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HACKEANDO A COLABORAÇÃO ACELERADORA ESCOLA

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HACKEANDO A COLABORAÇÃO

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A segurança é a primeira e a mais forte motivação da vida social. Isso tem relação com mito de origem, igualmente falso, de que a sociedade humana é uma criação voluntária de homens autônomos. É bom que se entenda, no entanto, que essa maneira de formular a questão é remanescente dos tempos pré-darwinianos e se baseia numa imagem totalmente equivocada da nossa espécie. Como ocorre com boa parte dos mamíferos, todo ciclo da vida humana inclui estágios nos quais dependemos dos outros (na infância, na velhice ou quando ficamos doentes) e nos quais os outros dependem de nós (quando cuidamos das crianças, dos velhos ou dos doentes). Precisamos uns dos outros para sobreviver. É dessa realidade que precisamos partir em toda discussão sobre a sociedade humana, e não dos devaneios dos séculos passados, que descreviam nossos antepassados como se fossem criaturas livres como pássaros. (FRANS DE WAAL, PRIMATÓLOGO)

ABERTURA

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São duas as intenções desse curso: Primeiro, mostrar que a resposta a uma antiga pergunta – como a sociedade se tornou possível? – está ao nosso alcance graças a biologia da evolução. A sociedade não é invenção de pensadores. Ela evoluiu como parte da nossa natureza. É, tanto como nosso corpo, produto dos nossos genes. Para compreendê-la, devemos olhar dentro do cérebro, para os instintos de criar e explorar os vínculos sociais que estão lá.

Segundo, como utilizar a compreensão das pressões e incentivos que moldaram nosso comportamento social enquanto vivíamos em pequenos agrupamentos de caçadores-coletores, para fomentarmos a cooperação hoje, em escala global, criando negócios de impacto.

ABERTURA

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Boa parte das maiores empresas de tecnologia do mundo, dependem de cooperação do usuário. Alertar bugs, coletar dados, alimentar o sistema, fazer comentários, divulgar a empresa, compartilhar, avaliar usuários, produtos...existe uma infinidade de situações aonde as empresas dependem da coolaboração de seus usuários. Não faltam exemplo: Google, Facebook, Fourshared, Amazon, Uber, AirBNB, Blablacar, Ebay, tantas outras dependem, pouco ou muito, da interação de seus usuários. Muitas das vezes, os usuários nada ganham cooperando, pelo contrário, perdem o precioso tempo. Então por que o fazem?

POR QUE A COOPERAÇÃO É TÃO IMPORTANTE PARA EMPRESAS DE TECNOLOGIA E DE ECONOMIA

COLABORATIVA?

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A mente humana evolucionou sob as pressões seletivas que conheceram nossos antepassados humanos quando viviam de caça e da coleção no período e no ambiente do Pleistoceno – os atos e as cenas centrais de nossa pré-história. Como esse estilo de vida chegou a seu fim há muito pouco tempo em termos da evolução, nossa mente segue adaptada àquela maneira de vida. E isso é assim porque ao largo de noventa por cento da existência da espécie humana, os indivíduos viveram como caçadores e coletores em pequenos bandos nômades, época em que, segundo muitos indícios, o cérebro humano alcançou sua capacidade física atual; ou seja, o cérebro de 100.000 anos é o mesmo cérebro que agora é capaz de desenhar computadores, elaborar leis, discursar sobre a justiça e os direitos humanos.

CONTEXTO EVOLUTIVO DA COLABORAÇÃO HUMANA E AS SOCIEDADES ATUAIS

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Em uma palavra: nossa arquitetura cognitiva, moral e emocional foi desenhada pela seleção natural para as condições de vida do Pleistoceno e não para sociedades modernas, industriais e democráticas – nosso cérebro evoluiu como estratégia para a sobrevivência, e não para resolver quebra-cabeças cognitivos abstratos, fazer palavras cruzadas ou jogar xadrez. Para bandas de entre 70 e 150 caçadores e coletores afincados na savana; não para competidores em um mercado livre de bens e serviços, nem para cidadãos de um estado liberal de direito, nem para anônimos habitantes de uma megalópole contemporânea. A contrário do nosso estilo de vida pré-agricultura, quando vivíamos em pequenos agrupamentos cooperativos com parentes e conhecidos, hoje vivemos em sociedades complexas, rodeado de pessoas que desconhecemos.

CONTEXTO EVOLUTIVO DA COLABORAÇÃO HUMANA E AS SOCIEDADES ATUAIS

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Há várias razões para que possa evoluir nos organismos a disposição para fazer boas ações. Eles podem ajudar outras criaturas enquanto estão defendendo seus próprios interesses, por exemplo, quando formam um rebanho que confunde os predadores ou quando vivem dos subprodutos uns dos outros. Isso se chama mutualismo, simbiose ou cooperação. O altruísmo pode evoluir de dois modos principais. Primeiro, como parentes compartilham genes, qualquer gene que incline um organismo a ajudar um familiar seu aumentará a chance de sobrevivência de uma cópia de si mesmo que existe naquele parente, mesmo se o organismo que o ajudou sacrifique seu próprio bem-estar no ato generoso.

BASES EVOLUTIVAS DA COOPERAÇÃO: EMPATIA, ALTRUÍSMO RECÍPROCO E AJUDA PARENTAL

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Esses genes, em média, acabarão por predominar, contanto que o custo para o organismo que ajudou seja menor que o benefício para o organismo ajudado, levando-se em conta seu grau de parentesco. O amor pela família – o carinho pelos filhos, irmãos, pais, avós, tios, sobrinhos e primos – pode evoluir. A isso se dá o nome de altruísmo nepotista. O altruísmo pode evoluir quando organismo trocam favores. Um ajuda o outro nas tarefas de limpeza, alimentação, proteção e apoio, e em troca é ajudado quando tem as mesmas necessidades. Isso recebe o nome de altruísmo recíproco, e pode evoluir quando as partes se reconhecem, interagem repetidamente, podem conceder um grande benefício a outros a um custo pequeno para si mesmas, mantêm na memória favores oferecidos ou negados e são impelidas a retribuir à altura.

BASES EVOLUTIVAS DA COOPERAÇÃO: EMPATIA, ALTRUÍSMO RECÍPROCO E AJUDA PARENTAL

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O altruísmo recíproco pode evoluir porque os cooperadores desfrutam mais vantagens do que os ermitões ou misantropos. Eles desfrutam os ganhos de trocar seus excedentes, arrancar piolhos dos pelos uns dos outros, salvar-se mutuamente de afogamento ou fome e tomar conta dos filhos uns dos outros. Os retribuidores também podem mais vantagens no longo prazo do que os trapaceiros que recebem favores sem retribuir, pois os retribuidores acabarão por reconhecer os trapaceiros e passarão a evitá-los ou puni-los.

BASES EVOLUTIVAS DA COOPERAÇÃO: EMPATIA, ALTRUÍSMO RECÍPROCO E AJUDA PARENTAL

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Os antigo hominídios extinguiram a quase totalidade dos grandes mamíferos nos últimos 30 mil anos, após a invenção da lança. Caçar animais desse porte, era uma tarefa muito arriscada, e que demandava não bastante cooperação, mas confiança na não-deserção dos outros membros. Uma vez abatida, apesar dos caçadores terem maior controle sobre a divisão, a carcaça se tornava um bem público, onde todos, independente da ajuda, podiam usufruir. Era humanamente impossível consumir toda a carne antes que perecesse. Por outro lado, caçar pequenos animais, dava um suporte contínuo e confiável de proteínas, sem grandes riscos.

COOPERAÇÃO EM GRANDES CAÇADAS. STATUS E PRESTÍGIO SOCIAL

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Se caçar pequenos animais, e se aproveitar da caça de grandes animais que outros faziam parecia muito mais vantajoso, porque pessoas se arriscavam caçando grandes animais? Segundo cientistas da Universidade de Columbia, a caça de grandes animais, mais que um empreendimento apenas por carne e proteínas, era uma forma de fortalecer a cooperação, testar a confiança e alianças, e principalmente, de obter status e prestígio social. O esforço e risco na caça, e o altruísmo na divisão da carne, eram como moedas, trocadas por admiração, status, e pela expectativa de troca de favores.

COOPERAÇÃO EM GRANDES CAÇADAS. STATUS E PRESTÍGIO SOCIAL

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Adam Smith foi o primeiro a reconhecer que a divisão do trabalho é que faz a sociedade humana ser maior que a soma das partes. No capítulo inicial da grande obra Riqueza das nações, ele ilustra sua argumentação com o exemplo do fabricante de alfinetes, onde uma pessoa sozinha com sorte produziria 10 alfinetes num dia, mas 10 pessoas dividindo as tarefas, poderiam produzir 48 mil. Note-se tanto o fabricante quanto os fregueses auferem vantagens dessa divisão. Disso se despreende o achado provavelmente menos valorizado da história das ideias. Smith sustentou o argumento paradoxal de que os benefícios sociais decorrem dos vícios individuais. A cooperação e o progresso inerentes à sociedade humana resultam não da bondade, mas da busca do interesse próprio. A ambição egoísta leva à indústria; o ressentimento desestimula a agressão; a vaidade pode ser a causa de gestos de bondade.

DIVISÃO DO TRABALHO E COMÉRCIO. A IMPORTANCIA PARA O FORTALECIMENTO DA COOPERAÇÃO

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A descoberta de Smith, traduzida para o idioma moderno, é que a vida não é um jogo de soma igual a zero. Um jogo de soma igual a zero é aquele que tem um perdedor e um ganhador, como uma partida de tênis. Mas nem todos os jogos o são; às vezes ambos os lados ganham, ou perdem. No caso do comércio, Smith viu que, em razão da divisão de trabalho, tanto minha ambição egoísta de negociar com você, como a sua de ganhar ao negociar comigo, podem ser satisfeitas. Cada um de nós age por interesse, mas com isso nos beneficiamos a nós próprios e ao mundo. De fato, Smith mostrou que a bondade é inadequada para estimular a cooperação numa grande sociedade, porque temos uma irremediável inclinação para ser bondosos com parentes e amigos íntimos: uma sociedade baseada na bondade estaria contaminada pelo nepotismo. Entre estranhos, a mão invisível do mercado, distribuindo ambições egoístas, é mais justa.

DIVISÃO DO TRABALHO E COMÉRCIO. A IMPORTANCIA PARA O FORTALECIMENTO DA COOPERAÇÃO

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Uma das principais pressões que conduziram os humanos a evoluir da forma que fizeram foi sua dimensão social, isto é, que foi a necessidade de afrontar o complexo mundo social em que viviam o que nos levou a desenvolver cérebros maiores. O córtex frontal alberga funções como a planificação e a toma de decisões que parecem derivadas mais da necessidade de interagir com os membros de um grupo social complexo que da resolução de outros problemas relacionados com o meio ambiente. E de ser assim, é muito provável que a melhor razão existente do grande desenvolvimento neocortical do Homo Sapiens deva referir-se a um fenômeno cognitivo ligado ao reconhecimento do outro e à valoração de sua conduta: a inteligência social – nomeadamente, o tratamento da reciprocidade entendido como “função própria” dos seres humanos

A COOPERAÇÃO NO CÉREBRO. QUAIS PARTES SÃO ATIVADAS QUANDO COOPERAMOS ? O QUE IMPORTA

MAIS, RAZÃO OU EMOÇÃO?

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Os psicólogos, portanto, estão indo ao encontro do argumento econômico de Robert Frank, segundo o qual as emoções são artifícios mentais para garantir compromissos. Mas talvez a mais notável convergência venha do estudo de cérebros danificados. Há uma pequena parte do lobo pré-frontal do cérebro humano que, quando lesado nos transforma em idiotas racionais. Mantemos as mesmas capacidades cognitivas e inteligência, mas perdemos a capacidade de nos relacionar e tomar decisções. Damásio defende seu ponto de vista sem, aparentemente, saber que economistas como Robert Frank, biólogos como Robert Trivers e psicólogos como Jerome Kagan chegaram a conclusões parecidas, a partir de provas diferentes. É uma coincidência notável

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MAIS, RAZÃO OU EMOÇÃO?

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No clássico estudo de neuroeconomia “The neural basis of economic decision-making in the Ultimatum Game“, os pesquisadores usaram técnicas de Ressonância Magnética Funcional (RMf) para monitorar a atividade cerebral dos jogadores. O resultado foi bastante interessante: durante as ofertas de baixo valor, o 2º jogador apresentava ativação em ambas as áreas do cérebro, como se o cérebro estivesse em conflito entre a racionalidade de otimização econômica (ao qual tenderia o córtex pré-frontal dorsolateral, sistema cognitivo) e a aversão emocional à distribuição não equitativa (ao qual tenderia a ínsula anterior, sistema emocional). Eles encontraram que a rejeição de ofertas injustas implica em maior ativação da ínsula anterior do que do córtex pré-frontal dorsolateral, enquanto ofertas aceitas apresentavam maior ativação do córtex pré-frontal dorsolateral que da ínsula anterior.

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MAIS, RAZÃO OU EMOÇÃO?

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Importante destacar ainda, ao comparar-se ofertas não equitativas feitas por jogadores humanos com ofertas não equitativas similares feitas por computadores, percebeu-se que a ativação foi maior quando a oferta provinha de outro ser humano, o que sugere que a magnitude da ativação não é somente uma função da quantidade de dinheiro oferecida ao participante, mas que é sensível ao contexto de um tratamento (percebido como) injusto recebido de outra pessoa.Portanto, o comportamento de aceitar ou rejeitar uma oferta não equitativa é explicado por meio da interação entre duas áreas do cérebro, sendo que o resultado específico será determinado por qual área tiver maior ativação.

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Pesquisas recentes do Instituto para Pesquisa Empírica em Economia de Zürich têm ajudado a revelar que a confiança nas relações sociais podem ser incrementadas, quando é inalado pelos agentes um tipo de neutransmissor conhecido como oxitocina. Esse hormônio é produzido naturalmente pelo hipotálamo, região do cérebro que controla a regulação biológica e também as emoções. A equipe do borrifou um líquido contendo a oxitocina e outro com placebo, respectivamente, em dois grupos distintos de jogadores que participaram anonimamente de uma variante do Ultimato conhecida como Jogo da Confiança. Esse comportamento indicou que a oxitocina interfere nas interações sociais, estimulando a confiança no outro, mesmo que desconhecido. Razões para esta conclusão foram reforçada pois quando era informado que o depositário era uma máquina, a oxitocina não produzia nenhum efeito perceptível

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Talvez tenha chegado a hora de abandonar a ideia de que, diante da necessidade dos outros, os indivíduos decidem se irão ajudá-los ou não calculando mentalmente os custos e os benefícios dessa ajuda. Nossas reações não são nem um pouco indiscriminadas, como seria de se esperar se o nosso funcionamento psicológico tivesse se desenvolvido para promover a cooperação no interior do grupo. Somos parciais em relação às pessoas com quem temos, ou esperamos ter, uma parceria positiva. Essa tendenciosidade inconsciente substitui os cálculos geralmente pressupostos por trás do comportamento de ajuda. Embora sejamos perfeitamente capazes de fazer cálculos – às vezes, a ajuda ao outro está subordinada ao retorno esperado, como nas interações no mundo dos negócios -, o altruísmo humano, da mesma forma que o altruísmo primata, é na maioria das vezes dirigido pelas emoções.

INSTINTO DE COOPERAÇÃO: CÁLCULO INSCONCIENTE

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Os modelos de jogos, como o Dilema dos Prisioneiros, surgiram, portanto, como uma maneira de testar as hipóteses propostas para solucionar o conflito parcial de interesses entre agentes racionais egoístas. Mais tarde o campo de aplicação de suas simulações se estendeu a todo tipo de agente - racional ou não - que tivesse de tomar uma decisão sobre que fazer diante de um ser semelhante que disputa os bens disponíveis, mas que depende do outro para alcançá-lo. O uso de experimentos por modelos de jogos para formalizar as situações de conflito visa detectar os aspectos mais importantes de cada circunstância e que influenciam as deliberações, bem como o comportamento dos agentes. Desde o Dilema dos Prisioneiros, sua aplicação vem sendo cada vez mais incrementada. Por conta disso, os elementos que permitem prever as ações dos indivíduos, ou ao menos interpretar suas decisões, podem ser descritos de forma mais precisa.

CONSTRUÇÃO DE JOGOS ECONOMICOS E SUA UTILIZAÇÃO PRÁTICA

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A utilização de jogos como o Ultimato permite avaliar até onde os sentimentos morais, adquiridos durante a evolução, se manifestam de acordo com uma lista de preferências internas e a compreensão dos contextos externos nos quais o agente deve decidir a maneira de se comportar conforme normas sociais e éticas. A construção do modelo adequado de jogo permite, então, avaliar com maior precisão os componentes relevantes de interação. A partir disso, as decisões a serem adotadas no intuito de fomentar ou restringir a cooperação podem ser sugeridas com maior probabilidade de correção. Desse modo, o emprego de simulações e jogos entre agentes humanos ajuda a compreender melhor os aspectos sutis que subjazem à interação. ia do comportamento humano e seu complexo processo cognitivo de escolha.

CONSTRUÇÃO DE JOGOS ECONOMICOS E SUA UTILIZAÇÃO PRÁTICA

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Em geral, os temas de maior interesse para essa área do conhecimento são as questões sociais, políticas e econômicas, que devem aplicar modelos específicos para cada proposta de investigação e não forçar o uso de um modelo de solução universal para todos os problemas da humanidade. Como já se tentou destacar os DPI, os Bens Públicos e o Ultimato, por exemplo, servem para tratar questões de reciprocidade direta, indireta e de equidade, respectivamente, com maior precisão. Isso não implica em soluções ad hoc, pois a formalização empregada segue os mesmos procedimentos gerais da teoria dos jogos, variando apenas os elementos que têm de ser mudados de modo realista. Para as ciências sociais, o modelo de jogos talvez seja a única maneira viável, salvo melhor juízo, de abordar a inconsistênc

CONSTRUÇÃO DE JOGOS ECONOMICOS E SUA UTILIZAÇÃO PRÁTICA

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Na ópera Tosca, de Puccini, a heroína enfrenta um dilema terrível. Se amante Cavaradossi foi condenado à morte por Scarpia, o chefe de polícia, mas Scarpia lhe fez uma proposta. Se Tosca for com ele para a cama, ele poupará a vida de seu amante, pedindo ao pelotão de fuzilamento que use balas de festim. Tosca resolve enganar Scarpia concordando com seu pedido, matando-o a facadas depois que ele dá a ordem para usar cartuchos de festim. Tarde demais ela descobre que Scarpia também a enganara. O pelotão de fuzilamento usa balas reais; Cavaradossi morre. Tosca se suicida. Os três acabam mortos. Apesar de não entender a coisa desta maneira, Tosca e Scarpia estavam participando de um jogo, em verdade, o jogo mais famoso da teoria dos jogos, ramo esotérico da matemática que estabelece uma estranha ligação entre biologia e a economia.

O DILEMA DO PRISIONEIRO

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Esse jogo foi essencial para uma das descobertas científicas mais empolgantes dos últimos anos: nada menos que a compreensão dos motivos que levam as pessoas a serem amáveis. Mais ainda: Tosca e Scarpia jogaram das maneira prevista na teoria do jogo, apesar das trágicas consequências para ambos. Como isso é possível? O jogo conhecido como dilema do prisioneiro e é jogado sempre que há conflito entre o interesse pessoal e o bem comum. Tanto Tosca como Scarpia sairiam ganhando se cumprissem sua parte do acordo: Tosca salvaria a vida do amante e Scarpia iria para a cama com ela. Mas, indivisualmente, cada qual teria um lucro ainda maior se fizesse o outro cumprir a parte dele ou dela e não cumprisse a sua; Tosca salvaria o amante e a honra; Scarpia dormiria com ela e se livraria do inimigo. 

O DILEMA DO PRISIONEIRO

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O dilema do prisioneiro nos mostra, com dureza, como se consegue a cooperação entre egoístas – cooperação que não depende de tabu, de coação moral ou de imperativo ético. Como é possível que indivíduos guiados pelo interesse pessoal trabalhem para o bem comum? O jogo se chama dilema do prisioneiro porque uma conhecida anedota conta a história de dois prisioneiros. Cada um deles, se quiser, pode testemunhar contra o outro para reduzir a própria pena. O dilema surge porque, se nenhum denunciar o outro, a Justiça pode condená-los por um crime menor, de modo que os dois saem ganhando se ficarem calados mas cada um lucra mais se denunciar.

O DILEMA DO PRISIONEIRO

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De modo geral, qualquer situação em que somos tentados a fazer alguma coisa, mas que saberíamos que seria um grande erro se todo mundo fizesse o mesmo, é provavelmente um dilema do prisioneiro. Se fosse possível confiar que ninguém roubaria carros, não seria preciso trancar os carros e muito tempo e dinheiro seriam economizados em prêmios de seguro, dispositivos de segurança e coisas do gênero. Todos sairíamos ganhando. Mas, neste mundo de tanta confiança, um indivíduo qualquer lucraria muito mais se desistisse do contrato social para roubar um carro. Da mesma forma, todos os pescadores sairiam ganhando se cada um se contivesse e não pescasse em excesso, mas se todos pescam tudo o que podem, o pescador que se contém perde sua cota para outro mais egoísta. E todos nós pagamos o preço coletivo do individualismo.

O DILEMA DO PRISIONEIRO

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Em um dilema do prisioneiro, como visto, a melhor estratégia individual é a deserção, embora coletivamente leve a resultados piores para ambos. Todavia, ficou demonstrado que, pode 30 anos, tirou-se uma lição inteiramente errada do dilema do prisioneiro. No fim das contas, o egoísmo não é a atitude racional – desde que o jogo seja jogado mais de uma vez. Ironicamente, a solução desse quebra-cabeça foi achada no exato momento de sua invenção, mas logo esquecida. Flood e Dresher descobriram um fenômeno surpreendente quase de imediato. Quando pediram a dois colegas que jogassem cem vezes por pequenas quantidades de dinheiro, as cobaias se mostraram surpreendentemente inclinadas a cooperação: em 60 das cem tentativas, ambos cooperaram e colheram os benefícios da ajuda mútua. Cada um admitiu, em anotações feitas durante a partida, que estava tentando ser correto com o outro para que o outro também o fosse.

O DILEMA DO PRISIONEIRO ITERADO

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Nos anos seguintes, houveram dezenas de campeonatos nas faculdades americanas, onde os competidores cadastravam estratégias em linguagem de programação, para em simulações de computadores, embaterem entre si, de forma a serem eliminadas, ou se perpetuarem e se reproduzirem. Como era de se esperar, estratégias muito simples, como cooperar sempre, ou desertar sempre, até poderiam ter um bom crescimento no início, mas por serem muito ingênuas, sucumbiam pelo próprio sucesso, ao ficarem vulneráveis. Uma estratégia cooperar sempre, é vulnerável a uma desertar sempre, e uma estratégia desertar sempre, sucumbe quando deixa de encontrar cooperadores. Sabendo disso, várias estratégias altamente complexas foram inscritas, mas para surpresa de todos, uma das mais simples estratégias se sagrou vencedora, em cinco de seis competições, e posteriormente, continuou sempre vencendo provas semelhantes.

O DILEMA DO PRISIONEIRO ITERADO

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Tal estratégia, chamada de Tit-for-tat, ou olho-por-olho, era uma estratégia amável, mas não vulnerável. Começava cooperando, para criar um circulo virtuoso. Quando deparava com uma deserção, punia o desertor com outra deserção, mas para evitar um circulo vicioso de deserções, perdoava em um terço das vezes voltando a cooperar, na tentativa de reestabelecer o padrão de cooperação. Como visto, a resposta não apenas era apenas a repetição da jogada anterior, mas uma dura punição, para sinalizar que a repetição desse comportamento leva a uma situação pior que a continuidade da cooperação. Um ponto interessante a se destacar, é que tal estratégia jamais pode obter maior pontuação, o melhor desempenho possível seria um empate. Mas é uma estratégia não invejosa, que não visa suplantar os outros, mas aumentar seu ganho individual da forma mais sustentável. Trata cada jogo como um acordo de participantes, e não como uma disputa. Ou seja, enxerga o jogo como um jogo de soma não-zero.

O DILEMA DO PRISIONEIRO ITERADO

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O jogo do dilema do prisioneiro é fundamental para entender certas teorias de cooperação e confiança humana. Na suposição de que as transações entre duas pessoas que exijam confiança podem ser modeladas pelo dilema do prisioneiro, o comportamento cooperativo em populações pode ser modelado por uma versão para varios jogadores e iterada do jogo.

Ao analisar as estratégias que conseguiram melhor pontuação, Axelrod estabeleceu várias condições necessárias para que uma estratégia tivesse êxito:Perdão: Uma qualidade das estratégias vencedoras é que são capazes de perdoar. Embora retaliem, tornam a cooperar logo que o opositor não continue a desertar. Isto evita grandes sequências de vinganças em círculo vicioso, maximizando os pontos.

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Retaliação: Todavia, notou Axelrod, a estratégia vencedora não pode ser otimista cega. De vez em quando tem de retaliar. Um exemplo de uma estratégia não retaliadora é a de "colaborar sempre". É uma escolha muito má, pois estratégias oportunistas ou maldosas irão explorar essa fraqueza sem piedade.Amabilidade: A condição mais importante é a de que a estratégia deve ser "amável", ou seja, não desertar antes que o opositor o faça. Quase todas as estratégias melhor pontuadas eram amáveis; daí uma estratégia puramente egoísta não fará "batota" com o oponente, principalmente por razões puramente utilitárias.Não-inveja: A última qualidade é não serem invejosas, ou seja, não tentarem fazer mais pontos que os opositores (impossível para uma estratégia "amável", isto é, uma estratégia "amável" nunca pode fazer mais pontos que o opositor).

O DILEMA DO PRISIONEIRO ITERADO

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No entanto, surge um problema formidável. O dilema do prisioneiro é um jogo para duas pessoas. A cooperação pode, ao que parece, desenvolver-se espontaneamente se uma dupla de indivíduos jogar indefinidamente. Ou, para ser mais exato, num mundo onde você sempre se encontra com seu vizinho mais próximo, vale a pena ser bondoso com ele. Mas o mundo é assim. Já é difícil para a reciprocidade induzir a cooperação mesmo numa dupla: a dupla precisa ser capaz de fiscalizar o seu contrato, assegurando-se de que os dois voltarão a se encontrar. E o que acontece entre três ou mais indivíduos? Quanto maior o grupo, mais inacessíveis são os benefícios da cooperação e maiores os obstáculos que aparecem. De fato, Rob Boyd, um teórico, sustentou que não só olho-por-olho mas qualquer estratégia de reciprocidade é insuficiente para explicar a cooperação em grupos maiores

O DILEMA DO PRISIONEIRO COLETIVO

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Isso ocorre porque uma estratégia de sucesso num grupo grande tem de ser altamente intolerante mesmo com deserções raras, do contrário, os trapaceiros – indivíduos que desertam e não retribuem – se multiplicarão às custas dos cidadãos decentes. Mas as características que fazem uma estratégia ser intolerante com deserções de qualquer espécie são as mesmas que tornam difícil para os retribuidores se reunirem quando elas são raras. Há todavia uma estratégia que torna uma comunidade cooperadora imune a invasão de desertores. É a chamada “moralista”, quando todos os demais indivíduos punem o desertor. E dado por uma respostas potencialmente forte para o problema dos espertalhões em grupos maiores: o ostracismo social. Sendo possível reconhecer os desertores, basta que as pessoas se recusem a jogar com eles. Isso os priva de qualquer possibilidade de marcar pontos.

O DILEMA DO PRISIONEIRO COLETIVO

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Ultimato é um jogo Bens Públicos simplificado, onde a banca oferece uma quantia fixa a dois jogadores que devem decidir como dividí-la entre si. O primeiro jogador (o líder) deve então fazer uma proposta de divisão ao segundo jogador (receptor), que, por sua vez, deve responder se a aceita ou não. Caso aceite a oferta o dinheiro é distribuído da maneira que foi sugerida pelo líder. De outro modo, a rejeição implica na devolução de todo o montante à banca que nada disponibiliza para ambos. No modelo do Ultimato, uma oferta alta da parte do líder significa um prêmio de estímulo à cooperação do outro. Por outro lado, ofertas irrisórias são passíveis de punição pelo receptor. O custo da recusa, para este, equivale à taxa paga à banca, nos Bens Públicos, para aplicar uma multa maior ao líder - tão grande quanto o valor que este pretendia alcançar. Entre agentes egoístas racionais, a teoria dos jogos prevê que uma proposta de 99% para o primeiro jogador e 1% para o segundo deveria ser feita pelo líder e aceita pelo receptor.

ULTIMATO

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O problema surge a partir do comportamento do receptor em não aceitar qualquer valor maior do que zero. A explicação que vem sendo fornecida por dezenas de trabalhos realizados em torno do Ultimato tem apelado para inclusão de reações psicológicas, consolidadas durante o processo de evolução da espécie Homo s. sapiens, no cerne de seus diagnósticos teóricos. A aparente irracionalidade humana em oferecer e pretender uma divisão justa indica que algo mais está em jogo no Ultimato do que apenas maximizar a utilidade de interesses pessoais imediatos. O motivo mais provável talvez seja o fato das pessoas entenderem o jogo como parte de uma interação que pode ser repetida outras vezes, mesmo quando se afirma expressamente que o jogo será realizado em uma única rodada. A mera mudança do nome do jogo, entre Jogo da Cooperação e Wall Street, muda a taxa de cooperação. As pessoas sabem por experiência própria que atitudes grosseiramente injustas são passíveis de retaliação.

ULTIMATO

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Para evitar o risco de rejeição, procuram fazer propostas razoáveis, do ponto de vista partilhado por sua comunidade. Dessa forma, tanto líderes, como receptores, conseguem manter sua reputação de bons negociadores, entre seus pares. A recusa de propostas baixas tem um pequeno custo para o Receptor e um alto preço pago pelo Líder. Entretanto, a reputação construída de não oferecer nem aceitar "esmolas" favorece maiores ganhos no futuro, ao mesmo tempo que inibe tentativas de estabelecer uma distribuição desigual de recursos. O sentimento de vingança que aflora no jogo dos Bens Públicos aparece no Ultimato acompanhado pela indignação de ter sido alvo de um desertor. Nesses dois casos, a vingança é definida por um custo ou risco que alguém tem de correr para impor uma penalidade a quem obteve ou quer obter uma vantagem sobre a boa vontade do agente em cooperar.

ULTIMATO

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A vingança é um sentimento moral internalizado que emerge naturalmente pelo desejo de impor um sofrimento a outra pessoa ou objeto que lhe tenha causado algum dano. Tal reação teria sido consolidada pela evolução no repertório de estratégias inatas a serem acionadas sempre que o sujeito se sentir prejudicado. Como afirma o sociólogo norueguês Jon Elster, "esse tipo de comportamento é universal” . Uma norma social é um outro mecanismo à disposição das pessoas, a fim de poderem incorporar o sentimento de vingança ao de justiça presente em muitas formas de organização da sociedade, tais como a vendetta dos mafiosos. Assim, como nos Bens Públicos e no Dilema dos Prisioneiros, a capacidade de retaliação permite que o medo de uma sanção externa acabe por gerar maiores prejuízos no Ultimato. O medo da vingança é suficiente para explicar porque as pessoas evitam uma divisão injusta, a despeito dos seus interesses pessoais.

ULTIMATO

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Anedota: Big Kiku era um homem enorme chefe de um povo polinésio tribal chamado Kaluame. Como prova de lealdade, ele exigia que seus seguidores tatuassem o rosto. Um dia, quando começava a escurecer, quatro homens famintos e amedrontados entraram no acampamento, onde um economista e um antropólogo, estudando a tribo, jantavam em silêncio. Pediram a Big Kiku que lhes desse mandioca para comer. Ele respondeu: - Se fizerem uma tatuagem no rosto, terão mandioca de manhã. - Como podem os quatro homens saber – indagou o economista – que Big Kiku manterá a palavra? Ele pode tatuá-los e ainda sim lhes negar comida- Eu não acredito que Big Kiku esteja falando a sério – respondeu o antropólogo – Acho que ele está blefando. Você e eu sabemos que ele é um boa praça e não recusaria comida a um homem porque ele não está tatuado!

O TESTE DE WASON

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Discutiram noite a dentro, e na manhã seguinte, perguntaram a Big Kiku o que acontecera. Eis a resposta: - Foram embora quando o sol nasceu. Mas como vocês são muito inteligentes, vou fazer um teste e, se errarem, faço eu mesmo uma tatuagem no rosto de vocês. O primeiro homem foi tatuado, o segundo nãp comeu nada, o terceiro não foi tatuado e ao quarto eu dei uma grande raiz de mandioca. Agora me digam sobre qual dos quatro precisam saber mais alguma coisa para satisfazer a sua curiosidade sobre o que fiz. Se perguntarem sobre um que seja irrelevante, ou deixarem de perguntar sobre o que é relevante, vocês perdem, e eu lhes faço uma tatuagem no rosto – disse ele e riu demoradamente.

O TESTE DE WASON

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A história contada é um quebra-cabeça psicológico muito conhecido, chamado teste de Wason, normalmente jogado com quatro cartas, e o jogador tem de virar o menor número possível de cartas para testar uma regra do tipo “se...então”. As pessoas saem surpreendentemente mal em determinadas circunstâncias – por exemplo, quando o jogo é proposto como uma peça lógica abstrata – e surpreendentemente bem em outras. Em geral, quanto mais o quebra-cabeça é apresentado como um contrato social a ser fiscalizado, mais fácil as pessoas o acham, mesmo que o contrato seja profundamente estranho e o contexto social desconhecido.

O TESTE DE WASON

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Quando apresentado pelo ponto de vista do economista, que foca nas trocas, o problema é relativamente fácil, e três quartos de uma turma de 75 alunos em Stanford acertou. Lembre-se que ele está interessado em saber se Big Kiku manteve a palavra. Para evitar uma tatuagem no rosto, o economista tem de perguntar a Big Kiku se ele deu comida para o primeiro homem (que teve o rosto tatuado), e se o segundo (que ficou com fome), foi tatuado. Os outros dois são irrelevantes, porque Big Kiku não desonrou a palavra ao recusar comida a um que não o fizera.

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O problema do antropólogo é semelhante do ponto de vista lógico, mas mostra-se muito mais difícil. Quando proposto a alunos de Stanford, a maioria erra, por mais cuidadosa que seja sua redação. O antropólogo busca provas de que Big Kiku é incondicionalmente generoso: Ele às vezes deixa pessoas comerem, mesmo não tendo sido tatuadas. De modo que só está interessado no terceiro e no quarto homem: o que não se deixou tatuar (e pode ter sido alimentado da mesma forma), e o que não comeu (e pode não ter sido tatuado. Os dois primeiros são irrelevantes, pois Big Kiku não foi generoso com nenhum deles.

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Porque o segundo problema é tão mais difícil? A respostas é que os seres humanos têm um extinto para retribuir e fazer com que os outros retribuam? O economista procura por trapaceiros, uma ideia fácil e familiar a todos nós; o antropólogo procura por altruístas, que oferecem um bom negócio e então cedem a sua parte de qualquer forma. Isso não só acontece raramente como não apresenta uma ameaça ao interesse pessoal de ninguém. Se alguém se oferece para nos pagar um almoço, não prestamos atenção nesse seu gesto, mas na sua costumeira falta de generosidade; o beneficiado fica em dúvida se o generoso não estaria pensando em lhe pediu um favor em troca.

O TESTE DE WASON

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O caso Big Kiku é apenas uma de uma longa série de experiências que buscam compreender o que faz um teste de Wason fácil ou difícil, parte da descoberta que as leis da lógica e do pensamento são coisas bem diferentes. Descobriu-se que a familiaridade ao contexto e com a história não faz diferença. Simplicidade lógica tem pouca importância. Alguns complicados testes de Wason são fáceis de resolver. O que faz diferença no teste, é pedir aos examinados que identifiquem trapaceiros em contratos sociais – gente que colhe os benefícios sem arcar com os custos. As pessoas tem dificuldade para identificar altruístas, mas identificam trapaceiros com facilidade. São ruins para julgar ganhos e perdas que não sejam de alguma forma, ilícitos. Mesmo realizados em povos completamente isolados da cultura ocidental, os resultados foram os mesmo.

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A pergunta que deve ser respondida para resolver o teste é: no mínimo, quantas e quais cartas devem ser viradas para que seja

possível verificar logicamente a validade de cada uma das sentenças?

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Resposta:

Na alternativa "a" a resposta correta é que deveríamos virar os cartões "A" e "7", pois assim conseguiríamos encontrar um cartão que possui um "A" de um lado e não possui um "3" do outro. No entanto, a maioria dos indivíduos costuma responder que na alternativa "a'' deveríamos virar os cartões "A" e "3".A alternativa "b" da figura representa o mesmo jogo, apenas altera o contexto. O respondente precisa virar os cartões para visualizar se a afirmativa é verdadeira. Na letra "b" a maioria dos indivíduos costuma responder que é necessário virar os cartões "bebe cerveja'' e "16 anos", ou seja, a afirmativa correta e que corresponde aos cartões "A" e "7" da primeira alternativa.

O TESTE DE WASON

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Em economia, um bem público é um bem que é simultaneamente não-excludente e não-rival. Bens públicos incluem o ar fresco, o conhecimento, a iluminação pública, faróis e segurança nacional. Muitos bens públicos às vezes podem estar sujeitos a uso excessivo, resultando em externalidades negativas que afetam todos os usuários, como a poluição do ar e congestionamento de tráfego por exemplo. Também são intimamente relacionados com o problema do "free-rider", em que as pessoas que não pagam pelo bem podem continuar a acessá-lo. Dessa forma, tal bem pode ser sub-produzido, em demasia ou degradado. Em alguns casos, os bens públicos podem também se tornar sujeito a restrições em matéria de acesso, podendo assim serem considerados bens de clube ou bens privados, como exemplo, temos mecanismos de exclusão incluem direitos autorais, patentes, pedágio urbano e televisão por assinatura.

BENS PÚBLICOS

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Os bens públicos fornecem um exemplo muito importante de falha de mercado, na qual o comportamento dos indivíduos buscando seus próprios interesses, acarretam em resultados não eficientes para todos. A produção de bens públicos resultam em externalidades positivas que não são remunerados. Se as organizações privadas não colhem todos os benefícios de um bem público que eles produziram, os seus incentivos para produzi-lo voluntariamente pode se tornar insuficientes. Os consumidores podem tirar proveito de bens públicos sem contribuirem suficientemente para a sua criação. Isso é chamado de o problema do parasitismo, ou ocasionalmente, o "problema easy rider" (que contribui pouco). Se muitos consumidores decidem se tornar um "free-ride", os custos privados superam os benefícios privados e o incentivo para fornecer o produto ou serviço através do mercado desaparece. O mercado falha, assim, fornecer um bem ou serviço para o qual existe uma necessidade.

BENS PÚBLICOS

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Modelos dinâmicos e evolucionários sugerem que um mecanismo de troca entre três estratégias - deserção, independência e cooperação -, que adapte o jogador para a situação vivida, permite sustentar o dilema social e tornar consistente o convívio entre esses tipos de agentes. Nesse sentido, a opção de participar da interação tornaria a cooperação possível, ao invés de fazê-la obrigatória. A reciprocidade que no Dilema dos Prisioneiros chega a ser um conselho útil, em um jogo com muitos agentes perde força e deixa de ser uma solução viável, se não houver uma instância que execute as punições no lugar dos cooperadores. Para um número grande de jogadores, em rápida interação, há necessidade da punição ou premiação. Tal solução exige que os desertores sejam identificados. Na impossibilidade, a opção de abandonar a interação com tais desertores passa a ser uma alternativa eficaz, pois evita a exploração e permite que a cooperação seja voluntariamente retomada, depois, sem a necessidade de uma instituição que exerça a retaliação.

BENS PÚBLICOS

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A um grupo de seis jogadores é distribuído $10 para cada um. Esses jogadores devem, em seguida, decidir individualmente com quanto deveram investir - fração da dotação ou todo montante disponível - em um fundo mútuo. Um sétimo jogador recolhe os valores, multiplica-os por três e divide o produto igualmente entre os seus participantes que recebem, portanto, 1/6 do saldo do rendimento de todo grupo. Se todos jogadores contribuírem, respectivamente, com $10, cada um receberá $30, ao final (1). Contudo, a tentação de desertar e explorar o investimento alheio é grande, tendo em vista o juro baixo de 0.5% para cada $1 aplicado [(1 x 3) : 6 = 0.5]. Porém, se todos pensarem assim, nada seria mobilizado e cada um ficaria apenas com seu $10 iniciais. Essa solução paradoxal é prevista pela teoria dos jogos como o equilíbrio racional de agentes egoístas, interessados em maximizar seus lucros e minimizar suas perdas.

BENS PÚBLICOS – O JOGO

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Não investir é uma solução recomendada devido ao alto risco de ser explorado. Pois, se apenas um jogador se arriscar investir tudo, enquanto os outros nada contribuem, aquele receberá a metade de sua aplicação, ficando só com $5 [(10 x 3) : 6 = 5], ao passo que os outros somariam $15 [5 + 10] (2). Sem embargo, apesar das restrições previstas pelos economistas, experimentos reais mostram, que, em geral, as pessoas investem quase a metade do capital disponível em um jogo de um só lance. Todavia, quando o jogo é repetido por até 10 rodadas, inicialmente, as partes aplicam o mesmo montante do jogo de um só movimento e gradativamente a maioria percebe que é melhor deixar que os outros façam os investimentos, enquanto puder receber os juros sem os riscos de perda. Após uma série de experiências decepcionantes, os jogadores aprendem que a estratégia egoísta acaba tomando o lugar da cooperação inicial

BENS PÚBLICOS – O JOGO

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The Logic of Collective Action é um livro escrito pelo economista norte-americano Mancur Olson em 1971 que propõe a utilização de modelos econômicos para a análise dos grupos sociais e da ação coletiva.A tese básica deste livro é a de que "mesmo que todos os indivíduos de um grupo grande sejam racionais e centrados em seus próprios interesses, e que saiam ganhando se, como grupo, agirem para atingir seus objetivos comuns, ainda assim eles não agirão voluntariamente para promover esses interesses comuns e grupais" Olson afirma que quando está em pauta um bem público, vale dizer, um benefício caracterizado pela impossibilidade de discriminação entre aqueles que contribuíram para o provimento do mesmo e daqueles que não o fizeram, o membro racional, em determinados casos, pode preferir não contribuir para a consecução do bem grupal.

A LÓGICA DA AÇÃO COLETIVA

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Isso porque o ator, mesmo não contribuindo com a consecução do benefício coletivo, poderia, em certas circunstâncias, usufruir de igual modo do bem em questão. Ainda que os custos da cooperação sejam mais reduzidos do que os benefícios auferidos pelo ator, a deserção na ação coletiva é racional, de acordo com Olson, sempre que o efeito da contribuição de cada indivíduo para a provisão do benefício coletivo não exerce "uma diferença perceptível para o grupo como um todo, ou para o ônus ou ganho de qualquer membro do grupo tomado individualmente. ). Como a conseqüência positiva que cada contribuição individual exerce sobre a produção do bem coletivo não é notada, pelo fato de ser muito reduzida, e essa contribuição envolve custos, é racional que o ator auto-interessado não arque com esses mesmos custos, maximizando assim a sua utilidade.

A LÓGICA DA AÇÃO COLETIVA

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O "dilema da ação coletiva" em grupos "latentes" tal como formulado por Olson reside justamente nessa ambivalência: na medida em que todos os membros do grupo raciocinam da mesma maneira, isto é, na medida em que procuram maximizar as suas respectivas utilidades às custas da deserção, pelo fato de não notarem, no fim, qualquer acréscimo significativo no nível de provisão do bem coletivo para o grupo como um todo ou para algum membro isoladamente por conta da contribuição individual, o resultado acaba se tornando desastroso do ponto de vista agregado . Do ponto de vista da racionalidade coletiva, todos ganhariam caso houvesse uma cooperação integral. Porém, de acordo com a racionalidade individual, a deserção não deixa de ser a estratégia que proporciona a recompensa mais vantajosa a cada ator, independentemente dos outros membros do grupo cooperarem ou deixarem de cooperar.

A LÓGICA DA AÇÃO COLETIVA

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Ao contrário da metáfora da mão invisível de Adam Smith que inverte a moral tradicional atribuindo à busca do auto-interesse um caráter positivo em termos sociais, justificando, assim, a própria economia de mercado, para Olson, em situações específicas (as chamadas "falhas de mercado"), a mera perseguição do interesse individual do membro, seja ele material ou de qualquer outra natureza, termina produzindo resultados desastrosos do ponto de vista coletivo. Em casos como estes, o bem público não será provido a menos que sejam aplicados incentivos seletivos negativos (coerção) sobre os membros que não cooperam ou inventivos seletivos positivos (como retribuições individuais materiais ou simbólicas) aos membros que forneceram a sua contribuição para o "bem comum". Em resumo, a teoria de Olson demole aquelas fundadas na falácia da composição. Tal falácia acontece cada vez que supomos que a característica de um grupo representam a característica de seus membros e vice-versa.

A LÓGICA DA AÇÃO COLETIVA

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O free-rider é considerado um problema econômico, quando se leva à não-produção ou sub-produção de um bem público, uma situação conhecida como a ineficiência de Pareto, ou quando parasitismo leva ao uso excessivo de um recurso de propriedade comum. O problema do parasitismo é a questão de como para limitar seus efeitos negativos nestas situações. O problema do free rider é comum entre os bens públicos. Tais produtos possuem duas características: não exclusão - os consumidores não-pagantes não podem ser impedidos de usá-los - e não rivalidade - quando o consumo do bem por um indivíduo, não reduz o montante disponível para os outros. O potencial de parasitismo existe quando as pessoas são convidadas a pagar voluntariamente para um bom público. Também pode ser visualizado em ambientes de cooperação espontânea, quando usuários usufruem de uma plataforma cooperativa sem no entanto alimentá-la

O PROBLEMA DO FREE RIDER

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Trivers chegou à conclusão deque o altruísmo puro, orientado para o público – um desejo de beneficiar o grupo ou a espécie às custas de si mesmo –, não tende a evoluir entre não parentes, pois é vulnerável a invasões de trapaceiros que prosperam desfrutando as boas ações de outros sem dar sua própria contribuição. Porém um altruísmo recíproco ponderado pode evoluir. Os retribuidores que ajudam que os ajudou e que evitam ou punem quem deixou de ajudá-los usufruirão os benefícios de ganhos na troca e sairão vencedores na competição com individualistas, trapaceiros e altruístas puros. Os humanos são bem equipados para as demandas do altruísmo recíproco. Lembram uns dos outros como indivíduos e têm olhos de lince e memória de elefante para detectar e recordar trapaceiros. Não se retribui um favor, nem se guarda rancor, sem saber como encontrar e identificar o benfeitor ou inimigo.

IDENTIFICANDO TRAPACEIROS

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Numa sociedade de indivíduos que se reconhecem e conhecem bem, nunca se deve jogar o dilema do prisioneiro cegamente. Pode-se escolher os parceiros. Pode-se escolher os que cooperaram no passado, os que são recomendados por outros, e os que dão a entender que desejam cooperar. Sentem emoções moralistas – afeição, solidariedade, gratidão, culpa, vergonha e raiva – que são impressionantes implementações das estratégias para o altruísmo recíproco em simulações de computador e modelos matemáticos. Experimentos confirmaram a predição de que as pessoas mais inclinadas a ajudar um estranho quando podem fazê-lo a um custo baixo, quando o estranho está necessitado e quando o estranho tem condições de retribuir. Gostam de pessoas que lhes fazem favores, fazem favores a pessoas de quem gostam , sentem-se culpadas quando deixam de prestar um favor possível e punem quem deixa de lhes prestar um favor. Um etos de reciprocidade pode pautar não só as trocas entre indivíduos, mas as contribuições para o bem público.

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Um etos de reciprocidade pode pautar não só as trocas entre indivíduos, mas as contribuições para o bem público, como em caçadas de animais que são grandes demais para o caçador comer sozinho, na construção de um farol que mantenha os navios de todos longe dos rochedos. O problema inerente aos bens públicos é captado na fábula de Esopo “Quem porá o sino no gato?”. Os camundongos de uma casa concordam que seria melhor para eles se o gato tivesse um sino no pescoço que os avisasse de sua aproximação, mas nenhum camundongo quer arriscar a vida para amarrar o sino. Ainda assim, a disposição para amarrar o sino no gato – ou seja, para contribuir para o bem público – pode evoluir, se for acompanhada pela disposição para recompensar os que aceitam o fardo ou punir os trapaceiros que dele se esquivam. A tragédia do altruísmo recíproco é que os sacrifícios em benefício de não-parentes não podem sobreviver sem uma rede de emoções desagradáveis, como ansiedade, desconfiança, culpa, vergonha e raiva.

IDENTIFICANDO TRAPACEIROS

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ENGAJAMENTO NA ECONOMIA COLABORATIVA E AVERSÃO AO RISCO. DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA

A participação em atividades da economia colaborativa demanda uma certa exposição ao risco, por sua natureza recíproca. Cientistas de Stanford perceberam que usuários engajados nesse tipo de mercado, possuem uma menor aversão ao risco que aqueles menos engajados. Todavia, constataram que o nível de exposição ao risco não é uma constante entre os usuários, mas varia de acordo com a experiência. Boas experiências, diminuem a aversão, más experiências, a aumentam consideravelmente. Por tal motivo, empresas de sucesso tentam minimizar o máximo possível as experiências frustradas.

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EXEMPLOS:

O PayPal, pertencente ao Ebay, geralmente intercede a favor dos compradores, assim como o MercadoPago do Mercado Livre.

O Mercado Livre, numa devolução de produto, arca si próprio com o valor do frete de entrega e devolução.

O Uber contata pessoalmente e de forma interessada o usuário com uma má experiência, para entender o ocorrido, se desculpar, e agraciar o usuário com bônus.

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Esses exemplos são importantes para compreender a lógica por trás das atitudes. Uma experiência frustrada numa plataforma dessas, aumenta não só a aversão ao risco do usuário, como coloca em descrédito o sistema de reputação dos usuários elaborado pela empresa, ao mostrar que apesar dos cuidados, os dados fornecidos não são um padrão confiável. E não para por aí. Esse tipo de experiência negativa, não se limita ao usuário afetado, mas a todo seu círculo de relações, que sofre com o marketing negativo e descrença. Dado o custo de aquisição de um cliente engajado bem como tais prejuízos reflexos, vale a pena com a empresa arcar com os custos de não diminuir seu engajamento ou aumentar sua aversão ao risco.

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ENGAJAMENTO NA ECONOMIA COLABORATIVA E AVERSÃO AO RISCO. DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA

Um caso chave na questão de engajamento, é o caso do usuário sem reputação. Um vendedor novo no Mercado Livre, um anfitrião novo no Couchsurfing ou AirBnb, um prestador de serviço novo no TaskRabbit. Membros sem reputação não conseguem clientes. Membros sem clientes, não conseguem reputação. Como vencer esse dilema, e tirar novos membros da inércia?

Muitas alternativas são possíveis. A principal, é o nível de veracidade e acuracidade das informações do usuário. Na falta de reputação feita por outros usuários, cabe a própria empresa contruí-la num primeiro momento. Verificação de dados, endereço, conta bancária, linkagem com redes sociais.

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ENGAJAMENTO NA ECONOMIA COLABORATIVA E AVERSÃO AO RISCO. DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA

Os sistemas de proteção de compra, como PayPal e Mercado Pago, que funcionam como uma espécie de seguro da transação, também é extremamente importante. Mas convém frisar que as políticas de proteção ao usuário, visando mesmo em caso de transtornos, não diminuir o engajamento do usuário e aumentar sua aversão a plataforma, mas pelo contrário, transformar um revém em marketing positivo, também tem suas brechas, podendo ser um alvo de aproveitadores.

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ENGAJAMENTO NA ECONOMIA COLABORATIVA E AVERSÃO AO RISCO. DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA

Devido ao extenso e imprevisível prazo de entrega dos Correios/Alfândega brasileira em caso de entregas internacionais, milhares de brasileiros se aproveitavam disso para abrir reclamações no PayPal, por não terem recebido o produto dentro de 45 dias. Ganhavam a mediação, e semanas depois, recebiam o produto, não realizando o estorno ao vendedor. Em casos mais absurdos, em vendas pelo cartão, chegavam após a postagem, cancelar a compra na operadora de cartão de crédito, deixando o vendedor a ver navios, dada a inviabilidade financeira de reaver na justiça o valor. Esse tipo de ocorrência se tornou tão frequente, que o Ebay chegou uma época a colocar os brasileiros na lista negra de usuários, fazendo alerta aos vendedores sobre risco de golpe, impedir que participassem de leilões, usassem fretes mais baratos e sem rastreamento para itens de valor, e também impedindo por 10 anos aqueles que abrissem 5 reclamações ou 3 devoluções, e não provassem as alegações

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ENGAJAMENTO NA ECONOMIA COLABORATIVA E AVERSÃO AO RISCO. DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA

Portanto, conforme visto, apesar das empresas necessitarem a todo momento mitigar o risco de negociação, e fomentar o engajamento, principalmente de usuários novos ou de pouca reputação, bem como arcarem as vezes com o custo das negociações fracassadas, é importante ter cuidadoso com as brechas que tais facilidades abrem a aproveitadores.

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COLABORAÇÃO E BENS PÚBLICOS. COMO CONSTUIR UMA PLATAFORMA QUE DEPENDA DA COOLABORAÇÃO

ESPONTÂNEA DOS USUÁRIOS, SEM CAIR NO DILEMA DOS BENS PÚBLICOS

Várias empresas dependem, direta ou indiretamente, da colaboração espontânea de seus usuários para seu devido funcionamento. Tal colaboração pode ser uma ajuda ao negócio, como reviews dos produtos vendidos, pode ser indispensável ao correto funcionamento, como a avaliação dos demais usuários da plataforma, ou pode até mesmo ser o coração da empresa, como nos casos de sites especializados em reviews. Mas como convencer os usuários a perderem seu tempo colaborando, sem receber nada em troca?

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COLABORAÇÃO E BENS PÚBLICOS. COMO CONSTUIR UMA PLATAFORMA QUE DEPENDA DA COOLABORAÇÃO

ESPONTÂNEA DOS USUÁRIOS, SEM CAIR NO DILEMA DOS BENS PÚBLICOS

As avaliações de produtos e usuários nas plataformas são um exemplo de problema dos bens públicos, e da lógica da ação coletiva. Primeiramente, é um conhecimento não excludente, ou seja, todos tem acesso, independente de cooperação. Segundo, os usuários, de forma geral, concordam que seria melhor para todos, que todos fizesse avaliações bem feitas, e alimentassem o sistema corretamente. Mas individualmente, pensam que seriam melhor não perder tempo com isso, uma vez que outros o fariam, e sua avaliação não te traz algum benefício. Entretanto, se todos pensarem assim, nenhuma avaliação jamais será feita. Como contornar esse problema?

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ESPONTÂNEA DOS USUÁRIOS, SEM CAIR NO DILEMA DOS BENS PÚBLICOS

Em alguns casos, apela-se ao senso de comunidade (os efeitos podem variar de acordo com o senso de comunidade local e cultura)

Pode-se estimular a chamada “reciprocidade forte”, que é quando a cooperação e punição é considerada um dever de todos.

A sugestão de que a cooperação seria um ato utilidade pública, e a explicitação de que a comunidade só funciona por gestos como esse, e que seria nobre também realiza-lo, ao invés de apenas obter os benefícios .

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ESPONTÂNEA DOS USUÁRIOS, SEM CAIR NO DILEMA DOS BENS PÚBLICOS

Em outros casos, apela-se ao senso de promoção pessoal:Pode-se criar uma gamificação na plataforma, onde o usuário avança de níveis, ao cooperar com os demais. Exemplo: WazeTambém é possível trabalhar o status e a promoção pessoal. Como grandes caçadas, e várias outras situações, pessoas também despendem esforço pelo bem comum pelo retorno em prestígio e status Mais indicado para comunidades específicas, e aonde os usuários são pessoalmente identificáveis, por informações e fotos. Exemplo: Forúms de ajuda e Sites de avaliação de Cervejas, aonde os usuários fazem muitas avaliações e bem feitas, pelo status de figurar entre os mais solícitos ou entre os melhores avaliadores

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ESPONTÂNEA DOS USUÁRIOS, SEM CAIR NO DILEMA DOS BENS PÚBLICOS

Por fim, também é possível estimular a cooperação de forma ativa, seja por obrigações e contrapartidas, seja por taxas. Todavia, ao contrário da estipulação de um imposto, que é dada em valor pecuniário, a cooperação de informações tem seu valor real definido por sua qualidade, fidedignidade e espontaneidade. Inventivos ruins a cooperação podem produzir resultados indesejados, como aumento da alimentação do sistema, mas perda da confiabilidade dos dados.

Obviamente, há infinitas outras formas de obter um maior e melhor engajamento. Cada situação específica demanda uma política distinta, com objetivo a trazer o melhor incentivo possível a cooperação

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REPUTAÇÃO: COMO EVITAR DISTORÇÕES, E TORNAR REALISTA OS DADOS

O sucesso evolutivo humano muito se deveu a cooperação. Porém, para a cooperação ser uma estratégia evolutiva vantajosa, deve vir acompanhada de um sofisticado aparato para reconhecer outros membros, e identificar traidores e free-riders. Conforme pesquisas, em um jogo chamado “Seleção de Wason”, o avaliado deve descobrir dentre quatro opções, duas que cumprem determinadas regras, e duas que não. O problema é solucionado por muito mais membros quando apresentado como uma anedota social, do que abstratamente, como num jogo de cartas. Da mesma forma, quando apresentado de uma forma social, os examinados tem mais facilidade de encontrar os que violaram as regras, do que os que cumpriram as regras, não obstante os dados e variáveis tenham se mantido constante.

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REPUTAÇÃO: COMO EVITAR DISTORÇÕES, E TORNAR REALISTA OS DADOS

Ao jogarmos um jogo chamado Ultimato, onde dois jogadores podem receber uma quantia de dinheiro oferecida pela banca, desde que o último aceite a divisão proposta pelo primeiro. Do ponto de vista lógico, qualquer quantia acima de zero, deveria ser aceita, mas a maior parte dos examinadas recusa quantias destoantes da igualdade, preferindo nada ganhar, mas punir o outro jogador pelo egoísmo e falta de cooperação. Temos uma facilidade grande em identificar traidores e aproveitadores. Ao mesmo tempo, possuímos uma tendência forte a puní-los com rigor, ainda que isso signifique nos colocarmos em situação pior que se não o fizéssemos. O rigor pode ser desvantajoso no curto prazo, mas geralmente é vantajoso no longo.

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REPUTAÇÃO: COMO EVITAR DISTORÇÕES, E TORNAR REALISTA OS DADOS

Conforme dito, as relações sociais esporádicas, tendem a deserção, e as continuadas, a cooperação. A cooperação com estranhos traz riscos, que geralmente já avaliados por meio da reputação. Por esse motivo, a acuracidade das informações é essencial. E para que ela seja o mais fidedigna possível, o sistema de avaliação deve ser estruturado de forma de um lado evitar distorções positivas, quando ambos os lados exageram na qualidade da avaliação, ou usam de meios falsos e ardilosos para aumentá-la, e por outro, evitar as distorções negativas, uma vez que tendemos a exagerar nas punições ou agir por vingança, ou também as usar para prejudicar concorrentes. Ou seja, é um desafio tornar as avaliações virtuais o mais fidedigna com a reputação real.

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Várias podem ser as soluções para atingir esse objetivo. Apresentamos aqui algumas:

O custo de aquisição de reputação ser maior que o benefício do incremento. As taxas de transação cobradas por Ebay, AirBnb, Uber e afins, superam os benefícios de distorcer os sistema com avaliações forjadas.

O AirBnb possui um sistema duplo cego, onde as avaliações recebidas e feitas, são liberadas simultaneamente, não permitindo aos usuários dar a sua em face da outra.

O Uber pede uma justificativa quando passageiros e motoristas quando esses recebem notas abaixo de 3 estrelas, e as avaliam individualmente.

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REPUTAÇÃO: COMO EVITAR DISTORÇÕES, E TORNAR REALISTA OS DADOS

As pessoas, principalmente no Brasil, que possui uma cultura de colaboração fraca, não tendem a perder seu tempo avaliando positivamente um produto, mas certamente despendem tempo considerável fazendo avaliações negativas, e geralmente exageradas. A quantidade de reviews de um produto no e-commercer brasileiro é sempre infinitamente inferior ao de críticas ao mesmo no Reclame Aqui.

Utilizamos com frequência de redes sociais das empresas para enviar críticas, para torná-las públicas.

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REPUTAÇÃO: COMO EVITAR DISTORÇÕES, E TORNAR REALISTA OS DADOS

Não somos habituados a fazer avaliações de estabelecimentos por mero altruísmo e cooperação, para ajudar os demais consumidores. Porém, caso nos sintamos lesados ou mal tratados, comumente despendemos nosso tempo fazendo pesadas críticas.

Seja por distorções positivas, com amigos avaliando positivamente um negócio apenas para ajudar, seja apenas clientes insatisfeitos se dirigindo para fazer avaliações, é difícil tornar a avaliação virtual de uma empresa fidedigna e imune a distorções. Facebook, Google, Foursquare, Booking, Tripadvisor, TaskRabbit, iFood e várias outras empresas sofrem com isso o tempo todo, bem como as empresas nelas catalogadas. Criar mecanismos para mitigar ao máximo as distorções é essencial para minimizar o risco e aumentar o engajamento nos negócios colaborativos.

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REPUTAÇÃO: COMO EVITAR DISTORÇÕES, E TORNAR REALISTA OS DADOS

Em plataformas que são intrinsecamente baseadas no altruísmo e cooperação, como o Couchsurfing, o problema de distorção é mais evidente, ainda mais não sendo realizado em duplo cego.Os hóspedes, mesmo encontrando uma série de defeitos e críticas, por terem usufruido de uma hospedagem grátis, tendem a fazer avaliações positivas, mesmo tendo considerado a estadia negativa. E quando avaliam sincera, mas mediana ou negativamente, tendem a receber avaliações muito negativas, pois o anfitrião se sente ultrajado ao ser hospitaleiro e ainda sim criticado.

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REPUTAÇÃO: COMO EVITAR DISTORÇÕES, E TORNAR REALISTA OS DADOSEnfim, exemplos como os apresentados não faltam. É nítida e óbvio tanto a importância do sistema de reputação para o correto funcionamento das plataformas de cooperação, como a existência de inúmeros mecanismos e incentivos para criar distorções.

É extremamente importante para aqueles que lidam com avaliações, compreender o que fomenta a cooperação, deserção, punição e vingança, para assim criar mecanismos para tornar as avaliações e reputações mais acuradas.

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COOPERAÇÃO SEM REPUTAÇÃO, PROTEÇÃO AO USUÁRIO

Enfim, exemplos como os apresentados não faltam. É nítida e óbvio tanto a importância do sistema de reputação para o correto funcionamento das plataformas de cooperação, como a existência de inúmeros mecanismos e incentivos para criar distorções.

É extremamente importante para aqueles que lidam com avaliações, compreender o que fomenta a cooperação, deserção, punição e vingança, para assim criar mecanismos para tornar as avaliações e reputações mais acuradas.