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Há tristeza no ar. Apenas uma voz para nos consolar. Um desabafo feito há mais de 25 anos nos remete ao silêncio e ao respeito máximos. Essa voz, hoje não mais ao vivo, nos encantou por uma carreira muito curta. Porém insuperável, inigualável.

Ellis 25 Anos Depois

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Uma homenagm à maior cantora que o Brasil conheceu, 25 depois de sua morte

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Há tristeza no ar.Apenas uma voz para nos consolar. Um desabafo feito há mais de 25 anos nos remete ao silêncio e ao respeito máximos.Essa voz, hoje não mais ao vivo, nos encantou por uma carreira muito curta. Porém insuperável,inigualável.

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Agora o braço não é mais um braço erguido num grito de gol.Agora o braço é uma linha , um traço.Um rastro estrelado e brilhante.

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E todas as figuras são assim: desenhos de luz; agrupamentos de pontos , de partículas!Um quadro de impulso nos processamentos vitais.E assim, dizem, recontam a vida.

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Agora retiram de mim a cobertura de carne; escorrem todo o sangue.Afinam os ossos em fios luminosos.

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E aí estou pelo salão, pelas casas, pelas cidades. Parecida comigo... um rastro.Uma forma nebulosa feita de luz e sombra. Como uma estrela ...

Agora eu sou uma estrela!

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Ellis: 25 anos de saudade

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Tivéssemos nós algum poder, e transformaríamos você numa estrela cadente com destino certo de queda: o coração do Brasil, dos brasileiros.

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Aí, como num sonho, continuaríamos a vê-la e ouvi-la, como se o tempo tivesse parado e você, com seu talento, nunca tivesse nos deixado assim, órfãos da melhor artista popular que nos foi presenteada.

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Mas como não podemos determinar nosso rumo e a nós cabe a aceitação divina, temos que nos acostumar com sua ausência através das inúmeras canções que, essas sim, não morrem, tal sua qualidade insuperável.

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Um dia você falou qualquer coisa de “o tempo não para” e, de repente, já se passaram 25 anos de sua ida. Assustados nos perguntamos: como foi possível tanto tempo, sem aquela que acionávamos no velho toca-fitas ou mesmo na vitróla , para nos enchermos de “sopros para nossa alma”?

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Sabe “Pimentinha”: você podia tudo. Até mesmo se exibir sem esse sorriso lindo ou mesmo com aquela cara amarrada, própria de quem estava ferida em seu mais íntimo sentimento.Agora entendemos que tanta emoção contida não devia ser fácil assim, de ser administrada.

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Um dia você disse: “Minha música sai natural e espontânea. Eu faço cara feia, sou exagerada nos gestos? E eu com isso? É um problema de quem o acha. Eu sinto as coisas assim e eu simplesmente recorro a isso tudo porque às vezes a palavra não é suficiente para demonstrar às pessoas, tudo que se quer dizer, não se tem força para isso.

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O gesto é meu, o repertório quem escolhe sou eu, as letras, as músicas e tudo mais também refletem muito de mim.Música para mim é a única razão de ser, minha vida gira toda em função dela”.

Pois é, precisou passar o tempo para entendermos bem o que você queria dizer.Que pena!

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25 anos se passaram, e ainda hoje escutamos suas músicas em todos os cantos do País e mesmo em várias partes do mundo, numa prova eloqüente de que sua arte tinha consistência demais para uma “vida útil” por muitos anos, ... ou até mesmo perenemente.

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Olha o que alguém escreveu: “acabei de assistir ao DVD de César Camargo Mariano e Pedro Mariano, “Piano e voz”, lançado pela Trama, e uma parte em especial me fez chorar. Pedro cantou “Se eu quiser falar com Deus”, de Gilberto Gil, e disse que foi por essa música que tudo começou.

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Pelo que entendi, ele foi convidado pelo pai pra fazer uma apresentação em homenagem aos 11 anos do show que Elis fez em Montreux, onde cantou com toda maestria e afinação que lhe cabiam”.

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Coloco isso aqui porque todos nós, que amávamos Ellis, estávamos àquela altura da vida, muito confortados pela calmaria que demonstrava, pelo ambiente que deve ter sido dos melhores, ao lado do famoso músico e filhos. Eu mesmo constatei isso quando tive a oportunidade de passar vários minutos ao lado da família, com Pedro e Maria Rita ainda muito pequenos. Pensei: agora ela está em paz e com um maestro do lado. Então, sua musicalidade irá crescer ainda mais.

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Tenho mesmo para mim que foi seu período mais produtivo, mais centrado e quando fez as suas melhores apresentações. Também era muito né? César Camargo Mariano e Ellis Regina juntos? Um verdadeiro presente de Apolo, o Deus das artes e da beleza.Lamentável o que veio a acontecer depois.

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Tenho todos seus discos, ouço sistematicamente e curto mais em cada nova audição. Descubro com minha modesta noção musical cada novo detalhe de sua interpretação.E como torcemos para que Maria Rita e Pedro Mariano cresçam ainda mais musicalmente para nos brindar com aquela forma de interpretar, afinação, ritmo, musicalidade enfim, que particularmente só vimos em Ellis!

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Fernando Troncoso Rocha, um poeta gaúcho, assim se manifestou sobre Ellis:

A América a viu, como uma linda paixãoSaída lá do sul, da cidade que se diz alegreEla amava a vida e vivia como nossos paisEm seus sonhos menores que a vida

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Desnudou a vida, como uma eterna bêbada equilibristaFlertava com os versos, com seu coração de estudanteCuidava da vida, como uma caipira aprendizNo palco, travestia-se de louca, como a dona do bordel.

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Em águas de marçoDignificastes o nosso prantoEncantado e inventadoComo se fosse mais uma nova paixãoDe pau e pedra, fomos o teu falso brilhante

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Como o novo, nos fazia irreverências milDescreves-te, o país tropical, abençoado por DeusCom o sol na cabeça, na corda bamba da vidaHoje, ainda somos os mesmos e vivemosMuitos sonhos cantados e eternizados por ti!

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E termina:

Homenagem à única cantora brasileira, que tem registrado a sua voz, como um instrumento musical neste país”.

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Pesquisando sobre Ellis, encontrei milhares de homenagens, pelas mais diversas formas. Poemas são muitos.

Um em especial me tocou profundamente. Após lê-lo é que vi de quem era a autoria: Luiz Fernando Veríssimo.

Ei-lo:

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A voz continua, viva e límpida.Continua nos discos e nas fitas. E continua, ainda mais límpida e mais viva, na nossa memória. O resto é como um desenho feito a lápis, sem fixador, que vai se apagando com o tempo. O que ela fez, o que ela disse, o que disseram dela. 

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A voz não se apaga. O disco pode arranhar, a fita pode gastar, mas a voz que a gente guarda na memória continua tão nítida que até atrapalha: não podemos ouvir outra cantora sem ouvir, junto, a voz dela, e comparar.É covardia. Ninguém mais canta como ela.

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Era uma baixinha complicada.Uma pimenta, planta miúda e ardente. Tinha de saber como lidar, senão ela queimava. Morreu e se transformou num milagre de botânica.Hoje é uma flor que a música brasileira usa atrás da orelha.E o seu nome é sempre–viva.

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Ela usava a voz como um instrumentoEla era isso, um instrumento de sopro. Como o pistom que também é pequeno e difícil mas canta como um anjo. Só que os instrumentos, bem cuidados, duram cem anos. E ela não se cuidou. Acabou antes do tempo.Mas a voz continua, viva e límpida.Continua nos discos e nas fitas. E ainda mais viva e límpida na nossa saudade.

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Texto e apresentação por Renato Cardoso

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