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Turma e Ano: Master A (2015) – 02/03/2015 Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 04 Professor: Edward Carlyle Silva Monitor: Alexandre Paiol AU LA 04 CONTEÚDO DA AULA: Processo: natureza jurídica, conceito, sujeitos do processo e finalidades. PROCESSO 1) Natureza Jurídica A Natureza jurídica do processo é objeto de extrema celeuma tanto no Brasil quanto no exterior. As primeiras teorias são as teorias que afirmam que o processo teria natureza jurídica de direito privado. Então um primeiro grupo de teorias defendem a natureza jurídica do processo como possuindo natureza de direito privado. Então para esse primeiro grupo de teorias o processo teria natureza jurídica de direito privado. Hoje em dia todas essas teorias estão totalmente em desuso (já ultrapassadas), é mais por uma questão histórica que eu vou fazer menção a elas. 1.1) Teoria Contratualista: Origem no direito romano. O processo era basicamente um contrato realizado entre as partes e o pretor no sentido de obedecer a futura decisão proferida pelo árbitro, que poderia decidir como bem entendesse, não se vinculando ao pedido formulado. 1.2) Teoria Quase Contrato: Aqui eles começaram a perceber que não era propriamente um contrato, aqui eles não sabiam enquadrar o processo Para que um contrato seja realizado as partes devem se manifestar para sua realização, nessa fórmula estabelecida pelo pretor as partes não se manifestavam, as partes simplesmente aquiesciam ao que o pretor afirmava, ao que o pretor havia estabelecido. Então, já se defendia posteriormente que o processo não era um contrato, o problema é que como ele não era um contrato pelo fato de não existir manifestação de vontade das partes no caso e ele também não era um ilícito, também não era um crime porque ele não se enquadrava como tal, os romanos não sabiam exatamente qual a categoria jurídica da qual o processo participava.

: Processo: natureza jurídica, conceito, sujeitos do ... · sujeitos do processo e por fim as partes, sendo sujeitos do processo. 2.1) Juiz Quando o juiz ele é compreendido com

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  • Turma e Ano: Master A (2015) – 02/03/2015

    Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 04

    Professor: Edward Carlyle Silva

    Monitor: Alexandre Paiol 

    AULA 04CONTEÚDO  DA  AULA:  Processo:  natureza  jurídica,  conceito,  sujeitos  do  processo  e finalidades. 

    PROCESSO

    1) Natureza Jurídica

    A Natureza  jurídica  do  processo  é  objeto  de  extrema  celeuma  tanto  no  Brasil 

    quanto  no  exterior.  As  primeiras  teorias  são  as  teorias  que  afirmam  que  o  processo  teria 

    natureza  jurídica  de  direito  privado.  Então  um  primeiro  grupo  de  teorias  defendem  a natureza  jurídica  do  processo  como  possuindo  natureza  de  direito  privado.  Então  para  esse 

    primeiro  grupo  de  teorias  o  processo  teria  natureza  jurídica  de  direito  privado.  Hoje  em  dia 

    todas essas teorias estão totalmente em desuso (já ultrapassadas), é mais por uma questão histórica que eu vou fazer menção a elas. 

    1.1) Teoria Contratualista:

    Origem no  direito  romano. O  processo  era  basicamente  um  contrato  realizado 

    entre as partes e o pretor no sentido de obedecer a futura decisão proferida pelo árbitro, que 

    poderia decidir como bem entendesse, não se vinculando ao pedido formulado. 

    1.2) Teoria Quase Contrato:

    Aqui  eles  começaram a  perceber  que  não  era  propriamente  um  contrato,  aqui 

    eles não sabiam enquadrar o processo

    Para  que  um  contrato  seja  realizado  as  partes  devem  se manifestar  para  sua 

    realização, nessa  fórmula estabelecida pelo pretor as partes não se manifestavam, as partes 

    simplesmente aquiesciam ao que o pretor afirmava, ao que o pretor  havia estabelecido. Então, 

    já se defendia posteriormente que o processo não era um contrato, o problema é que como ele 

    não era um contrato pelo fato de não existir manifestação de vontade das partes no caso e ele 

    também não era um ilícito, também não era um crime porque ele não se enquadrava como tal, 

    os romanos não sabiam exatamente qual a categoria  jurídica da qual o processo participava. 

  • Como não era um contrato, como não era um crime, eles não sabiam como enquadrálo, surgiu 

    então a teoria do quase contrato.

    1.3) Teoria Imanentista:

    O processo é o instrumento através do qual a relação jurídica de direito material 

    reage a uma violação. A ação se exterioriza através do processo. 

    Com o passar do tempo caiuse em desuso tanto uma teoria quanto a outra pela 

    falta de uma argumentação melhor a esse respeito. A teoria mais próxima dos dias atuais é a 

    teoria  dos  praxistas  ou  dos  imamentistas  que  é  justamente  aquela  época  em  que  o  direito 

    processual civil não era uma ciência autônoma, não era uma ciência independente, e de novo 

    vem a lume a ideia de que o processo não tem vida própria. Na verdade o processo nada mais 

    é do que o próprio direito material reagindo a uma violação. O direito material quando reage a 

    uma violação, o instrumento através do qual ele reage é o processo. Então o direito material ao 

    reagir uma violação acarretaria uma violação de um processo. Todas essas teorias atualmente 

    estão em franco desuso, totalmente desatualizadas em nosso contexto porque hoje em dia não 

    se  discute  mais  quanto  a  isso,  é  defendia  por  toda  a  doutrina  e  jurisprudência  quando 

    menciona esse assunto, o processo possui natureza jurídica de direito público.

    Como surgiu essa posição? A primeira  teoria que defendeu a natureza pública 

    do processo foi uma teoria chamada teoria da relação jurídica processual, que foi mencionada 

    pela primeira vez em um livro de um autor chamado Oscar Von Bulow, em 1868. Ele publicou 

    um  livro  que  normalmente  é  traduzido  como  Teoria  das  exceções  e  dos  pressupostos 

    processuais. Nesse  livro  teoria  das  exceções  e  dos  pressupostos  processuais,  o Oscar Von 

    Bulow  pela  primeira  vez  defende  a  natureza  de  direito  publico  do  processo.  Segundo  ele,  o 

    processo  é  uma  relação  jurídica  intersubjetiva  de  direito  público,  mas  essa  relação 

    intersubjetiva  de direito  público  tem os  seus próprios  sujeitos. Alem disso ela  possuiria  seus 

    próprios  requisitos  que  hoje  em  dia  nós  conhecemos  com  o  nome  de  pressupostos 

    processuais. Além disso, relação jurídica intersubjetiva de direito público denominada processo 

    teria um conteúdo próprio. Esse conteúdo seria o que nós conhecemos hoje em dia, e que foi 

    mencionado naquela época pelo Oscar, seria exatamente a relação jurídica de direito material 

    apresentada ao juiz para solução. A relação jurídica de direito material que o autor  levava ao 

    juiz  para  decisão  seria  o  conteúdo  do  processo.  O  processo  teria  como  única  finalidade 

    solucionar essa relação jurídica de direito material que o autor havia levado ao Estado juiz para 

    julgamento. 

  • Teorias com natureza jurídica de direito público.

    1.4) Teoria da Relação Jurídica Processual Imanentista: (Oskar Von Bullow  "Teoria das Exceções e dos Pressupostos Processuais" 1886): 

    O  processo  é  uma  relação  jurídica  totalmente  distinta  do  direito  material, 

    possuindo características próprias: 

    • Partes  partes, auxiliares da justiça e juiz 

    • Requisitos  pressupostos processuais 

    • Conteúdo  "res in judicium deducta" = relação jurídica de direito material deduzida em juízo. 

    Portanto,  segundo  a  Teoria  da  Relação  Jurídica  Processual,  o  processo  é 

    uma  relação  intersubjetiva  de  direito  público,  possuindo  as  suas  próprias  partes  e 

    requisitos, cujo objetivo é decidir da relação jurídica de direito material deduzida em juízo. 

    A Teoria da Relação Jurídica Processual é majoritária em nosso ordenamento  Humberto Theodoro Jr., Vicente Greco Filho, Araken de Assis. 

    1.5) Teoria da Categoria Jurídica Autônoma

    O processo não se enquadra em nenhuma categoria jurídica conhecida, razão 

    pela qual constituiria uma categoria jurídica autônoma. (Alexandre Câmara, Afrânio Silva 

    Jardim)

    1.6) Teoria do Procedimento em Contraditório (Elio Fazzalari)

    É muito adotada em MG (autor Aroldo Plínio Gonçalves) No direito italiano os 

    procedimento  (atos  voltados  para  um  determinado  fim)  é  gênero,  possuindo  espécies: 

    procedimento  executivo  ou  administrativo,  legislativo  e  judicial.  No  direito  italiano,  o 

    procedimento judicial teria uma característica própria: sempre realizado em contraditório (o 

    que  não  ocorria  no  procedimento  executivo  nem  legislativo).  Por  isso,  o  procedimento 

    realizado em contraditório é denominado de "processo". 

    1.7) Teoria da Entidade Complexa   Dinamarco (mais moderna)

    O processo deve ser visualizado sob 2 aspectos diferentes: 

    • Aspecto externo  procedimento em contraditório. 

  • •  Aspecto  interno    animado  pela  relação  jurídica  processual    relação intersubjetiva de direito público, com as suas próprias partes, requisitos e conteúdo. 

    O conceito de processo é baseado na Teoria da Entidade Complexa: Processo é o procedimento em contraditório animado pela relação jurídica processual. 

    Obs:  Alexandre  Câmara,  embora  adote  a  Teoria  da  Categoria  Jurídica Autônoma, utiliza este conceito. 

    1) Conceito do processo

    1.1) para teoria moderna

    Então  na  verdade  o  processo  é  o  procedimento  em  contraditório animado pela relação jurídica processual. O aspecto interno é essa relação jurídica processual,  totalmente  independente da relação jurídica de direito material que lhe foi 

    levado  para  julgamento.  Então  no  fundo,  o  processo  nada  mais  é  do  que  o 

    procedimento  em  contraditório  animado  pela  relação  jurídica  processual.  E  é 

    exatamente isso que o Dinamarco defende como sendo o conceito de processo.1.2) para teoria clássica

    É a busca da composição da LIDE através de uma relação jurídica intersubjetiva 

    de direito público

    2) Sujeitos do processo

    • Juiz

    • Auxiliares da Justiça

    • Partes

    Quais  são  os  sujeitos  do  processo?  Se  o  processo  é  uma  relação  jurídica 

    intersubjetiva  de  direito  público,  o  que  possui  seus  próprios  sujeitos,  isso  significa  que  os 

    sujeitos dos processos são diferentes dos sujeitos da relação jurídica de direito material. 

    Quais  são  enfim  os  sujeitos  do  processo  e  o  que  eles  se  diferem  da  relação 

    jurídica intersubjetiva de direito público? Os sujeitos da relação jurídica de direito são as partes, 

    mas  no  processo  você  tem  o  juiz  sendo  sujeito  do  processo,  os  auxiliares  da  justiça  sendo 

    sujeitos do processo e por fim as partes, sendo sujeitos do processo.

    2.1) Juiz

  • Quando o juiz ele é compreendido com sendo sujeito do processo, quais são os 

    seus  deveres,  e  quais  são  os  seus  poderes?  Os  deveres  do  juiz  normalmente  são 

    mencionados  como  sendo  o  de  garantir  o  contraditório  e  de  sentenciar  (supremacia  e 

    equidistância  das  partes).  Então  seriam  basicamente  dois  os  deveres  do  juiz.  A  palavra 

    sentenciar  aí,  segundo  alguns  pode  ter  a  natureza  de  decisão,  pode  ser  uma  decisão  de 

    antecipação de tutela, decidir um pedido de cautelar, uma liminar no mandado de segurança. 

    Pode  ser  julgar  a  sentença,  pode  ser  acórdão,  pode  ser  decisão monocrática,  é  no  sentido 

    amplo.

    Quais  seriam os  poderes  do  juiz? Os  poderes  do  juiz  seriam de  duas  ordens, 

    poderes administrativos e poderes jurisdicionais.

    Os poderes administrativos são aqueles que o juiz realiza com base no poder de 

    polícia. Quando ele manda  retirar uma  testemunha na sala de audiência, quando ele manda 

    retirar alguém que está tumultuando o andamento da audiência, quando ele determina atos que 

    devam ser praticados administrativamente pelo cartório, quando expede alguma notificação de 

    afastamento de algum funcionário, ele pratica poderes administrativos com base no poder de 

    polícia no qual está investido. São poderes administrativos, não são poderes jurisdicionais. 

    Poderes  jurisdicionais  por  sua  vez  se  subdividem em poderes meio e poderes 

    fim.

    Os poderes meio abrange os atos ordinatórios e os atos instrutórios. Os poderes 

    fins abrange os atos decisórios e os atos executórios.

    Então vamos lá, poderes meio abrange atos ordinatórios que são atos de mero 

    andamento  processual,  são  atos  que  são  praticados  para  que  o  processo  siga  sempre  em 

    frente, não possuem caráter decisório, são apenas atos de andamento processual.

    2.2) Auxiliares da Justiça

    Os auxiliares da justiça são todos aquele que de alguma forma auxiliam o juiz na 

    prestação  da  atividade  jurisdicional. Os  auxiliares  da  justiça  se  subdividem  em  auxiliares  da 

    justiça permanentes e auxiliares da justiça eventuais.

    Os  auxiliares  da  justiça  permanentes  são  aqueles  que  cotidianamente, 

    diariamente  auxiliam o  juiz  na  prestação  da  atividade  jurisdicional.  Então  no  âmbito  da  JF  é 

    diretor de secretaria, oficial de gabinete. No âmbito estadual, é o escrivão, é o assessor do juiz 

  • estadual,  são  aquelas  pessoas  que  cotidianamente  estão  ao  lado  do  juiz  para  auxiliálo  a 

    prestar atividade jurisdicional.

    Outros auxiliares da justiça são chamados de eventuais, porque como o próprio 

    nome  diz,  eles  eventualmente,  esporadicamente  auxiliam  o  juiz  na  prestação  da  atividade 

    jurisdicional,  é  o  caso  do  perito,  é  caso  do  tradutor,  é  caso  do  interprete.  São  aqueles sujeitos que em ou outro processo auxiliam o juiz na prestação da atividade jurisdicional, daí o 

    nome auxiliares da justiça eventuais.

    2.3) Partes

    O conceito de parte é puramente processual: "Parte é quem figura em um dos polos da relação processual". 

    O principal sujeitos do processo são as partes. Segundo Dinamarco, são quatro 

    as maneiras, as formas pelas quais é possível adquirir a qualidade de parte. Você pode adquirir 

    a  qualidade  de  parte  em  primeiro  lugar  ajuizando  uma  demanda,  parte  autora.  Em  segundo 

    lugar, você pode adquirir sendo demandado, você vai passar a ser a parte ré. A terceira forma 

    é através da sucessão processual, que pode ser  inter vivos ou mortis causa,  tanto  faz,  tanto 

    num caso como outro você passa a adquirir  a qualidade de parte. E a ultima através qual é 

    possível adquirir a qualidade de parte é através da chamada intervenção de terceiros, até esse 

    o  momento  você  era  considerado  um  terceiro  porque  você  não  era  parte,  às  vezes  parte 

    principal, às vezes parte secundaria ou acessória. Fato é que as partes possuem deveres, e 

    estes  deveres  estão  mencionados  no  art.  14  do  CPC,  na  redação  do  capitulo,  Capítulo 

    segundo fala em deveres das partes e dos seus procuradores.

    Art.  14.  São  deveres  das  partes  e  de  todos  aqueles  que  de qualquer  forma  participam  do  processo:  (Redação  dada  pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001)I  expor os fatos em juízo conforme a verdade;II  proceder com lealdade e boafé;III    não  formular  pretensões,  nem  alegar  defesa,  cientes  de que são destituídas de fundamento;IV    não  produzir  provas,  nem  praticar  atos  inúteis  ou desnecessários à declaração ou defesa do direito.V  cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar  embaraços  à  efetivação  de  provimentos  judiciais,  de natureza antecipatória ou  final.(Incluído pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001)  –  o  descumprimento  desse  artigo  cria  o  ato atentatório  ao  exercício  da  jurisdição  –  o  NCPC  vai  falar expressamente.Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em 

  • montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não  superior  a  vinte  por  cento  do  valor  da  causa;  não  sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão  final  da  causa,  a  multa  será  inscrita  sempre  como dívida ativa da União ou do Estado

    Este dispositivo não abrange os advogados, tendo em vista que estes se sujeitam ao Estatuto da OAB. A ADI 2.6526 estendeu a interpretação do art. 14, parágrafo 

    único para os advogados públicos, que também não se sujeitam ao ato atentatório ao exercício da jurisdição. 

    Os juízes e membros do Ministério Público se submetem aos atos atentatórios ao exercício da jurisdição? 

    Não.  O  juiz  responderá  administrativamente  perante  a  Corregedoria,  não 

    podendo  lhe  ser  imposta  multa  por  descumprimento  de  ordem  judicial.  Além  disso,  o 

    membro do Ministério Público também não responderá por ato atentatório ao exercício da 

    jurisdição. 

    A fazenda pode ser condenada ao pagamento dessa multa? Essa multa do art. 14, inciso V e seu parágrafo único pode ser imposta a fazenda? 

    Hoje em dia você encontra na doutrina e na  jurisprudência quatro correntes de 

    pensamento. 

    A  primeira  corrente  defende  que  a  multa  não  pode  ser  imposta  a  fazenda 

    pública.  É  a  posição  do  Leonardo  José  Carneiro  da  Cunha,  em  Pernambuco,  José  Rogério 

    Rodrigues  Tuti,  em SP,  segundo  os  autores  a  fazenda  pública  não  pode  ser  condenada  ao 

    pagamento  dessa  multa  porque  se  vocês  derem  uma  olhada  no  final  do  parágrafo  único, 

    contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será  inscrita sempre como 

    dívida ativa da União ou do Estado, então segundo os adeptos dessa segunda corrente, se a 

    multa será  revertida em dívida ativa da união ou do Estado; a união ou o Estado acabariam 

    tornando  credores  deles  mesmos,  seria  uma  hipótese  de  confusão.  Diante  disso  para  a 

    primeira corrente não pode ser imposta multa a fazenda.

    Para uma segunda corrente de pensamento a multa deve ser imposta a pessoa 

    física do procurador que  representa a  fazenda, a multa não seria  imposta a  fazenda pública 

    propriamente  dita,  mas  a  pessoa  do  procurador  ou  até  mesmo  do  funcionário  que  não 

    cumprisse com exatidão a decisão judicial. Posição do Juvêncio Vasconcelos Viana, Ceará. Na 

    jurisprudência  não  é  uma  posição  adotada,  porque  por  vezes  os  procuradores  não  tem 

    independência suficiente para se manifestarem contrário aos interesses da fazenda e isso pode 

    lhe acarretar responsabilidade pessoal.

  • Uma terceira posição do Alexandre Camara que defende o cabimento da multa 

    em  relação  a  fazenda, mas  o  valor  da multa  deveria  ser  revertido  para  um  fundo  do  poder 

    judiciário, tal como existe no EUA. Cabimento da multa contra a fazenda é até compreensível, 

    agora a sua reversão para um fundo do poder judiciário não pode ser admitido porque a própria 

    lei estabelece que multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado. Então 

    essa terceira corrente começa bem, mas no final tem o problema dela estar em desacordo com 

    a letra da lei.

    Quarta  corrente  é  do  Dinamarco,  defende  em  primeiro  lugar  que  cabe  a 

    imposição  da  multa  contra  a  fazenda  pública.  E  para  fugir  do  problema  da  confusão,  da 

    fazenda  pública  se  tornar  credora  dela mesma, Dinamarco  propõe  o  seguinte,  digamos  que 

    você tem uma demanda tramitando na 10ª vara  federal do RJ, digamos que a demanda seja 

    entre  uma  empresa  qualquer  e  a  união  e  digamos  que  a  multa  seja  imposta  em  relação  a 

    conduta da união. A união está criando embaraços a efetivação de provimentos jurisdicionais, 

    então a união sofre a  imposição da multa. Ora, se a demanda está  tramitando na JF do RJ, 

    isso significa que sendo imposta multa a união se ela não pagar, pela lógica ela seria inscrita 

    em divida ativa da união, só que Dinamarco propõe o seguinte se foi a união que pagar multa 

    isso vai causar confusão, então você precisaria verificar qual é o estado da federação em que a 

    demanda  está  tramitando,  porque  condenada  a  união  a  pagar  o  valor  da  multa,  ela  seria 

    inscrita em dívida ativa do Estado do RJ, do Estado por onde a demanda estava tramitando. E 

    a  mesma  regra  é  aplicada  ao  inverso  ou  seja,  digamos  que  você  tenha  uma  demanda 

    tramitando  na  2ª  vara  cível  do RJ,  ou  4ª  vara  de  fazenda  pública  do  TJ,  então  você  tem  lá 

    empresa y x Estado do RJ. O Estado do RJ é condenado a pagar uma multa por ato atentatório 

    ao exercício da jurisdição, o Estado é condenado você nem perde tempo reverte em favor da 

    união. Então qualquer Estado da federação foi condenado ao pagamento da multa, reverteria 

    em favor da união. Na doutrina essa é uma posição mais simpática para solucionar o problema, 

    só  que  na  jurisprudência  isso  não  chega  a  ser  solucionado  porque  essas  multas  não  são 

    impostas, e quando elas são  impostas volta e meia os  tribunais a  revogam. Acaba que você 

    não tem a solução pratica do problema, só tem a solução teórica.

    Cumulação de multas:

    • Natureza da multa  punitiva ou coercitiva. 

    • Beneficiário da multa  Estado ou parte contrária. 

  • Destacase ainda a possibilidade de imposição de outras multas  litigância de 

    má fé, embargos declaratórios protelatórios, descumprimento de ordem judicial  art. 461 CPC. 

    A cumulação de multas depende da verificação de dois aspectos: 

    Multa do art. 461, §4º CPC  natureza coercitiva / beneficiário: parte contrária 

    ambos os aspectos são distintos, podendo ser cumulada com a multa do ato atentatório ao 

    exercício da jurisdição. 

    Multa por litigância de má fé  Art. 18 CPC = natureza punitiva / beneficiário: 

    parte  contrária  Pode  ser  cumulada  com  a  multa  do  ato  atentatório  ao  exercício  da 

    jurisdição (beneficiários diferentes) 

    Multa  do  art.  538,  parágrafo  único  do  CPC    embargos  de  declaração 

    protelatórios = natureza punitiva  / beneficiário: parte contrária  Pode ser  cumulada com a 

    multa do ato atentatório ao exercício da jurisdição (beneficiários diferentes). Por outro lado, em 

    relação  à  multa  por  litigância  de  má  fé,  os  dois  aspectos  são  comuns,  o  que  impede  a 

    cumulação das multas, aplicandose o Princípio da Especialidade, prevalecendo a multa do art. 

    538, p. único do CPC em detrimento da multa por litigância de má fé. 

    Tomem  cuidado  também  com  o  seguinte,  é  muito  comum  em  concurso  a 

    indagação se essa multa do art. 14, inciso V, parágrafo único pode ser cumulada com a multa 

    por  litigância  de  má  fé  prevista  no  art.  18.  Como  você  vai  solucionar  se  elas  podem  ser 

    cobradas  em  conjunto  ou  não? Você  tem  que  responder  basicamente  duas  indagações,  em 

    primeiro  lugar  qual  é  a  natureza  da  multa?  É  coercitiva  ou  punitiva?  No  art.  14,  inciso  V, 

    parágrafo único tratase de uma multa para coercitiva, para coagir a parte a cumprir a ordem, 

    ou  é  uma multa  para  punir  pelo  não  cumprimento  adequado  daquela  determinação.  É  uma 

    multa coercitiva ou punitiva? Se vocês verificarem no artigo, é uma multa punitiva, a parte e 

    todos aqueles que de qualquer forma participam do processo devem cumprir com exatidão os 

    provimentos  judiciais.  Não  cumpriu,  é  imposta  a multa.  Quem  é  o  beneficiário  da multa?  O 

    beneficiário da multa do art. 14, inciso V é o Estado ou a União, porque será inscrita em dívida 

    ativa do Estado ou a União. 

    E multa do art. 18 por litigância de má fé? Se você der uma olhada no art. 18:

    Art.  18.  O  juiz  ou  tribunal,  de  ofício  ou  a  requerimento, condenará o litigante de máfé a pagar multa não excedente a 

    um  por  cento  sobre  o  valor  da  causa  e  a  indenizar  a  parte 

    contrária  dos  prejuízos  que  esta  sofreu,  mais  os  honorários 

    advocatícios e todas as despesas que efetuou.

  • Então  vejam,  qual  é  natureza  da  multa  por  litigância  de  má  fé?  Também  é 

    punitiva,  porque  praticado  o  ato  de  litigância  de  má  fé  o  juiz  vai  punilo  com  a  multa.  Na 

    doutrina, h á quem defenda, o Marinoni é um deles, que multa por litigância de má fé deveria 

    ser  revestida em  favor do Estado, mas é posição dominante na doutrina e na  jurisprudência 

    que a multa por litigância de má fé tem por beneficiário a parte contrária. 

    Então aí diante disso, a pergunta que  terá que ser  respondida é o seguinte: a 

    natureza e o beneficiário da multa são os mesmo ou não? Se a a natureza e o beneficiário da 

    multa  forem os mesmos,  iguais, as multas não podem ser cumuladas, é bis  in  idem, mas se 

    uma das repostas  forem diferentes não é mesma multa, se não é mesma multa, elas podem 

    ser cumuladas sim. Então no nosso caso a multa tanto num caso quanto no outro é punitiva, 

    mas o beneficiário é diferente, porque o beneficiário da multa por litigância de má fé é a parte 

    contrária,  enquanto o beneficiário  da multa  por  ato  atentatório  ao exercício  da  jurisdição é a 

    união,  tem  diferença,  então  as  multas  podem  ser  cumuladas.  Ela  podem  ser  cobradas  em 

    conjunto. No que diz respeito a multa vocês sempre devem observar essa regra, saber quem é 

    o beneficiário, a natureza, porque se forem os mesmos não podem ser cumuladas.

    O STJ entendeu ano passado que pode cumular sim independente da natureza. 

    Vamos aguardar para ver. Existem algumas emendas no NCPC

    3) Pressupostos Processuais (art. 267, IV CPC):

    Na próxima aula voltamos aos pressupostos processuais.

    Fim da aula 04