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RELATOS DE EXPERIÊNCIAS INTRODUÇÃO A Internet está explodindo como a mí- dia mais promissora desde a implanta- ção da televisão. É a mídia mais aber- ta, descentralizada, e, por isso mesmo, mais ameaçadora para os grupos políti- cos e econômicos hegemônicos. Au- menta o número de pessoas ou grupos que criam na Internet suas próprias re- vistas, emissoras de rádio ou de televi- são, sem pedir licença ao Estado ou ter vínculo com setores econômicos tradi- cionais. Cada um pode dizer nela o que quer, conversar com quem desejar, ofe- recer os serviços que considerar conve- nientes. Como resultado, começamos a assistir a tentativas de controlá-la de forma clara ou sutil. A distância hoje não é principalmente a geográfica, mas a econômica (ricos e pobres), a cultural (acesso efetivo pela educação continuada), a ideológica (di- ferentes formas de pensar e sentir) e a tecnológica (acesso e domínio ou não das tecnologias de comunicação). Uma das expressões claras de democratiza- ção digital se manifesta na possibilida- de de acesso à Internet e em dominar o instrumental teórico para explorar todas as suas potencialidades. A Internet também está explodindo na educação. Universidades e escolas cor- rem para tornar-se visíveis, para não fi- car para trás. Uns colocam páginas pa- dronizadas, previsíveis, em que mos- tram a sua filosofia, as atividades admi- nistrativas e pedagógicas. Outros criam páginas atraentes, com projetos inova- dores e múltiplas conexões. José Manuel Moran Como utilizar a Internet na educação Resumo Relato e análise de experiências pessoais e institucionais que utilizam a Internet na educação presencial como pesquisa, apoio ao ensino e como comunicação. Avalia os avanços e problemas que estão acontecendo atualmente e mostra que a Internet é mais eficaz, quando está inserida em processos de ensino-aprendizagem e de comunicação que integram as dimensões pessoais, as comunitárias e as tecnológicas. Palavras-chave Internet; Educação; Pesquisa; Comunicação. A educação presencial pode modificar- se significativamente com as redes ele- trônicas. As paredes das escolas e das universidades se abrem, as pessoas se intercomunicam, trocam informações, dados, pesquisas. A educação conti- nuada é otimizada pela possibilidade de integração de várias mídias, acessando- as tanto em tempo real como assincro- nicamente, isto é, no horário favorável a cada indivíduo, e também pela facilida- de de pôr em contato educadores e edu- candos. Na Internet, encontramos vários tipos de aplicações educacionais: de divulgação, de pesquisa, de apoio ao ensino e de comunicação. A divulgação pode ser institucional – a escola mostra o que faz – ou particular – grupos, professo- res ou alunos criam suas home pages pessoais, com o que produzem de mais significativo. A pesquisa pode ser feita individualmente ou em grupo, ao vivo – durante a aula – ou fora da aula, pode ser uma atividade obrigatória ou livre. Nas atividades de apoio ao ensino, po- demos conseguir textos, imagens, sons do tema específico do programa, utili- zando-os como um elemento a mais, junto com livros, revistas e vídeos. A comunicação ocorre entre professo- res e alunos, entre professores e pro- fessores, entre alunos e outros colegas da mesma ou de outras cidades e países. A comunicação se dá com pessoas co- nhecidas e desconhecidas, próximas e distantes, interagindo esporádica ou sis- tematicamente. As redes atraem os estudantes. Eles gostam de navegar, de descobrir ende- reços novos, de divulgar suas descober- tas, de comunicar-se com outros cole- gas. Mas também podem perder-se en-

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RELATOS DEEXPERIÊNCIAS

INTRODUÇÃO

A Internet está explodindo como a mí-dia mais promissora desde a implanta-ção da televisão. É a mídia mais aber-ta, descentralizada, e, por isso mesmo,mais ameaçadora para os grupos políti-cos e econômicos hegemônicos. Au-menta o número de pessoas ou gruposque criam na Internet suas próprias re-vistas, emissoras de rádio ou de televi-são, sem pedir licença ao Estado ou tervínculo com setores econômicos tradi-cionais. Cada um pode dizer nela o quequer, conversar com quem desejar, ofe-recer os serviços que considerar conve-nientes. Como resultado, começamosa assistir a tentativas de controlá-la deforma clara ou sutil.

A distância hoje não é principalmente ageográfica, mas a econômica (ricos epobres), a cultural (acesso efetivo pelaeducação continuada), a ideológica (di-ferentes formas de pensar e sentir) e atecnológica (acesso e domínio ou nãodas tecnologias de comunicação). Umadas expressões claras de democratiza-ção digital se manifesta na possibilida-de de acesso à Internet e em dominar oinstrumental teórico para explorar todasas suas potencialidades.

A Internet também está explodindo naeducação. Universidades e escolas cor-rem para tornar-se visíveis, para não fi-car para trás. Uns colocam páginas pa-dronizadas, previsíveis, em que mos-tram a sua filosofia, as atividades admi-nistrativas e pedagógicas. Outros criampáginas atraentes, com projetos inova-dores e múltiplas conexões.

José Manuel Moran

Como utilizar a Internetna educação

Resumo

Relato e análise de experiências pessoais einstitucionais que utilizam a Internet naeducação presencial como pesquisa, apoioao ensino e como comunicação. Avalia osavanços e problemas que estãoacontecendo atualmente e mostra que aInternet é mais eficaz, quando está inseridaem processos de ensino-aprendizagem e decomunicação que integram as dimensõespessoais, as comunitárias e astecnológicas.

Palavras-chave

Internet; Educação; Pesquisa; Comunicação.

A educação presencial pode modificar-se significativamente com as redes ele-trônicas. As paredes das escolas e dasuniversidades se abrem, as pessoas seintercomunicam, trocam informações,dados, pesquisas. A educação conti-nuada é otimizada pela possibilidade deintegração de várias mídias, acessando-as tanto em tempo real como assincro-nicamente, isto é, no horário favorável acada indivíduo, e também pela facilida-de de pôr em contato educadores e edu-candos.

Na Internet, encontramos vários tipos deaplicações educacionais: de divulgação,de pesquisa, de apoio ao ensino e decomunicação. A divulgação pode serinstitucional – a escola mostra o quefaz – ou particular – grupos, professo-res ou alunos criam suas home pagespessoais, com o que produzem de maissignificativo. A pesquisa pode ser feitaindividualmente ou em grupo, ao vivo –durante a aula – ou fora da aula, podeser uma atividade obrigatória ou livre.Nas atividades de apoio ao ensino, po-demos conseguir textos, imagens, sonsdo tema específico do programa, utili-zando-os como um elemento a mais,junto com l ivros, revistas e vídeos.A comunicação ocorre entre professo-res e alunos, entre professores e pro-fessores, entre alunos e outros colegasda mesma ou de outras cidades e países.A comunicação se dá com pessoas co-nhecidas e desconhecidas, próximas edistantes, interagindo esporádica ou sis-tematicamente.

As redes atraem os estudantes. Elesgostam de navegar, de descobrir ende-reços novos, de divulgar suas descober-tas, de comunicar-se com outros cole-gas. Mas também podem perder-se en-

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tre tantas conexões possíveis, tendodificuldade em escolher o que é signifi-cativo, em fazer relações, em questio-nar afirmações problemáticas.

A INTERNET NA EDUCAÇÃOCONTINUADA

O artigo 80 da Nova LDB/96 incentivatodas as modalidades de ensino à dis-tância e continuada, em todos os níveis.A utilização integrada de todas as mídiaseletrônicas e impressas pode ajudar-nosa criar todas as modalidades de cursonecessárias para dar um salto qualitati-vo na educação continuada, na for-mação permanente de educadores, nareeducação dos desempregados.

Estamos em uma etapa de transiçãoquantitativa e qualitativa das mídias ele-trônicas. Estamos passando de umafase de carência de canais para umaoutra de superabundância. Na TV a Caboe por Satélite, podemos aumentar onúmero de canais pela compressão di-gital até várias centenas. Mesmo a te-levisão aberta (VHF) vai poder proxima-mente, com a TV digital, multiplicar porcinco o número de canais ofertados atéagora.

Há uma clara aproximação da televisão,do computador e da Internet. O Netpu-ter, a WEBTV, a tela em que trabalha-mos e vemos televisão aproxima áreastecnológicas que até agora estavamseparadas. A chegada da Internet à TVa cabo sem dúvida é um marco decisivopara visualizar imagens em movimentoe sons, integrando o audiovisual, a hi-permídia, o texto “linkado” e a narrativado cinema e da TV.

Estamos, em conseqüência, diante deum panorama poderoso para integrartodas estas mídias no ensino à distân-cia e continuado. A Internet, ao tornar-se mais e mais hipermídia, começa aser um meio privilegiado de comunica-ção de professores e alunos, já que per-mite juntar a escrita, a fala e proxima-mente a imagem a um custo barato,com rapidez, flexibilidade e interação atéhá pouco tempo impossíveis. As gran-des universidades e instituições educa-cionais norte-americanas, canadensese européias estão investindo maciça-mente em todo tipo de cursos que utili-zam também a Internet. A Home Pagedo INED traz dezenas de artigos em

português e inglês sobre ensino à distân-cia e muitos endereços de instituiçõesque estão oferecendo programas de ensi-no à distância no mundo inteiro. O ende-reço é: http://www.ibase.org.br/~ined/

Neste artigo, vou concentrar-me emcomo utilizar a Internet no ensino pre-sencial, no ensino que está organizadopara o encontro físico em salas de aula.Nele, podemos introduzir formas de pes-quisa e comunicação não presenciais,que nos ajudarão a renovar a forma dedar aula, de investigar, de relacionar-nosdentro e fora da sala de aula.

PROJETOS DE INTERNET NAEDUCAÇÃO PRESENCIAL

Na impossibilidade de descrever e ana-lisar, neste artigo, os muitos projetosque estão sendo desenvolvidos atual-mente na Internet, trago alguns proje-tos da Grande São Paulo que tenhoacompanhado com mais atenção eaponto alguns endereços mais signifi-cativos de instituições educacionaispara consulta*.

A Escola do Futuro [http://www.futuro.usp.br] – grupo de pesquisasda Universidade de São Paulo – é pio-neira na implantação de uso de redeseletrônicas no ensino fundamental e mé-dio no Brasil. Desenvolve projetos deensino de ciências e de humanidadescom redes telemáticas desde 1990.Exemplos de projetos: Fast Plant (com-paração do crescimento rápido das plan-tas em climas e com adubos diferen-tes). Projeto Ecologia das águas (cole-ta e análise de amostras de águas pró-ximas às escolas conveniadas). Proje-to Biogás (produção de mistura de ga-ses; biodigestão com três temperatu-ras diferentes). Projeto Energia Solar(comparação do consumo de energia;

coleta de energia solar, transformando-aem energia elétrica). Projeto de PlantasCarnívoras (em 1996, com 23 escolas).Projeto Sky (observar o céu e trocarinformações com alunos do hemisfé-rio Norte). Projeto Brasil/Portugal(Des)encontros de culturas (professorese alunos de geografia, história e portu-guês de duas escolas brasileiras e duasportuguesas). Projeto Educando para aCidadania (com alunos da sexta sériede vários colégios).

Os projetos são coordenados por pro-fessores-pesquisadores, com bolsas deestudo. Começam com encontros pre-senciais para dominar as ferramentasdas redes, os conceitos fundamentaise as etapas do projeto. Os projetos en-contram-se em fase final de avaliação.Os resultados são desiguais. Aumen-tam a motivação dos alunos, o interes-se pela pesquisa e por participar emgrupos. Há mais sensibilidade para usodas novas tecnologias de comunicação.Ganha maior importância o ensino deinglês. Os alunos desenvolvem conta-tos pessoais e amizades por meio darede. As dificuldades maiores são acontinuidade entre os professores, prin-cipalmente na rede pública. Também há,às vezes, dificuldade de contato com osmonitores dos projetos na USP. Algu-mas escolas se queixam de falta de re-torno dos resultados finais de cada pro-jeto ao seu término.

O Colégio Municipal Alcina de SãoCaetano do Sul, na Grande São Paulo[http://eu.ansp.br/~cimpadf/] começoucom dois computadores XT e atualmen-te desenvolve 14 projetos, alguns na áreade ciências vinculados à Escola do Fu-turo (Ecologia das Águas, Biogás, Fast-plant, Sky, Plantas Carnívoras). Outroprojeto é sobre o ensino de inglês comescolas estaduais e particulares damesma cidade. Também um projeto deensino da informática para alunos docurso de magistério. E um projeto deLivro Eletrônico com crianças do interiorda Suécia, escrevendo capítulos alter-nados sobre como crianças das quin-tas e sextas séries vivem no Brasil e naSuécia.

Indico algumas instituições educacio-nais que vale a pena conhecer na Inter-net. Página do Colégio Magno de SãoPaulo [http://eu.ansp.br:80/~colmagno/].Projetos na Internet, como Matemática

* O leitor encontrará endereços comentadossobre educação e comunicação no item linksou endereços interessantes da minha homepage: http://www.eca.usp.br/eca/prof/moran/mor.htm ou em http://www.geocities.com/TelevisionCity/7815/index.html. Os tópicosprincipais são os seguintes: Programas debusca em Educação e Comunicação; EndereçosInteressantes em Educação e Comunicação noExterior e no Brasil; Links Gerais, Artes,Ciências, Ensino à Distância, Mídias naEducação, Softwares e Vídeos na Educação,Listas de discussão em Educação;Comunicação, Jornais e Revistas em Educaçãoe Comunicação, Televisão e Educação.

Como utilizar a Internet na educação

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e Arte, Observatório Estelar. Outroslugares interessantes: O Brasil naInternet, Viagem pelo mundo. Páginado Colégio Magnum Agostinianode Belo Horizonte: Projetos, Par-cerias, páginas dos alunos [http://www.magnum.com.br]. Grupo Patnet,vinculado à Faculdade de Educação daUSP, projetos em telemática na educa-ção para crianças, principalmente pro-jetos para crianças do Kidlink [http://eu.ansp.br:80/~educacao/]. O Kidlinké pioneiro em desenvolver projetos pon-tuais para crianças no mundo inteiro[http://www.kidlink.org] . Foi criado porOdd de Presno, na Noruega. No Brasil,os projetos do Kidlink são coordenadospela professora Marisa Lucena, do Riode Janeiro. Escola Comunitária, deCampinas [http://www.ecc.br]:trabalhosde alunos em várias séries e matérias.Projetos em diversas áreas, com outroscolégios. Estudos do Meio. Outros pro-jetos interessantes no Brasil podem serencontrados na Lista de Escolas co-nectadas na Internet, da Kanopus,com destaque para ciências e humani-dades [http://www.kanopus.com.br/~educacao/]. Também o Centro Fede-ral de Educação Tecnológica do Paraná(Cefet-PR), com projetos principalmen-te na área de computação evolutivae também listas de discussão e pro-gramas para educação [http://www.cefetpr.br/index-servicos.html].Econet Brasil, com projetos sobre meioambiente [http://www.lsi.usp.br/econet].A Estação Ciência da USP [http://www.usp.br/geral/cultura/EC/].

Em espanhol, recomendo o Programade Nuevas Tecnologías do Ministério deEducação e Cultura da Espanha(PNTIC) [http://www.pntic.see.mec.es]com experiências telemáticas, bases dedados, bibliotecas escolares. Tambémo Programa de Informática Educati-va (PIE), da Catalunha, um programada secretaria da Educação da região ca-talã, em Barcelona, um dos mais avan-çados no uso de tecnologias no ensinopúblico [http://www.xtec.es]. Recomen-do também o Programa Rede deEducação do Ministério da Educaçãodo Chile (Enlaces), construído emtorno do software e metáfora da praça,onde as pessoas se encontram [http://www.enlaces.ufro.cl].

Em inglês há muitos endereços estimu-lantes, bem elaborados, com projetos,aulas, atividades, artigos*. Destaco oInstitute for Learning Technologies(ILT), da Columbia University [http://www.ilt.columbia.edu], um dos melhorescentros de pesquisa sobre tecnologiasem educação, com um amplo elencode projetos. A Global Schoolhouse[http://www.gsh.org] com projetos e recur-sos avançados para educadores e oAskERIC [http://ericir.syr.edu/], com pro-jetos, aulas, ferramentas, biblioteca vir-tual. Do Canadá vale a pena o Canada’sSchoolnet [http://schoolnet2.carleton. ca],que mostra as principais redes eletrôni-cas na educação canadense (em francêse inglês), com destaque para os projetosde ciências, matemática e artes.

EXPERIÊNCIAS PESSOAIS DEENSINO NA INTERNET

Venho desenvolvendo algumas expe-riências no ensino de graduação e depós-graduação na Escola de Comuni-cações e Artes da Universidade de SãoPaulo. Criei uma página pessoal na In-ternet, com dois endereços: http://www.eca.usp.br/eca/prof/moran/mor.htm e http://www.geocities.com/Te-levisionCity/7815/index.html. Nela cons-tam as disciplinas de pós-graduação(Redes Eletrônicas na Educação e No-vas Tecnologias para uma Nova Educa-ção) e três de graduação ( Novas Fron-teiras da Televisão, Legislação e Éticado Radialismo e Mercadologia de Rádioe Televisão),com o programa e algunstextos meus e dos meus alunos. O ro-teiro básico é o seguinte: no começodo semestre, cada aluno escolhe umassunto específico dentro da matéria,vai pesquisando-o na Internet e na bi-blioteca; ao mesmo tempo, pesqui-samos também temas básicos do cur-so; o aluno apresenta os resultados dasua pesquisa específica na classe edepois pode divulgá-los, se quiser, atra-vés da Internet.

Disponho de uma sala de aula com 10computadores ligados à Internet por fi-bra ótica, para 20 alunos, em média.Utilizamos essa sala a cada duas outrês semanas. As outras aulas aconte-cem na sala convencional.

O fato de ver o seu nome na Internet e apossibilidade de divulgar os seus traba-lhos e pesquisas exerce forte motiva-ção nos alunos, estimula-os a partici-par mais em todas as atividades do cur-so. Enquanto preparam os trabalhospessoais, vou desenvolvendo com elesalgumas atividades.

Começamos com uma aula introdutóriapara os que não estão familiarizadoscom a Internet. Nela, aprendemos aconhecer e a usar as principais ferra-mentas. Fazemos pesquisa livre, emvários programas de busca. Cadastra-mos cada aluno para que tenha o seue-mail pessoal (na própria universidadeou em sites que oferecem endereçoseletrônicos gratuitamente).

Em um segundo momento, todos pes-quisamos o mesmo tópico do curso nosprogramas de busca (como o Altavista,Yahoo, Lycos, Infoseek, Galaxy, Cadê).Eles vão gravando os endereços, arti-gos e imagens mais interessantes emdisquete e também fazem anotaçõesescritas, com rápidos comentários so-bre o que estão salvando. As descober-tas mais importantes são comunicadasaos colegas. Os resultados são sociali-zados, discutidos, comparados.

O meu papel é o de acompanhar cadaaluno, incentivá-lo, resolver suas dúvi-das, divulgar as melhores descobertas.No fim da aula, fazemos um rápido ba-lanço e peço que sintetizem o que foimais importante e que estudem commais calma o material gravado, paradescobrir as principais coincidências edivergências no material encontrado. Naaula seguinte, esse material é trocado,discutido, junto com outros textos tra-zidos pelo professor que são retiradosde revistas, livros e da própria Internet.As aulas na Internet se alternam comas aulas habituais. Posteriormente,cada aluno desenvolve o seu tema es-pecífico de pesquisa, sob a minha su-pervisão. Estou junto com eles, dandodicas, tirando dúvidas, anotando desco-bertas. Esses temas específicos sãomais tarde apresentados em classe paraos colegas. O professor complementa,questiona, relaciona essas apresen-tações com a matéria como um todo.Alguns alunos criam suas páginas pes-soais, e outros entregam somente osresultados das suas pesquisas paracolocá-los na minha página.

* Podem ser encontrados na minha página, emEndereços interessantes em Educação eComunicação no exterior.

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Além das aulas, ocorre um estimu-lante processo de comunicação virtual,junto com o presencial. Eles podempesquisar em uma sala especial emqualquer horário, se houver máquinaslivres. Os alunos me procuram maispara atendimento específico na minhasala e também enviam mensagens ele-trônicas. Como todos têm e-mail, de vezem quando envio sugestões pela rede,lembro-os de datas de leituras de tex-tos. Estou começando a enviar algunsartigos pela própria rede. Na pós-graduação, estou fazendo algumasexperiências de discussões virtuais comprogramas em tempo real, escrevendoao mesmo tempo (programas em IRCcomo o Mirc). Neste momento, tambémestamos começando a experimentarprogramas de som e de imagem, inte-ragindo com outras pessoas – forada Universidade –, em tempo real, dis-cutindo assuntos da matéria.

Adapto esse processo também aosmeus orientandos de graduação (traba-lhos de conclusão de curso), de mes-trado e de doutorado. Os que não mo-ram em São Paulo se comunicam commais freqüência comigo pela Internet,enviam-me capítulos das suas teseseletronicamente e eu as devolvo da mes-ma forma. Os que já terminaram têmuma página na rede com o resumo datese e outras informações que julguemconvenientes.

Ensinar utilizando a Internet exige umaforte dose de atenção do professor.Diante de tantas possibilidades de bus-ca, a própria navegação se torna maissedutora do que o necessário trabalhode interpretação. Os alunos tendem adispersar-se diante de tantas conexõespossíveis, de endereços dentro de ou-tros endereços, de imagens e textos quese sucedem ininterruptamente. Tendema acumular muitos textos, lugares, idéias,que ficam gravados, impressos, anota-dos. Colocam os dados em seqüênciamais do que em confronto. Copiam osendereços, os artigos uns ao lado dosoutros, sem a devida triagem.

Creio que isso se deve a uma primeiraetapa de deslumbramento diante de tan-tas possibilidades que a Internet ofere-ce. É mais atraente navegar, descobrircoisas novas do que analisá-las, com-pará-las, separando o que é essencialdo acidental, hierarquizando idéias,

assinalando coincidências e divergên-cias. Por outro lado, isso reforça umaatitude consumista dos jovens diante daprodução cultural audiovisual. Vereqüivale, na cabeça de muitos, a com-preender e há um certo ver superficial,rápido, guloso, sem o devido tempo dereflexão, de aprofundamento, de coteja-mento com outras leituras. Os alunosse impressionam primeiro com as pági-nas mais bonitas, que exibem mais ima-gens, animações, sons. As imagensanimadas exercem um fascínio seme-lhante às do cinema, vídeo e televisão.Os lugares menos atraentes visualmen-te costumam ser deixados em segundoplano, o que acarreta, às vezes, perdade informações de grande valor.

É importante que o professor fique atentoao ritmo de cada aluno, às suas formaspessoais de navegação. O professor nãoimpõe; acompanha, sugere, incentiva,questiona, aprende junto com o aluno.

Ensinar utilizando a Internet pressupõeuma atitude do professor diferente daconvencional. O professor não é o“informador”, o que centraliza a informa-ção. A informação está em inúmerosbancos de dados, em revistas, livros,textos, endereços de todo o mundo. Oprofessor é o coordenador do processo,o responsável na sala de aula. Sua pri-meira tarefa é sensibilizar os alunos,motivá-los para a importância da maté-ria, mostrando entusiasmo, ligação damatéria com os interesses dos alunos,com a totalidade da habilitação esco-lhida.

A Internet é uma tecnologia que facilitaa motivação dos alunos, pela novidadee pelas possibilidades inesgotáveis depesquisa que oferece. Essa motivaçãoaumenta, se o professor a faz em umclima de confiança, de abertura, de cor-dialidade com os alunos. Mais que atecnologia, o que facilita o processo deensino-aprendizagem é a capacidade decomunicação autêntica do professor, deestabelecer relações de confiança comos seus alunos, pelo equilíbrio, compe-tência e simpatia com que atua.

A PESQUISA NA INTERNET

A Internet está trazendo inúmeras pos-sibilidades de pesquisa para professo-res e alunos, dentro e fora da sala deaula. A facilidade de, digitando duas outrês palavras nos serviços de busca,encontrar múltiplas respostas para qual-quer tema é uma facilidade deslumbran-te, impossível de ser imaginada há bempouco tempo. Isso traz grandes vanta-gens e também alguns problemas.

Podemos partir, na pesquisa, do geralpara o específico, dos grandes tópicospara os subtópicos. Em um primeiromomento, procuramos nos programasde busca as palavras-chave mais abran-gentes, mais amplas. Por exemplo, te-levisão, televisão e educação. As pala-vras podem ser buscadas em serviçosnorte-americanos como o Altavista,digitando-as, além de em inglês, em por-tuguês ou em espanhol, o que apontaráos endereços predominantemente nes-sas línguas. As primeiras buscas mos-trarão milhares de resultados. Escolhe-remos alguns das primeiras páginas.Gravamos alguns endereços, anotamospor escrito também as observaçõesprincipais. O estudante iniciante naInternet se deixa, primeiramente, des-lumbrar quando vê que uma pesquisaapresenta 100 mil resultados. Depoisdesanima, ao constatar que não podeesgotá-la, que há inúmeras repetições,muitas indicações equivocadas. Con-vém procurar mais de um programa debusca, porque os resultados não sãoidênticos.

Em um segundo momento, dirigimosmais a busca para temas específicos,por exemplo, televisão por cabo, televi-são de acesso público, televisão comu-nitária, televisão interativa. Fazemosessa pesquisa em vários programas debusca. Vamos abrindo alguns endere-ços. Com a prática, desenvolvemos ahabilidade de descobrir onde estão osmelhores endereços, aqueles nos quaisvale a pena aprofundar-se. Fazemo-lo,observando a organização dos tópi-cos, a riqueza e variedade de artigos, arespeitabilidade da instituição e dos pes-quisadores.

Como utilizar a Internet na educação

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Podemos coordenar pesquisas comobjetivos bem específicos, monitorandode perto cada etapa da busca, pedindoque anotem os dados mais importantese que reconstruam ao final os resulta-dos. É importante sensibilizar o alu-no antes para o que se quer conseguirneste momento, neste tópico. Se oaluno tem claro ou encontra valor noque vai pesquisar, procederá com maisrapidez e eficiência. O professor preci-sa estar atento, porque a tendênciana Internet é para a dispersão fácil.O intercâmbio constante de resultadose a supervisão do professor podem aju-dar a obter melhores resultados.

Na pesquisa com objetivos bem es-pecíficos, podemos fazer uma busca“uniforme”, isto é, todos pesquisam osmesmos endereços previamente indica-dos pelo professor ou fazem uma bus-ca mais aberta sobre o mesmo assun-to. Vale a pena alternar as duas formas.Na primeira, há menos variedade de lu-gares pesquisados, mas podem-seaprofundar mais os resultados. Na se-gunda, ao deixar menos definidos oslugares, e sim o tema, as possibilida-des de encontrar resultados inespera-dos aumentam.

Podemos fazer pesquisas de temas di-ferentes, individualmente ou em peque-nos grupos. É interessante que os alu-nos escolham algum assunto dentro doprograma que esteja mais próximo doque eles valorizam mais. Essas pesqui-sas podem ser realizadas dentro e forado período de aula. Durante a aula, oprofessor acompanha cada aluno, tiradúvidas, dá sugestões, incentiva, com-plementa os resultados, aprende comas informações que os alunos passam.Essas pesquisas são depois apresen-tadas para os demais colegas e para oprofessor. Este complementa, problema-tiza, adapta à realidade local, os resul-tados trazidos pelos alunos.

Como há tantas possibilidades de pes-quisa e facilidade de dispersão, o edu-cador estará atento, na aula-pesquisa,a escolher o melhor momento de cadaaluno comunicar os seus resultados paraa classe. A comunicação de resultadospode ser espontânea: o professor pedeque, quando alguém encontre algo sig-nificativo, que o comunique a todos. Issoajuda a que os colegas possam avan-çar mais, aprofundar os melhores sites,os mesmos assuntos.

Pode-se também, ao final do períododa aula-pesquisa, pedir aos alunos querelatem a síntese do que encontraramde mais significativo. Os alunos terãogravadas as principais páginas, juntocom um roteiro de anotações, para es-clarecer a navegação feita e encontrarmelhores relações, ao final. Um apro-fundamento dos resultados pesquisadospode ser deixado para a próxima aula.Os alunos fazem, fora da aula, a análi-se das páginas encontradas. Procuramo que houve demais significativo. Essesdados são colocados em comum naaula seguinte. Professor e alunos rela-cionam as coincidências e divergên-cias entre os resultados encontrados eas informações já conhecidas em refle-xões anteriores, em livros e revistas.Essa discussão maior é importante,para que a Internet não se torne só umabela diversão e que esse tempo de pes-quisa se multiplique pela difusão emcomum, pela troca, discussão, síntesefinal. A comunicação dos resultados aogrupo é cada vez mais relevante pelaquantidade, variedade e desigualdade dedados, informações contidas nas pági-nas da Internet. Há muitos pontos devista diferentes explicitados. A colocaçãoem comum facilita a comparação, a sele-ção, a organização hierárquica de idéias,conceitos, valores. A tendência dos alu-nos é a de quantificar, mais do que ana-lisar. Juntam inúmeras páginas. Se nãoestivermos atentos, não explorarão to-das as possibilidades nelas contidas.

A pesquisa na Internet requer uma ha-bilidade especial devido à rapidez comque são modificadas as informações naspáginas e à diversidade de pessoas epontos de vista envolvidos. A navega-ção precisa de bom senso, gostoestético e intuição. Bom senso paranão deter-se, diante de tantas possibi-lidades, em todas elas, sabendo selecio-nar, em rápidas comparações, as maisimportantes. A intuição é um radar quevamos desenvolvendo ao “clicar” o mousenos links que nos levarão mais pertodo que procuramos. A intuição nos levaa aprender por tentativa, acerto e erro.Às vezes, passaremos bastante temposem achar algo importante e, de repe-tente, se estivermos atentos, consegui-remos um artigo fundamental, uma pá-gina esclarecedora. O gosto estéticonos ajuda a reconhecer e a apreciarpáginas elaboradas com cuidado, combom gosto, com integração de imagem

e texto. Principalmente para os alunos,o estético é uma qualidade fundamen-tal de atração. Uma página bem apre-sentada, com recursos atraentes, é ime-diatamente selecionada, pesquisada.

Com freqüência, encontram-se assun-tos novos, diferentes dos buscados eque também podem interessar a alguémem particular. O educador não devesimplesmente dizer ao aluno que aqueleassunto não faz parte da aula. Pode pe-dir-lhe que grave rapidamente o queachar mais importante e que deixe paraoutro momento o aprofundamento des-se novo assunto, para voltar mais quelogo ao tema específico da aula.

Não podemos deslumbrar-nos com apesquisa na Internet e deixar de ladooutras tecnologias. A chave do suces-so está em integrar a Internet com asoutras tecnologias – vídeo, televisão, jor-nal, computador. Integrar o mais avan-çado com as técnicas já conhecidas,dentro de uma visão pedagógica nova,criativa, aberta.

A COMUNICAÇÃO NA INTERNET

Todos procuram na rede seus seme-lhantes, seus interesses. Cada umbusca a sua “turma”; busca pessoasque tenham gostos, valores, expectati-vas parecidos; pessoas fisicamente pró-ximas e distantes, conhecidas e des-conhecidas.

Uma das características mais interes-santes da Internet é a possibilidade dedescobrir lugares inesperados, de en-contrar materiais valiosos, endereçoscuriosos, programas úteis, pessoas di-vertidas, informações relevantes. São tan-tas as conexões possíveis, que a viagemvale por si mesma. Viajar na rede preci-sa de intuição acurada, de estarmosatentos para fazer tentativas no escuro,para acertar e errar. A pesquisa nos levaa garimpar jóias entre um monte de ba-nalidades, a descobrir pedras preciosasescondidas no meio de inúmeros sitespublicitários.

A comunicação torna-se mais e maissensorial, mais e mais multidimensio-nal, mais e mais não-linear. As técni-cas de apresentação são mais fáceishoje e mais atraentes do que anos atrás,o que aumentará o padrão de exigênciapara mostrar qualquer trabalho pelos sis-

Como utilizar a Internet na educação

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temas multimídia. O som não será umacessório, mas uma parte integral danarrativa. O texto na tela aumentará deimportância, pela sua maleabilidade,facilidade de correção, de cópia, de des-locamento e de transmissão.

Na educação, professores e alunos pra-ticam formas de comunicação novas.Encontram colegas com os quais po-dem comunicar-se facilmente por cor-reio eletrônico, por listas de discussão,por comunicação instantânea em IRC.Atualmente começam a comunicar-sepor intermédio de voz (programas comoo Iphone) e também de imagem (pro-gramas como o CuSeeme ou a últimaversão do Iphone).

Aumenta a procura pelos chats ou bate-papos. Muitos estudantes passam ho-ras seguidas em conversas aleatórias,fragmentadas, em um autêntico jogo decena, de camuflagem de identidade, demeias-verdades. Mas o chat tem umgrande potencial democrático, por seraberto, multidimensional. Nessas tro-cas, realizam-se encontros virtuais,criam-se amizades, relacionamentosinesperados que começam virtualmen-te e muitas vezes levam a contatos pre-senciais.

Começamos a ser nossos próprios edi-tores de textos e diretores de imagensna Internet. Há centenas de jornais es-colares na rede. Quem tem algo a dizerpode fazê-lo sem depender da autoriza-ção de emissoras, jornais ou conselhoseditoriais; basta colocá-lo na sua pági-na pessoal. Os estudantes podem mos-trar sua capacidade on-line, ao vivo,sem ter de esperar anos pelo ingressoformal dentro do mercado de trabalho.O artista está podendo divulgar suasobras para o mundo inteiro imediata-mente. O pesquisador consegue publi-car na rede os resultados do seu traba-lho instantaneamente, sem depender dojulgamento de especialistas e sem de-mora na publicação. Isso torna mais di-fícil a seleção do que vale ou não vale apena ser lido. Nem sempre há um con-selho editorial de notáveis para filtrar osmelhores artigos. Com isso, há muitolixo cultural, mas também se ampliaimensamente o número e a variedadede pessoas que se expõem ao julga-mento público.

As profissões ligadas à informação e àcomunicação estão experimentando umgrande desenvolvimento. Cada vez te-mos menos tempo para procurar tantasinformações necessárias. Por isso, pre-cisamos de mediadores, de pessoasque saibam escolher o que é mais im-portante para cada um de nós em todasas áreas da nossa vida, que garimpemo essencial, que nos orientem sobre assuas conseqüências, que traduzam osdados técnicos em linguagem acessí-vel e contextualizada.

Avaliação da utilização da Internetna educação presencial

Nos projetos brasileiros que temosacompanhado, podemos observar algu-mas dimensões positivas e alguns pro-blemas. Aumenta a motivação, o inte-resse dos alunos pelas aulas, pela pes-quisa, pelos projetos. Motivação ligadaà curiosidade pelas novas possibilida-des, à modernidade que representa aInternet. Há uma primeira etapa de des-lumbramento, de curiosidade, de fascí-nio diante de tantas possibilidades no-vas. Depois vem a etapa de domínio datecnologia, de escolha das preferên-cias. Mais tarde, começa-se a enxer-gar os defeitos, os problemas, as difi-culdades de conexão, as repetições, ademora.

Comparando as minhas aulas, agora eantes da Internet, posso afirmar queaumentou significativamente a motiva-ção, o interesse e a comunicação comos alunos e a deles entre si. Estão maisabertos, confiantes. Intercambiamosmais materiais, sugestões, dúvidas. Tra-zem-me muitas novidades. Já me acon-teceu de, em alguns seminários, apre-sentarem resultados com informaçõesque eu desconhecia sobre tópicos domeu programa, por estarem extrema-mente atualizadas, o que traz novasperspectivas para a matéria.

O aluno aumenta as conexões lin-güísticas, as geográficas e as inter-pessoais. As lingüísticas, porque inte-rage com inúmeros textos, imagens,narrativas, formas coloquiais e formaselaboradas, com textos sisudos e tex-tos populares. As geográficas, porquese desloca continuamente em diferen-tes espaços, culturas, tempos e adqui-re uma visão mais ecológica sobre osproblemas da cidade. As interpessoais,

porque se comunica e conhece pes-soas próximas e distantes, da sua ida-de e de outras idades, on-line e off line.

O aluno desenvolve a aprendizagemcooperativa, a pesquisa em grupo, a tro-ca de resultados. A interação bem-su-cedida aumenta a aprendizagem. Emalguns casos, há uma competição ex-cessiva, monopólio de determinados alu-nos sobre o grupo. Mas, no conjunto, acooperação prevalece.

A Internet ajuda a desenvolver a intui-ção, a flexibilidade mental, a adaptaçãoa ritmos diferentes. A intuição, porqueas informações vão sendo descobertaspor acerto e erro, por conexões “escon-didas”. As conexões não são lineares,vão “linkando-se” por hipertextos, tex-tos interconectados, mas ocultos, cominúmeras possibilidades diferentes denavegação. Desenvolve a flexibilidade,porque a maior parte das seqüências éimprevisível, aberta. A mesma pessoacostuma ter dificuldades em refazer amesma navegação duas vezes. Ajudana adaptação a ritmos diferentes: a In-ternet permite a pesquisa individual, emque cada aluno vai no seu próprio ritmo,e a pesquisa em grupo, em que se de-senvolve a aprendizagem colaborativa.

Na Internet, também desenvolvemosformas novas de comunicação, prin-cipalmente escrita. Escrevemos de for-ma mais aberta, hipertextual, conecta-da, multilingüística, aproximando textoe imagem. Agora começamos a incor-porar sons e imagens em movimento.A possibilidade de divulgar páginas pes-soais e grupais na Internet gera umagrande motivação, visibilidade, respon-sabilidade para professores e alunos.Todos se esforçam por escrever bem, porcomunicar melhor as suas idéias, paraserem bem aceitos, para “não fazer feio”.Alguns dos endereços mais interessan-tes ou visitados da Internet no Brasil sãofeitos por adolescentes ou jovens.

O interesse pelo estudo de línguasaumenta. A aprendizagem de línguas,principalmente do inglês, é um dos mo-tivos principais para o sucesso dos pro-jetos. Os alunos enviam e recebemmensagens, o que exige uma boa fluên-cia em língua estrangeira. Com progra-mas de comunicação na Internet emtempo real, a necessidade de domíniode línguas estrangeiras é mais percebi-

Como utilizar a Internet na educação

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da. Em programas de IRC, de audiofo-ne (como o Iphone), de videoconferên-cia, os alunos escrevem ou falam aovivo, com rapidez.

Outro resultado comum à maior partedos projetos na Internet confirma a ri-queza de interações que surgem, oscontatos virtuais, as amizades, as tro-cas constantes com outros colegas,tanto por parte de professores como dosalunos. Os contatos virtuais se trans-formam, quando é possível, em presen-ciais. A comunicação afetiva, a criaçãode amigos em diferentes países setransforma em um grande resultado in-dividual e coletivo dos projetos.

ALGUNS PROBLEMAS

Criam-se todos os dias mais de 140 milnovas páginas de informações e servi-ços na rede. Há informações demais econhecimento de menos no uso da In-ternet na educação. E há uma certaconfusão entre informação e conhe-cimento. Temos muitos dados, muitasinformações disponíveis. Na informação,organizamos os dados dentro de umalógica, de um código, de uma estruturadeterminada. Conhecer é integrar a in-formação no nosso referencial, no nos-so paradigma, apropriando-a, tornando-asignificativa para nós. O conhecimentonão se passa, o conhecimento se cria,constrói-se.

Há facilidade de dispersão. Muitosalunos se perdem no emaranhado depossibilidades de navegação. Não pro-curam o que está combinado, deixan-do-se arrastar para áreas de interessepessoal. É fácil perder tempo com in-formações pouco significativas, ficandona periferia dos assuntos, sem aprofun-dá-los, sem integrá-los em um paradig-ma consistente. Conhecer se dá ao fil-trar, selecionar, comparar, avaliar, sin-tetizar, contextualizar o que é mais re-levante, significativo.

Há informações que distraem, que pou-co acrescentam ao que já sabemos,mas que ocupam muito tempo de nave-gação. Perde-se muito tempo narede. Onde mais se percebe isso éao observar a variedade de listas de dis-cussão e newsgroups sobre qualquertipo de assunto banal. Mas, em contra-partida, a Internet espelha nessas lis-tas os desejos reais de cada um de nós,

sem termos o controle do Estado ou deoutras instituições, que, em outras mí-dias, sempre estão “orientando-nos”, ofe-recendo-nos os “melhores” produtoseconômicos e culturais.

Constato também a impaciência demuitos alunos por mudar de um en-dereço para outro. Essa impaciênciaos leva a aprofundar pouco as possibili-dades que há em cada página encon-trada. Os alunos, principalmente osmais jovens, “passeiam” pelas páginasda Internet, descobrindo muitas coisasinteressantes, enquanto deixam por afo-bação outras tantas, tão ou mais im-portantes, de lado.

É difícil avaliar rapidamente o valor decada página, porque há muita semelhan-ça estética na sua apresentação, hámuita cópia da forma e do conteúdo:copiam-se os mesmos sites, os mes-mos gráficos, animações, links.

Nem sempre é fácil conciliar os dife-rentes tempos dos alunos. Uns res-pondem imediatamente. Outros demo-ram mais, são mais lentos. A lentidãopode permitir maior aprofundamento. Napesquisa individual, esses ritmos dife-rentes podem ser respeitados. Nos pro-jetos de grupo, depende muito da formade coordenar e do respeito entre seusmembros.

A participação dos professores édesigual. Alguns se dedicam a domi-nar a Internet, a acompanhar e supervi-sionar os projetos. Outros, às vezes porestarem sobrecarregados, acompa-nham à distância o que os alunos fa-zem e vão ficando para trás no domíniodas ferramentas da Internet. Esses pro-fessores terminam pedindo aos alunosas informações essenciais. Em avalia-ções dos projetos educacionais que uti-lizam a Internet, há queixas de que mui-tos professores vão deixando de estaratentos aos projetos dos alunos, que nãose atualizam, não mexem no compu-tador e empregam mal o tempo de aulae de pesquisa.

Professores e alunos se relacionam coma Internet, como se relacionam com to-das as outras tecnologias. Se são curio-sos, descobrem inúmeras novidadesnela como em outras mídias. Se sãoacomodados, só falam dos problemasda lentidão, das dificuldades de cone-xão, do lixo inútil, de que nada muda.

INTEGRAR A INTERNET EM UM NOVOPARADIGMA EDUCACIONAL

Ensinar na e com a Internet atinge resul-tados significativos quando se está in-tegrado em um contexto estrutural demudança do processo de ensino-apren-dizagem, no qual professores e alunosvivenciam formas de comunicação aber-tas, de participação interpessoal e gru-pal efetivas. Caso contrário, a Internet seráuma tecnologia a mais, que reforçará asformas tradicionais de ensino. A Internetnão modifica, sozinha, o processo deensinar e aprender, mas a atitude básicapessoal e institucional diante da vida, domundo, de si mesmo e do outro.

A palavra-chave é integrar. Integrara Internet com as outras tecnologias naeducação – vídeo, televisão, jornal, compu-tador. Integrar o mais avançado com astécnicas convencionais, integrar o hu-mano e o tecnológico, dentro de umavisão pedagógica nova, criativa, aberta.

Há um pouco de confusão entre tecno-logias interativas – que permitem parti-cipação – e processos interativos. Umatecnologia pode ser profundamente in-terativa, como, por exemplo, o telefone,que permite o intercâmbio constanteentre quem fala e quem responde. Issonão significa que automaticamente acomunicação entre pessoas, pelo tele-fone, seja interativa no sentido profun-do. As pessoas podem manter formasde interação autoritárias, dependentes,contraditórias, abertas. O telefone faci-lita a troca, não a realiza sempre. Issodepende das pessoas envolvidas.

A mesma situação acontece com a In-ternet. Fala-se das inúmeras possibili-dades de interação, de troca, de pes-quisa. Elas existem. Mas, na prática,se uma escola mantém um projetoeducacional autoritário, controlador,a Internet não irá modificar o processojá instalado. A Internet será uma ferra-menta a mais que reforçará o autorita-rismo existente: a escola fará tudo paracontrolar o processo de pesquisa dosalunos, os resultados esperados, a for-ma impositiva de avaliação. Os alunos,eventualmente, ou alguns professorespoderão estabelecer formas de comuni-cação menos autoritárias, mas, paraisso, precisam contrariar a filosofia daescola, mudando-a por conta própria,sem o endosso institucional.

Como utilizar a Internet na educação

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Compreendo perfeitamente que a Inter-net é uma ferramenta fantástica parabuscar caminhos novos, para abrir aescola para o mundo, para trazer inú-meras formas de contato com as pes-soas. Mas essas possibilidades só seconcretizam, se, na prática, elas estãoatentas, preparadas, motivadas paraquerer saber, aprofundar, avançar napesquisa, na compreensão do mundo.Quem está acomodado em uma atitudesuperficial diante das coisas pesquisa-rá de forma superficial.

Vejo muitas pessoas adultas e jovensque se aborrecem com a Internet.Acham só problemas ao pesquisar. Re-clamam de que aparecem milhares desites, que em muitos só há propagan-da, que, com freqüência, os endereçosnão entram, que nunca acham o queprocuram e que o que encontram estáem inglês. Colocam desculpas para nãopesquisar mais, porque realmente paraelas pesquisar é um problema. Enquantoisso, ficam horas seguidas, provavel-mente, em programas de bate-papo, de“conversa” superficial, interminável epouco produtiva, para quem olha de fora.

José Manuel Moran

Doutor em comunicação pela Universidade deSão PauloProfessor de Novas Tecnologias no Curso deTelevisão da USP

E mail: [email protected]. Home Page sobreComunicação e Educação: http://www.eca.usp.br/eca/prof/moran/mor.htm ehttp://www.geocities.com/TelevisionCity/7815/index.html

Nossa mente é a melhor tecnologia,infinitamente superior em comple-xidade ao melhor computador, por-que pensa, relaciona, sente, intui epode surpreender. Faremos com astecnologias mais avançadas o mesmoque fazemos conosco, com os outros,com a vida. Se somos pessoas aber-tas, nós as utilizaremos para comu-nicar-nos mais, para interagir melhor.Se somos pessoas fechadas, descon-fiadas, utilizaremos as tecnologias deforma defensiva, superficial. Se somospessoas autoritárias, utilizaremos astecnologias para controlar, para aumen-tar o nosso poder. O poder de interaçãonão está fundamentalmente nas tecno-logias, mas nas nossas mentes.

Ensinar com a Internet será uma revolu-ção, se mudarmos simultaneamente osparadigmas do ensino. Caso contrário,servirá somente como um verniz, umpaliativo ou uma jogada de marketingpara dizer que o nosso ensino é moder-no e cobrar preços mais caros nas jásalgadas mensalidades. A profissãofundamental do presente e do futu-ro é educar para saber compreender,sentir, comunicar-se e agir melhor, in-tegrando a comunicação pessoal, acomunitária e a tecnológica.

How to use the Internet ineducation field

Abstract

Report and analysis of personal andinstitutional experiences that use Internet ineducation as research, support to teachingand as communication. This article evaluatethe advances and problems that are takingplace and shows that Internet has moreefficiency when is introduced with processesof teaching, learning and of communicationthat try to integrate the personal, social andtechnological dimensions.

Keywords

Internet; Education; Research;Communication.

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