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https://projudi.tjgo.jus.br/BuscaProcessoUsuarioExtemo7PaginaAt.. AGRAVO DE INSTRUMENTO 5078000.10.2017.8.09.0000 Comarca de Goiânia Agravante: Agência Goiana de Transportes e Obras (AGETOP) Agravado: Ministério Público do Estado de Goiás Relator: Sebastião Luiz Fleury Juiz Substituto em Grau EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. CABIMENTO DO RECURSO. EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER 1. Tratando-se o ato recorrido de decisão interlocutória proferida em execução, revela-se perfeitamente cabível a interposição de agravo de instrumento, na forma prescrita pelo art. 1.015, § único, do NCPC. PERDA DO OBJETO. INOCORRÊNCIA. 2. Demonstrado o binômio necessidade/utilidade da tutela jurisdicional, não se falar em perda do objeto da ação originária. REGULAMENTAÇÃO DO USO DO AUTÓDROMO INTERNACIONAL AYRTON SENNA. VEDAÇÃO DE SHOWS MUSICAIS. OBRIGAÇÃO ASSUMIDA EM TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC). SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. 3. Não configura inadequação da via processual eleita pelo exequente/agravado, tampouco merece acolhimento a aventada inexigibiüdade do título executivo, o cumprimento da obrigação de não fazer ordenado pelo decisum recorrido, que é pautado por Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e pela sentença, com trânsito em julgado, proferida nos autos da ação originária, que vedou a realização de quaisquer eventos musicais nas dependências do Autódromo Internacional Ayrton Senna. RECALCITRÂNCIA POR PARTE DA AGÊNCIA EXECUTADA. MULTA DIÁRIA. VALOR. MANUTENÇÃO. DECISÃO CONFIRMADA. 4. Conforme entendimento sedimentado pelo Superior Tribunal de Justiça, em regime de recurso repetitivo (REsp 1474665/RS), é possível o arbitramento de multa diária em desfavor da fazenda pública. 5. Trata-se a multa diária de medida coercitiva de natureza compulsória para obrigar o réu a cumprir determinação ldel0 01/11/2017 15:27

§ único, do NCPC. PERDA DO OBJETO. INOCORRÊNCIA. 2.£o_em... · . judicial, razão pela qual deve ser adequada e proporcional a este mister, sob pena de desvirtuar

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AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 5078000.10.2017.8.09.0000

Comarca de Goiânia

Agravante: Agência Goiana de Transportes e Obras (AGETOP)

Agravado: Ministério Público do Estado de Goiás

Relator: Sebastião Luiz Fleury

Juiz Substituto em 2° Grau

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO

INTERLOCUTÓRIA. CABIMENTO DO RECURSO. EXECUÇÃO DEOBRIGAÇÃO DE FAZER 1. Tratando-se o ato recorrido de decisão

interlocutória proferida em execução, revela-se perfeitamente cabível a

interposição de agravo de instrumento, na forma prescrita pelo art. 1.015,

§ único, do NCPC. PERDA DO OBJETO. INOCORRÊNCIA. 2.Demonstrado o binômio necessidade/utilidade da tutela jurisdicional, não

há se falar em perda do objeto da ação originária.

REGULAMENTAÇÃO DO USO DO AUTÓDROMOINTERNACIONAL AYRTON SENNA. VEDAÇÃO DE SHOWSMUSICAIS. OBRIGAÇÃO ASSUMIDA EM TERMO DE

AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC). SENTENÇA TRANSITADA

EM JULGADO. 3. Não configura inadequação da via processual eleita

pelo exequente/agravado, tampouco merece acolhimento a aventada

inexigibiüdade do título executivo, o cumprimento da obrigação de não

fazer ordenado pelo decisum recorrido, que é pautado por Termo de

Ajustamento de Conduta (TAC) e pela sentença, com trânsito em julgado,

proferida nos autos da ação originária, que vedou a realização de

quaisquer eventos musicais nas dependências do Autódromo

Internacional Ayrton Senna. RECALCITRÂNCIA POR PARTE DAAGÊNCIA EXECUTADA. MULTA DIÁRIA. VALOR. MANUTENÇÃO.

DECISÃO CONFIRMADA. 4. Conforme entendimento sedimentado pelo

Superior Tribunal de Justiça, em regime de recurso repetitivo (REsp

1474665/RS), é possível o arbitramento de multa diária em desfavor da

fazenda pública. 5. Trata-se a multa diária de medida coercitiva de

natureza compulsória para obrigar o réu a cumprir determinação

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judicial, razão pela qual deve ser adequada e proporcional a este mister,

sob pena de desvirtuar sua finalidade. Na hipótese sub judice, dada as

circunstâncias da causa originária (proteção ao meio ambiente

equilibrado, ou seja, interesses difuso e coletivo), mostra-se correto o

valor arbitrado a título de astreintes, a fim de garantir a efetividade da

prestação jurisdicional. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E

DESPROVIDO.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de Agravo de Instrumento

n° 5078000.10.2017.8.09.0000. da Comarca de Goiânia.

ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora da Quarta Câmara

Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer

e desprover o agravo de instrumento, nos termos do voto do Relator.

VOTARAM, além do relator, as Desembargadores Elizabeth Maria da Silva e

Nelma Branco Ferreira Peruo.

PRESIDIU a sessão a Desa. Elizabeth Maria da Silva.

Barbosa.

PRESENTE a ilustre Procuradora de Justiça, Dra. Nélida Rocha da Costa

Custas de lei.

Goiânia, 26 de outubro de 2017.

Sebastião Luiz Fleury

Relator

VOTO DO RELATOR

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Preambularmente, analiso o suposto descabimento do agravo de instrumento

na presente hipótese.

Como visto, cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito

suspensivo, interposto pela Agência Goiana de Transportes e Obras (AGETOP) contra decisão

proferida pela Juíza de Direito da 2" Vara da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Goiânia,

Dra. Suelenita Soares Correia, que, nos autos da execução de obrigação de não fazer, proposta pelo

Ministério Público do Estado de Goiás, rejeitou os argumentos apresentados pela parte

executada, ora agravante, nos seguintes termos:

"Trata-se de cumprimento de sentença ajuizada pelo Ministério Público,a fim de que seja observado comando judiciai proferido nos autos cm apenso. Em suaimpugnação a executada sustenta a inadequação da via eleita, uma vez que o MinistérioPúblico "ajuizou ação de execução do TAC ao argumento de que o mesmo estava naiminência de ser violado por conta da realização do evento CARNAGOIANIA. Naquelademanda o TAC funcionou como causa de pedir e teve como pedido principal a proibição darealização do Carnagoiânia" Contudo, não lhe assiste razão, uma vez que a sentença que éobjeto de cumprimento de sentença, impôs obrigações muito abrangentes, que não serestringiam ao Carnagoiânia, vejamos: "Ante o exposto, julgo procedente o pedido inicial edetermino que as executadas cumpram todas as obrigações de não fazer assumidas no Termode Compromisso de Ajustamento de Conduta objeto desta ação, sobretudo o pactuado nasegunda e terceira cláusulas referido do termo. Na hipótese de eventual descumprimentodesta sentença, fixo multa diária de RS 50.000,00 (cinco mil reais), nos termos do artigo 461do Código de Processo Civil." No mérito, a executada argumenta que o referido termo possuieficácia meramente administrativa e, para se tornar imutável deve ser objeto dehomologação judicial, o que não se deu no presente caso. Contudo, a obrigação objeto decumprimento decorre de sentença transitada em julgado. Argumenta igualmente quereformas realizadas no local tiveram como finalidade a adequação do local, entretanto amatéria não deve ser analisada em sede de cumprimento de sentença, pois se trata do méritoda demanda já julgada. A edição de lei posterior também não é apta a iüdir o presentecumprimento de sentença, afinal, nos termos do artigo 6° da Lei de Introdução as Normas deDireito Brasileiro "a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídicoperfeito, o direito adquirido e a coisa julgada." Outrossim, não há que se falar em ferida aautonomia administrativa, pois o Ministério Público é o fiscal da lei, e é atribuição dojudiciário o controle de legalidade dos atos administrativos.

Pelo exposto, rejeito os argumentos da executada, e determino que cumpraimediatamente todas as obrigações de não fazer assumidas no Termo de Compromisso deAjustamento de Conduta objeto da ação em apenso, sobretudo: - a proibição de causarpoluição desta natureza, especialmente sonora, a fim de não realizar, promover, permitir arealização ou promoção de shows e eventos com a utilização de som mecânico ou ao vivo, noAutódromo Internacional de Goiânia, diretamente ou por locação, autorização ou permissãode uso, por caracterizarem produção de ruídos acima dos índices permitidos na legislaçãovigente em local aberto, desprovido de vedação acústica, visando a proteção do meio

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ambiente equilibrado e dos interesses coletivos e difusos do cidadão; - o dever de não desviara finalidade original do Autódromo Internacional de Goiânia, de sediar eventosautomobilísticos e esportivos, devendo, para tanto, não autorizar ou permitir realização deeventos musicais ou similares no local.

Mantenho a liminar outrora concedida, inclusive a multa fixada no valor

de RS 500.000,00 (quinhentos mil reais) no caso de descumprimento. (...)." (evento 18 dos

autos originais).

Como se vê, o ato judicial objurgado não possui natureza de sentença, que,

nos termos do art. 203, § Io, do NCPC, é definida como "pronunciamento por meio do qual o juiz,

com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitivado procedimento comum, bem como

extingue a execução."

In casu, a magistradaa quo não pôs fim a execução intentadana origem, muito

menos adotou com fundamento os arts. 485 ou 487, do NCPC.

Trata-se, na verdade, de decisão interlocutória, segundo dispõe o § 2o, do art.

203, do NCPC, proferida no âmbito de execução, que estabeleceu medidas tendentes a

assegurarem o resultado prático equivalente ao adimplemento da obrigação de não fazer.

Assim, revela-se perfeitamente cabível a interposição de agravo de

instrumento, na forma prescrita pelo art. 1.015, § único, do NCPC.

Destarte, presentes todos os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso

aviado.

— Quanto à alegada perda parcial do objeto executivo, entendo não prosperar.

De acordo com os autos originais (evento 4), em 14/09/2016, o Ministério

Público do Estado de Goiás requereu cumprimento de sentença, com o intuito de obstar a

realização do show de Marília Mendonça e Paula Mattos, nas dependências do Autódromo

Internacional Ayrton Senna, nesta Capital, que, conforme divulgação, ocorreria em 11/10/2016.

Em 16/09/2016, a magistrada singular deferiu, sem a oitiva da parte contrária, a

tutela postulada pelo exequente (evento 6, daqueles autos).

Nesse cenário, mesmo que o evento tenha ocorrido em local diverso, não há

se falar em perda parcial do objeto processual. Ora, denota-se o interesse processual do exequente

em ver confirmada a medida executiva de urgência, que, repita-se, foi deferida liminarmente.

Ademais, ao que tudo indica, o show não ocorreu no referido autódromo em

razão apenas do deferimento liminar da tutela executiva, demonstrando-se assim a

necessidade/utilidade do objeto processual.

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Assim, rechaço a preliminar.

De outro vértice, extrai-se que a execução de obrigação de não fazer, proposta noano de 2.006, pelo Ministério Público em desfavor da ora recorrente, é oriunda de um Termo deAjustamento de Conduta (TAC), cujo objeto é a regulamentação do uso do AutódromoInternacional Ayrton Senna, quanto à realização de eventos.

Tal procedimento foi instaurado a partir de representações oferecidas por

moradores dos condomínios Alphaville Flamboyant Residencial e Residencial Portal do Sol I e II,

assim como do Conjunto Fabiana e do Parque Atheneu, que reclamavam da poluição sonora,

vandalismo, acúmulo de lixo, etc, provocados pelo público dos eventos musicais realizados no

autódromo.

Após o processamento da ação executiva, a parte executada opôs embargos à

execução, que foram desacolhidos, mediante sentença proferida em 2.007, a qual foi ratificada por

esta Corte em 2.010.

Em 2.012, nos autos da execução, a dirigente processual prolatou sentença

em que reafirmou a obrigação da parte executadade cumprir os termosentabulados no TAC.

Desse modo, não assume importância saber se a obrigação de não fazer é

oriunda do Termo de Ajustamento de Conduta(TAC) ou da sentença, prolatada nos autos originais.

Isso porque a sentença, transitada em julgado, determinou à parte executada o cumprimento das

obrigações assumidas pela então Agência Goiana de Esporte e Lazer no Termo de Ajustamento deConduta (TAC), especialmente as cláusulas segunda e terceira, cujo teor transcrevo,

respectivamente:

"Os Compromissários assumem o compromisso e a responsabilidade

consistente na OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER consubstanciada na proibição de

causar poluição desta natureza, especialmente a sonora, a fim de não realizar,

promover, permitir a realização ou promoção de shows e eventos com a utilização

de som mecânico ou ao vivo, no Autódromo Internacional de Goiânia, diretamente

ou por locação, autorização ou permissão de uso, por caracterizarem produção de

ruídos acima dos índices permitidos na legislação vigente em local aberto, desprovido

de vedação acústica, visando a proteção do meio ambiente equilibrado e dos interesses

coletivos e difusos do cidadão, no modo e tempo previstos nas cláusulas seguintes."

"Os Compromissários assumem o compromisso e a responsabilidadeconsistente na OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER consubstanciada no dever de nãodesviar a finalidade original do Autódromo Internacional de Goiânia, de sediareventos automobilísticos e esportivos, devendo para tanto, não autorizar ou permitirrealização de eventos musicais ou similares no local." (arquivo 2, evento 3, dosautos originais - grifei).

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Como efeito, segundo assinalou a magistrada a quo, é abrangente a obrigaçãode não fazer disposta no TAC, e reafirmada na sentença, isto é, o comando veda a realização dequaisquer eventos, shows musicais no local, não se restringindo, pois, ao evento Carnagoiânia.Assim sendo, não configura inadequada a via processual eleita pelo exequente/agravado, tampoucomerece acolhimento a aventada inexigibilidade do título executivo.

Noutro vértice, registre-se que a imposição de multa diária é perfeitamente

cabível na espécie, à luz do art. 461, § 4o, do CPC/73 (arts. 536 e 537, do NCPC), por constituirobrigação de não fazer.

Sobre o tema, em circunstâncias tais, o conceituado processualista KAZUO

WATANABE, lembra que "a multa é medida de coerção indireta imposta com o objetivo de

convencer o demandado a cumprir espontaneamente a obrigação. Não tem finalidade

compensatória, de sorte que, ao descumprimento da obrigação, é ela devida

independentemente da existência, ou não, de algum dano" (In Reforma do CPC, Sálvio de

Figueiredo Teixeira et alter, Editora Saraiva, pág. 47).

Aliás, convém anotar, que a imposição de multa diária é permitida contra a

fazenda pública, conforme decidiu a Corte Superior de Justiça, em regime de recurso repetitivo:

"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL

REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC/1973.

AÇÃO ORDINÁRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. (...). IMPOSIÇÃODE MULTA DIÁRIA (ASTREINTES) COMO MEIO DE COMPELIR ODEVEDOR A ADIMPLIR A OBRIGAÇÃO. FAZENDA PÚBLICA.

POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO CONTEÚDO NORMATIVO

ESSERTO NO § 5o DO ART. 461 DO CPC/1973. DIREITO À SAÚDE EÀ VIDA. 1. Para os fins de aplicação do art. 543-C do CPC/1973, é misterdelimitar o âmbito da tese a ser sufragada neste recurso especial

representativo de controvérsia: possibilidade de imposição de multa

diária (astreintes) a ente público, para compeli-lo a fornecer

medicamento à pessoa desprovida de recursos financeiros. 2. A função

das astreintes é justamente no sentido de superar a recalcitrância do

devedor cm cumprir a obrigação de fazer ou de não fazer que lhe foi

imposta, incidindo esse ônus a partir da ciência do obrigado e da sua

negativa de adimplir a obrigação voluntariamente. 3. A particularidade

de impor obrigação de fazer ou de não fazer à Fazenda Pública não

ostenta a propriedade de mitigar, em caso de descumprimento, a sanção

de pagar multa diária, conforme prescreve o § 5o do art. 461 do

CPC/1973. E, em se tratando do direito à saúde, com maior razão deve

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ser aplicado, em desfavor do ente público devedor, o preceito

cominatório, sob pena de ser subvertida garantia fundamental. Em

outras palavras, é o direito-meio que assegura o bem maior: a vida.

Precedentes: AgRg no AREsp 283.130/MS, Relator Ministro Napoleão

Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 8/4/2014; REsp 1.062.564/RS,

Relator Ministro Castro Mcira, Segunda Turma, DJ de 23/10/2008; REsp

1.062.564/RS, Relator Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ de

23/10/2008; REsp 1.063.902/SC, Relator Ministro Francisco Falcão,

Primeira Turma, D.I de 1/9/2008; c AgRg no REsp 963.416/RS, Relatora

Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ de 11/6/2008. 4. À luz do §5o do art. 461 do CPC/1973, a recalcitrância do devedor permite ao juiz

que, diante do caso concreto, adote qualquer medida que se revele

necessária à satisfação do bem da vida almejado pelo jurisdicionado.

Trata-se do "poder geral de efetivação", concedido ao juiz para dotar de

efetividade as suas decisões. 5. A eventual exorbitância na fixação do

valor das astreintes aciona mecanismo de proteção ao devedor: como a

cominação de multa para o cumprimento de obrigação de fazer ou de não

fazer tão somente constitui método de coerção, obviamente não faz coisa

julgada material, c pode, a requerimento da parte ou ex officio pelo

magistrado, ser reduzida ou até mesmo suprimida, nesta última hipótese,

caso a sua imposição não se mostrar mais necessária. Precedentes: AgRg

no AgRg no AREsp 596.562/RJ, Relator Ministro Moura Ribeiro,

Terceira Turma, DJe 24/8/2015; e AgRg no REsp 1.491.088/SP, Relator

Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, Terceira Turma, DJe 12/5/2015. (...).

7. Recurso especial conhecido e provido, para declarar a possibilidade de

imposição de multa diária à Fazenda Pública. Acórdão submetido à

sistemática do § 7o do artigo 543-C do Código de Processo Civil de 1973 e

dos arts. 5o, U, e 6o, da Resolução STJ n. 08/2008." (STJ, REsp

1474665/RS, Rei. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO,

julgado em 26/04/2017, DJe 22/06/2017).

Na hipótese sub judice, dada as circunstâncias da causa originária (proteção

ao meio ambiente equilibrado, ou seja, interesses difuso e coletivo), entendo que o arbitramento de

R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) a título de multa diária mostra-se correto, a fim de garantir a

efetividade da prestação jurisdicional.

Ora, segundo apura-se dos autos, foram várias as tentativas da agência

executada em descumprir a obrigação. Desde a propositura da ação originária, a mídia deste

Estado noticiou a previsão de grandes shows musicais que ocorreriam naquela localidade:

"Carnagoiânia", "Nana Fest", "Vila Mix", c outros. Tais eventos não se realizaram no autódromo

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por conta da atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário, mediante a cominação das

astreintes.

Ao que parece a intenção de descumprir a obrigação por parte da executada

não se modificou, já que no ano de 2016 o Parquet se deparou com a necessidade de requerer o

cumprimento de sentença, com imposição de multa diária, a fim de evitar a realização do show de

Marília Mendonça e Paula Mattos, nas dependências do Autódromo Internacional Ayrton Senna.

Portanto, diante das especificidades do caso em tela, vê-se que o valor

arbitrado encontra-se em conformidade com os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

Impendc observar que a multa diária não tem caráter compensatório ou

indenizatório. Trata-se de medida coercitiva de natureza compulsória para obrigar o réu a cumprir

determinaçãojudicial, razão pela qual deve ser adequadae proporcional a este mister, sob pena de

desvirtuar sua finalidade.

A propósito, Humberto Theodoro Júnior preleciona que:

"O Código prevê, expressamente, a utilização de multa diária para

compelir o devedor a realizar a prestação de fazer ou não fazer. Essa multa será aquela

prevista na sentença condenatória e, se omissa, a que for arbitrada pelo próprio juiz da

execução. Note-se, contudo, que as multas, como meios coativos, 'não tem propriamente

caráter executório, porque visam conseguir o adimplemcnto da obrigação pela

prestação do próprio executado, compelido a cumpri-la para evitar as pesadas sanções

que o ameaçam'. Não há nelas a presença da sub-rogação estatal que configura a

essência da execução forçada. Confere-se ao juiz da execução poderes, também, para

rever a multa antes imposta, ampliando-a ou reduzindo-a, conforme as necessidades da

atividade executiva (...)". (Cfr. Curso de Direito Processual Civil, vol. II, 39a edição, p.249).

A propósito, reporto-me ao entendimento acolhido pela Superior Corte de

Justiça, que neste sentido se pronunciou, verbis:

"PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. FIXAÇÃO DEASTREINTES. POSSIBILIDADE. (...). PRINCÍPIOS DAPROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. REEXAME DO

CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. OFENSA AO

ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. 1. Hipótese em que oTribunal local consignou: "Esta Corte, acompanhando entendimento

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firmado no STJ, decidiu ser legítima a imposição de multa diária prevista

no art. 461 do CPC em face da Fazenda Pública para o caso de

descumprimento de determinação judicial que determina o

restabelecimento do benefício previdenciário" (fl. 50, e-STJ). (...). 3. O

STJ entende ser cabível a cominação de multa diária (astreintes) contra a

Fazenda pública como meio executivo para cumprimento de obrigação de

fazer ou entregar coisa (arts. 461 e 461-A do CPC). (...)." (STJ, REsp

1667633/MT, Rei. Ministro HERMAN BENJAMTN, SEGUNDA TURMA,

julgado em 13/06/2017, DJe 30/06/2017).

Devo asseverar que não há previsão legal para que se limite a incidência das

astreintes, conforme pretende a agravante. Portanto, a multa diária é devida até que a ordem

judicial seja efetivamente cumprida pela parte recalcitrante.

Nesse trilho, confira ementa do STJ:

"PROCESSUAL CIVIL. OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISACERTA. MEDICAMENTOS. ASTREINTES. FAZENDA PÚBLICA.

MULTA DIÁRIA COMINATÓRIA. CABIMENTO. NATUREZA.

PROVEITO EM FAVOR DO CREDOR. VALOR DA MULTA PODE

ULTRAPASSAR O VALOR DA PRESTAÇÃO. NÃO PODE

INVIABILIZAR A PRESTAÇÃO PRINCIPAL. NÃO HÁ LIMITAÇÃO

DE PERCENTUAL FIXADO PELO LEGISLADOR (...). 4. O legislador

não estipulou percentuais ou patamares que vinculasse o juiz na fixação

da multa diária cominatória. Ao revés, o § 6o, do art. 461, autoriza o

julgador a elevar ou diminuir o valor da multa diária, em razão da

peculiaridade do caso concreto, verificando que se tornou insuficiente ou

excessiva, sempre com o objetivo de compelir o devedor a realizar a

prestação devida. 5. O valor da multa cominatória pode ultrapassar o

valor da obrigação a ser prestada, porque a sua natureza não é

compensatória, porquanto visa persuadir o devedor a realizar a prestação

devida. (...)." (STJ, Ia Turma, REsp 770753/RS, Rei. Min. Luiz Fux, DJ

15/03/2007p. 267-grifei).

Urge lembrar que, cumprida efetivamente a ordem judicial, conforme se deve

sempre esperar, o valor da multa não acarretará qualquer ônus para a parte, eis que, nesse caso, a

decisão que a fixou restará sem qualquer efeito.

m/linnn u.melO

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Aliás, na esteira da jurisprudência do Tribunal da Cidadania, "Não havendo

limite máximo de valor para a multa, tomando-se em conta sua natureza jurídica e a própria

mens legisdo instituto (CPC, art. 461, § 6o), reconhece o STJser lícito ao magistrado, de ofício oua requerimento das partes, alterar o montante a qualquer tempo, inclusive na fase de execução,

quando modificada a situação para a qual foi imposta. Isto porque não há falar em coisa julgada

material, estando perante meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado" (STJ, REsp

1186960/MG, Rei. Ministro LUÍS FELIPE SALOMÃO, DJe 05/04/2016 - negritei).

Frente a essas considerações, verifica-se, portanto, que a julgadora singular

decidiu dentro do arbítrio que lhe confere a lei, sem extravasar para o abuso de poder ou para a

ilegalidade, razão pela qual a insurgência recursal não merece acolhida.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo.

É o meu voto.

Goiânia, 26 de outubro de 2017.

Sebastião Luiz Fleury

Relator

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