Sindicato exige na Justiça atenção a vítimas do DDT

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O LIBERAL BELÉM, TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 20158 ATUALIDADES

Prefeitura anuncia reformas em quatro feiras. Página 9.CIDADES

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Valente, Botelho e Cavalero: Ministério Público Federal já instaurou inquérito

Sindicato exige a indenização de R$ 15 mil por ano trabalhado

Sindicato exige na Justiça atenção a vítimas do DDT

Saltou para 118 o número de mortes de ex-servidores da extinta Superintendência

de Campanhas de Saúde Pú-blica (Sucam), atual Fundação Nacional de Saúde (Funasa), contaminados pelo DDT (diclo-ro-difenil-tricloroetano) e tute-lados pela Justiça Federal para o tratamento das doenças cau-sadas pelo inseticida. Em 2011, era 37 mortes. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Pará (Sindsep/PA), a entidade estima-va em cerca de mil os servidores intoxicados no Estado, mas do-cumento de maio deste ano, do Ministério da Saúde, informou 1.812 servidores.

Segundo Luis Sérgio Bote-lho, coordenador de Saúde do Trabalhador do Sindsep/PA, esses trabalhadores – guardas de endemias, agentes de saúde pública, visitadores, motoristas de carro e de lanchas, laborato-ristas, enfermeiros, agentes administrativos, entres outros - enfrentam sérios problemas no cumprimento do programa de atendimento à saúde da Fu-nasa, que existe há 12 anos. A situação, segundo ele, se agra-vou nos últimos seis anos.

“Como somos cedidos pela Funasa ao Ministério da Saúde, conseguimos esse quantitati-vo de pessoas, porque a Funa-sa omite as informações, não cumpre o programa de saúde aos trabalhadores, muitos de-les morrendo e em situação precária de saúde. A estimati-va de falecidos é o que chega ao sindicato; há trabalhadores que não são sindicalizados, nem a

ASSISTÊNCIAEntidade diz que háseis anos eles nãotêm o atendimentode especialistas

Funasa nos informa sobre eles. No passado, salvamos muitas vidas e agora existe essa falta de respeito do governo, que a cada vez mais nos mata, porque os trabalhadores só têm atendimento básico, como consulta com clínico e exames de rotina. Há seis anos, o direito aos atendimentos especializados nos é negado e a Funasa não nos ex-plica porque suspendeu esses ser-viços”, afirmou Botelho, vítima do DDT que ainda atua como guarda de endemias.

O agente de saúde pública Manuel Valente Tavares, 62 anos, relata tontura e diz que não pode andar sozinho pelas ruas. “Estou também muito doente da coluna, sinto dores, que seguem pelas pernas e meus dedos do pé ficam amortecidos. Sou hipertenso e cardíaco. Tudo isso é consequ-ência do DDT. Quando comecei o trabalho era jovem, tinha 18 anos. Naquela época, a gente não sabia o que era aquele produto, nem o que a gente carregava e espirrava. Infelizmente, nos últimos seis anos, passamos a ser tratados com descaso pelo governo, que nem o tratamento de saúde nos

O uso de receitas casei-ras para escovar os dentes em substituição aos cremes dentais tradicionais pode colocar em risco a saúde da população, alerta o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp). Assunto veio à tona ontem quando a apresentadora Bela Gil fez

um post em sua página do Facebook, compartilhada mais de 4,3 mil vezes e com mais de 3,2 mil comentários. “Cúrcuma para escovar os dentes! Melhor do que qual-quer pasta de dente por aí (na minha opinião)!!! Anti-séptica, antibiótica, anti-in-flamatória, 100% natural...”

Odontólogos fazem alerta

FÚNEBRES

Depois de todas as revelações da Ope-ração Lava-Jato — in-

cluindo o indiciamento do empreiteiro Marcelo Odebrecht pelos crimes de fraude a licitação, lava-gem de dinheiro, corrup-ção ativa e passiva, crime contra a ordem econômica e organização criminosa; e a condenação, pelo juiz Sérgio Moro, a 15 anos de prisão de vários dirigentes da Camargo Corrêa, outra gigante da construção —, por que seria surpreenden-te que o ex-presidente Lula esteja sendo investigado por suas relações com a Odebrecht, quando se sabe que a atuação do cartel de empreiteiras na Petrobras aconteceu durante todo o governo Lula, entrando pe-lo de Dilma, e que o PT foi o grande artífice do esque-ma de corrupção, montado para financiar o partido e seus aliados?

“Lula está apoiando empresas corruptas a fazer negócios corrup-tos no exterior”, definiu Alejandro Salas, diretor regional para as Améri-cas da Transparência In-ternacional em Berlim. A declaração dá o título de uma reportagem da re-vista americana “Foreign Policy”, uma das mais prestigiadas sobre políti-ca internacional.

Por que acreditar que os negócios que o gover-no brasileiro apoiou, por meio de empréstimos do BNDES, em países africanos e ditaduras la-tino-americanas como Cuba, ou protoditaduras como a Venezuela, são corretos, quando se sabe o histórico de negociatas envolvendo esses gover-nos totalitários, e temos, no próprio Brasil, o exem-plo invulgar da Refinaria Abreu e Lima, que custou até agora seis vezes o que fora previsto, numa asso-ciação da Petrobras com a PDVSA que nunca deveria ter saído do papel?

Beira o patético a afir-mação de que Lula, ao via-jar nas asas da Odebrecht pelo mundo, estava só que-rendo ajudar uma empresa brasileira a ter êxito no ex-terior, que Lula está sendo acusado de ajudar o país.

Mesmo que o ex-presi-dente estivesse cumprin-do apenas uma agenda de palestras nesses países, uma atividade legítima de diversos ex-presidentes pelo mundo, ele não po-deria levar dirigentes de empreiteiras a reuniões palacianas com os dirigen-tes do país em que atuava como palestrante, justa-mente para não misturar as coisas. O conflito de in-teresses está bastante cla-ro nessa atitude dupla de misturar prestígio pessoal como ex-presidente com negócios particulares.

Os negócios particu-lares do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton tiveram que ser contidos quando sua

mulher Hillary assumiu como secretária de Esta-do no governo Obama, e até mesmo financiamen-tos de países árabes para programas sociais de sua fundação foram paralisa-dos, devido ao óbvio con-flito de interesses.

Mesmo assim, a Foreign Policy critica o hábito de atividades particulares de ex-presidentes e ex-primei-ros-ministros não serem investigadas com rigor, citando, além do caso de Clinton, considerado um claro conflito de interesse nunca totalmente resol-vido, e diversos outros, como os do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que hoje faz parte de diversos conselhos de empresas e bancos de investimentos, ou do ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, que dirige uma empresa de energia ligada ao governo russo.

Vários ex-presidentes pelo mundo, porém, estão sendo ou foram investi-gados por fatos que acon-teceram durante seus mandatos, o que se deve provavelmente a fatores culturais. No Brasil, até hoje não houve condições políticas para que Lula fosse incluído no rol de investigados pelo mensa-lão, por exemplo, quando ficou claro que para que o processo pudesse ter êxito, a culpa teria que parar no ex-ministro Chefe do Ga-binete Civil José Dirceu.

E mesmo no caso do petrolão, com informa-ções de diversos acusados de que a campanha presi-dencial de 2010 foi irrigada com dinheiro desviado da Petrobras, não há até agora nenhuma investigação so-bre a responsabilidade de Lula no esquema, embora ele tenha começado em seu governo.

OS PONTOS-CHAVE

1 Por que seria surpre-endente que Lula esteja sendo investigado por

sua relação com a Odebre-cht, quando se sabe que a atuação do cartel na Petro-bras aconteceu no governo Lula, entrando pelo de Dil-ma, e que o PT foi o grande artífice do esquema?

2 Mesmo que Lula es-tivesse cumprindo apenas agenda de pa-

lestras, não poderia levar dirigentes de empreitei-ras a reuniões com os dirigentes do país em que era palestrante, para não misturar as coisas.

3 No petrolão, não há até agora investigação so-bre a responsabilidade

de Lula no esquema, em-bora ele tenha começado em seu governo.

“Negócios corruptos”merval@oglobo.com.br

“O confl ito de interesses está bastante claro nessa atitude dupla”

garante mais. No início, tínha-mos todas as especialidades médicas”, lembrou Tavares.

PROVIDÊNCIAS

A assessoria jurídica do

sindicato protocolou, em 26 de maio, representação no Mi-nistério Público Federal (MPF), em Belém, para exigir que a Funasa garanta o tratamento a essas pessoas, cumprindo a ordem da Justiça Federal. A assessoria de comunicação do MPF informou que o procura-dor da República Bruno Soares Valente analisou o caso e de-terminou em junho a instau-ração de inquérito civil público para investigar a denúncia.

Os juízes foram comunica-dos a respeito do descumpri-mento das tutelas e o Sindsep pediu reunião com a Funasa, em Belém, além de ter entre-gue ofício, em 2013, à presi-dente Dilma Rousseff, infor-mando o descumprimento e pedindo providências, sem obter resposta.

A assessoria jurídica do sindicato esteve também em Washington, nos Estados Uni-dos, participando de audiência sobre Belo Monte na Organiza-ção dos Estados Americanos (OEA) e denunciou a situação do intoxicados à Comissão In-teramericana de Direitos Hu-manos, pedindo providências contra o Estado brasileiro.

“Estudamos a possibilidade de acionar o governo brasileiro na OEA pela demora evidente para resolver os direitos nega-dos a essas pessoas, que estão em situação frágil; não faz sentido o governo deixá-las

sofrendo eternamente. É uma violência aos direitos humanos que o estado faz com esses servidores”, afir-mou Pedro Cavalero, asses-sor jurídico do sindicato.

Há hoje no Pará cen-tenas de ações judiciais individuais em relação a essa causa, desde 1999. Dessas, 30% conseguiram tutela. Desde 2007, o Sin-dsep/PA entrou com oito ações civis públicas nas varas da Justiça federal para requerer indeniza-ção, obrigatoriedade do governo garantir o trata-mento de saúde e o reco-nhecimento como aciden-te de trabalho por falta de material de segurança.

Decisões judiciais já beneficiaram servidores da Funasa em Altamira, Belém, Castanhal, Marabá, Redenção e Tucuruí. Em Itaituba está em fase de conclusão. Em Santarém, o recurso foi negado, mas o sindicato recorreu.

“Nelas, o Tribunal Re-gional Federal reconhece como dano indenizatório a importância de R$ 3 mil por ano trabalhado, mas ainda é pouco pela gravi-dade que eles sofrem e pe-la dívida social com esses trabalhadores. Achamos pouco o valor, eles traba-lharam em média entre 20 a 30 anos. Questionamos indenização maior ao Su-perior Tribunal de Justi-ça, de R$ 15 mil por ano trabalhado. Infelizmente, a prestação da Justiça não acompanha a gravidade da saúde desses trabalhado-res. Muitas vezes, quando conseguimos uma tutela para o tratamento de saú-de, a doença já está agra-vada”, ressaltou Cavalero.

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