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CAROLINA OLIVEIRA PORTI FOLIO

Portifolio Carolina Oliveira

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Contos escritos por Ana Carolina Oliveira reunidos num portifolio de redação.

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Page 1: Portifolio Carolina Oliveira

CAROLINAOLIVEIRA

PORTIFOLIO

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PORTIFOLIO

(Carolina pensou em fazer direito e acabou fazendo tudo errado. Depois de viajar por jornalismo, publicidade e produção de eventos, pegou um outro vôo e embarcou para a europa, onde viveu por três anos germânicos, sem

coxinha, nem guaraná.De lá para cá, ela aprendeu o que as línguas têm em comum e o que e as

pessoas têm de particular. Nos últimos anos, ela carimbou passaportes, deu aulas, estudou numa escola de alemão, passou muitas horas na frente da TV

e outras tantas à frente do computador, aprendendo sobre o mundo e matando a saudade do Brasil.

Agora, que já voltou a falar português na fila do pão ou no caixa de su-permercado, Carolina espera escrever o suficiente para compensar o tempo

em que tinha que terminar seus textos com auf wiedersehen.)

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numa dessas conversas "lisérgicas" com Margarida, me pronun-ciei sobre a construção de diálogos íntimos, pessoais, e porque não dizer nominais. Auto-pertencimento.Tudo bem, profissionalizo-me em " enchimento-linguicês" com louvor.Enfim, num desses diálogos

- Acho que sofrem de labirintite.- Quem?- Os diálogos.- Hein

Cesso. Juro que não quero denunciar os diálogos.. eles são só meus... e deles, claro.

Uma justificativa pros diálogos bêbedos, por favor- 2,50 R$ moça.

discurso

03. PORTIFOLIOCAROLINA

bêbado

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bate a porta. Somos dois agora. 20 minutos de conversa despretenciosa...

- Bonita tua blusa- Ah, é nova...- Hum...- E esse cheiro? Perfume novo?- Não, nem... resgatei um perfume esquecido.

(Não tinha essa tensão, nem essa rigidez que reproduzo agora. Desculpe-me caro leitor, na verdade reproduzo mal os fatos. Imagine alguns risos brandos distribuídos entre as frases, algumas piadinhas salpicadas de cominho, ou qualquer outra especiaria de leve ardor. Acomode-se ,estique as pernas no banco traseiro se preferir, mastigue vagarosamente a pipoca para que ela não atrapalhe o diálogo dos personagens. Agora retornamos à cena. )

- Tá usando batom?- ??...Tô! Eu uso às vezes...- Nunca tinha visto...

Mais alguns 10 minutos de perguntas levi-anas, risos folgados, e muitas, várias, diversas piadinhas de pimenta.

Play no cd. Aquele...o nosso... de sempre...

Há um certo desconcerto nos gestos nossos.Alavanco um beijo que veio com atraso de 40 minutos.Abrimos los ojos.

Era adeus disfarçado.

a cor do

04. PORTIFOLIOCAROLINA

vazio

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ontem, em mais um trivial bate-papo de es-barrão de esquina, você me pergunta da vida, do trabalho dos meninos...

- Porra Mariana não é possível que vc não viva nada! Não sinta nada ! Não goste de ninguém! Pare de ser superficial comigo!

Foi dessa forma que me vi obrigada a remexer os meus arquivos bolorentos, as imagens em preto e branco(você sabe... quando a gente revê uma coisa que viveu ,ela vem em preto e branco), e os diálogos...talvez os diálogos me rasguem mais do que qualquer outra coisa...

- Você quer cessar as banalidades? Então ces-semos ...Falei do Zé, do começo, meio e fim de relacio-namento. Falei do filho perdido (é, eu já perdi um filho do Zé, perdi, ou ele se perdeu... sei que nossas mãos se descolaram). Falei de traição e de dor. Falei de desamor e de

como ele estragou tudo(porque na nossas histórias só o outro estraga tudo)

- Meu Deus, não acredito...- é, ele estragou tudo. Ele quis assim...

Ela ouvia atentamente a tudo, e nunca mais eu tinha sentido tanta comunhão. Quase como na Santa Missa que Pe. Juca celebra aos domin-gos. Só que sem Ave Maria no final.Falei dos sonhos dissolvidos . Falava e lem-brava dele chorando em preto e branco. Aper-tando meus dedos e dizendo pra não fazer daquela forma.

"- Você tem em você o melhor e o pior indivíduo que alguém possa desejar."

Ela enxugou os olhos, sorriu torto, numa tenta-tiva de demonstrar candura. Pediu desculpas por mexer em lembranças tão confusas. Re-spondi que já nem doem mais.- Mas faz tão pouco tempo...- Eu sei, mas nem doem mais.

Ela catou sua bolsa de feira e seus habituais chinelos de f lor, me deu um abraço...- Agora eu gosto ainda mais de você.

05. PORTIFOLIOCAROLINA

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cantarola ladeira abaixo: " love is not holding hands, love is not holding hands"novo sucesso hit anos 70

Bilhetes comprados, filminho bacana do Viní-cius em tela grande, engolindo a gente com a poesia imoral que salivava daquele lábio antigo. Antiquado, nunca.

Pego na mão sua no escuro. Não porque é mais romântico assim, nem porque é dessa forma que os casais fazem. Nenhum tipo de código que traduza amor.Peguei tua mão porque tive um medo incomum de me perder naquele vazio escuro todo.E se eu me perdesse, voasse da cadeira, do cinema, do planeta, da sua vida?

E se no próximo tic-tac eu esquecesse como é que faz pra ser amor? Tic-tac tic-tac tic-tacé agora? acho que agora.... agora?

Tive inveja daqueles casais azuis que mascavam seus chicletes , abocanhavam seus chocolates, e mastigavam aquelas línguas de par.Tive inveja dos imorais.Tive saudade do gosto de sangue fervente que dava quando você era intolerante à minha ignorância.

Ah, o que foi que eu fiz? What have I done?

Eu tive raiva das moças feias, que tinham vida sexual mais animada que a nossa. Que a minha.Lembra? Eu nem lembro mais que barulho você faz.

Soltei tua mão, no cinema ainda, olhei pras suas linhas de rosto no escuro...Dei meus passos espaçados.

Love is not holding hands, love is not holding hands

06. PORTIFOLIOCAROLINA

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rosa nasceu de um anúncio na sessão de encontros românticos e ofertas eróticas de um jornal semanal. Moça comum de gestos comuns. Olhos assimétricos, é verdade. Mas nao há nada de inco-mum nisto. Incomum mesmo era aquela pretura toda que ela tinha na retina.Nunca me encantaram os verdes, castanhos, azuis... já os pretos carregam esse tom de mistério. De carvão ameaçando fogueirar.

mas olhos pretos são tão...lugar comum!

Lugar comum?Ah, eu habitaria feliz este lugar comum. Sem varanda ou piscina. Sem conforto, banheira ou balanço.Viveria tranquilo entre a íris ou a córnea de Rosa. Passeando por cada filme, foto ou memória que ela visse. Deslizando olho aden-tro nos dias de êxtase e me dependurando em seus cílios em dias de choro.Cada noite de sono seria uma gestação. Eu feto e Rosa mãe com sua placenta ocular. E cada manhã nascer. Sem cerimônia ou batismo, nascer pra ela.

aluga-se

07. PORTIFOLIOCAROLINA

vende-se

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tereza adorava Carnaval. Guardava as economias pra fazer aquela viagem sofrida num chacoalhar de ônibus onde o cinto(de segurança) era o Santo(PadimPadiCísso). Nao sei se era a excitação de virar outra pessoa, de mascarar aquela vida lascada que leva(ela e nós), ou de arrumar um amor de Carna-val. Não sei mesmo. Só Tereza que sabe. E vai guardando todo ano esse segredo e desejando que um dia, todo dia seja carnaval.

"A gente tá querendo a vida boa. Boa como a vida de outras pessoas. Outras pessoas também querem uma vida boa. Boa como a vida de outras pessoas."

a sociedade

08. PORTIFOLIOCAROLINA

secreta de tereza

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