11
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS – CCSH CURSO DE DIREITO DIURNO Disciplina: Direito Da Criança e do Adolescente Professora: Drª Rosane Leal da Silva Alunos: Ana Elisi Carbone Anversa, Ane Cristine Much Smolski, Henrique Cortina, Julianne Floriano Luiz Trabalho Avaliativo Valor: 4,0 A Justiça Restaurativa é uma prática de resolução e prevenção de conflitos, a qual é utilizada, principalmente, quando crianças e adolescentes são os infratores. É por meio da sensibilidade e da criatividade que o círculo de paz/conflito restaurativo (metodologia utilizada) apazigua o conflito entre vítima e acusado, buscando uma solução, na medida do possível, benéfica para todos. Em Santa Maria foi criado o Programa Municipal de Práticas Restaurativas nas escolas do município, pela Lei Municipal nº 6185/2017, o qual tem por finalidade, segundo a legislação, “ um conjunto articulado de estratégias inspiradas nos princípios da justiça restaurativa, abrangendo atividades de pedagogia social promotoras da cultura da paz e de diálogo, e implementadas mediante a oferta de serviços de melhoria das relações sociais, solução auto compositiva de prevenção e tratamento de conflitos nas escolas do Município de Santa Maria, com acolhimento humanizado.”.

nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS – CCSH

CURSO DE DIREITO DIURNO

Disciplina: Direito Da Criança e do Adolescente

Professora: Drª Rosane Leal da Silva

Alunos: Ana Elisi Carbone Anversa, Ane Cristine Much Smolski, Henrique Cortina, Julianne Floriano Luiz

Trabalho Avaliativo Valor: 4,0

A Justiça Restaurativa é uma prática de resolução e prevenção de

conflitos, a qual é utilizada, principalmente, quando crianças e adolescentes

são os infratores. É por meio da sensibilidade e da criatividade que o círculo de

paz/conflito restaurativo (metodologia utilizada) apazigua o conflito entre vítima

e acusado, buscando uma solução, na medida do possível, benéfica para

todos. Em Santa Maria foi criado o Programa Municipal de Práticas

Restaurativas nas escolas do município, pela Lei Municipal nº 6185/2017, o

qual tem por finalidade, segundo a legislação, “um conjunto articulado de

estratégias inspiradas nos princípios da justiça restaurativa, abrangendo

atividades de pedagogia social promotoras da cultura da paz e de diálogo, e

implementadas mediante a oferta de serviços de melhoria das relações sociais,

solução auto compositiva de prevenção e tratamento de conflitos nas escolas

do Município de Santa Maria, com acolhimento humanizado.”.

Diante dessa perspectiva, a Escola Municipal de Ensino Fundamental

Dom Antonio Reis, de Santa Maria – RS, tem, nos últimos tempos, utilizado

bastante essa metodologia, seja para resolver conflitos entre os alunos, seja

para pautar temas específicos que visem o bem estar e o convívio pacífico de

todos (essa última técnica é chamada de “círculo de paz”). Na sexta-feira do

dia 22 de Novembro de 2019, os alunos do 7ª ano do Ensino Fundamental

fizeram um círculo de paz facilitado pela Orientadora Educacional Silvia Pagel

Floriano e debateram sobre empatia, uma vez que a turma estava enfrentando

problemas com um aluno e as professoras acharam de extrema importância

discutir sobre como é necessário “colocar-se no lugar do colega”. Também

Page 2: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

participaram do círculo as acadêmicas do 2º semestre de Direito da UFSM,

Ane Cristine Much Smolski e Julianne Floriano Luiz, buscando vivenciar de

forma participativa a metodologia do círculo de paz.

Primeiramente, foi apresentado o objeto da palavra, a girafa Gigi, e

explicado o porquê de utilizarem a girafa, isto seria pois dos animais da selva, é

o que tem o maior coração e por ter o pescoço comprido conseguiria observar

tudo e ajudar na resolução de problemas. O objeto da palavra dá o direito de

fala para quem o tem na mão e de escuta para o restante dos participantes.

Após isso, foi feito o check-in, onde os participantes do círculo deviam se

apresentar, e responder a duas perguntas: “O que você acha de estar nesse

círculo hoje?” e “O que você destaca nesta semana que passou?”.

Page 3: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

Após a girafa passar de mão em mão para todos responderem, são

feitas as perguntas norteadoras do círculo, que neste dia tratou sobre empatia.

As perguntas eram as seguintes: “O que é empatia?”, “Eu sou uma pessoa

empática?”, “O que é preciso para ter empatia?”, “Acho importante os outros

serem empáticos comigo?”.

Depois de todos os participantes responderem, foram convidados a

pegarem uma folha de papel no centro do círculo e a escreverem um resumo

do que haviam aprendido com o círculo, servindo como forma de registro da

atividade para a orientadora. A seguir, retornaram para o círculo e

compartilharam os novos conhecimentos adquiridos em forma de check-out.

Dessa forma, foi feito um resgate do assunto trabalhado no círculo e feita uma

relação com o momento turbulento que a turma estava passando. Importante

ressaltar que o facilitador, além de coordenar o círculo, também faz o

fechamento das ideias, compila tudo o que fora discutido no circulo, dando um

retorno para os alunos, organizando a fala deles.

Page 4: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o

círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver a fala. Eles

destacaram diversas vezes durante o círculo que gostavam de participar

porque a turma toda se comunicava, coisa que não ocorria no dia-a-dia. Uma

aluna na entrevista destacou que na escola era bem tímida, mas no círculo

conseguia expressar seus pensamentos, sentindo-se à vontade para

comunicar-se com os colegas.

Vale ressaltar que a técnica foi muito bem recebida pela comunidade

escolar. Entrevistamos três alunos: um conta que o círculo realizado no dia 22

havia sido o seu terceiro, enquanto os outros dois narraram que estão na

Page 5: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

escola há muito tempo e que participaram de vários. Os três alunos falaram

sobre como o círculo foi importante para o convívio escolar e que, por meio

dele, eles conseguiram amadurecer bastante, sendo que essa técnica

proporciona, também, muita interação. Os estudantes foram questionados se

os assuntos abordados no círculo são levados para além da sala de aula. Dois

afirmaram que sim e que “é uma coisa que é tratada ali, mas todo mundo leva”

(palavras da aluna). Outro aluno, contudo, confessou que: “acho que têm

alguns (alunos) que até levam, mas outros que continuam fazendo a mesma

coisa depois do círculo. Bastantes da turma não levam depois do círculo as

coisas que são faladas.”. Mesmo com opiniões distintas, os três ressaltaram

que os temas escolhidos são bem importantes, mas um estudante ressalta que

a turma parece estar atenta no momento da técnica e que, depois, alguns

colegas não praticam o aprendido. Vale ressaltar, ainda, que os alunos

entrevistados não participaram de nenhum círculo de resolução de conflitos,

somente dos “círculos da paz”.

A fim de se obter uma visão mais ampla, entrevistamos a Orientadora

Educacional da escola, professora Silvia Pagel Floriano. Segue a entrevista na

íntegra:

1- Onde fez o curso das praticas restaurativas? Como foi participar do curso?

Em Santa Maria existe o Programa Municipal de Práticas Restaurativas,

onde foi oferecido o curso de práticas restaurativas que é promovido pelo

Ministério Público de Santa Maria. Foi este curso que realizei. A professora do

curso é Isabel Cristina Martins Silva, assessora da Promotora de Justiça

Rosângela Corrêa da Rosa, que trabalha na Promotoria Regional da Educação

de Santa Maria. Gostei muito de participar do curso porque ele trabalha através

de vivências, é extremamente prático e sempre que participamos de um curso

assim é muito mais fácil aplicar o que aprendemos e entender a parte teórica.

2- Qual a diferença entre os círculos de conflitos e de paz?Os círculos de paz são não-conflitivos e de diálogo, trabalham na

prevenção dos conflitos, buscam estabelecer vínculos, fortalecendo e

melhorando as relações. Já os círculos de conflitos são voltados para resolver

problemas, por exemplo, quando os alunos desrespeitam as normas da escola.

Page 6: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

3-Por que é importante que a abordagem com o círculo de práticas restaurativas seja mais lúdica do que uma audição com o juiz?

Na realidade não é lúdica e sim, uma metodologia diferente de abordar

os problemas e se dá também nos âmbitos criminal, civil, familiar da infância e

adolescência e não só no âmbito da escola.

4-Por que a justiça restaurativa é mais exitosa do que os métodos convencionais de resolução de conflito?

Porque restaura as relações. É um espaço seguro, sigiloso, não se

busca culpados, o importante é refletir sobre o que realmente importa, através

do diálogo, um espaço de fala, de voz e escuta igual para todos que participam,

buscando soluções para todos, com empenho mútuo. O papel do facilitador é

muito importante ele que coordena todo o processo.

5-Qual a maior dificuldade quando se realiza esse círculo?As dificuldades são: garantir a qualidade do que está acontecendo, para

que todos se respeitem; coordenar o tempo; trabalhar valores e as regras antes

de abordar os conflitos. 6-Acha que modificou sua visão no trabalho, a qualificou mais para o cargo de orientadora?

Com certeza, mudou minha visão de mundo. Como professora, nos

achamos, muitas vezes, com mais experiência para trazer a solução dos

problemas. Com o círculo somos quem facilita, coordena o processo, todos têm

direito de vez e de voz, os participantes se escutam, refletem, buscam solução

juntos, se comprometem, não existe receita, nem solução prévia.

7-Acha que dá resultado? Em quais turmas trabalha? Até que ponto o círculo funciona na resolução de conflitos?

Tenho certeza dos resultados, trabalhei com os círculos do 6º ao 9º ano

do Ensino Fundamental. A resolução dos conflitos se dá pelo comprometimento

de todos, isso no grande grupo da sala de aula, mas trabalhamos também com

círculos do aluno com seus pais/responsáveis e professores, nesse caso o

resultado é mais eficaz porque é em um pequeno grupo, sendo poucos os

envolvidos.

8-Todos os professores do município de Santa Maria tem formação na área? Quantas profissionais na sua escola fizeram o curso?

Page 7: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

Não tenho precisão sobre o número de professores que já fizeram o

curso, mas sei que buscam trabalhar com no mínimo um representante por

escola, que se torna um multiplicador do que aprendeu no curso para os outros

professores da escola. Eu e a vice-diretora da escola participamos do curso e

fizemos projetos que foram desenvolvidos na escola com alunos e professores.

Alguns outros professores já estão aplicando o círculo com seus alunos na sala

de aula, inclusive alunos de 1º ano do Ensino Fundamental.

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM OS ALUNOS(AS):1-Há quanto tempo você participa dos círculos?

A: Esse foi acho que meu terceiro círculo, porque eles começam a partir

do sexto ano.

B: ‘Tô’ na escola há oito anos e quando a gente começou a fazer os

círculos foi desde o sexto ano, então eu participo há bastante tempo dele.

C: Nesses oito anos que eu ‘tô’, eu sempre participo.

2-O que você acha dos círculos restaurativos? A: Acho uma parte bem importante porque como a professora falou a

gente amadureceu do ano passado pra cá, deu pra perceber a diferença (por

causa dos círculos).

B: Eu gosto bastante. É muito bom participar dele.

C: Eu adoro a professora Silvia, o jeito que ela conversa com a gente,

nos faz interagir. Eu adoro. Na escola eu sou bem tímida, mas no círculo eu

acho que eu penso e consigo falar tudo o que a gente ‘ta’ tratando, e o assunto

empatia eu adoro. [...] Acho que é sempre bom a gente ter esses círculos

porque a gente se comunica mais.

3-Acha que os assuntos abordados são levados para além da sala da aula?

A: Eu acho que todo mundo leva esse círculo pra sua vida na verdade, é

uma coisa que é tratada ali, mas todo mundo leva.

B: Acho que tem alguns (alunos) que até levam, mas outros que

continuam fazendo a mesma coisa depois do círculo. Bastantes da turma não

levam depois do círculo as coisas que são faladas.

C: -

Page 8: nudiufsm.files.wordpress.com  · Web view2019. 12. 9. · Além disso, é de suma importância destacar que os alunos adoram o círculo, uma vez que dá voz a eles, e ajuda a desenvolver

4-Acha que os assuntos tratados no círculo são importantes, bem escolhidos pelo momento em que a turma está passando?

A: Sim, principalmente pelo momento em que a turma tá passando.

B: São bem bons. [..] O tema de hoje, a empatia, eu aprendi um pouco

mais porque a gente não sabia muito bem o que era isso. E muitos da nossa

turma não têm empatia.

C: Acho que quando a gente tá no círculo tem umas pessoas que

prestam atenção, mas não praticam depois. Tem algumas pessoas que

colaboram [...] mas tem gente que não dá a mínima.

5-Já participou de algum círculo de conflito? A: Não.

B: Ainda não.

C: Não lembro.