Análise de (do) discurso

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Histórico da análise do discurso. Principais teóricos. Princípios.

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Análise de (do) Discurso

O que é Análise de Discurso (AD) Para que serve

Linguagem

Segundo Kock (1997) há três concepções de linguagem no decorrer da história da humanidade:como representação(“espelho”) do mundo e do

pensamento;” como instrumento(“ferramenta”) de comunicação;” como forma (“lugar”) de ação ou interação;”

linguagem seria fruto de uma interação entre enunciador/ enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, etc.

Saussure e a concepção dicotômica da língua e da fala. São coisas diferentes.

Estudos linguísticos entendiam a língua como um fato social, mas excluíram a fala.

Saussure entendia que o enunciado era um ato individual, não relevante linguisticamente.

Bakhtin também entendia a língua era um fato social, cuja existência se funda na necessidade de comunicação. No entanto, ele vê a língua como algo concreto, fruto da manifestação individual de cada falante, valorizando, assim, a fala.

Bakhtin atribui um lugar privilegiado à enunciação enquanto realidade da linguagem: “A matéria linguística é apenas uma parte do enunciado; existe também uma outra parte, não verbal, que corresponde ao contexto da enunciação”.

Bakhtin coloca o enunciado como objeto dos estudos da linguagem e da a ele o Papel de componente necessário para a compreensão e explicação da estrutura semântica de qualquer ato de comunicação verbal.

O interlocutor não é um elemento passivo na constituição do significado

Nessa visão da linguagem como interação social, em que o outro desempenha papel fundamental na constituição do significado, integra todo o ato de enunciação individual num contexto mais amplo, revelando as relações intrínsecas entre o linguístico e o social.

O percurso que o indivíduo faz da elaboração mental do conteúdo a ser expresso à objetivação externa – a enunciação – desse conteúdo é orientado socialmente, buscando adaptar-se ao contexto imediato ao ato de fala, sobretudo, a interlocutores concretos.

Nessa perspectiva, a linguagem é um distanciamento entre a coisa representada e o signo que a representa.

A palavra é o lugar privilegiado para a manifestação da ideologia; retrata as diferentes formas de significar a realidade, segundo vozes e pontos de vista daqueles que a empregam

Bakhtin: “Todo fenômeno que funciona como signo ideológico tem uma encarnação material, seja como som, como massa física, como cor, como movimento do corpo ou como outra coisa qualquer.

Barthes : “O alcance ideológico dos conteúdos é algo percebido desde há muito tempo, mas o conteúdo ideológico das formas constitui , de certo modo, uma das possibilidades de trabalho do século”.

Entre a língua e a fala: o discurso.

O ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos é o discurso.

Estudiosos passam a buscar uma compreensão do fenômeno da linguagem não mais centrado apenas na língua, que é um sistema ideologicamente neutro, mas sim, num nível situado fora desse polo da dicotomia saussuriana (língua X fala). Essa instância da linguagem é o discurso.

O discurso opera a ligação entre o nível linguístico e o extralinguístico.: “o liame que liga as significações de um texto às condições sócio-históricas deste texto não é de forma alguma secundário, mas constitutivo das próprias significações”.

Para Eni Orlandi, o discurso “caracteriza-se como o que vem a mais, o que vem depois, o que se acrescenta”. (Orlandi, 1986, p. 108)

A linguagem como discurso não é apenas uma reunião de signos que servem como suporte ao pensamento. A linguagem como discurso é interação; um modo de produção social. Ela não é neutra, inocente e nem natural – por isso, o lugar privilegiado de manifestação da ideologia

A linguagem enquanto discurso é o lugar do conflito, do confronto, não podendo ser estudada fora da sociedade. Seu estudo, portanto, não pode estar desvinculado das suas condições de produção. E é esse pensamento que dará corpo à nova tendência dos estudos da língua que inicia-se nos anos 1960 – a análise do discurso.

Anos 50 – abordagem inicial (mas não definitiva) da análise de discurso.

Definida inicialmente como “o estudo linguístico das condições de produção de um enunciado”, entendeu-se que a linguística, por si só, não daria conta de marcar sua especificidade dentro dos estudos da linguagem. Era necessário considerar outras dimensões (Mainguineau):

o quadro das instituições onde o discurso é produzido, as quais delimitam a enunciação;

os embates históricos e sociais que se cristalizam no discurso;

o espaço prpoprio que cada discuros configura para si mesmo no interior do interdiscurso

Harris (abordagem americana), por um lado. Jakobson e Benveniste (europeia) por outro.

Harris X Benveniste Harris – ainda mais próximo da linguística tradicional

Benveniste: “o locutor se apropria do aparelho formal da língua e anuncia sua posição de locutor por índices específicos”

Ao falar em “posição “ do locutor, ele levanta a questão que se estabelece entre locutor, seu enunciado e o mundo; relação que estará no centro das reflexões da análise de discurso, em que o enfoque da posição sócio-histórica dos enunciadores ocupa um lugar primordial.

Orlandi (1986) destaca essa tendência europeia , que , partindo “de uma relação necessária entre o dizer e as condições da produção desse dizer”, coloca a exterioridade como marca fundamental da AD

ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA ANGLO-AMERICANA

a vertente anglo-americana teve uma perspectiva mais intervencionista sobre o discurso. Acreditavam na análise do discurso para mudar certas práticas. Para, a partir do conhecimento de como os discursos circulam e se estruturam, poder transformar em algo prático.

ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA

Procura entender como os discurso se constroem, são distribuídos na sociedade, como eles falam sobre nós, sobre a história, sobre as condições de sua produção sem, necessariamente, querer intervir nessas condições. Não cabe ao analista produzir qualquer intervenção.

Mainguineau, representante da escola francesa da análise do discurso, defende a AD como uma articulação multidisciplinar entre linguistas, historiadores e psicólogos (elementos da linguística, marxismo e psicanálise)

AD - desenvolvimento da escola francesa criou duas vertentes – A da ideologia – Althusser (funções de mediadora da integração social/coesão do grupo; dominação; deformação

A do discurso – Foucault – (o discurso como jogo estratégico de ação e reação; de dominação e esquiva; de luta).

Foucault: O discurso é o espaço em que saber e poder se articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito reconhecido institucionalmente. Esse discurso, que passa por verdadeiro, que veicula o saber institucional, é gerador de poder.

Foucault : a produção desse discurso gerador de poder é controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certos procedimentos que têm por função eliminar toda e qualquer ameaça à permanência desse poder.

Pêcheux, um dos expoentes da AD da escola francesa, absorveu conceitos dos dois autores.

Sentido e sujeito na AD

Relação deixa de estar centrada no EU ou no TU, assumindo uma dinâmica entre identidade e alteridade.

Para a AD, o que importa não é o EU ou o TU, mas o espaço discursivo criado entre ambos.

O domínio de cada interlocutor é parcial é só tem unidade no texto, e só adquire significação no espaço discursivo entre os dois locutores.

Esta concepção mostra que tanto sentido como sujeito não são dados à priori (toujours déjà donné),mas constituídos no discurso. Não existe um “ponto de partida”.

Segundo Pêcheux “ o sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe em si mesmo, (isto é, em sua relação transparente com a literalidade do significante), mas é determinada pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que palavras, expressões, proposições são produzidas”.

“as palavras, expressões, proposições, mudam de sentido segundo posições sustentadas por aqueles que as empregam, o que significa que elas tomam o seu sentido em referência a estas posições, isto é, em referência às formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem”.

Principais conceitos

a) Assujeitamento Ideológico: consiste em fazer com que cada indivíduo, inconscientemente, seja levado a ocupar seu lugar na sociedade, identificando, assim, com grupos ou classes sociais.

b) Autor: função social do sujeito que pode e deve ser definido.

c) Condições de Produção: instância verbal da produção do discurso, determinadas pelo contexto sócio-histórico-ideológico, os interlocutores, o lugar de onde falam à imagem que fazem de si e do outro e do referente.

Principais conceitos

d) Diálogo: em sentido estrito, comunicação verbal entre duas pessoas; em sentido amplo, é toda comunicação verbal, qualquer forma de interação. Compreende, assim, estritamente, um enunciado, um enunciador e um enunciatário.

e) Enunciação: emissão de um conjunto de enunciados que é produto da interação verbal de indivíduos socialmente organizados. A enunciação se dá no aqui e agora sem jamais se repetir, marca-se, exclusivamente, embora não somente, pela singularidade.

f) Enunciador: é o produtor do enunciado, isto é, o ponto de vista do locutor dependendo da posição social que ocupa.

Principais conceitos

g) Formação Discursiva: é o que pode e deve ser dito a partir de um lugar social historicamente determinado e atravessado por uma formação ideológica. Num mesmo texto podem aparecer formações discursivas diferentes, acarretando, dessa forma, variações de sentido.

h) Formação Social: é o lugar onde se estabelecem as relações entre as classes sociais historicamente definidas, mantendo entre si relações de aliança, antagonismo ou dominação.

i) Interdiscursividade: relação de um discurso com outros discursos.

Principais conceitos

j) Interlocução: processo de interação entre os indivíduos os quais podem usar tanto a linguagem verbal, quanto a não-verbal.

k) Intertexto: relação de um texto com outros textos.

l) Língua: sob uma perspectiva discursiva, seria a realização concreta da fala, resultante de uma relação não-excludente, ou seja, porque não há língua sem fala, e nem fala sem língua, uma depende da outra para existir, a saber; a língua está para a fala, assim como a fala está para a língua.

m) Linguagem: sob uma perspectiva do discurso, seria fruto da interação entre sujeitos socialmente, historicamente e ideologicamente constituídos.

Principais conceitos

n) Locutor: função enunciativa que o sujeito falante exerce.

o) Polifonia: conceito criado, inicialmente, por Bakhtin que o aplicou à literatura, retomado, posteriormente, por Ducrot que lhe deu um tratamento linguístico, ou melhor, refere-se ao fato de todo discurso está construído pelo discurso do outro, toda fala atravessada pela fala do outro.

p) Pré-construído: todo discurso pressupõe outro discurso que lhe é anterior.

Principais conceitos

q) Regras de formação: regras constitutivas de uma formação discursiva, conceitos e diversas estratégias capazes de explicitar, descrever uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.

r) Sentido: está intrinsecamente ligado com a formação discursiva da qual participa, produzido no processo de interlocução e atravessado pelas condições de produção (contexto sócio-histórico-ideológico) do discurso.

s) Sujeito: o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente e interpelado pela ideologia, ou seja, não há ideologia sem sujeito, nem sujeito sem ideologia. Por isso, o sujeito não é a fonte.

Principais conceitos

t) Forma sujeito: conceito criado por Pêcheux para indicar que o sujeito é afetado pela ideologia.

u) Superfície discursiva: constituída por um conjunto de enunciados pertencentes a uma mesma formação discursiva.

Principais conceitos

v) Texto: unidade complexa constituída de regularidades e irregularidades cuja análise implica suas condições de produção (contexto sócio-histórico-ideológico, situação, interlocução).

Conforme Orlandi de natureza intervalar.

Análise de discurso francesa

Procura no discurso os prováveis sentidos que assume ou pode assumir, sem deixar de considerar o sujeito, sua história, a ideologia e o contexto social no qual este sujeito está inserido.

Procedimentos da AD francesa

a - através de paráfrases e metáforas, tentar-se-á mostrar os prováveis e até “improváveis” efeitos de sentidos do discurso (matéria prima do analista). No que se refere principalmente à pluralidade, várias possibilidades de leituras que um discurso pode assumir ou não;

b- através da compreensão e do entendimento das relações de inserção e de inter-ação estabelecidas do sujeito com o Contexto sócio-histórico-ideológico, ou seja, a história de cada sujeito, o papel que desempenha na sociedade, a posição social e a ideologia que permeia as relações humanas, influenciando os sujeitos a tomarem certas atitudes e não outras. 

“Não é só a cabeça do leitor daFolha que é mais aberta.A mão também.”(Imprensa, ano V, mês 11, nº 51, P 101. Folha de São Paulo).

Paráfrase

Metáfora

Contexto sócio-histórico-ideológico (quem escreveu, lugar da escrita, sobre quem, para quem)

o discurso dessa propaganda pretende atingir o sujeito/Leitor que está inserido na história da humanidade, concomitantemente, com a sua própria história.Sendo assim, torna-se imprescindível e relevante que este sujeito esteja (supostamente) bem informado e não se importe com o preço que tem de pagar por informações de alto nível e de excelente qualidade que (talvez) só poderão ser encontradas na Folha de São Paulo, além disso o que se pretende, praticamente, é aumentar de forma significativa o número de assinantes desse Jornal, ou seja, a vendagem desse periódico.

Aplicação da AD em minha pesquisa

Análises das entrevistas com os presidentes de três conselhos de classe.

Medicina

Enfermagem

Fisioterapia

Referências

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. Cortez:São Paulo. 2008.

MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso. Pontes: Campinas. 1997.