considerveis nas datas conforme o autor Burke (1998). Seja como for, o perodo foi marcado por transformaes em muitas reas da vida humana, que assinalam o final da Idade Mdia e o incio da Idade Moderna. Apesar destas transformaes serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, poltica e religio, caracterizando a transio do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo mais comumente empregado para descrever seus efeitos nas artes, na filosofia e nas cincias.
43
Figura 11. O nascimento de Vnus (1492)
(Fonte http://www.studyblue.com, acessado em 11/12/2012)
Mas, o corpo masculino no fica em segunda mo, Leonardo da Vinci, na
gravura conhecida como O Homem Vitruviano (figura 12), imortaliza o equilbrio e as
propores da figura masculina, ainda retratada como smbolo das capacidades fsicas
humanas.
Figura 12. O Homem Vitruviano
(Fonte: http://www.desenhoonline.com/site/o-que-e-o-homem-vitruviano/acessado em 11/12/2012)
44
2.1.5 A representao do Corpo atualmente
O corpo, na sua subjetividade, segundo Baecque (2008), est sempre
produzindo e reproduzindo sentidos que representam cultura, desejos, paixes,
afetos, emoes, enfim, o seu mundo simblico. Ao falar sobre corpo, pensamos este
corpo enquanto um signo.
Agora, o sculo XX o sculo do corpo. Sem as represses sofridas durante
os ltimos sculos, o corpo tem sua mxima liberdade, podendo alcanar o mais alto
nvel de realizaes. As formas de retratar o corpo vo se multiplicando.
A fronteira final para as pesquisas no o espao, mas sim o prprio corpo.
Medicamentos, cirurgias, tratamentos estticos, acessrios dos mais diversos, enfim,
todas as formas de melhoria do corpo devem ser tentadas, pois o corpo no pode mais
ser apenas natural, deve ser mais forte, mais rpido, mais eficiente. (BEACQUE, 2008)
O significado de corpo varia de acordo com a sociedade, varia em funo
da cultura. Seu conceito nos leva na direo da natureza e da cultura, e abre assim um
leque diferenciado de posicionamentos tericos, filosficos e antropolgicos. Segundo
Braunstein & Ppin (1999):
[...] o corpo no se revela apenas enquanto componente de elementos orgnicos, mas tambm enquanto fato, social, psicolgico, cultural, religioso. Est dentro da vida cotidiana, nas relaes de produo e troca, um meio de comunicao, pois atravs de signos ligados linguagem, gestos, roupas, instituies s quais pertencemos permite nossa comunicao com o outro. (BRAUNSTEIN et al.,1999,p,61).
Braunstein & Ppin (1999) referem-se, no mesmo estudo, que o corpo
mais do que um amontoado de rgos, mais do que o invlucro que guarda a alma
imortal, mais do que um campo frtil de movimento, de ao. O corpo um lugar
cultural, que institui idias, emoes e linguagens, sendo uma interao sensomotora
que parte dos sentidos e desencadeia uma ao. Na sua subjetividade, est sempre
produzindo e reproduzindo sentidos que representam cultura, desejos, paixes,
afetos, emoes, enfim, o seu mundo simblico. Ao falar sobre corpo, pensamos este
corpo enquanto um signo.
45
Nosso corpo contemporneo encontra-se em plena transformao. No se trata mais de aceit-lo como ele foi concebido, mas sim de corrigi-lo, transform-lo e reconstru-lo. O corpo aparece ento, como o lugar por excelncia da exposio da subjetividade de cada um e, consequentemente, como o principal alvo dos cuidados que outrora eram destinados alma, antes imortal, agora pertencente a um corpo imortal (pelo menos imortal em sua constante resignificao). (BRAUNSTEIN & PPIN, 1999, p.59).
A partir do cinema americano, segundo Del Priori (2000), que novas
imagens femininas comeam a se multiplicar: Se at o sculo XIX, matronas pesadas e
vestidas de negro enfeitavam lbuns de famlia e retratos a leo, nas salas de jantar
das casas patrcias, no sculo XX elas tendem a desaparecer, e o aparecimento de
rostos jovens, maliciosos e sensuais na tela, somados a outros fatores, foram cruciais
para a construo de um novo modelo de beleza.
O corpo representado na mdia musculoso, sarado, restrito a uma parcela
muito pequena da sociedade, limitada principalmente pela condio financeira. Porm
esse corpo que serve de padro, norma de beleza, modelo e sinnimo de sade e
higiene grande maioria das mulheres e um campo em ampliao para os homens.
(Braunstein & Ppin 1999)
Estamos assistindo neste incio de sculo XXI, especialmente nos grandes
centros urbanos brasileiros, a uma crescente glorificao do corpo, sua exibio
pblica cada vez maior, deixando transparecer o que antes era escondido e,
aparentemente, mais controlado. Para Goldenberg & Ramos (2002), as regras da atual
exposio dos corpos, parecem serem fundamentalmente estticas, sendo que, para
atingir a forma ideal e expor o corpo sem constrangimentos, necessrio investir na
fora de vontade e na autodisciplina.
Assim, os indivduos fazem quase tudo para manter seu corpo dentro dos
modelos construdos e dominantes, como aponta Rosrio (2004), abre-se espao para
uma indstria do corpo; a matria fsica precisa entrar numa linha de produo que
inclu ginstica, musculao, regimes alimentares, tratamentos estticos, tratamentos
de sade, consumo da moda e de bens. As indstrias da beleza, da sade e do status
tm no corpo seu maior consumidor. Encontra-se espera de homens e mulheres,
academias, estticas, sales de beleza, spas, clnicas mdicas, hospitais, estilistas,
46
costureiros, boutiques. O corpo est a servio, portanto, da produo que o domina,
utilizando-se da iluso de faz-lo belo, saudvel e forte.
Rosrio (2004) em seu texto Corpos em metamorfose: um breve olhar
sobre os corpos na histria, e novas configuraes de corpos na atualidade discorre
que novas formas de pensar o corpo tm sido reinventadas constantemente, num
processo que vem alterando significativamente a relao que os indivduos tm com
seu corpo. O corpo virou objeto de consumo e totalmente fragmentado, o culto ao
corpo ganha uma dimenso social indita, cercado de enormes investimentos. O corpo
em forma se apresenta como um sucesso pessoal, aos quais homens e mulheres
podem aspirar.
Hoje, vive-se na era da magreza, dos regimes, da lipoaspirao, dos
implantes de prteses de silicone, botox, das academias, da construo de corpos, ou
seja, da metamorfose dos corpos.
2.2 A expresso artstica do Corpo atravs do Movimento
2.2.1 Corpo e Movimento
Movimento uma noo muito complexa que designa uma realidade
sumamente diversificada, e cujos diferentes aspectos s se articulam em torno desta
definio: chama-se movimento a toda a translao ou a todo o deslocamento de um
corpo ou de um objeto no espao. (MOLINA, 2008).
Para Rocha (2007), o corpo em movimento todo e qualquer
deslocamento de um ou vrios segmentos, ou do corpo em seu conjunto. O
movimento, por conseguinte, um termo genrico, que abrange indistintamente os
reflexos, os atos motores conscientes ou no, normais ou patolgicos, significantes ou
desprovidos de significado. Bruno Castets (1980) apresentou um estudo durante o
Primeiro Congresso Internacional de Psicomotricidade.
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Fonseca (1988) traz uma contribuio ao conceito, onde
o movimento, como meio de explorao motora, permite a apropriao das qualidades dos objetos do real de onde surge a significao, a conservao e a organizao da informao cerebral. (...) A informao intersensorial do ser humano tanto mais significativa quanto mais sinestsica, isto , quanto maior relao tiver com a experincia prtica e motora. O movimento no pode continuar a ser (e para muitos tericos, o ) o filho pobre do comportamento humano (FONSECA, 1988, p.307).
Segundo Wallon (1968), o movimento faz parte da vida do ser humano,
antes mesmo de seu nascimento. No beb, o movimento expressivo o seu primeiro
canal de comunicao. Assim, atravs dos gestos, ele mobiliza o adulto para o
atendimento de suas necessidades.
Para Mello (1996), o movimento precisa ser trabalhado de uma maneira
que desenvolva o indivduo integralmente em todas as suas formas de movimento e
expresso, por isso as atividades com movimento precisam ter como eixo central a
intencionalidade, na qual toda a ao humana tem um significado e uma inteno.
Trabalhar o movimento de forma consciente propiciar ao indivduo refletir, fazer
associaes, exercer e desenvolver sua autonomia, questionar, confrontar-se com
situaes-problema e encontrar solues por si prprio.
Destaco ainda, que o movimento no pode ser visto apenas como um fator
relacionado ao aspecto fsico, isto , destacado dos aspectos emocionais, cognitivos,
histricos e sociais do desenvolvimento humano. (MELLO, 2001, p.98)
2.2.2 Artistas e suas obras na representao do Corpo e Movimento
Alguns artistas fizeram parte desta ressignificao, retratando em suas
obras o corpo como ele , movimentando-se e sendo parte significativa da construo
da obra e tornando-se o objeto principal.
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a) A arte de Edgar Degas (1834-1917)
Segundo Bernd Growe (2006), o gosto pelo movimento , provavelmente,
a caracterstica mais conhecida de Edgar Hilaire Germain Degas (Paris, 19 de julho de
1834 Paris, 27 de Setembro, 1917). Este artista francs foi um pintor, gravurista,
escultor e fotgrafo. E, escolheu para a sua arte os temas mais mveis possveis, ou
seja, aqueles em que os movimentos constituem a essncia, como os temas As
bailarinas e Os cavalos de corrida. Ana Gonalves Magalhes (2006), diz que ele era
obcecado por resolver a questo da representao do movimento. Por que essa
obstinao? Atrevo-me a dar duas razes, dizia Growe:
Porque o movimento difcil. A expresso artstica do movimento traz diversos problemas. Ainda mais quando se perfeccionista, como Degas o era. Degas recusava a facilidade . O seu virtuosismo no se nota tanto na obra concluda, mas principalmente na realizao dela. Queria o mximo. Queria tangenciar o impossvel. Talvez por isso no considerasse nunca uma obra plenamente acabada. (Growe, 2006, p. 82)
A sua arte era trabalho, exerccio. Dgas era um arteso, e o movimento
lhe proporcionava a matria-prima qualificada para o seu empenho artstico. Nada
mais distante dele do que a concepo do artista como um diletante, como um
mero bon vivant.
A segunda razo parece-me ainda mais forte, mais convincente. Dgas
amava a realidade como ela . Queria retratar, como a vemos, o mais realista
possvel. E, o real est em movimento.
As coisas se movem. Passeia-se pela rua e o que se nota? Tudo est em movimento. Ou as coisas se movimentam, ou so movidas, ou se relacionam com o movimento, que o seu mbito. O esttico no tem vida. (Degas in Degas, 2006, p. 67)
Vale lembrar que segundo o prprio, Dgas gostava da agitao parisiense,
daquelas ruas sujas com essa sujeira que, alm de outros aspectos, indica vida (figura
14).
49
Figura 13 Bailarinas de azul (1890)
(Fonte: www.cultura.culturamix.com.br)
Talvez por isso Degas no retratasse paisagens. Nelas nem sempre h
movimento como na figura 15:
50
Figura 14 Joqueis Antes da Corrida (1878-1879)
(Fonte: Arquivo Escola Nacional de Desenho END, Porto Alegre-RS)
Segundo Growe (2006), Degas acreditava que havia uma distoro
deliberada nas imagens contemporneas. Para ele, os sorrisos so maiores. Os dentes
so mais brancos. A pele no tem gordura. E principalmente, no h tristeza. Nesse
empenho por ver o real, Degas no filtra, no esconde o lado negativo da vida, que
no se encaixa no otimismo superficial da auto-ajuda ou de algumas ideologias. Ele
capta e retrata a beleza, mas tambm a tristeza, o abatimento, a falta de entusiasmo
com a vida, a desesperana elementos tantas vezes presentes na vida e que so
fundamentais para uma abordagem minimamente sria da nossa condio.
Atualmente, difcil encontrar quem no aprecie as bailarinas de Degas
(Figura 16). Mas, nem sempre foi assim. Quando exps o original em cera da Bailarina
de quatorze anos (da qual foram fundidos, aps a sua morte, vinte e cinco bronzes),
houve certo descontentamento. Alguns a classificaram como escandalosa, por ser
realista demais. Julgaram-na mais propcia a um museu de histria natural. A escultura
de uma menina cuja triste vida transparecia na obra no era objeto apropriado
para uma exposio de arte impressionista.
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Figura 15 As Bailarinas - Esculturas de bailarinas em movimento (Degas)
(Fonte: http://estampa-me.blogspot.com.br/2012)
Nenhuma arte poderia ser to pouco espontnea quanto a minha: a inspirao, a espontaneidade, o temperamento so-me desconhecidos. necessrio refazer o mesmo tema dez, ou mesmo cem vezes. Em arte, nada deve parecer acidental, nem mesmo o movimento. (Edgar Degas in Degas, 2006,p 68)
Nesta citao Degas refora a ideia de que a inspirao e a espontaneidade
no so praticveis e sim desconhecidas, mas o movimento deve ser proposital atravs
do esforo e da repetio para o desenvolvimento de uma habilidade.
possvel notar que A idade de bronze de Rodin (1875/76) provocou uma
reao semelhante, e igualmente uma apresentao da Mulher picada por uma
serpente de Clsinger (1847). O realismo dessas figuras chocava. Argiam contra esses
dois artistas que as suas esculturas tinham origem num molde feito diretamente de
um modelo vivo. Era perigosa tamanha conformidade com o real.
52
Figura 16 A Idade do Bronze Figura 17 Mulher Picada por uma Serpente
(http://attornatum.blogspot.com.br) (www.flickr.com)
b) A arte de Henri Matisse (1869-1954)
O rompimento com os temas clssicos vem acompanhado na arte moderna
pelas tentativas de representar um espao tridimensional sobre um suporte plano. A
conscincia da tela plana, de seus limites, inaugura o espao moderno na pintura. Um
dilogo crtico do impressionismo estabelece-se, na Frana, com o fauvismo e um dos
artistas mais importantes desta fase: Henri Matisse. Nascido Henri mile Benot
Matisse (Le Cateau-Cambrsis, 31 de dezembro de 1869 Nice, 3 de novembro de
1954) foi um artista francs, conhecido por seu uso da cor e da arte de retratar
movimentos.
Dentre muitos trabalhos do artista destacam-se as figuras 19 e 20.
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Figura 18 Nu no Atelier (1898)
(Fonte: http://morebadnews.wordpress.com/photo-of-the-week/)
Figura 19 A Dana (1910)
(Fonte: www.galeriadefotosuniversia.com.br)
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Acredita-se que a ideia da composio (de A Dana de 1910) surgiu em
1905, enquanto o pintor observava alguns pescadores realizando uma dana de roda, a
sardana, em uma praia do sul da Frana. As formas simplificadas das danarinas
ocupam toda a tela, em um padro rtmico de movimento expressivo. Alm disso,
Matisse limitou a sua paleta em apenas trs cores. O desenho possui trs elementos
bsicos: as danarinas, uma vastido vazia de verde e outra de azul. Esta obra cria uma
imagem na qual as relaes abstratas entre forma, cor e movimento so
fundamentais. (GILLES NRET, 2002)
c) A arte de Hlio Oiticica (1937-1980)
O artista brasileiro Hlio Oiticica (Rio de Janeiro, 26 de julho de 1937 Rio
de Janeiro, 22 de maro de 1980) foi um pintor, escultor, artista plstico e
performtico de aspiraes anarquistas.
Oiticica, criou o Parangol, ou melhor, foi descoberto (como ele prprio
empregava) em 1964. O artista gostava de brandar que o Parangol "antiarte por
excelncia". Trata-se de uma espcie de capa (lembra ainda bandeira, estandarte,
tenda) que no agita plenamente seus tons, cores, formas, texturas, grafismos ou as
impregnaes dos seus suportes materiais (pano, borracha, tinta, papel, vidro, cola,
plstico, corda, esteira) seno a partir dos movimentos - da dana - de algum que a
vista. (Figuras 21 e 22).
O Parangol tem o efeito de liberar a pintura dos seus antigos padres.
Mas, a pintura do Parangol j no s pintura. Trata-se de algo que, em
determinado momento, Hlio descreveu como "transobjeto". O transobjeto feito
com as mais diversas tcnicas, dos mais diversos materiais (plsticos, panos, esteiras,
telas, cordas etc.) que, no entanto, parecem se esquecer do sentido de suas
individualidades originais ao se refundirem na totalidade da obra.
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Figura 20 Parangol
(Fonte: http://jornaldoporao.wordpress.com/2012/06/06/parangoles-helio-oiticica)
Figura 21 Parangol, vestido por Caetano Veloso
(Fonte: jornaldoporao.files.wordpress.com, acessado em 06.12.12)
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O Parangol no pode ser exposto como uma pintura convencional. Ele
deve ser no apenas visto, mas tocado: e no apenas tocado, mas vestido. O corpo
compe com o Parangol que veste uma unidade sempre nova. A dana de quem o
veste no apenas o revela ao espectador que o no veste, mas principalmente ao
danarino mesmo que, nesse processo, se revela a si prprio. Ele em si constitui o
comeo e o fim do crculo, a partir do qual o corpo se faz obra e o danarino,
espectador. Talvez possamos dizer que, quando algum veste um Parangol, compe
com ele um novo transobjeto. Assim, o Parangol rompe com a pintura. Nem o seu
modo de produo, nem o seu modo de exposio, pertence a qualquer das belas
artes tradicionais.
Luis Fabiano Teixeira (2010), faz uma crtica sobre a arte contempornea
brasileira, mas especfico dos Parangols, e o valor que a sociedade aplica a estas
obras.
Aqui, lamentavelmente, nunca foi cultuado fora do meio acadmico e artstico, talvez porque ainda persista essa ideia mesquinha de que arte artigo de luxo, coisa pra rico, elite. Uma pena. E assim vamos perdendo mais um pouco o registro da nossa identidade cultural ps-Colnia. (TEIXEIRA, 2010, p.13)
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CAPTULO 3. Projeto de Ensino
Ttulo: Corpo como representao e expresso na Arte
Tema do Projeto: Corpo e movimento na Arte
Justificativa:
O artista representa o corpo na sua forma de o v-lo. Na sua poca, com
seus instrumentos, com o seu olhar ou mesmo com a circunstncia e a tenso do
momento. Por isso, ao passar dos sculos, a representao corporal na Arte sofreu
enormes mudanas. Estas que acompanharam a evoluo das civilizaes.
A forma humana foi representada na Arte de diversas maneiras e
significados, desde a era Paleoltica como no exemplo de Vnus de Willendorf, at a
atual, como os Parangols de Hlio Oiticica. Muitos artistas se destacaram no estudo
destas representaes, criando obras significativas em nossa sociedade, como Edgar
Degas, Michelngelo e Henry Matisse. A partir destas obras, outros artistas como Hlio
Oiticica e Lygia Clark apropriaram-se do conceito de corpo e sua representao na
Arte. A partir disto ultrapassaram esses limites at ento no explorados na Arte,
utilizaram o uso do corpo como elemento principal de expresso.
Esta evoluo significativa da Arte na histria o assunto principal deste
projeto, pois durante minhas observaes do estgio I, II e III deparei-me com
situaes que me instigaram. Observei alunos e professores desanimados, aulas no
criativas, alunos cansados da rotina, assuntos desinteressantes do mundo da Arte e
turmas rotuladas pelos professores.
O mundo est em constante evoluo, sempre em movimento, por isso
acredito na mudana da didtica aplicada nas escolas. Assim, planejei este projeto
tendo em vista esta mudana to necessria nas aulas hoje em dia.
Para fazer entender que o corpo deixou de ser meramente representado
nas obras e se tornou o objeto central, utilizei o artista Hlio oiticica como principal
inspirao. Ao lembrarmos de sua trajetria na Arte brasileira at seu pice artstico,
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que hoje chamamos de performance, seu nome diretamente ligado aos Parangols.
Estes tem sua elaborao, confeco e uso inusitadas para o contexto social vivido no
Brasil na poca da ditadura. Os Parangols eram utilizados como Arte e protesto ao
mesmo tempo, uma forma de Arte em que o corpo era o objeto principal, pois sem
este o Parangol no existiria. O corpo deixa de ser apenas observado em
representaes e passa, a partir disto, a ser a prpria obra de Arte. Assim justifico este
projeto, para que possamos conduzir as aulas desta maneira dinmica e inovadora,
trazendo a evoluo da realidade para dentro das salas de aula. Trazer o movimento
como expresso e auxiliador no processo de aprendizagem.
Objetivo Geral:
Estimular nos educandos um maior interesse pelas aulas de Artes,
tornando-os reflexivos para a importncia da utilizao do corpo e do espao que os
cerca na expresso artstica.
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Roberta Dias Fagundes
Ensino Fundamental
Primeiro Encontro
Aulas 1 e 2
Data da aula: 03/05/2013
Horrio: 10h30min at 12h
Tema da Aula:
A representao do corpo na arte
Contedos:
Histria da representao do corpo na Arte
Lista de Atividades:
Apresentao em Power Point da histria da representao do corpo na
Arte;
Leitura de obras em grupo;
Organizao da turma para a criao de um quadro vivo.
Objetivos:
Refletir sobre a representao do corpo na mdia e introduzir a
representao do corpo na histria da Arte.
Criar um quadro vivo a partir de uma obra de arte
Metodologia:
Aula expositiva dialogada;
Leitura de imagens.
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Materiais e recursos a serem utilizados:
Data Show
Representao de obras de Arte.
Avaliao:
Os alunos sero avaliados atravs de suas participaes e envolvimento no
assunto do projeto.
PLANEJADO:
A aula iniciar com o deslocamento da turma at a sala de data show.
Nesta sala ser apresentado uma apresentao em Power point sobre a representao
do corpo na Arte.
Esta apresentao consistir em relatar atravs de imagens e suas leituras
a mudana na forma de se representar o corpo na Arte. Ter o tempo de mais ou
menos 25 minutos Sero mostradas imagens como:
. Egyptian Lotus
(Fonte: Arte Egpcia,2008,p.54)
Ao falar do Egito explicarei a lei da frontalidade e observaremos a forma de
representar o corpo humano. Na Grcia mostrarei imagens como:
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Laocoonte e seus filhos
(Fonte: A Arte Grega, 2009, p.23)
Relatarei como as esculturas representavam o corpo na poca, falarei
tambm da beleza e da riqueza de detalhes.
Citarei artistas que trabalharemos durante as aulas:
Bailarina, Degas
(Fonte: Degas in Degas, p. 28)
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A Dana, Matisse
(Fonte: www.galeriadefotosuniversia.com.br)
Explicarei a eles a importncia da participao dos mesmos na execuo
dos trabalhos.
Aps a apresentao a turma ser dividida em grupos. Cada grupo
receber uma obra de Arte de alguns dos perodos histricos observados no Power
Point. Os grupos faro uma leitura de imagem com a obra recebida. Esses
apontamentos sero discutidos rapidamente de forma oral, os alunos falaro suas
observaes e a professora auxiliar nas leituras, com questionamentos do tipo:
-O que o grupo observou na imagem?
-Quais os elementos que chamam a ateno?
-O que notamos em relao ao corpo nas imagens?
-Como vocs descreveriam a postura do corpo na imagem? E etc.
Esta atividade tem o tempo estimado de 20 minutos.
Aps a conversa cada grupo escolher uma das obras estudadas para
representar atravs de um quadro vivo.
A turma ter o tempo de mais ou menos 30 minutos para escolher a obra,
analisar as observaes j feitas pelos colegas e organizar o grupo. Esta organizao
consistir em delegar a cada colega um personagem presente na obra ou material
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para ser trazido para a prxima aula. Todos os alunos dos grupos devero participar de
alguma forma.
Ser pedido para os grupos que tragam cmeras digitais para a prxima
aula.
REALIZADO:
Ao tocar o sinal me dirigi a turma do sexto ano. Ao chegar pedi licena a
professora que j estava na sala. Ela pediu ento que eu aguardasse um momento que
ela precisava entregar uns trabalhos que os alunos haviam feito no bimestre. Antes
mesmo de ela comear a falar, um aluno a interrompeu e pediu para ficar com o
saquinho onde continham os trabalhos. Ele disse que entregaria a turma por ela.
Adorei esta iniciativa.
Para comear, desejei um bom dia e brinquei com eles sobre o fato de
estarem to difere
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