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O RETRATO DAS MULHERES NEGRAS NA OBRA O CORTIÇO E AS
PERSPECTIVAS EMANCIPADORAS NA CONTEMPORANEIDADE1
Estudante: Jailsa Rodrigues da Silva Ricardo
Orientador: Prof. Dr. Plínio José Feix
RESUMO
A presente pesquisa semeia sua investigação sobre a emancipação social das mulheres negras
na contemporaneidade, a partir da análise da obra literária O cortiço (1890) de Aluísio
Azevedo. O desenvolvimento deu-se por meio da pesquisa bibliográfica em leituras e análises
baseadas em autores que abordam sobre o tema, pautado no olhar histórico e social em que
estão configuradas as personagens femininas negras presentes na narrativa da obra literária
em questão. A pesquisadora buscou traçar um paralelo sobre as condições em que viviam e
sobreviviam no século XIX as mulheres negras retratadas por Azevedo e como essas mulheres
da atualidade têm alcançado conquistas emancipadoras através da luta em movimentos
feministas, avançando na direção da alteração das relações sociais que as separam em gênero,
raça e classe. Esses movimentos de mulheres, apesar de todas as dificuldades, propiciam
visibilidade social e conquista de direitos, permitindo um processo de construção de relações
sociais mais igualitárias em termos de classes, cor e gênero.
Palavras-chave: O Cortiço; Mulheres Negras; Discriminação; Emancipação.
RESUMEN
La presente investigación siembra su investigación sobre la emancipación social de las
mujeres negras en la contemporaneidad, a partir del análisis de la obra literaria El cortijo
(1890) de Aluísio Azevedo. El desarrollo se dio a través de la investigación bibliográfica en
lecturas y análisis basados en autores que abordan sobre el tema, pautado en la mirada
histórica y social en que están configuradas las personajes femininas negras presentes en la
narrativa de la obra literaria en cuestión. La investigadora buscó trazar un paralelo sobre las
condiciones en que vivían y sobrevivían en el siglo XIX las mujeres negras retratadas por
Azevedo y cómo esas mujeres de la actualidad han alcanzado conquistas emancipadoras a
través de la lucha en movimientos feministas, avanzando hacia la alteración de las relaciones
sociales que las separan en género, raza y clase. Estos movimientos de mujeres, a pesar de
todas las dificultades, propician visibilidad social y conquista de derechos, permitiendo un
proceso de construcción de relaciones sociales más igualitarias en términos de clases, color y
género.
Palabras-claves: El Cortijo; Mujeres Negras; Discriminación; Emancipación.
1 Este artigo faz parte das exigências do curso de Pós-graduação Lato Sensu ‘’Sociedade, Política e Cidadania –
Olhares Transdisciplinares’’ para a obtenção do título de Especialista. Rondonópolis, novembro de 2018.
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INTRODUÇÃO
Este artigo objetiva descrever e analisar a vida privada e social das mulheres negras
no cenário brasileiro no final do Século XIX a partir da análise da obra literária O Cortiço, de
Aluísio Azevedo, publicado em 1890. Esta escolha partiu de um interesse pessoal de dialogar
com autores que abordam temas sociais relacionados às mulheres, mais precisamente as
mulheres negras, do ponto de vista histórico e sociológico. A ênfase será sobre a narrativa
produzida por Azevedo sobre como viviam essas mulheres neste tempo na periferia urbana da
cidade do Rio de Janeiro, especialmente sob a perspectiva das relações de classe, raça e
gênero, bem como sobre as transformações ocorridas no decorrer do tempo, as conquistas
obtidas e as opressões enfrentadas e que ainda sofrem até os dias atuais no processo de luta
emancipadora dessas mulheres.
O romance O Cortiço é um clássico da literatura nacional amplamente estudado na
academia, sendo uma obra que superou o advento do Naturalismo desenvolvido na França por
Émile Zola2. Azevedo tem conquistado seguidores por ser considerado o representante
brasileiro desta escola literária. Este escritor ganhou espaço ao retratar a sociedade a partir de
uma visão científico-realista, unindo as teorias vigentes na época para falar e mostrar assuntos
do cotidiano brasileiro. Retrata temáticas ousadas que se mostravam inerentes ao contexto
social de então e próprias para serem representadas por este gênero literário, e que não tinham
sido explicitamente ilustrados em períodos anteriores. Aluísio Azevedo era narrador
onisciente e conhecedor de tudo o que escrevia, entrelaçava na narrativa seus personagens no
contexto social e político. Trata-se de um contexto sócio-político brasileiro imediatamente
posterior à Abolição oficial da escravidão (1888) e da Proclamação da República (1889), e de
aceleração da expansão do capitalismo.
Esta pesquisa orienta-se em termos metodológicos na análise do citado texto
literário, bem como o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica sobre distintos autores da
época e da contemporaneidade para referenciar a análise do nosso objeto de estudo. O texto
está estruturado em três capítulos. No capítulo I – o realismo e o naturalismo – conceituamos
esses dois gêneros literários, mostrando o estilo adotado por Aluísio Azevedo. Neste espaço
2 Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola. Jornalista e romancista francês do século XIX, considerado um dos
principais escritores do Naturalismo. Émile Zola. Disponível em: < https://www.suapesquisa.com/ quem
foi/emile_zola.htm>. Acesso em: 09 nov. 2018.
3
fazemos também uma breve contextualização histórica do Brasil do final do século XIX, com
ênfase ao espaço social da periferia urbana na cidade do Rio de Janeiro, tendo como suporte
teórico alguns autores: Nelson Werneck Sodré (1965), José Murilo de Carvalho (2004) e
Antônio Cândido (1991).
No Capítulo II adentramos no tema em questão – a representação das mulheres
negras na obra –, analisando as personagens femininas negras no que se refere às condições
de vida, de trabalho, formação familiar, situação de preconceito e violência de gênero e raça.
É analisada também a forma como é descrito o cotidiano das mulheres negras a partir das
teorias científicas da época, tendo como representantes mais analisadas na obra as
personagens Bertoleza, Rita Baiana, Marciana e a sua filha Florinda.
O capítulo III é uma abordagem sobre as mulheres negras da contemporaneidade na
perspectiva do processo de luta de sua emancipação pessoal e social. Serão tratadas algumas
conquistas alcançadas através da organização do Movimento Negro no Movimento Feminista.
Para a análise de questões pertinentes deste processo emancipador, utilizamos estudiosas
como Carneiro (2003), Davis (1982) e Saffioti (1992), constituindo-se em pesquisadoras que
abordam de distintas formas a desconstrução de estereótipos que marcaram a história das
mulheres negras brasileiras e os resultados conquistados no que tange ao protagonismo, à
autonomia e aos direitos sociais.
1 - O REALISMO E O NATURALISMO
Neste tópico iremos, brevemente, conceituar os gêneros literários do realismo e do
naturalismo, estilos adotados pelo Aluísio Azevedo para escrever a obra O Cortiço. Também
faremos uma sucinta contextualização histórica do Brasil no período da produção desta obra,
principalmente a cidade do Rio de Janeiro, espaço social retratado pelo escritor brasileiro.
1.1- Conceituação dos dois gêneros literários
O Realismo é uma escola literária que se desenvolveu na Europa no século XIX após
Gustave Flaubert publicar o romance Madame Bovary. No Brasil é adotado principalmente
nas obras de Machado de Assis no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas e na obra o
Mulato de Aluísio Azevedo.
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O Realismo propôs uma representação objetiva e fiel da vida humana. Esta não era
mais vista do ponto de vista idealista do romantismo, como subjetivação direcionada para os
sentimentos, mas como forma de crítica às instituições sociais decadentes no século XIX. Da
mesma forma, o realismo não é um gênero artístico que se guiava pela interpretação, sendo
que nesta preponderava a dimensão subjetiva do artista e estimulava a mesma perspectiva no
público ao apreciar a obra. O realismo, ao retratar a realidade de forma objetiva, tinha como
objeto principal revelar a hipocrisia burguesa através das instituições sociais básicas, tais
como o casamento e a igreja, como explica Tufano (1995).
Esse período é marcado por profundas transformações no campo cultural, social e
econômico, inicialmente na Europa, proporcionados pela Revolução Industrial. Nesta época a
civilização burguesa, industrial e materialista firma as suas ideias liberais e, por outro lado,
surgem as rebeliões e os protestos dos trabalhadores camponeses e operários em todos os
países que estavam passando por estas mudanças profundas na expansão do capitalismo. As
cidades industriais crescem e atraem um grande número de operários que vivem em condições
subumanas e passam a organizar-se em associações para lutar contra a exploração.
No Brasil, os intelectuais defensores do liberalismo influenciaram o comportamento
da classe burguesa, o que resultou em processo de transformações sociais. De acordo com
Sodré (1965), a luta pelo fim da Monarquia e a instauração da República foi durante muito
tempo o projeto exclusivo dos setores liberais que aspiravam um ordenamento social
democrático. A instauração da República (1889), dentre todas as mudanças provocadas,
influenciou diretamente a arte e a literatura aos olhos dos escritores da época que descreveram
as mudanças no modo de ser e de viver da população e o processo de urbanização.
O gênero literário naturalista adotado para a produção de O Cortiço propiciou para
Azevedo a descrição da situação social vivida nos subúrbios pela população carioca.
O Realismo, e principalmente o Naturalismo, tiveram como base teórica, filosófica,
científica e cultural de várias vertentes surgidas no século XIX. Esses movimentos literários
foram influenciados decisivamente por pensadores que marcaram essa época. Augusto Comte,
francês, desenvolveu a teoria positivista pautada no método da observação, da experimentação
e da comparação da realidade empírica mensurável. Charles Darwin, inglês, naturalista,
revolucionou o mundo com a teoria da evolução das espécies, defendendo a concorrência
entre os seres vivos, onde “os mais fortes e aptos conseguiam sobreviver” (TUFANO, 1995).
Karl Max, pensador alemão que mais influenciou a teoria social no século XIX, procurou
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entender a história humana a partir da teoria política alicerçada na luta de classes no modo de
produção capitalista, cujo processo culminaria com a ascensão do proletariado ao poder do
Estado, via revolução. Hippolite Taine, francês, filósofo e historiador, autor da teoria
determinista, sustentava que o indivíduo era resultado da influência da raça (hereditariedade),
do meio ambiente e do momento histórico.
O Naturalismo nasceu com o pesquisador Emile Zola que utilizou anotações a partir
de observações de ambientes, cenários e pessoas não idealizadas, não dantes mostradas em
obras literárias, sob a visão determinista. No Naturalismo, a Natureza é a referência para a
análise do comportamento dos seres humanos e das relações sociais. Tudo na Natureza tem
um comportamento regular, previsível, determinado, observável empiricamente, possível de
ser conhecido por meio da ciência. Os seres humanos se comportariam da mesma forma que
os outros seres vivos, sofrendo a ação de diversos fatores naturais que determinam a sua ação
e que seria compreensível à luz do determinismo natural.
Nas obras literárias da escola Naturalista ou influenciada por esta, os fenômenos
sociais são analisados e explicados a partir de determinações que fogem do poder de
intervenção humana. É uma teoria social que fomenta a resignação. Inclusive, como existiria
uma hierarquia na ordem do Universo, a mesma existiria no âmbito das relações sociais. Esses
aspectos aparecem claramente no O Cortiço.
Estudiosos, tal como Sodré (1965, p. 27), caracterizou o Naturalismo como sendo
“uma escola como as outras que se sobrepõe ao realismo”, isso porque utilizam determinadas
fórmulas empíricas das ciências naturais, especialmente a biologia para representação da
realidade.
O Naturalismo brasileiro é uma escola peculiar da fase de crise com a emergência da
burguesia, tendo como intuito apresentar as características e as circunstâncias típicas do real
social, bem como resgatar determinados valores que estavam em declínio na vida urbana. Ele
enfatiza o fundamento materialista como característico do Naturalismo:
De modo geral, 1870 marca no mundo uma revolução nas ideias e na vida, que
levou os homens para o interesse e a devoção pelas coisas materiais. Uma
geração apossou-se da direção do mundo, possuída daquela fé especial nas
coisas materiais. Haveria muito que discutir nesse período, inclusive a forma
de se dar a ideia de desenvolvimento, pela categoria de geração, mas não é
esse o problema aqui. O problema começa quando, na sequência da exposição,
surgem as características do naturalismo e, portanto, as diferenças entre as
duas “escolas” (SODRÉ, 1965, p. 28).
Sodré apresenta, por sua vez, como características do realismo:
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procura apresentar a verdade; procura essa verdade por meio do retrato fiel de
personagens; encara a vida objetivamente; fornece uma interpretação da vida;
retrata a vida contemporânea; retira a maior soma de efeitos do uso de
detalhes específicos; sua narrativa move-se lentamente; apoia-se sobretudo nas
impressões sensíveis. Se isso é o realismo, o que é o naturalismo? (Idem, p.
28).
Ainda de acordo com Sodré, historiador que nos fornece muitos elementos teóricos
para compreender a forma de abordagem da realidade social por meio destes gêneros
literários, afirma que, para diferenciar do realismo, o naturalismo é: “o realismo fortalecido por
uma teoria peculiar, de cunho científico, uma visão materialista do homem, da vida e da sociedade”.
(Idem, p. 28, grifo nosso). Observa-se, portanto, que o Naturalismo é um realismo aprofundado.
Na ânsia em mostrar o ser humano como um objeto de estudo experimental, ele é explicado a
partir de uma visão materialista, científica e social, assim como a ciência natural estuda,
analisa e explica seu objeto de estudo. O ser humano é observado em todos os sentidos, e
mostrado na literatura sob os princípios ou as leis que o rege e o torna como é e se comporta
na sociedade, bem como a sua relação com o meio natural e com a herança biológica, fatores
que determinam e condicionam a conduta dos indivíduos.
Um exemplo do naturalismo usado nas ciências sociais é a teoria das raças. Esta
teoria surgiu na Europa no século XIX, e teve o seu auge com o desenvolvimento do chamado
racismo científico. Quando essas teorias cientificistas chegaram ao Brasil, em fins do século
XIX, “o país ainda era escravista, com forte presença de traços típicos de uma ex-colônia, com a
economia débil e dependente – baseada em monocultura, latifúndio e exportação de bens primários –,
politicamente desestruturados e com infraestrutura urbana deficiente” (TAMANO, 2009, p. 759).
O Cortiço é um romance que fugiu da idealização da elite burguesa, sendo uma
aversão ao idealismo romântico precedente. Azevedo detalha na obra os momentos finais da
escravidão, a urbanização e o comportamento dos habitantes do Rio de Janeiro, pautado
principalmente na teoria determinista de Hippolite Taine, pensador influente que acreditava
que o sujeito é condicionado pela raça, pelo meio ambiente e pelo momento histórico. Além
do determinismo, foram referência as teorias científicas e de branqueamento das raças.
Cândido (1991), em sua obra De Cortiço a Cortiço, esclarece que o racismo pós-
abolição continuava vigente no Brasil, apoiado pela pseudociência antropológica que pensava
a mestiçagem local, o instinto racial, a raça inferior e o desejo de melhorá-la por meio do
contato redentor com a raça branca, considerada superior. Esta teoria das raças é chamada por
Cândido de racismo científico.
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Portanto, o realismo e o naturalismo, duas escolas literárias, tem muitos traços em
comum. O realismo procura retratar a realidade como é (opondo-se ao romantismo),
descrevendo-a; o naturalismo, por sua vez, procura explicar essa realidade social à luz das
teorias científicas das ciências naturais, em especial a biologia. Essa concepção cria sérios
problemas para a compreensão da complexa realidade humana, as relações desenvolvidas
entre os indivíduos nos diferentes grupos coletivos, problemas presentes na obra O Cortiço.
1.2– O Cortiço: uma representação da periferia urbana brasileira
Nesta parte vamos abordar, em linhas gerais, o contexto social urbano brasileiro no
período da Proclamação da República. Mais especificamente, será tratada a cidade do Rio de
Janeiro, capital nacional e espaço social retratado na obra literária em análise.
O Naturalismo embasado na obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, dialoga com a
história do Brasil no final do século XIX, o processo de transição do regime político imperial
para o republicano, assim como o avanço do projeto de sociedade burguesa. Com base na
observação e análise empírica, o escritor brasileiro descreve fatos do cotidiano vividos ou a
que estava condicionado a população da periferia urbana da capital federal.
Neste contexto social brasileiro da produção de O Cortiço, as ideias liberais
imprimiram um processo intenso de conflitos entre escravocratas e liberais que se expressam
em vários fatos relevantes da história, como descreve Sodré:
Começam com o encerramento da guerra com o Paraguai, a fundação do
Clube Republicano e do jornal A República, e o lançamento do Manifesto
Republicano, fatos do ano citados. Seguem, na seriação cronológica, com a
Lei do Ventre Livre, de 1871; a Questão Religiosa, em 1874; a libertação dos
sexagenários, em 1885; a Abolição e a Questão Militar, em 1888; a República,
em 1889; a primeira Constituição republicana, em 1891; o governo de
Floriano e a rebelião Federalista, em 1892; a campanha de Canudos, em 1897;
o primeiro junding-loan, em 1898 (1965, p. 158).
A cidade do Rio de Janeiro, capital e a de maior poder econômico do país, foi a que
mais sentiu as mudanças que culminaram na Abolição da Escravidão e na Proclamação da
República. De acordo com Carvalho (2004), a cidade alterou-se significativamente em termos
demográficos, ocorrendo uma intensa migração e imigração, principalmente de portugueses.
O número de habitantes negros lançados no mercado livre após a Abolição engrossou o
contingente de subempregados e desempregados, o surgimento das periferias populosas sem
infraestrutura, tendo como resultado o aumento expressivo da pobreza nas cidades.
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Segundo Alfredo Bosi apud Santos (2017), as transformações ocorridas na sociedade
brasileira no período em pauta consistem no processo de redução gradativa do poder político
ancorado nos interesses latifundiários e o fim da escravatura, tornando-se uma sociedade
sempre mais burguesa, urbana e com maior autonomia e liberdade interna. A crise da
economia açucareira foi um fator significativo para a crise enfrentada pela oligarquia agrária.
Essas mudanças sociais intensificaram o processo de migração para as cidades,
gerando o fenômeno da urbanização. Um problema enfrentado pela população pobre nas
cidades, apontado por Carvalho (2004) e Soihet (2004), é a “absoluta falta” de moradias. Essa
população procurava se estabelecer nas áreas centrais, próximo ao mercado de trabalho,
ocupando, em sua maioria, habitações coletivas, casas de cômodo ou cortiços.
Uma realidade resultante do processo de urbanização, e que aparece de forma
destacada na obra literária objeto deste estudo, é a desestruturação ou não adesão à família
tradicional. Nessa época, o casamento era um valor relevante para um número pequeno da
população branca que buscava se afirmar em termos morais através desta instituição social.
No entanto, grande parte da população negra não aderiu à constituição deste modelo de vida,
o que será visto como fator de comportamentos sociais não condizentes com os princípios
morais advogados pela elite dominante. Soihet (2004) explica que, mesmo se quisessem, os
pobres não teriam condições para regularizar suas famílias, sendo que o alto custo com as
despesas matrimoniais era um dos motivos que levava as camadas mais pobres a adotar o
regime de concubinato.
Os cortiços, áreas precárias de moradia e vivência dos pobres na periferia urbana,
passam a ser um incômodo para a sociedade burguesa. Esta exige a sua extinção porque era
geradora de comportamentos sociais detestados pela elite branca, além de ser visto como
espaço disseminador de epidemias, tais como a febre amarela e a varíola. Soihet afirma o
seguinte sobre esta questão:
Em relação ao Rio de Janeiro, face ao seu estatuto de capital da República e
cidade mais populosa do Brasil, urgia acelerar o seu projeto de modernização,
tornando-a cartão de visitas do progresso alcançado por todo o país. A
derrubada dos cortiços nas áreas do centro afigurava-se como indispensável,
inclusive porque eram considerados focos das epidemias que,
periodicamente, infestavam a cidade. A medicina e os interesses econômicos
uniram-se no propósito de transformar a velha cidade numa metrópole
moderna que deveria atrair capitais e homens estrangeiros. (SOIHET, 2004, p.
305-306, grifos nossos).
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O ambiente social retratado no O Cortiço é urbano, localizado no subúrbio do Rio de
Janeiro do final do século XIX. A pedreira de João Romão é símbolo da exploração. O
aglomerado de povos que viviam miseravelmente no cortiço era formado por lavadeiras,
passadeiras, crianças, velhos, mães solteiras, negros, mulatos, imigrantes portugueses e
italianos. O ambiente retratado neste espaço social é de festas, bebidas, violência verbal e
física, promiscuidade, sexo, predomínio da ação dos mais fortes sobre os mais fracos,
ausência de políticas públicas, etc. Carvalho descreve o ambiente de vivência nos cortiços:
O cortiço de Botafogo, descrito por Aluísio Azevedo, possuía no final mais de
400 casas e constituía uma pequena república com vida própria, leis próprias,
detentores da inabalável lealdade de seus cidadãos, apesar do autoritarismo do
proprietário. Aluísio, aliás, fala expressamente na ‘’república do cortiço’’. Ali
se trabalhava, se divertia, se fornicava, principalmente, se falava da vida
alheia e se brigava. (CARVALHO, 2004, p. 39).
Os personagens de O Cortiço são constituídos por brancos imigrantes, pretos e
mulatos, sendo estas duas últimas etnias consideradas a “ralé” da sociedade. O retrato social
da periferia urbana é identificado com temas relacionados à patologia social, miséria,
criminalidade, racismo, desequilíbrios psíquicos, incestos, bem como temáticas até então
ocultadas e evitadas pela literatura, tais como o sexualismo e o homossexualismo.
A narrativa da obra literária está organizada por Azevedo em 23 capítulos estruturados
em tempo natural ou cronológico. O autor, ao sequenciar o enredo, situa-o em horas, dias,
meses e anos: ‘’Amanhecera um domingo alegre no cortiço, um bom dia de abril. Muita luz e
pouco calor’’. Esta lógica de narração, como já apontamos, está alicerçada no cientificismo
dominante na época, tais como a precisão do tempo cronológico.
O cortiço é, na verdade, considerado o personagem principal da narrativa de
Azevedo e exerce uma grande influência sobre a vivência de seus habitantes: “Eram cinco
horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e
janelas alinhadas” (AZEVEDO, 2006, p. 30). O cortiço é visto como um corpo pulsante, de
vida intensa, onde os habitantes se constituem parte desta. A escola literária ao qual se filia a
obra literária em análise e o contexto social por ela retratada é fundamental para a
compreensão dos objetivos de Aluísio Azevedo com esta produção.
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2 – A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NA OBRA
Esse tópico dedica-se a mostrar as principais personagens negras identificadas na
obra O Cortiço, sendo Bertoleza e Rita Baiana as mulheres mais representadas no contexto da
narrativa. Ao longo do enredo outras personagens negras ganharam sentido e expressão, tais
como a mulata Florinda e sua mãe Marciana. O objetivo neste espaço é retratar a
discriminação social e todo tipo de preconceitos sofridos pelas mulheres negras no cortiço.
As personagens na obra são uma representação típica da situação vivida pelas
mulheres negras em geral, a começar por suas moradias, o cortiço de João Romão, o trabalho
exercido, o tratamento pessoal e a violência de gênero que sofriam, a forma como eram vistas
aos olhos da elite burguesa num contexto de marginalização social. O preconceito racial das
mulheres negras representadas na obra em questão, para reforçar nosso argumento, é
analisado sob a perspectiva determinista e por meio das teorias científicas de viés positivista
e/ou naturalista.
Cândido (1991) enfatiza que no romance de Azevedo os brancos europeus, sobretudo,
os portugueses, eram considerados diferentes e superiores aos demais brasileiros. Ele afirma
que era vista como legítima a seguinte composição social (CÂNDIDO, 1991, p. 124):
BRANCO = EUROPEU; EUROPEU X MESTIÇO OU NEGRO = BRASILEIRO
Nesta hierarquia social naturalizada, as mulheres negras ocuparam a posição mais
baixa e deprimente da pirâmide social, não figurando como brasileiras. Rago faz a seguinte
descrição da situação social vivida por elas:
As mulheres negras, por sua vez, após a Abolição dos escravos, continuariam
trabalhando nos setores os mais desqualificados recebendo salários
baixíssimos e péssimo tratamento. Sabemos que sua condição social quase não
se alterou, mesmo depois da Abolição e da formação do mercado de trabalho
livre no Brasil. Os documentos oficiais e as estatísticas fornecidas por médicos
e autoridades policiais revelam um grande número de negras e mulatas entre
empregadas domésticas, cozinheiras, lavadeiras, doceiras, vendedoras de rua e
prostitutas, e suas fotos não se encontram nos jornais de grande circulação do
período – como o Correio Paulistano e O Estado de São Paulo ou o Jornal do
Comércio e A Noite, do Rio de Janeiro –, ao contrário do que ocorre com as
imigrantes europeias (RAGO, 2004, p. 487).
Já no primeiro capítulo da obra literária, a subordinação dos negros aos brancos é
identificada pelo narrador ao citar a posição da personagem Bertoleza diante de suas escolhas
ao aceitar o convite de João Romão para morarem juntos: “Bertoleza não queria sujeitar-se a
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negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à sua” (AZEVEDO, 1997,
p. 2, grifo nosso).
A situação se repete com a personagem Rita Baiana, considerada pelo escritor de
“volúvel como toda a mestiça’’. Quando viu que o português Jerônimo a queria, procurou
logo largar o praticante de capoeira Firmo, mulato como ela, porque "o sangue da mestiça
reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no português o macho de raça
superior” (AZEVEDO, 2006, p. 156, grifo nosso).
Rita Baiana era mulata, solteira, sensual, embora vivesse em regime de concubinato
com o capoeirista e mulato Firmo, é narrada com bons olhos, quiçá a única que possui
atributos comparados à tropicalidade de sua terra: “ela era a luz ardente do meio dia; ela era o
calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que a
atordoava nas matas brasileiras” (AZEVEDO, 2006, p. 54). Ela era querida por todos no
cortiço, comunicativa, tinha um grande coração, mantinha sua própria independência,
autonomia e a nada se prendia; suas concepções eram à frente de seu tempo no tocante à
própria liberdade quando o assunto era casamento. “Casar? Protestou a Rita. Nessa não cai a
filha de meu pai! Casar? Livra! Para quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o
diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre!” (Idem, p. 56).
Na verdade, o casamento formal se constituía no “ideal mais elevado de realização”
apenas para as mulheres brancas da classe dominante (SOIHET). Entre as mulheres pobres do
cortiço, esta formalização da relação conjugal era exercida por uma minoria. Ainda de acordo
com esta autora
O fato é que no seio dos populares o casamento formal não preponderava. Isso
se explica não só pelo desinteresse decorrente da ausência de propriedades,
mas pelos entraves burocráticos. A dificuldade do homem pobre em assumir o
papel de mantenedor, típico das relações burguesas, é outro fator, ao que se
soma, em alguns casos, a pretensão de algumas mulheres de garantir sua
autonomia (SOIHET, 2004, p. 308).
Dadas às condições precárias de vida da população pobre, o ideal de vida das
mulheres negras e mulatas era outro quando comparado ao das mulheres da elite branca. Não
havia essa rigidez em relação a certos valores morais burgueses, tais como a virgindade antes
do casamento, e a própria institucionalização do casamento.
Quanto àquelas [mulheres] dos segmentos mais baixos, mestiças, negras e
mesmo brancas, viviam menos protegidas e sujeitas à exploração sexual. Suas
relações tendiam a se desenvolver dentro de outro padrão de moralidade
que, relacionado principalmente às dificuldades econômicas e de raça,
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contrapunha-se ao ideal de castidade. Esse comportamento, no entanto, não
chegava a transformar a maneira pela qual a cultura dominante encarava a
questão da virgindade, nem a posição privilegiada do sexo (SOIHET, 2004, p.
308, grifo nosso).
Davis (1983) explica que na segunda metade do século XIX a percepção do caráter
opressiva do casamento era recente. As feministas desta época começaram a descrever o
matrimônio como uma “escravidão” parecida ao sofrimento da população negra, mesmo
sabendo que a escravidão era muito pior do que o casamento. Devido ao patriarcalismo, essa
comparação implicou em algo que as mulheres brancas de classe média sentiam afinidades
com as mulheres e os homens negros, para quem a escravidão significava chicotes e correntes.
Nesse contexto da narrativa de Azevedo, há visibilidades de violência de gênero
sofrida pela personagem Rita Baiana, mesmo não estando casada. O seu relacionamento com
Firmo vinha de longe e “era uma coisa muito complicada”, cita o escritor. Eles brigavam por
causa dos ciúmes de Firmo:
Ele tinha ‘paixão’ pela Rita, e ela, apesar de volúvel como toda mestiça, não
podia esquecê-lo por uma vez; metia-se com outros, é certo que de quando em
quando, e o Firmo então pintava o caneco, dava por paus e por pedras, enchia-
a de bofetadas, mas, ao final, ia procurá-la, ou ela a ele, e ferravam-se de
novo, cada vez mais ardentes, como se aquelas turras constantes reforçassem o
combustível de seus amores (AZEVEDO, p. 60, 2006).
Esta situação configura uma violência doméstica contra as mulheres, embora Rita
apresente um desejo ou ideal de protagonismo, autonomia e liberdade feminina. Ela é
rebaixada por sua condição feminina porque Firmo, na condição masculina representado na
obra, tinha o “direito natural” de se sobrepor a ela: quando queria, “afogava-se em numa boa
pândega com a Rita Baiana. A Rita ou outra” (AZEVEDO, 2006, p. 59). Rita, mesmo
temendo o casamento, era condicionada numa perspectiva de liberdade que a mesma não
tinha consciência da real ausência da mesma ao sujeitar-se “às turras” de seu homem.
Segundo Duarte (2010, p. 24), “a mulata construída pela literatura brasileira tem sua
configuração marcada pelo signo da mulher fornicaria da tradição europeia, ser noturna e
carnal, avatar da meretriz”. Numa cultura patriarcal, a mulher mulata serve para satisfazer os
instintos masculinos em oposição ao desejo materno de também ser mãe, constituir família. A
mulher mulata deve, de preferência, estar livre para atender os desejos sexuais dos homens,
sejam eles brancos ou negros.
Isaura e Leonor são outras duas personagens na obra que representam as mulheres
negras. Elas são descritas pelo escritor como trabalhadoras domésticas e dando evidência à
13
sua disposição para a prática sexual, utilizando os termos “tecnologia da obscenidade” para se
referir à sua esperteza em atrair os homens desejosos de relacionamentos íntimos. Nas
palavras do autor:
Isaura, mulata ainda moça, moleirona e tola, que gastava todo vintenzinho que
pilhava em comprar capilé na venda de João Romão; uma negrinha virgem,
chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca como um moleque,
conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, a vasta tecnologia da
obscenidade (AZEVEDO, 2006, p. 25, grifo nosso).
Ainda sobre o casamento, que é um assunto que emana discussões em torno das
mulheres negras representadas por Azevedo no romance O Cortiço, não é mostrado nenhuma
mulher negra casada e com filhos nos moldes defendidos pela elite burguesa. Durante a Belle
époque (1890 a 1920), instaurada pela ordem burguesa, a modernização e a higienização do
país era defendida com a intenção de tornar os hábitos civilizados, inspirado no modelo
parisiense. No entanto, a estrutura da família das classes populares não seguia o padrão
idealizado, assumindo uma multiplicidade de formas, com inúmeras famílias chefiadas por
mulheres sós, evidenciado pelas dificuldades econômicas, às normas e valores diversos que
são próprios da cultura popular.
Marciana, a mulata mais antiga do cortiço, é descrita por Azevedo como “muito séria
e asseada em exagero”. Sua casa sempre estava húmida pelas constantes lavagens, pois,
quando estava de mau humor, punha-se a varrer e a limpar. Era mãe solteira, sendo a única
negra do cortiço que é apresentada com uma filha de 15 anos, de nome Florinda.
Florinda é descrita como garota atraente, desejada pelos homens do cortiço. Nas
palavras do escritor, ela tem:
Pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos
de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava a sua virgindade e
não cedia, nem a mão de Deus Padre, e aos rogos de João Romão, que a
desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no peso das
compras que Florinda fazia diariamente na venda (AZEVEDO, 2006, p. 34).
Em alguns momentos no enredo esta personagem é assediada pelo vendeiro da loja
de João Romão que, ao passar por ela enquanto apanhava roupas no chão, “ferrou-lhe uma
palmada na parte do corpo então mais em evidência”. Ela, por sua vez, erguendo-se, grita e
tenta se defender. Florinda, ao se encontrar com João Romão, acusa o vendeiro de roubar a
venda no peso, xinga-o de “diabo do galego, eu não te quero, sabe”! Quando João Romão já
havia se retirado, o vendeiro soltou-lhe uma palmada com mais força e saiu correndo porque
ela se armara com um regador cheio de água, relata Azevedo (2006, p. 42).
14
Florinda, no desenrolar do enredo, é deflorada por Domingos e engravida. Sua mãe
Marciana fica histérica com a situação: “trêmula de raiva, fechou a porta da casa, guardou a
chave no seio e, furiosa, caiu aos murros em cima da filha” (AZEVEDO, 2006, p.89). A
personagem sofre violência física por parte da mãe porque, inicialmente, ela não queria contar
quem a engravidou. Após a descoberta, a mãe vai em busca da reparação do “erro”:
Marciana, sem largar a filha, invadira a casa de João Romão e perseguia
Domingos que preparava já sua trouxa.
– Então? Perguntou- lhe. Que tenciona fazer?
Ele não deu resposta.
– Vamos, vamos, fale! Desembuche!
– Ora, lixe-se! Resmungou o caixeiro, agora muito vermelho de cólera.
– Lixe-se, não!... Mais devagar com o andor! Você há de casar: ela é menor!
Domingos soltou uma palavrada, que enfureceu a velha.
– Ah, sim? Bradou esta. Pois veremos! (AZEVEDO, 2006, p. 92).
Marciana lutou pela honra da filha, mas esta foi duplamente enganada. João Romão
prometeu pagar o dote à menina, no entanto, com isso aproveitou-se da situação para não
pagar ao caixeiro o que lhe era de direito. Em meio às discussões, com a mãe amparada pelas
mulheres do cortiço que foram à venda atrás de Domingos para dar-lhe uma “lição”, João
Romão disse que ele casaria com ela senão lhe pagaria o dote por direito. No entanto, ele
ajudou o caixeiro a fugir e o dote não foi pago.
A mãe foi em busca dos direitos da filha na lei por ser menor:
Marciana foi com a pequena à procura do sub-delegado e voltou aborrecida
porque lhe disseram que nada se poderia fazer enquanto não aparecesse o
delinquente; andaram em busca de justiça, secretarias, estação de polícia. Mas,
quando lhe perguntavam quanto dispunha para gastar com o processo, as
despacharam sem mais considerações logo que se inteiravam da escassez de
recursos de ambas as partes (AZEVEDO, 2006, p. 101).
Soihet (2004) comenta que a lei em nada favorecia as mulheres. Nesse caso, as
solteiras que se deixassem desvirginar perdiam o direito a qualquer consideração, e no caso de
uma relação ilegítima, os homens não se sentiam responsabilizados porque a honra da mulher
se baseava na ausência do homem por meio da virgindade ou pela presença masculina no
casamento, caso contrário, caía sobre as mulheres a responsabilidade e o peso das
consequências do “erro”.
Florinda, grávida, maltratada pela mãe, não vê outra saída a não ser sair de casa, o
que a conduziu à prostituição, pois, além de pobre, não tinha apoio familiar na situação em
que se encontrava. Marciana, ao ver que perdera a filha, ficou em estado de choque,
monologava o tempo todo. João Romão ordenou que desocupasse o cômodo. Após ser
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afrontado por sua fúria, esbravejou: “este galego é que teve a culpa de tudo! Maldito sejas tu,
ladrão! Se não me deres conta de minha filha, malvado, meto fogo na casa!” (AZEVEDO,
2006, p. 102). Marciana foi expulsa de sua habitação. Por influência de João Romão, um
policial a levou presa.
Esse contexto retrata os abusos duplamente sofridos por Marciana: na condição de
mulher e de mulher negra. No contexto geral elas eram qualificadas de “vagabundas”, termo
que durante o Império configurava quem não trabalhava e não produzia lucros para a
sociedade. Logo, por sua condição social, não lhe era dado o devido respeito, sofrendo
assédios, preconceitos, estereótipos, animalização e anulação de seus direitos.
Outro aspecto que merece ser destacado é o fato de ter sido comum na literatura
alinhada ao Naturalismo a equiparação dos pobres aos animais. No caso das mulheres negras,
elas foram rebaixadas à condição de “bestas de carga”, como afirma Cândido (1991). Essa
animalização é um preconceito imposto principalmente às mulheres negras que estavam
sujeitas ao trabalho escravo e à exploração sexual. No O Cortiço os personagens pobres
sempre são considerados e equiparados aos animais e à carga. Esse retrato feito por Azevedo
mostra que o zoomorfismo é uma das grandes influências recebidas pela literatura naturalista,
a qual remete aos personagens e determina o que são perante aos olhos da sociedade.
De acordo com Beltran (2011), o zoomorfismo dá-se as coisas ou seres humanos
características que são próprias dos animais, agindo predominantemente através dos instintos.
Exemplos, entre muitos outros que poderiam ser apresentados, de atribuição de
comportamentos próprios dos animais à forma de ser dos pobres do cortiço, em especial as
mulheres negras, ou seja, a animalização dessa população na obra de Azevedo:
[...] ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida que
esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele [...]
[...] compreendeu perfeitamente que dentro dele aqueles cabelos crespos,
brilhantes e cheirosos da mulata principiavam a formar um ninho de cobras
negras e venenosas que iam devorar o coração [...]
[...] trabalhando [ela] e mais a amiga como uma junta de bois [...]
[...] ululando como uma cadela de quem roubaram o cachorrinho (AZEVEDO,
2006, pág. 13, 70-71 e 107).
A comparação dos seres humanos aos animais ou o rebaixamento do seu nível
racional aos instintos próprios dos animais expressa a representação feita pela elite burguesa
em relação aos pobres negros da periferia urbana, aos moradores em cortiços. Trata-se de uma
discriminação social em todos os sentidos, agravada em relação às mulheres negras. Essa
marginalização social e a discriminação, inclusive sua definição como seres inferiores pela
16
elite branca dominante, perpassa explícita e implicitamente toda a história brasileira posterior
a 1890, data de publicação de O Cortiço.
No momento de redação deste texto (2018), deparamo-nos com um discurso e
práticas idênticas de políticos quando se referem às chamadas minorias étnico-sociais que se
encontram em situação social de marginalização na atualidade, e tratadas desta forma.
A forma como são vistas e tratadas as mulheres negras pela sociedade elitista no final
do século XIX e a maneira como são retratadas na obra literária objeto deste estudo fica clara
a vinculação deste olhar a uma concepção de sociedade hierárquica e excludente
fundamentada na teoria positivista e na literatura alinhada à vertente naturalista. As
desigualdades sociais e as diferenças de gênero, de raça, de etnia, de sexualidade, etc. são
vistas como naturais, ou seja, são naturalizadas. Cria-se uma série de preconceitos, e que são
justificados por esta concepção teórico-filosófica desenvolvida no século XIX e vigente até os
dias atuais. As mulheres negras são as que mais padecem com essas práticas discriminatórias,
como é mostrado e justificado por Azevedo.
3 – MULHERES NEGRAS NA CONTEMPORANEIDADE: PERMANÊNCIAS
E MUDANÇAS NO PROCESSO DE SUA EMANCIPAÇÃO
Falar das mulheres negras na contemporaneidade é buscar definir explicações para
várias teorias que descrevem um passado distante e ao mesmo tempo presente no tocante às
respostas que anseiam uma verdade plausível para o sofrimento que essas mulheres tiveram e
têm no contexto sócio histórico para a conquista de autonomia, identidade e respeito em todos
os aspectos da sua vida. Nesta parte do texto queremos tratar brevemente o processo de luta
emancipadora das mulheres negras.
Antes de abordar as mudanças e a emancipação obtidas ao longo do tempo, o poema
‘’Mulata exportação’’ de Elisa Lucinda (2009) representa a situação de suborno que a mulher
negra tem vivido e buscado se libertar em relação ao mundo patriarcal e racista.
Mas que nega linda3
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
3 LUCINDA, Elisa. Mulata exportação. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/de-elisa-lucinda-mulata-
exportacao/>. Acesso em: 22 set. 2018.
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Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
[...]
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata.
Quando se fala em mulheres negras é preciso abordar sua identidade acima de tudo.
Couto (2016) ressalta que as mulheres negras brasileiras vêm se organizando na defesa de sua
identidade e pontuando suas diferenças dentro do próprio movimento negro e no movimento
feminista. O maior desafio ainda hoje é conseguir ressignificar uma identidade feminina que
se faz presente no imaginário social brasileiro, representada apenas pela ideia de um corpo.
Fazemos parte de um contingente de mulheres que trabalharam durante séculos
como escravas nas lavouras ou nas ruas, como vendedoras, quituteiras,
prostitutas... Mulheres que não entenderam nada quando as feministas
disseram que as mulheres deveriam ganhar as ruas e trabalhar! Fazemos parte
de um contingente de mulheres com identidade de objeto. Ontem, a serviço de
frágeis sinhazinhas e de senhores de engenho tarados. São suficientemente
conhecidas as condições históricas nas Américas que construíram a relação de
coisificação dos negros em geral e das mulheres negras em particular.
Sabemos, também, que em todo esse contexto de conquista e dominação, a
apropriação social das mulheres do grupo derrotado é um dos momentos
emblemáticos de afirmação de superioridade do vencedor. Hoje, empregadas
domésticas de mulheres liberadas e dondocas, ou de mulatas tipo exportação
(CARNEIRO, 1994, p. 190-191).
O Feminismo Negro no Brasil surgiu no final da década de 1970 protagonizado por
mulheres negras que tinham o intuito de trazer visibilidade às suas pautas e reivindicar seus
direitos em posição de igualdade junto aos homens negros.
Já Ribeiro (2015) pontua que bem antes disso as mulheres negras desafiavam o
sujeito mulher determinado pelo feminismo, onde a situação da mulher negra era radicalmente
diferente da situação da mulher branca. Enquanto as mulheres brancas lutavam pelo direito ao
voto, ao trabalho, ‘’as mulheres negras lutavam para serem consideradas pessoas’’.
18
Em 1851, Sojourner Truth, ex-escrava que se tornou oradora, fez seu famoso
discurso intitulado “E eu não sou uma mulher?” na Convenção dos Direitos
das Mulheres em Ohio [EUA]. Dentre alguns questionamentos, ela diz:
“Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa
carruagem, é preciso carregar elas quando atravessam um lamaçal e elas devem
ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me ajuda a subir numa
carruagem, a passar por cima da lama ou me cede o melhor lugar! E não sou
uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço! Eu capinei, eu plantei,
juntei palha nos celeiros e homem nenhum conseguiu me superar! E não sou
uma mulher? Eu consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem – quando
tinha o que comer – e também aguentei as chicotadas! E não sou uma mulher?
Pari cinco filhos e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando
manifestei minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou
uma mulher? 4
Esta fala é em si extremamente libertadora. Ainda mais considerando o país e o
contexto social da época. Somente 100 anos depois o movimento dos negros tomou as ruas
das principais cidades americanas em protestos contra o racismo e em favor da universalidade
dos direitos civis. Portanto, não foi ainda especificamente o movimento das mulheres negras.
Compreende-se que a participação efetiva de mulheres negras em movimentos
sociais ocorreu a partir do 3º Encontro Feminista Latino-Americano ocorrido em São Paulo,
na cidade de Bertioga, em 1985. Neste evento objetiva-se trazer à tona a visibilidade política
das mulheres negras, sendo que durante décadas houve rejeição por parte de algumas
mulheres negras em aceitar a identidade feminista. E isso acontecia devido ao fato de não se
identificarem com o movimento que era formado a princípio exclusivamente por mulheres
brancas e de classe média, assim como pela falta de empatia em perceber que mulheres negras
tinham como objetivos e pontos de partida diferentes para a luta, especificidades que
precisavam ser priorizadas.
O Enegrecendo o feminismo apresentado por Carneiro (2003), explica que esse
movimento veio de encontro as questões raciais que envolvia/envolvem as mulheres negras na
sociedade, em uma representatividade considerada a expressão utilizada para designar a
trajetória das mulheres negras no interior do movimento feminista brasileiro.
Buscamos assinalar, com ela, a identidade branca e ocidental da formulação
clássica feminista, de um lado; e, de outro, revelar a insuficiência teórica e
prática política para integrar as diferentes expressões do feminino construídos
em sociedades multirraciais e pluriculturais. Com essas iniciativas, pôde-se
4 RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? apud TRUTH, Sojourner. Uma ex- escrava que se
tornou oradora, fez seu famoso discurso em 1851, intitulado “E eu não sou uma mulher?” na Convenção dos
Direitos das Mulheres em Ohio. Disponível em < http://lugardemulher.com.br/quem-tem-medo-do-feminismo-
negro/> Acesso em 30 out. 2018.
19
engendrar uma agenda específica que combateu, simultaneamente, as
desigualdades de gênero e intragênero; afirmamos e visibilizamos uma
perspectiva feminista negra que emerge da condição específica do ser mulher,
negra e, em geral, pobre, delineamos, por fim, o papel que essa perspectiva
tem na luta antirracista no Brasil. (CARNEIRO, 2003, p. 118)
O significado de emancipação da mulher negra deve ser compreendido do ponto de
vista de suas lutas e conquistas, desde o trabalho doméstico do século XIX, onde era mais
difícil a sua participação nas organizações sindicais, segundo Davis (2016). Durante décadas
as mulheres brancas e até feministas demonstraram pouca importância em reconhecer as lutas
das trabalhadoras domésticas, bem como em melhorar suas condições de trabalho, sendo
tratadas semelhantemente à dinâmica do relacionamento entre senhor e escravo e/ou senhora e
empregada. Mesmo com o advento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a ocupação
das mulheres negras nas fábricas, o número de empregadas domésticas negras ainda perfazia
quase 60%.
Carneiro (2003) explica esta diferenciação nas lutas entre as mulheres brancas e
negras:
O racismo estabelece a inferioridade social dos segmentos negros da população
em geral e das mulheres negras em particular, operando ademais como fator de
divisão na luta das mulheres pelos privilégios que se instituem para as
mulheres brancas. Nessa perspectiva, a luta das mulheres negras contra a
opressão de gênero e de raça vem desenhando novos contornos para a ação
política feminista e antirracista, enriquecendo tanto a discussão da questão
racial, como a questão de gênero na sociedade brasileira. 5
Tiburi (2018) explica que essa condição no interior do mesmo gênero já vem de
berço, ou seja, a condenação de uma classe social, de uma raça e de outras marcações que não
permitem escolhas, onde a possibilidade de emancipação contra a opressão só advém de
muitas lutas. A realidade vigente ainda está longe de configurar o esperado no tocante à
valorização do trabalho e o respeito dado às mulheres negras.
Constata-se que essas mulheres negras precisam criar suas próprias formas de
sustento, mesmo tendo uma graduação e preparo para exercer a profissão. Não há vagas para
muitas delas, impondo-lhes uma vida de subemprego no que se refere ao mundo do trabalho.
Uma das principais lutas das mulheres negras no presente é alcançar total
visibilidade e inserção social, conseguir um emprego formal, uma boa profissão para buscar
5 CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na américa latina a partir de
uma perspectiva de gênero. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/375003/
mod_resource/content/0/Carneiro_Feminismo%20negro.pdf > Acesso em: 10 nov. 2018.
20
viver dignamente. Além desse direito social, almejam ingressar no ensino superior, evitar uma
jornada tripla de trabalho, ser respeitada por sua cor, ser reconhecida como sujeito mulher
negra e não por sua classe social, e ter os mesmos direitos humanos usufruídos pelas mulheres
e homens brancos, etc. Há uma longa trajetória de lutas a ser protagonizada pelas mulheres
negras no combate à discriminação social enquanto classe, à violência de gênero e ao racismo,
principalmente nas favelas do país. Essas dificuldades do cotidiano, para serem solucionadas,
dependem do protagonismo das mulheres negras. Estas devem ser os principais sujeitos de
sua emancipação social e subjetiva das múltiplas formas de opressão e discriminação. Estas
questões não tinham como ser retratadas no O Cortiço devido às orientações teóricas
naturalista/positivista que orientaram a produção literária de Aluísio Azevedo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Cortiço de Aluísio Azevedo inova o romance brasileiro ao trazer para a sociedade
uma nova perspectiva literária, mostrando as mazelas sociais condizentes com a realidade
histórica, cultural e social do país nas últimas décadas do século XIX. Esta narrativa é
fundamentada em determinadas teorias científicas, filosóficas, principalmente o determinismo
propugnado por Taine, apontando como causas determinantes do comportamento social o
meio ambiente, a raça e o contexto social.
As personagens negras retratadas por Azevedo são descritas e o comportamento
social explicado pelo pensamento determinista vigente na época. O Naturalismo literário
permite uma determinada análise das mulheres negras e, inclusive, define-as por uma
caracterização zoomórfica, rebaixando-as à condição animal. Nenhuma personagem negra
retratada na obra se emancipou das opressões e discriminações sociais: cada uma teve o seu
desfecho vinculado aos seus aspectos histórico, cultural e social visto como determinantes de
sua forma de ser.
A observação do escritor traz reflexões acerca de como os negros são vistos e
tratados pela sociedade elitista e branca, sendo sujeitos marcados pelo conflito e por relações
de poder de poder discriminatórios, vistos de acordo com uma ideologia social e política
fundamentada no conhecimento científico de matriz positivista/naturalista. Trata-se de uma
visão que não cooperava para a humanização dos diferentes segmentos sociais, incluindo o
respeito à cor; ao contrário, concebia os negros como mancha social e perpetuaram
21
estereótipos que se propagaram para além do tempo de produção da obra, sendo uma
realidade que ainda nos envergonha nos dias atuais.
Na contemporaneidade, portanto, ainda se visualiza o rebaixamento das mulheres
negras com base em terias de matriz naturalista, isso ao serem rechaçadas por sua cor, como
foi o caso vivido pela judoca Rafaela Silva, vítima de racismo, após sua desclassificação nas
Olímpiadas de 2016: a atleta foi chamada pelo twitter de "macaca" (Jornal O GLOBO, 2016).
Quando o assunto é a luta das mulheres negras por igualdade na sociedade, nota-se
que superar a hegemonia masculina perpetuada ao longo da história ainda é um desafio
inerente à realidade contemporânea a ser superada. Haja vista que a voz que mais clama é as
vozes femininas negras, classificadas socialmente como as mais vulneráveis, necessitando a
superação das ideologias patriarcais e racistas, ou seja, as opressões de gênero e de raça.
Nesse ínterim, novos caminhos de luta vêm direcionando a ações políticas antirracistas e de
gênero que impulsionam o protagonismo das mulheres negras para a emancipação subjetiva e
social.
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