Suma Teológica Tratado Da Lei - São Tomás de Aquino

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    1/28

    Suma

    Teolgica

    Tratado da lei

    Santo Toms de Aquino

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    2/28

    Questo 90: da essncia da lei

    Na primeira questo discutem-se quatro artigos:

    Art.1 -Se a lei algo de racional.

    O primeiro discute-se assim. Parece que a lei nada tem de racional.

    1. Pois, diz o Apstolo (Rm 7, 23): Sinto nos meus membros outra lei,etc. Ora, o racional

    no est nos membros, porque a razo no se serve de rgos corpreos. Logo, a lei nada

    tem de racional.

    2. Demais. A razo s inclui a potncia, o hbito e o ato. Ora, a lei no nenhuma po-

    tncia da razo. E nem um hbito qualquer dela, porque os seus hbitos so as virtudes

    intelectuais, de que j se tratou (a. 57). Nem um ato, pois, se o fosse, cessando ele, comose d com os adormecidos, cessaria a lei. Logo, a lei nada tem de racional.

    3. Demais. A lei move os que se lhe submetem, a agir retamente. Ora, mover ao

    pertence propriamente vontade, como resulta claro do que j foi dito (q. 9, a. 1). Logo, a

    lei no depende da razo, mas, antes, da vontade, conforme ao que tambm diz o

    Jurisperito: O que apraz ao prncipe tem fora de lei.

    Mas, em contrrio, lei pertence ordenar e proibir. Ora, ordenar ato da razo, como j se

    demonstrou (q. 17, a. 1). Logo, a lei algo de racional.

    SOLUO. A lei uma regra e medida dos atos, pela qual somos levados ao ou dela

    impedidos. Pois, lei vem de ligar, porque obriga a agir. Ora, a regra e a medida dos atos

    humanos a razo, pois deles o princpio primeiro, como do sobredito resulta (q. 1, a. 1 ad

    3). Porque prprio da razo ordenar para o fim, princpio primeiro do agir, segundo o

    Filsofo. Ora, o que, em cada gnero, constitui o princpio a medida e a regra desse

    gnero. Tal a unidade, no gnero dos nmeros, e o primeiro movimento, no dos

    movimentos. Donde se conclui que a lei algo de pertencente razo.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Sendo a lei regra e medida, pode, de dois

    modos, ser aplicada. De um, como o que mede e regula. Ora, como isto prprio da razo,

    deste modo, a lei s na razo existe. De outro, como o que regulado e medido. E, ento

    existe em tudo o que em virtude dela tem alguma inclinao. De sorte que qualquer

    inclinao proveniente de uma lei pode ser considerada lei, no essencial, mas,

    participativamente. E deste modo, tambm a inclinao dos membros para a concupiscncia

    se chama lei dos membros.

    RESPOSTA SEGUNDA. Podemos considerar, nos atos exteriores, a obra e o obrado,

    como, p. ex., a edificao e o edifcio. Assim tambm podemos distinguir, nas obras da

    razo, o ato mesmo dela, que inteligir e raciocinar; e algo de constitudo por esse ato. E

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    3/28

    isto, no concernente razo especulativa, , primeiramente, a definio; depois, o

    enunciado; e, em terceiro lugar, o silogismo ou argumentao. Ora, mesmo a razo prtica

    emprega no agir um certo silogismo, conforme j demonstramos (q. 13, a. 3; q. 76, a. 1),

    de acordo com o que ensina o Filsofo. Por onde, deve haver, na razo prtica, o que esteja

    para as obras, como, na razo especulativa, est a proposio para as concluses. Ora, tais

    proposies universais da razo prtica, ordenadas para o ato, tm natureza de lei. E elas

    so, umas vezes, consideradas atualmente, e, outras possudas habitualmente pela razo.

    RESPOSTA TERCEIRA. A razo tira o seu poder motor da vontade, como j se disse (q.

    17, a. 1). Pois, por querermos o fim que a razo ordena os meios. Mas para a vontade do

    que ordenado vir a constituir lei preciso seja regulada pela razo. E deste modo

    compreende-se que a vontade do prncipe tenha fora de lei; do contrrio seria antes

    iniqidade que lei.

    Art. 2 Se a lei se ordena sempre para o bem comum

    como para o fim.

    (Inira, q. 95, a. 4; q. 96, a. 1; III Sent., dist. XXXVII, a. 2, q 2, ad 5 V Ethic., lect. II).

    O segundo discute-se assim. Parece que a lei no se ordena sempre para o bem comum,

    como para o fim.

    1. Pois, prprio da lei ordenar e proibir. Ora, a ordem visa um certo bem particular.Logo, o fim da lei nem sempre o bem comum.

    2. Demais. A lei dirige o homem para agir. Ora, os atos humanos versam sobre o

    particular. Logo, tambm a lei se ordena a um bem particular.

    3. Demais. Isidoro diz: Se a lei participa da razo, ser lei tudo o que desta participar.

    Ora, da razo participa o que ordenado no s para o bem comum, mas tambm para o

    privado. Logo, a lei no se ordena s para o bem comum, mas tambm para o particular de

    cada um.

    Mas, em contrrio, Isidoro diz, que a lei prescrita no para utilidade particular, mas para a

    utilidade comum dos cidados.

    SOLUO. Como j dissemos (a. 1), sendo a lei regra e medida, ela depende do que o

    princpio dos atos humanos. Ora, como a razo o princpio desses atos, tambm nela h

    algum primeiro princpio, que o de tudo o mais. Por onde e necessriamente a este h de a

    lei pertencer, principal e maximamente. Ora, o primeiro princpio, na ordem das operaes,

    qual pertence a razo prtica, o fim ltimo. E sendo o fim ltimo da vida humana afelicidade ou beatitude, como j dissemos (q. 2, a. 7; q. 3, a. 1), h de por fora a lei dizer

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    4/28

    respeito, em mximo grau, ordem da beatitude. Demais, a parte ordenando-se para o

    todo, como o imperfeito para o perfeito; e sendo cada homem parte da comunidade perfeita,

    necessria e propriamente, h de a lei dizer respeito ordem para a felicidade comum. E,

    por isso, o Filsofo, depois de dar a definio do legal, faz meno da felicidade e da

    comunho poltica. Assim, diz: consideramos como justo legal o que faz e conserva a

    felicidade, com tudo o que ela compreende, em dependncia da comunidade civil. Ora, a

    comunidade perfeita a cidade, como diz Aristteles.

    Porm, em qualquer gnero, o que principal princpio de tudo o mais que a esse gnero

    pertence, e que considerado em dependncia dele. Assim, o fogo, quente por excelncia,

    a causa do calor dos corpos mistos, considerados quentes na medida em que participam do

    fogo. Por onde e necessariamente a lei sendo por excelncia relativa ao bem comum,

    nenhuma outra ordem, relativa a uma obra particular, ter natureza de lei, seno enquanto

    se ordena ao bem comum. Logo, a este bem se ordena toda lei.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Uma ordem supe a aplicao da lei ao que

    por ela regulado. Ora, o ordenar-se para o bem comum, que prprio da lei, aplicvel a

    fins particulares. E a esta luz, tambm se podem dar ordens relativas a certos fins

    particulares.

    RESPOSTA SEGUNDA. Certamente, as obras dizem respeito ao particular. Mas este pode

    ser referido ao bem comum, no pela comunidade genrica ou especfica, mas pela da causa

    final, enquanto que o bem comum considerado como fim comum.

    RESPOSTA TERCEIRA. Assim como na ordem da razo especulativa nada tem firmeza

    seno pela resoluo aos primeiros princpios indemonstrveis, assim tambm nada a tem,

    na ordem da razo prtica, seno pela ordenao ao fim ltimo, que o bem comum. Ora, o

    que deste modo participa da razo tem a natureza da lei.

    Art. 3 Se a razo particular pode legislar.

    (Infra, q. 97, a. 3, ad 2; II-II, q. 50, a. 1, ad 3).

    O terceiro discute-se assim. Parece que qualquer razo particular pode legislar.

    1. Pois, diz o Apstolo (Rm 2, 14): Quando os gentios, que no tem lei, fazem

    naturalmente as coisas que so da lei, esses tais a si mesmos servem de lei. Ora, isto dito

    em geral de todos. Logo, quem quer que seja pode impor a si mesmo a sua lei.

    2. Demais. Como diz o Filsofo, a inteno do legislador levar os homens virtude. Ora,

    qualquer um pode faz-lo. Logo, a razo de qualquer homem pode legislar.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    5/28

    3. Demais. Assim como o chefe da cidade o seu governador, assim qualquer pai de

    famlia o governador da casa. Ora, o chefe da cidade pode legislar para ela. Logo, tambm

    qualquer pai de famlia pode legislar para a sua casa.

    Mas, em contrrio, diz Isidoro, e est nas Decretais: A lei a constituio do povo pela qual

    os patrcios, simultaneamente com a plebe, estabeleceram alguma disposio. Logo,

    qualquer um no pode legislar.

    SOLUO. A lei, prpria, primria e principalmente, diz respeito ordem para o bem

    comum. Ora, ordenar para o bem comum prprio de todo o povo ou de quem governa em

    lugar dele. E portanto, legislar pertence a todo o povo ou a uma pessoa pblica, que o rege.

    Pois, sempre, ordenar para um fim pertence a quem esse fim prprio.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Como j dissemos (a. 1 ad 1), a lei est num

    sujeito, no s como em quem regula, mas tambm, participativamente, como em quem

    regulado. E deste modo cada qual para si mesmo a sua lei, enquanto participa da ordem

    de quem regula. Por isso o Apstolo acrescenta: Os que mostram a obra da lei escrita nos

    seus coraes.

    RESPOSTA SEGUNDA. Um particular no pode levar eficazmente virtude. Pode apenas

    advertir; mas, se a sua advertncia no for aceita, no dispe da fora coativa, que a lei

    deve ter para levar eficazmente virtude, como diz o Filsofo. Ao passo que o povo, ou a

    pessoa pblica, a quem compete infligir as penas, tem essa fora coativa, como a seguir se

    dir (q. 92, a. 2 ad 3; IIa IIae q. 64, a. 3). E portanto, s ele pode legislar.

    RESPOSTA TERCEIRA. Como o homem faz parte da casa, assim, esta, da cidade, que

    uma comunidade perfeita, segundo Aristteles. Por onde, assim como o bem de um homem

    no o fim ltimo, mas se ordena ao bem comum; assim, o bem de uma casa se ordena ao

    de toda a cidade, que uma comunidade perfeita. Portanto, quem governa uma famlia pode

    sem dvida estabelecer certas ordens ou estatutos, mas que propriamente no constituem

    leis.

    Art. 4 Se a promulgao da essncia da lei.

    (De Verit., q. 17, a. 3: Quodl. I, q. 9, a. 2).

    O quarto discute-se assim. Parece que a promulgao no da essncia da lei.

    1. Pois, a lei natural a lei por excelncia. Ora, ela no precisa de promulgao. Logo, o

    ser promulgada no da essncia da lei.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    6/28

    2. Demais. Pertence propriamente lei obrigar a fazer ou no fazer alguma coisa. Ora,

    so obrigados a cumprir a lei no s aqueles que lhe sabem da promulgao, mas tambm

    os outros. Logo, no a promulgao da essncia da lei.

    3. Demais. A obrigao da lei tambm liga para o futuro, pois, as leis impem

    necessidades aos negcios futuros, como diz o direito. Ora, a promulgao feita para os

    negcios presentes. Logo, no da essncia da lei.

    Mas, em contrrio, dizem as Decretais: As leis so institudas quando promulgadas.

    SOLUO. Como j dissemos (a. 1), a lei imposta aos que lhe esto sujeitos, como

    regra e medida. Ora, a regra e a medida impe-se aplicando-se aos regulados e medidos.

    Por onde, para a lei ter fora de obrigar o que lhe prprio necessrio seja aplicada

    aos homens, que por ela devem ser regulados. Ora, essa aplicao se faz por chegar a lei ao

    conhecimento deles, pela promulgao. Logo, a promulgao necessria para a lei vir a ter

    fora.

    E assim, desses quatro elementos referidos podemos deduzir a definio da lei, que no

    mais do que uma ordenao da razo para o bem comum, promulgada pelo chefe da

    comunidade.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. A promulgao da lei da natureza se d por

    t-la Deus infundido na mente humana, de modo a ser naturalmente conhecida.

    RESPOSTA SEGUNDA. Aqueles que no tm conhecimento da promulgao da lei so

    obrigados a observ-la, enquanto sabem ou podem saber, por meio de outrem, da

    promulgao dela.

    RESPOSTA TERCEIRA. A promulgao presente se aplica ao futuro pela persistncia da

    escritura, que, de certo modo, est sempre promulgando a lei. E por isso Isidoro diz: A lei

    assim chamada do verbo ler, est escrita.

    Questo 91: Da diversidade das leis.

    Em seguida devemos tratar da diversidade das leis.

    E nesta questo discutem-se seis artigos:

    Art. 1 Se h uma lei eterna.

    (Infra, q. 93, a. 1).

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    7/28

    O primeiro discute-se assim. Parece que no h nenhuma lei eterna.

    1. Pois, toda lei imposta a algum. Ora, como s Deus existe abeterno, nenhuma lei

    pode abeterno ter sido imposta a ningum. Logo, nenhuma lei eterna.

    2. Demais. A promulgao da essncia da lei. Ora, esta no poderia s-la abeterno por-

    que ningum h para t-la promulgado abeterno. Logo, nenhuma lei pode ser eterna.

    3. Demais. A lei importa em ordenao para um fim. Ora, nada do que se ordena para um

    fim eterno, porque s o ltimo fim o . Logo, nenhuma lei eterna.

    Mas, em contrrio, Agostinho diz: A Lei, que chamada a razo suma, no pode deixar de

    ser considerada imutvel e eterna por todo ser inteligente.

    SOLUO. Como j dissemos (q. 90, a. 1 ad 2; a. 3, a. 4), a lei no mais do que um

    ditame da razo prtica, do chefe que governa uma comunidade perfeita. Ora, supondo que

    o mundo seja governado pela Divina Providncia, como estabelecemos na Primeira Parte (q.

    22, a. 1, a. 2), manifesto que toda a comunidade do universo governada pela razo

    divina. Por onde, a razo mesma do governo das coisas, em Deus, que o regedor do

    universo, tem a natureza de lei. E como a razo divina nada concebe temporalmente, mas

    tem o conceito eterno, conforme a Escritura (Pr 8, 23), foroso dar a essa lei a

    denominao de eterna.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. As coisas que em si mesmas no existem,existem em Deus, enquanto por ele pr conhecidas e pr ordenadas, conforme aquilo da

    Escritura (Rm 4, 17): Que chama as coisas que no so como as que so. Assim, pois, o

    conceito eterno da lei divina tem a natureza de lei eterna, enquanto ordenada por Deus para

    o governo das coisas por ele preconhecidas.

    RESPOSTA SEGUNDA. A promulgao se faz verbalmente e por escrito. E de ambos os

    modos, recebe a lei eterna promulgao, da parte de Deus, que a promulga. Pois, eterno o

    Verbo divino e eterna a escritura do livro da vida. Mas essa promulgao no pode ser

    eterna por parte da criatura que a ouve ou a observa.

    RESPOSTA TERCEIRA. A lei implica, ativamente, ordem para um fim, enquanto por ela

    certas coisas se ordenam para este. Mas no passivamente, no sentido em que a prpria lei

    se ordena para um fim; salvo, por acidente, no governador, cujo fim est fora dele, para o

    qual tambm necessariamente h de a sua lei se ordenar. Ora, o fim do governo divino

    Deus mesmo, nem a sua lei dele difere. Portanto, a lei eterna no se ordena para outro fim.

    Art. 2 Se h em ns uma lei natural.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    8/28

    (IV Sent., dist. XXXIII: q. 1, a. 1).

    O segundo discute-se assim. Parece que no h em ns nenhuma lei natural.

    1. Pois, o homem suficientemente governado pela lei eterna. Assim, Agostinho diz, que

    pela lei eterna torna-se justo o serem todas as coisas ordenadssimas. Ora, a natureza no

    abunda no suprfluo, assim como no falha no necessrio. Logo, no h no homem

    nenhuma lei natural.

    2. Demais. Pela lei o homem ordena os seus atos para o fim, como j se estabeleceu (q.

    90, a. 2). Ora, a ordenao dos atos humanos para o fim no se faz por natureza, como se

    d com as criaturas irracionais que buscam o fim pelo s apetite natural. Pois, o homem

    busca o fim pela razo e pela vontade. Logo, no h nenhuma lei natural no homem.

    3. Demais. Quanto mais somos livres, tanto menos estamos sujeitos lei. Ora, o homem

    mais livre que todos os animais, por causa do livre arbtrio que, ao contrrio deles, possui.

    Por onde, no estando eles sujeitos lei natural, nem o est o homem.

    Mas, em contrrio, quilo da Escritura (Rm 2, 14) Porque quando os gentios, que no tem

    lei, fazem naturalmente as coisas que so da leidiz a Glosa: Embora sem a lei escrita, tem

    contudo a Lei natural, pela qual todos tem entendimento e conscincia do bem e do mal.

    SOLUO. Como j dissemos (q. 90, a. 1), sendo a lei regra e medida, pode de dois

    modos estar num sujeito: como no que regula e mede, e como no regulado e medido; pois,na medida em que um ser participa da regra ou da medida, nessa mesma regulado ou

    medido. Ora, todas as coisas sujeitas Divina Providncia so reguladas e medidas pela lei

    eterna, como do sobredito resulta (a. 1). Por onde manifesto, que todas participam, de

    certo modo, da lei eterna, enquanto que por estarem impregnadas dela se inclinam para os

    prprios atos e fins. Ora, entre todas as criaturas, a racional est sujeita Divina Providncia

    de modo mais excelente, por participar ela prpria da providncia, provendo a si mesma e s

    demais. Portanto, participa da razo eterna, donde tira a sua inclinao natural para o ato e

    o fim devidos. E a essa participao da lei eterna pela criatura racional se d o nome de lei

    natural. Por isso, depois do Salmista ter dito (Sl 4, 6) Sacrificai sacrifcio de justia continua, para como que responder aos que perguntam quais sejam as obras da justia:

    Muitos dizem quem nos patentear os bens? A cuja pergunta d a resposta: Gravado est,

    Senhor, sobre ns o lume do teu rosto, querendo assim dizer que o lume da razo natural,

    pelo qual discernimos o bem e o mal, e que pertence lei natural, no seno a impresso

    em ns do lume divino. Por onde claro, que a lei natural no mais do que a participao

    da lei eterna pela criatura racional.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. A objeo procederia se a lei natural fosse

    algo diverso da lei eterna;ora, ela no mais do que uma participao desta, comodissemos.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    9/28

    RESPOSTA SEGUNDA. Toda operao da nossa razo e da nossa vontade deriva do que

    segundo a natureza, como dissemos (q. 10, a. 1). Pois, todo raciocnio deriva de princpios

    evidentes; e todo desejo dos meios deriva do desejo natural do fim ltimo. Por onde e

    necessariamente, a direo primeira dos nossos atos para o fim h de depender da lei

    natural.

    RESPOSTA TERCEIRA. Mesmo os animais irracionais participam, a seu modo, da razo

    eterna, como a criatura racional. Mas como esta dela participa intelectual e racionalmente,

    por isso essa participao da lei eterna pela criatura racional chama-se propriamente

    lei;pois, a lei algo de racional, como j dissemos (q. 90, a. 1). Ora, a lei eterna no

    participada racionalmente pela criatura irracional; portanto, s por semelhana pode-se

    chamar lei a essa participao.

    Art. 3 Se h uma lei humana.

    (Infra, q. 95, a. 1).

    O terceiro discute-se assim. Parece que no h nenhuma lei humana.

    1. Pois, a lei natural uma participao da lei eterna, como j se disse (a. 2). Ora, pela lei

    eterna, todas as coisas so ordenadssimas, como diz Agostinho. Logo, a lei natural basta

    para ordenar todas as coisas humanas, e portanto, no h necessidade de nenhuma leihumana.

    2. Demais. A lei essencialmente medida, como se disse (q. 90, a. 1). Ora, a razo

    humana no a medida das coisas, mas antes inversamente, como diz Aristteles. Logo,

    nenhuma lei pode proceder da razo humana.

    3. Demais. A medida deve ser certssima, como est em Aristteles. Ora, o ditame da

    razo humana, no concernente direo das coisas, incerto, conforme quilo da Escritura

    (Sb 9, 14): Os pensamentos dos mortais so tmidos, e incertas as nossas providncias .Logo, nenhuma lei pode proceder da razo humana.

    Mas, em contrrio, Agostinho ensina que h duas leis: uma eterna, e outra temporal, a que

    chama humana.

    SOLUO. Como j dissemos (q. 90, a. 1 ad 2), a lei um ditame da razo prtica. Ora,

    d-se que o modo de proceder da razo prtica semelhante ao da especulativa, pois ambas

    procedem de certos princpios para certas concluses, como antes ficou estabelecido. Por

    onde devemos concluir que, assim como a razo especulativa, de princpios indemonstrveis

    e evidentes tira as concluses das diversas cincias, cujo conhecimento no existe em ns

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    10/28

    naturalmente, mas so descobertos por indstria da razo; assim tambm, dos preceitos da

    lei natural, como de princpios gerais e indemonstrveis, necessariamente a razo humana

    h de proceder a certas disposies mais particulares. E estas disposies particulares,

    descobertas pela razo humana, observadas as outras condies pertencentes essncia da

    lei, chamam-se leis humanas como j dissemos (q. 90, a. 2, a. 3, a. 4). E por isso, Tlio, na

    sua Retrica, diz que a origem do direito est na natureza; da, em razo da utilidade,

    nasceram certas disposies costumeiras; depois, o medo e a religio sancionaram essas

    disposies oriundas da natureza e aprovadas pelo costume.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. A razo humana no pode participar

    plenamente do ditame da razo divina; mas o pode ao seu modo e imperfeitamente. Por

    onde, pela razo especulativa, por uma participao natural da sabedoria divina, temos o

    conhecimento de certos princpios comuns, mas no o conhecimento prprio de qualquer

    verdade, como a contm a sabedoria divina. Assim tambm, pela razo prtica, o homem

    naturalmente participa da lei eterna relativamente a certos princpios comuns, mas no

    quanto a direes particulares de determinados atos, que contudo esto contidos na lei

    eterna. Por onde, necessrio, ulteriormente, que a razo humana proceda a certas

    disposies particulares das leis.

    RESPOSTA SEGUNDA. A razo humana, em si mesma, no a regra das coisas; mas os

    princpios, que lhe so naturalmente inerentes, so certas regras gerais, e medidas de tudo o

    que o homem deve fazer; do que a razo natural a regra e a medida, embora no seja a

    medida do que natural.

    RESPOSTA TERCEIRA. A razo prtica versa sobre os atos, que so particulares e

    contingentes; no porm, sobre o que necessrio, como a razo especulativa. Por onde, as

    leis humanas no podem ter aquela infalibilidade que tm as concluses demonstrativas das

    cincias. Nem necessrio seja toda medida absolutamente infalvel e certa, mas deve s-lo

    enquanto isso lhe genericamente possvel.

    Art. 4 Se necessrio haver uma lei divina.

    (I, q. 1. a. 1; II-II, q. 22, a. I, ad 1; III, q. 60, a. 5, ad 3; III Sent., dist. XXXVII, a. 1; In

    Psalm. XVIII; Ad Galat., cap. III, lect. VII).

    O quarto discute-se assim. Parece que no necessrio haver nenhuma lei divina.

    1. Pois, como j se disse (a. 2), a lei natural uma participao da lei eterna em ns. Ora,

    a lei eterna a lei divina, como j se disse (a. 1). Logo, no necessrio haver uma lei

    divina, alm da natural e das leis humanas dela derivadas.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    11/28

    2. Demais. A Escritura diz (Sr 15, 14): Deus deixou o homem na mo do seu conselho.

    Ora, o conselho ato de razo, como j se estabeleceu (q. 14, a. 1). Logo, o homem foi

    deixado ao governo da sua razo. Ora, o ditame da razo humana a lei humana, como j

    se disse (a. 3). Logo, no necessrio seja o homem governado por nenhuma lei divina.

    3. Demais. A natureza humana mais capaz do que a das criaturas irracionais. Ora, as

    criaturas irracionais no esto sujeitas a nenhuma lei divina, alm da inclinao natural, que

    lhes inerente. Logo, com maior razo, no deve a criatura racional estar sujeita a qualquer

    lei divina, alm da natural.

    Mas, em contrrio, David pede a Deus que lhe imponha uma lei, dizendo (Sl 118, 33):

    Impe-me por lei, Senhor, o caminho das tuas justificaes.

    SOLUO. Alm da lei natural e da humana, necessrio, para a direo da vida humana,

    haver uma lei divina. E isto por quatro razes. Primeiro, porque pela lei o homem dirige os

    seus atos em ordem ao fim ltimo. Ora, se ele se ordenasse s para um fim que lhe no

    excedesse a capacidade das faculdades naturais, no teria necessidade de nenhuma regra

    racional, superior lei natural e humana desta derivada. Mas como o homem se ordena ao

    fim da beatitude eterna, excedente capacidade natural das suas faculdades, como j

    estabelecemos (q. 5, a. 5), necessrio que, alm da lei natural e da humana, seja tambm

    dirigido ao seu fim por uma lei imposta por Deus. Segundo, da incerteza do juzo humano,

    sobretudo no atinente s coisas contingentes e particulares, originam-se juzos diversos

    sobre atos humanos diversos;donde, por sua vez, procedem leis diversas e contrrias.

    Portanto, para poder o homem, sem nenhuma dvida, saber o que deve fazer e o que deve

    evitar, necessrio dirija os seus atos prprios pela lei estabelecida por Deus, que sabe no

    poder errar. Terceiro, porque o homem s pode legislar sobre o que pode julgar. Ora, no

    pode julgar dos atos internos, que so ocultos, mas s dos externos, que aparecem. E

    contudo, a perfeio da virtude exige que ele proceda retamente em relao a uns e a

    outros. Portanto, a lei humana, no podendo coibir e ordenar suficientemente os atos inter-

    nos, necessrio que, para tal, sobrevenha a lei divina. Quarto, porque, como diz

    Agostinho, a lei humana no pode punir ou proibir todas as malfeitorias. Pois, se quisesse

    eliminar todos os males, haveria conseqentemente de impedir muitos bens, impedindo

    assim a utilidade do bem comum, necessrio ao comrcio humano. Por onde, afim de

    nenhum mal ficar sem ser proibido e permanecer impune, necessrio sobrevir a lei divina,

    que probe todos os pecados. E essas quatro causas esto resumidas no salmo, que diz o

    seguinte (Sl 118, 8): A lei do Senhor que imaculada, i. , que no permite a torpeza de

    nenhum pecado; converte as almas, porque regula, no s os atos externos, mas tambm os

    internos; o testemunho do Senhor fiel, por causa da certeza da verdade e da retitude; e d

    sabedoria aos pequeninos, ordenando o homem a um fim sobrenatural e divino.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Pela lei natural, o homem participa da lei

    eterna, proporcionalmente capacidade da sua natureza. Mas importa que, de modo mais

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    12/28

    alto, seja levado ao fim ltimo e sobrenatural. E por isso se lhe acrescenta a lei dada por

    Deus, pela qual a lei eterna participada de modo mais elevado.

    RESPOSTA SEGUNDA. O conselho uma perquisio e, portanto, h de proceder de

    certos princpios. No basta porm que proceda de princpios naturalmente nsitos, que so

    os da lei natural, pelas razes j expostas. Mas necessrio que outros se lhes acrescentem

    e tais so os preceitos da lei divina.

    RESPOSTA TERCEIRA. As criaturas irracionais no se ordenam a um fim mais elevado

    do que o proporcionado capacidade natural delas. Logo, a comparao no colhe.

    Art. 5 Se h s uma lei divina.

    (Infra, q. 107, a. I; Ad Galat., cap. I, lect. II).

    O quinto discute-se assim. Parece que a lei divina uma s.

    1. Pois, no mesmo reino, s uma a lei do rei. Ora, todo o gnero humano est para Deus

    como para um rei, conforme quilo da Escritura (Sl 46, 8): Deus o rei de toda a terra.

    Logo, h uma s lei divina.

    2. Demais. Toda lei se ordena ao fim que o legislador visa relativamente aqueles para os

    quais legisla. Ora, em relao aos homens, Deus visa uma mesma coisa, segundo a Escritura(1 Tm 2, 4): Quer que todos os homens se salvem, e que cheguem a ter o conhecimento da

    verdade. Logo, s uma a lei divina.

    3. Demais. A lei divina parece estar mais prxima da lei eterna, que una, do que a lei

    natural, por ser mais elevada a revelao d graa do que o conhecimento da natureza. Ora,

    a lei natural a mesma para todos os homens. Logo, Com maior razo, a lei divina.

    Mas, em contrrio, diz o Apstolo (Heb 7, 12): Mudado que seja o sacerdcio, necessrio

    que se faa tambm mudana da lei. Ora, como no mesmo lugar se diz, duplo osacerdcio: o levtico e o de Cristo. Logo, tambm dupla h de ser a lei divina; a antiga e a

    nova.

    SOLUO. Como j dissemos na Primeira Parte (q. 30, a. 3), a distino a causa do

    nmero. Ora, de dois modos podem as coisas se distinguir. De um, quando absoluta e

    especificamente diversas, como o cavalo e o boi. De outro, como o perfeito se distingue

    do imperfeito, dentro da mesma espcie; assim, a criana, do homem. Ora, deste modo

    que a lei divina se distingue em lei antiga e nova. Por onde, o Apstolo (Gl 3, 24-25)

    compara o estado da lei antiga ao da criana dirigida por um mestre; e o da lei nova, ao dohomem perfeito, que j no precisa de mestre.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    13/28

    Ora, a perfeio e imperfeio da lei se fundam nas suas trs funes, j antes expostas.

    Assim, primeiramente, pertence lei ordenar para o bem comum, como para o fim, segundo

    j dissemos (q. 90, a. 2). E esse bem pode ser duplo. Um o bem sensvel e terreno, ao

    qual ordenava diretamente a lei antiga. Por isso, logo no princpio dela, o povo convidado

    ao reino terrestre dos cananeus. O outro o bem inteligvel e celeste, ao qual ordena a lei

    nova. Por isso, Cristo, logo no princpio da sua pregao, convida para o reino dos cus,

    dizendo (Mt 4, 17): Fazei penitncia, porque est prximo o reino dos cus. Donde o dizer

    Agostinho, que as promessas das coisas temporrias esto contidas no Antigo Testamento,

    que, por isso, se chama antigo; ao passo que a promessa da vida eterna pertence ao Novo

    Testamento. Em segundo lugar, lei pertence dirigir os atos humanos conforme ordem da

    justia. No que tambm a lei nova extravaga da antiga, ordenando os atos internos da alma,

    conforme quilo da Escritura (Mt 5, 20): Se a vossa justia no for maior e mais perfeita do

    que a dos Escribas e dos Fariseus, no entrareis no reino dos cus . E, por isso se diz, que a

    lei antiga cobe as mos, a nova, a alma. Em terceiro lugar, lei pertence levar os

    homens observncia dos mandamentos. E isto, que a lei antiga fazia, pelo temor das

    penas, a nova o faz pelo amor, infundido em nossos coraes pela graa de Cristo, conferida

    na lei nova, e figurada apenas, na antiga. Donde o dizer Agostinho: O temor e o amor, eis a

    breve diferena entre a Lei e o Evangelho.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Na casa o pai de famlia prope uma ordem

    aos filhos e outra, aos adultos. Assim tambm o mesmo rei, Deus, d, no seu reino, uma lei

    aos homens, que ainda vivem na imperfeio, e outra, mais perfeita, aos que pela lei

    anterior chegaram capacidade maior das coisas divinas.

    RESPOSTA SEGUNDA. A salvao dos homens no podia vir seno de Cristo, conforme

    Escritura (At 4, 12): Nenhum outro nome foi dado aos homens pelo qual ns devamos ser

    salvos. Por onde, a lei, que perfeitamente conduz todos salvao, no podia ser dada

    seno depois do advento de Cristo. Mas antes dela, era necessrio fosse dada ao povo, do

    qual Cristo havia de nascer, uma lei preparatria para receb-lo, em que j se achassem

    contidos certos rudimentos da justia salvfica.

    RESPOSTA TERCEIRA. A lei natural dirige o homem por certos preceitos gerais, em que

    convm tanto os perfeitos como os imperfeitos. Por isso a mesma para todos. Ao passo

    que a lei divina o dirige mesmo em certas particularidades, em que os perfeitos no se

    comportam do mesmo modo que os imperfeitos. Por isso, a lei tinha que ser dupla, como

    ficou dito.

    Art. 6 Se h uma lei constituda pelo estmulo da

    sensualidade.

    (Infra. q. 93. a. 3; Ad Rom., cap. VII. lect. IV).

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    14/28

    O sexto discute-se assim. Parece que no h uma lei constituda pelo estmulo da

    sensualidade.

    1. Pois, como diz Isidoro, a lei consiste na razo. Ora, o estmulo da sensualidade, longe

    de consistir na razo, desvia dela. Logo, no tem a natureza de lei.

    2. Demais. Toda lei obrigatria, de modo que so considerados transgressores os que

    no a observam. Ora, no transgressor quem no se submete ao estmulo da

    sensualidade, mas, ao contrrio, quem lhe obedece. Logo, ele no tem natureza de lei.

    3. Demais. A lei se ordena para o bem comum, como j se disse (q. 90, a. 2). Ora, o

    estimulo da sensualidade no inclina para esse bem, mas antes, para o particular. Logo, no

    tem natureza de lei.

    Mas, em contrrio, diz a Escritura (Rm 7, 23): Sinto nos meus membros outra lei, que

    repugna lei do meu esprito.

    SOLUO. Como j dissemos (a. 2; q. 90, a. 1 ad 1), a lei est essencialmente no sujeito

    que regula e mede; e, participativamente, no que medido e regulado. De modo que toda

    inclinao ou ordenao, existente em quem est sujeito lei, chama-se lei

    participativamente, como do sobredito resulta (a. 2; q. 90, a. 1 ad 1). Ora, de duas maneiras

    pode existir uma inclinao nos sbditos da lei, provinda do legislador. Ou porque este neles

    causa diretamente uma inclinao e inclina, s vezes, diversos para atos diversos; podendo-

    se, deste modo, dizer que uma a lei dos soldados e outra, a dos mercadores. Ou,

    indiretamente, quando o legislador, destituindo um seu sbdito de uma dignidade, falo, por

    conseqncia, passar para outra ordem, ficando como que sujeito a outra lei. Assim, o

    soldado, destitudo da milcia, ficar sujeito lei dos lavradores ou dos mercadores.

    Assim, pois, sob Deus legislador, criaturas diversas tm inclinaes naturais diversas, de

    modo que aquilo que para uma , de certo modo, lei, para outra contrrio lei. Por

    exemplo, ser bravo de certo modo a lei do co; mas contra a lei da ovelha ou de outro

    animal de ndole mansa. Ora, a lei do homem, que lhe coube por ordenao divina, deacordo com a sua condio, obrar de conformidade com a razo. E tanta fora tinha essa

    lei, no estado primitivo, que nada de preterracional ou de irracional podia surpreender o

    homem. Mas quando ele se afastou de Deus, incorreu na pena de ser arrastado pelo mpeto

    da sensualidade. O que se d com cada um em particular, quanto mais se afastar da razo;

    que, assim, de certo modo se assemelha aos brutos, levados pelo mpeto da sensualidade,

    conforme quilo da Escritura (Sl 48, 21):O homem, quando estava na honra, no o

    entendeu: foi comparado aos brutos irracionais, e se fez semelhante a eles. Por onde, a

    inclinao mesma de sensualidade, chamada estmulo, tem nos brutos, absolutamente,

    natureza de lei; do modo, porm, porque, em relao a eles se pode falar em lei no sentidode inclinao direta. Ao contrrio, relativamente ao homem, essa inclinao no tem

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    15/28

    natureza de lei, sendo antes, um desvio da lei da razo. Mas, por ter sido o homem, pela

    justia divina, destitudo da justia original, e perdido o vigor da razo, o mpeto mesmo da

    sensualidade, que o arrasta, tem natureza de lei, mas penal e, por lei divina, inseparvel do

    homem, destitudo da dignidade que lhe era prpria.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. A objeo procede quanto ao estmulo da

    sensualidade, em si mesmo considerado, e como inclinao para o mal. Pois, em tal sentido,

    no tem natureza de lei, como j se disse, ao passo que a ter enquanto resultante da

    justia da lei divina. Tal como se dissssemos ser lei que a um nobre, por sua culpa, se

    permitisse ser submetido a obras servis.

    RESPOSTA SEGUNDA. A objeo colhe quanto lei como regra e medida; pois, assim,

    os que dela desviam vem a ser transgressores. Mas, nesse sentido, o estmulo da

    sensualidade no uma lei mas, sim, por uma certa participao, como j se disse.

    RESPOSTA TERCEIRA. A objeo colhe relativamente ao estmulo da sensualidade,

    quanto sua inclinao prpria; no porm, quanto sua origem. E contudo, considerada a

    inclinao da sensualidade, tal como existe nos brutos, ela se ordena para o bem comum, i.

    , para a conservao da natureza da espcie ou do indivduo. O que tambm se d com o

    homem, desde que a sensualidade esteja sujeita razo. Mas se chama estmulo da

    sensualidade na medida em que foge ordem da razo.

    Questo 92: Dos efeitos da lei.

    Em seguida devemos tratar dos efeitos da lei. E nesta questo dois artigos

    se discutem:

    Art. 1 Se o efeito da lei tornar os homens bons.

    (II Cont. Gent., cap. CXVI: X Ethic., Irect., Iect. XIV).

    O primeiro discute-se assim.

    Parece que o efeito da lei no tornar os homens bons.

    1. Pois, os homens so bons pela virtude, que torna bom quem a tem, como diz

    Aristteles. Ora, a virtude do homem vem-lhe de Deus, que a produz em ns, sem ns,

    como se disse a propsito da definio da virtude (q. 55, a. 4). Logo, no compete lei

    tornar os homens bons.

    2. Demais. A lei no til ao homem se ele no lhe obedecer. Ora, j por bondade que

    o homem obedece lei. Logo, antes da lei, -lhe necessria a bondade. Logo, no ela que

    torna os homens bons.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    16/28

    3. Demais. A lei se ordena para o bem comum, como j se disse (q. 90, a. 2). Ora, certos,

    que procedem retamente no atinente ao bem comum, no o fazem em relao ao prprio.

    Logo, no pertence lei tornar os homens bons.

    4. Demais. Certas leis so tirnicas, como diz o Filsofo. Ora, o tirano no busca o bem

    dos sbditos, mas a utilidade prpria. Logo, no pertence lei tornar os homens bons.

    Mas, em contrrio, diz o Filsofo: A vontade de todo legislador tornar os cidados bons.

    SOLUO. Como j dissemos (q. 90, a. 1 ad 2; a. 3, a. 4), a lei no seno o ditame da

    razo do chefe, que governa os sbditos. Ora, a virtude de todo sbdito est em submeter-

    se bem quele por quem governado; assim como a virtude do irascvel e do concupiscvel

    consiste em serem bem obedientes razo. E assim, a virtude de qualquer sbdito est em

    sujeitar-se bem ao que governa, como diz o Filsofo. Pois, toda lei estabelecida para ser

    obedecida pelos sbditos. Por onde manifesto, que prprio da lei levar os sbditos a

    serem virtuosos. Ora, como a virtude que torna bom quem a tem, segue-se que efeito

    prprio da lei tornar bons, absoluta ou relativamente, aqueles para os quais foi dada. Assim,

    se a inteno do legislador visar o verdadeiro bem, que o bem comum; regulado pela

    justia divina, resulta que, pela lei, os homens se tornaro absolutamente bons. Se for,

    porm, a inteno do legislador o bem no absoluto, mas o til, o deleitvel ou o que

    repugna justia divina, ento a lei tornar os homens bons, no absoluta, mas rela-

    tivamente, em ordem a um determinado regime. Por onde, existe bem, ainda nos que so,

    em si mesmos, maus; assim, chama-se bom ladro o que age bem em vista dos seus fins.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Dupla a virtude, como do sobredito se colhe

    (q. 63, a. 2): a adquirida e a infusa. Ora, para uma e outra contribui o agir costumeiro, mas

    diversamente; pois, causa a virtude adquirida, dispe para a infusa, e conserva e promove a

    j adquirida. E como a lei dada para dirigir os atos humanos, na medida em que eles levam

    para a virtude, nessa mesma a lei torna bons os homens. Donde o dizer o Filsofo: Os

    legisladores tornam os cidados bons, imprimindo-lhes bons hbitos.

    RESPOSTA SEGUNDA. Nem sempre obedecemos lei pela bondade de uma virtude per-

    feita; mas umas vezes, pelo temor da pena, outras, pelo s ditame da razo, que um prin-cpio de virtude, como j estabelecemos (q. 63, a. 1).

    RESPOSTA TERCEIRA. A bondade da parte considerada relativamente do todo; por

    isso, diz Agostinho, m toda parte que no se coaduna com o todo. Sendo pois cada

    homem parte da cidade, impossvel seja bom sem ser bem proporcionado ao bem comum;

    nem o todo pode ter boa consistncia seno pelas partes, que lhe sejam proporcionadas. Por

    onde, impossvel manter-se o bem comum da cidade sem os cidados serem virtuosos, ao

    menos aqueles a quem cabe governar. Pois basta, para o bem da comunidade, que os

    cidados sejam virtuosos na medida em que obedecem s ordens do chefe. E por isso o

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    17/28

    Filsofo diz: A virtude do chefe e a do bom cidado a mesma; mas no a mesma que a

    do bom cidado a virtude de um cidado qualquer.

    RESPOSTA QUARTA. A lei tirnica, no estando de acordo com a razo, no , absolu-

    tamente falando, lei; antes, uma perverso dela. E contudo, na medida em que participa

    da essncia da lei, tende a tornar bons os cidados. Ora, da essncia da lei no participa,

    seno na medida em que um ditame de quem governa os seus sbditos e tende a que eles

    sejam obedientes lei. O que torn-los bons, no absolutamente, mas em relao ao

    regime.

    Art. 2 Se os atos da lei esto convenientemente

    assinalados na expresso: so atos da lei ordenar

    proibir permitir e punir.

    O segundo discute-se assim. Parece que os atos da lei no esto convenientemente assi-

    nalados na expresso: so atos da lei ordenar, proibir, permitir e punir.

    1. Pois, toda lei um preceito geral, como diz o jurisconsulto. Ora, ordenar a mesma

    coisa que preceituar. Logo, os trs outros membros da enumerao tornam-se suprfluos.

    2. Demais. O efeito da lei levar os sbditos para o bem, como j se disse (a. 1). Ora, o

    conselho visa um bem melhor que o do preceito. Logo, lei pertence, antes aconselhar que

    mandar.

    3. Demais. Assim como o homem incitado ao bem pelas penas, tambm o pelos pr-

    mios. Logo, se punir considerado efeito da lei, tambm o premiar deve s-lo.

    4. Demais. A inteno do legislador tornar bons os homens, como j se disse (a. 1).

    Ora, quem s por medo das penas obedece lei no bom. Pois embora pelo temor servil,

    que o temor das penas, algum possa fazer o bem, no o faz contudo bem, como diz

    Agostinho. Logo, parece no ser prprio da lei punir.

    Mas, em contrrio, diz Isidoro: Toda lei ou permite alguma coisa, p. ex., que o homem forte

    busque o prmio; ou probe, p. ex., que a ningum lcito desposar uma virgem

    consagrada; ou pune, p. ex., com pena capital quem cometeu uma morte.

    SOLUO. Como um enunciado um ditame da razo expresso pela enunciao, assim a

    lei o , expresso a modo de preceito. Ora, prprio razo passar de uma proposio para

    outra. Por onde, assim como nas cincias demonstrativas a razo leva a assentirmos na con-

    cluso, em virtude de certos princpios, assim tambm leva a assentirmos no preceito de lei,

    por alguns princpios.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    18/28

    Ora, as ordens da lei regulam atos humanos, que ela dirige, como j dissemos (q. 90, a. 1,

    a. 2; q. 91, a. 4), e que so de diferentes espcies. Pois, segundo j ficou dito (q. 18, a. 8),

    certos atos so genericamente bons, e so os das virtudes. E em relao a estes se diz que

    ato da lei preceituar ou ordenar, porque a lei preceitua todos os atos das virtudes, como diz

    Aristteles. Outros atos so genericamente maus, como os atos viciosos. E estes a lei os

    probe. Outros ainda so genericamente indiferentes; e estes ela os permite. Tambm

    podem considerar-se indiferentes todos os atos que so pouco bons ou pouco maus.

    Enfim, o meio pelo qual a lei se faz obedecer o temor da pena. E por aqui se considera

    como efeito dela punir.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Assim como cessar o mal de certo modo

    bem; assim, a proibio tem de certo modo natureza de preceito. E a esta luz, tomando em

    sentido lato a palavra preceito, a lei universalmente chamada preceito.

    RESPOSTA SEGUNDA. Aconselhar no ato prprio da lei, e pode pertencer mesmo a

    um particular, que no pode legislar. Por isso, o prprio Apstolo, ao dar um conselho, disse:

    Eu que digo, no o Senhor. Por isso, no considerado como efeito da lei.

    RESPOSTA TERCEIRA. Tambm o premiar pode pertencer a qualquer pessoa, ao passo

    que punir no cabe seno ao ministro da lei, por cuja autoridade a pena aplicada. Por isso,

    premiar no considerado como ato da lei, mas s punir.

    RESPOSTA QUARTA. Comeando algum a acostumar-se a evitar o mal e a fazer o bem,

    pelo temor da pena, levado s vezes a pratic-lo por vontade prpria e com prazer. E

    assim, a lei, mesmo punindo, leva os homens a se tornarem bons.

    Questo 93: Da lei eterna.

    Em seguida devemos tratar das leis em particular. E primeiro da lei

    eterna. Segundo da lei natural. Terceiro da lei humana. Quarto da lei

    antiga. Quinto da lei nova que a lei do Evangelho. E quanto sexta lei

    que a do estmulo basta o que j foi dito quando tratamos do pecado

    original.

    Na primeira questo discutem-se seis artigos:

    Art. 1 Se a lei eterna a razo suma existente em

    Deus.

    (Supra, q. 91, a. 1).

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    19/28

    O primeiro discute-se assim. Parece que no a lei eterna a razo suma existente em

    Deus.

    1. Pois, a lei eterna uma s. Ora, as razes das coisas na mente divina so vrias;

    assim, Agostinho diz, que Deus fez todas as coisas com razes prprias. Logo, parece que a

    lei eterna no o mesmo que a razo existente na mente divina.

    2. Demais. da natureza da lei ser promulgada verbalmente, como j se disse (q. 90, a.

    4). Ora, em Deus o Verbo considerado pessoalmente, como se estabeleceu na Primeira

    Parte (q. 34, a. 1); ao passo que a razo o essencialmente. Logo, a lei eterna no o

    mesmo que a razo divina.

    3. Demais. Agostinho diz: A lei, que chamada verdade, aparece como estando acima da

    nossa mente. Ora, a lei existente como superior nossa mente a lei eterna. Logo, a

    verdade a lei eterna. Mas a verdade e a razo no tm a mesma essncia. Logo, a lei

    eterna no o mesmo que a razo suma.

    Mas, em contrrio, Agostinho diz: A lei eterna a razo suma, a que sempre devemos

    obedecer.

    SOLUO. Assim como em todo artfice preexiste razo do que ele faz, com a sua arte,

    assim tambm, em todo governante necessrio preexista razo da ordem daquilo que

    devem fazer os que lhe esto sujeitos ao governo. E como a razo das coisas, que devem ser

    feitas pela arte, chama-se arte ou exemplar das coisas artificiadas, assim a razo de quem

    governa os atos dos sbditos assume a natureza de lei, salvo tudo quanto j foi dito a

    respeito da essncia da lei (q. 90). Ora, Deus, com sua sabedoria, o criador da

    universidade das coisas, para as quais est como o artfice, para as coisas artificiadas,

    conforme na Primeira Parte foi estabelecido (q. 14, a. 8). Pois, tambm o governador de

    todos os atos e moes de cada criatura, segundo tambm se estabeleceu na Primeira Parte

    (q. 103, a. 5). Por onde, assim como a razo da sabedoria divina tem, como criadora de

    todas as coisas, natureza de arte, exemplar ou idia; assim a razo dessa mesma sabedoria,

    que move todas as coisas para o fim devido, tem natureza de lei. E sendo assim, a lei eterna

    no mais que a razo da sabedoria divina, enquanto diretiva de todos os atos e moes.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Agostinho se refere, no passo aduzido, s

    razes ideais, que respeitam s naturezas prprias de cada coisa. Por isso h nelas uma

    certa distino e pluralidade, conforme as diversas relaes com as coisas, como se

    estabeleceu na Primeira Parte (q. 15, a. 2). Porm a lei considerada como diretiva dos atos

    em relao ao bem comum, como j se disse (q. 90, a. 2). Ora, coisas entre si diversas

    consideram-se como unificadas, quando se ordenam para algo de comum. Portanto, a lei

    eterna uma, ela que a razo da referida ordem.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    20/28

    RESPOSTA SEGUNDA. Duas consideraes podem ser feitas a propsito de qualquer

    palavra: sobre a palavra mesma, e o que ela exprime. Ora, a palavra vocal proferida pela

    boca humana; e por ela se exprimem as coisas significadas pelas palavras humanas. E a

    mesma a essncia do verbo mental humano, que no seno um conceito da mente, pela

    qual o homem exprime mentalmente aquilo que pensa. Por onde, em Deus, o Verbo, que o

    conceito do intelecto paterno, significa uma pessoa; mas tudo o que est na cincia do Pai,

    seja o que essencial, ou pessoal, ou ainda as obras de Deus, exprime-se por esse Verbo,

    como est claro em Agostinho. E entre outras expresses, por esse Verbo tambm se

    exprime a lei eterna. Mas daqui no se segue que a lei eterna seja considerada como algo de

    pessoal, em Deus. Pois ela apropriada ao Filho, por causa da convenincia que a razo tem

    com o Verbo.

    RESPOSTA TERCEIRA. A razo do intelecto divino tem com as coisas uma relao dife-

    rente da que com elas tem a do intelecto humano. Pois, o intelecto humano medido pelas

    coisas, de modo que um conceito humano no verdadeiro em si mesmo, seno pela sua

    conformidade com as coisas. Porque segundo uma coisa ou no, a nossa opinio

    verdadeira ou falsa. Ao contrrio, o intelecto divino a medida das coisas; porque cada uma

    delas verdadeira na medida em que imita o intelecto divino, como na Primeira Parte se

    disse (q. 16, a. 1). E portanto, o intelecto divino verdadeiro em si mesmo. Por onde, a sua

    razo a verdade mesma.

    Art. 2 Se a lei eterna conhecida de todos.

    (Supra, q. 19, a. 4, ad 3; In Iob, cap. XI, lect. I).

    O segundo discute-se assim. Parece que a lei eterna no conhecida de todos.

    1. Pois, como diz o Apstolo (1 Co 2, 11), as coisas de Deus ningum as conhece seno o

    Esprito de Deus. Ora, a lei eterna uma razo existente na mente divina. Logo,

    desconhecida de todos, menos de Deus.

    2. Demais. Como diz Agostinho, pela lei eterna justo que todas as coisas sejamordenadssimas. Ora, nem todos sabem como todas as coisas so ordenadissmas. Logo,

    nem todos conhecem a lei eterna.

    3. Demais. Agostinho diz: A lei eterna a de que os homens no podem julgar. Ora, no

    dizer de Aristteles, cada qual julga bem aquilo que conhece. Logo, a lei eterna de ns no

    conhecida.

    Mas, em contrrio, diz Agostinho: O conhecimento da lei eterna est impresso em ns.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    21/28

    SOLUO. De dois modos pode um objeto ser conhecido: em si mesmo; e no seu efeito,

    onde se encontra alguma semelhana dele. Assim, quem no v o sol na sua substncia

    conhece-o pela irradiao. Por onde, deve-se dizer que a lei eterna ningum pode conhec-la

    como em si mesma , seno s os bem-aventurados, que vem a Deus em essncia. Mas

    toda criatura racional a conhece por alguma maior ou menor irradiao dela. Pois, todo

    conhecimento da verdade uma certa irradiao e participao da lei eterna, que a

    verdade imutvel, como diz Agostinho. Ora, a verdade todos de certo modo a conhecem,

    pelo menos quanto aos princpios comuns da lei natural. Quanto aos outros, uns participam

    mais e outros, menos do conhecimento da verdade; e assim tambm conhecem mais ou

    menos a lei eterna.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. As coisas de Deus no podem, em si

    mesmas, ser conhecidas de ns, mas se manifestam pelos seus efeitos, conforme quilo da

    Escritura (Rm 1, 20): As coisas invisveis de Deus se vem, consideradas pelas obras que

    foram feitas.

    RESPOSTA SEGUNDA. Embora cada um conhea a lei eterna segundo a sua capacidade,

    do modo por que acabamos de dizer, ningum contudo pode compreend-la, porque ela no

    pode manifestar-se totalmente pelos seus efeitos. Por onde, no necessrio, que quem

    conhece a lei eterna, da maneira predita, conhea toda a ordem das coisas, pela qual todas

    elas so ordenadssimas.

    RESPOSTA TERCEIRA. O julgar das coisas pode ser entendido em duplo sentido. De

    um modo, como a faculdade cognitiva julga do seu objeto prprio, conforme quilo da Escri-

    tura (J 12, 11): Porventura o ouvido no julga das palavras e o paladar de quem come no

    julga do sabor?E conforme a este modo de julgar, o Filsofo diz que cada qual julga bem

    aquilo que conhece, i. , julgando se o que lhe proposto verdade. De outro modo,

    como o superior julga do inferior, por um juzo prtico, i. , se deve ser de tal maneira e no

    de tal outra. E assim, ningum pode julgar da lei eterna.

    Art. 3 Se toda lei deriva da lei eterna.

    O terceiro discute-se assim. Parece que nem toda lei deriva da lei eterna.

    1. Pois, h uma lei do estmulo, como j se disse (q. 91, a. 6). Ora, no deriva da lei

    divina, que eterna, porque a ela pertence prudncia da carne, da qual diz o Apstolo (Rm

    8, 7), que no sujeito da lei eterna.

    2. Demais. Nada de inquo pode proceder da lei eterna, pois, como j se disse (a. 2 arg.

    2), pela lei eterna justo que todas as coisas sejam ordenadssimas. Ora, certas leis so

    inquas, conforme aquilo da Escritura (Is 10, 1): Ai dos que estabelecem leis inquas. Logo,nem toda lei procede da lei eterna.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    22/28

    3. Demais. Agostinho diz: A lei escrita para governar o povo permite, retamente, muitas

    coisas que so castigadas pela Providncia Divina. Ora, a razo da Providncia Divina a lei

    eterna, como j se disse (q. 93, a. 1). Logo, nem mesmo toda lei reta procede da lei eterna.

    Mas, em contrrio, diz a Escritura (Pr 8, 15): Por mim reinam os reis, e por mim decretam os

    legisladores o que justo. Ora, a razo da divina sabedoria a lei eterna, como j se disse

    (a. 1). Logo, todas as leis procedem da eterna.

    SOLUO. Como j dissemos (q. 90, a. 1, a. 2), a lei implica uma certa razo diretiva dos

    atos para um fim. Ora, em todos os motores ordenados, necessrio que a fora do motor

    segundo derive da fora do primeiro; pois aquele no move seno enquanto movido por

    este. E vemos o mesmo se passar com todos os governantes: a razo do governo deriva do

    primeiro governante para os segundos; assim como a razo do que deve, na cidade, ser

    feito, deriva do rei, por meio de um preceito, para os administradores subalternos. E

    tambm nas artes, a razo dos atos artsticos deriva do mestre de obras para os artfices

    inferiores, que obram manualmente. Por onde, sendo a lei eterna a razo do governo no

    supremo governador, necessrio que todas as razes do governo, existentes nos

    governantes inferiores, derivem dela. Ora, todas essas razes dos governantes inferiores so

    leis outras que no a lei eterna. Portanto, todas as leis, na medida em que participam da

    razo reta, nessa mesma derivam da lei eterna. E por isso Agostinho diz: Nada h de justo e

    legtimo, nas leis temporais, que os homens no tivessem para si ido buscar na lei eterna.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. O estmulo tem no homem natureza da lei,

    enquanto pena resultante da divina justia, e sendo assim manifesto que deriva da lei

    eterna. Mas enquanto inclina para o pecado, contraria a lei de Deus e no tem natureza de

    lei, como do sobredito resulta (q. 91, a. 6).

    RESPOSTA SEGUNDA. A lei humana tem natureza de lei, na medida em que conforme

    a razo reta; e assim manifesto, que deriva da lei eterna. Mas, na medida em que se

    afasta da razo, considerada lei inqua; e ento, no tem natureza de lei, mas antes, de

    violncia. E contudo, a prpria lei inqua, na medida em que guarda uma semelhana com a

    lei, pela ordem do poder de quem a fez, nessa mesma medida tambm deriva da lei eterna;pois, no h potestade que no venha de Deus, no dizer do Apstolo (Rm 13, 1).

    RESPOSTA TERCEIRA. Diz-se que a lei humana permite certas coisas, no pelas

    aprovar, mas pelas no poder dirigir. Pois, muitas coisas, das dirigidas pela lei divina, no o

    podem ser pela lei humana, porque o domnio da lei superior mais vasto que o da inferior.

    Por onde, o mesmo no intrometer-se a lei humana naquilo que no pode dirigir, provm da

    ordem da lei eterna. O contrrio se daria se aprovasse o que a lei eterna reprova. Por isso

    daqui no se conclui, que no derive a lei humana da eterna, mas sim, que no pode ter

    perfeita conformidade com ela.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    23/28

    Art. 4 Se o necessrio e o eterno esto sujeitos lei

    eterna.

    O quarto discute-se assim. Parece que o necessrio e o eterno esto sujeitos lei eterna.

    1. Pois, tudo o que racional est sujeito razo. Ora, a vontade divina, sendo justa,

    racional. Logo, est sujeita razo. Ora, a lei eterna a razo divina. Portanto, a vontade de

    Deus est sujeita lei eterna. E como a vontade de Deus algo de eterno, resulta que

    tambm o eterno e o necessrio esto sujeitos lei eterna.

    2. Demais. Tudo o que est sujeito ao rei, est sujeito lei do mesmo. Ora, o Filho, no

    dizer da Escritura (1 Co 15, 28-29), quando lhe tiver entregado o reino, estar sujeito a

    Deus e ao Padre. Logo, o Filho, que eterno, est sujeito lei eterna.

    3. Demais. A lei eterna a razo da Divina Providncia. Ora, muitas coisas necessrias

    esto sujeitas a ela, como as substncias incorpreas e os corpos celestes permanentes.

    Logo, o necessrio tambm est sujeito lei eterna.

    Mas, em contrrio. O necessrio, sendo impossvel sofrer mudana, no precisa de

    coibio. Ora, a lei imposta ao homem para coibi-lo do mal, como do sobredito resulta (q.

    92, a. 2). Logo, o necessrio no est sujeito lei.

    SOLUO. Como j dissemos (a. 1), a lei eterna a razo do governo divino. Por onde,

    tudo o que est sujeito ao governo divino o est tambm lei eterna; e o que no estsujeito a esse governo, nem lei eterna o est. E esta distino pode se fundar nas coisas

    que nos circundam. Assim, ao governo humano est sujeito o que pode ser feito pelos

    homens; o que porm pertence natureza humana, como ter alma, mos ou ps, no

    depende do governo humano. Por onde, lei eterna esto sujeitas todas as coisas criadas

    por Deus, quer contingentes, quer necessrias; no est sujeito porm a essa lei o que

    pertence natureza ou essncia divina, que constitui realmente a lei eterna mesma.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. A vontade de Deus podemos consider-la de

    dois modos. De um modo, em si mesma. E ento, sendo a vontade de Deus a essnciamesma dele, no est sujeita ao governo divino, nem lei eterna, com a qual se identifica.

    De outro modo podemos consider-la em relao quilo que Deus quer das criaturas, as

    quais esto sujeitas lei eterna, por terem a sua razo na sabedoria divina. E por isso

    dizemos, que a vontade de Deus racional. Pois, do contrrio, em si mesma, deveria ser

    considerada, antes como a prpria razo.

    RESPOSTA SEGUNDA. O Filho no foi feito por Deus, mas dele naturalmente gerado.

    Por isso, no est sujeito Providncia Divina, nem lei eterna; antes, por uma certa

    apropriao, ele mesmo a lei eterna, como claramente o diz Agostinho. E dizemos que est

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    24/28

    sujeito ao Pai, em virtude da natureza humana, pela qual tambm dizemos que o Pai maior

    que ele.

    TERCEIRA OBJEO CONCEDEMOS. Por proceder do necessrio criado.

    RESPOSTA QUARTA. Como diz o Filsofo, certas coisas necessrias tm, a causa da sua

    necessidade; e assim, a mesma impossibilidade de existirem de outro modo provm-lhes de

    outro ser; e isso mesmo uma certa e eficacssima coibio. Pois, tudo o que coibido, em

    geral, dizemos que o , na medida em que no pode agir diferentemente da disposio que

    tem.

    Art. 5 Se os contingentes naturais esto sujeitos

    lei eterna.

    O quinto discute-se assim. Parece que os contingentes naturais no esto sujeitos lei

    eterna.

    1. Pois, a promulgao da essncia da lei, como j se disse (q. 90, a. 4). Ora, a

    promulgao no pode ser feita seno para criaturas racionais, a que alguma coisa pode ser

    anunciada. Logo, s as criaturas racionais esto sujeitas lei eterna, e portanto no o esto

    os contingentes naturais.

    2. Demais. O que obedece razo dela participa, de certo modo, como diz Aristteles.Ora, a lei eterna a razo suma, como j se disse (a. 1). Logo, como os contingentes

    naturais no participam de nenhum modo da razo, mas ao contrrio, so irracionais, parece

    que no esto sujeitos lei eterna.

    3. Demais. A lei eterna eficacssima. Ora os contingentes naturais so susceptveis de

    deficincias. Logo, no esto sujeitos lei eterna.

    Mas, em contrrio, diz a Escritura (Pr 8, 29): Quando circunscrevia ao mar o seu termo, e

    punha lei s guas para que no passassem os seus limites.

    SOLUO. O que se diz da lei humana no o mesmo que o dito da lei eterna, que a lei

    de Deus. Pois, a lei humana se estende somente s criaturas racionais sujeitas ao homem. E

    a razo que a lei diretiva dos atos prprios aos sbditos de um governo; por isso,

    ningum, propriamente falando, impe lei aos prprios atos. Ora, tudo o que o homem faz,

    usando dos seres irracionais, que lhe esto sujeitos, ele o faz por um ato prprio, que move

    tais seres. Pois, essas criaturas irracionais no agem por si mesmas, mas so levadas por

    outras, como j se disse (q. 1, a. 2). Por onde, o homem no pode impor lei aos seres

    irracionais, embora lhe estejam sujeitos. Mas o pode para os seres racionais, que lhe esto

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    25/28

    sujeitos, imprimindo-lhes no esprito, por um preceito ou um anncio qualquer, uma certa

    regra, que o princpio do agir.

    Ora, assim como o homem, por um enunciado, imprime um princpio interior aos atos de

    quem lhe est sujeito, assim tambm Deus imprime a toda a natureza os princpios dos atos

    prprios dela. E assim sendo, dizemos que Deus pe preceito para toda a natureza, con-

    forme a Escritura (Sl 148, 6): Preceito ps e no se quebrantar. E por esta mesma razo,

    todos os movimentos e aes de toda a natureza esto sujeitos lei eterna. Por onde, de

    outro modo que as criaturas irracionais esto sujeitas lei eterna: enquanto movidas pela

    Divina Providncia e no, pela inteligncia do preceito divino, como as criaturas racionais.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. A impresso ativa de um princpio intrnseco

    est para as coisas naturais, assim como a promulgao da lei est para os homens. Porque

    a promulgao da lei imprime nos homens um princpio diretivo dos seus atos, como j se

    disse.

    RESPOSTA SEGUNDA. As criaturas irracionais no participam da razo humana, nem lhe

    obedecem; participam porm, a modo de obedincia, da razo divina. Pois, o poder da razo

    divina tem maior extenso que o da razo humana. E assim como os membros do corpo

    humano movem-se pelo imprio da razo, mas dela no participam, porque no tm

    nenhuma apreenso ordenada para a razo, assim tambm as criaturas irracionais so

    movidas por Deus, sem por isso virem a ser racionais.

    RESPOSTA TERCEIRA. As deficincias ocorrentes nos seres naturais, embora estejam

    fora da ordem das causas particulares, no escapam contudo, das causas universais. E

    principalmente no escapam ordem da causa primeira, que Deus, a cuja Providncia

    nada pode fugir, como dissemos na Primeira Parte (q. 22, a. 2). E sendo a lei eterna a razo

    da Divina Providncia, como j dissemos (a. 1), as deficincias dos seres naturais esto

    sujeitas lei eterna.

    Art. 6 Se todas as coisas humanas esto sujeitas

    lei eterna.

    O sexto discute-se assim. Parece que nem todas as coisas humanas esto sujeitas lei

    eterna.

    1. Pois, diz o Apstolo (Gl 5, 18): Se vs sois guiados pelo esprito, no estais, debaixo da

    lei.Ora, os homens justos, filhos de Deus por adoo, so levados pelo esprito de Deus,

    conforme quilo da Escritura (Rm 8, 14): Os que so levados pelo esprito de Deus, estes

    so filhos de Deus. Logo, nem todos os homens esto sujeitos lei eterna.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    26/28

    2. Demais. O Apstolo diz (Rm 8, 7): A sabedoria da carne inimiga de Deus, pois no

    sujeita lei de Deus. Ora, h muitos homens em quem domina a sabedoria da carne. Logo,

    lei eterna, que a lei de Deus, no esto sujeitos todos os homens.

    3. Demais. Agostinho diz: Pela lei eterna que os maus merecem a misria e os bons, a

    vida feliz. Ora, os homens j bem-aventurados ou condenados no esto mais em estado de

    merecer. Logo, no esto sujeitos lei eterna.

    Mas, em contrrio, Agostinho: De nenhum modo, qualquer ser pode fugir s leis do sumo

    Criador e Ordenador, que estabelece a paz do universo.

    SOLUO. Duplo o modo por que um ser est sujeito lei eterna, como do sobredito

    resulta (a. 5). De um modo, enquanto pelo conhecimento participa da lei eterna; de outro,

    pela ao e pela passividade, participando dela como de princpio motivo interno. Ora,

    deste segundo modo que lei eterna esto sujeitas as criaturas irracionais, como j

    dissemos (a. 5). Mas a natureza racional tendo, alm do que lhe comum com todas as

    criaturas, algo de prprio, como racional que , est sujeita lei eterna de um e de outro

    modo. Pois, de um lado, tem de certa maneira a noo da lei eterna, segundo j dissemos

    (a. 2); e de outro, em toda criatura racional existe uma inclinao natural para o que est de

    acordo com a lei eterna, pois, -nos natural possuir as virtudes, como diz Aristteles.

    Ambos esses modos, porm, so nos maus, imperfeitos, e de certa maneira, corruptos. Pois,

    alm de terem a inclinao natural para a virtude depravada pelos hbitos viciosos, o prprio

    conhecimento natural do bem lhes est entenebrecido pelas paixes e pelos hbitos peca-

    minosos. Ao contrrio, nos bons um e outro modo existe da maneira mais perfeita, porque

    ao conhecimento natural do bem se lhes acrescenta o da f e da sapincia; e inclinao

    natural para o bem, o motivo interior da graa e da virtude.

    Por onde, os bons esto perfeitamente sujeitos lei eterna, por agirem sempre de acordo

    com ela. Os maus, por seu lado tambm lhe esto sujeitos, embora imperfeitamente, pelas

    suas aes, pela conhecerem imperfeitamente, e deste mesmo modo se inclinarem ao bem.

    Mas o que lhes falta na ao -lhes suprido pela paixo, pois, na medida em que deixaram

    de fazer o que exigia a lei eterna, nessa mesma ho de sofrer o que ela deles demanda.Donde o dizer Agostinho: Penso que os justos agem sujeitos lei eterna. E, noutra obra:

    Deus, por justa comiserao das almas que o abandonam, soube ordenar com leis

    convenientssimas as partes inferiores da sua criao.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. O lugar citado do Apstolo pode ser

    entendido em duplo sentido. Num, aquele que est sujeito lei est, contra a sua vontade,

    sujeito obrigao que ela impe, como se suportasse um peso. Donde o dizer a Glosa: Est

    sujeito lei quem se abstm das ms obras, pelo temor do suplcio, que a lei comina, e no,

    pelo amor da justia. E deste modo, os homens espirituais no esto sujeitos lei porque,pela caridade, que o Esprito Santo lhes infunde nos coraes, cumprem voluntariamente a

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    27/28

    exigncia legal. Noutro, o lugar citado pode ser entendido como querendo significar, que

    as obras do homem levado pelo Esprito Santo so consideradas, mais, como do Esprito

    Santo, que do homem mesmo. Por onde, o Esprito Santo, no estando sujeito lei, como

    no o est o Filho, segundo j foi dito (a. 4 ad 2), segue-se que as obras em questo,

    enquanto do Esprito Santo, no esto sob o imprio da lei. O que est conforme ao dito do

    Apstolo (2 Cor 3, 17): Onde h o Esprito do Senhor a h liberdade.

    RESPOSTA SEGUNDA. A sabedoria da carne, no pode estar sujeita lei de Deus, no

    concernente ao, pois inclina a aes contrrias lei divina. Mas lhe est sujeita, no

    concernente paixo, porque merece sofrer uma pena segundo a lei da divina justia.

    Contudo, em nenhum homem a sabedoria da carne domina a ponto de corromper totalmente

    o bem da natureza. Por isso, permanece no homem a inclinao para agir de conformidade

    com a lei eterna. Pois, como j ficou estabelecido (q. 85, a. 2), o pecado no priva

    totalmente do bem da natureza.

    RESPOSTA TERCEIRA. O que conserva um ser no seu fim, tambm o move para ele.

    Assim, o corpo pesado a gravidade falo repousar no lugar inferior, e tambm o move para

    esse lugar. Por onde, devemos dizer que, os que, pela lei eterna, merecem a beatitude ou a

    misria, tambm so, pela mesma lei, conservados naquela ou nesta. E assim sendo, os

    bem-aventurados e os condenados esto sujeitos lei eterna.

  • 8/11/2019 Suma Teolgica Tratado Da Lei - So Toms de Aquino

    28/28