View
0
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS – CCSH
CURSO DE DIREITO DIURNO
Disciplina: Direito Da Criança e do Adolescente
Professora: Drª Rosane Leal da Silva
Alunos: Ana Elisi Carbone Anversa, Ane Cristine Much Smolski, Henrique Cortina, Julianne Floriano Luiz
Trabalho Avaliativo Valor: 4,0
A Justiça Restaurativa é uma prática de resolução e prevenção de
conflitos, a qual é utilizada, principalmente, quando crianças e adolescentes
são os infratores. É por meio da sensibilidade e da criatividade que o círculo de
paz/conflito restaurativo (metodologia utilizada) apazigua o conflito entre vítima
e acusado, buscando uma solução, na medida do possível, benéfica para
todos. Em Santa Maria foi criado o Programa Municipal de Práticas
Restaurativas nas escolas do município, pela Lei Municipal nº 6185/2017, o
qual tem por finalidade, segundo a legislação, “um conjunto articulado de
estratégias inspiradas nos princípios da justiça restaurativa, abrangendo
atividades de pedagogia social promotoras da cultura da paz e de diálogo, e
implementadas mediante a oferta de serviços de melhoria das relações sociais,
solução auto compositiva de prevenção e tratamento de conflitos nas escolas
do Município de Santa Maria, com acolhimento humanizado.”.
Diante dessa perspectiva, a Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Antonio Reis, de Santa Maria – RS, tem, nos últimos tempos, utilizado
bastante essa metodologia, seja para resolver conflitos entre os alunos, seja
para pautar temas específicos que visem o bem estar e o convívio pacífico de
todos (essa última técnica é chamada de “círculo de paz”). Na sexta-feira do
dia 22 de Novembro de 2019, os alunos do 7ª ano do Ensino Fundamental
fizeram um círculo de paz facilitado pela Orientadora Educacional Silvia Pagel
Floriano e debateram sobre empatia, uma vez que a turma estava enfrentando
problemas com um aluno e as professoras acharam de extrema importância
discutir sobre como é necessário “colocar-se no lugar do colega”. Também
participaram do círculo as acadêmicas do 2º semestre de Direito da UFSM,
Ane Cristine Much Smolski e Julianne Floriano Luiz, buscando vivenciar de
forma participativa a metodologia do círculo de paz.
Primeiramente, foi apresentado o objeto da palavra, a girafa Gigi, e
explicado o porquê de utilizarem a girafa, isto seria pois dos animais da selva, é
o que tem o maior coração e por ter o pescoço comprido conseguiria observar
tudo e ajudar na resolução de problemas. O objeto da palavra dá o direito de
fala para quem o tem na mão e de escuta para o restante dos participantes.
Após isso, foi feito o check-in, onde os participantes do círculo deviam se
apresentar, e responder a duas perguntas: “O que você acha de estar nesse
círculo hoje?” e “O que você destaca nesta semana que passou?”.
Após a girafa passar de mão em mão para todos responderem, são
feitas as perguntas norteadoras do círculo, que neste dia tratou sobre empatia.
As perguntas eram as seguintes: “O que é empatia?”, “Eu sou uma pessoa
empática?”, “O que é preciso para ter empatia?”, “Acho importante os outros
serem empáticos comigo?”.
Depois de todos os participantes responderem, foram convidados a
pegarem uma folha de papel no centro do círculo e a escreverem um resumo
do que haviam aprendido com o círculo, servindo como forma de registro da
atividade para a orientadora. A seguir, retornaram para o círculo e
compartilharam os novos conhecimentos adquiridos em forma de check-out.
Dessa forma, foi feito um resgate do assunto trabalhado no círculo e feita uma
relação com o momento turbulento que a turma estava passando. Importante
ressaltar que o facilitador, além de coordenar o círculo, também faz o
fechamento das ideias, compila tudo o que fora discutido no circulo, dando um
retorno para os alunos, organizando a fala deles.
Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o
círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver a fala. Eles
destacaram diversas vezes durante o círculo que gostavam de participar
porque a turma toda se comunicava, coisa que não ocorria no dia-a-dia. Uma
aluna na entrevista destacou que na escola era bem tímida, mas no círculo
conseguia expressar seus pensamentos, sentindo-se à vontade para
comunicar-se com os colegas.
Vale ressaltar que a técnica foi muito bem recebida pela comunidade
escolar. Entrevistamos três alunos: um conta que o círculo realizado no dia 22
havia sido o seu terceiro, enquanto os outros dois narraram que estão na
escola há muito tempo e que participaram de vários. Os três alunos falaram
sobre como o círculo foi importante para o convívio escolar e que, por meio
dele, eles conseguiram amadurecer bastante, sendo que essa técnica
proporciona, também, muita interação. Os estudantes foram questionados se
os assuntos abordados no círculo são levados para além da sala de aula. Dois
afirmaram que sim e que “é uma coisa que é tratada ali, mas todo mundo leva”
(palavras da aluna). Outro aluno, contudo, confessou que: “acho que têm
alguns (alunos) que até levam, mas outros que continuam fazendo a mesma
coisa depois do círculo. Bastantes da turma não levam depois do círculo as
coisas que são faladas.”. Mesmo com opiniões distintas, os três ressaltaram
que os temas escolhidos são bem importantes, mas um estudante ressalta que
a turma parece estar atenta no momento da técnica e que, depois, alguns
colegas não praticam o aprendido. Vale ressaltar, ainda, que os alunos
entrevistados não participaram de nenhum círculo de resolução de conflitos,
somente dos “círculos da paz”.
A fim de se obter uma visão mais ampla, entrevistamos a Orientadora
Educacional da escola, professora Silvia Pagel Floriano. Segue a entrevista na
íntegra:
1- Onde fez o curso das praticas restaurativas? Como foi participar do curso?
Em Santa Maria existe o Programa Municipal de Práticas Restaurativas,
onde foi oferecido o curso de práticas restaurativas que é promovido pelo
Ministério Público de Santa Maria. Foi este curso que realizei. A professora do
curso é Isabel Cristina Martins Silva, assessora da Promotora de Justiça
Rosângela Corrêa da Rosa, que trabalha na Promotoria Regional da Educação
de Santa Maria. Gostei muito de participar do curso porque ele trabalha através
de vivências, é extremamente prático e sempre que participamos de um curso
assim é muito mais fácil aplicar o que aprendemos e entender a parte teórica.
2- Qual a diferença entre os círculos de conflitos e de paz?Os círculos de paz são não-conflitivos e de diálogo, trabalham na
prevenção dos conflitos, buscam estabelecer vínculos, fortalecendo e
melhorando as relações. Já os círculos de conflitos são voltados para resolver
problemas, por exemplo, quando os alunos desrespeitam as normas da escola.
3-Por que é importante que a abordagem com o círculo de práticas restaurativas seja mais lúdica do que uma audição com o juiz?
Na realidade não é lúdica e sim, uma metodologia diferente de abordar
os problemas e se dá também nos âmbitos criminal, civil, familiar da infância e
adolescência e não só no âmbito da escola.
4-Por que a justiça restaurativa é mais exitosa do que os métodos convencionais de resolução de conflito?
Porque restaura as relações. É um espaço seguro, sigiloso, não se
busca culpados, o importante é refletir sobre o que realmente importa, através
do diálogo, um espaço de fala, de voz e escuta igual para todos que participam,
buscando soluções para todos, com empenho mútuo. O papel do facilitador é
muito importante ele que coordena todo o processo.
5-Qual a maior dificuldade quando se realiza esse círculo?As dificuldades são: garantir a qualidade do que está acontecendo, para
que todos se respeitem; coordenar o tempo; trabalhar valores e as regras antes
de abordar os conflitos. 6-Acha que modificou sua visão no trabalho, a qualificou mais para o cargo de orientadora?
Com certeza, mudou minha visão de mundo. Como professora, nos
achamos, muitas vezes, com mais experiência para trazer a solução dos
problemas. Com o círculo somos quem facilita, coordena o processo, todos têm
direito de vez e de voz, os participantes se escutam, refletem, buscam solução
juntos, se comprometem, não existe receita, nem solução prévia.
7-Acha que dá resultado? Em quais turmas trabalha? Até que ponto o círculo funciona na resolução de conflitos?
Tenho certeza dos resultados, trabalhei com os círculos do 6º ao 9º ano
do Ensino Fundamental. A resolução dos conflitos se dá pelo comprometimento
de todos, isso no grande grupo da sala de aula, mas trabalhamos também com
círculos do aluno com seus pais/responsáveis e professores, nesse caso o
resultado é mais eficaz porque é em um pequeno grupo, sendo poucos os
envolvidos.
8-Todos os professores do município de Santa Maria tem formação na área? Quantas profissionais na sua escola fizeram o curso?
Não tenho precisão sobre o número de professores que já fizeram o
curso, mas sei que buscam trabalhar com no mínimo um representante por
escola, que se torna um multiplicador do que aprendeu no curso para os outros
professores da escola. Eu e a vice-diretora da escola participamos do curso e
fizemos projetos que foram desenvolvidos na escola com alunos e professores.
Alguns outros professores já estão aplicando o círculo com seus alunos na sala
de aula, inclusive alunos de 1º ano do Ensino Fundamental.
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM OS ALUNOS(AS):1-Há quanto tempo você participa dos círculos?
A: Esse foi acho que meu terceiro círculo, porque eles começam a partir
do sexto ano.
B: ‘Tô’ na escola há oito anos e quando a gente começou a fazer os
círculos foi desde o sexto ano, então eu participo há bastante tempo dele.
C: Nesses oito anos que eu ‘tô’, eu sempre participo.
2-O que você acha dos círculos restaurativos? A: Acho uma parte bem importante porque como a professora falou a
gente amadureceu do ano passado pra cá, deu pra perceber a diferença (por
causa dos círculos).
B: Eu gosto bastante. É muito bom participar dele.
C: Eu adoro a professora Silvia, o jeito que ela conversa com a gente,
nos faz interagir. Eu adoro. Na escola eu sou bem tímida, mas no círculo eu
acho que eu penso e consigo falar tudo o que a gente ‘ta’ tratando, e o assunto
empatia eu adoro. [...] Acho que é sempre bom a gente ter esses círculos
porque a gente se comunica mais.
3-Acha que os assuntos abordados são levados para além da sala da aula?
A: Eu acho que todo mundo leva esse círculo pra sua vida na verdade, é
uma coisa que é tratada ali, mas todo mundo leva.
B: Acho que tem alguns (alunos) que até levam, mas outros que
continuam fazendo a mesma coisa depois do círculo. Bastantes da turma não
levam depois do círculo as coisas que são faladas.
C: -
4-Acha que os assuntos tratados no círculo são importantes, bem escolhidos pelo momento em que a turma está passando?
A: Sim, principalmente pelo momento em que a turma tá passando.
B: São bem bons. [..] O tema de hoje, a empatia, eu aprendi um pouco
mais porque a gente não sabia muito bem o que era isso. E muitos da nossa
turma não têm empatia.
C: Acho que quando a gente tá no círculo tem umas pessoas que
prestam atenção, mas não praticam depois. Tem algumas pessoas que
colaboram [...] mas tem gente que não dá a mínima.
5-Já participou de algum círculo de conflito? A: Não.
B: Ainda não.
C: Não lembro.
Recommended