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DANIELLA CADAVEZ, EDUARDO LOPES E GUSTAVO MARSE Vítimas precoces do colesterol Quer um pedacinho? 49 á alguns anos, coles- t e rol alto era um problema restrito a pessoas obesas ou adultos maiores de 50 anos. No entanto, a vida sedentária e uma alimentação rica em gordura — reforçada, muitas vezes, pelos lanches nas cantinas do colégio — têm feito com que o problema se torne cada vez mais comum entre crianças e adolescentes, inclusive, entre jovens magros. Pesquisa do Ministério da Saúde e da Ong Pró-Criança Cardíaca, realizada com 600 crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos, mostrou que 41% deles tinham níveis elevados da substância no organismo. Segundo especialistas, a maio- ria dos casos de colesterol alto em crianças é fruto da má alimen- tação. Para eles, o grande vilão é o estilo de vida moderno. “O apelo da mídia e os fast-foods contribuem para uma alimen- tação pouco saudável. Há 30 anos, era muito raro medir o colesterol em crianças. Hoje, atendo pacientes com 3 anos de idade que já precisam fazer os exames”, diz a pediatra Adeir Brazileiro. A estudante Rafaela Aparecida, Aumentam registros de altos índices da substância em crianças magras, por herança genética ou alimentação rica em gorduras O colesterol é uma gordura que não se dissolve no sangue. Para ser transportado até os tecidos e órgãos, precisa se ligar a outras substâncias, formando partículas maiores, chamadas lipoproteínas. Os tipos de colesterol mais comuns são o HDL, também chamado de bom colesterol, que tem a função de conduzir o mau colesterol (LDL) para fora das artérias até o fígado, onde será metabolizado. Ou seja, quanto mais HDL no organismo, melhor. O perigo está no excesso de LDL no organismo. Ao se acumular no sangue, a substância forma placas de gordura que entopem as artérias. Elas reduzem o fluxo sangüíneo para os teci- dos, resultando em problemas cardíacos. Natália descobriu que tinha colesterol alto aos 6 anos e sofre para evitar as guloseimas COLESTEROL COLESTEROL COLESTEROL COLESTEROL COLESTEROL COLESTEROL Vanderson Fernandes

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DANIELLA CADAVEZ, EDUARDO LOPES E GUSTAVO MARSE

Vítimas precoces do colesterol

Quer um pedacinho?49

á alguns anos, coles-t e rol alto era ump roblema restrito apessoas obesas ou

adultos maiores de 50 anos. Noentanto, a vida sedentária e umaalimentação rica em gordura —reforçada, muitas vezes, peloslanches nas cantinas do colégio— têm feito com que o problemase torne cada vez mais comume n t re crianças e adolescentes,inclusive, entre jovens magros.Pesquisa do Ministério da Saúde eda Ong Pró-Criança Card í a c a ,realizada com 600 crianças eadolescentes entre 6 e 18 anos,mostrou que 41% deles tinhamníveis elevados da substância noorganismo.

Segundo especialistas, a maio-ria dos casos de colesterol alto emcrianças é fruto da má alimen-

tação. Para eles, o grande vilão éo estilo de vida moderno. “Oapelo da mídia e os fast-foodscontribuem para uma alimen-tação pouco saudável. Há 30anos, era muito raro medir o

c o l e s t e rol em crianças. Hoje,atendo pacientes com 3 anos deidade que já precisam fazer osexames”, diz a pediatra AdeirBrazileiro.

A estudante Rafaela Aparecida,

Aumentam registros de altos índices da substânciaem crianças magras, por herança genética

ou alimentação rica em gorduras

O colesterol é uma gordura que não se dissolve no sangue. Para ser transportado até os tecidos e órg ã o s ,p recisa se ligar a outras substâncias, formando partículas maiores, chamadas lipopro t e í n a s .Os tipos de colesterol mais comuns são o HDL, também chamado de bom colesterol, quetem a função de conduzir o mau colesterol (LDL) para fora das artérias até o fígado, ondeserá metabolizado. Ou seja, quanto mais HDL no organismo, melhor.O perigo está no excesso de LDL no organismo. Ao se acumular no sangue, a substânciaforma placas de gordura que entopem as artérias. Elas reduzem o fluxo sangüíneo para os teci-dos, resultando em problemas cardíacos.

Natália descobriu que tinha colesterol alto aos 6 anos e sofre para evitar asguloseimas

C O L E S T E R O L • C O L E S T E R O L • C O L E S T E R O L • C O L E S T E R O L • C O L E S T E R O L • C O L E S T E R O L •

Vanderson Fernandes

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15 anos, descobriu que estavacom níveis de colesterol alto hácinco anos. “Passei mal na aulade Educação Física e por isso fizum exame de sangue. Foi entãoque descobri que estava com ocolesterol e a glicose altos”, lem-bra. Ela admite que, na época,comia com freqüência hambúr-g u e res, batatas fritas e outro stipos de salgados, ricos em gordu-ra. “Tento me contro l a r. Façoexame de sangue de três em três

meses, e cheguei a freqüentar aacademia por um ano. Mas àsvezes não dá. Sou louca por bis-coitos. Sempre como no lancheda escola. Acho que por essasescapadinhas meu colesterol àsvezes sobe um pouco de novo. Noinício, minha mãe perturbava,mas agora tomei tenência e seique tenho que me cuidar”, conta.

Doença pode ser tambémhereditária

De acordo com o pediatraSidney Ferreira, conselheiro res-ponsável pela Câmara Técnicade Pediatria do Conselho Re-gional de Medicina do Rio(Cremerj), altos níveis de coles-terol em crianças podem ser tam-bém uma herança genética. “Adoença pode ter várias causas.Na maioria das vezes, acontecepor causa de uma dieta inade-quada. Mas, antes de tudo, éi m p o rtante avaliar o históricofamiliar para saber se essa cri-ança também não tem casos doproblema na família, se a doençatambém é hereditária”, explica.

Ele alerta que crianças que te-nham na família parentes com

colesterol alto ou doenças cardía-cas antes dos 55 anos estão maisaptas a ter níveis elevados dasubstância. “Crianças não têmdoenças card i o v a s c u l a res, maspodem ter pressão alta. Por isso, ép reciso acompanhá-las desdecedo”, explica.

A dona-de-casa Kátia Alves, 46anos, descobriu que a filha Na-tália, 9, estava com o colesterolalto quando a menina tinha ape-nas 6 anos. “Fizemos o exame desangue e descobrimos que osníveis da substância estavamaltos. Não entendi o porquê. Elanunca foi gorda e sempre cuideimuito de sua alimentação. Mes-mo assim, conversamos com elae tentamos mostrar o quanto eraimportante mudar os hábitos ali-m e n t a res. Até hoje, a Natálianão gosta de comer verduras elegumes. Diz que só o faz porqueeu a obrigo. Mas enquanto ela

Janeiro/Junho 200650

Devido ao aumento do índice decrianças com o problema, já se

recomenda que pequenos apartir dos 3 anos façam exames

de sangue para acompanhar osníveis de colesterol no organismo.

Isso porque, de acordo com o dire-tor médico da Amacor (Clínica do Coração), o car-diologista Marcos Heber Lima, o colesterol é for-mado por pequenas moléculas de gordura que nãose dissolvem no sangue. Com o passar do tempo,elas podem se acumular nas paredes das artérias e

tornar mais difícil a passagem do sangue, podendoaté mesmo resultar na completa interrupção dofluxo sangüíneo. “Esse processo leva, pelo menos,cinco anos para ser concluído, mas pode provocarinfartos e derrames”, diz.

O cardiologista ressalta também que o maiorperigo da doença é quando seus sintomas demo-ram para se manifestar. “Por isso, muitas vezes, opaciente só se dá conta de que está com o colesterolalto depois de adulto, já tendo passado assim, todaa infância acumulando gordura nas artérias”,completa.

Colesterol alto não tem sintomas, mas pode provocar infarto e derrame

Rafaela, vítima do problema, nãopode exagerar nas taças de sorvete.

Altos níveis de colesterolem crianças podem

ser também uma herança genética

Alessandro Costa

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for menor de idade e eu pudercontrolá-la, vou continuar cui-dando de sua saúde. É muito tra-balhoso, mas ela vai ver que valea pena”, diz.

Hábitos saudáveis devem serpara toda a família

O tratamento do problema ésimples. Consiste numa mudan-ça de hábitos alimentares, aliadaà prática de atividades físicas,pelo menos três vezes por sema-na. “Medicamentos só são uti-lizados em último caso. Geral-mente, apenas com uma dietamais saudável e a prática deexercícios, os níveis de colesteroljá diminuem”, diz o pediatraSidney Ferreira. No entanto, elelembra que, para ter efeito, otratamento deve ser contínuo.“Em média, essa mudança dehábitos leva de seis meses a umano. Depois desse período, repeti-mos o exame de sangue. Se osníveis voltarem ao normal, opaciente deve só continuar man-tendo a dieta equilibrada e osexercícios. Mas, se o colesterolnão baixar, tentamos a medica-ção”, completa.

Como os hábitos alimentare sdos filhos são ditados pelos dospais, especialistas alertam que,não só a criança, mas toda afamília também deve mudar seuestilo de vida e adotar posturasmais saudáveis. “Não só a Natá-lia passou a comer mais legumese verduras. A família toda pas-sou a se alimentar melhor. Elaainda pre f e re os biscoitos e ou-tras besteiras, mas entende que ép reciso comer alimentos sau-dáveis para ter uma boa saúde”,diz Kátia.

Quer um pedacinho?51

Má alimentação: um problema sociológico

Em um episódio da série norte-americana S e xand the City, Carrie, uma das pro t a g o n i s t a s ,responde a uma provocação de seu galantenamorado polonês dizendo “Eu sou apenas umag a rota americana” e, no instante seguinte, os doisa p a recem num restaurante da cadeia McDonald’spedindo hambúrg u e res, fritas e respondendo comum sim a sugestão da atendente de aumentar as porções.

Sem dúvida, McDonald’s é um poderoso símbolo da cultura ame-ricana. Pode ser visto positivamente, evocando a simplicidade e atradição culinária, como foi o caso neste episódio, ou significar amodernidade como para as avós que acompanham orgulhosa-mente as crianças aos McDonald’s na China, ainda que as assis-tam comer sem querer tocar no alimento exótico.

Ou, ao contrário, pode ser avaliado negativamente, significandoimperialismo político (e por isto tem sido atacado pelo movimen-to anti-globalização), homogeneização culinária planetária (con-tra qual se insurge o movimento do slow food) ou comida ruim (ojunk food).

• Deve-se evitar alimentos ricos em gord u r a ;• Leite integral pode ser

substituído por desnatado;• Deve-se preferir carnes “magras”, como

peito de frango, às “gordas”, como a picanha;• Queijos amarelos (como queijo prato) devem ser substituídos

por queijos brancos (como ricota ou queijo minas);• Verduras, legumes e frutas estão liberados;

• Fibras também estão liberadas, pois elas aderem à gordura,ajudando a eliminar o colesterol que está em excesso;

• De acordo com a Associação Dietética Americana (ADA),jovens sadios, entre 3 e 18 anos, devem ingerir todo dia 5g a

mais de fibras do que a idade que têm;• Tomar muito líquido também é importante, pois ajuda na

locomoção e absorção do bolo alimentar.Aline ressalta, no entanto, que antes de trocar a alimentação é

preciso conversar com a criança e conscientizá-la da importânciada mudança. “Os hábitos alimentares das crianças são reflexo dohábito dos pais. Muitas crianças e jovens que chegam ao con-sultório com o colesterol alto, têm pais também com níveis eleva-dos da substância. Por isso, é preciso que todos mudem seushábitos e que os pais conscientizem o pequeno de que isso é parao bem dele. No início, terão que enfrentar alguma resistência, masdepois eles se acostumam”, explica.

DicasA nutricionista Aline Boukai, da Amacor, dá algumas

dicas para uma dieta mais saudável: