CANDOMBLÉ/ INTOLERÊNCIA RELIGIOSA

Conhecer e retratar os cultos da religião do candomblé , visto de vários ângulos, das suas crenças à intolerâncias e preconceitos.

Para realização desta fotorreportagem, foi preciso uma intensa dedicação e respeito dos integrantes do grupo, para abordar o respectivo tema e diferentes formas de expressão religiosa. Visitamos o terreiro de Luis Carlos , Babalorixá, conhecido como Pai Lula , podemos apurar informações de como funciona o culto candomblecista.

Para explicar melhor sobre essa intolerância, entrevistamos o pastor Rooseveltt Alves, o sociologo Glauber Lemos, pessoas intolerantes com a religião e simpatizantes.

ORIGEM E SINCRETISMO RELIGIOSO NO BRASIL

Durante o processo de colonização os negros africanos tiveram sua mão de obra, cor, religião e crenças culturais explorada no limite da precariedade e intolerância. Os negros eram muito reprimidos em seus costumes, quando dançavam capoeira eram considerados marginais, então eles burlaram as ordens para não sofrer com a chibata dos feitores, dessa forma de disfarce o frevo e o maracatu começam a dar seus primeiros passos para a redução do sofrimento daqueles que não podiam esboçar suas vontades.

Da mesma forma nasceu o candomblé, naquela época à religião dominante no país era (e ainda é) o catolicismo , então os negros acharam uma forma de usar disfarces através dos santos da igreja para cultuar seus orixás. O sincretismo religioso é a proximidade ou relação dos orixás do candomblé com os santos da igreja católica.

QUAL SIGNIFICADO DOS TERMOS DO CANDOMBLÉ?

Orixás: ancestrais africanos divinizados que corresponde á elementos de força da natureza. Segundo o babalorixá, pai Lula, os orixás foram seres carnais e quando morreram foram divinizados pela natureza, cada orixá tem o seu sistema como os seres humanos, eles manifestam-se através de emoções. No Brasil existem 16 orixás.

Babalorixá: é o líder religioso, conhecido como Pai de Santo e dono de um terreiro

Iyalorixá: é seu equivalente feminino, conhecida como Mãe de Santo. Filho de Santo: é toda pessoa que tem o compromisso com um orixá e

com a religião do candomblé, que tem um único pai ou mãe de santo, pode considerar-se filho da casa passando a frequentar o terreiro.

Qual processo para se tornar um Pai/Mãe de santo? Segundo Pai Lula, primeiro a pessoa descobre qual seu orixá através dos búzios, e no período de sete anos a pessoa vai aprender tudo sobre o candomblé, depois desse período existe uma cerimônia onde o pai ou mãe de santo mostra ao filho tudo aquilo que ele recebeu, dando o direito de exercer a função de líder religioso e abrir uma casa de santo.

CENSO DO IBGE 2010

- Católica Apostólica Romana: 64,6% - Evangélicas: 22,2% - Espírita: 2% - Umbanda e Candomblé: 0,3% - Sem religião 8% - Outras religiosidades: 2,7% - Não sabe / não declarou: 0,1% Ainda hoje o candomblé é pouco cultuado pois tem uma

porcentagem inferior de freqüentadores se comparado com as religiões dominantes no Brasil, (Catolicismo e Protestantismo). E devido a isso e o preconceito racial existe uma descriminação por serem minoria.

Você sabia? Entre os dias 1 e 7 de fevereiro é comemorada a Semana

Mundial da Harmonia entre as Religiões.

FOTORREPORTAGEM

DIVERSIDADES E PRECONCEITOS

Os firmamentos históricos, sociais e culturais possuem raízes profundas no Brasil, Da mesma forma a religião é motivo para discussões intensivas, comparando-se à futebol e política, e na maioria das vezes sem chegar a decisões concretas.O ser humano que se diz avançado, inteligente e sábio, muitas vezes torna-se ignorante, pois quase sempre não aceita pontos de vista diferentes.

Recepção de Luíz Carlos em seu terreiro, localizado em Recife no bairro da Iputinga, fundado em 3 de outubro de 1969. Conhecido como Pai Lula, é babalorixá há 47 anos e tem filhos de Santo no Brasil todo, em Portugal e na Espanha

Fachada do Salão no terreiro de Pai Lula, onde ocorrem as cerimônias e rituais candomblecistas

“Candomblé é uma religião ou ceita que cuida dos orixás. No Brasil é muito rico em folclore e é divulgado desde quando os africanos vieram para cá. Eu acho muito errado quando os pais que são de alguma religião, querem que o filho siga a qualquer custo essa religião. Tem que ser uma escolha. Eu escolhi ser do candomblé e até hoje eu to feliz.” Assim, Pai Lula conceitua sua religiosidade

O salão em que acontecem as cerimônias possui no centro um altar com o quadro de Iansã (regente da casa). A ornamentação é feita com imagens de orixás e objetos utilizados nos cultos candomblecistas

Os atabaques são utilizados nos rituais do candomblé para chamar os orixás e as entidades à participar da cerimônia

Pai Lula com as vestimentas do candomblé, quando tinha 31 anos

Sobre as religiões predominantes no Brasil (catolicismo e protestantismo), o babalorixá diz que é legal divulgar o nome de Deus para um mundo que está cada vez mais cruel. Sobre a intolerância religiosa, especificamente dos evangélicos, ele defende sua religião e diz: “Nós somos como se fosse o marketing deles!”

“Minha religião é católica, mas é horroroso o preconceito contra o candomblé. Eu digo de peito aberto que tenho Jesus, minha religião é Jesus e onde tem o nome dele eu to entrando! Eu acho legal o candomblé, porque a pessoa sabendo levar certo é bom e não incomoda ninguém” Maria Gomes da Silva, 77 anos, vizinha do terreiro de Pai Lula

Pastor Rossevelt Alves, integrante da mesa diretora dos membros da Assembléia de Deus de Abreu e Lima. Com 26 anos de pastorado, afirma que as pessoas não devem ter confusão religiosa, e sim explicação, onde ele tem que passar sua inteligência e o que aprendeu. Sua vida é pregar o evangelho

“Quando a pessoa deixa de ser evangélico e vai para o candomblé comete um pecado, ela está contestando a fé, negativando a morte de cristo na cruz do calvário e dando total veracidade a satanás, porque o candomblé nada mais é do que uma religião maquiada e introduzida pelo satanás” Diz Pastor Rossevelt

Culto evangélico da Igreja Assembléia de Deus. Os evangélicos não aceitam dentro de sua religiosidade adoração de imagens como no catolicismo e candomblé

“Eu tenho 63 anos de evangelho, e ele é a salvação , não existe coisa melhor na vida do que ser evangélica e ser salva por Jesus. Minha mãe vivia no espiritismo mas eu não me sentia bem. Não me considero preconceituosa cada um procura seus caminhos e o caminho certo é o de Jesus, todo mundo sabe o que é certo e é errado” Izabel Gomes de Oliveira, 75 anos, moradora da Cidade Tabajara

Em entrevista com o sociólogo Glauber Lemos, ele afirma: “Recentemente a gente tem notado alguns atos violentos direcionados especificamente as religiões afro no Brasil. Que tem sido majoritariamente perpetrados por grupos religiosos associados a tendências neopentecostais, discursos de demonização das religiosidades afros, são feitos principalmente pelos líderes dessas tendências”

“Os chamados discursos de ódio têm motivado muitas dessas ações violentas, conflitos religiosos de fato entre diferentes perspectivas teológicas.” Conclui o Sociólogo

SOFRIMENTO DOS OPRIMIDOS

Muitas pessoas por medo de discriminações e por sofrer a chamada intolerância religiosa, preferem omitir a sua verdadeira opção religiosa para se resguardar contra atos preconceituosos que possam vir a sofrer. Sendo assim, acredita-se que muitos adeptos a religião do Candomblé estão escondidos entre estas outras milhares de pessoas que não se assumem como sendo desta denominação. Omissos, por medo da chamada Intolerância Religiosa, vivem as margens de uma sociedade ainda marcada por muitos preconceitos e desinformação.

- VOCÊ QUER RESPEITO? ENTÃO O QUE FAZER PARA SER RESPEITADO?