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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
“PROJETO VEZ DO MESTRE”
HIPERATIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
por
Cristiane Martins da Rocha
Orientador: Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas
Rio de Janeiro
Março 2004
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
“PROJETO VEZ DO MESTRE”
HIPERATIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
por
Cristiane Martins da Rocha
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes ao Projeto “A vez do Mestre”, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-graduação “Lato Sensu”, com especialização em Psicopedagogia.
Rio de Janeiro
Março 2004
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SUMÁRIO
Resumo 4
Introdução 5
1. A Compreensão da Hiperatividade como patologia 7
2. O Diagnóstico da Hiperatividade 13
3. Uma proposta pedagógica para o aprendizado das crianças hiperativas 28
Conclusão 53
Bibliografia 55
Anexos 56
Índice 59
Folha de Avaliação 61
4
RESUMO
A criança hiperativa costuma apresentar problemas com o aprendizado, seja através da dificuldade em prestar atenção e manter a concentração, como já foi mencionado, ou por outros problemas sociais no ambiente escolar por causa dos distúrbios de comportamento, como agressividade e isolamento social conseqüente. Freqüentemente, estas dificuldades acabam levando a criança a assumir uma atitude negativa perante o estudo e à escola devido as dificuldades que encontra. A falta de compreensão do meio social do indivíduo com hiperatividade leva a uma condição onde a criança passa a ser acusada de preguiçosa, burra, agressiva, impulsiva, etc. o que só piora ainda mais a situação, abrindo caminho para comportamentos patológicos, depressivos e anti-sociais. O pedagogo, ao perceber o problema, organizará um método de ensino especialmente para aquela criança, porém sem a diferenciar ou destacar das demais, para que ela não se sinta pressionada ou “uma criança especial”, pois isso geralmente causa traumas e complexos, além de travar a liberdade criativa e o desenvolvimento da inteligência da criança. O pedagogo, como professor, irá valorizar suas qualidades e potencialidades, a fim de ajudá-lo a se relacionar com os colegas de classe e se desenvolver da forma mais natural e equilibrada possível. A intenção da pesquisa é disponibilizar os meios necessários para facilitar o processo educacional dessas crianças, sem a necessidade de discrimina-las e oferecer ao pedagogo o suporte necessário para conversar e orientar os pais dessas crianças, já que o professor é capaz de diagnosticar, mas não de resolver o problema sozinho na escola.
Palavras-chave: aprendizado, hiperatividade, distúrbios
5
INTRODUÇÃO
Espertos, hiperativos, agitados, diabinhos e pestinhas. Estes são alguns
dos adjetivos usados pelas pessoas para caracterizar crianças que de uma
forma ou outra parecem ter uma fonte quase infinita de energia. São crianças
que parecem sempre estar em movimento, que não conseguem ficar paradas
mesmo que outras pessoas exerçam uma força enorme nesta direção. Nem
mesmo os pais destas crianças conseguem fazer com que elas fiquem quietas.
São estes, ou seja, os pais, os que mais sofrem com o comportamento
inquietos destas crianças, já que são eles que passam o maior estresse
psicológico. Se de uma lado estão os professores ( que enfrentam um grave
problema com esse tipo de aluno), os familiares e a sociedade de um modo
geral cobram um comportamento mais calmo e sereno dessas crianças.
Do outro lado está a criança que se mostra resistente à todos os tipos de
tentativa de mudar de atitude. Como se esta situação já não fosse suficiente,
muitas vezes os pais ainda tem arcar com outros problemas como os prejuízos
por danos causados à terceiros pelos seus filhos em algum acidente ou a conta
do ortopedista no caso deste dano ser feito contra eles próprios.
Embora o assunto tenha sido tratado de uma forma leve no parágrafo
acima, este projeto de monografia é sobre um dos assuntos mais sérios e
controvertidos da área educacional: O Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade.
No capítulo 1 será abordado que talvez o maior problema que ocorra em
relação à hiperatividade esteja no fato de que o conhecimento sobre este
transtorno seja muito pequeno na população leiga e até mesmo nas áreas
médica e psicológica. Muitas das crianças e até adultos hiperativos passam a
sua vida inteira sendo acusados injustamente de serem mal-educadas,
preguiçosas, loucas, desequilibradas, temperamentais, etc... quando na
verdade são portadoras de uma síndrome que simplesmente as fazem agir de
6
maneira impulsiva, desatenta e as vezes até mesmo caótica. O
desconhecimento que existe sobre a hiperatividade tem um motivo: A demora
para se reconhecer este transtorno como um problema neuropsicológico e a
controvérsia sobre se realmente a hiperatividade pode ser reconhecida como
um transtorno por si própria.
No capítulo 2 será apresentado o diagnóstico, onde talvez o fator que
mais caracterize a hiperatividade seja a falta de capacidade do indivíduo se
concentrar e prestar atenção no que está sendo apresentado à ele sem se
distrair com qualquer outro estímulo. Aparentemente, a criança com
hiperatividade sente uma necessidade extrema de prestar atenção em
estímulos novos e muitas vezes irrelevantes e passam a impressão de que
nunca conseguem completar nenhuma tarefa iniciada, pois assim que
começam uma nova empreitada facilmente se distraem e passam a fazer outra
coisa e assim sucessivamente deixando um rol de tarefas incompletas assim
que elas vão passando de uma para outra. Estas pessoas também apresentam
uma dificuldade de memorizar coisas e se lembrar de compromissos,
encontros, onde deixou certos objetos .
Esta falta de atenção leva muitas vezes a problemas profissionais no
futuro, se não tratada logo na infância, gerando a falta de produtividade e
também a problemas de relacionamento, pois a falta de atenção causa a
impressão em outras pessoas de que elas são sem importância.
No capítulo 3 será abordada uma proposta pedagógica, onde interesse
por esse tema surgiu a partir da necessidade de se construir uma proposta
pedagógica para o ensino de crianças com hiperatividade, defendendo a sua
integração na escola normal, alertando sobre a necessidade de conhecimento
por parte dos educadores, e propondo atividades que poderão ajudar estas
crianças, na esperança de que, ao ler este trabalho, o leitor tenha a sensação
de estar descobrindo e aprendendo coisas novas e possa criar novas
hipóteses, ter novas idéias para que o conhecimento de nós, educadores,
7
sobre a hiperatividade, possa diminuir o sofrimento daqueles que sofrem
deste transtorno.
Esta pesquisa irá reunir todas as informações sobre os diversos
aspectos deste transtorno, esperando que possa haver uma melhor
compreensão pedagógica do que seja a hiperatividade e quais os recursos
disponíveis para facilitar a educação infantil nestas condições, além de tornar
os pedagogos aptos a aconselhar a família sobre seu tratamento e uma
alternativa para melhor integração social da criança, além de contar um pouco
da história da hiperatividade, suas característica, como se manifesta e como
interage com outros problemas, o trabalho contará ainda com uma orientação
a pais e famliares sobre tratamento.
8
1. A COMPREENSÃO DA HIPERATIVIDADE COMO
PATOLOGIA
A hiperatividade é caracterizada por uma série de sintomas nem sempre
claros e facilmente distinguíveis de outras patologias psiquiátricas (nos seus
casos mais graves) ou da normalidade (nos casos mais leves). De uma forma
geral, pessoas com este transtorno tendem à apresentar alguns problemas
como: Dificuldade de atenção e concentração, problemas de aprendizado,
distúrbios do Comportamento, instabilidade e Hiperatividade, distúrbios
motores ,retardos da fala, dificuldade de atenção e concentração.
1.1. Conceito
Sergundo Barkley (1988) o transtorno de déficit de atenção e
hiperativida de é um transtorno do desenvolvimento do tempo de atenção,
impulsividade e/ou superatividade, assim como do comportamento controlado
por regras, no qual estes déficits são significativamente inapropriados para a
idade mental da criança; tem seu início na primeira infância; é
significativamente transituacional por natureza; é geralmente crônico ou
persistente ao longo do tempo; e não é resultado direto de atraso severo de
linguagem, surdez, cegueira, autismo ou psicose infantil".
Muitas vezes estes problemas podem ser compensados ou pela vontade
da criança ou pela atitude perante o problema das instituições de ensino. A
criança, muitas vezes, até mesmo sem perceber, desenvolve técnicas para
poder superar as suas deficiências. Entre estas técnicas estão o uso de
acessórios de estudo coloridos e chamativos para não dispersar a atenção com
outros estímulos, uso de lembretes, chaves coloridas, etc. Em relação as
instituições de ensino, muitas delas estão desenvolvendo salas de aula
especialmente planejadas para estes alunos e programas especiais para o
9
reforço do estudo. As salas de aula para pessoas com hiperatividade são
projetadas de forma a ter o menor número possível de estímulos distrativos e
os programas especiais tentam sanar as deficiências e dar suporte psicológico
ao aluno com este distúrbio.
Desde que foi descrito pela primeira vez, em 1902, o TDA/H ( Transtorno
do Déficit de Atenção/Hiperatividade) ou ADD (Attention Deficit Disorder), já
recebeu diversas denominações ao longo dos anos. As mais conhecidas foram:
síndrome da criança hiperativa, lesão cerebral mínima, disfunção cerebral
mínima, distúrbio do comportamento pós-cefalite, transtorno hipercinético,
distúrbio primário da atenção.O atual termo empregado é o de Transtorno do
Déficit de Atenção/Hiperatividade, significando a barra inclinada que o
problema pode ocorrer com ou sem o componente de hiperatividade, outrora
considerado o sintoma mais importante e definidor do quadro. O distúrbio tende
a permanecer através da adolescência e atingir a idade adulta.
Geralmente, percebe-se que há algum problema com a criança
portadora do TDA/H na fase escolar, que é quando há uma cobrança maior de
atenção e comportamento adequado. Contudo, desde o nascimento, já
apresenta alguns sintomas, tais como agitação, choro demasiado e pouco sono
à noite.
Algumas pessoas conhecidas com déficit de atenção:Steven Spielberg,
Thomas Edson, Einstein, Leonardo da Vinci, Walt Disney, John Lennon, Louis
Paster, Magic Johnson, Tom Cruise, Darcy Ribeiro, Ziraldo (e seu personagem
Menino Maluquinho), entre muitos outros.
Embora, muitas pessoas famosas e brilhantes sejam portadoras do
TDA/H, a falta de informação e compreensão de pais e educadores e a
ausência de acompanhamento médico-psiquiátrico, podem levar a criança a
seguir o caminho das drogas e da marginalidade, aumentando assim a
população carcerária ou nos hospícios e manicômios.
10
1.2. Características das crianças hiperativas
De acordo com Holland (1969), pessoas e especialmente crianças com
este distúrbio apresentam problemas motores como a incordenação e a
hiperatividade.
A incordenação se manifesta através de dificuldades ou atraso em
atividade como andar de bicicleta, amarrar os sapatos e escrever . Pode se
manifestar também pelo jeito desajeitado que a criança mostra ao interagir com
o mundo. Alguns autores fazem uma comparação deste comportamento
afirmando que ele se aparenta à aquele que supostamente seria exibido por
um "King Kong", tal é o modo grosseiro e desajeitado destes movimentos. Os
objetos ao seu redor correm permanente perigo: as pontas dos lápis, os copos,
os botões das camisas, as cadeiras que são colocadas à prova quando sobre
elas se atiram para sentar, os brinquedos, o aparelho de TV, enfim, tudo que
esteja ao seu alcance.
A hiperatividade se apresenta através da dificuldade do indivíduo em controlar os seus movimentos. O indivíduo é incapaz de ficar mais do que alguns segundos parados sem realizar um movimento inútil. Mesmo quando as condições exigem ele não é capaz de ficar parado, quando por exemplo esta pessoa tem que ficar sentada, ela começa a apresentar movimentos nos membros. A hiperatividade se apresentada na grande maioria dos casos embora, em alguns casos, este problema pode não estar presente, dando uma subdivisão sem hiperatividade que será estudada.Estes distúrbios motores são um dos principais motivos de queixas de professores e pessoas em geral que lidam com o indivíduo com Hiperatividade. Um dado interessante é que os pais parecem se tornar acostumados com estes distúrbios nos seus filhos, pois dados levantados por Lefevre apontavam que embora só uma pequena parcela dos pais se queixassem da hiperatividade dos seus filhos (cerca de 15%), os exames clínicos posteriores demonstraram que quase cerca de 65% das crianças estudadas apresentavam hiperatividade. (HOLLAND,1969, p.58-59).
Os indivíduo hiperativo apresenta em alguns casos retardos na fala que
pode se apresentar em 3 tipos diferentes, por ordem de freqüência: Retardo da
aquisição, Dislalias, Distúrbios de Ritmo.
11
Os retardos na aquisição se caracterizam pelo diferença apresentada
pela criança entre o que seria esperado dela em termos de produção verbal em
relações ao seu desenvolvimento neuropsicológico e o que realmente ela
consegue produzir. Os testes de desenvolvimento psicomotor são apropriados
para medir esta diferença, já que a criança apresenta uma discrepância entre o
setor da fala e os demais. Não são raros casos de crianças com o problema e
que chegam à idade de alfabetização com a fala ainda não totalmente
desenvolvida.
As dislalias, ou seja, a troca de fonemas, também pode ser apresentado
por criança em uma idade muito superior ao que normalmente seria esperado.
É importante salientar que este problema deve ser corrigido o mais cedo
possível, pois com o tempo a criança pode acabar incorporando a dislalia como
parte da sua linguagem normal, tornando a correção do problema muito mais
difícil.
Os distúrbios de ritmo se apresentam através da falta de separação
nítida entre uma palavra e outra tornando difícil a compreensão do que está
sendo dito. Muitas vezes este problema é confundido por leigos como sendo
uma espécie de gagueira, mas é importante diferenciar o diagnóstico para
evitar problemas e facilitar o tratamento do problema.
As principais características são: Corpo hiperativo, mente sem atenção,
distração, esquecimento, crianças (e adultos) que não conseguem ficar
parados, impulsividade, impaciência, desorganização, bagunça, podem fazer
mais de uma coisa ao mesmo tempo, porém com dificuldade de completá-las,
dificuldade de focalizar a atenção nas salas de aula por períodos maiores de
tempo, inteligência normal ou superior, porém muitas vezes com pouco
rendimento, dificuldade em seguir regras ou instruções da professora na sala
de aula, pensamento rápido, cérebro de scaner, criatividade, retardo no
desenvolvimento da fala, dificuldade de socialização, depressão e sentimento
de inferioridade.
12
1.3. Estatísticas
Segundo Chess (1982), o índice de crianças com hiperatividade na
população média dos Estados Unidos é de 3% a 5%. No Brasil, pesquisas
semelhantes chegaram à valores entre 3 e 6% ,enquanto na Grã-Bretanha este
número é estimado entre 1 e 2%. Esta diferença leva alguns médicos europeus
à criticarem os seus colegas do Novo Mundo dizendo que estes tendem a
rotular crianças com hiperatividade em quantidade muito maior do realmente
seria o correto.
Até o presente momento não se sabe se esta acusação é justificada, se
a causa seria outra como uma cultura mais aberta à este tipo de
comportamento, ou ainda se o correto seria o contrário, ou seja que os
europeus estariam evitando dar diagnósticos corretos de sobre a
hiperatividade.
O índice de hiperatividade no Brasil é de 3 a 6%, nos EUA de 3 a 5%,
mas este índice é muito menor em países como a Grã-Bretanha (1 a 2 %). Isto
leva os britânicos a acusarem os americanos de diagnosticarem a
hiperatividade em excesso e os americanos fazem a crítica inversa.. Esta
diferença se deve à formação dos profissionais de saúde, além de outros
fatores. Na Inglaterra, e em muitos países da Europa, a mãe ganha do governo
um salário para ficar em casa cuidando do filho até que este tenha 3 anos de
idade. Provavelmente nestas condições a mãe tem mais contato com os filhos,
e acredito que isto possa reduzir os comportamentos ligado à hiperatividade.
O Transtorno ocorre em cerca de 3 a 7% das crianças, sendo
aproximadamente 3 vezes mais freqüente em meninos que em meninas.
Nessas prevalece o tipo clínico em que predomina a desatenção, sem
evidência importante da hiperatividade.
13
2. O DIAGNÓSTICO DA HIPERATIVIDADE
Segundo GORODSCY( 1990), quando falamos de hiperatividade, é
muito difícil separar os problemas comportamentais primários dos secundários.
O indivíduo com este distúrbio tende a exibir um comportamento
irrequieto que faz com que as pessoas à sua volta o tratem de uma forma
diferenciada. Na maioria das vezes esta diferenciação é negativa, se
manifestando através da exclusão social do indivíduo por causa da sua
inabilidade de se manter quieto, de praticar esportes ou a sua tendência de
quebrar coisas.
2.1. A Caracterização do distúrbio comportamental
Muitas vezes as crianças hiperativas têm a tendência de se sentir excluído, pois o seu comportamento leva outras pessoas a lhe chamarem de preguiçoso, problemático, estranho e até mesmo louco. Este tipo de exclusão vai levar o indivíduo a desenvolver problemas psicológicos que podem seguir duas direções opostas dependendo da estrutura pessoal do indivíduo: A introversão ou o comportamento anti-social. (GORODSCCY,1990, p.126)
A introversão ocorre quando a criança resolve se submeter as regras
que lhe são impostas, escondendo o seu verdadeiro comportamento, se
separando das relações sociais por ser achar demasiadamente incompetente
para tal coisa e muitas vezes acaba entrando em depressão por sentir que não
é aceito pelo seu jeito de ser.
O comportamento exibicionista pode aparecer quando o indivíduo
mostra a sua ira através de agressividade. Este tipo de comportamento tende a
ser o principal motivo pelo qual os pais acabam levando a criança para uma
consulta com um especialista de saúde mental.
14
Não são raros também os casos de comportamento anti-sociais ligados
à hiperatividade no futuro, provavelmente já na adolescência, como vício em
drogas (causado pela vontade de resolver o problema), alcoolismo,
destrutividade, agressões sexuais, etc... Este tipo de comportamento tende a
ocorrer quando o distúrbio não é diagnosticado e tratado a tempo, pois é uma
forma do paciente expressar a sua desesperança com o seu problema,
acreditando que nada pode ser feito para resolve-lo, de forma que ele resolve
mostrar a sua desesperança com este tipo de comportamento. Há, inclusive,
estudos que identificam um número maior de suicídios entre pessoas com
hiperatividade do que em pessoas normais, tamanha é a dificuldade que estes
pacientes encontram em se adaptar à vida social (Gorodscy, 1990).
2.2. O Diagnóstico da hiperatividade na Pedagogia
Segundo Davidoff (2001), o diagnóstico deste distúrbio pode ser tornar
traiçoeiro, especialmente para profissionais menos experientes. Devido às suas
manifestações no comportamento da criança e na dificuldade de se associar
com algum sintoma ou problema físico, o histórico do problema e a observação
do comportamento da criança por outras pessoas do seu meio social como
professores, babás, etc. são de vital importância para o diagnóstico do
transtorno.
O histórico pode mostrar problemas com a atenção, dificuldade de
aprendizado, problemas em se manter parado, etc. Podem também aparecer
problemas relacionados à gravidez e ao parto já que a incidência deste
problema em pessoas com hiperatividade é substancialmente maior do que
na população normal. Também podem aparecer dificuldades na coordenação
motora, problemas em tarefas como abotoar a roupa, amarrar os sapatos,
dificuldade em movimentos alternados rápidos. Assim como podem também
aparecer déficits de linguagem, problemas com a fala e problemas psicológicos
15
secundários como depressão agressão, baixa auto-estima, assim como
sentimentos de rejeição. Embora não se saiba a explicação, pais de pacientes
hiperativos tendem a ter um índice de separação no casamento maior do que
na população em geral.
No caso do psicólogo, as crianças hiperativas tendem a apresentar uma diferença grande entre os testes de atenção e memória em relação à outros testes como de inteligência geral. A reprodução dos cubos é uma tarefa particularmente difícil . No desenho da figura humana a sua performance é inferior ao que se seria esperado por uma criança da sua idade por causa de problemas de atenção, localização espacial, desenvolvimento motor, etc. Muitas vezes, o diagnóstico é complicado pela dificuldade de diferenciação deste problema em relação a outros problemas físicos, psicológicos ou até a normalidade. Por este motivo é essencial que o diagnóstico seja feito por uma equipe multidisciplinar composta de médicos, psicólogos e pedagogos junto com um detalhado histórico da doença como já foi afirmado acima. (DAVIDOFF, 2001, p.128)
Todos estes problemas podem ser resolvidos ou atenuados através da
qualificação dos profissionais envolvidos no processo. Sensibilidade, técnica,
conhecimento teórico e experiência são indispensáveis para que o profissional
tenha condições de realizar um diagnóstico correto de hiperatividade , inclusive
o pedagogo, especialmente naqueles casos mais complexos, onde a linha
divisória entre este e outros problemas ou a normalidade não é clara.
Por isso, segundo Davidoff (2001), é necessário que se esteja atento a
novos tipos de combinações entre hiperatividade e outras condições para a
realização correta deste diagnóstico. As classificações propostas por estes
autores são: sem hiperatividade , com ansiedade , com depressão , com outros
problemas de aprendizado , com agitação ou mania ,com drogadicção, em
pessoas criativas, com comportamento de alto risco, com estados
dissociativos, com características de personalidade limítrofe (borderline), com
distúrbios de conduta (em crianças) ou características anti-sociais (em adultos).
com Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Myers (1999) afirma que, para o diagnóstico diferencial entre a
hiperatividade e estados dissociativos, o histórico completo e detalhado do
16
paciente é fundamental. É necessário saber se o paciente não passou por
nenhum trauma, já que muitas vezes estados dissociativos ligados a traumas
podem se assemelhar à distração do distúrbio. Outra saída para se tentar
decidir por um ou outro diagnóstico é a busca por sintomas no histórico desta
pessoa, desde a infância, pois mesmo que a pessoa não tenha sido
diagnosticada , ao contrário do que ocorre nos estados dissociativos, ela se
lembra do que ocorreu com ela, só não sabendo que existe uma causa para os
problemas dela.
Pessoas com personalidade limítrofe costumam a apresentar uma série de sintomas muito parecidos com a hiperatividade. Estes sintomas podem ser a instabilidade de humor, impulsividade, problemas de relacionamentos, problemas de performance em tarefas que lhe são dadas, etc... Infelizmente ainda não temos condições de delimitar claramente quais são as diferenças entre estes dois problemas. Por este motivo é que se torna importante para os profissionais da educação e, naturalmente, da saúde mental, estarem atentos quando diagnosticarem uma pessoa com personalidade limítrofe, verificarem se existem características típicas de forma a evitar enganos. (MAYERS,1999, p.92)
Os problemas de conduta, segundo Myers (1999), são comportamentos
que ocorrem em algumas crianças caracterizados por comportamentos
agressivo, dificuldade de convivência com regras e sociedade. Embora já há
evidências de uma genética deste problema, é importante lembrar que crianças
com este problema normalmente apresentam uma história comum, procedendo
de famílias com sérios problemas como pais ausentes, abusivos, uso de
drogas, pobreza, falta de educação, comida, etc.
Estes comportamentos podem ser facilmente confundidos com a
hiperatividade. É importante para os profissionais da educação estarem
atentos a pequenas diferenças existente entre os dois problemas. Uma criança
com hiperatividade, quando tem um problema, pode ficar frustrada, porém
uma criança com problemas de conduta procura imediatamente alguém para
culpar pelo seu problema. As explosões emocionais de crianças com
hiperatividade tendem a ser impulsivas e espontâneas enquanto a de uma
criança com problemas de conduta tendem a ser planejados, esperando por
17
algum ataque ou insulto externo para acontecer. Além disso crianças com
distúrbio de conduta não apresentam os problemas de atenção e concentração
das crianças com hiperatividade.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo, caracterizado pela repetição de rituais, comportamento repetitivo, pensamento repetitivo e outros sintomas, pode estar conjugado com o distúrbio. Ambos os problemas tem origem biológica e no caso de ambos estarem presentes na mesma pessoa, o transtorno que se manifestar da forma mais grave tende a encobrir o que se manifesta de forma mais leve, então é importante estar atento para os sintomas de ambos os problemas. ( MAYERS, 1999, P.220)
O TDAH interfere na habilidade da pessoa de manter a atenção -
especialmente em tarefas repetitivas - de controlar adequadamente as
emoções e o nível de atividade, de enfrentar conseqüências consistentemente
e, talvez o mais importante, na habilidade de controle e inibição. Inibição refere-
se à capacidade de evitar a expressão de forças poderosas que levam a agir
sob o domínio do impulso, de modo a permitir que haja tempo para o
autocontrole. As pessoas com TDAH até podem saber o que deve ser feito,
mas não conseguem fazer aquilo que sabem devido à inabilidade de realmente
poder parar e pensar antes de reagir, não importando o ambiente ou a tarefa.
As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das
pessoas, logo na primeira infância. O distúrbio é caracterizado por
comportamentos crônicos, com duração de no mínimo 6 meses, que se
instalam definitivamente antes dos 7 anos. Atualmente, 4 subtipos de TDAH
foram classificados:
TDAH - tipo desatento - a pessoa apresenta, pelo menos, seis das
seguintes características:
• Não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado.
• Dificuldade em manter a atenção.
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• Parece não ouvir.
• Dificuldade em seguir instruções.
• Dificuldade na organização.
• Evita/não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado.
• Freqüentemente perde os objetos necessários para uma atividade.
• Distrai-se com facilidade.
O TDAH é com freqüência apresentado, erroneamente, como um tipo
específico de problema de aprendizagem. Ao contrário, é um distúrbio de
realização. Sabe-se que as crianças com TDAH são capazes de aprender, mas
têm dificuldade em se sair bem na escola devido ao impacto que os sintomas
do TDAH têm sobre uma boa atuação. Por outro lado, 20% a 30% das crianças
com TDAH também apresentam um problema de aprendizagem, o que
complica ainda mais a identificação correta e o tratamento adequado.
Pessoas que apresentaram sintomas de TDAH na infância
demonstraram uma probabilidade maior de desenvolver problemas
relacionados com comportamento opositivo desafiador, delinqüência,
transtorno de conduta, depressão e ansiedade. Os pesquisadores, no entanto,
sugerem que o resultado desastroso apresentado por alguns adolescentes não
é uma conseqüência apenas do TDAH mas, antes, uma combinação de TDAH
com outros transtornos de comportamento, especialmente nos jovens ligados a
atitudes criminosas e abuso de substâncias.
Não são raros casos de crianças que se sentem isoladas, são excluídas pelos colegas, são taxadas de burras ou incompetentes por pais e professores, são acusadas de serem mal educadas ou endiabradas por todos a sua volta. Também não são raros casos de adolescentes e adultos que entram em depressão por não conseguirem dar conta do que a sociedade exige deles, por
19
esquecerem de coisas importantes, por serem incapazes de terminar as tarefas já iniciadas e por terem dificuldades em manter relacionamentos com outras pessoas. Todos estes casos acabam levando à uma sensação de desespero, ansiedade e de depressão que pode levar a pessoa às drogas ou até ao suicídio em casos mais graves. (MYERS, 1999, p.221)
Relatos sobre adultos com TDAH mostram que eles enfrentam
problemas sérios de comportamento anti-social, desempenho educacional e
profissional pouco satisfatórios, depressão, ansiedade e abuso de substâncias.
Infelizmente, muitos adultos de hoje não foram diagnosticados como crianças
com TDAH. Cresceram lutando com uma deficiência que, freqüentemente,
passou sem diagnóstico, foi mal diagnosticada ou, então, incorretamente
tratada.
A maioria dos adultos com TDAH apresenta sintomas muito similares
aos apresentados pelas crianças. São freqüentemente inquietos, facilmente
distraídos, lutam para conseguir manter o nível de atenção, são impulsivos e
impacientes. Suas dificuldades em manejar situações de “stress” levam a
grandes demonstrações de emoção. No ambiente de trabalho, é possível que
não consigam alcançar boa posição profissional ou status compatível com sua
educação familiar ou habilidade intelectual.
O diagnóstico do TDAH é um processo de múltiplas facetas. Diversos
problemas biológicos e psicológicos podem contribuir para a manifestação de
sintomas similares apresentados por pessoas com TDAH. O diagnóstico de
TDAH pede uma avaliação ampla . Não se pode deixar de considerar e avaliar
outras causas para o problema, assim, é preciso estar atentos à presença de
distúrbios concomitantes.
O aspecto mais importante do processo de diagnóstico é um cuidadoso
histórico clínico e desenvolvimental. A avaliação do TDAH inclui,
freqüentemente, um levantamento do funcionamento intelectual, acadêmico,
social e emocional, iniciado pelo pedadogo na educação infantil. . O exame
médico também é importante para esclarecer possíveis causas de sintomas
20
semelhantes aos do TDAH. Por exemplo, reação adversa à medicação,
problemas de tiróide, etc.)
O processo de diagnóstico deve incluir dados recolhidos com
professores e outros adultos que, de alguma maneira, interagem de maneira
rotineira com a pessoa sendo avaliada. Embora se tenha tornado prática
popular testar algumas habilidades como resolução de problemas, trabalhos de
computação e outras, a validade dessa prática bem como sua contribuição
adicional a um diagnóstico correto continuam a ser analisadas pelos
pesquisadores.
2.3. Indicações para tratamento
Segundo Biaggio (2001), a hiperatividade afeta especialmente a
população infantil, e pelo que deduzimos, este problema não deve ser algo
novo, pois acreditamos que a hiperatividade tenha acompanhado a espécie
humana desde sempre, mas foi apenas neste século que começaram a ocorrer
alguns avanços nesta área.
Infelizmente, o diagnóstico precoce continua a ser um dos maiores
problemas em relação à doença. Embora o conhecimento na comunidade
científica esteja já bem avançada, o mesmo aparentemente não acontece com
a população leiga. As pessoas com hiperatividade passam um bom tempo da
sua vida sendo acusadas de uma série de coisas, sua auto-estima é rebaixada,
ela tem dificuldade na escola e também tem dificuldades sociais. A situação em
casa normalmente não é melhor, pois os pais, pressionados pela sociedade e
escola, freqüentemente culpam a criança de algo que ela não tem culpa e
ficam se perguntando onde eles erraram.. Mesmo quando os pais ou o
paciente procura ajuda para o seu problema a situação pode não ser resolvida
21
sem antes ter se passado por um longo caminho de tratamentos ineficazes,
diagnósticos mal feitos e opiniões divergentes.
É neste ponto que gostaríamos de chamar a atenção de psicólogos e
pedagogos. Estes profissionais pela sua formação fundamentalmente
humanista tendem a desconhecer a parte biológica da mente humana, alguns
destes até negam totalmente que a mente seja fundamentada na biologia,
mantendo o velho e desatualizado paradigma cartesiano de mente x corpo (res
cognito x res extensa). Gostaríamos de chamar a atenção destes profissionais
que evitem entrar no caminho do "tudo é psicossomático" e recomendar que
estes estudem e se informem mais a respeito da biologia da mente. Muitos
casos de hiperatividade passam anos e anos em terapias psicodinâmicas ou
em terapias alternativas que só trazem ainda mais sofrimento para o paciente.
Quanto mais tempo o distúrbio permanecer sem diagnóstico, maior será o sofrimento do paciente e maior será a necessidade de tratamento psicoterápico. Enquanto uma criança diagnosticada ainda na idade pré-escolar pode nem sentir os efeitos psicológicos negativos da hiperatividade, um adulto já nos seus 30 ou 40 anos pode já ter sofrido tanto com os problemas sociais em que a sua recuperação pode ser muito difícil, especialmente se este já chegou a apresentar outros problemas como o uso de drogas ou comportamentos anti-sociais. (BIAGGIO, 2001, p.236)
Eventualmente, até as linhas terapêuticas mais diretivas poderão
parecer excessivamente abertas para um paciente com o distúrbio e o
terapeuta poderá se sentir obrigado a sair da sua posição normal e começar a
direcionar a sessão de formas que seriam consideradas intrusivas em
pacientes normais. O terapeuta deverá também ter conhecimento sobre
hiperatividade para poder conduzir a terapia de maneira que o paciente se
sinta confortável e seguro. A vínculo de confiança também é muito importante
porque em alguns casos o terapeuta acaba se tornando a única esperança que
uma pessoa hiperativa tem de ser compreendida e a última ponte de ligação
com a sociedade.
22
No caso de crianças , os principais problemas encontrados são o
isolamento dos colegas que muitas vezes descriminam a criança com o
distúrbio, a depressão e a baixa auto-estima por causa da dificuldade de
agradar ao pais e aos professores, aversão à escola e comportamento
agressivo.
Uma vez realizado o tratamento do problema biológico com remédios,
estes problemas psicológicos deve ser resolvidos em uma ação conjunta entre
o terapeuta, os pais, a família, a escola e os colegas da criança. Com o
consentimento da criança, todos que se relacionam com ela devem ser
avisados do problema, de suas conseqüência, do tratamento médico e de quais
atitudes devem ser tomadas por eles para integrar a criança da melhor maneira
possível. Todos sabemos que a informação é o melhor remédio contra o
preconceito e é nesta base que devemos tratar o problema de adaptação
social. É função dos profissionais envolvidos com a criança, informarem,
avisarem e divulgarem a maior quantidade de informações possíveis,
especialmente para o público em geral sobre o distúrbio. Isto não só ajudará
as pessoas já diagnosticadas com o problema como também ajudará os
eventuais casos não diagnosticados ou diagnosticados incorretamente.
Doenças como Epilepsia, onde a disgrafia é comum, assim com a falta
de atenção; além da síndrome de Gilles de la Tourette, doenças degenerativas
e do sistema nervoso, podem apresentar sintomas semelhantes à
hisperatvidade no seu início.
Atualmente ,se usa muito os antidepressivos. Antigamente se usavam
mais drogas da famílias das anfetaminas . Se faz isto devido à hipótese de que
em crianças com hiperatividade os centros de vigília do cérebro estariam
relaxados, de modo que a função destas drogas seria a de ativar estas áreas
do cérebro.
23
A hiperatividade tem bases biológicas. A genética e outras técnicas de
exame tem demonstrado isto de maneira muito forte. O papel que uma
psicoterapia em uma doença como esta vem, em geral, de forma tardia.
Normalmente quando a criança começa o tratamento ou chega em um médico,
ela já passou a vida inteira sofrendo de desprezo ou superproteção. Isto leva a
distúrbios emocionais e de personalidade que precisam ser tratados. O
psicólogo também pode auxiliar na mudança de atitudes de todo o círculo
social da criança, ajudando a renovar a confiança na criança .
Freqüentemente, psicólogos tendem a negar a influência de fatores
biológicos nos seus pacientes, no caso de hiperatividade não nos parece ser
diferente. Esta visão excessivamente psicológica, muitas vezes leva o paciente
a sofrer com terapias que não são eficazes por longos períodos de tempo. O
problema só vai ser resolvido quando houver uma maior comunicação entre os
profissionais das áreas de saúde e educação, através de equipes
multidisciplinares. Há uma tendência maior disto acontecer em pessoas de
nível econômico mais alto, que além de poder arcar com o alto custo de uma
terapia, tendem a evitar procurar um médico por causa do estigma que uma
criança em tratamento neurológico ou psiquiátrico pode ter.
Com relação à reação do paciente e/ou dos pais ao saberem que todos
aqueles comportamentos aparentemente não relacionados tem origem em um
transtorno que pode ser tratado faz com que eles fiquem de certa forma
aliviados, mas acabam fantasiando quanto ao tratamento acreditando que os
sintomas vão desaparecer por completo de uma hora para outra. Na verdade, o
tratamento é lento e normalmente há uma diminuição nos sintomas, mas
dificilmente eles somem por completo.
Um tratamento deste tipo nunca é inferior à 2 anos e normalmente vai
até a adolescência, onde os hormônios sexuais favorecem a maturação do
sistema nervoso trazendo melhoras não só em hiperatividade, mas também
nas epilepsias e Gilles de la Tourette.
24
Sugestões para Intervenções do Professor
Há uma grande variedade de intervenções específicas que o professor
pode fazer para ajudar a criança com TDAH a se ajustar melhor à sala de aula:
1. Proporcionar estrutura, organização e constância (exemplo: sempre a
mesma arrumação das cadeiras ou carteiras, programas diários, regras
claramente definidas)
2. Colocar a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa
do professor, na parte de fora do grupo.
3. Encorajar freqüentemente, elogiar e ser afetuoso, porque essas crianças
desanimam facilmente. Dar responsabilidades que elas possam cumprir
faz com que se sintam necessárias e valorizadas. Começar com tarefas
simples e gradualmente mudar para mais complexas.
4. Proporcionar um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato
físico de madeira equilibrada e, se possível, fazer os colegas também
terem a mesma atitude.
5. Nunca provocar constrangimento ou menosprezar o aluno.
6. Proporcionar trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e
favorecer oportunidades sociais. Grande parte das crianças com TDAH
consegue melhores resultados acadêmicos, comportamentais e sociais
quando no meio de grupos pequenos.
7. Comunicar-se com os pais. Geralmente, eles sabem o que funciona
melhor para o seu filho.
8. Ir devagar com o trabalho. Doze tarefas de 5 minutos cada uma traz
melhores resultados do que duas tarefas de meia hora. Mudar o ritmo ou
25
o tipo de tarefa com freqüência elimina a necessidade de ficar
enfrentando a inabilidade de sustentar a atenção, e isso vai ajudar a
auto-percepção.
9. Favorecer oportunidades para movimentos monitorados, como uma ida
à secretaria, levantar para apontar o lápis, levar um bilhete para o
professor, regar as plantas ou dar de comer ao mascote da classe.
10. Adaptar suas expectativas quanto à criança, levando em consideração
as deficiências e inabilidades decorrentes do TDAH. Por exemplo, se o
aluno tem um tempo de atenção muito curto, não esperar que ele se
concentre em apenas uma tarefa durante todo o período da aula.
11. Recompensar os esforços, a persistência e o comportamento bem
sucedido ou bem planejado.
12. Proporcionar exercícios de consciência e treinamento dos hábitos
sociais da comunidade. Avaliação freqüente sobre o impacto do
comportamento da criança sobre ela mesma e sobre os outros ajuda
bastante.
13. Favorecer freqüente contato aluno/professor. Isto permite um “controle”
extra sobre a criança com TDAH, ajuda-a a começar e continuar a
tarefa, permite um auxílio adicional e mais significativo, além de
possibilitar oportunidades de reforço positivo e incentivo para um
comportamento mais adequado.
14. Colocar limites claros e objetivos; ter uma atitude disciplinar equilibrada
e proporcionar avaliação freqüente, com sugestões concretas e que
ajudem a desenvolver um comportamento adequado.
15. Assegurar que as instruções sejam claras, simples e dadas uma de
cada vez, com um mínimo de distrações.
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16. Evitar segregar a criança que talvez precise de um canto isolado com
biombo para diminuir o apelo das distrações; fazer do canto um lugar de
recompensa para atividades bem feitas em vez de um lugar de castigo.
17. Desenvolver um repertório de atividades físicas para a turma toda, como
exercícios de alongamento ou isométricos.
18. Estabelecer intervalos previsíveis de períodos sem trabalho que a
criança pode ganhar como recompensa por esforço feito. Isso ajuda a
aumentar o tempo da atenção concentrada e o controle da impulsividade
através de um processo gradual de treinamento.
19. Reparar se a criança se isola durante situações recreativas barulhentas.
Isso pode ser um sinal de dificuldades de coordenação ou auditivas que
exigem uma intervenção adicional.
20. Preparar com antecedência a criança para as novas situações. Ela é
muito sensível em relação às suas deficiências e facilmente se assusta
ou se desencoraja.
21. Desenvolver métodos variados utilizando apelos sensoriais diferentes
(som, visão, tato) para ser bem sucedido ao ensinar uma criança com
TDAH. No entanto, quando as novas experiências envolvem uma
miríade de sensações (sons múltiplos, movimentos, emoções ou cores),
esse aluno provavelmente irá precisar de tempo extra para completar
sua tarefa.
22. Não ser mártir! Reconhecer os limites da sua tolerância e modificar o
programa da criança com TDAH até o ponto de se sentir confortável. O
fato de fazer mais do que realmente quer fazer traz ressentimento e
frustração.
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Pais e médicos devem permanecer em comunicação constante com o
pedagogo ou orientador da escola. Ele é a melhor ligação entre a escola, os
pais e o médico.
28
3. UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O
APRENDIZADO DAS CRIANÇAS HIPERATIVAS
Sabe-se que a atenção de crianças com hiperatividade é menor frente
à estímulos. Menor no que se refere ao tempo em que a criança fixa sua
atenção aos estímulos. Será tratada nesta etapa do trabalho os aspectos que a
atenção pode tomar na vida da criança. Ao lidar com atenção está se
abordando a via de entrada de informações na vida intelectual da criança.
Pedagogicamente falando, sabe-se que o caminho que essa atenção faz nos
primeiros anos da vida da criança é do concreto para o abstrato. A criança
vislumbra o concreto percorrendo o caminho do seu desenvolvimento até
chegar no abstrato. Essa abstração é tão cobrada e valorizada pelos
educadores que por si só é fonte de grande poder intelectual e de criatividade.
3.1. As Dificuldades de aprendizagem da criança
hiperativa
De acordo com Train (1997), conforme já foi mencionando anteriormente
a hiperatividade pode vir acompanhada de outros problemas de aprendizados:
Dislexia - É uma perturbação constitucional, primaria, geneticamente
transmitida, dificuldade de adquirir a capacidade de leitura. A Dislexia se
manifesta por dificuldade em trocas de letras com formatos parecidos (d b, p q,
b q, etc.) ou sons parecidos (d, t, f, m, n, etc.), deficiências de percepção visual
e auditiva. Em alguns casos, os pacientes não conseguem entender o
conteúdo do texto, mas sim tentam "adivinhar" este conteúdo na tentativa de
negar o problema.
Disgrafia - Dificuldade de escrita, manifesta como uma dificuldade
motora na execução da escrita. A criança não consegue realizar os traços
29
necessários para escrever corretamente, muitas vezes as letras fica ilegíveis e
muitas professoras acusam o aluno de não ser caprichoso, gerando ainda mais
problemas.
Discalculia - Problemas em realizar operações aritméticas e até a escrita de
números.
Todos estes problemas levam à uma necessidade de cuidados especiais
na educação da criança e de um preparo especial dos professores para que
estes não acusem a criança de ter alguma problema, baixando ainda mais a
sua auto-estima e causando problemas quanto a concepção que ela vai ter da
escola. É necessário que estes professores compreendam antes de acusar.
3.2. Como o pedagogo pode favorecer as crianças
hiperativas
Segundo Newcobe (1999), uma das características positivas em
hiperativos é a capacidade criativa que normalmente está presente junto com
o problema. Devido a sua capacidade de não conseguir manter as idéias em
ordem, pessoas com o distúrbio tendem a ser muito criativas e muitas vezes
em ramos onde a criatividade é importante é que estas pessoas acabam
encontrando um trabalho que conseguem fazer bem.
Uma das características curiosas dos hiperativos é que algumas vezes
quando encontram o ambiente e a tarefa certo para estimulá-los podem acabar
demonstrando uma característica contrária à aquela normalmente associada ao
distúrbio, ou seja, ao invés da desatenção, podem demonstrar uma
concentração e uma dedicação bastante intensa.
30
A incapacidade de se manter estável e a necessidade de busca por
novas emoções podem levar uma pessoa com hiperatividade não tratada,
principalmente na adolescência e vida adulta a demonstrar comportamentos
de alto risco, como: personalidade com a constante busca de fortes emoções,
temperamento explosivo, vício em exercícios, impaciência , comportamentos
violentos tendência a sofrer acidentes .
Ainda não se sabe como comportamentos de alto risco são tão atrativos
para pessoas hiperativas, mas estes comportamentos são de importância para
o profissional de educação, pois não só prejudicam e põe em risco a vida do
indivíduo como também o tratamento destes problemas com terapia sem a
resolução do problema biológico causador destes comportamentos acaba se
tornam inútil (Newcobe, 1999).
Uma das principais características é a falta de atenção. No entretanto muitas vezes é difícil se ter certeza de que a hiperatividade é mesmo a causa deste tipo de comportamento, pois outros problemas também apresentam a distração como sintomas. Só para exemplificar poderíamos citar :Depressão , estados ansiosos. estresse , falta de sono, fadiga ,transtornos Dissociativos .Os estados dissociativos fazem com que a pessoa corte os vínculos com um episódio traumático que aconteceu com ela para evitar o sofrimento e a dor psicológica relacionadas com a lembrança de tal evento. (NEWCOBE, 1999:136)
Fala-se muito sobre pedagogia, teorizam-se processos, montam-se
projetos até interessantes para crianças com diferentes síndromes. Estas
idéias além de não serem mais do que utópicas, dificilmente chegam a ser
debatidas com especialistas sobre as síndromes e levadas à população em
geral.
Ao serem criadas instituições que amparam crianças com hiperatividade
pode-se estar afastando definitivamente estas crianças do âmbito social-real
comprometendo os esquemas de aprendizagem, linguagem e corporal.
Entendendo melhor o processo de pensamento de uma criança com hiperatividade, sabe-se que ela ao não dirigir sua atenção somente à um objeto devido à sua sensibilidade a estímulos externos, traça um
31
emaranhado de associações que se acercam muito à abstração. Podemos dizer então, que uma criança hiperativa possui uma capacidade de abstração muito grande que levam à um potencial intelectual e criativo muito elevado. Da mesma maneira que isolando essa criança do ambiente escolar, com os estímulos existentes nele, é prejudicial, podemos dizer que o oposto pode tornar-se complicado. Geralmente o trabalho de um educador visa igualmente o individual e junto com isto uma concepção do que é o grupo. Essa criança carece de uma atenção especial, mais cuidadosa, um trabalho amplo, fazendo uma ponte entre sua casa-escola-clínica terapêutica. (NEWCOBE, 1999, 250-251).
Levando em conta a realidade do ensino infantil que hoje está em
decadência, carente de profissionais e amparo governamental, insistimos no
conhecimento e interesse nas síndromes que afetam a educação. Sabemos
que existem classes de quase 40 alunos onde uma atenção especial torna-se
inviável. Por isso defendemos a existência de uma ponte entre o meio que a
criança vive, ampliando a rede social, fazendo com isto que a criança conviva
com mais pessoas, permitindo desta forma um melhor desenvolvimento das
suas habilidades.
Buscamos neste trabalho não só divulgar informações sobre uma
condição que é tão pouco conhecida e no entretanto afeta tantas pessoas
como também discutir as possíveis alternativas para a educação da criança
hiperativa, propondo métodos de ensino adequados que permitam uma
integração social mais ampla.
A principal questão é como dar para uma criança com hiperatividade a
atenção e o apoio que necessitam quando nem crianças sem a síndrome e
com necessidades menores conseguem ter este tipo de atenção e como
desenvolver a atenção da criança aproveitando o potencial criativo e sensível
dela.
Primeiramente, deve-se ter a consciência que a hiperatividade limita a
capacidade de aquisição rápida da criança. Devendo trabalhar nestas crianças
o seu lado sensível, tanto emocional como criativo. As crianças hiperativas
32
têm um potencial enorme para desenvolver estas capacidades. Antes de iniciar
o trabalho deve-se saber como realizar a estimulação.
Segundo Piaget (1999), as condições do mundo atual levam à uma
ansiedade pela alfabetização que em alguns casos tem se realizado à partir
dos 3 anos de idade, faz com que as crianças deixem de desenvolver algumas
outras atividades fundamentais que serviriam como suporte para um
alfabetização futura, ampliando a base para a aquisição. Entre estas
características está o esquema corporal, pois sabemos que o corpo de uma
criança pode lhe proporcionar prazer além de ser uma fonte receptiva e
transmissora de informações externas e internas. A criança vai desenvolvendo
o seu esquema corporal através do superação de obstáculos e treinamento dos
movimentos indo de movimentos grosseiros até a coordenação motora fina.
O corpo sensivelmente capta e percebe sensorialmente o mundo. Essa porta de entrada possibilitará para a criança criar critérios qualitativos e discriminativos que serão fundamentais para a sua percepção espacial, social e corporal. Nas escolas de hoje, o trabalho corporal resume-se às aulas de educação física que podem levar estas crianças à fadiga e conseqüente desinteresse em desenvolver estas habilidades. O trabalho corporal não deve ser limitado apenas à atividade esportiva, trabalhos em grupos, introdução de regras, etc. Ele é sensível, é dramático, é o processo criativo, que se apresenta como um facilitador para obter a atenção da criança.. Através do corpo sensibilizamos outras áreas. O esquema corporal de uma criança hiperativa se vê comprometido por disfunções de inibição e controle. (PIAGET, 1999, p.195)
Sendo assim, Piaget (1999) afirma que uma intervenção por parte do
educador pode ser levada para o lado do experimento sensorial. Sabe-se que
através do corpo podemos sensibilizar outras áreas. Um exemplo de trabalho
com o corpo e que busca através de outro estímulo mais concreto fazer com
que a criança experimente sensações corpóreas: Um trabalho com argila pode
não buscar apenas a concretização de algo pensado. Existe uma parte
sensível que se utiliza do tato. Fazendo a criança perceber o material com que
trabalha. O professor ao estimular, valorizar suas descobertas pode introduzir
conceitos discriminativos entre outros devido à sensibilização (que pode ser
33
chamada de "aquecimento") que a criança experienciou. Com isto abre-se
novos caminhos para a introdução e estimulação de outras áreas.
Todo este universo é precioso para a criança pois nele terá liberdade para criar. A criança hiperativa tem aí um recurso que seguramente terá sua atenção durante algum tempo. Muitas vezes nos perguntamos se o processo é a segurança da atenção, ou o produto é que mostra o grau de atenção que a criança designou para a atividade. ( PIAGET, 1999, p.123)
Como tudo, o processo pedagógico é progressivo. Ao valorizar o
processo gerador de um produto estamos abrindo o caminho para uma
evolução que exige paciência por parte do educador. A criança hiperativa, ao
trabalhar com suas habilidades sensíveis ,pode usar a sua percepção à
estímulos para desenvolver um produto do processo criativo. Como sabemos, o
mais difícil para uma criança com este distúrbio é finalizar uma tarefa, pois
assim que começa uma já está prestando atenção em outra. Tendo esta
finalidade essa necessidade por um produto na escola infantil, estamos virando
a cara para o processo criativo. A cada pensamento, uma forma, um gesto,
uma ação, enfim, o processo.
Ao valorizarmos este processo enriquecemos o intelecto da criança e
assim, cada vez mais está disposta a criar. Imaginemos se fosse criada uma
sala especial para uma criança com hiperatividade, branca, sem interferências
ou estímulos senão aqueles já planejados pelo educador. Estaríamos
afastando a possibilidade da criança de entrar em contato com o mundo real,
composto de estímulos que ajudariam essa criança a formar conceitos grupais
desenvolvendo o seu intelecto capacitado para interagir com o meio.
O tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre os
profissionais das áreas médica, saúde mental e pedagógica, em conjunto com
os pais. Esta combinação de tratamentos oferecidos por diversas fontes é
denominada de intervenção multidisciplinar. Um tratamento com esse tipo de
abordagem inclui:
34
• treinamento dos pais quanto à verdadeira natureza do TDAH e em
desenvolvimento de estratégias de controle efetivo do comportamento;
• um programa pedagógico adequado;
• aconselhamento individual e familiar, quando necessário, para evitar o
aumento de conflitos na família;
O controle do comportamento é uma intervenção importante para crianças
com TDAH. O uso eficiente do reforço positivo combinado com punições num
modelo denominado “custo de resposta” tem sido uma maneira particularmente
bem sucedida de lidar com crianças portadoras do transtorno.
O sucesso na sala de aula freqüentemente exige uma série de
intervenções. A maioria das crianças com TDAH pode permanecer na classe
normal, com pequenos arranjos na arrumação da sala, utilização de um auxiliar
e/ou programas especiais a serem utilizados fora da sala de aula. As crianças
com problemas mais sérios exigem salas de aulas especiais.
Os pais, com a orientação do pedagogo, devem compreender que, para
poder controlar em casa o comportamento resultante do TDAH, é preciso ter
um conhecimento correto do distúrbio e suas complicações. Devem
desenvolver a capacidade de distinguir entre problemas que resultam de
incapacidade e problemas que resultam de recusa ativa em obedecer ordens.
Os primeiros devem ser tratados através da educação e desenvolvimento de
habilidades. Os outros são resolvidos de maneira satisfatória através de
manipulação das conseqüências. Os pais devem cuidar para que seus pedidos
sejam feitos de maneira positiva ao invés de negativa. Uma indicação positiva
mostra para a criança o que deve começar a ser feito e evita que ela focalize
em parar o que está fazendo.
35
Os pais devem, ainda, recompensar amplamente o comportamento
adequado. Crianças com TDAH exigem respostas imediatas, freqüentes,
previsíveis e coerentemente aplicadas ao seu comportamento. Da mesma
maneira, necessitam de mais tentativas para aprender corretamente. Quando a
criança consegue completar uma tarefa ou realiza alguma coisa corretamente,
deve ser recompensada socialmente ou com algo tangível mais
freqüentemente que o normal.
Os pais deveriam escolher quando e como gastar suas energias numa
batalha, sempre reforçando o positivo, aplicando conseqüências imediatas para
comportamentos que não podem se ignorados e usando o sistema de créditos
ou pontos. É essencial que os pais estejam sempre um passo a frente.
Os pais devem entender bem o que seja “custo de resposta”, uma
técnica de punição em que se pode perder o que se ganhou. Devem aprender
a reagir aos limites de seu filho de maneira positiva e ativa. Aceitar o
diagnóstico de TDAH significa aceitar a necessidade de fazer modificações no
ambiente da criança. A rotina deve ser consistente e raramente variar. As
regras devem ser dadas de maneira clara e concisa. Atividades ou situações
em que já ocorreram problemas devem ser evitadas ou cuidadosamente
planejadas.
Os pais devem compreender que a punição sozinha não irá reduzir os
sintomas de TDAH. Punir deve ser uma atitude diretamente relacionada
apenas a um comportamento declaradamente desobediente. No entanto, a
punição só trará modificação de comportamento para crianças com TDAH se
acompanhada de uma estratégia de controle.
O que realmente importa para o sucesso dessa criança na vida é o que
existe de certo com ela e não o que está errado. Cada vez mais, a área da
saúde mental focaliza seu trabalho em aumentar os pontos fortes em vez de
36
tentar diminuir os pontos fracos. Uma das melhores maneiras de criar pontos
fortes é uma boa relação dos pais com seu filho.
Uma sala de aula eficiente para crianças desatentas deve ser
organizada e estruturada. A estrutura supõe regras claras, um programa
previsível e carteiras separadas. Os prêmios devem ser coerentes e
freqüentes. Um programa de reforço baseado em ganho e perda deve ser parte
integral do trabalho da classe. A avaliação do professor deve ser freqüente e
imediata. Interrupções e pequenos incidentes têm menores conseqüências se
ignorados. O material didático deve estar adequado à habilidade da criança.
Estratégias cognitivas que facilitam a auto-correção, assim como melhoram o
comportamento nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas devem variar,
mas continuar sendo interessantes para os alunos. Os horários de transição,
bem como os intervalos e reuniões especiais, devem ser supervisionados. Pais
e professores devem manter uma comunicação freqüente. Os professores
também precisam estar atentos à qualidade de reforço negativo do seu
comportamento. As expectativas devem ser adequadas ao nível de habilidade
da criança e deve-se estar preparado para mudanças.
Os professores devem ter conhecimento do conflito incompetência x
desobediência, e aprender a discriminar entre os dois tipos de problema. É
preciso desenvolver um repertório de intervenções para poder atuar
eficientemente no ambiente da sala de aula de uma criança com TDAH. Essas
intervenções minimizam o impacto negativo do temperamento da criança. Um
segundo repertório de intervenções deve ser desenvolvido para educar e
melhorar as habilidades deficientes da criança com TDAH( Taylor e Sharom,
1993).
37
3.3. Como conversar com a criança hiperativa e orientar
os pais
Mais cedo ou mais tarde, esta é uma situação delicada que os pais têm
que enfrentar. Não se deve falar para a criança que ela tem um problema, isso
pode fazer com que ela se sinta "diferente", "doente", "incapacitada",... E no
íntimo, já começa a sentir assim mesmo.
Muito antes de haver um diagnóstico, o comportamento diferenciado da
criança com TDAH já chamou sua atenção para essa diferença. É de grande
importância que ela aprenda a aceitar o fato que tem realmente um problema -
específico, identificável. Guiá-la nesse difícil processo é papel amoroso dos
pais.
Taylor & Sharon (1993) oferecem dez dicas para pais e professores
sobre como explicar o TDAH para crianças:
1 - contar a verdade: este é o princípio central. Primeiro, aprender tudo o que
estiver disponível sobre o assunto. Depois, falar com suas próprias palavras o
que aprendeu, para que a criança possa compreender. Não deixar esse
trabalho para a simples leitura de um livro ou para uma explicação do
profissional especializado. Fazer você mesmo, com clareza e honestidade.
2 - usar um vocabulário preciso: não criar palavras sem significado nem utilizar
palavras inadequadas. A criança vai aceitar sua explicação e carregá-la
consigo sempre.
3 - metáfora da miopia: comparar o TDAH a um problema visual é muito útil ao
explicar a dificuldade - é um problema congênito, não cura mas pode ser
controlado, precisa de um auxiliar externo, ninguém é responsável por ele.
Além disso, é uma explicação precisa e não emotiva.
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4 - responder as perguntas: e provocar perguntas. Lembrar-se que as crianças
fazem perguntas que não sabemos responder; não ter medo de dizer que não
sabe mas que vai se informar, freqüentar assiduamente este site, conversar
com profissionais especializados.
5 - falar do que o TDAH não é: retardo mental, loucura, falta de inteligência,
defeito de caráter, preguiça, falta de vontade, família desestruturada etc.
6 - dar exemplos positivos de pessoas que têm TDAH: pessoas conhecidas,
como Michael Johnson, Robin Williams, Whoopie Goldberg, ou pessoas da
família (pai, mãe, primos, tios?).
7 - prevenir para a criança não usar o TDAH como desculpa: a maioria delas,
no início, tende a usar a dificuldade como desculpa para tudo. O TDAH é uma
explicação, não uma justificativa. Elas devem saber que continuam
responsáveis por seus atos.
8 - ensinar a criança a responder perguntas sobre as dúvidas dos outros:
sobretudo as dos colegas. A atitude é a mesma: contar a verdade. Dramatizar
uma possível situação de provocação com a criança e mostrar como ela deve
enfrentá-la.
9 - falar para os outros a respeito do TDAH da criança: com o consentimento
dela, conversar sobre a situação com os colegas da escola e com outros
membros da família. A mensagem a ser passada é que não existe nada do que
se envergonhar, nada a esconder, mas muito a ajudar.
10 - educar os outros: a escola, os pais dos amigos da criança, os amigos da
família. A arma mais forte que temos para conseguir que a criança seja tratada
de maneira adequada é o conhecimento. Espalhar esse conhecimento o mais
que puder , pois ainda há muita ignorância e preconceito ligados ao TDAH.
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A compreensão de si próprio, que um diagnóstico correto e a
informação sobre o transtorno trazem, leva a uma reestruturação interna e
externa da vida de um portador. Na maioria das vezes, há uma profunda
sensação de alívio em saber o porquê de determinadas incapacidades e
entender que o comportamento tem justificativa independente da vontade. A
culpa também diminui e há um aumento real na possibilidade de superar as
dificuldades e alcançar o sucesso.
De acordo com Taylor & Sharon (1993), há sempre uma maneira
produtiva de conversar com as crianças a respeito de seu comportamento. Os
métodos apresentados aqui, extraídos do texto original Correcting without
criticizing: a practical guide for parents (1993), servem tanto para pais,
professores e orientadores, quanto para qualquer adulto responsável pelo
cuidado de crianças e adolescentes, principalmente os pais.
Falar demais é o erro mais comum cometido pelos pais. Cutucar,
lembrar, repetir ordens e falar mais de uma vez para fazer isto, não fazer aquilo
cria ressentimento tanto nos pais quanto nos filhos. A crítica é um ato
destrutivo que convida à vingança. A correção é uma arte útil que convida à
cooperação. Não existe a crítica construtiva. Baseada na crença falsa que,
para fazer a criança agir melhor, precisamos primeiro fazê-la sentir-se pior, a
crítica normalmente causa mais problemas do que o comportamento errado
inicial.
Quando um problema de comportamento acontece, confrontar a criança
é uma importante e poderosa ação e deve ser usada para aumentar a
harmonia familiar. Corrigir sem criticar é um aspecto importante para a
orientação eficiente da criança. Fortalece o amor do filho para com os pais e
aumenta a sensação de segurança emocional no relacionamento.
As crianças necessitam padrões de comportamento que correspondam
ao que são capazes de fazer, precisam fazer ou estejam prontas para fazer.
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Padrões muito elevados podem causar frustração em todos os envolvidos. Se
os padrões e expectativas estão além do nível de habilidade e compreensão de
uma criança, não vai ser fácil para ela conseguir alcançá-los. O resultado é
desapontamento e mal comportamento. Se a criança aceita os padrões
exigidos e tenta alcançá-los, corre o risco de achar que não está à altura do
desejado e, portanto, é pouco inteligente, sem valor ou má. Se compreende
que os padrões são muito altos e os questiona, pode sentir que não é amada.
Os pais precisam mostrar que se preocupam com os desejos e
habilidades reais de seus filhos.Já se o padrões são muito baixos, a criança
pode atingi-los com facilidade e a porta está aberta para outras fontes de
desapontamento pessoal. Primeiro, se esses padrões são aceitos como um
reflexo de suas reais habilidades, passa a acreditar que consegue conquistar
qualquer coisa sem muito esforço. Esta visão certamente criará problemas
quando tiver que enfrentar tarefas do nível real das suas habilidades ou um
pouco acima. Segundo, se a criança compreende que esses padrões são muito
baixos, pode concluir que os pais têm pouca fé nas suas habilidade e naquilo
que é capaz de conseguir.
Ajustar as expectativas em relação aos filhos freqüentemente,
conversando com eles. Evitar pouca ou muita ajuda, auxiliar na medida da
necessidade. Estar informado sobre como se processa o desenvolvimento das
crianças e discutir com freqüência as habilidades e progresso na escola. Antes
de confrontar uma criança, os pais devem abrir o canal da comunicação,
estabelecer um clima emocional e começar uma conversa confortável.
É importante lembrar que, a qualquer hora a criança pode estar mais
calorosa e próxima ou mais fria e distante. O objetivo é criar um espaço para
que a criança possa se "distanciar" emocionalmente de seus pais à medida que
sente o incômodo das suas preocupações e, ainda assim, manter uma relação
próxima e amorosa.
41
Segundo Taylor & Sharon (1993), são 4 os pontos chaves no confronto
para se discutir uma mudança em algum aspecto do comportamento de uma
criança:
- empatia: mostrar compreensão. Mostrar empatia significa ter
sentimentos e fazer declarações que reflitam um reconhecimento sincero
dos sentimentos da criança e uma preocupação real com eles. A melhor
maneira de demonstrar empatia é expressar o desejo que a criança
possa experimentar sentimentos agradáveis e acontecimentos positivos
em sua vida. Além de mostrar que você se importa com ela, esse
aspecto da empatia enfatiza "Eu quero o melhor para você".
- cortesia: tratar a criança com dignidade. Muito importante para um
confronto. Focalizar no que a criança está falando e evitar pensar em
outras coisas durante a conversa. Nunca começar um confronto
acusando a criança de ter feito uma coisa ruim ou errada. As primeiras
palavras de um confronto devem ser amigáveis e não hostis. Nunca
interromper a criança quando ela está contando o incidente; isto é um
insulto e pode iniciar uma discussão. Falar em tom de voz como se
estivesse conversando com uma pessoa dez anos mais velha.
- brevidade: evitar "pegar no pé". Passar o recado em poucas palavras,
de modo que tudo o que for dito tenha significado. Quando mais
palavras forem usadas, menos eficientes elas se tornam, surge a
necessidade de falar mais alto ou combinar as palavras com ameaças.
Um bom confronto evita tanto a voz alta como as ameaças.
- oportunidade: escolher o momento certo. Isso é importante tanto para o
adulto como para a criança. Informações que podem diminuir a imagem
42
da criança perante os amigos ou familiares devem ser discutidas em
particular. Evitar o confronto quando ela já estiver aborrecida, zangada
ou triste. Se o adulto está sob grande tensão, cansado, zangado ou
emocionalmente esgotado, fazer o possível para relaxar antes do
confronto com uma criança. Não há necessidade de enfrentá-la no
momento do mal comportamento. Calma e oportunidade de organizar os
pensamentos antes do confronto trazem melhor resultados e reforçam a
relação.
O confronto deve ensinar alguma coisa tanto aos pais quanto aos filhos.
As crianças devem aprender a escolher um comportamento mais adequado e
os adultos devem aprender mais sobre as necessidades das crianças. Assim,
podem adaptar sua expectativas e ações de modo a evitar futuros
comportamentos inadequados.
Os referidos autores ensinam ainda, os passos básicos para um
confronto sobre mal comportamento:
• interromper: estar pronto para interromper o processo. Por exemplo,
separar crianças que brigam e mandar cada uma para um lado diferente.
Intervir para que o comportamento negativo cesse e a criança tenha que
enfrentar o adulto.
Haverá ocasiões em que o adulto pode não querer interromper a
situação. Freqüentemente, a melhor forma de tomar uma atitude disciplinadora
é não se envolver no incidente. No entanto, se estiver evitando
propositadamente se envolver , não será capaz de confrontar a criança com
sucesso. Se desejar o confronto, precisa tornar sua presença conhecida.
Chamar a criança do lado e mostrar o comportamento não desejado que está
começando a aparecer. Ficar calmo e organizado.
43
• acalmar: ambas as partes precisam se acalmar. Talvez mandar a criança
para um lugar, como o quarto, onde ela possa ficar por alguns minutos
antes de enfrentá-lo. Mais importante, no entanto, é que o adulto se acalme.
• afirmar: expressar confiança no julgamento da criança e sua habilidade em
entender o que vai ser discutido.
Acreditar que ela quer colaborar. Mostrar uma apreciação real das
coisas certas que ela faz e salientar que ela tenta de verdade ser boa e ter uma
atitude agradável em determinadas horas e circunstâncias. Ser sincero e
escolher características que realmente aprecia.
• redirecionar: depois de interromper o comportamento não desejado, mostrar
a direção a ser seguida. Uma maneira útil de redirecionar é fazer a criança
recriar a situação e desfazer ou melhorar o erro. Ex: se um brinquedo foi
quebrado, pedir desculpas e providenciar outro brinquedo; se houve briga, a
criança deve mostrar uma maneira mais amigável de brincar.
• educar: tentar descobrir o que acontece nos momentos anteriores ao
comportamento inadequado. Isso pode proporcionar dicas para a
motivação de tal comportamento.
Uma boa maneira de mudar o comportamento é chamar a atenção para
o momento em que acontece. Combinar um código com a criança para que ela
tome consciência desses momentos. Por exemplo: "bandeira vermelha".
Ajudá-la a pensar nos efeitos do seu comportamento e como a próxima vez
pode ser melhor. Falar da próxima vez de maneira positiva é um incentivo para
a criança.
De modo geral, pais que incentivam referem-se a aspectos úteis do
futuro e pais que não incentivam ficam repisando aspectos negativos do
44
passado. A maneira de ensinar a criança como melhorar seu comportamento
na "próxima vez" segue estes cinco passos:
Descrever a situação; falar para a criança como o mal comportamento
afeta diretamente as outras pessoas de maneira negativa.
Ajudá-la a entender o efeito que isso tem nos outros. Ex: "Cada vez que
você pega a bola da Elisa ela pensa que você está brava com ela e começa a
se sentir triste e confusa."Dizer que o mal comportamento é um erro, um
engano. Ex: "Acho que você está cometendo um engano importante com a
Regina, e gostaria de conversar com você a respeito disso. Começar
descrevendo clara e especificamente o que foi realmente observado. A
descrição objetiva de ações externas é mais eficiente do que ficar imaginando
motivos para o comportamento da criança, tirando conclusões nem sempre
verdadeiras ou classificando a criança. Apontar quantas vezes você a escutou
dizendo coisas inadequadas para um irmão é bem mais útil do que chamá-la
de pestinha ou língua de trapo.
Declarar seus sentimentos; não ter medo de falar para a criança como
você está se sentindo a respeito do que aconteceu no primeiro minuto que
achar que está preparado. Evitar que ela perceba como você foi afetado rouba
dela instrumentos importantes no aprendizado de como melhorar as relações
com os outros. Compartilhar seus sentimentos é uma forma de contato que
permite à criança sentir seu real desejo de se "conectar" emocionalmente. Esta
declaração sincera de sentimentos ajuda na harmonia familiar e estabelece um
exemplo a ser seguido. É melhor falar de sentimentos e ações do momento do
que se referir ao passado ou fazer predições para o futuro. Dizer para a criança
que você está zangado agora: "João, estou bravo agora com o que você fez.
Dizer como se sente, honestamente: "Se você está agindo dessa maneira, fico
desapontado com meus esforços de ensinar como quero que você se
comporte."
45
Pedir mudanças; dizer para a criança uma vez só - muito clara e firmemente - e
com tranqüilidade, o que deseja que ela faça ou deixe de fazer. Expressar isso
de maneira esperançosa ou em forma de desejo: "Espero que você comece a
fazer suas tarefas de casa a partir das 7:00 horas de hoje em diante. Sugerir
alternativas para a criança pensar a respeito além de "porque eu quero" ou
"porque eu sou seu pai/sua mãe". Ser específico e claro. Se for vago ou falar
de maneira indireta a respeito dos seus desejos, é possível que surjam mais
problemas. Uma possibilidade é a criança desenvolver sentimentos de culpa
por não poder satisfazê-lo. A criança também pode começar a se ressentir ou
mesmo a odiá-lo por ter tanto poder e por, aparentemente, passar mensagens
de rejeição. Ao receber uma declaração clara dos seus sentimentos, a criança
pode sentir melhor a alegria de responder às suas necessidades emocionais.
Oferecer apoio para as mudanças; tratar o mal comportamento como um erro
pequeno que pode ser corrigido fácil e rapidamente. Sugerir correções que
podem ser feitas. Encorajar e indicar que a questão pode ser resolvida
rapidamente. Enfatizar a necessidade prática da correção exigida. A criança
precisa estar consciente da importância de não fazer a coisa errada.
Tentar mostrar quanto os outros dependem dela. Mostrar os reais resultados
do erro, calmamente e sem ameaças ou predições de prejuízo eterno. Mostrar
que privilégios serão retirados se houver abuso e que serão concedidos se
houver responsabilidade.
Verificar a compreensão e aceitação; o objetivo é conseguir um acordo e não
vencer uma batalha. Conflitos são resolvidos mais facilmente em clima de
confiança e respeito mútuo. Mostrar tato ajuda. Tratar o conflito como um
problema que precisa ser resolvido em conjunto. Focalizar na busca de uma
solução que atenda às necessidades de todos sem frustrações. Respeito
mútuo, que leva à satisfação mútua, ajuda muito a solucionar possíveis
problemas. Deixar a criança manter sua dignidade permitindo que defenda e
explique suas ações. Procurar saber o ponto de vista da criança sobre o
problema, seus sentimentos e idéias a respeito de possíveis soluções. Depois
46
de escutar com cuidado, respeito e calma o ponto de vista da criança, repeti-lo
com suas próprias palavras , mesmo que não concorde com tudo. Colocar a
explicação da criança da sua maneira mostra compreensão e preocupação.
Essa empatia pode ajudar a criança a entender o seu ponto de vista mais
tarde.
Em vez de provar como a criança está errada, ajudá-la a fazer a coisa
certa. Fazer um esforço para mudar a posição da criança em vez de
simplesmente fazer um julgamento. Junto com a criança, explorar o assunto
como um aliado. Definir calmamente sua posição e justificar. Dizer que quer
que a criança compreenda seu ponto de vista. Se tem certeza, expressar
confiança que ela realmente compreende.
Se a criança começar uma luta de poder e rejeitar todas as alternativas,
dizer: "Não vou discutir com você. Você até pode estar certa, mas continuo
querendo que faça dessa maneira porque..." Se necessário, pedir uma
"solução experimental" e discutir sobre os resultados mais tarde.
Os pais precisam ensinar seus filhos a pensarem no impacto que seu
comportamento tem sobre eles mesmos e os outros. Convidá-los a pensar em
possíveis soluções. Este processo é parte de como ensinar crianças a tomarem
decisões mais acertadas.
Os seis passos que ajudam uma criança a fazer melhores escolhas a respeito
do seu comportamento são: identificar o problema, juntar dados, identificar as
escolhas, analisar as conseqüências das escolhas e decidir o que fazer. Esses
seis passos se aplicam a qualquer forma de comportamento não adequado
repetido.
Segundo Taylor & Sharon (1993), ao confrontar uma criança, devemos
evitar cada um dos seguintes papéis, pois todos eles trazem possibilidade de
problemas.
47
• Comandante: O Comandante precisa controlar tudo e todos através de
constantes ordens e exigências. As declarações mais freqüentes são "Você
deve...", "Você vai..." e "Você tem que...".
As crianças devem parar de mostrar um comportamento negativo e há
muitas ameaças e avisos do tipo "É melhor você fazer senão...".O jeito de
evitar o papel de Comandante é focalizar no próprio autocontrole e não no
controle da criança. Quando controlado, é possível escutar e encontrar
tempo para os problemas da criança. Quando não se está controlado, corre
o risco de supercontrolar a criança.
Evitar que o poder que vem de você seja muito maior e a criança muito
menor. Decidir evitar o uso da força ou o poder como método principal de
influenciar o comportamento da criança. Parar de pressionar, ao invés,
propiciar a tomada dedecisão compartilhada. Não é necessário ficar repetindo
que o comportamento é inaceitável. Uma afirmação simples e direta sobre o
impacto das ações nos outros pode ser suficiente. Ex: "Quando você fez aquilo,
João ficou triste porque...
• Juiz: O Juiz é muito rápido para decidir as coisas. As ações da criança são
consideradas muito negativas, e a culpa dela é decidida muito rapidamente.
O Juiz também gosta de dar nomes: " Você é um mau garoto", "Você não
está pensando direito", "Você está me desapontando outra vez". Juizes
querem sempre provar que estão certos e as crianças erradas. Uma criança
é considerada culpada sem poder contar o seu lado da história. Há uma
tentativa de diminui-la. O Juiz acha que é bom e eficiente mostrar as falhas
da criança para que possa corrigi-las
Acusar a criança de ser má em nada ajuda. Constantemente julgada, ela
se torna defensiva e reservada. A criança quer que você escute seus
pensamentos e idéias, e não julgue o que é bom, mau, certo ou errado a
respeito das suas opiniões.
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Acusar a criança de ter um motivo não adequado, como querer
aparecer, só prejudica a comunicação entre vocês dois. Acaba com qualquer
oportunidade de segurança emocional.
Evitar dizer que você está certo e a criança errada. Evitar tirar
conclusões apressadas. Se você nunca "pegou" a criança na situação em
questão, ou as evidência são poucas, ser muito cuidadoso ao acusá-la.
Lembrar que o erro - o mal comportamento - está sendo corrigido. Tratar
a criança como uma pessoa muito importante, que sempre vale a pena escutar.
Evitar as seguintes armadilhas:
Ameaças: "Você vai se arrepender!" "Vou mandar você para um orfanato e
você nunca vai voltar."
Previsões sombrias: "Você vai acabar na prisão."
Afirmações extremas: "Você sempre faz isso! "Você nunca lembra de fazer da
maneira que eu ensinei."
Nunca dizer que você acha que a criança não consegue fazer nada certo.
Evitar dar nomes. Qualquer crítica a respeito da sua atitude, energia,
honestidade, cooperação, personalidade ou das suas habilidades pode
machucar.
Sabe-tudo: O Sabe-tudo pergunta, investiga, examina. "Por que fez isso?"
"Para que você fez isso?"
Freqüentemente, há uma demonstração de conhecimento e a necessidade de
um sermão para as crianças. O jeito de evitar essa postura é decidir
compartilhar dados. Uma antiga fábula ilustra bem este ponto.
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Uma vez, havia quatro homens cegos perto de um elefante tentando
descobrir o que era um elefante. À medida que cada um tocava uma parte
diferente do animal, declarava ter descoberto a verdadeira natureza de um
elefante. Um dizia que o elefante era como uma mangueira de incêndio; outro,
que o elefante é como uma folha gigante; o terceiro, que o elefante é como
uma parede; e o quarto, que é o elefante é como uma corda. O único processo
necessário para que eles chegassem a uma conclusão correta acerca do
elefante seria juntarem todas as informações. No entanto, como a fábula conta,
eles ficaram discutindo para sempre o que era realmente um elefante. Esses
cegos eram Sabe-tudos. Cada um dizia que a sua informação era a correta.
É preciso escutar o ponto de vista da criança e suas explicações sem
tirar conclusões precipitadas. Juntar bem todos os dados para poder ajudar
melhor sua criança.
Comediante: O Comediante, brinca, zomba e usa sarcasmo. "Por que você não
queima a casa de uma vez!" "Como você é bem comportado!" Para evitar o
papel de Comediante, lembrar que o humor é perigoso em relações próximas.
Raramente é bem sucedido num confronto. É melhor deixar o humor de lado
em conversas sérias com as pessoas que gostamos. Reservar o humor para
ocasiões leves, em que não estão sendo resolvidas coisas importantes entre
você e a criança.
A próxima comparação contrapõe mensagens de incentivo com
mensagens críticas do Juiz ao confrontar uma criança a respeito de um
comportamento inadequado.
O pedagogo pode instruir os pais a tomarem as seguintes iniciativas positivas:
-"Você fez alguns erros em relação ao tipo de comida mas está fazendo cada
vez menos."
50
-"Você está fazendo cada vez menos erros".
-"Não se preocupe com a Tati. Veja o seu próprio progresso - você está
fazendo cada vez menos erros no tipo de comida e isso é que é importante."
-"Você vai fazer cada vez menos erros na escolha da comida a medida que fica
com mais prática na dieta."
-"Talvez na próxima vez seja melhor, porque, depois desta nossa conversa,
vou ter mais da comida certa para você na geladeira."
-"Vamos ver porque você está tendo problemas."
-"O mundo não vai acabar por causa disso, mas é melhor mudarmos alguma
coisa para que não aconteça outra vez."
-"Não vamos desperdiçar a experiência. O que podemos aprender com ela
para que seja melhor da próxima vez?"
Alguns dos princípios chaves de corrigir sem criticar deve rever lembrar
como incentivar a criança quando for necessário um confronto.
Confronto Eficiente (Correção):
· Pede a opinião da criança
· Comunicação de mão dupla
· A criança tem opções, pode analisar alternativas
· A lógica da criança é respeitada
51
· Faz perguntas condutoras
· Respeita a criança
· Soluciona problemas
· Pede para a criança considerar o ponto de vista do adulto
· Aceitação do ponto de vista da criança como uma opção válida
· Resolve problemas de fundo que estejam levando ao comportamento
inadequado
· Não repete as mensagens
· Adulto pratica os valores em discussão - cortesia, gentileza
· Promove harmonia
Confronto Ineficiente (Crítica):
· A criança tem que pensar o que é mandada pensar
· Comunicação unilateral, adulto fala, criança ouve
· A criança não tem opções, é mandada fazer
· A lógica da criança não é percebida
· Faz sermão
· Acusa
52
· Exige obediência
· Exige que a criança aceite o ponto de vista do adulto
· Rejeição do ponto de vista da criança
· Os problemas básicos e as necessidades da criança não são resolvidos
· Adulto é falador, gosta de "ensinar"
· Adulto pratica ser autoritário e exigente
· Destrói a harmonia.
53
CONCLUSÃO
Os profissionais devem olhar o problema em vários pontos de vista, se
isto fosse feito não só com pessoas com hiperatividade, mas com todos os
pacientes que procuram ajuda muito sofrimento poderá ser evitado. A
divulgação deve ser uma constante sobre hiperatividade. Este será o caminho
para um melhor entendimento do problema pela população e a redução do
sofrimento provocado pela desinformação.
Tem-se uma visão otimista que os progressos atuais levarão a um
conhecimento melhor da própria mente e a própria psicologia, ajudando o ser
humano a se compreender melhor, com a atuação pedagógica trazendo
benefícios para a sociedade e quem sabe, melhorando o humor do mundo que
anda tão carente de amor, otimismo, compreensão e esperança neste final de
século.
Como foi visto no capítulo 3, em geral, quem levanta a hipótese de a
criança apresentar algum problema de hiperatividade é a escola.
Normalmente, a criança passa algum tempo em programas de apoio escolares,
com pedagogos, até chegarem em um médico. E quando chegam ao médico,
já estavam apresentando problemas com hiperatividade por vários anos.
As queixas mais freqüentes são: dificuldade na escola, repetência, falta
de coordenação, medo de problemas mais graves como tumores cerebrais e
um sentimento de culpa dos pais que acham que passaram alguma doença
grave para a criança.
Ao lidar com a criança hiperativa de uma maneira que a atitude criativa
possa ser estimulada e transmitida estaremos fazendo com que a criança se
integre melhor ao meio e evite as decepções causadas pela desinformação
alheia. É preciso conscientização, não só sobre a problemática em si, mas
sobre a predisposição que cada criança tem em cada área do conhecimento.
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Para isto devemos nos tornar mais sensíveis com visão ampla para um mundo
dinâmico e mutável que é o mundo infantil.
Crianças com TDAH estão sujeitas ao fracasso escolar, a dificuldades
emocionais e a um desempenho significativamente negativo como adultos
quando comparadas a seus colegas. No entanto, a identificação precoce do
problema, seguida de tratamento adequado, tem demonstrado que essas
crianças podem vencer os obstáculos.
O tópico TDAH provavelmente continuará sendo o mais amplamente
pesquisado e debatido nas áreas da saúde mental e desenvolvimento da
criança. Coisas novas acontecem a cada dia o diagnóstico, tratamento e
desenvolvimento de pessoas portadoras de TDAH.
Com a crescente conscientização e compreensão da comunidade em
relação ao impacto significativo que os sintomas do TDAH têm sobre as
pessoas e suas famílias, o futuro parece mais promissor.
Dando continuidade a um diagnóstico justo e correto, não confundindo o
que é uma criança verdadeiramente hiperativa como patologia com a criança
dos tempos das grandes tecnologias, onde tudo é muito rápido, informações,
pensamentos e respostas, e esta criança adaptou o seu pensamento, ficando
mais acelerada.
Uma outra abordagem é no que se refere a harmonia em sala de aula
com uma criança hiperativa impulsiva, que praticamente desequilibra todo um
ambiente escolar, com uma preocupação quanto a medicamentos e
atendimento especial em turmas reduzidas.
E também uma orientação efetiva dos pais , já que o ambiente familiar
tem uma surpreendente importância no processo de adaptação e inserção
dessa criança no mundo.
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BIBLIOGRAFIA
CHESS, S.; MAHIN,H. Princípios e Prática da Psiquiatria Infantil. Porto Alegre,
Artes Médicas, 1982. p.359-64.
GORODSCY, R. C. A Criança Hiperativa e o seu Corpo: Um estudo
compreensivo da hiperatividade em crianças. São Paulo, 1990, 166p. Tese
de Doutorado - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo
TRAIN, A. Ajudando a Criança Agressiva. Campinas, Papirus, 1997
BIAGGIO, Ângela Maria Brasil. Psicologia do desenvolvimento. 15. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes,2001.
DAVIDOFF, Linda L. Introdução à psicologia. 3. ed. São Paulo: Makron, 2001.
HOLLAND, J. G. A análise do comportamento. São Paulo: Herder, ©1969.
MARX, Melvin H. Sistemas e teorias em psicologia. 13. ed. São Paulo: Cultrix,
2001.
MYERS, David G. Introdução à psicologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC,
©1999.
NEWCOMBE, Nora. Desenvolvimento infantil: abordagem de Mussen. 8. ed.
Porto Alegre: Artmed, 1999.
PIAGET, Jean . A linguagem e o pensamento da criança. 7. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
TAYLOR, John & SHARON Latta. Why Can't I Eat That! Helping Kids Obey
Medical Diets, R & E Publishers, San Jose, CA, USA, 1993.
59
ÍNDICE
Resumo 4
Introdução 5
1. A Compreensão da Hiperatividade como patologia 7
1.1.Conceito 7
1.2. Características das crianças hiperativas 10
1.3. Estatísticas 12
2. O Diagnóstico da Hiperatividade 13
2.1. A Caracterização do distúrbio comportamental 13
2.2. O diagnóstico da Hiperatividade na Pedagogia 14
2.3. Indicações para tratamento 20
3. Uma proposta pedagógica para o aprendizado das crianças hiperativas 28
3.1. A Dificuldade de aprendizagem das crianças hiperativas 28
3.2. Como o pedagogo pode favorecer as crianças hiperativas 29
3.3. Como conversar com a criança hiperativa e orientar os pais 37
Conclusão 53
Bibliografia 55
61
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
“PROJETO VEZ DO MESTRE”
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Título do trabalho Monográfico:
“Hiperatividade na Educação Infantil”
Autora: Cristiane Martins da Rocha
Orientador: Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas
Data de Entrega:
Avaliação:
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Assinatura do avaliador:_________________________________
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