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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO
35ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória
Rua Raulino Gonçalves nº190, esquina com a Rua André Carloni, n°20, Enseada do Suá,
CEP: 29.050-405 - Tel: (27)3145-5000
XCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª
VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DE VITÓRIA - COMARCA
DA CAPITAL
Referente ao Processo N.º 1147553.37-1998.8.08.0024
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO, por intermédio da 35ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória/ES,
representada pela promotora de justiça “in fine” firmada, vem, respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, manifestar-se acerca das seguintes questões de fato e
de direito apresentadas nos presentes autos para ao final requerer.
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO
35ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória
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I ) DOS FATOS
Trata-se de ação civil pública em desfavor do Estado do Espírito
Santo, da empresa Servix Engenharia Ltda. e da Concessionária Rodovia do Sol S/A
(Rodosol), com fulcro em diversas ilegalidades no processo de concessão do Sistema
Rodovia do Sol, formalizado por meio do Contrato de Concessão Pública nº
01/1998.
Sem maiores delongas, após a apresentação de cópia do Quinto
Termo Aditivo ao Contrato de Concessão Pública n.º 01/98, cujo objeto visa
promover o aparelhamento necessário à execução dos serviços de policiamento e
apoio à fiscalização do tráfego de veículos na Rodovia ES-060, encartado às fls.
4291/4313, pela Agência de Regulação e Serviços Públicos do E.S. (ARSP), vieram
os autos a este Parquet Estadual para manifestação.
Isto posto e considerando que existem pleitos deste Órgão
Ministerial pendentes de análise e/ou execução, vide as r. decisões de fls. 4220/4221
e fl. 4275, passa-se agora a abordar alguns pontos cruciais para o escorreito deslinde
da presente ação.
II ) DO QUINTO TERMO ADITIVO APRESENTADO PELA ARSP
No que tange ao Quinto Temo Aditivo apresentado pela ARSP (fls.
4291/4313), cumpre registrar que seu objeto altera a CLÁUSULA LXXVIII do
Contrato de Concessão Pública n.º 01/98, dispositivo este que a Rodosol SEMPRE
DESCUMPRIU, repassando valores aquém do que foi pactuado para o
aparelhamento da polícia e fiscalização do trecho rodoviário de concessão.
Isso tanto é veraz que a auditoria do Tribunal de Contas do
Estado Espírito Santo (TCEES) e até a auditoria levada a cabo na presente
ação pelo perito Denisard Alves constataram o repasse de verbas a menor por
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parte da Rodosol ao Poder Concedente, apenas com uma pequena diferença de
valores, consoante se observa do documento anexo (Documento 01, em anexo).
Ante o exposto e considerando que o repasse de verbas a menor foi
constatado por duas perícias, configurando indubitavelmente o
descumprimento contratual, não abordado no referido Termo de Aditamento,
este Órgão Ministerial toma ciência da juntada e, tendo em vista que este tema não
condiz com o objeto da presente ação, informa que encaminhou cópia do aludido
documento ao Chefe da Promotoria Cível de Justiça de Vitória, para
distribuição à conspícua Promotoria com atribuições na matéria, para conhecimento
e adoção das medidas cabíveis concernentes ao descumprimento da CLÁUSULA
LXXVIII do Contrato de Concessão Pública n.º 01/98.
III ) DA SUPOSTA OCORRÊNCIA DE PRECLUSÃO AOS CÁLCULOS REALIZADOS
PELA ARSP
Segundo a PGE, em manifestação de fls. 4269/4273, teriam ocorrido
os efeitos da preclusão sobre o pedido de recálculo expendido por este Órgão
Ministerial, logo após ao primeiro reajuste concedido pela ARSP, do valor de
pedágio que deveria custear, exclusivamente, a manutenção do trecho relativo à
Terceira Ponte.
Na referida manifestação, a PGE tenta justificar erros crassos de
inclusão de rubricas de investimento e de pagamento de dívidas, alegando que o
cálculo efetuado pela ARSP em 2013 foi feito no prazo exíguo de 24 horas e que
a mencionada agência reguladora não possui “condições técnicas” de fazer um
cômputo pormenorizado (levando-se em conta fluxo de veículos, despesas
administrativas, energia elétrica, dentre outros) para se chegar a um valor
estritamente correspondente à manutenção da Terceira Ponte, frisa-se:
conforme ordem judicial emanada por esse respeitável Juízo.
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Todavia, mister salientar primeiramente que o instituto da preclusão
não se aplica à situação em tela, especialmente por se tratar de questão que traz
prejuízos contínuos aos consumidores usuários da Terceira Ponte e cujos efeitos se
perpetuam no tempo, em especial, até o ano final da concessão, qual seja, 2023.
Além disso, não pode a Administração Pública deixar de reavaliar
um ato falho quando inexiste óbice legal para este mister. Nesse sentido, não pode
a PGE alegar que um cálculo realizado às pressas e dessa magnitude, que afeta o
interesse público e atinge milhares de consumidores usuários do Sistema
Rodovia do Sol, exauriu-se naquele único momento de 24 horas.
Este não pode ser o entendimento para um cálculo tarifário que
causa prejuízo a terceiros, que desrespeita o comando judicial e que pode ser
revisto a qualquer momento pela ARSP, uma vez que o contrato de concessão
está em plena vigência até 2023 e agora sofrendo reajustes anuais.
Ora, qual o problema da ARSP reexaminar o cálculo elaborado em
2013, realmente realizado em tempo exíguo (24 horas), e assim reconhecer, por
exemplo, que adotou equivocadamente como manutenção o valor de uma rubrica de
“Pagamento do Valor Referente à Dívida com a ORL”, no importe de R$
11.500,000,00 (onze milhões e quinhentos mil), cuja natureza nitidamente não
se refere à manutenção do trecho correspondente à Terceira Ponte?
Há algum impedimento legal para que a ARSP, leia-se
Administração Pública, reveja o seu ato, apresentando novo cálculo e desta
forma realmente atendendo ao comando judicial deferido liminarmente?
A resposta é um uníssono NÃO! Ainda mais sobre um contrato de
concessão que está em vigência até 2023. Vale dizer que este erro está sendo
amplificado pelos reajustes da tarifa de pedágio que a partir de agora serão corrigidos
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anualmente, corroendo o orçamento dos cidadãos que passam pela Terceira Ponte
diuturnamente.
Ante o exposto e a inexistência de óbice legal para que a ARSP
reveja a forma das receitas e despesas que compõem o cálculo referente ao
custo exclusivo da manutenção da Terceira Ponte, passa-se a demonstrar quais
as rubricas (de investimento e dívida) devem ser retiradas do cálculo realizado, a fim
de que realmente a ordem liminar desse insigne Juízo seja respeitada e cumprida.
IV) DO ERRO DA INCLUSÃO DAS RUBRICAS DE INVESTIMENTO E DÍVIDA NO
CÁLCULO DO CUSTO EXCLUSIVO DA MANUTENÇÃO DA TERCEIRA PONTE
Ab initio, acerca deste tópico, cumpre ratificar todos os argumentos
expendidos às fls. 3907 usque 3926, pois, até aquela data, a saber: 02 de setembro de
2016, nenhum projeto básico, planilha de custos, comprovante de execução ou
documento referente à rubrica de “Conservação Especial” havia sido apresentado a
este Parquet e nem ao TCEES, quer seja pela Rodosol quer seja pela ARSP.
Em outras palavras, somente depois que este Órgão Ministerial
ingressou com competente ação civil pública (processo judicial n.º 0027736-
63.2016.8.08.0024), questionando a INEXISTÊNCIA da execução do
investimento relativo à “Conservação Especial”, foi que a Rodosol apresentou
um cronograma com esses investimentos.
Em síntese, quando não era fiscalizada, a concessionária não
executava esse investimento/manutenção, todavia, indevidamente, recebia por
ele.
Pois bem. Indo direto ao ponto nevrálgico da questão, ou seja,
encontrar “a cobrança do valor (pedágio) correspondente à manutenção do
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Sistema Rodovia do Sol, no que tange ao trecho da Terceira Ponte, em
montante a ser indicado, pela ARSI” 1 , registra-se que a referida agência
reguladora realizou um estudo (Documento 02, em anexo), a fim de delimitar quais
as premissas que seriam consideradas no aludido cálculo, cujo parâmetro basilar foi
a exclusão de todos os investimentos que oneravam a tarifa, tendo como base
“a proposta comercial inicial do contrato 01/98”.
Vejamos, então, o que aduziu a ARSP sobre a metodologia do cálculo
para se chegar ao valor de manutenção da Terceira Ponte, na íntegra (Documento
02, em anexo), in verbis:
“Estudo da Tarifa de Manutenção do Sistema Rodovia do Sol Inicialmente, antes de apresentar cálculo determinado pela Excelentíssima Juíza da 2ª Vara da Fazenda Estadual da Comarca de Vitória/ES, restou entendido que a referenciada decisão interlocutória não estabeleceu parâmetros exatos para calcular o valor da tarifa atrelado unicamente à manutenção do Sistema Rodovia do Sol, no que tange ao trecho da Terceira Ponte. (...) Isto posto, o valor tarifário calculado observou as seguintes premissas:
a) a base dos dados utilizados foi a proposta comercial inicial do contrato 01/98, com a exclusão de todos os investimentos que oneram a tarifa.
b) os cálculos foram realizados a valores contratuais, conforme data de início do contrato em 1998, e ao final, tarifa foi atualizada conforme reajustes anuais estabelecidos pela Cláusula XIX e demais disposições contratuais.
c) simulou-se um novo contrato, apenas para manutenção das tarifas do
pedágio das duas praças e apenas para a manutenção.” (grifo nosso)
Conforme registrado pela ARSP, foi adotado o critério de
“exclusão de todos os investimentos que oneram a tarifa”, até por ser uma
conclusão lógica, visto que a ordem judicial foi no sentido de que o valor do
1 Trecho retirado da própria decisão liminar.
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pedágio fosse restrito aos custos da manutenção do trecho concernente à
Terceira Ponte.
No entanto, Culto Julgador, contrariando a proposta comercial e
a própria premissa estabelecida, a ARSP incluiu INDEVIDAMENTE, na base
de cálculo do valor de tarifa de manutenção da Terceira Ponte, os subitens 1.8
(Recuperação e Modernização da Terceira Ponte) e 1.9 (Conservação
Especial), do item 1 – Obras de Ampliação e Recuperação, do Quadro 5 –
Investimentos, no valor total aproximado de R$ 57 milhões (Documento 03, em
anexo).
Repita-se, esses valores são INVESTIMENTOS e por isso NÃO
deveriam ser considerados no referido cálculo, segundo as premissas da
própria ARSI.
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Cabe salientar que foi a própria agência reguladora quem afirmou que
a “Conservação Especial” é um investimento, ao responder o ofício
OF/PCVT/N.º 380/2016, expedido por este Parquet, (Documento 04, em anexo).
Senão vejamos:
“A conservação/manutenção especial é considerada, para fins deste contrato, como espécie de despesa pertencente à rubrica dos “investimentos”. Geralmente demandando maior monta e apresentando maior grau de complexidade, tem por finalidade melhorar as condições funcionais e de rolamento da rodovia, prolongando a vida remanescente da estrutura. Dito de outra forma, a conservação/manutenção especial consiste em intervenções não contempladas nos serviços de conservação/manutenção de rotina, que visem prolongar a vida útil do pavimento, das obras de arte, dos dispositivos de segurança, da sinalização etc. e que, por conseguinte, demandam investimentos mais altos por parte da Concessionária.”
Obviamente esses itens foram posicionados no modelo da proposta
comercial como sendo “investimentos”, dentro de uma metodologia de preço
e um cômputo de ônus para a empresa vencedora do certame. Portanto o
reposicionamento dos subitens 1.8 e 1.9 na planilha de custos do empreendimento –
os quais deixariam de ser considerados investimentos – podem gerar distorções
e reflexos no valor total geral do fluxo de caixa, inclusive no que tange aos tributos
incidentes, seja para fins efetivos de recolhimento por parte da operadora da
concessão, devendo também ser feito este cálculo pela aludida agência reguladora a
fim de se evitar “possíveis” vantagens econômicas indevidas à Rodosol, uma vez que
o comando judicial foi para calcular o valor de pedágio relativo à manutenção da
Terceira Ponte.
O mesmo ocorre com a rubrica “Pagamento do Valor Referente
à Dívida com a ORL”, ou seja, dívida referente à construção da própria ponte, no
montante significativo de R$ 11.500,000,00 (onze milhões e quinhentos mil), cuja
natureza é de despesa, o que, por razões óbvias, não pode também ser
considerada como manutenção da mesma ponte.
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Neste ponto, verifica-se outra vez uma rubrica que
inquestionavelmente não é de manutenção incluída no cálculo elaborado pela
ARSP. Nota-se, novamente, que esse significativo valor está beneficiando
financeiramente a Rodosol, gerando distorções em favor da concessionária no
cômputo da manutenção da Terceira Ponte, distanciando-se do que foi determinado
na decisão liminar.
Cabe relembrar que o referido valor não pode sequer ser considerado
como investimento da concessionária no Sistema Rodovia do Sol, razão pela qual se
encontra segregado em um subitem próprio, no fluxo de caixa do empreendimento,
a saber: subitem 2.4 do Quadro 14 – Fluxo de Caixa do Empreendimento –
Sem Financiamento (Documento 05, em anexo).
Do exposto, resta cristalino que há valores que devem ser
excluídos do cálculo do preço atual de manutenção cobrado a título de
pedágio dos consumidores usuários da Ponte Castello de Mendonça,
referentes às rubricas:
• “1.8 – Recuperação e Modernização da Terceira Ponte”,
• “1.9 – Conservação Especial”,
• e “Pagamento do Valor Referente à Dívida com a ORL”.
Isto segundo as próprias premissas adotadas pela a agência
reguladora estadual, razão pela qual este Parquet reitera o requerimento já constante
dos autos de que a tarifa de manutenção seja recalculada.
V) DO ERRO DA INCLUSÃO DOS VALORES DE MANUTENÇÃO DO TRECHO DA
RODOVIA ES-060 (GUARAPARI) NO CÁLCULO DO CUSTO EXCLUSIVO DA
MANUTENÇÃO DA TERCEIRA PONTE
Outro ponto que deve ser revisto no cálculo efetuado pela ARSP,
visto que tais valores deveriam estar adstritos apenas à manutenção da Ponte
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Castello de Mendonça, é o de que a referida autarquia especializada utilizou na base
de seu cálculo os custos de administração, operação e conservação PARA
TODO O SISTEMA RODOVIA DO SOL e não apenas para a Terceira Ponte.
Ou seja, os custos de administração, operação e conservação da
Rodovia ES-060 (Guarapari) foram indevidamente incluídos no cômputo do
valor de pedágio correspondente exclusivamente à manutenção da Terceira Ponte.
Assim, no item “2.1 Custos Administração/Operação e
Conservação” da planilha apresentada pela ARSP foram somados os itens da
proposta inicial, a saber:
1. Administração e Operação – Mão de Obra (Documento, 06);
2. Administração e Operação – Outros Custos (Documento 07); e
3. Conservação (Documento 08).
Entrementes, para realizar o cálculo adstrito ao valor de
manutenção da Terceira Ponte, a ARSP NÃO deveria computar os custos totais
de administração, operação e conservação DE TODO O SISTEMA
RODOVIA DO SOL (Documento 09, em anexo)2, ou seja, o trecho referente à
Rodovia do Sol (Rodovia ES 060 - Vitória/Guarapari) não deveria ser considerado
na base de cálculo da manutenção da ponte.
Outrossim, nos custos com Administração e Operação – Mão de
Obra (Documento em 05, em anexo), existem profissionais que só foram
relacionados na proposta comercial durante os CINCO PRIMEIROS ANOS do
empreendimento, isto é, durante a construção das obras da rodovia, a exemplo do
topógrafo, do laboratorista e do desenhista 3 . Destarte, as despesas com esses
profissionais NÃO deveriam ser incluídas no cálculo da tarifa básica de
manutenção da Terceira Ponte.
2 Neste documento consta o resumo desses valores, referente a todo o Sistema Rodovia do Sol, a ARSP somou
todos esses valores, embora devesse apenas considerar o Trecho relativo à Terceira Ponte. 3 Itens destacados no documento 05, em anexo.
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O mesmo ocorre com a “Conservação Especial”, que está sendo
cobrada irregularmente por 02 (dois) motivos.
Além de ser um investimento, e não uma manutenção, a
conservação especial está sendo cobrada na tarifa de manutenção da Terceira Ponte
em valor CORRESPONDENTE A TODA EXTENSÃO DO SISTEMA
RODOVIA DO SOL, não se restringindo apenas ao trecho determinado na decisão
liminar.
Ora, se a ARSP não possui condições técnicas de fazer um cálculo
que atenda o comando judicial, ou seja, contemplando apenas o valor
correspondente à manutenção da Terceira Ponte, consoante informou a PGE
às fls.4269v/4270, DEVE-SE CONTRATAR UMA EMPRESA OU UM
ESPECIALISTA COM ESTA EXPERTISE TÉCNICA, a fim de que os
usuários consumidores que trafegam pela Ponte Castelo de Mendonça,
diuturnamente, não sejam lesados economicamente.
Em síntese, o cálculo de manutenção da Terceira Ponte está errado,
não precluiu, sendo que sua regra de cálculo, segundo premissas da própria
ARSP, não pode considerar rubricas de investimentos, de dívida com a ORL e
muito menos os custos de administração, operação e conservação DE TODO
O SISTEMA RODOVIA DO SOL.
O Poder Judiciário não pode se mostrar indiferente à tamanha
injustiça, não após tomar conhecimento da gravidade dos fatos e da metodologia
equivocada adotada pela ARSP no cálculo do valor da manutenção da Terceira
Ponte.
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VI) DO EQUÍVOCO DO PEDIDO DA RODOSOL PARA SUSPENSÃO DAS
DESAPROPRIAÇÕES DE IMÓVEIS NO SISTEMA RODOVIA DO SOL
Às fls. 3836 usque 3841, a Requerida requer ordem judicial para que
possa suspender os processos de desapropriações de imóveis de alguns trechos do
Sistema Rodovia do Sol, alegando fragilmente que parte do contrato de concessão
está suspensa e, principalmente, que a tarifa de pedágio da Terceira Ponte, cuja
composição custeia investimentos em todo Sistema Rodovia do Sol, teria sido
temporariamente reduzida ao custo exclusivo da manutenção da ponte, impedindo a
continuidade das desapropriações.
No entanto, Culto Julgador, tais minguadas alegações não podem
prosperar.
Primeiramente, mister gizar que o pedágio da Rodovia ES-060
(Guarapari), localidade onde está ocorrendo a maioria das desapropriações, não
sofreu redução de seu valor à manutenção.
Noutro dizer, a Rodosol quer buscar a todo custo motivos para não
realizar as desapropriações e obras que faltam ser concluídas em TODO SISTEMA
RODOSOL, sob a minguada alegação de que a redução do valor de pedágio à
manutenção somente da Terceira Ponte impediria esses processos.
Entrementes, isso não é veraz e por isso não deve ser aceito, pois o
valor da tarifa do Posto de Cobrança do Km 30 da Rodovia ES-060 (Guarapari)
continuou intacto e recebendo os reajustes anuais.
Além disso, referido pedágio também contém na composição de seu
valor tarifário percentuais referentes a investimentos, a desapropriações, a
limpeza e conservação da rodovia, dentre outras rubricas de obras e serviços.
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Como se não bastasse, resta claro que a presente ação tem objeto
definido e delimitado na petição inicial, o que indubitavelmente não inclui o
pedido do requerido de suspensão das desapropriações. Eventual decisão
quanto a isso, inclusive, seria extra petita, portanto nula de pleno direito.
Há de se destacar, ainda, que o lucro líquido da Rodosol mais que
triplicou nesses últimos anos, saltando de R$ 3.647.000,00 (três milhões e seiscentos
e quarenta e sete mil reais) em 2014 para R$ 11.594,000,00 (onze milhões, quinhentos
e noventa e quatro mil reais) em 2015. E em 2016 houve um aumento de mais de
61% em relação ao lucro líquido do ano anterior, subindo para os consideráveis
R$ 18.774.000,00 (dezoito milhões, setecentos e setenta e quatro mil reais), isso
publicado no Diário Oficial do Estado pela própria concessionária, segundo suas
Demonstrações de Resultado de Exercício - DRE4 (Documento 10, em anexo).
A par dessa valiosa informação, torna-se inócua a alegação de que a
Requerida está passando por dificuldades financeiras e que, em razão disso, não pode
dar prosseguimento às desapropriações ou a qualquer outra obrigação contratual.
Ora, quando lhe convém a concessionária afirma que a matriz do
contrato é de risco e por isso o aumento constatado no fluxo de veículos (por
exemplo), que gera aumento de receita, não pode ser requerido pelo Estado no
reequilíbrio econômico-financeiro contratual, mas quando não lhe é conveniente, a
Requerida argumenta que não pode continuar a proceder às desapropriações, mesmo
obtendo um lucro líquido recorde nos últimos anos do contrato, sendo que aceitou
incialmente a estimativa de custos para este mister prevista no instrumento
contratual. Ou seja, agora a matriz do contrato não é mais de risco.
4 Conceito: “A demonstração do resultado do exercício (DRE) é uma demonstração contabilística dinâmica que se
destina a evidenciar a formação do resultado líquido devendo ter alterações em um exercício, através do confronto
das receitas, custos e resultados, apuradas segundo o princípio contábil do regime de competência”, retirado do
link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Demonstra%C3%A7%C3%A3o_do_resultado_do_exerc%C3%ADcio .
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Ante a todo o exposto, não existem razões e nem há possibilidade
para que a Cláusula LXXVII do Contrato de Concessão Pública n.º 001/98 seja
suspensa, paralisando as ações judiciais de desapropriação dos imóveis em alguns
trechos do Sistema Rodovia do Sol.
VII – DOS PEDIDOS
Do exposto, considerando a gravidade dos fatos e, também, a
metodologia dos cálculos apresentados pela ARSP, o Ministério Público apresenta
os seguintes pedidos:
1) ratificar os argumentos expendidos e pleitos realizados nas
petições de fls. 3733/3742, 3828/3830, 3904/3905 e
3907/3926, a fim de que a ARSP efetue o recálculo do valor
atual de manutenção da Terceira Ponte, considerando os
valores atualizados referentes às receitas e custos do citado
trecho (ex: tráfego de veículos, energia elétrica, despesas
administrativas e operacionais somente adstritos à Ponte Castello
de Mendonça);
2) caso a ARSP não possua condições técnicas para fazer o cálculo
mencionado no item “1” acima, requer que esse insigne Juízo
nomeie hábil perito para fazer esse cálculo, ou seja, encontrar: “a
cobrança do valor (pedágio) correspondente à manutenção
do Sistema Rodovia do Sol, no que tange ao trecho da
Terceira Ponte”, conforme previsto expressamente na decisão
liminar;
3) sejam os valores relativos à rubrica de investimentos e de
dívidas com a ORL excluídos do cálculo do preço atual de
manutenção cobrado a título de pedágio dos consumidores
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usuários da Terceira Ponte, em estrita observância à r. decisão
liminar antes proferida;
4) sejam os valores dos custos de administração, operação e
conservação, bem como o de “Conservação Especial”
referentes ao TRECHO DA RODOVIA DO SOL
(RODOVIA ES 060 - VITÓRIA/GUARAPARI) extirpados
da base de cálculo da tarifa de manutenção da Terceira Ponte;
5) seja indeferido o pleito da Rodosol com o fito de suspender as
desapropriações de imóveis que estão em curso no Sistema
Rodovia do Sol, mantendo-se em plena vigência a Cláusula
LXXVII do Contrato de Concessão Publica n.º 001/98.
De tudo pede deferimento.
Vitória, 03 de julho de 2017.
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Rol de Documentos Anexados:
DOCUMENTO 01: CÓPIA DO ITEM “5.1.12 REPASSE À POLÍCIA RODOVIÁRIA”, RETIRADO DA
MANIFESTAÇÃO TÉCNICA TCEES N.º 0516/2017, DEMONSTRANDO QUE TANTO A AUDITORIA
DO TCEES COMO A PERÍCIA JUDICIAL LEVADA A CABO PELO PERITO DENISARD ALVES
CONSTATARAM QUE HOUVE REPASSE DE VALORES AQUÉM DO QUE FOI PACTUADO PARA O
APARELHAMENTO DA POLÍCIA E FISCALIZAÇÃO DO TRECHO RODOVIÁRIO DE CONCESSÃO
ESTADUAL EM APREÇO;
DOCUMENTO 02: ESTUDO DA TARIFA DE MANUTENÇÃO DO SISTEMA RODOVIA DO SOL
REALIZADO PELA ARSI (ATUALMENTE ARSP);
DOCUMENTO 03: CÓPIA DO QUADRO 5 – INVESTIMENTOS – PROPOSTA COMERCIAL;
DOCUMENTO 04: CÓPIA DA RESPOSTA DA ARSI (ATUALMENTE ARSP) AO OFÍCIO
OF/PCVT/N.º 380/2016;
DOCUMENTO 05: FLUXO DE CAIXA DO EMPREENDIMENTO – SEM FINANCIAMENTO – QUADRO
14;
DOCUMENTO 06: CUSTOS DE ADMINISTRAÇÃO E OPERAÇÃO – MÃO DE OBRA – QUADRO 6;
DOCUMENTO 07: CUSTOS DE ADMINISTRAÇÃO E OPERAÇÃO – OUTROS CUSTOS – QUADRO 7;
DOCUMENTO 08: CUSTOS DE CONSERVAÇÃO – QUADRO 8;
DOCUMENTO 09: RESUMO DOS CUSTOS DE OPERAÇÃO, CONSERVAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO –
QUADRO 9;
DOCUMENTO 10: CÓPIA DAS DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADO DE EXERCÍCIO – DRE DA
CONCESSIONÁRIA RODOVIA DO SOL DE 2014 A 2016 E MATÉRIA VEICULADA NA INTERNET SOBRE
O ASSUNTO.
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