O cortiço

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O CORTIÇO(1890)

ALUÍSIO AZEVEDO

O CORTIÇO: ROMANCE EXPERIMENTAL Conceito elaborado pelo escritor francês Émile Zola, no romance experimental a realidade é observada de uma perspectiva científica, que mostra um retrato fiel da sociedade, mesmo de seus aspectos mais sórdidos – postura artística denominada então de “belo horrível”. A busca pelo registro fidedigno orienta o narrador no sentido da reprodução da linguagem das personagens com toda a riqueza da oralidade e das gírias do tempo. Além disso, existe o interesse pela miséria, pela pobreza, a sexualização do enredo e a animalização das personagens.

I "Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras". As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago adiantado. O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis; sabão à parte. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar. (...)

I E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.

I E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.

LINGUAGEM Descrição naturalista, isto é, a visão

panorâmica do narrador-observador fixa uma determinada coletividade ressaltando o seu parentesco com o mundo animal:

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.

LINGUAGEM Os adjetivos qualificadores do ambiente - terra

encharcada e fumegante, quente e lodosa – relacionam-se intimamente com os verbos que indicam a proliferação promíscua, bestial das pessoas - minhocar, esfervilhar, crescer, brotar.

Da fusão dos seres e o ambiente, cujos elementos comuns são a sujeira, o lixo, o anonimato, a multidão – nasce a redução dos primeiros (os seres) às condições proporcionadas pelo segundo (o ambiente): os homens multiplicam-se como larvas no esterco...

III Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.(...)

III Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas.

O MÉTODOEssa obra de Aluísio de Azevedo tem como influência maior o romance "L’Assommoir" do escritor francês Émile Zola, que prescreve um rigor científico na representação da realidade. A intenção do método naturalista era fazer uma crítica contundente e coerente de uma realidade corrompida. Zola e, neste caso, Aluísio combatem, como princípio teórico, a degradação causada pela mistura de raças. Por isso, os romances naturalistas são constituídos de espaços nos quais convivem desvalidos de várias etnias. Esses espaços se tornam personagens do romance.

O MÉTODO NATURALISTAEssa obra de Aluísio de Azevedo tem como influência maior o romance "L’Assommoir" do escritor francês Émile Zola, que prescreve um rigor científico na representação da realidade. A intenção do método naturalista era fazer uma crítica contundente e coerente de uma realidade corrompida. Zola e, neste caso, Aluísio combatem, como princípio teórico, a degradação causada pela mistura de raças. Por isso, os romances naturalistas são constituídos de espaços nos quais convivem desvalidos de várias etnias. Esses espaços se tornam personagens do romance.

NARRADOR: Aparece em terceira pessoa, portanto, é

onisciente, isto é, aquele que penetra na mente e nos pensamentos de todas as personagens, sabendo de tudo que se passa;

Esse narrador é tão poderoso que julga e tenta comprovar, as influências do meio, da raça e do momento histórico sobre as ações das personagens; fato ligado à escola naturalista.

ENREDO o João Romão enriquece às custas de sua

obsessão pelo trabalho de comerciante, mas também por intermédio de meios ilícitos, como os roubos que pratica em sua venda e a exploração da amante Bertoleza, a quem engana com uma falsa carta de alforria. Ele se torna proprietário de um conjunto de cômodos de aluguel e da pedreira que ficava ao fundo do terreno. Aumenta sua renda e passa a se dedicar a negócios mais vultosos, como aplicações financeiras. Aos poucos, refina-se e deixa para trás a amante.

ENREDO o Miranda, comerciante de tecidos e também

português, muda-se para o sobrado que fica ao lado do cortiço. No início disputa espaço com o vizinho, mas, aos poucos, os dois percebem interesses comuns. Miranda tem acesso à alta sociedade, posição que começa a ser almejada por João Romão, este, por sua vez, tem fortuna, cobiçada pelo comerciante de tecidos que vive às custas do dinheiro da esposa. Logo, uma aliança se estabelece entre eles. Para consolidá-la, planeja-se o casamento entre João Romão e a filha de Miranda, Zulmira. João se livra de Bertoleza, devolvendo-a aos seus antigos donos. 

ENREDO o Jerônimo assume a condição de gerente da

pedreira de João Romão e passa a viver no cortiço com a esposa Piedade. Sua honestidade, força e nobreza de caráter logo chamam a atenção de todos. No entanto, seduzido pela envolvente Rita Baiana, assassina o namorado desta, Firmo. Jerônimo abandona a esposa e vai viver com Rita. Entra então em um acelerado processo de decadência física e moral, assim como sua esposa, que termina alcoólatra.

ENREDO o A decadência atinge também outros

moradores do cortiço. É o caso de Pombinha, moça culta que aguardava a primeira menstruação para se casar. Seduzida pela prostituta Léonie, abandona o marido e vai viver com a amante, prostituindo-se também.

PERSONAGENS:João Romão: ambicioso Taverneiro, Português, dono da pedreira e do cortiço. Explora a amante Bertoleza, mas acaba se casando com Zulmira por motivos financeiros. 

Bertoleza: quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, trabalhadora submissa que sonhava com a liberdade por meio de uma carta de alforria. Se suicida ao saber que foi enganada por João Romão.

Miranda: comerciante Português, principal opositor de João Romão. Mora em um sobrado aburguesado. Marido de Estela e pai de Zulmira.

PERSONAGENS Estela: esposa de Miranda, é infiel ao

marido. 

Zulmira: filha de Estela e de Miranda, casa-se com João Romão, que busca ascensão social através do casamento.

Jerônimo: português trabalhador e honesto, torna-se administrador da pedreira de João Romão. Acaba se envolvendo com Rita Baiana e deixando de lado os princípios.

PERSONAGENS Rita Baiana: mulata sedutora, é amiga de todos

no cortiço. Tinha um caso com Firmo, depois se envolveu com Jerônimo.

Piedade: esposa dedicada de Jerônimo, acaba se entregando a bebida depois que o marido a abandona para ficar com Rita Baiana.

Firmo: amante de Rita Baiana, é assassinado por Jerônimo.

Pombinha: moça que discreta e educada que termina entregue à prostituição.

ESPAÇO São dois os espaços explorados na obra. O

primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.

ESPAÇO O segundo espaço, que fica ao lado do

cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem local.

CONTEXTO Embora as ideias do Realismo e do Naturalismo

(uma espécie de exagero daquele) tenham chegado tarde no Brasil, ocorreram no momento em que o país incorporava o escritor como parte integrante da sociedade e, ao mesmo, tempo, a literatura chegava ao seu amadurecimento;

O caráter determinista de O Cortiço tem como símbolo a personagem Pombinha: moça “pura” e de boa conduta moral, que, por ser fruto daquele meio sórdido e animalesco, acaba se prostituindo.

CONTEXTO O romance também é o mais bem acabado da

ficção naturalista pela genialidade com que Aluísio Azevedo retrata as coletividades, a contradição entre exploradores e explorados no Rio de Janeiro popular e urbano do final do século XIX;

Baseada na rivalidade entre João Romão e o comerciante Miranda, morador de um sobrado próximo do cortiço, esta história tem como personagem não pessoas, mas tipos sociais. Por exemplo: João Romão representa a ganância, a vontade de vencer na vida a qualquer custo.

CONTEXTO O romance também é o mais bem acabado da

ficção naturalista pela genialidade com que Aluísio Azevedo retrata as coletividades, a contradição entre exploradores e explorados no Rio de Janeiro popular e urbano do final do século XIX;

Baseada na rivalidade entre João Romão e o comerciante Miranda, morador de um sobrado próximo do cortiço, esta história tem como personagem não pessoas, mas tipos sociais. Por exemplo: João Romão representa a ganância, a vontade de vencer na vida a qualquer custo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAMARAL, E.; ANTÔNIO, S.; PATROCÍNIO, M. F. Do Romantismo

ao Realismo-Naturalismo. In: Português: redação, gramática, literatura e interpretação de texto. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 245-253.

Marcílio, Fernando. O Cortiço. Disponível em: http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-cortico.html

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/cortico-analise-obra-aluisio-azevedo-700292.shtml

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