Posso falar? Matheus Pichonelli

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Posso falar? Por Matheus Pichonelli

ENTER + 24/out/2015

a AGRESSIVIDADE do debate é um

produto da agressividade do NOSSO MEIO…

a AGRESSIVIDADE não é tão diferente

da forma como dirigimos,

torcemos, tratamos o garçom…

o LEITOR QUE REIVINDICA espaço

e nos leva a observar e REVER

NOSSO PAPEL como comunicadores.

escrever em jornal impresso era como

ARREMESSAR AO MAR UMA GARRAFA com um dia de apuração:

NUNCA SABIA ONDE E COMO IRIA CHEGAR.

o leitor ganhou forma quando comecei a

trabalhar no site de uma revista. Estava começado a identificar um PÚBLICO

QUE NÃO ESTAVA APENAS NAS TIRAGENS DA VERSÃO IMPRESSA.

tive de APRENDER A ME COMUNICAR COM UM

NOVO PÚBLICO. Estranhei a velocidade com que um

artigo ganhava vida ou IRRELEVÂNCIA NO MEIO DE TANTA INFORMAÇÃO.

hoje são mais de 90 milhões de internautas

no Facebook, quase METADE da

população brasileira.

NÃO ESCREVEMOS MAIS PARA UM PERFIL DE LEITOR assinante de jornal (geralmente

adulto, de classe média e classe média alta,

com alta escolaridade).

escrevemos para um PÚBLICO VARIADO que

divide a mesma rede com o nosso chefe, antigo

professor, vizinho e amigos de infância. TODOS ESTÃO

CONECTADOS E SÃO CONSUMIDORES DE

INFORMAÇÃO EM POTENCIAL.

existe um público cada vez mais crítico e sedento por NOVAS

ABORDAGENS e informações, e muitos dos LEITORES NÃO

SE SENTEM CONTEMPLADOS…

CONHECER OS LEITORES é

fundamental para ampliar o público e compreender por

que DETERMINADAS PAUTAS COMEÇAM

A SURGIR.

estas pautas e demandas SEMPRE

EXISTIRAM, mas não chegavam até a maioria de nós.

hoje as “NOVAS" PAUTAS chegam

por uma plataforma em que 92 MILHÕES

DE PESSOAS se comunicam diariamente.

os COMENTÁRIOS nas caixas de textos, nas mensagens inbox ou mesmo em tuítes

TIRARAM OS PRODUTORES DE CONTEÚDO DA

REDOMA.

há a possibilidade dos LEITORES

APONTAREM de forma imediata (e gratuita) nossos

flancos, imprecisões e PRECONCEITOS.

isso colocou a expressão

“POLITICAMENTE CORRETO” na ordem do dia.

quem estava acostumado a falar

com o mesmo público, e NÃO ESTAVA

ACOSTUMADO A SER CONTESTADO,

geralmente não gosta da expressão.

as PALAVRAS TÊM CONOTAÇÃO

POLÍTICA e nós tropeçamos nelas muitas vezes por

má fé ou IGNORÂNCIA.

eu escrevia textos e emitia opiniões a partir de uma PERSPECTIVA PARTICULAR E

ESTREITA.

eu tinha responsabilidade de compreender

um DESCONFORTO que não era meu.

era o desconforto de um PAÍS

ASSIMÉTRICO E DESIGUAL que falava cada vez

mais alto GRAÇAS À INTERNET.

quando uma mulher reclama da expressão “salto alto”, não cabia

a mim dizer se ela tinha razão ou não. CABIA A MIM OUVIR. E refletir

sobre os motivos desse incômodo. 

praticamente todos os XINGAMENTOS têm na natureza

um SIMULAR FEMININO: cobra, jararaca, piranha.

quando QUEREMOS XINGAR UM

HOMEM, acertamos a mãe

dele. Ou a companheira. 

é preciso PRESTAR ATENÇÃO NAS

NOSSAS ASSIMETRIAS. Entender que a

distância de oportunidades começa em casa, na escola, nas

ruas.

nosso REPERTÓRIO DE METÁFORAS DEIXA

CLARA A IMPOSIÇÃO DE UMA NORMATIVIDADE. Estamos cravando uma

linha imaginário onde se lê: aqui, mulheres, gays e

negros não são bem-vindos.

nossos jornais, como nossas ruas, NÃO

parecem ADAPTADOS A ACOLHER ESTAS

PESSOAS. Estamos afastando mais da

metade da população por pura insensibilidade

ou ignorância.

antes de pensar a comunicação como

um negócio, é preciso compreendê-la como uma FERRAMENTA DE REFLEXÃO DA

REALIDADE e de sua TRANSFORMAÇÃO. 

falar com os próprios pares, a partir das

nossas únicas e imutáveis

perspectivas e vivências, é

praticamente PREGAR PARA CONVERTIDOS.

é preciso saber ouvir. Saber acolher. SABER

CONVIVER. E abrir cada vez mais

espaços para a fala, não apenas nas

caixas dedicadas aos leitores.

vivemos uma crise no país que não é

apenas política ou econômica. É uma

CRISE DE CRIATIVIDADE

resultante de uma CRISE DE EMPATIA. 

temos dificuldade em nos colocar em outros

papeis e entender a posição do outro. Temos

dificuldade de ouvir contrapontos. TEMOS

DIFICULDADE DE COMPREENDER NOSSA

PRÓPRIA FALA.

hoje não escrevemos para que alguém nos

leia. ESCREVEMOS PARA QUE

ALGUÉM DEBATA NOSSOS PONTOS.

Obrigado!

ENTER + 24/out/2015

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