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A474 Alves, Silvio Dutra As obras que agradam a Deus ou as obras da fé./Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 111p.; 14,8x21cm 1. Ministério. 2. Serviço. 3. Devoção. 4. Fé. I.Título. CDD 230
3
Sumário
Boas Obras................................................................. 4 O Requisito para as Boas Obras
Aprovadas..................................................................
8
A Principal Obra que Devemos Fazer para
Deus...............................................................................
10
Muito Importante mas Não Suficiente....... 12
A Necessidade das Boas Obras........................ 14
“A Cristo, o Senhor, servis” (Col 3.24)......... 30
O Que é Servir a Deus?........................................ 32 Não Há Serviço Aceitável Sem
Consagração.............................................................
35
Boas Obras, Serviço e Trabalho...................... 37 Vivendo de Modo Útil a Deus........................... 43
Não Pelo Nosso Poder, mas Pelo do
Espírito........................................................................ 67
A Capacitação para o Ministério.................... 71 O Trabalho Paciente na Lavoura de Deus 76
Porque Amar é Servir........................................... 79
Salvação pela Graça e as Boas Obras............ 82
“Todos os vossos atos sejam feitos com amor.” (1 Cor 16.14)................................................
111
4
Boas Obras
I. Boas obras são somente aquelas que Deus ordena em sua santa palavra, não as que, sem
autoridade dela, são aconselhadas pelos
homens movidos de um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa intenção.
Ref. Miq. 6:8; Rom. 12:2; Heb. 13:21; Mat. I5:9; Isa. 29:13; I Ped. 1:18; João 16:2; Rom. 10:2;1 Sam. I5:22;
Deut. 10:12-13; Col. 2:16, 17, 20-23.
II. Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas
os crentes manifestam a sua gratidão,
robustecem a sua confiança, edificam os seus
irmãos, adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a
Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo
para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto
em santificação, tenham no fim a vida eterna.
Ref. Tiago 2:18, 22; Sal. 116-12-13; I Ped. 2:9; I João 2:3,5; II Ped. 1:5-10; II Cor. 9:2; Mat. 5:16; I Tim.
4:12; Tito 2:5, 912; I Tim. 6:1; I Pedro. 2:12, 15; Fil.
1,11; João 15:8; Ef. 2:10; Rom. 6:22.
III. O poder de fazer boas obras não é de modo algum dos próprios fiéis, mas provém
inteiramente do Espírito de Cristo. A fim de que
sejam para isso habilitados, é necessário, além
5
da graça que já receberam, uma influência
positiva do mesmo Espírito Santo para obrar
neles o querer e o perfazer segundo o seu
beneplácito; contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como se não fossem
obrigados a cumprir qualquer dever senão
quando movidos especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça de
Deus que há neles.
Ref. João I5:4-6; Luc. 11:13; Fil. 2:13, e 4:13; II Cor. 3:5; Ef. 3:16; Fil. 2:12; Heb. 6:11-12; Isa. 64:7.
IV. Os que alcançam pela sua obediência a maior perfeição possível nesta vida estão tão longe de
exceder as suas obrigações e fazer mais do que Deus requer, que são deficientes em muitas
coisas que são obrigados a fazer.
Ref. Luc. 17: 10; Gal. 5: 17.
V. Não podemos, pelas nossas melhores obras, merecer da mão de Deus perdão de pecado ou a
vida eterna, porque é grande a desproporção
que há entre eles e a glória porvir, e infinita a distância que vai de nós a Deus, a quem não
podemos ser úteis por meio delas, nem
satisfazer pela dívida dos nossos pecados
anteriores; e porque, como boas, procedem do Espírito e, como nossas, são impuras e
misturadas com tanta fraqueza e imperfeição,
que não podem suportar a severidade do juízo de
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Deus; assim, depois que tivermos feito tudo
quanto podemos, temos cumprido tão somente,
o nosso dever, e somos servos inúteis.
Ref. Rom. 3:20, e 4:2,4, 6; Ef. 2:8-9; Luc. 17:lO;Gal. 5:22,23; Isa. 64-6; Sal. 143, 2, e 130:3.
VI. Não obstante o que havemos dito, sendo aceitas por meio de Cristo as pessoas dos
crentes, também são aceitas nele as boas obras
deles, não como se fossem, nesta vida,
inteiramente puras e irrepreensíveis à vista de Deus, mas porque Deus considerando-as em seu
Filho, é servido aceitar e recompensar aquilo
que é sincero, embora seja acompanhado de
muitas fraquezas e imperfeições.
Ref. Ef. 1:6; I Ped. 2:5; Sal. 143:2; II Cor. 8:12; Heb. 6:10; Mat. 2,5:21, 23.
VII. As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que
Deus ordena, e úteis tanto a si mesmos como aos
outros, contudo, porque procedem de corações não purificados pela fé, não são feitas
devidamente - segundo a palavra; - nem para um
fim justo - a glória de Deus; são pecaminosas e
não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não
obstante, o negligenciá-las é ainda mais
pecaminoso e ofensivo a Deus.
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Ref. II Reis 10:30, 31; Fil. 1:15-16, 18; Heb. 11:4, 6; Mar. 10:20-21; I Cor. 13:3; Isa. 1:12; Mat. 6:2, 5, 16;
Ag. 2:14; Amós 5:21-22; Mar. 7:6-7; Sal. 14:4; e 36:3;
Mat. 2,5:41-45, e 23:23.
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O Requisito para as Boas Obras
Aprovadas
Todas as nossas obras devem ser feitas em
obediência a Deus, e não meramente para os
homens, mas como para o próprio Cristo, ou
seja, por amor a Ele que nos resgatou do pecado para que pudéssemos amar de fato a Deus e ao
nosso próximo.
Muitos são reprovados diante de Deus porque são descuidados com suas boas obras, uma vez que não as fazem por amor e obediência a Deus.
Por isso importa sabermos em primeiro lugar, qual é a boa, perfeita e agradável vontade de
Deus, pela renovação da nossa mente, como se afirma em Rom 12.2; de maneira que possamos
experimentar de modo real em nosso viver
aquilo que é aceitável ao Senhor, como se lê em
Efésios 5.10.
Portanto, um homem ignorante da vontade de Deus, será consequentemente um homem
rebelde. Porque não conhece qual seja a vontade
do seu Senhor. Como podemos obedecer aquilo
que não conhecemos?
Importa portanto, meditarmos sempre na Palavra de Deus, orarmos com devoção sincera
e reverente, para que recebamos sabedoria e
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poder da parte do Senhor, não somente para
entender qual seja a sua vontade, como também
para vivê-la.
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A Principal Obra que Devemos Fazer para
Deus
“Assim, pois, amados meus, como sempre
obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência,
desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor;” (Filipenses 2.12)
De nada nos aproveitará diante de Deus e sua
vontade eterna em relação a nós, se tudo
fizermos, mas se nos faltar isto, que é o
essencial, a saber, o nosso desenvolvimento
pessoal em santificação, a que o apóstolo chama aqui de desenvolver a salvação com temor e
tremor.
Quando falamos em serviço cristão ou trabalho cristão, costumamos pensar em muitas
atividades exteriores, mas pouco ou nada sobre este trabalho principal relativo ao nosso
aperfeiçoamento espiritual.
Daí nosso Senhor ter dito aos judeus nos dias do seu ministério terreno, quando lhe indagaram
qual era a obra de Deus que eles deveriam
realizar, a sua resposta foi que esta obra era que cressem nele, João 6.29, ou seja, que tivessem a
fé verdadeira em sua pessoa que nos convence
sobre esta vital necessidade de sermos
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transformados à Sua imagem e semelhança,
Rom 8.29.
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Muito Importante mas Não Suficiente
“1Co 13:1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que
retine.
1Co 13:2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência;
ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de
transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
1Co 13:3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o
meu próprio corpo para ser queimado, se não
tiver amor, nada disso me aproveitará.”
Alta madrugada.
Não podia conciliar o sono, porque nestas palavras eu meditava.
Certamente não estaria o apóstolo dizendo não ser de qualquer importância tudo o que havia
aqui relacionado como sendo inferior ao amor com Cristo, que ele introduziu com estas
palavras antes de descrevê-lo no restante deste
capítulo.
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Ele se refere a feitos heroicos e extraordinários, e ainda assim afirma que com tudo isto ele nada
seria quanto ao propósito fixado por Deus para
ser por nós atingido.
Nenhum grande talento, nenhuma grande fé, nenhum grande sacrifício ou obra de caridade,
ainda que sejam feitos com o nosso próprio amor, poderá nos conduzir ao estado eterno de
graça e de glória, porque isto pode ser somente
achado pela fé exclusiva em Jesus Cristo.
É por se participar de sua vida que temos a vida.
É por se estar em comunhão amorosa com ele, que permanecemos na condição abençoada de
filhos de Deus.
Este amor espiritual e sobrenatural pode ser achado somente nAquele que é, ele próprio,
este amor.
Nossas boas obras e capacitações, fora de Cristo, aqui começam e aqui terminam e não podem adentrar a eternidade, porque nossa aceitação
por Deus não pode existir estando nós fora da
comunhão com o Senhor Jesus, porque é
somente por causa dele que somos recebidos por Deus.
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A Necessidade das Boas Obras
“Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a
estas coisas, faças afirmação, confiadamente,
para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas
são excelentes e proveitosas aos homens.” (Tito
3.8)
Com base nestas palavras do texto me propus a
abordá-las nestes dois pontos:
Primeiro, quanto à verdade ou credibilidade deste dito ou proposição, de que os que têm
crido em Deus tenham o cuidado de praticar as
boas obras, e em segundo lugar, quanto à
grande necessidade de inculcarmos frequentemente naqueles que se professam
cristãos, a indispensável prática das virtudes de
uma vida santa.
Vejamos então o primeiro ponto, que é muito necessário pelas seguintes razões:
I. Porque os homens são muito aptos a enganarem a si mesmos neste assunto, e assim, dificilmente se aplicam àquilo em que consiste
principalmente a verdadeira religião, a saber, a
prática real da bondade.
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II. Por causa da necessidade imprescindível das coisas que nos tornam capazes do favor e
aceitação divinos, e da recompensa da vida
eterna e felicidade.
I. Desta primeira parte acima citada podemos dizer que os homens são extremamente
desejoso de reconciliação (se isto for possível) com a esperança de felicidade eterna em outro
mundo, com uma liberdade de viver como eles
vivem no mundo presente: por isso repudiam
como um problema e algo muito trabalhoso o ter que mortificar as suas concupiscências, e
subjugar e governar suas paixões, e refrear a
língua, e ordenar toda a sua conversação de
forma correta e praticando todos os deveres que são compreendidos naqueles dois grandes
mandamentos do amor a Deus e ao próximo.
Eles de bom grado entram no favor de Deus, e
fazem a sua vocação e eleição, por algum caminho mais fácil, do que "empenhar toda a
diligência, para adicionar à sua fé, a virtude e
conhecimento, e domínio próprio, e paciência, e
bondade fraternal, e o amor."
A pura verdade nesta questão é que os homens tiveram sua religião baseada em qualquer coisa,
exceto naquilo que ela é de fato - a remoção e
mortificação de nossas inclinações viciosas, a cura de nossos maus afetos e corrupção; o
devido cuidado e governo de nossos apetites e
paixões, o sincero empenho e prática constante
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de toda a santidade e virtude em nossas vidas; e,
portanto, eles muito ao contrário, buscam
alguma coisa que possa agradavelmente aliviar
e desculpar suas más inclinações, do que extirpá-las e ao invés de reforma e
transformação de suas vidas viciosas, fazem
com Deus uma paz honrosa e compensação para eles de qualquer outra forma.
Este tem sido o caminho e loucura da humanidade em todas as gerações, para
derrotar a grande finalidade e desígnio da
religião, por a considerarem árida para se confiar, a substituem por alguma outra coisa em
seu lugar, o que eles esperam possa servir para
lhes transformar, bem como, que tenha a
aparência de tanta devoção e respeito, e talvez de mais custos e dores, do que aquilo que Deus
requer deles. Os homens sempre têm sido aptos
para impor isto a si mesmos, e para agradar a si
mesmos com uma presunção de que estão agradando a Deus plenamente e tão bem, ou
melhor, por alguma outra maneira, diferente
daquela que ele lhes tem designado, não tendo
em conta que Deus é um grande rei, e será observado e obedecido por suas criaturas em
seu próprio caminho, e pronto! obediência ao
que ele ordena é melhor e mais aceitável para
ele do que qualquer sacrifício que possamos oferecer, o que, a propósito, ele não tem
requerido de nossas mãos; porque é
infinitamente sábio e bom, e, portanto, as leis e
17
as regras que Ele nos deu para vivermos por
elas, são meios mais apropriados e justos do que
nossas próprias invenções.
Assim, eu digo, que tem sido em todas as épocas. O velho mundo, depois do dilúvio que Deus
enviou para punir a maldade, a violência e a
impiedade dos homens, por varrer toda a humanidade da face da terra, com exceção de
uma única família, que foi salva para ser o
seminário de uma nova e melhor geração de
homens; eu digo, depois disso, o mundo em um curto espaço de tempo caiu do culto do
verdadeiro Deus para a horrenda adoração
idolátrica de falsos deuses; não estando
dispostos a trazerem a si mesmos à conformação e semelhança ao Deus verdadeiro,
eles escolheram falsos deuses como eles, que
poderiam não somente lhes desculpar, como
também lhes instigar ainda mais em suas práticas indecentes e viciosas.
E quando Deus fez uma nova revelação de si mesmo à nação dos israelitas, e lhes deu as
principais partes e substância da lei natural escrita mais uma vez com seu próprio dedo em
tábuas de pedra, e muitas outras leis relativas à
adoração religiosa, à sua conversação civilizada,
adequada e adaptada ao seu temperamento e condição atual, ainda assim, logo a sua religião
foi degenerada em meras observâncias
externas, purificações e lavagens cerimoniais, e
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uma multidão de sacrifícios, sem grande
relação com a substancia íntima da religião que
receberam para guardar, e sem a prática dos
seus deveres e das virtudes morais, que foram em primeiro lugar requeridos deles, e com tudo
o mais que lhes fora prescrito por Deus para
serem aceitos por Ele.
Disso resultaram as queixas mais frequentes nos profetas, que sua religião foi degenerada em
formalidade e cerimônia, em oferendas e
sacrifícios, e observância de jejuns, e sábados, e luas novas, mas não tinha poder e eficácia em
seus corações e vidas; era totalmente destituída
de pureza interior e santidade, de todas as
virtudes substanciais, e dos frutos da justiça em uma vida justa. Por isso Deus reclama pelo
profeta Isaías: (1.11-18):
“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? —diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de
animais cevados e não me agrado do sangue de
novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.
Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus
átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o
incenso é para mim abominação, e também as
Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar
iniquidade associada ao ajuntamento solene. As
vossas Festas da Lua Nova e as vossas
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solenidades, a minha alma as aborrece; já me
são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo
que, quando estendeis as mãos, escondo de vós
os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos
estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos,
tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a
fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao
opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a
causa das viúvas. Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, eles se tornarão brancos como
a neve; ainda que sejam vermelhos como o
carmesim, se tornarão como a lã.”
Após estes termos Deus se declara pronto para se reconciliar com eles, e ter misericórdia deles.
Mas todos os seus serviços externos e
sacrifícios, separados da bondade real e da justiça, estavam muito longe de apaziguar a ira
Deus, que eles haviam provocado, ao contrário,
a aumentavam ainda mais.
E, para o mesmo fim lemos em Isaías 66.2,3: "Porque a minha mão fez todas estas coisas, e
todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o
homem para quem olharei é este: o aflito e
abatido de espírito e que treme da minha palavra. O que imola um boi é como o que
comete homicídio; o que sacrifica um cordeiro,
como o que quebra o pescoço a um cão; o que
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oferece uma oblação, como o que oferece
sangue de porco; o que queima incenso, como o
que bendiz a um ídolo. Como estes escolheram
o seu próprio caminho e a sua alma se deleita nas suas abominações."
E também em Jer 6.19,20: "Ouve tu, ó terra! Eis que eu trarei mal sobre este povo, o próprio
fruto dos seus pensamentos; porque não estão
atentos às minhas palavras e rejeitam a minha lei. Para que, pois, me vem o incenso de Sabá e a
melhor cana aromática de terras longínquas?
Os vossos holocaustos não me são aprazíveis, e
os vossos sacrifícios não me agradam.”
Eles pensaram que agradariam a Deus com incenso e sacrifícios, enquanto eles rejeitavam
sua lei.
E, também, Jeremias 7.4-6: "Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR,
templo do SENHOR, templo do SENHOR é este.
Mas, se deveras emendardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras
praticardes a justiça, cada um com o seu
próximo; se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue
inocente neste lugar, nem andardes após outros
deuses para vosso próprio mal,”
E, Jeremias 7.8-10: “Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam.
21
Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério
e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e
andais após outros deuses que não conheceis, e
depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis:
Estamos salvos; sim, só para continuardes a
praticar estas abominações!”
Eles pensavam que a adoração de Deus, e do seu santo templo, seriam uma desculpa para esses
crimes e imoralidades que eles praticavam.
E Miqueias 6.6-8: “Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso?
Virei perante ele com holocaustos, com
bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR
de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha
transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado
da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que
pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e
andes humildemente com o teu Deus.”
E no tempo do nosso bendito Salvador, aqueles que fingiam serem os mais devotos entre os
judeus, ficaram totalmente ocupados com suas
tradições pretensiosas de lavagem das mãos, e
das partes externas de seus copos e pratos, e sobre as coisas externas e menores da lei, o
dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e
todos os tipos de ervas, omitindo o mais
22
importante da lei, a justiça, a misericórdia e a fé,
e o amor de Deus, como o nosso Salvador
descreve em Mateus 23.23.
E após a revelação clara do evangelho, a melhor e mais perfeita instituição que sempre existiu,
no início do cristianismo, as doutrinas licenciosas que eram ensinadas por pessoas
insubordinadas, transformando a graça de Deus
em dissolução, e libertinagem de homens
quanto a todos os deveres morais e as virtudes de uma vida santa, razão pela qual o caminho da
verdade foi blasfemado, como afirmam Pedro e
Judas, em relação à seita dos gnósticos . E João,
sabiamente, descreve a mesma seita por sua arrogante pretensão de um conhecimento e
iluminação extraordinários, ao mesmo tempo
que "andava nas trevas", e permitia todo o tipo de
maldade na vida, pois eles fingiam perfeição e justiça, sem guardar os mandamentos de Deus.
E no período seguinte do cristianismo, como ele foi importunado com uma controvérsia banal sobre o tempo de observação de Páscoa, e com
intermináveis disputas e sutilezas sobre a
doutrina da trindade, e as duas naturezas e
vontades de Cristo! por causa disto a prática do cristianismo foi grandemente negligenciada, e
o principal fim e desígnio da verdadeira religião
foi quase completamente derrotado e perdido.
23
Depois disso, quando o mistério da iniquidade começou a aumentar, com a degeneração da
Igreja Romana que abandonou a sua primitiva
santidade e pureza, e na afetação de um poder indevido e sem limites sobre outras igrejas, a
religião cristã começou a ser invadida
por superstição, e o primitivo fervor da piedade e devoção foi transformado num zelo feroz e
contendas sobre assuntos do momento sem
importância, dos quais temos um grande
exemplo notável aqui no nosso próprio país (Inglaterra), quando Agostinho, o monge
chegou aqui para converter a nação, e pregar o
evangelho entre nós, como a Igreja de Roma
presume, mas contra toda a fé e a verdade da história, que nos assegura, que o cristianismo
aqui plantado entre os britânicos, o havia sido há
vários séculos antes, e talvez mais cedo do que
até mesmo na própria Roma; e não somente isso, mas tinha alcançado um crescimento
considerável entre os saxões antes que
Agostinho, o monge já citado, estivesse entre
nós, eu digo: quando Agostinho chegou aqui, os dois grandes pontos de seu cristianismo
consistiram em levar os britânicos a um acordo
com a Igreja de Roma no tempo da Páscoa, e na
tonsura e raspa dos sacerdotes, segundo o suposto costume de Pedro, como eles
pretendiam, em cima da coroa da cabeça, e não
de Paulo, que havia cortado o cabelo de toda a
cabeça, a partir de alguma tradição vã e tola, que se pretendia que fosse aprendida: a de promover
24
estes dois costumes era sua grande missão, e o
zelo de sua pregação foi gasto sobre estas duas
exigências principais, em razão das quais,
depois de muitas bárbaras e sangrentas ações, finalmente prevaleceu.
Desde então, tem-se visto por toda a parte onde o cristianismo é pregado, o distanciamento da prática daquela vida piedosa e santa ensinada
por Cristo e por seus apóstolos, por supostos
líderes que falam em nome de Cristo, mas que
no afã de estimular a obediência às práticas não ordenadas por Deus na Bíblia, mas criadas pela
superstição e invenção e artimanha dos
homens, isto serviu e tem servido de base para
todo sistema religioso que se afirme cristão, mas que não se fundamenta nas boas obras
assim como elas são declaradas na Palavra de
Deus revelada e escrita.
Então daí surgiu a a doutrina insolente do mérito das boas obras do homem para a
salvação da alma, como se Deus estivesse em
dívida com os homens para receber das mãos deles as suas ações para serem contadas como
justiça para eles.
Então aqui, o líder religioso avoca para si o pretenso direito e poder de perdoar pecados e conceder bênçãos no lugar de Deus, por um
também suposto poder e conhecimento que
alegam ter recebido dele para tal propósito.
25
Com isso se tornam guias cegos de cegos, de contingentes imensos de pessoas que se tornam
dependentes deles, por acalentar a falsa ideia de
que são eles os agentes enviados por Deus para salvá-las e abençoá-las.
Isto pode ser visto inclusive no próprio meio chamado evangélico ou protestante, quando os
líderes se afastam da obediência a Deus e aos
mandamentos da Sua Palavra.
A verdadeira religião cristã é assim enfraquecida e deturpada, e esta é a razão de não
se ver tanto aquela virtude e justiça, os frutos de bondade real que se viam nos primeiros dias do
cristianismo.
É a estes que se refere o apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3.5:
“tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder.”
II. A segunda razão , ou seja, por causa da necessidade imprescindível das coisas que nos
tornam capazes do favor e aceitação divinos, e
da recompensa da vida eterna e felicidade.
E esta, adicionada à anterior, faz com que a razão seja plena e forte. Porque, se os homens estão desta forma aptos a enganarem a si
mesmos neste assunto, e ser enganados num
assunto tão perigoso, consequentemente,
26
então, é altamente necessário inculcar isso com
frequência nos cristãos, para que ninguém
possa ser confundido nesta questão de tanto
perigo, e da qual a sua felicidade eterna depende.
Agora, se a obediência às leis de Deus, e a prática da virtude e as boas obras, são necessárias, a nossa continuidade em um estado de graça e de
favor com Deus e nossa justificação final por
nosso absolvição no grande dia do juízo,
depende senão de santidade e obediência que podem nos qualificar para a visão abençoada de
Deus, e a gloriosa recompensa da felicidade
eterna; então esta é uma questão de
consequências infinitas para nós, e não podemos ser confundidos numa matéria de tão
grande importância; mas "desenvolver a nossa
salvação com temor e tremor”, para “com toda a
diligência confirmar cada vez mais a nossa chamada e eleição", acrescentando
a nossa fé e conhecimento das virtudes de uma
vida santa, perseverando em fazer o bem,
procurando glória, honra e incorruptibilidade; aguardando a bendita esperança e a aparição
gloriosa do grande Deus e nosso Salvador Jesus
Cristo, que se entregou por nós, para nos remir
de toda a iniquidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras.
Eu sei que tem sido o grande projeto do diabo e seus instrumentos, em todas as épocas, minar a
27
religião, fazer uma separação infeliz e divórcio
entre a piedade e a moralidade, entre a fé e as
virtudes de uma vida santa, e por este meio, não
somente para enfraquecer e diminuir, mas mesmo para destruir inteiramente, a força e
eficácia da religião cristã, e para deixar os
homens, tanto sob o poder do diabo e de seus desejos, como se não houvesse tal coisa como
cristianismo no mundo.
Mas não nos enganemos a nós mesmos; nisto que sempre foi a religião e a condição de nossa
aceitação por Deus: esforçar-se para ser como
Deus em pureza e santidade, justiça e retidão, em misericórdia e bondade, cessar de fazer o
mal e aprender a fazer o bem, e isso, você vai
sempre encontrar na doutrina constante das
Sagradas Escrituras, desde o início da Bíblia até o fim.
Gên 4.7: "Se procederes bem, não é certo que serás aceito?"
Salmo 15.1,2: “Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo
monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade; o que não
difama com sua língua, não faz mal ao próximo,
nem lança injúria contra o seu vizinho;”
Miqueias 6.8: " Ele te declarou , ó homem, o que é bom e o que o Senhor pede de ti, senão que
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pratiques a justiça , e ames a misericórdia , e
andes humildemente com o teu Deus?"
Is 3.10,11: “Dizei aos justos que bem lhes irá; porque comerão do fruto das suas ações. Ai do
perverso! Mal lhe irá; porque a sua paga será o
que as suas próprias mãos fizeram.”
E nosso bendito Salvador, em seu sermão da Montanha, nos diz claramente que tipo de
pessoas nós devemos ser, se esperamos ser bem-aventurados, para entrar no reino de Deus,
e onde a sua religião consiste, em justiça e
pureza, e mansidão, e paciência e pacificação, e
declara mais expressamente, que se esperamos felicidade em quaisquer outros termos
diferentes da prática dessas virtudes, podemos
construir sobre a areia.
Gál 6.7,8: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso
também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas
o que semeia para o Espírito do Espírito colherá
vida eterna.."
Ef 5.6: “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre
os filhos da desobediência.”.
29
1 João 3.7: "Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é
justo, assim como ele é justo.”
Estas coisas são boas e proveitosas aos homens, e agradáveis a Deus, e honram a religião, e são a
única maneira e caminho para a vida eterna, por
meio da misericórdia e méritos de Jesus Cristo, nosso bendito Senhor e Salvador, porque temos
a justificação, a regeneração, a santificação e a
glorificação, simplesmente pela graça,
mediante a fé no Seu grande nome, para vivermos na prática das boas obras.
Tradução, redução de um sermão de JOHN TILLOTSON, e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra.
30
“A Cristo, o Senhor, servis” (Col 3.24)
Para que classe de oficiais escolhidos essa
palavra foi falada? Para reis que orgulhosamente gloriam-se de um direito
divino? Ah, não! Demasiadas vezes eles servem
a si mesmos ou a Satanás, e esquecem do Deus
cujo sofrimento lhes permite usar a sua majestade imitadora por pouco tempo. Estaria o
apóstolo falando para os chamados
"reverendíssimos em Deus", os bispos, ou " os
veneráveis diáconos"? Não, na verdade, Paulo não sabia nada dessas meras invenções do
homem. Nem mesmo para pastores e mestres,
ou para os ricos e respeitados entre os crentes
esta palavra foi falada, mas para os servidores, sim, e para os escravos.
Entre as multidões dos que trabalham arduamente, os ambulantes, os diaristas, os servos domésticos, os empregados de cozinha, o
apóstolo encontrou, como ainda encontramos,
alguns dos escolhidos do Senhor, e lhes diz:
"Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens;
sabendo que recebereis do Senhor o galardão da
herança; pois ao Senhor Jesus Cristo, servis".
Esta palavra enobrece a rotina cansativa dos empregos terrestres, e envolve com um halo ao
redor das ocupações mais humildes . Lavar os
pés de alguém pode ser servil , mas lavar os pés
31
dele, é um trabalho real. Desatar o sapato do
patrão é trabalho humilde, mas desatar as
sandálias do grande mestre é privilégio de
príncipes. A loja, o celeiro, a copa, e a forja tornam-se templos quando homens e mulheres
fazem tudo o que fazem para a glória de Deus!
Então, "serviço divino" não é uma coisa de poucas horas feita em alguns lugares, mas toda
uma vida transformada em santidade para o
Senhor, e cada lugar e cada coisa, tão
consagrada quanto o tabernáculo e seu castiçal de ouro.
"Ensina-me, meu Deus e Rei, em todas as coisas, ver-te;
E o que eu faço - qualquer coisa - que o faça como para ti.
Todos podem participar de ti, nada pode ser tão ruim. Quem com este matiz, por tua causa, não
tornar-se-á brilhante e limpo?
Um servo com esta disposição faz da labuta, divina; quem varre um cômodo, como por tuas
leis, faz dele por esta ação, uma coisa
boa".
Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido por Silvio Dutra
32
O Que é Servir a Deus?
Servir a Deus é servir a Cristo, notadamente no
que se refere às ordenanças do Evangelho.
“João 12:26 - Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E,
se alguém me servir, o Pai o honrará.”
“Col 3:24 - cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo;”
Muito deste serviço está direcionado a tudo o que se refere à salvação dos homens (conversão,
santificação, edificação).
Daí a necessidade do preparo dos cristãos para o seu desempenho no corpo de Cristo, conforme
o caráter da vocação de cada uma deles por
Deus.
“Ef 4:12 - com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,”
A par do seu caráter espiritual este serviço é materializado especialmente nos assuntos
comuns da vida cotidiana, como a prática da
hospitalidade, da generosidade, do socorro aos
33
necessitados e de tudo o que demonstre um
verdadeiro amor ao próximo.
“Tito 3:14 - Agora, quanto aos nossos, que
aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se
tornarem infrutíferos.”
Não basta servir, há também o modo de fazê-lo: como por exemplo, com humildade e fervor de
espírito:
“Mar 10:43 - Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva;
Mar 10:44 e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.
Mar 10:45 Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate por muitos.”
“Rom 12:11 No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor;”
Quanto ao tempo de duração deste serviço: durante toda a vida, a tempo e fora de tempo. O
serviço de Deus deve ser o primeiro em nossas
vidas e deve permear tudo o que fizermos. É uma verdadeira lástima que muitos que professam
crer em Cristo não reservem sequer míseros
dez minutos diários para a oração e para a
34
meditação da Palavra de Deus, e para tudo o
mais que o Senhor requer deles, em prova
inconteste do amor que afirmam ter por Ele.
“Gál 6:9 - E não nos cansemos de fazer o bem,
porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.”
Gál 6:10 Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas
principalmente aos da família da fé.”
“QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR NÃO SERVE PARA VIVER”
35
Não Há Serviço Aceitável Sem
Consagração
Marque isto:
“Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar
destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando
preparado para toda boa obra.” (2Tim 2.21)
Somos purificados, santificados pelo Senhor, nem tanto para o nosso próprio aprazimento
pessoal, mas para podermos ser usados por ele,
para nos dedicarmos a fazer a sua vontade e obra.
Para isto é fundamental que se esteja confirmado na Palavra do Senhor, por se obter e
manter um coração puro, manso, longânimo,
paciente, amoroso, alegre, sóbrio, com domínio
próprio, benigno, bondoso, e cheio de fé, segundo o crescimento na graça e no
conhecimento íntimo de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Este foi o segredo do sucesso de John Wesley, Moody, Spurgeon, e tantos outros.
Eles levaram muito a sério esta questão da santificação de suas vidas, pela Palavra e poder
36
do Espírito Santo, e se consagraram
inteiramente a Deus.
E isto nunca mudou através dos séculos, e jamais mudará, porque o Senhor é Santo e
demanda a santidade de todos os seus filhos.
37
Boas Obras, Serviço e Trabalho
A vida cristã não consiste em mera
contemplação espiritual das belezas de Cristo,
mas também em servir a Deus e ao próximo.
É sobretudo no exercício do ministério que recebemos da parte de Deus para cumprir, que
crescemos na graça e no conhecimento de
Jesus.
O bom soldado cristão é feito no campo de batalha, e não meramente nas salas de
treinamento das igrejas e seminários.
O serviço deve ser segundo a esfera de atuação que nos foi demarcada pelo Senhor, tanto no
que se refere ao tipo de serviço que deve ser realizado, quanto à (s) área (s) geográfica (s)
demarcada (s) por Ele para a nossa atuação, de
modo que não labutemos em campo alheio;
cuidado este, que a propósito, sempre esteve bem presente no apóstolo Paulo.
“3 Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que
pense de si sobriamente, conforme a medida da
fé que Deus, repartiu a cada um.
38
4 Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a
mesma função,
5 assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente membros uns dos outros.
6 De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela
segundo a medida da fé;
7 se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
8 ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que
preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.” (Romanos 12.3-8)
Todos os crentes possuem portanto, pelo menos um ministério, ou seja, um serviço específico
para o qual recebeu dons e capacitações de Deus
para o seu exercício.
Mas, para o propósito de formar e edificar a Igreja, sobretudo para confirmar os crentes na fé e na sã doutrina, Deus levanta ministérios
especiais para tal propósito, dentre o corpo
geral de crentes:
39
“11 E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros
como pastores e mestres,
12 tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do
corpo de Cristo;
13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do
pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da
plenitude de Cristo;
14 para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de
doutrina, pela fraudulência dos homens, pela
astúcia tendente à maquinação do erro;
15 antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
16 do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa
operação de cada parte, efetua o seu
crescimento para edificação de si mesmo em
amor.” (Efésios 4.11-16).
Agora, Deus não somente define qual é o nosso ministério como também determina o modo como ele deve ser realizado, a saber, no Espírito
Santo, e com todo o fervor espiritual e amor;
devendo haver uma justa cooperação entre
40
todos os membros do corpo de Cristo em cada
congregação local.
Mas o ministério do crente não está limitado ao ofício que exerce na igreja em que congrega,
pois a sua vida deve ser de serviço em todas as
áreas em que atue. Por exemplo, o primeiro e grande ministério de uma mulher casada é o de
servir seu marido e filhos, educando seus filhos
pelo exemplo e pela palavra para que venham a
se tornar homens e mulheres de Deus.
Os maridos têm sobretudo o dever de amarem e
proverem para suas respectivas esposas e filhos.
Os que servem em atividades remuneradas
devem em tudo dar bom testemunho de honestidade e boas obras.
E em todas as ocasiões em que formos chamados a servir ao próximo, devemos fazê-lo
não como para homens, mas como para o
próprio Senhor.
Na verdade, tudo o que fazemos deve ser como para o Senhor, porque com isto se evita que se
faça alguma coisa por motivo interesseiro, ou para bajulação e subserviência a homens.
Na verdade, todo o nosso trabalho e tudo o que somos ou fazemos deve ser para a glória de
Deus, e Ele será glorificado somente caso o que
façamos seja pelo poder da Sua própria graça,
41
conforme testemunho do apóstolo Paulo acerca
do seu ministério:
“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei
muito mais do que todos eles; todavia não eu,
mas a graça de Deus que está comigo.” (I Corintos 15.10)
Devemos ter a mesma humildade do apóstolo, reconhecendo que nada podemos fazer sem o
Senhor, de modo que não somos salvos
(justificados, regenerados e santificados) por
causa de nossas boas obras, mas exclusivamente pela graça de nosso Senhor
Jesus Cristo, pela qual somos chamados agora a
praticar as boas obras de justiça do evangelho,
que foram preparadas de antemão por Deus para que andássemos nelas.
O propósito e o resultado da liberdade que recebemos em Cristo é para o serviço.
Nós vemos isto de modo muito claro na Parábola dos Talentos.
O Senhor afirma que aquele que tem receberá mais, e o que não tem até o que tem lhe será
tirado.
Ele ensina claramente que Deus é glorificado se dermos muitos frutos para Ele, pelas boas obras
que os homens virem sendo realizadas por nós
42
em Seu nome, e com isso serão levados a
glorificá-lo.
43
Vivendo de Modo Útil a Deus
Não há um só cristão autêntico que não deseje
ser usado por Deus e útil à causa do evangelho.
No entanto, tal como no compromisso matrimonial, se a noiva não deixar a influência
do lar paterno, não poderá constituir uma nova
família junto ao seu marido.
Rebeca não poderia ter atendido ao plano de Deus para que se casasse com Isaque, caso não se dispusesse a deixar a sua parentela.
De igual modo ninguém poderá ter um compromisso real com Cristo, sendo-Lhe útil e
fiel no casamento com Ele, caso não deixe de
lado as muitas influências e compromissos
deste mundo aos quais esteja apegado o seu coração.
“10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa de teu pai.
11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu senhor, presta-lhe, pois, homenagem.” (Sl
45.10,11).
Se não for assim, Deus não lhe pedirá nada.
44
Após Abraão ter cruzado o rio e chegado a Canaã, ele foi provado por Deus diversas vezes,
até, afinal, ser chamado à grande prova de
oferecer Isaque.
O Senhor queria comprovar que Abraão realmente O temia, e que a Sua vontade divina
era o que contava, e não a sua própria vontade.
Há muitos cristãos que contornam a cruz, mas isto só servirá para prolongar a trajetória deles.
Nosso caminho será bem mais curto se formos fiéis, mas será bem mais longo se não formos,
pois andaremos em círculo e sem um rumo
certo quanto ao conhecimento e à capacitação para fazermos aquilo que é da vontade de Deus
para nossas vidas.
É preciso realmente morrer para tudo o que há no mundo, inclusive para o próprio ego, se
pretendemos ser verdadeiros discípulos de
Cristo que sejam úteis em Suas mãos.
Os pensamentos de Deus são completamente diferentes dos pensamentos dos homens,
porque o homem pensa segundo a carne, e Deus
segundo o espírito.
Se nós não somos libertados do apego ao ego carnal, não poderemos esperar que as outras
pessoas sejam libertadas.
45
Se nós não estamos efetivamente crucificados, como podemos pregar o evangelho da cruz?
Se não temos visão, como podemos esperar que outros vejam a maneira como Deus age?
Acaso não estaremos dando chicotadas no ar em tudo o que fizermos?
Se nós não andarmos no caminho estreito,
quem nos seguirá por ele?
Deus deseja portanto trabalhar primeiro conosco, e depois que Ele tiver ganho alguns de
nós, poderemos, então, ganhar outras pessoas
para Ele, conforme é o desejo de todo cristão
autêntico, porque o Espírito Santo, que nele habita, o impele a isto.
As riquezas da graça divina somente podem fluir para outros através de pessoas que Ele
possa usar.
E para sermos usados por Deus precisamos confiar nEle e obedecê-lo completamente.
A qualificação para fazer a obra de Deus não se
encontra no estudo teológico, na fé sólida, no entusiasmo e no amor pelas almas, mas no fato
de a pessoa estar totalmente tomada por Deus.
Não há um só cristão autêntico que não deseje ser usado por Deus e útil à causa do evangelho.
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No entanto, tal como no compromisso matrimonial, se a noiva não deixar a influência
do lar paterno, não poderá constituir uma nova
família junto ao seu marido.
Rebeca não poderia ter atendido ao plano de Deus para que se casasse com Isaque, caso não
se dispusesse a deixar a sua parentela.
De igual modo ninguém poderá ter um compromisso real com Cristo, sendo-Lhe útil e
fiel no casamento com Ele, caso não deixe de
lado as muitas influências e compromissos deste mundo aos quais esteja apegado o seu
coração.
“10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa de teu pai.
11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu senhor, presta-lhe, pois, homenagem.” (Sl
45.10,11).
Se não for assim, Deus não lhe pedirá nada.
Após Abraão ter cruzado o rio e chegado a Canaã, ele foi provado por Deus diversas vezes,
até, afinal, ser chamado à grande prova de
oferecer Isaque.
O Senhor queria comprovar que Abraão realmente O temia, e que a Sua vontade divina
era o que contava, e não a sua própria vontade.
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Há muitos cristãos que contornam a cruz, mas isto só servirá para prolongar a trajetória deles.
Nosso caminho será bem mais curto se formos fiéis, mas será bem mais longo se não formos,
pois andaremos em círculo e sem um rumo
certo quanto ao conhecimento e à capacitação
para fazermos aquilo que é da vontade de Deus para nossas vidas.
É preciso realmente morrer para tudo o que há no mundo, inclusive para o próprio ego, se pretendemos ser verdadeiros discípulos de
Cristo que sejam úteis em Suas mãos.
Os pensamentos de Deus são completamente diferentes dos pensamentos dos homens,
porque o homem pensa segundo a carne, e Deus
segundo o espírito.
Se nós não somos libertados do apego ao ego carnal, não poderemos esperar que as outras
pessoas sejam libertadas.
Se nós não estamos efetivamente crucificados, como podemos pregar o evangelho da cruz?
Se não temos visão, como podemos esperar que
outros vejam a maneira como Deus age?
Acaso não estaremos dando chicotadas no ar em tudo o que fizermos?
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Se nós não andarmos no caminho estreito, quem nos seguirá por ele?
Deus deseja portanto trabalhar primeiro conosco, e depois que Ele tiver ganho alguns de
nós, poderemos, então, ganhar outras pessoas
para Ele, conforme é o desejo de todo cristão
autêntico, porque o Espírito Santo, que nele habita, o impele a isto.
As riquezas da graça divina somente podem fluir para outros através de pessoas que Ele possa usar.
E para sermos usados por Deus precisamos confiar nEle e obedecê-lO completamente.
A qualificação para fazer a obra de Deus não se encontra no estudo teológico, na fé sólida, no
entusiasmo e no amor pelas almas, mas no fato de a pessoa estar totalmente tomada por Deus.
Ele precisa de homens e mulheres que tenham sido, eles mesmos, crucificados, a fim de
pregarem aos outros a cruz de Jesus.
O problema com a grande maioria dos cristãos, quanto a serem achados incapazes de fazer uma
verdadeira obra para Deus, apesar de ser grande o desejo deles de fazê-la, reside no fato de não
terem sido ensinados e discipulados desde o
princípio, no verdadeiro evangelho da cruz.
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Eles são ensinados sobre várias passagens da Bíblia, de maneira generalizada, mas sem
nenhuma instrução quanto ao que Deus espera
objetivamente deles, pela identificação com a morte e ressurreição de Seu Filho.
Assim, a carne, o velho homem, são poupados, e
até mesmo em alguns casos, lisonjeados, em vez de serem crucificados.
E alguém que não passou pela morte do eu, não pode pregar e viver no poder da ressurreição que é operada pela cruz.
E se a obra não é feita com o poder de Deus, tudo o que realizarmos terá sido em vão.
Ao pregar o evangelho, Paulo não usou palavras persuasivas de sabedoria, mas o poder de Deus,
que se manifestava em sua própria vida (I Cor 2.1-5).
Deus deve fazer com que abramos mão da própria sabedoria, inteligência, habilidade antes de poder nos usar.
Ele está procurando pessoas que não confiem em si mesmas e não sejam voluntariosas.
Se o Senhor encontrar tais pessoas, Ele as usará de acordo com a medida em que não confiam
nas próprias capacidades.
50
Muitos pensam que por terem fé ortodoxa, e entender a Bíblia, estão capacitados para servir
a Deus.
Mas não é do que sabemos e de nossas habilidades que depende o ser usado pelo
Senhor, mas o quanto fomos de fato quebrados
em nosso ego, para sermos submissos à Sua
vontade.
O Espírito Santo somente pode agir por meio daqueles que estão completamente entregues
nas mãos de Deus.
Os homens buscam sabedoria e poder, porém
Deus, procura os loucos e os fracos.
A sabedoria e o poder humanos só podem ser usados nas relações humanas, mas não para
conduzir pessoas a um relacionamento com
Deus, porque isto não é feito com sabedoria e poder humanos, mas com a sabedoria e poder
do Espírito Santo.
Por isso, os que andam segundo o homem, valendo-se da sabedoria e poder humanos, caso sejam usados na obra de Deus, eles a destruirão.
Deus usará tão somente o poder e a força do Espírito Santo para realizar a Sua obra. Esta força
e poder são manifestados pelos fracos e loucos.
51
Se não estivermos dispostos a abrir mão da sabedoria e do poder que temos e passarmos a
ser fracos e loucos diante de Deus, Ele não
poderá nos usar, porque é o Seu poder e Palavra que devem fluir através de nós, e não nossa
própria capacidade e poder.
Por isso, antes de nos usar, Deus faz o mesmo que fez com Moisés. Ele nos coloca no deserto
para nos provar e ensinar.
Quando Ele nos coloca de lado, é possível que não compreendamos a Sua vontade, e, então, nos tornamos rebeldes.
Por isso vez, após vez, Deus nos coloca no deserto, num meio ambiente que não é propício
a nós, para que nos submetamos sob Sua mão poderosa.
Isso significa provar se você fará ou não a vontade dEle, pois nossa própria vontade
precisa ser tratada.
Trata-se de uma crise que devemos enfrentar.
Antes de ser tratado por Deus Moisés tentou libertar os filhos de Israel com suas próprias
mãos.
Mas, agora, no Horebe ao receber a comissão divina de libertá-los, ele confessou: “Quem sou
eu?”. De igual modo, enquanto não
52
aprendermos que não somos suficientes para a
obra do evangelho, e somos como um João
Ninguém aos nossos próprios olhos, para fazê-
la, então é que estaremos em condições de começarmos a ser usados efetivamente pelo
Senhor.
Aquele que não reconheceu ainda a sua fragilidade e inaptidão, não serve para fazer a obra de Deus.
Quando pensamos que a obra do evangelho é uma coisa pequena e fácil, com a qual podemos
até mesmo brincar, nós estamos muito
distantes do ponto de podermos ser usados pelo Senhor, porque esta obra demandará o
enfrentamento de potestades e principados que
somente o próprio Deus pode vencer, tal como
se deu com Moisés em relação ao Egito e ao exército de faraó.
Mas o fato de alguém reconhecer apenas sua própria inutilidade ainda é insuficiente.
O importante é conhecer o poder de Deus, e conhecê-lo é a verdadeira ressurreição, que
revela o poder do Senhor que se manifesta através da nova criatura, e é isto que significa
ser fortalecido com poder no homem interior.
Devemos ter humildade mas não recuar. Devemos ser cuidadosos, mas não tímidos.
53
Precisamos tomar cuidado para não deixar de
confiar em Deus e para não confiar em nós
mesmos. Deus nos humilha com o intuito de nos
elevar.
O propósito final da cruz não é a mera morte do velho homem, mas o recebimento do poder da vida ressurrecta de Cristo.
Assim, toda mortificação da carne, todo arrependimento, visam à vida abundante que
Jesus nos prometeu.
Visam gerar alegria espiritual e não tristeza.
Libertação e não opressão.
Viver vitorioso e não derrota.
Poder sobre as forças do Inimigo, manifestações do Espírito Santo e de poder, em sinais e
prodígios.
Mas, para tudo isto é preciso estar completamente submisso à vontade de Deus.
Deus não aprova as pessoas que trabalham na Sua obra sem terem sido enviadas por Ele, e
nem se agrada das obras presunçosas dos
homens.
O pecado da soberba é igual ao pecado da rebelião.
54
Então o primeiro dever de todo cristão que deseje sinceramente ser usado por Deus, é o de
se humilhar debaixo da Sua potente mão,
permitindo o trabalho da disciplina do Espírito, para o despojamento das obras da carne.
A obra de Deus só pode ser realizada pelas pessoas que morreram com o Senhor, e nas
quais foi efetivamente aplicada a mortificação da carne pelos muitos desertos aos quais Ele
conduz aqueles que foram por Ele chamados.
Na óptica de Deus não há lugar para a carne, apenas para o espírito, e este não pode operar
através de nós se carne não for mortificada (Rom 8.6-13).
Como a obra de Deus requer a morte do velho homem, com suas disposições carnais
(pecaminosas), então todas as pessoas que
seguem o pendor da carne, estão marcadas para a morte por Ele, quanto a serem efetivamente
usadas.
Você já morreu para a carne e para o mundo? Você já abriu mão das habilidades naturais? Se
ainda não o fez, não está qualificado para realizar a obra de Deus.
Hoje em dia, muitos estão trabalhando, estão atraindo muitas pessoas para junto do seu
ministério, mas não estão fazendo a obra de
55
Deus, pois não é Deus quem está operando, mas
o homem.
Não se trata do agir da nova criatura, mas do velho homem, e por isso o Espírito Santo não se
move de forma alguma.
Trabalhar no poder do Espírito Santo é trabalhar de espírito para espírito, isto é, com o seu
espírito você alcança o espírito de outras pessoas.
Mas trabalhando na carne, atinge apenas a
carne dos outros, porque é um trabalho feito pela alma que pode somente trabalhar nas
mentes, nas emoções, nos sentimentos, nos
desejos, mas jamais poderá tocar na profundidade do espírito.
Precisamos nos perguntar: o que nos qualifica a
pregar sobre a cruz?
Será que pregamos por estarmos profundamente familiarizados com as doutrinas bíblicas, por sermos capazes de
apresentá-las com eloquência, ou por fazermos
da pregação a nossa profissão? Seria muito
patético este último caso. Muitos se tornam líderes na Igreja, mas não em virtude da
experiência espiritual, da vida e poder do
Espírito Santo – na verdade, muitos dos que
56
ouvem as pregações têm uma vida espiritual
melhor do que o próprio pregador.
Este é portanto um tempo de muitos guias
cegos.
Muitos pregadores sabem somente a forma de propagar o conhecimento, mas não são capazes
de suprir a vida divina e o Espírito Santo.
Eles não estão habilitados a formar Cristo nos seus ouvintes, mas somente lhes informar
acerca de Cristo, isto, se na verdade, estão
ensinando o genuíno evangelho bíblico.
E assim, o grão de trigo permanece solitário porque não morreu.
Mesmo que esteja rodeado de muitos discípulos, serão também como ele, grãos de trigo que não morreram, e que portanto, não
podem gerar vida.
Quem permanece assim não pode ser usado por Deus, porque nos assuntos espirituais, não são necessários sabedoria, inteligência ou
entendimento, mas interesse em ter
experiência e poder espiritual.
O melhor comentário bíblico existente é o de Mattew Henry, e isto foi possível porque o seu
pai percebeu que ele era alguém piedoso desde
menino, e para não estragar a sua piedade, não
57
o enviou a uma faculdade teológica, mas a ser
preparado por um homem de Deus piedoso, que
o conduziu ao temor do Senhor, e ao modo
correto de servi-lo.
Que Deus nos ilumine para que percebamos como é errado fazer a obra com o conhecimento
e a habilidade naturais, e, assim, reconheçamos
que tudo o que provém da velha criação adâmica precisa morrer.
Rejeitaremos tudo isso da mesma forma como o fizemos no momento da nossa salvação.
Neguemos realmente, tudo o que pertence à
velha criação e recebamos a nova vida que pertence à nova criação de Cristo, que é
segundo a justiça e a verdade.
Esta vida ressurrecta à qual estamos nos referindo demanda consagração real ao Senhor e um carregar diário da cruz, de maneira que
estejamos permanentemente avivados na Sua
presença, independente das circunstâncias em
que estejamos vivendo.
Se forem desertos servirão apenas para aumentar ainda mais a nossa fé e graças.
Algumas pessoas são despertadas ou avivadas após cada culto que frequentam.
58
Os pregadores não ousam desafiá-las a viverem de modo verdadeiramente santo e consagrado.
Então, quando o culto termina o despertamento e avivamento delas também acaba.
Esta forma de culto é como um tipo de estimulante, cuja dosagem deve ser aumentada
cada vez mais, para que possa continuar fazendo
efeito.
E se este modo de cultuar a Deus é apenas de entusiasmo e de emoções externas, essas pessoas exigirão cada vez mais eloquência e
incentivo para permanecerem animadas.
Isto explica porque se faz tanta inovação nos cultos para torná-los mais atraentes para as
pessoas, porque não se apoiam no poder do
Espírito Santo e nba genuína verdade evangélica, mas nas ações da carne que apelam
para os sentidos que são faculdades, da alma, e
não do espírito.
Isto conduz à mentalidade e à atitude de Laodiceia, em que as pessoas se acham ricas
espiritualmente, quando, na verdade, são muito pobres, miseráveis, cegas e nuas.
Muitos estão equivocados quanto ao significado de ser tratado pela cruz. Eles pensam que são
curados com uma única dose deste amargo
remédio. Eles não entendem o profundo
59
significado das palavras de Jesus, que nos são
impostas cruzes em toda a nossa caminhada
cristã, diariamente, porque sem o tratamento da
cruz, o velho homem sempre se levanta com sua sabedoria e poder naturais e carnais.
A cruz quebra o orgulho espiritual, e este deve ser quebrado diariamente, caso contrário se
levanta e se apodera de nós.
O pobre de espírito, que sabe que depende inteiramente de receber iluminação e graça do
Espírito, é bem aventurado, porque será enriquecido com o poder de Deus. Mas o pobre
espiritual, é miserável porque não pode
enxergar as coisas do Espírito. Ele não é
verdadeiramente rico da graça. E as coisas se complicam quando é tomado por este espírito
de Laodiceia que o faz pensar ser rico por causa
do seu grande conhecimento intelectual e
habilidades, ou mesmo que se julgue sábio aos seus próprios olhos, quando na verdade é
totalmente ignorante dos caminhos de Deus, e
não tem experiências reais com o Espírito. Então
quando alguém é pobre, não de espírito, mas espiritualmente falando, e não percebe a sua
pobreza, isto faz com que a pessoa seja um
laodicense.
Riqueza espiritual se manifesta em vida abundante e madura em Cristo. E a pobreza
60
espiritual em superficialidade, infantilidade,
imaturidade.
Não devemos nos iludir pensando ter o que nunca tivemos de fato. A vida com Deus consiste
em experiências reais, e não em falar sobre
experiências bíblicas ou de outros.
Devemos ter uma experiência real produzida pelo Espírito em nossos próprios seres, subjetivamente falando, de tudo aquilo que
Cristo tem revelado objetivamente na Sua
Palavra.
Se não buscarmos verdadeiras experiências com o Espírito na implantação da vida que Cristo
nos prometeu, nós viveremos no mundo do idealismo sem obter qualquer favor do céu para
um trabalho em que sejamos usados
efetivamente por Deus.
Se por um lado devemos confiar que Cristo fez todas as coisas e tem disponibilizado para nós as
riquezas da Sua graça, por outro lado devemos
obedecer o Espírito completamente para que faça a Sua obra através de nós.
Quando dizemos completamente, não significa grau de perfeição absoluta, ou mesmo um grau
igual para todos os cristãos (os que amam a
Cristo e a Sua Palavra), porque há medidas de fé
61
repartidas pelo próprio Espírito Santo, a cada
um.
Importa contudo, que esta medida seja completada segundo a capacidade dada por
Deus, respectivamente, a cada cristão.
Todas as experiências espirituais começam quando cremos no que Cristo consumou e
terminam quando obedecemos ao que o Espírito
Santo nos ordena fazer.
Ninguém terá uma vida espiritual se não crer em Deus, e depender dEle.
A pessoa deve crer que é Deus quem opera nela
tanto o querer quanto o realizar, a fim de que consiga orar, meditar na Palavra, e
testemunhar.
Crer vem em primeiro lugar, e, depois, o realizar.
O Reino do Céu deve ser alcançado pelo esforço, e os que se esforçam se apoderam dele (Mt 11.12).
Dia a dia, devemos desenvolver, com diligência,
nossa própria salvação, o que não é impossível, pois Deus já operou em nós.
Uma vez que alcançamos este desenvolvimento, estaremos certamente capacitados para sermos
usados pelo Senhor.
62
Se não tomarmos o jugo do Senhor não podemos segui-lO.
Deus pretende que estejamos dispostos a tomar sobre nós o Seu jugo, tanto nas pequenas coisas do dia-a-dia quanto nas grandes coisas da vida.
Muitos se queixam das pessoas que têm que suportar em seus relacionamentos, mas não
conseguem enxergar que são jugos que o Senhor nos impõe para serem carregados.
É natural que se deseje abandonar estes fardos que Deus nos deu para carregarmos, mas se é a
porção que Ele designou para nós, devemos nos
submeter à circunstância, porque será o melhor para nós.
Alguns apresentam o pretexto que possuem um temperamento muito forte para poderem
suportar injustiças ou situações desconfortáveis.
Todavia, isto nada tem a ver com temperamento, mas sim, com sujeitar-se à
vontade do Senhor para obedecer a Sua Palavra.
Como isto demanda a negação do ego, então torna-se mais difícil para os que são de uma
disposição iracunda, se submeterem ao
mandamento.
63
Tomar a cruz significa tomar o jugo em cada situação particular.
Se tentarmos nos livrar de tudo o que nos parece um fardo, nunca acharemos descanso e paz para
as nossas almas, porque estamos recusando o jugo do Senhor.
A razão pela qual os cristãos têm dificuldades em dar um bom testemunho é a resistência em
tomar o jugo de Deus.
Eles desejam uma mudança no meio em que vivem, mas não percebem que o caráter cristão deve ser manifesto em tal ambiente.
A vida mais elevada que podemos ter é receber, com prazer, tudo aquilo de que não gostamos
por natureza.
Deixei-me dizer que você terá pleno descanso se aceitar, com alegria, o jugo que Deus lhe der.
Este descanso depende da sua obediência, da sua atitude de negar-se a si próprio para carregar a cruz.
Por isso é preciso manter uma vida de permanente comunhão com Deus através da
oração.
Para isto é preciso orar em todo tempo no Espírito, e vigiar para poder perseverar nesta
64
vida de oração e súplica em favor da Igreja;
porque Satanás tudo fará para que não
tenhamos momentos regulares de oração, ou
então para que não sejamos objetivos nos pedidos que fazemos a Deus.
“com toda a oração e súplica orando em todo tempo no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando
com toda a perseverança e súplica, por todos os
santos,” (Ef 6.18).
Evidentemente, o teor principal de nossas orações deve estar relacionado à nossa
necessidade de transformação de caráter e disposição pessoal, e não propriamente a
modificação do ambiente ao nosso redor,
incluídas aí, as pessoas e circunstâncias que se
opõem a nós.
O motivo pelo qual os cristãos de hoje não oram
do modo correto é devido ao fato de que nunca têm examinado este assunto e mantido
vigilância a fim de não permitir que o momento
da oração passe despercebido e seja
negligenciado.
Por isso os cristãos têm tempo para estudar a
Bíblia, mas não encontram tempo para orar.
E é aí que Satanás prevalece.
Ele sabe que, se os cristãos não tiverem tempo para orar, eles não vão orar, e assim, o diabo não
65
é limitado de nenhuma maneira, porque os
cristãos não podem prevalecer com Deus, a não
ser através de uma vida intensa de oração, que
os mantenha permanentemente ligados ao céu.
Daí a ordem de que a oração seja perseverante e
sem cessar.
Se faltar isto, não podemos contar em sermos
usados por Deus, numa obra e ministério regulares que Ele tenha designado para serem
realizados por nós.
Ele precisa de homens e mulheres que tenham sido, eles mesmos, crucificados, a fim de
pregarem aos outros a cruz de Jesus.
O problema com a grande maioria dos cristãos, quanto a serem achados incapazes de fazer uma
verdadeira obra para Deus, apesar de ser grande o desejo deles de fazê-la, reside no fato de não
terem sido ensinados e discipulados desde o
princípio, no verdadeiro evangelho da cruz.
Eles são ensinados sobre várias passagens da Bíblia, de maneira generalizada, mas sem
nenhuma instrução quanto ao que Deus espera objetivamente deles, pela identificação com a
morte e ressurreição de Seu Filho.
Assim, a carne, o velho homem, são poupados, e até mesmo em alguns casos, lisonjeados, em vez
de serem crucificados.
66
E alguém que não passou pela morte do eu, não pode pregar e viver no poder da ressurreição
que é operada pela cruz.
E se a obra não é feita com o poder de Deus, tudo
o que realizarmos terá sido em vão.
Ao pregar o evangelho, Paulo não usou palavras persuasivas de sabedoria, mas o poder de Deus,
que se manifestava em sua própria vida (I Cor
2.1-5).
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Não Pelo Nosso Poder, mas Pelo do
Espírito
Em várias passagens das Escrituras Sagradas,
Deus afirma expressamente que toda a obra
espiritual genuína relativa à vida eterna
celestial, em nós, é realizada pelo Espírito Santo,
mediante a nossa fé em Jesus Cristo.
E isto opera por meio da nossa oração e leitura e prática da Palavra de Deus.
Mesmo nossas orações e prática da Palavra dependem inteiramente da ajuda do Espírito.
Sem Ele, é simplesmente impossível nos levantarmos de nossas fraquezas latentes
referentes à nossa natureza pecaminosa, e aos
ataques que sofremos dos espíritos das trevas.
Precisamos, mesmo em meio às nossas aflições
e abatimentos, elevar nosso pensamento ao Senhor, em busca de socorro, clamando, ainda
que seja com o coração, caso não tenhamos
sequer força para expressá-lo com palavras com o abrir dos nossos lábios.
Das profundezas do nosso abismo espiritual, Deus nos ouvirá e nos fortalecerá para que
possamos triunfar sobre todos os inimigos
68
espirituais que procuram afundar a nossa alma
no desespero e na incredulidade.
Se a bateria do nosso carro descarregar,
pediremos auxílio a alguém para que nos ajude a empurrá-lo, para que o motor pegue,
conforme se costuma dizer: “no tranco”.
De igual modo, se nossa bateria espiritual estiver descarregada ou descarregando muito
rapidamente, devemos correr sem qualquer
constrangimento em busca da ajuda de Jesus
Cristo.
Ele nos empurrará adiante para que continuemos nossa caminhada de fé.
As virtudes citadas em Gál 5.22, como sendo o fruto do Espírito Santo, são forjadas e produzidas em nós pelo Espírito porque elas são
o seu fruto, isto é, o que resultará em nós por
andarmos nEle.
Todo ato de fé, de amor, de longanimidade, e de tudo o que ali se nomeia, é por conseguinte do
Espírito e não de nós mesmos.
“Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade;” (Ef 5.9).
Toda a obediência e santidade que Deus requer de nós na Nova Aliança, todos os deveres e ações
da graça, é prometido que serão forjados em nós
69
pelo Espírito, de modo que estejamos seguros
que de nós mesmos não poderemos fazer nada
em relação a isto (Ez 36.27; Jer 32.39,40).
Nós servimos e adoramos a Deus no Espírito (Fp 3.3); amamos os irmãos no Espírito (Col 1.8);
purificamos nossas almas obedecendo a
verdade pelo Espírito (I Pe 1.22). Veja também Ef 1.17; At 9.31; Rom 5.5; 8.15, 23, 26; 14.17; 15.13,16; I
Tes 1.6.
Estes, dentre muitos outros textos da Bíblia são suficientes para comprovar que o Espírito
Santo, como o autor da nossa santificação, opera
também em nós todos os atos piedosos de fé,
amor e obediência.
E nós vemos assim quão contrárias são consequentemente à revelação da Bíblia as
noções de alguns homens que afirmam que a santidade pode ser gerada pelos próprios
cristãos, pelo bom uso da razão deles para não
mentirem, não serem desonestos, não
adulterarem e em resumo não praticarem nenhum pecado que possa se tornar público e
visível.
Mas quem pensa assim está mentindo para si mesmo, sendo desonesto para com Deus e
adulterando a Sua Palavra, porque não é este o
caminho indicado por Ele para a santificação.
70
Porque santificação é muito mais do que comportamento aprovado pela sociedade, pois
significa ter o coração guardado pela graça de
Jesus, de modo que tenhamos permanente comunhão com Ele, com alegria, paz e gratidão,
em toda e qualquer circunstância.
71
A Capacitação para o Ministério
"4 E é por Cristo que temos tal confiança em
Deus;
5 Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a
nossa capacidade vem de Deus,
6 O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra,
mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica." (II Coríntios 3.4-6)
Toda a capacitação de qualquer cristão para o
cumprimento do seu ministério espiritual vem da parte de Deus.
Porque é Ele quem habilita seus ministros a serem capazes para a obra do ministério do
Novo Testamento, que não é uma mera
exposição da letra das Escrituras, ou mera transmissão de palavras, como ocorria no Velho
Testamento, mas a ministração do Espírito aos
espíritos, porque somente a letra sem o Espírito,
produz morte, porque não pode gerar a vida de Cristo nos corações.
Os sacerdotes do Antigo Testamento não foram capacitados e chamados a cumprir um tal
ministério em todas as nações, mas é
72
exatamente este o ministério desde que Cristo
inaugurou um Novo Testamento (aliança), no
Seu sangue.
Não foi Paulo que inventou a doutrina de que é o espírito que vivifica, mas isto foi uma revelação
de nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno:
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são
espírito e são vida.” (Jo 6.63)
Quando Jesus disse que as palavras que ele havia dito eram espírito e vida, isto significa que Suas
palavras foram inspiradas e proferidas pelo
Espírito, pois tudo quanto fazia e ensinava era mediante o Espírito Santo.
É fácil observarmos isto quando lemos os
discursos que Ele proferiu e que foram registrados nos evangelhos. Nós logo vemos que
há espírito e vida, por exemplo, nas palavras do
Sermão do Monte, nos discursos do evangelho
de João e em tudo mais que o Senhor fez e ensinou, não somente porque se trata da
verdade, mas também porque foram proferidas
pelo espírito e não pela carne.
Esta é a razão de muitos lerem a Bíblia no culto público, ou pregarem a verdade, e não
73
transmitirem vida aos seus ouvintes, porque o
fazem na carne, e não no espírito.
O que podemos entender então é que sempre que as palavras que são proferidas forem
procedentes de um espírito liberado em comunhão com o Espírito Santo, o resultado
será que a palavra transmitirá vida espiritual
àqueles que as lerem ou ouvirem.
Por exemplo, os sermões de Spurgeon ainda falam com vida porque Ele andava no Espírito e
pregava no Espírito, e ainda hoje nós podemos
sentir o espírito e a vida que há nos seus
sermões, porque foram pregados com palavras ensinadas pelo Espírito e com a unção do
Espírito.
O mesmo pode ser dito dos escritos da quase totalidade dos puritanos, especialmente de John
Owen, Richard Sibbes, Richard Baxter, Thomas Manton, Thomas Watson, dentre outros.
Não há nada de influência ressecante nestes escritos, ao contrário, eles transmitem vida
espiritual porque foram produzidos em
espírito, pela inspiração do Espírito Santo, em pessoas cujos espíritos estavam santificados.
Então é um excelente critério para nortearmos a seleção dos louvores e dos sermões que
ouvimos, dos livros e das mensagens que lemos,
74
procurar identificar se é a carne ou o espírito
que os produziram. Se foi a carne, gerará o que é
carnal, natural, desta criação, porque o que é
nascido da carne é carne. Mas se foi o espírito, gerará vida espiritual.
Por isso se diz que o ministério da Igreja é o ministério do espírito (veja que é usado espírito
com inicial minúscula no texto de II Cor 3.6,8):
“o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do
espírito; porque a letra mata, mas o espírito
vivifica.” (II Cor 3.6).
“Como não será de maior glória o ministério do espírito?” (II Cor 3.8).
Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não
reconheceram o ministério do Messias e O
rejeitaram, porque é possível estar totalmente
alheio ao fato de que há um ministério do Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes
ocorrido em Jerusalém, neste período que
chamamos de dispensação da graça, que
podemos também chamar de dispensação do Espírito Santo.
Havia e ainda há um véu no Antigo Testamento, que impedia que se visse claramente o
significado das realidades espirituais relativas
75
ao evangelho de Cristo, que está revelado no
Velho Testamento em sombra, mas claramente
revelado no Novo Testamento.
É somente quando o Espírito Santo remove este véu que podemos entender o mistério de Deus para o homem, que é Cristo, pela conversão de
suas almas a Ele.
76
O Trabalho Paciente na Lavoura de Deus
Deus constituiu apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres e os deu à igreja
para que os santos fossem aperfeiçoados
espiritualmente para o desempenho dos seus respectivos ministérios, de maneira que a Igreja
seja edificada como o corpo de Cristo, como se
afirma em Ef 4.11,12.
Não foi portanto a Igreja que foi dada aos ministérios, mas estes que foram dados por
Cristo à igreja, para que a sirvam, de maneira que todos, estando vinculados em amor,
cheguem à unidade da fé e ao pleno
conhecimento do Filho de Deus, por atingirem o
amadurecimento espiritual, que é segundo a medida da estatura da plenitude de Cristo, ou
seja, que tem em Cristo o seu modelo e exemplo
até o ponto em que deve crescer, e não no
homem, como lemos em Ef 4.13.
É somente quando se atinge este amadurecimento espiritual que se deixa de ser menino na fé, bebê em Cristo, cristão carnal,
transformando-se em cristão espiritual, que
tudo discerne e de ninguém é discernido, senão
pelos que são também espirituais.
Quando se atinge a maturidade espiritual o cristão se torna uma coluna na casa de Deus,
77
que é a Igreja (não nos referimos a templos, mas
ao corpo de crentes), porque já não poderá ser
desviado da sua firmeza de fé por qualquer
vento de falsa doutrina, engendrada pela astúcia e fraudulência dos homens, que maquinam o
erro; ao contrário eles crescem mais e mais em
tudo, seguindo a verdade em amor, nAquele que é a cabeça da Igreja, a saber, Cristo.
Fora de Cristo, da comunhão com Ele, não é possível haver tal crescimento harmonioso de
todos os membros da Igreja.
Por isso eles necessitam permanecer nEle para que seja operada esta justa cooperação de cada
membro do Seu corpo, para que seja efetuado este crescimento para a edificação da Igreja em
amor.
É isto que distingue congregações de congregações, porque ainda que sejam
formadas por verdadeiros filhos de Deus, há de
se ver crescimento espiritual naquelas em que os cristãos estejam perseverando na obediência
à doutrina dos apóstolos, e para tanto, se requer
que esta seja devidamente pregada e ensinada.
Onde não houver tal pregação e ensino, que devem ser segundo a sã doutrina, jamais se poderá esperar que em algum tempo a
congregação chegue a um amadurecimento por
parte da quase totalidade dos seus membros.
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Contudo, onde houver tal pregação e ensino, é razoável que se espere o referido
amadurecimento, e ainda que alguns membros
cheguem a ele tardiamente, terão implantadas neles as palavras de vida eterna que germinarão
no tempo próprio conforme a operação do
Espírito de Deus.
Mas como o Espírito fará germinar uma semente que não foi plantada pela pregação e
ensino da verdade?
Daí ser requerida paciência dos ministros do evangelho enquanto aguardam pelo fruto do
seu trabalho, que será certamente honrado pelo Senhor (Tg 5.7-11).
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Porque Amar é Servir
Não é possível ter uma vida de comunhão com
Deus e uns com os outros, enquanto se vive
debaixo do governo dos desejos e paixões da
alma, os quais são vencidos somente pela crucificação da carne por um andar no Espírito,
como se vê em Gál 5.24,25.
Sem a crucificação da carne para a supressão destes desejos e paixões não é possível um viver
e andar no Espírito, e por conseguinte ter paz na
alma e comunhão com Cristo e o amor que
suporta ofensas e tribulações.
E quando isto nos falta ficamos incapacitados de servir a Deus e ao próximo, porque a vida
piedosa tem muitos inimigos e sofre muitos ataques do poderes das trevas, e portanto, sem o
amor que tudo vence, não será possível
estarmos livres de mágoas e ressentimentos
quando somos ofendidos e afligidos.
Satanás a ninguém jamais serviu, ao contrário, sempre impõe ser servido por todos os que tem
escravizado com ódio cruel e tirânico.
Satanás é uma mera criatura caída, e ainda assim governa sobre muitos cujo caráter não é
tão baixo e sujo quanto o dele.
80
Nosso Senhor Jesus Cristo, ao contrário, sendo Deus, se fez homem por amor à humanidade, e
nos revelou qual é o caráter de amor de Deus,
sendo achado na forma de servo, e afirmando que não veio a este mundo para ser servido, mas
para servir, e dar a Sua vida para resgate de
muitos.
Quem ama como Cristo ama, terá então esta característica de não viver para ser servido, mas
para servir ao seu próximo, porque é assim que
é o verdadeiro amor - não busca o que seja do
seu interesse, mas o de muitos.
Tendo sido criados à imagem e semelhança de Deus, devemos ser assim como Ele é em Sua
natureza. Devemos amar com o mesmo amor
com o qual Ele nos ama.
Deus não precisa ser servido porque é completo em todas as perfeições eternas e infinitas. O serviço que Lhe prestamos é para o nosso
próprio bem e do nosso próximo.
Ele morreu na cruz como um sacrifício, não somente para que fôssemos justificados dos
nossos pecados, mas para que pudéssemos viver a vida eterna nos alimentando da Sua própria
vida.
Ele disse que a Sua carne é verdadeira comida, e que o Seu sangue é verdadeira bebida. Ele disse
81
que é o Pão vivo que desceu do céu e dá vida a
todo aquele que dele se alimenta.
Por isso, havia em no Velho Testamento, um tipo desta verdade, porque era ordenado aos que
participavam dos sacrifícios de animais
oferecidos no templo, que consumissem
juntamente com os sacerdotes a carne daqueles animais que haviam morrido para que eles
tivessem seus pecados perdoados e a
manutenção de suas vidas, pela figura de se
alimentarem da carne do próprio sacrifício.
Tudo aquilo apontava para o único e eterno sacrifício pelo qual somos perdoados e somos
alimentados com a vida eterna de Jesus, que é o alimento do nosso espírito, e sem o qual Ele não
se pode ter e se expressar esta vida divina de
amor, paz, longanimidade, bondade, fé, perdão,
misericórdia, que se acham em Cristo e que são comunicadas a nós quando andamos em
comunhão com Ele.
82
Salvação pela Graça e as Boas Obras
“Não de obras, para que ninguém se glorie. Pois
somos feituras dele, criados em Cristo Jesus,
para boas obras, as quais Deus de antemão ordenou para que andássemos nelas.” (Ef
2.9,10).
Eu chamarei sua atenção à vizinhança
próxima destas duas frases, "não de obras," e
"criados em Cristo Jesus para boas obras". O
texto soa com um som singular; porque isto parece estranho ao ouvido que as boas obras
sejam negadas como a causa da salvação, e
depois, se fale delas como sendo a grande
finalidade da salvação. Você pode enquadrar isto no que os Puritanos chamavam de
“Paradoxos Ortodoxos”, embora isto seja um
assunto muito difícil para merecer o nome.
Não muito tempo atrás, eu tentei lidar com o ponto da suposta diferença existente entre a
doutrina da fé – “crê e serás salvo” e a doutrina
do novo nascimento e de sua necessidade - "Vocês devem nascer de novo”. Meu método
estava baseado nisto: Eu não expliquei as
dificuldades que aparecem ao lógico e ao doutor
da metafísica; mas eu tentei demonstrar que, praticamente, não havia nenhuma dificuldade.
Se nós tratarmos somente das dificuldades que
obstruem o caminho da salvação, não há
83
nenhuma. Para estes dois assuntos não há
qualquer obstáculo real, eu os deixei onde
devem estar. Uma pedra que não está no
caminho de ninguém deve permanecer onde está. Quem crê em Jesus é nascido de novo. Estas
duas coisas são igualmente verdadeiras: deve
haver um trabalho do Espírito no nosso interior, contudo todo o que creu no Senhor Jesus já
possui a vida eterna.
Agora, há uma contenda que sempre se apresenta sobre a doutrina das boas obras: e em vez de tratar de um lado ou de outro, nós
tentaremos ver se há realmente qualquer coisa
para ser discutida além do que encontramos nas
Escrituras. Nós insistimos nisto, com toda a nossa força, que a salvação é "não de obras, para
que ninguém se glorie.". Mas, por outro lado,
nós admitimos livremente, e sinceramente
ensinamos que "sem santidade ninguém verá o Senhor.".
Onde não há nenhuma boa obra, não há nenhuma habitação do Espírito de Deus. A fé
que não produz boas obras não é a fé que salva: não é a fé dos eleitos de Deus: não é fé em
sentido Escritural. Eu tenho tomado estes dois
pontos, para apresentá-los como ajuda e
conforto aos novos convertidos. Eu não estou procurando instruir você que já é bem instruído;
mas meu alvo neste momento é instruir os
novos neste assunto importante. A salvação não
84
é por obras; mas, ao mesmo tempo, nós somos
os sujeitos da graça divina, "somos criados em
Cristo Jesus, para boas obras.". Isto é importante
para iluminar o crente; mas bebês na graça têm a visão fraca, e não podem observar tudo
imediatamente.
Antes, pela graciosa providência de Deus, Lutero tinha se levantado para pregar a doutrina da justificação pela fé, a noção comum entre as
pessoas religiosas era, que os homens devem
ser salvos por obras; e o resultado foi que, nada
sabendo da raiz da qual a virtude procede, muito poucas pessoas tiveram algumas boas obras
afinal. A religião estava tão declinada que se
transformou num mero assunto cerimonial
vazio, ou de inútil abstinência; e, além disso, de ocultamento supersticioso da verdade original
do evangelho, tanto que dificilmente poderia
ser achada em tudo que era ensinado. O reino da
justiça própria e do estratagema sacerdotal não conduziram a nenhum bom resultado
as massas de pessoas religiosas. As
indulgências e o perdão dos pecados foram
vendidos nas ruas, e eram vendidos publicamente. Os ecos de sua voz viril soaram
através dos séculos. Eu percebo que quase todos
os sermões Protestantes, muito tempo depois
de Lutero, trataram da justificação pela fé; e, seja o que for que os textos possam ser, eles de
alguma forma ou outra foram trazidos nesse
contexto de uma igreja caída ou que se encontra
85
de pé. Eles raramente concluíam um sermão
sem declarar que a salvação não é por obras,
mas pela fé em Jesus Cristo. Eu não os censuro
nem por um momento; ao contrário, eu os elogio – é melhor ser exagerado do que
moderado quanto à doutrina central do
evangelho. Os tempos reclamam que esse ponto seja apresentado claramente a todas as pessoas;
e os pregadores da Reforma o fizeram
claramente. A justificação pela fé era o prego
que teria que ser levado para casa e pregado; e todos os seus martelos foram dirigidos para esse
prego. Não estavam nada interessados assim tão
especificamente quanto às demais doutrinas
quanto estavam em relação a esta; mas, então isto era um fundamento sobre a rocha, e eles
estavam ocupados em colocá-lo, e colocaram-
no, e a fundo, e para sempre.
Ainda, eles teriam completado mais perfeitamente o círculo da verdade revelada se a santificação tivesse também sido explicada tão
completa e claramente quanto a justificação.
Isto teria sido também se as pernas do
evangelho da Reforma tivessem sido iguais, porque uma estava um pouco mais longa e um
pouco mais forte do que a outra, e
consequentemente estava manco – parecido
com o vitorioso Israel, que tinha vindo ao Jaboque – mas estava manco. Nós temos passado
além do estágio da ênfase exagerada na doutrina
cardinal, e eu temo grandemente que nos
86
nossos dias nós não estejamos pregando
o bastante sobre a justificação pela fé. Eu
poderia desejar que os tempos luteranos
voltassem outra vez, e que o velhos trovões de Wittenberg pudessem ser ouvidos uma vez
mais; no entanto eu estarei contente se tudo que
é prático no evangelho tiver também sua completa esfera distribuída com isto. A justiça
imputada, por todos os meios; mas deixe-nos
ouvir também da justiça transmitida e dada;
porque ambos são dons preciosos da graça. Os deveres – deixem-me dizer mais, os altos e
santos privilégios – que temos como filhos e
servos de Deus – estes deveriam ser mantidos e
totalmente pregados, como cada um dos lados da verdade abençoadora;
“Há vida em olhar somente para o Crucificado: há vida neste momento para você.”.
Eu discorrerei agora sobre o primeiro ponto do texto, que é este, "não de obras," ou o caminho da
salvação. "Não de obras" é a descrição negativa,
mas dentro do negativo encontra-se muito
claramente o positivo. O caminho da salvação é por algo diferente de nossos próprios trabalhos
(obras). Em segundo lugar, eu falarei sobre a
caminhada da salvação. Nós que fomos salvos
caminhamos em santidade; porque nós fomos “criados em Cristo Jesus, para boas obras, que
Deus de antemão ordenou para que andássemos
nelas.”. Isto é um decreto da soberania do
87
Senhor que ele escolheu para ser caminhado
pelos que andariam em santidade.
I. Primeiramente, então, O CAMINHO DA SALVAÇÃO é negativamente descrito como
"não de obras". Para muitos isto é uma exceção;
mas nós não precisamos ajudá-los quanto a isto,
pois as Escrituras são suficientemente claras. Nos é dito que não devemos, em nenhuma
ocasião, permitir que as pessoas cantem:
"Pecador, nada faça, seja grande ou pequeno,
Jesus já o fez, fez tudo, há muito tempo atrás.”
A grande exceção tem sido tomada dessa expressão; mas eu creio que, se a mesma
verdade tivesse sido expressada com quaisquer
outras palavras, a mesma objeção teria sido
levantada, porque é a verdade que é objetada, mais do que as palavras em que é apresentada.
Meu próprio texto seria, para tais pessoas,
muito objectável -"Não de obras". Eles estão
prontos para cercar a Paulo por ter falado dessa forma evangélica. Odeiam toda a doutrina da
salvação como um dom (pela graça), e não no
menor grau a doutrina do mérito pessoal – a
doutrina que nós amamos. Nós pregamos a salvação "não de obras"; nós repetimos o ensino
repetidas vezes, e pretendemos repeti-lo
continuamente, até que morramos. A salvação é
88
pela misericórdia do Senhor, e não pelas obras
da lei.
Se nós pregássemos que a salvação é por obras,
nós agradaríamos muitas pessoas refinadas; mas como nós não sabemos se seria afinal para
o seu benefício o que lhes agradasse, nós não
pentearemos um só fio de cabelo de nossa cabeça de modo diferente daquele em que
crescem, somente para agradá-los; muito
menos voltaremos atrás, ou faremos uma
explanação afastada da verdade fundamental do evangelho de Jesus Cristo; e isto por variadas
razões.
Se nós pregássemos aos pecadores, mortos em suas transgressões e pecados, que a salvação seria por seus próprios trabalhos, nós
deveríamos deixar de lado (abandonar) a
salvação pela graça. Não pode haver duas
maneiras de salvação para a mesma pessoa. Se nós admitimos uma, nós negamos praticamente
a outra. Isto não pode ser questionado, que um
homem culpado, é salvo de tudo, e deve ser
salvo através da misericórdia de Deus. Isto também não pode ser negado, que nosso
Salvador e seus apóstolos ensinaram que nós
somos salvos pela fé. O homem deve estar com
seus olhos fechados se ele não vê isto para ser o seu ensino. Se, então, eu ensinar aos homens
que eles podem ser salvos por suas obras, eu
tenho lhes dito praticamente que a salvação
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pela graça é um mito, um erro, um erro malígno.
Eu tenho deixado isto de lado; porque, como eu
disse antes, não pode haver dois caminhos para
o céu: não pode haver mais de um. Se eu apresentasse o caminho das obras, eu fecharia o
caminho da graça. Se a salvação é por mérito,
não é por misericórdia. Mas se não houver nenhuma salvação dos homens pela exclusiva
misericórdia de Deus, quão infelizes somos nós!
Negar a graça é realmente negar a esperança.
Onde, então, haveria algum evangelho, ou notícias alegres, ou boas novas? A maneira da
salvação por obras não é "boa nova". É a antiga
maneira do planejamento humano, que é o
geral e bem conhecido erro de todas as gerações. Além disso, não é " boa nova (notícia),"
ou notícia alegre; porque não há nada de bom
ou alegre nisto. Que nós seremos
recompensados pelos nossos trabalhos, não é nada mais do que o ensino pagão. A justificação
por desempenho religioso, e as ações
meritórias, não é melhor do que o antigo
farisaismo com o nome de cristianismo. Isto não é digno da revelação pelo Espírito de Deus,
porque isto é para ser visto pela luz da própria
vela do homem. Esta doutrina faz o Senhor Jesus
Cristo ser praticamente ninguém; porque se a salvação é pelas obras, então o caminho da
salvação através da fé num Salvador é supérfluo,
e mesmo malígno, porque estaria
fundamentado numa mentira.
90
Pregar o caminho da salvação pelas obras é também propor aos homens um caminho no
qual eles já falharam. Se você deve ser salvo por
obras, você deve começar muito cedo: você deve começar antes de você pecar, desde que um
único pecado decide o assunto. Mas você já
começou a quebrar a lei de Deus. Eu não estou me dirigindo às pessoas que têm ainda
que começar a andar no caminho, porque já
começaram. Você está num bom caminho da
estrada, de um modo ou de outro; e desde que você começou no caminho das obras, quantas
falhas você já não tem cometido! Há qualquer
um aqui quem pode reivindicar que já está salvo
por suas obras, por mais longe que já tenha ido? Há qualquer um entre vocês que não tem
pecado? Observem suas vidas; examinem suas
consciências; observem suas palavras, seus
pensamentos, suas imaginações, suas motivações; porque tudo isto é levado em conta.
Há um homem aqui que somente faça o bem e
que não peque? A Escritura declara que “não há
quem faça o bem, nem um sequer”. "Todos nós somos como ovelhas que se extraviaram, cada
qual no seu próprio caminho”. O caminho da
salvação não pode, consequentemente, ser por
seguirmos numa estrada que nós já temos constantemente abandonado tão cheios de
pecados. Se você fosse perfeito como Adão era
antes do pecado, você poderia seguir o caminho
das obras, e ser salvo. Mas você não está nesta condição. Se eu pudesse ser enviado a Adão e a
91
Eva juntamente antes da queda, eu poderia
propor-lhes o caminho da salvação pela
obediência à lei; mas você tem falhado, e sua
natureza está inclinada a abandonar o reto caminho.
As vestes que você traja revelam que você tem descoberto a sua vergonha. Os trabalhos quotidianos que o fatigam provam que você não
está no paraíso. A verdadeira pregação do
evangelho implica que você está num mundo
cheio de pecado. Você não está possuído de vontade incorruptível, ou inclinado ao que é
bom: você tem escolhido o mal, e ainda continua
a escolhê-lo; e consequentemente eu somente
posso lhe propor uma estrada na qual você já tropeçou, e eu estaria lhe dando uma tarefa que
você já tem estragado.
E, em seguida, eu penso que isto será admitido por todos, que o caminho da salvação pelas boas obras seria por si mesmo evidentemente
inadequado para um número considerável. Eu
exporei o fato. Eu estou sendo enviado para
atender uma emergência, ao cair da noite. Um homem está morrendo. Eu chego junto ao seu
leito de morte, como solicitado. Ele está
consciente, mas evidentemente em agonia
mortal. Ele tinha vivido uma vida ímpia, e ele está a ponto de morrer. Eu pedi à sua esposa e
amigos que lhe falassem uma palavra que lhe
pudesse abençoar. Eu lhe diria que ele pode ser
92
salvo por boas obras? Onde está o tempo para
boas obras? Onde está a possibilidade de
praticá-las? Quando quase começo a lhe falar,
sua vida está lutando para abandoná-lo. Ele me olha na agonia da sua alma, e gagueja, “O que eu
devo fazer para ser salvo?”. Eu deveria lhe
apresentar a lei moral? Eu deveria lhe expor os dez mandamentos, e pedir-lhe que ele os
guardasse? Ele balançaria sua cabeça dizendo,
“eu os tenho quebrado, e eu sou condenado por
todos eles.”. Se a salvação é por obras, o que mais eu tenho a dizer? Isto não tem qualquer
utilidade aqui. Que posso eu dizer? O homem
está perdido totalmente. Não há nenhum
remédio para ele. Como posso eu lhe dizer o dogma cruel "do pensamento moderno" que seu
próprio caráter pessoal é tudo? Como posso eu
lhe dizer que não há nenhum valor na fé,
nenhuma ajuda para a alma em olhar para outro – mesmo para Jesus, o Substituto? Não há
nenhum sussurro da esperança para um
homem morrendo na dura doutrina da salvação
pelas obras.
Se a salvação tem sido pelas obras, nosso Senhor não deveria ter dito ao ladrão morrendo na cruz
ao seu lado, “Hoje estarás comigo no paraíso.”.
Aquele homem não poderia fazer qualquer
trabalho, suas mãos e seus pés estavam presos na cruz, e ele estava na agonia da morte. Não,
isto deve ser de graça, totalmente conquistado
pela graça; e o modus operandi deve ser pela fé,
93
ou de outro modo o evangelho para os homens
que estão morrendo é uma gozação. O homem
deve olhar, e viver. O pecador expirando deve
confiar no Salvador que expirou. Como a vida declina, o penitente deve encontrar a vida na
morte de Jesus. Não está revelado que o
evangelho de obras é inadequado em situações como estas? Agora, o evangelho que é
inadequado para alguns não é o evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo. Sim, eu o explicarei
claramente. Um evangelho que não pode servir a todos não pode servir a ninguém; e se ele serve
a alguma classe e condição, real e
verdadeiramente, ele deve atender a todas as
classes. Eu penso que lhes tenho falado em certa ocasião, que eu recebi uma carta que intentava
irritar-me, de alguém particularmente
eminente, um cavalheiro da aristocracia, que
dizia que tinha lido alguns dos meus sermões quando estava fora na costa da África, e ele
descobriu que determinados negros haviam
muito se deleitado com eles. Ele escreveu para
informar-me que eu era um pregador muito competente para os negros. Eu recebi a
afirmação como um alto elogio. Eu sentia que se
eu podia pregar aos negros, eu poderia pregar a
qualquer um; e que, se o evangelho que eu pregava era apropriado para os nativos da costa
da África ele certamente serviria às pessoas de
Londres; se aqueles que estavam longe
puderam compreendê-lo, você, que está próximo, poderia também compreendê-lo. O
94
evangelho não foi enviado ao mundo para ser
um remédio exclusivo que somente poderia ser
comprado pelos ricos, ou uma linguagem que
somente poderia ser expressada pelos estudantes de latim. Este é um evangelho para
todas as categorias e condições de homens; e eu
provo que se você chama o evangelho de inadequado para os que estão morrendo, ou que
é inadequado para os ignorantes, este não é o
evangelho de Jesus Cristo. O evangelho da
salvação pela graça, mediante a fé, é adequado para cada classe de pessoas que nós temos que
tratar.
O pecado tem atado com correntes de ferro muitas pessoas, e o evangelho pode libertá-los.
Seja do hábito da bebida, da profanação, ou do que seja, o hábito os prende seguramente; e o
profeta diz, relativamente ao hábito, "pode o
etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas
manchas? então podem vocês também fazer o que é bom, estando acostumados a fazer o mal.".
Para que propósito então, eu grito ao leopardo,
"mude suas manchas," ou ao etíope, "mude sua
pele"? Eu devo trazer uma força superior sobre o leopardo ou o etíope, antes disto poder ser
realizado; e não há nenhuma força na mera
exortação. Você pode exortar um homem cego a
ver, mas ele não verá. Você pode exortar um homem morto para retornar à vida; mas não
viverá somente com a sua exortação. Algo mais
é requerido. As forças do depravação natural, e
95
os hábitos adquiridos do pecado em muitos
casos – e eu penso que você concordará com isto
– colocarão a doutrina da salvação pelas obras
fora da corte; e se é colocada fora para uns, será colocada fora para todos; porque só pode haver
um evangelho. Vá com suas convicções
assentadas; vá através de suas cadeias; e apenas veja o que você pode fazer com a doutrina da
salvação pelas boas obras. Você virá para casa
desapontado. Mas vá lá e fale da livre graça e da
morte de Jesus por amor, e o perdão que foi comprado pelo sangue, e os olhos se encherão
com lágrimas, confissões do pecado, e choros
pelo perdão, lhe mostrarão que você não tem
falado em vão.
Além disso, queridos amigos, se nós formos e pregarmos aos homens a salvação pelas obras,
nós estamos pregando a eles um caminho de
salvação de todo impossível por causa da
perfeição que é exigida pela lei. Quais são os bons trabalhos que podem merecer o céu?
Quais são os bons trabalhos que podem
assegurar a vida eterna? Estes não são as coisas
fáceis que alguns parecem imaginar. Devem ser perfeitamente puros, contínuos, e imaculados.
"A lei do senhor é perfeita.". Ela condena um
pensamento, e mesmo um olhar de relance,
como um ato de criminalidade. "Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura,
no coração já adulterou com ela.”. A lei de Deus
em dez mandamentos significa que muito mais
96
do que as palavras reveladas implicaria: ela trata
com toda a extensão da escala moral, motivos e
pensamentos. Não pense que sua aplicação
inclui somente atos externos: inclui os externos, mas, também a intenção, os dez mandamentos
são espirituais, eles vão direto ao coração, e
procuram as partes internas do espírito. Quanto mais um homem compreende a lei, mais ele se
sente condenado por ela, e menos ele
acalentará o pensamento de que ele, como ele é,
será capaz de guardá-la intacta para sempre. Com mãos sujas como as nossas, como
podemos fazer o trabalho limpo? Com os
corações tão corrompidos, como podemos ser
"incorruptíveis no caminho"? A natureza não se levanta mais alto do que sua fonte, e aquilo que
sai do coração não será melhor do que o
coração, e aquilo que sai é "enganador mais do
que todas as coisas e desesperadamente corrupto.".
A lei de Deus é una; e se você a quebra em algum ponto, você a quebra completamente. Se, em
uma corrente de cem elos, noventa e nove
forem perfeitos; contudo se uma única ligação, em qualquer lugar na corrente, for demasiado
fraca para o peso que ela sustenta, a carga cairá
à terra completamente. Uma ruptura da lei
perfeita de Deus envolve transgressão contra toda ela. A salvação por obras deve ser
absolutamente perfeita, continuamente
perfeita obediência, no pensamento, na
97
palavra, e na ação; e essa obediência deve ser
realizada alegremente, e vinda do fundo do
coração, porque este é o sentido do primeiro
mandamento – “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma, e com
toda a tua força.”. Você pode guardar isto
perfeitamente? Homem vanglorioso, você pode com sua força moral atender exigência tão
grande, e ser assim tão justo? Você tem provado
a si mesmo à altura da tarefa? Aqui está a
ordenança do segundo mandamento. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”. Você tem
sempre tentado fazer isto – amar seu vizinho
como ama a si mesmo? Você tem sido um pouco
gentil e algumas vezes generoso, mas o padrão aceitável é que você ame seus vizinhos como a si
mesmo – você tem sempre cumprido isto? Tem
sua caridade sido igual ao seu amor próprio? Eu
não creio que isto tenha sido sempre cumprido pela metade. Agora, "as coisas que a lei diz, ela o
diz para os que estão sob a lei” e se é dito tudo
isso a você, e você não pode responder a tais
exigências, como pode esperar que viverá por meio disto? Quando o homem falha em guardar
a lei, ela o condena; e o pune – em outra palavras,
o amaldiçoa – faz recair sobre ele justamente a
sua dívida. Quem está sob a lei está sob maldição. Tudo o que a lei tem a dizer a você é –
“tens me quebrado; e deves morrer por causa
disto”. Leia as maldições escritas no livro de
Deuteronômio, e lembre que todas estas estão pronunciadas sobre sua cabeça.
98
"olhe as chamas que Moisés viu, e encolha-se, trema e se desespere."
Se nós pregamos a salvação pelas obras, nós levaremos as mentes dos homens para longe do
senso da sua grande necessidade. Aqui está uma pessoa que tem uma doença terrível.
Ele pode ser curado. O bisturi deve ser usado;
mas se, eu renunciar às regras da limpeza e da higiene geral, eu posso fazer-lhe alguma sorte
de bem; mas entrementes ele negligenciará o
mal principal, e sua doença se espalhará, e
tornar-se-á fatal. O que eu deveria fazer, se eu for um cirurgião? Não devo imprimir-lhe,
primeiro, a convicção de que uma operação
séria é requerida, e que deve ser submetido a
ela? Todo o restante será ajustado o suficiente, e mesmo necessário, no tempo devido; mas eu
não devo fazer nada que afaste sua mente do
grande mal que está destruindo sua vida. Ao
pecador deve ser dito que ele deve nascer de novo, que sua natureza é corrupta, que tal
natureza corrompida deve ser destruída, que a
nova natureza deve ser criada nele: para isto sua
mente deve ser renovada. Ele deve ser feito “uma nova criatura” em Cristo Jesus; e se eu o
mover à ação eterna, com vistas à sua salvação
por meio disto, eu estarei levando seus
pensamentos para longe do interior do mal do pecado, que é a real essência do assunto. Oh,
senhores, se vocês têm cometido uma ofensa
contra o governo do seu país, e se forem achados
99
culpados, e condenados à morte, minha
primeira ação em seu favor seria pedir perdão
para vocês ao rei. Eu posso entrar na sua cela e
dizer que eu lhe vestiria com trajes finos; lhe recomendaria ler tais e tais livros, ou aprender
determinada ciência; e tudo isto pode ser muito
bom, mas a primeira coisa que você necessita é ter a sentença de morte anulada.
Eu exortarei vocês, meus caros ouvintes, a fazer tudo o que é honesto, e correto, e bom; mas há
algo mais necessário do que isto. Vocês necessitam ser limpos de seus pecados pelo
precioso sangue de Cristo. Vocês necessitam ser
renovados em seus corações pelo Espírito
Santo, e vocês devem voltar seus pensamentos para estas coisas. Vocês primeiramente
necessitam sobretudo do Senhor Jesus. Olhem
para Ele, eu lhes peço. Eu não ouso exortá-los
para este ou aquele trabalho, a fim de que eu não distraia suas mentes da necessidade que
vocês têm de Cristo.
A pregação da justificação legal não tem nenhum poder sobre os homens. As congregações assim instruídas são geralmente
descuidadas, mundanas, e devotadas às
diversões carnais. Aqueles que ouvem sobre
trabalhos sentem como se eles agora tivessem feito o bastante, e que não necessitariam
praticá-los. Não há nada em tal doutrina para
despertar a ansiedade, ou mover o desejo, ou
100
agitar as profundezas da alma. Não tem nada
divino nela, nada sobrenatural, nada que possa
realmente levantar o caído, encorajar o fraco, ou
inspirar os santos. Sem unção, vida, ou fogo, um ministério legal é uma mera mísera canção de
lamento de homens, ou o assentamento de um
curso de ações vivas para encher túmulos com cadáveres.
Este ponto nós conhecemos de fato, e consequentemente não repetiremos a
experiência.
Eu estou receoso que, se nós começarmos a pregar a salvação pelas obras, nós
encorajaremos o orgulho em alguns, e
criaremos o desespero em outros. Muitos pensariam que eles tinham agido muito bem,
comparando-se com outras pessoas; e estariam,
por conseguinte, embalando a si mesmos numa esperança falsa. Mas, outros, sabendo que eles
não tinham agido bem, ao se compararem com
outras pessoas, pensariam que não haveria
esperança para eles, e assim entrariam em desespero. Para qual finalidade prática isto
poderia servir – para tornar alguns mais
orgulhosos, e outros mais enfraquecidos,
através da influência do desespero sobre eles?
Mas o fato verdadeiramente mau é, que isto os afastaria de Jesus. Nosso assunto, meus irmãos,
é o de manter Jesus elevado, como convém. Para
101
que finalidade ele morreu, se os homens
poderiam ser salvos pelos seus próprios
trabalhos? Seria supérfluo que ele fosse
pregado na cruz se nossos próprios méritos podem abrir o caminho da salvação. Como
poderia o grande Deus permitir e mesmo
ordenar uma tal morte se nós poderíamos ser salvos pelos nossos próprios méritos? Por que
aquele derramar de sangue? Por que aqueles
pregos nas mãos e nos pés? Por que aquele, “Eli,
Eli, lama sabachthani?” se por vocês mesmos podem ser salvos? Mas não é assim. Você não
pode ser salvo por seus próprios esforços, e por
conseguinte nós temos que vir a você,
apontando-lhe somente esta única coisa – que você deve ser salvo pela fé nEle a quem Deus
tem proposto como propiciação pelo pecado.
Você necessita do amor de Deus; você necessita
do poder do Espírito Santo; você necessita ser ressuscitado em novidade de vida; você
necessita ser ajudado na sua corrida nos
caminhos da justiça: numa palavra, você
necessita de tudo até que você venha a Cristo, e tudo o que você deseja você achará nele, e nele
somente.
No interior de vocês mesmos nada há do que vocês precisam. Vocês podem procurar, e olhar,
e retornar ao estrume de suas naturezas de novo e de novo, mas vocês nunca acharão a joia da
salvação lá. Esta pérola de grande valor está no
Senhor Jesus que assumiu a natureza humana, e
102
viveu, amou e morreu, e ressurgiu dos mortos,
somente ele pode redimir os homens da queda
e do pecado consequente disto. Oh, que vocês
venham a olhar para longe de si mesmos de uma vez para sempre! Deus proíbe que o pregador
sempre apresente algo a mais diante de vocês
exceto o Salvador crucificado, como Moisés levantou a serpente no deserto, convidando os
homens a olharem e viverem.
Falar aos incrédulos sobre a possibilidade da salvação pelas suas próprias obras os manteria
afastados da vida eterna. Tudo o que a vida natural pode fazer nunca será suficiente para
produzir a natureza mais elevada. Deixe o
natural esforçar-se o mais que possa, e isto
nunca o conduzirá ao que é espiritual. O melhor trabalho de um cavalo não pode transformá-lo
num homem: o melhor incrédulo não pode por
si mesmo transformar-se num regenerado.
Deve haver um novo nascimento; e que vem pela fé, e não por obras. Crer em Jesus é entrar
pela porta da nova vida, e não há outra porta. Se
nós, de alguma maneira, induzirmos você a
procurar por um outro caminho, nós faremos com que você perca a única entrada, e isto fará
com que você perca a sua alma eternamente.
Como nós tememos isto, mais e mais estamos
decididos a manter levantada a cruz, e a cruz somente, e repetidas vezes nós clamamos, “Crê
no Senhor Jesus Cristo e serás salvo.”. Deus
proíbe que, por nossas explanações da virtude,
103
ou “do entusiasmo da humanidade”, nós
venhamos a distrair você do Senhor Jesus, que
pode dar-lhe descanso, vida e santidade ! Nós
desejamos que você traga todos os seus pensamentos, todos eles, ao Calvário, à
maravilhosa Pessoa, cujas feridas na cruz curam
as feridas do pecado, e cuja morte é para os crentes a morte do grande poder do mal que
uma vez os manteve aprisionados no cativeiro.
II. Mas agora nós vamos à segunda parte também importante do assunto, a saber, A CAMINHADA DA SALVAÇÃO. Aqueles que têm
crido em Cristo, e têm sido os sujeitos do
trabalho do Espírito, são agora “criados em
Cristo Jesus, para boas obras, as quais Deus de antemão ordenou para que andássemos nelas.”.
Deus deseja que seu povo abunde em boas
obras. É seu grande objetivo produzir um povo
que tenha comunhão com Ele: um povo santo, com quem ele possa ter companhia agora e na
eternidade. Ele deseja que nós não somente
produzamos boas obras, mas que abundemos
nelas; e para abundar na mais alta espécie delas. Ele intenta transformar-nos em seus imitadores
como filhos amados, possuindo os mesmos
atributos morais como o Pai os possui no céu.
Isto não está escrito: “sede perfeitos assim como perfeito é o vosso Pai que está nos céus”?
Observe no texto, primeiro, que há uma nova criação. Um dos poetas disse “um homem
104
honesto é o trabalho mais nobre de Deus.”. Isso
não é verdadeiro, a menos que nós possamos
colocar depois da palavra “honesto” um sentido
enfático espiritual. O crente, entretanto, é o trabalho mais nobre de Deus. É o produto da
segunda criação. Na primeira o homem caiu, e
estragou o trabalho do seu Criador; mas, na nova criação, Aquele que fez todas as coisas faz-
nos de novo. Agora, o objetivo da nova criação de
nossa raça é a santidade até a glória de Deus
Você não é feito nova criatura na imagem do caído Adão, mas na semelhança do segundo
Adão.
Você não é nova criatura para pecar - isto não pode ser imaginado. A nova criatura não vive
pecando porque é nascida de Deus. A nova vida é a viva e incorruptível semente, que vive e
obedece para sempre. A antiga natureza peca, e
sempre pecará; mas a nova vida é de Deus, e luta
diariamente contra o pecado da velha natureza, e persevera, e dirige-se para tudo o que é santo,
reto e perfeito. Ela busca instintivamente a
perfeita santidade. A antiga natureza não tem
prazer em orar; mas a nova natureza ora com prazer. A velha natureza murmura, mas a nova
natureza canta louvores a Deus com o impulso
que vem do seu interior. A velha natureza segue
após a carne, porque é carnal; mas a nova natureza procura as coisas do Espírito, porque é
espiritual. Se você tiver nascido de novo, você
terá nascido dentro da santidade. Se você foi
105
feito nova criatura, você foi criado dentro das
boas obras. Se isto não ocorreu conosco nossa
religião é uma mera pretensão.
Esta nova criação é em ligação com Cristo, porque nós lemos no texto, "criados em Cristo
Jesus.". Nós somos os ramos; Ele é a Videira na
qual nós crescemos. Sua vida, e toda sua produção de frutos repousa na união a Cristo.
Você não é meramente nova criação, mas você é
criado em Cristo Jesus. Isto não é meramente
uma mudança de uma natureza mais baixa a uma mais elevada, mas da separação de Cristo à
união com ele. Que coisa maravilhosa que é -
que você e eu não sejamos somente criaturas no
mundo, mas novas criaturas em Cristo Jesus ! Nós formos criados no primeiro Adão, mas
nossa nova criação é no segundo Adão. Amados,
se vocês forem o que vocês professam ser, vocês
são um com Jesus por meio dessa união vital que não pode ser dissolvida; e as boas obras seguem
essa união. Unidos a Jesus pela fé nele, no amor
a ele, e na imitação dele, você anda em boas
obras. Sua criação em santidade é sua criação em Cristo Jesus. Como você veio a ser um com o
seu ungido Salvador, ele ordena unção sobre
você para o seu serviço, e sua salvação é
conduzida em obediência. Não pode haver frutos nos ramos que estão vitalmente ligados a
esse tronco frutífero, Jesus Cristo, que não
sejam sempre para a satisfação do Pai.
106
Nossas boas obras devem derivar de nossa união com Cristo pela virtude da nossa fé nele. Nós
dependemos dele para fazer-nos santos. Nós
dependemos dele para guardar-nos na santidade. Nós superamos o pecado pelos
sangue do Cordeiro. Nós alcançamos a
santidade pelo amor de Jesus que nos constrange. O amor a Cristo é a causa
impelidora de lançar fora, primeiro um mal, e
depois outro, e a energia que nos capacita a
seguir após uma virtude, e depois outra. O amor a Cristo queima como fogo no peito que o tem
abrigado; e enquanto queima, faz o coração
arder, e vir a ser transformado em Sua própria
natureza. Você tem visto um pedaço de ferro no fogo, todo preto ou enferrujado, e no fogo ele vai
se tornando gradualmente vermelho com o
calor; e, enquanto vai ficando avermelhado, joga
fora a oxidação, até que ao final quando olhamos para ele parece uma massa de fogo. O efeito do
amor de Deus, derramado no coração pelo
Espírito Santo, é para queimar a ferrugem do
pecado e depravação, e nós ganhamos puro amor a Deus através da força do amor de
Deus, que toma posse do nosso ser.
Além disso, esse amor move-nos para a imitação paciente de Cristo. Você sabe o que isso
significa? "a imitação de Cristo" é um livro maravilhoso sobre o assunto, que cada cristão
deve ler. Tem suas falhas, mas suas excelências
são muitas. Nós podemos não somente ler o
107
livro, mas escrevê-lo de novo em nossa própria
vida e caráter procurando em tudo ser como
Jesus! É uma coisa boa colocar em sua casa a
pergunta, "o que Jesus faria?". Isto responde a nove em cada dez das dificuldades do casuísmo
moral. Quando você não sabe o que fazer, e a lei
não parece muito explícita sobre o ponto em questão, faça isto – “O que faria Jesus?”. Aqui,
então, está o caso: por sua criação em Cristo
você vem exibir a fé nele, no amor, e na imitação
dele; e tudo isto são os meios pelos quais as boas obras são produzidas em você. Você é " criado
em Cristo Jesus, para as boas obras.".
Repare que esta criação para as boas obras é o objeto de um decreto divino: “as quais Deus de
antemão ordenou para que andássemos nelas”. Isto é um decreto de Deus. Eu sou ordenado à
vida eterna? Responda a outra pergunta: “Eu
sou ordenado a caminhar em boas obras?”. Se
eu estou ordenado a boas obras, então eu devo caminhar nelas, e o decreto de Deus é
manifestamente transmitido a mim. Mas se eu
fizer a profissão de ser um crente, estando
presente num local de adoração, e louvar a mim mesmo pela minha salvação, enquanto eu estou
vivendo em pecado, então evidentemente não
há decreto que eu andarei em boas obras,
porque eu estou vivendo de uma maneira diferente da que esse decreto faria com que eu
vivesse. Oh amados, é propósito eterno de Deus
fazer com que seu povo viva santamente !
108
Concorde com este propósito, com a liberdade
da vontade renovada, e com a alegria do seu
coração regenerado ! Concorde com a vontade
de Deus. Deseje verdadeira, veementemente, com todo o coração, a perfeita santidade no
temor de Deus. Então você pode, no meio da
severa luta contra a tentação dentro e fora de você, voltar a recorrer ao decreto da
predestinação. Desde que isto é um decreto de
Deus, que, fôssemos novas criaturas em Cristo,
eu seria cheio de boas obras, apesar da minha velha natureza, apesar da minha fraqueza
espiritual. O decreto, da nova criatura de Deus,
será cumprido a despeito das minhas
circunstâncias, a despeito das tentações e da oposição do diabo. Deus tinha ordenado antes
que nós andaríamos em boas obras; e nós
andaremos nelas sustentados pelos Espírito
Santo.
Assim, então, caros amigos, estas boas obras devem estar nos crentes, mas devem ser em
Cristo. Elas não são a raiz, mas o fruto da sua
salvação. Elas não são o caminho da salvação dos
crentes; elas são sua caminhada no caminho da salvação. Onde há uma vida saudável em uma
árvore, a árvore dará frutos segundo a sua
espécie; assim, se Deus tem feito boa a nossa
natureza, o fruto será bom. Mas se o fruto for mal, isto é porque a árvore é o que sempre foi –
uma má árvore. O desejo dos homens criados de
novo em Cristo é o de serem livrados de cada
109
pecado. Nós pecamos, mas nós não amamos o
pecado. O pecado algumas vezes ganha poder
sobre nós, para nossa tristeza, mas isto é uma
espécie de morte para nós por sentirmos que temos pecado; contudo não terá domínio sobre
nós, porque nós não estamos sob a lei, mas sob a
graça; e consequentemente nós conquistá-lo-emos, e alcançaremos a vitória.
O resultado de nossa união com Cristo deve ser santidade. "Qual a união de Cristo com
Belial?”; que união pode ele ter com homens
que amam o pecado? Como podem aqueles que são do mundo, que amam o mundo, dizerem-se
membros da Cabeça que está no céu, na
perfeição da sua glória? Irmãos, nós devemos,
no poder do texto, e especialmente no poder de nossa união com Cristo, buscar fazer progressos
diariamente em boas obras, que Deus de
antemão tem ordenado para que nós
andássemos nelas; porque caminhando deste modo não somente perseveraremos, mas
também avançaremos. Nós iremos de força em
força em santidade: nós deveríamos fazer mais,
e melhor. O que vocês estão fazendo para Jesus? Faça duas vezes mais. Se vocês estiverem
divulgando às nações o conhecimento do Seu
nome, trabalhem com ambas as mãos. Se você
estiver vivendo retamente, busque lançar fora alguns pecados antigos que estão ligados ao seu
caráter, para que você possa glorificar o nome
de Deus ao máximo.
110
E, finalmente, isto deveria ser o nosso exercício diário: - "para que andássemos nelas.”. As boas
obras não são uma diversão, mas uma vocação.
Nós não devemos desejá-las ocasionalmente: elas devem ser a maneira e a inclinação de nossas vidas. “Oh,” alguém disse, “isto é uma
palavra dura”. Você diz isto? Bem, então, estes
indicadores, estão colocados claramente na
primeira parte do meu assunto. Você observa como é impossível que você seja salvo por essas
boas obras. Mas se você for salvo – se você tiver
obtido a salvação presentemente, se você é
agora um filho de Deus, se você está agora com a sua segurança garantida, eu o concito, pelo
amor que você alcançou em Deus, pela gratidão
que você tem a Cristo, dê-se totalmente a tudo o
que é correto, e bom, e puro, e justo. Ajude tudo o que tiver que fazer com temperança, justiça,
verdade e fidelidade; e “deixe sua luz brilhar
diante dos homens, para que eles possam ver
suas boas obras, e glorificarem ao seu Pai que está nos céus.”. Possa o Espírito de Deus selar
este sermão sobre os corações do seu povo, por
causa de Cristo ! Amém.
Texto de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
“Todos os vossos atos sejam feitos com
amor.” (1 Cor 16.14)
Importa que todos os nossos deveres sejam
executados com amor, porque Deus assim o
exige, uma vez que Ele é amor e nos criou para o amor.
O cristão descuidado pensa que as obras que ele faz são o suficiente para agradar a Deus. Todavia,
caso nossas obras não sejam feitas por amor a
Deus, mediante nossas naturezas transformadas pelo Seu poder, elas serão de
nenhum valor para ele.
Deus requer de fato nossas boas obras, mas estas não podem ser assim chamadas se não
forem realizadas com o seu amor, que é derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo.
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