Upload
lamtu
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A Extensão Rural no Setor de Olericultura no Brasil:
Desafios e Perspectivas1
José Giacomo Baccarin2
1 - IntroduçãoO tema Extensão Rural guarda estreita relação com a tecnologia, ou melhor, com a
evolução da tecnologia. Enquanto esta evolução foi lenta, os agricultores praticavam uma
agricultura corriqueira, tradicional e secular, em que a prática e o aprendizado entre gerações
eram as fontes principais de informação para a realização dos cultivos agrícolas e florestais e
o manejo dos rebanhos pecuários.
Até o final do Século XVIII, como bem destacam Mazoyer e Roudart (2010), a forma
de produção agropecuária não mudava muito por décadas (ou mesmo séculos), facilitando sua
apreensão pelos agricultores. Ocorreram alterações importantes sob o ponto de vista
tecnológico, como o desenvolvimento do arado charrua, o arreamento dos animais de trabalho
pelo peito e não pelo pescoço, a prática de adubação orgânica e de rotação de culturas entre
leguminosas e gramíneas, o melhoramento massal ou fenotípico de animais e vegetais, entre
várias outras. Mas, de maneira geral, predominava o empirismo, e a base científica dessas
mudanças era diminuta.
Quase como um corolário dessa situação, a agricultura convivia com baixos níveis de
produtividade da terra, dos rebanhos e do trabalho, fazendo com que a produção de alimentos,
por exemplo, praticamente, se ajustasse à necessidade mínima de consumo das populações e,
não raramente, se mostrasse insuficiente para garantir a sobrevivência de todos. As crises de
carestia e mesmo de fome generalizada mostraram-se frequentes na história de várias nações.
Foi o que ocorreu na Europa, na década de 1840, quando uma doença causada
por Phytophthora infestans dizimou as plantações locais de batata, contribuindo para levar a
fome a milhões de europeus. Proporcionalmente, a situação mais grave foi observada na
Irlanda, com a morte de 1 milhão de pessoas (20 a 25% da população local) e a emigração
forçada de mais 1 milhão de irlandeses, entre 1845 e 1852 (ROSS, 2002).
1 Capítulo do livro: PRADO, R. de M. & CECÍLIO FILHO, A. B. (Editores). Nutrição e adubação de hortaliças. Jaboticabal (SP): FCAV/CAPES, 2016. P. 1 - 35.2 Professor Doutor do Departamento de Economia, Administração e Educação da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal, fone 16 981152987, e-mail: [email protected].
Convém destacar que fatores estruturais foram mais importantes como causadores da
fome entre os irlandeses, com destaque para a forte concentração de áreas agrícolas, fazendo
com que a grande maioria dos camponeses contasse com diminutas e empobrecidas porções
de terra, em que o plantio da batata aparecia como a melhor alternativa de sobrevivência, em
períodos considerados normais. Mas, mesmo que houvesse vontade política de se ajudar os
camponeses irlandeses e de outras regiões europeias a sobreviverem nos anos de dificuldade,
as sobras e estoques de alimentos eram pequenos e, provavelmente, insuficientes para tanto.
Sob a influência da Revolução Industrial e da urbanização, a tecnologia agropecuária
sofreu profundas mudanças a partir da segunda metade do século XIX, estendendo-se por
todo o século XX, embora ainda não tenha alcançado todas as realidades agrícolas mundiais
no início do Século XXI, em especial nos países em desenvolvimento.
Os tratores, colhedoras, outras máquinas e equipamentos substituíram ou
potencializaram o emprego da força humana e da tração animal. As tecnologias químico-
biológicas, das rações, fertilizantes, agrotóxicos, da genética vegetal e animal, elevaram,
sobremaneira, a produtividade da terra e dos rebanhos.
Contrariavam-se as previsões pessimistas de Malthus que, no século XIX, entendia ser
impossível à produção agropecuária acompanhar o crescimento da população, de forma que a
fome seria recorrente e, além do mais, serviria como um controle “natural” da população. Seu
grande erro foi, justamente, não ter visualizado as possibilidades de amplas mudanças
tecnológicas na agricultura.
Estas foram tão significativas que, por volta dos anos de 1950, passaram a ser
consideradas como compondo a chamada Revolução Verde. Mazoyer e Roudart (2010)
estimam que as novas tecnologias decuplicaram a produtividade da terra e quintuplicaram a
produtividade dos agricultores, contribuindo para uma grande redução secular ou de
longuíssimo prazo nos preços reais dos alimentos, ainda que as flutuações para cima e para
baixo no curto prazo se mantenham como uma típica característica dos mercados agrícolas.
Mesmo com uma população que ultrapassou 7 bilhões de habitantes e que deverá
atingir 9 bilhões, por volta de 2050, o mundo convive, atualmente, com uma abundância
jamais vista de alimentos e com preços reais abaixo da metade ou menos do constatado há um
século.
Não se eliminou a fome - aliás, está-se longe disso - com a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, 2012) estimando que, no triênio 2010-2012,
existiam 852 milhões de pessoas desnutridas nos países em desenvolvimento, correspondente
a 14,9% de sua população. A causa, contudo, desse flagelo não deve ser buscada na falta de
produção mundial, que se mostra suficiente para garantir, com folga, o mínimo de 2.000-
2.200 Kcal/dia de que as pessoas precisam para se nutrir. Outras são as causas da fome, entre
as quais, a insuficiência de renda que impede a milhões de pessoas acessarem seu quinhão da
produção mundial de alimentos.
Reforça-se que a relativa abundância da produção de alimentos, mais que a fatores
naturais de clima e solo, está associada às tecnologias agropecuárias. Tecnologias que mudam
muito rapidamente com o desenvolvimento de novos produtos e serviços. Há não mais que 30
(talvez, 40) anos não se falava de agricultura de precisão, de GPS, de engenharia genética, de
acesso rápido e massivo a informações via rede de computadores e muitas outras novidades.
Dito de outra maneira, a agricultura que se pratica hoje não é a mesma praticada nos
tempos de nossos avós, talvez nem de nossos pais. É necessário, portanto, que os agricultores
estejam sempre se atualizando e acessando novas informações tecnológicas, de gestão, de
condições de mercado etc.
Volta-se, assim, à questão da Extensão Rural, bem como à da Pesquisa Agropecuária.
De maneira geral, até porque seu tamanho econômico é insuficiente, não são os agricultores
que desenvolvem as novas tecnologias. Este papel é cumprido por empresas privadas,
produtoras de insumos, máquinas e equipamentos agrícolas, ou aquelas compradoras de
produtos agropecuários. Também dependem da ação de órgãos públicos, fundamentais para
questões mais gerais, não ligadas a um insumo ou produto específico.
Gerados o conhecimento e a tecnologia, é necessária sua disseminação ou difusão
entre os agricultores. Ou seja, deve-se proceder à Extensão Rural, que também pode ser
realizada por agentes privados e públicos. Não há como, neste sentido, deixar de analisar a
maneira como determinado país organiza sua Política de Extensão Rural.
O agricultor depende, atualmente, do saber tecnológico gerado fora de seu
estabelecimento agropecuário, o que não minimiza, mas altera seu papel. Sua prática e sua
capacidade adaptativa continuam indispensáveis, mesmo porque as condições naturais da
agricultura continuam a diferenciar sua produção das rotinas comuns na indústria. Ao
agricultor também compete escolher, da melhor maneira possível, as diversas oportunidades
de negócio e as tecnológicas que lhe são oferecidas, o que, de jeito nenhum, pode ser
considerada uma tarefa trivial, isenta de desafios e mesmo de armadilhas.
Uma boa e efetiva Extensão Rural deve procurar interpretar da melhor forma as
condições dos agricultores a serem alcançados. Há questões mais de fundo, do nível de
escolaridade, que a experiência internacional tem mostrado ser um facilitador da adoção de
novos procedimentos e tecnologias. Outrossim deve-se levar em conta as condições de
investimento financeiro dos agricultores em novas tecnologias, as potencialidades dos
mercados de seus produtos, como se organizam os canais de comercialização, entre outras.
No caso da olericultura, duas questões podem ser, de pronto, levantadas. Uma ligada à
sua produção que tende a ser muito meticulosa, com muitas atividades sendo ainda feitas de
forma manual e, em grande parte, ficando a cargo de agricultores familiares em pequenas
áreas de terra. Outra diz respeito ao seu consumo, cada vez mais diversificado e com um
componente não devidamente explorado, que é o fato de as frutas, legumes e verduras
contribuírem para a segurança alimentar e nutricional da população, especialmente no atributo
qualidade nutricional e na consequente melhoria da qualidade de vida.
Este trabalho, com uma abordagem muito geral das condições brasileiras, pretende
alcançar três objetivos:
a) Discutir o aumento da concorrência entre regiões e o aprofundamento da relação da
produção primária com outros segmentos das cadeias agropecuárias e com o mercado
consumidor e como esses fatos impactam na forma de produção agrícola;
b) Analisar o desenvolvimento recente da Política de Extensão Rural no Brasil,
discorrendo sobre suas instituições e orientações;
c) Discutir o alcance e a distribuição da Extensão Rural entre os agricultores
brasileiros, em especial os da olericultura, e relacionar algumas perspectivas dos mercados de
seus produtos.
As três seções seguintes do trabalho estão relacionadas, respectivamente, a esses três
objetivos. E uma seção de considerações finais encerra o texto.
2 - A Transmissão do Conhecimento nas Cadeias Agroalimentares Grande parte das frutas, legumes e verduras (FLV) tem alta perecibilidade e,
inicialmente, tendiam a ser comercializadas apenas nos mercados regionais, caracterizando o
que a literatura especializada denomina de circuitos curtos de comercialização (ESCOTO et
al., 2013). O barateamento relativo e as mudanças tecnológicas dos transportes, com a
incorporação de maiores possibilidades de refrigeração e congelamento, contribuíram para
estender o alcance físico dos mercados. Na mesma direção, e talvez com maior impacto,
desenvolveram-se formas de processamento industrial, permitindo que frutas e legumes
transformados alcançassem mercados muito distantes, garantindo-se um preço não proibitivo
ao consumidor.
O estadunidense consome o suco de laranja (concentrado ou não) produzido a partir
dos pomares citrícolas no Brasil. Na direção inversa, em equipamentos de vendas mais
sofisticados no Brasil, é comum encontrar atomatados produzidos nos EUA.
Outro exemplo, ainda que não da olericultura, pode ser tomado no caso do leite. Seu
comércio, décadas atrás, era baseado na venda do produto in natura em mercados locais. O
chacareiro ou sitiante produtor de leite entregava seu produto diariamente aos consumidores
urbanos, que necessitavam fervê-lo para reduzir a veiculação de doenças e aumentar sua
durabilidade. Com o desenvolvimento dos laticínios, que, inicialmente, passaram a pasteurizar
e, mais recentemente, a uperizar o leite, o alcance de seus mercados foi ampliando-se. O
consumidor paulista, por exemplo, adquire leite longa vida, muitas vezes, produzido em
Minas Gerais, no Paraná, ou mesmo em locais mais distantes, como Goiás, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul.
Nos anos iniciais da década de 1990, São Paulo era autossuficiente na produção de
leite in natura destinado aos laticínios do Estado, que, por sua vez, produziam leite
pasteurizado ou uperizado acima da necessidade do consumo dos paulistas, sobrando
produção para ser vendida em outros estados. A partir daquele período, a produção de leite
não conseguiu acompanhar o aumento do consumo de lácteos no Estado e, em 2010, a
produção de leite in natura em São Paulo atendia 70% da necessidade de matéria-prima de
seus laticínios, com os restantes 30% vindos, especialmente, do Paraná e de Minas Gerais
(BACCARIN e ALEIXO, 2013). As próprias agroindústrias lácteas paulistas foram afetadas,
com vários laticínios, especialmente pequenos e médios, fechando as portas, e com sua
produção, segundo os mesmos autores e para o mesmo ano, conseguindo atender apenas a
60% do consumo estadual de derivados de leite. Esses dados permitem estimar que tão
somente 42% do consumo de lácteos pelos paulistas são garantidos com a produção de leite in
natura do próprio Estado.
Na olericultura, observou-se que a produção paulista de cebola declinou bastante
desde 1990, como resultado da importação do produto da Argentina, após a criação do
Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Em 1990, plantaram-se 14.946 hectares (ha) de
cebola no Estado, resultando em produção de 269,9 mil toneladas (t), valores que passaram,
respectivamente, para 3.226 ha e 104,8 mil t, em 2014 (IEA, 2016).
Vários autores, como Friedman (2005), discorrem como as diversas regiões produtivas
de bens e serviços, com os avanços no transporte e nas comunicações, “aproximaram-se” e
como a concorrência e os mercados se globalizaram. Ainda que devam ser consideradas suas
especificidades, em especial a perecibilidade dos produtos in natura, isso não deixa de atingir
os agricultores de FLV, que se encontram diante de novos desafios e de novas oportunidades.
O desafio é ter que concorrer com agricultores de regiões distantes e que podem
apresentar vantagens de custo e de qualidade do produto, inclusive sob o ponto de vista
sanitário. A oportunidade evidente é que, em se mostrando competitivo, o agricultor poderia
encaminhar sua produção para mercados mais longínquos.
Podemos dizer que essa maior concorrência entre regiões produtivas resulta no
aumento da integração horizontal, o que, não raramente, significa a internacionalização dos
mercados. Nesse sentido, aumentam as exigências para que os produtores agrícolas, entre os
quais, os olericultores, elevem seus conhecimentos em temas como língua e hábitos de
consumo de outros povos, taxa de câmbio e cotações internacionais de produtos etc.
2.1 - Os Integrantes da Cadeia AgroalimentarSob o ponto de vista econômico, há outra integração que se deve destacar, que é a
vertical. Os laços técnicos, muitas vezes específicos, da produção agrícola com ramos que
lhes fornecem insumos, máquinas e conhecimentos, bem como com setores industriais que
processam seus produtos, têm aumentado. Adicione-se outro componente, que é a
concentração do mercado varejista de alimentos, com as grandes redes de supermercados
tendo a capacidade de negociar preços e mesmo atributos qualitativos dos produtos entregues
por seus fornecedores, no caso que nos interessa, da indústria alimentícia, de atacadistas e
agricultores que comercializam produtos in natura.
Têm-se constituído sistemas de produção agropecuária, cujos integrantes pertencem a
diversos ramos econômicos: agropecuários, por suposto, mas também industriais e de
serviços. Dependendo da abordagem teórica ou de interesses político-sociais, esses sistemas
têm sido denominados por complexos agroindustriais, cadeias agroalimentares, sistemas
agroalimentares, agribusiness, agronegócio e outros. Aqui, compete destacar as relações
internas das diversas cadeias com interface ao que se entende como Extensão Rural.
O acesso a novos conhecimentos pelo agricultor, muitas vezes, está associado a uma
relação comercial, de compra e venda, que se estabelece com ramos econômicos a montante
da agricultura, produtores de bens, como tratores, colhedoras, fertilizantes, rações, raças e
variedades geneticamente melhoradas, agrotóxicos, e de serviços, como instrumentos de
gestão, informações de mercado, alternativas tecnológicas.
No mais das vezes, o agricultor confronta-se com ramos altamente concentrados, com
expressivo poder de mercado e capacidade de fixar preços e financiar a compra de seus
produtos, com previsão de pagamento para a época de efetivação/venda do produto agrícola
ou pecuário. Para citar apenas dois exemplos de concentração: em 2008, seis empresas
controlavam 86% do mercado de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) brasileiro (MAPA,
2013); no caso de tratores agrícolas de roda, apenas cinco empresas controlavam o mercado
brasileiro, e nas colhedoras automotrizes de cereais, tão somente quatro empresas atuavam no
Brasil em 2012 (ANFAVEA, 2013).
Além da capacidade de fixar seus preços, essas empresas costumam ter uma agressiva
política comercial, não sendo raro que a venda de seus produtos para determinado agricultor
não necessariamente coincida com a melhor opção técnica que o mesmo poderia adotar. Por
outro lado, essa mesma concentração permite que se junte volumoso recurso financeiro usado
no desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, caso típico do ramo de agrotóxico. Para
a criação de uma nova molécula com viabilidade comercial, suas empresas costumam
dispender centenas de milhões de dólares, o que, aliás, serve de barreira à entrada de novas
firmas neste ramo econômico (BACCARIN, 2015).
As grandes empresas de agrotóxico, especialmente a partir de 1990, passaram a
investir no promissor ramo de sementes transgênicas ou manipuladas geneticamente, a grande
maioria com sinergia aos produtos químicos que tradicionalmente produziam. Basta saber
que, em 2006, 68% das sementes transgênicas vendidas no mundo garantiam resistência a
herbicidas, 19% resistência a insetos e 13% resistência conjunta a herbicidas e a insetos
(BROOKS; BARFOOT, 2011).
Aliás, a rápida disseminação da cultivar transgênica de soja RR (resistente ao
herbicida Roundup), da empresa Monsanto, fez despencar a participação das sementes
melhoradas através da genética convencional pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) na área cultivada de soja no Brasil, de próximo a 40% no começo
deste século, para 6%, em 2012 (EMBRAPA, 2013).
As agroindústrias, localizadas à jusante da produção agropecuária e que processam
seus produtos, ainda que, no geral, não gerem a tecnologia agrícola propriamente dita,
costumam influenciar em sua adoção. Interessa a estas empresas que os produtos primários
contenham alguns parâmetros de qualidade, diminuindo as perdas e garantindo a obtenção de
produtos industrializados mais adequados ao mercado consumidor ou a outras empresas
localizadas na sequência da cadeia produtiva.
São numerosos os exemplos que se podem citar. A indústria de café torrado e moído,
dependendo do mercado a que seus produtos se destinam, procurará influenciar em itens
como a variedade de café plantada, a forma da colheita, secagem e beneficiamento, o uso de
fertilizantes e agrotóxicos etc. De maneira semelhante, para processamento de frutas e
legumes, quesitos como o teor de açúcar, a quantidade de sólidos totais e o brix,
corriqueiramente, fazem parte dos acordos/contratos firmados pelas agroindústrias com os
agricultores, sendo comum o pagamento de bônus à medida que a matéria prima agrícola
garanta maior rendimento e qualidade aos industrializados derivados.
É muito comum que as agroindústrias mantenham departamentos de assistência
técnica dirigidos aos seus agricultores fornecedores. Chegam a influenciar em toda a
tecnologia adotada pelos agricultores, monitorar a gestão de suas atividades e, no fim, ao
receberem seus produtos, valorizar sua qualidade através de pagamentos diferenciados.
Guardadas as devidas proporções, é como se fosse adotada o que na indústria se chama de
produção a domicílio, situação encontrável nos ramos calçadistas e de vestuário.
Um exemplo expressivo disso é localizável no oeste do Estado de Santa Catarina. Os
frigoríficos de frango, entre os quais os da Sadia e da Perdigão, que constituem a empresa
Brasil Foods, antecipam para os agricultores integrados os pintinhos a serem engordados,
concentrados das rações, vacinas e outros medicamentos veterinários, informações sobre a
gestão da engorda, sob o ponto de vista econômico e técnico. Acompanham a condução da
engorda e, quando da entrega do produto para abate, avaliam parâmetros técnicos, descontam
o correspondente financeiro dos produtos entregues e os serviços prestados anteriormente,
remunerando os agricultores de forma diferenciada, de acordo com a qualidade do frango.
Ao agricultor compete fornecer a força de trabalho necessária, produzir o volumoso
para a ração, especialmente o milho, e contar com instalações adequadas em sua propriedade
para a engorda dos animais. Não é raro que, para a construção dessas instalações, os
frigoríficos integradores repassem recursos por eles obtidos de crédito rural ou avalizem os
empréstimos feitos diretamente pelos agricultores junto aos bancos.
Para a mesma região oeste catarinense, Miele e Miranda (2013) descrevem como as
grandes empresas produtoras de carne e derivados influenciam na criação e engorda de suínos
pelos agricultores locais. Através de contratos formalizados, os agricultores recebem dos
frigoríficos um pacote tecnológico, composto por informações e produtos genéticos,
nutricionais, sanitários e de gestão, prontificando-se a entregar os animais prontos para o
abate em alguns meses. Na remuneração, além dos descontos dos produtos e serviços
antecipados, aplicam-se diferenciais de pagamento de acordo com quesitos qualitativos da
carne fornecida.
Os autores vão adiante e avaliam que tal arranjo tem contribuído para a melhoria de
indicadores técnicos, como a redução da taxa de conversão e do teor de gordura dos animais e
o aumento do número de crias por fêmea suína, inclusive de suinocultores “independentes”,
ou seja, que não mantêm contratos com as empresas integradoras. Neste caso, se
caracterizaria o chamado Efeito Demonstração.
Algo parecido tem-se verificado em parte da produção da cana-de-açúcar no Estado de
São Paulo. Há vários arranjos feitos pelas usinas e destilarias com proprietários rurais. De
alguns, são arrendadas as terras para o cultivo da cana feito diretamente pela agroindústria; de
outros, recebe-se a cana colhida e posta na usina. Ainda há os agricultores que gerenciam o
plantio e os tratos culturais dos canaviais, vendendo-os “em pé” para as agroindústrias, que se
responsabilizam pela sua colheita. Por fim, o que mais se aproxima do exemplo catarinense,
existem situações em que a agroindústria providencia o plantio e a colheita da cana-de-açúcar,
ficando o agricultor responsável apenas pelo gerenciamento dos tratos culturais dos canaviais,
certamente sob os parâmetros de qualidade exigidos pela agroindústria (POLIZELLI, 2012).
Por razões administrativas ou tecnológicas, tem-se observado que várias
agroindústrias estimulam a concentração de seus fornecedores de matérias-primas. Por
exemplo, na cadeia do leite, visando a maior qualidade do produto, foi estabelecida a
obrigação legal de instalação de tanques de resfriamento nos estabelecimentos rurais, o que
fez com que muitos pequenos pecuaristas, diante da incapacidade de bancar o investimento,
abandonassem a atividade. A indústria do suco tem priorizado receber laranja de médios e
grandes produtores, que entregam volumes maiores de matéria-prima e diminuem custos
logísticos, administrativos e de assistência técnica aos agricultores.
Como se sabe, a Sadia e a Perdigão surgiram e alcançaram grande desenvolvimento
inicial a partir de sua base territorial, no oeste de Santa Catarina. Mais recentemente,
instalaram novas plantas industriais em estados do Centro-Oeste, passando a estabelecer
contratos com integrados de maior porte. Em 2003, a Perdigão produziu, na cidade de Videira
(SC), 146.158 t de frango, através de contratos com 600 integrados. No mesmo ano, a
produção da empresa na cidade de Rio Verde-GO, foi de 171.470 t de frango, com apenas 78
integrados, que investiram em galpões com maior capacidade de alojamento de aves, mais
automatizados e com menores custos médios. Ou seja, na região tradicional, em que a
concentração fundiária é menor e que se utiliza, basicamente, mão-de-obra familiar, a
produção média por integrado foi de 243,6 t, enquanto na região de expansão, com grande
emprego da mão-de-obra assalariada, receberam-se, em média, 2.198,3 t de frango de cada
integrado, reduzindo-se custos de transporte, de assistência técnica e administrativos
(FRANÇA, 2005).
Outra instituição que atua no fornecimento de insumos e na compra de produtos
agrícolas são as cooperativas. As maiores contam em suas estruturas com serviços de
Assistência Técnica e Extensão Rural.
Não se olvidando dos benefícios que advêm para os agricultores, e mesmo para as
regiões produtivas, das relações que eles mantêm com as empresas a montante e à jusante, é
necessário abordar problemas e conflitos daí derivados. Um deles é a vinculação ou, sendo
mais drástico, o aprisionamento a determinada tecnologia. Não se pode exigir que uma
empresa de fertilizantes químicos estimule e divulgue métodos alternativos de adubação,
como a verde ou orgânica, o uso de microrganismos simbióticos e absorvedores de nutrientes
do ar. Isso também não acontecerá com empresas de agrotóxico em relação a controles
alternativos e naturais de pragas, doenças e ervas daninha. E muito menos, que essas empresas
e de outros ramos invistam em pesquisa e no desenvolvimento de produtos e processos que
restrinjam o mercado de seus produtos tradicionais.
Outro problema decorre da capacidade de manipulação de preços. É comum a
reclamação de agricultores em relação à demora das agroindústrias em repassar eventuais
aumentos de preços dos produtos industrializados aos preços de suas matérias-primas
agropecuárias. Já em situação inversa, de queda de preço dos industrializados, o repasse para
trás na cadeia é quase imediato.
Disso e de outros fatos deriva a necessidade de se pensar em mecanismos alternativos
de geração de conhecimento e de difusão de tecnologia, não vinculados à determinada
empresa vendedora de fatores de produção ou compradora de produtos agropecuários. É
importante que o agricultor tenha acesso a um leque maior de opções tecnológicas e de
possibilidades produtivas, através do relacionamento com empresas privadas, preocupadas em
fornecer informações mais gerais, técnicas, gerenciais e econômicas, aos agricultores.
Mas, a questão é ainda mais ampla. Há de se pensar em garantir o funcionamento de
mecanismos e instituições com caráter público, que possibilitem o desenvolvimento e a
veiculação de conhecimentos e técnicas que o mercado privado amiúde não proporciona.
Entenda-se que estamos usando o termo público não como sinônimo de estatal ou
governamental. O espaço estatal, não raras vezes, é apropriado por interesses privados
específicos, quando, por exemplo, uma firma de agrotóxicos ou de outro ramo financia um
experimento de um produto próprio em uma universidade pública. Público significaria a
representação do interesse difuso da sociedade em determinado momento, mesmo sabendo o
quão difícil é delimitá-lo e que há muitas contradições e conflitos no ambiente social.
O mercado não irá desenvolver um sistema que acumule e interprete informações
meteorológicas, o que custa caro e não tem como ser ressarcido individualmente. Condições
do tempo ou do clima ficam disponíveis para todos os interessados, que não pagam por isso,
constituindo-se um típico bem público.
Há outros temas mais apropriados às instituições públicas, como as normas de saúde
pública e de sanidade animal e vegetal, a legislação trabalhista, o uso de equipamentos de
proteção individual, a contaminação química e biológica dos produtos agropecuários, a
qualidade nutricional dos alimentos, o combate à erosão, a legislação ambiental, de proteção e
de manejo de vegetações naturais e da água de superfície e subterrânea, o conjunto de
políticas agrícolas disponíveis, as tendências dos mercados, o rol de tecnologias disponíveis.
Resta saber se esses e outros temas, de caráter público, devem ser objeto de ação
apenas de empresas estatais ou podem contar com a participação de organizações não
governamentais ou mesmo de empresas privadas de assessoria, mas que atuem sob o
acompanhamento de órgãos governamentais.
Esta discussão pode ser traduzida na diferenciação, correta em meu entendimento,
entre a Extensão Rural e a Assistência Técnica. Esta estaria relacionada com o fornecimento
de um produto ou processo específico, caracterizando tipicamente a ação de empresas
privadas provedoras de insumos agropecuários, por exemplo. Já a Extensão Rural envolveria
ações de caráter mais educativo e preocupar-se-ia com as condições socioeconômicas de seus
beneficiários, tentando apresentar soluções de emancipação social dos agricultores. Algumas
visões vão além, propondo que a Extensão Rural se estabeleça em profundo diálogo com seus
beneficiários.
Voltemos aos integrantes das cadeias agroalimentares. Nem todos serão aqui
abordados, mas é importante tecer considerações sobre os que estão ligados à comercialização
de produtos agropecuários e de seus derivados. Comecemos pelo comércio varejista de
alimentos e pela ação dos supermercados.
No mundo inteiro tem-se observado, nos últimos 50 anos, o avanço de grandes redes
de supermercados que dominam o varejo alimentar, o que se repete no Brasil. Em 1970, os
estabelecimentos tradicionais (empórios, quitandas, padarias, açougues, feiras livres etc.)
participavam de 70,7% das vendas varejistas de alimentos no Brasil, e os baseados em
autosserviço (supermercados) tinham participação de 29,3%, valores que passaram,
respectivamente, para 7,5% e 92,5%, em 2012 (BELIK, 2001; HILÁRIO, 2013).
Entre suas empresas, verifica-se elevado nível de concentração. Os três maiores
grupos em atuação no Brasil, Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, foram responsáveis por
45,9% das vendas do setor varejista de alimentos no País, em 2012, sendo que, isoladamente,
o Pão de Açúcar teve participação de 22,9% (HILÁRIO, 2013). Com isto, ganham imensa
capacidade de negociar preços e aspectos qualitativos com seus fornecedores, sejam da
indústria alimentícia, sejam agricultores.
Podemos citar algumas características da venda de produtos da olericultura pelos
supermercados. De maneira geral, há forte exigência dessas empresas com a apresentação e o
frescor de FLVs - mesmo porque eles servem de atração aos consumidores3 -, sendo comum a
devolução de produtos considerados não adequados. Além do mais, o setor de FLV respondeu
por 12% do faturamento bruto dos supermercados no Brasil, em 2012, perdendo apenas para
bebidas alcoólicas e não alcoólicas (BELIK; CUNHA, 2015). Segundo os mesmos autores, o
consumidor, por sua vez, concentra 80% de suas compras de hortigranjeiros nos
supermercados.
As grandes redes de supermercado realizam constantes pesquisas de opinião junto a
seus consumidores. Nas maiores cidades, em regiões com renda per capita mais alta,
perceberam o interesse em produtos orgânicos, mesmo com preços mais elevados que os
convencionais. O Pão de Açúcar mantém, em algumas de suas lojas, as chamadas Ilhas
Orgânicas, garantindo aos clientes que monitora a produção primária desses produtos (PÃO
DE AÇÚCAR, 2013). No Carrefour, parte da comercialização de alguns produtos (frutas,
legumes, verduras, carnes, peixes, arroz, feijão, palmito, sucos, café e ovos) é feita com o Selo
Garantia de Origem Carrefour. Para tanto, a empresa garante acompanhar todas as etapas
produtivas, desde o fornecimento de insumos agropecuários até a venda ao consumidor,
procurando-se evitar a presença excessiva de contaminantes químicos (CARRFOUR, 2013).
A ação dos supermercados, para Belik (2001) e Belik e Cunha (2015), inibiu o
crescimento de centrais públicas atacadistas de hortigranjeiros, como a Rede
CEASA/CEAGESP (Central de Abastecimento e Companhia de Entrepostos e Armazéns
Gerais de São Paulo) em São Paulo. De qualquer maneira, este continua sendo um importante
canal de comercialização de produtos da olericultura, embora as vendas sejam dominadas por
atacadistas e não pelos próprios agricultores, como se intencionava inicialmente. Ademais, a
Rede CEASA/CEAGESP serve como balizador de preços de hortigranjeiros para os
agricultores e para os consumidores.
3 Estudo feito pela Associação Paulista de Supermercados, em 2009, e citado por Belik e Cunha (2015), mostrou que 61% dos consumidores escolhiam os supermercados pela qualidade e frescor dos hortigranjeiros.
2.2 - Tendências no Consumo de Alimentos e de Produtos da OlericulturaAutores como Oliveira e Thébaud-Mony (1996) afirmam que, em grande parte do
mundo contemporâneo, desenvolveu-se o padrão de consumo agroindustrial ou ocidental,
caracterizado pelo crescimento das refeições realizadas fora do domicílio, a predominância de
alimentos industrializados e o aumento da diversidade de produtos na cesta de alimentos.
Nesta última, merece ser destacada a ampliação do consumo de proteínas animais4 e de frutas,
legumes e verduras.
A diversificação tende a se ampliar de acordo com a renda do País ou das pessoas. “Segundo estudos da Unilever, até aproximadamente US$ 5 mil de renda per capita anual, a demanda por alimentos de uma população se resume a cereais e produtos in natura. A partir desta faixa de renda, tem início a demanda por produtos básicos de mercearia. Os produtos congelados passam a fazer parte da dieta das famílias com renda per capita a partir de US$ 10 mil. Finalmente, os produtos pré-preparados, variedades de marca e produtos frescos modernos só deverão entrar na cesta de consumo de compradores com renda per capita acima de US$ 15 mil anuais” (BELIK, 2001, p. 45).
Ou seja, os hortigranjeiros tendem a estarem presentes, mais significativamente, na
dieta de consumidores com maior poder aquisitivo, assim como carnes, laticínios e açúcar. Ao
mesmo tempo, perdem importância as fontes de carboidratos e proteínas vegetais, que no
Brasil têm significado a redução do consumo per capita de farinha de mandioca, arroz e
feijão.
O padrão de consumo agroindustrial desenvolveu-se, garantindo maior diversidade e
quantidade de alimentos, o que pode ser medido pela disponibilidade atual de Kcal per capita
derivadas dos alimentos. Contudo, este padrão de consumo também se associa à ingestão de
alimentos acima do necessário e de forma desequilibrada, com excesso de gorduras, açúcares
e carboidratos e, muitas vezes, insuficiência de vitaminas, sais minerais e fibras. O
sedentarismo é o ingrediente adicional que leva ao aumento do número de pessoas com
sobrepeso ou obesidade, inclusive em crianças e adolescentes, e de problemas de saúde
decorrentes, como os cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer. Nos EUA, por
exemplo, a obesidade atinge mais de 30% da população.
Verifica-se, atualmente, uma tendência de parcela dos consumidores melhorarem, em
termos nutricionais, seus hábitos alimentares, substituindo produtos muito processados, com
excesso de açúcar e/ou sal, por produtos in natura, abrindo espaço para os FLV. Todavia, não
4 “De hecho, com el crecimiento económico a largo prazo em todo el mundo desde princípios de la década de 1960, el aumento del consumo de alimentos de origem animal há superado notablemente el crecimiento del consumo de otros importantes grupos de alimentos. El consumo de leche por persona há sido casi el doble em los países em desarollo, el consumo de carne y pescado se há triplicado y el consumo de huevos se há multiplicado por cinco” (FAO, 2012, p.18).
se deve esquecer de que, além da questão econômica, produtos industriais tendem a trazer
praticidade no preparo e no consumo, itens que ficam ainda mais atrativos em um cotidiano
agitado e com pouca disponibilidade de as pessoas se dedicarem aos afazeres domésticos.
De qualquer forma, pode-se pensar em se juntar à opção de parcela dos consumidores
por uma alimentação mais saudável, ações públicas de educação alimentar e de maior
exigência nutricional nas normas sanitárias. Isto contribuiria para que se fortalecesse o
consumo de FLV, com repercussões importantes em sua produção.
Alguns movimentos sociais têm apresentado questionamentos mais profundos sobre as
bases do padrão de consumo agroindustrial, podendo-se constatar a formação de mercados
específicos de alimentos. Ente eles citem-se o Comércio Justo e Solidário (Fair Trade), o de
alimentos funcionais e o de produtos orgânicos. Neste caso, há mudança radical na forma de
produção agropecuária, não se usando, por exemplo, agrotóxicos, fertilizantes químicos nem
sementes transgênicas.
Para a FAO (2013), a área agropecuária mundial com produtos orgânicos passou de
11,0 milhões ha em 1999, para 37,2 milhões ha em 2011, envolvendo 1,8 milhão de
agricultores. No mesmo ano, a venda de alimentos e bebidas orgânicas atingiu US$ 63
bilhões, 90% dos quais na América do Norte e na Europa, ou seja, nas regiões mais ricas.
3 - Políticas Brasileiras de Extensão RuralComo não poderia deixar de ser, a Extensão Rural, com seu significado de levar novos
conhecimentos aos agricultores, desde sempre apresentou forte ligação com as instituições de
pesquisa e de ensino. Neste sentido, ainda no século XIX, quando foram criados os primeiros
institutos governamentais de pesquisa e escolas de Agronomia, em Estados como Bahia,
Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, puderam ser observadas ações típicas de Extensão
Rural. Entre elas, podem ser citadas as publicações especializadas, os eventos para
demonstrações práticas de novas técnicas (como os atuais dias de campo), a instalação de
fazendas-modelo para visitação dos agricultores, a realização de feiras agropecuárias, com
premiação aos considerados melhores expositores.
Entretanto, foi apenas no final da década de 1940 que as ações de Extensão Rural, até
então esparsas e ligadas a outros temas, alcançaram novo patamar, com a criação de órgãos
específicos. Sob a inspiração norte-americana, em 1948, foi criada a Associação de Crédito e
Assistência Rural (ACAR) no Estado de Minas Gerais. Nas décadas de 1950 e 1960, em
outros 23 estados verificou-se a instalação de novas ACAR, dando margem à instituição da
Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) e do Sistema Brasileiro de
Extensão Rural (SIBER), procurando congregar as ações estaduais.
Como salienta Peixoto (2014, p. 18), “As Acars eram entidades civis, sem fins
lucrativos, que prestavam serviços de extensão rural e elaboração de projetos técnicos para
obtenção de crédito junto aos agentes financeiros.” Além de técnicos especializados, as Acars
contavam com e procuravam fortalecer o papel de lideranças dos agricultores na disseminação
de novas técnicas e no acesso de políticas públicas pelos seus pares.
Os anos iniciais da década de 1960 foram muito ricos, em termos acadêmicos e
sociopolíticos, no que se refere ao debate de políticas agropecuárias necessárias para aumentar
a produção e diminuir o nível de pobreza no meio rural. Havia uma corrente expressiva que
apregoava a necessidade inicial de uma profunda e massiva mudança na estrutura agrária
brasileira - caracterizada pela alta concentração da posse e da propriedade da terra -,
substituindo os latifúndios e promovendo os minifúndios de maneira a constituir propriedades
de tamanho médio, que não mantivessem terras ociosas e que pudessem, mais facilmente,
modernizar-se e ofertar alimentos em maior abundância para as cidades, que cresciam
aceleradamente junto com a industrialização brasileira.
Como se sabe, no campo da política, essa proposta foi derrotada pelo Golpe Militar de
1964. Neste mesmo ano, os militares instituíram o Estatuto da Terra, legislação inovadora que
previa, ineditamente no País, que as terras rurais pudessem ser desapropriadas para fins de
Reforma Agrária através de Títulos de Dívida Agrárias, resgatáveis em até 20 anos. Até então,
desapropriação só era possível com o pagamento prévio e à vista. Em 1970, foi criado o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em substituição a outras
entidades existentes, com o anúncio que se pretendia garantir melhor desempenho às ações
públicas de colonização e de reforma agrária.
Apesar desses avanços institucionais, a ação efetiva dos governos militares foi de não
mexer na estrutura agrária, com o INCRA cumprindo, basicamente, o papel de viabilizar
ações de colonização de terras devolutas na fronteira agrícola, especialmente na Amazônia,
reservando um papel pontual e esporádico aos atos desapropriatórios. Optou-se pelo estímulo
à modernização tecnológica com a manutenção da estrutura agrária, dando início ao que vem
sendo denominado de Modernização Conservadora da agricultura brasileira.
Duas políticas acabaram por se destacar nessa orientação pública modernizante. Uma
foi o crédito rural, já praticado há décadas no País, mas que ganhou amplo alcance com a
criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em 1965. A partir de então, todos os
bancos comerciais, públicos e privados, passaram a ser obrigados a aplicar um porcentual
mínimo de seus depósitos à vista em operações de crédito rural, cujos contratos embutiam
taxas de juros sistematicamente abaixo da inflação brasileira, fato que perdurou até 1984
(BACCARIN, 2015).
Outra ação significativa foi a criação, em 1972, da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), que efetivamente começou a funcionar em 1973. Garantiu-se
maior abrangência geográfica e sistematicidade orçamentária e de planejamento à pesquisa
agropecuária, que até então estava dispersa nas instituições de ensino superior e em institutos
estaduais, como o Instituto Agronômico de Campinas (SP). Este foi fundamental no
aprimoramento tecnológico da lavoura cafeeira no Brasil, especialmente no campo da
genética, papel que seria cumprido com idêntico sucesso pela EMBRAPA no caso da soja.
Ainda que não com o destaque das duas políticas anteriores, a Extensão Rural foi
contemplada com mudanças institucionais. “(...), o Sistema Brasileiro de Extensão Rural começou a ser estatizado através da Lei nº 6.126, de 06 de novembro de 1974, que autorizou o Poder Executivo a instituir a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER), empresa pública, vinculada ao Ministério da Agricultura, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio. A Lei no 6.126, de 1974, estabelecia ainda os objetivos, as fontes de recursos da EMBRATER e promovia a sua integração com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), autorizando-as a dar apoio financeiro às instituições estaduais oficiais que atuassem em ATER e pesquisa agropecuária” (PEIXOTO, 2014, p. 23).
A partir daí, as estruturas das ACARs foram sendo absorvidas pelos governos
estaduais e transformadas em empresas públicas de assistência técnica e extensão rural
(EMATER), enquanto o SIBER era substituído pelo Sistema Brasileiro de Assistência
Técnica e Extensão Rural (SIBRATER), que procurava agregar tanto entidades estatais como
não estatais de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). São Paulo foi o único estado
que não aderiu ao sistema EMBRATER/SIBRATER, tendo criado, ainda em 1967, a
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), que administrava uma rede de Casas
de Lavoura (mais recentemente, de Agricultura) espalhadas pelos municípios paulistas.
No âmbito do sistema EMBRATER/SIBRATER, o Governo Federal cumpria o papel
de estabelecer as diretrizes de seu funcionamento e de financiar parte significativa dos gastos
feitos pelos governos estaduais. Na década de 1980, cerca de 40% dos gastos com ATER dos
estados brasileiros foram garantidos com repasses federais, ultrapassando 80% naqueles mais
pobres (ASBRAER, 2007).
A Constituição Brasileira de 1988 reconheceu formalmente que a ATER deveria ser
um dos componentes da Política Agrícola. Mas, na prática, nos anos seguintes, a política de
ATER sofreu descontinuidade, com a eliminação de seus principais órgãos. O Governo Collor
de Mello, de pronto, extinguiu a SIBRATER e a EMBRATER.“A EMBRATER foi (...) extinta pelo Decreto no 99.192, de 15 de março de 1990, no primeiro dia do governo Collor, junto com outras estatais. (...). A resposta das instituições estaduais de ATER, então, foi a criação da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (ASBRAER), em 21 de março de 1990. Todavia, a ASBRAER só viria a desempenhar um papel mais relevante da articulação dos serviços de ATER anos mais tarde. Nos anos subsequentes à extinção da EMBRATER, houve desorganização de todo o sistema oficial de ATER, provocando nos estados extinções, fusões, mudanças de regime jurídico, sucateamentos e, principalmente, a perda de organicidade e de articulação entre as diversas instituições executoras do serviço” (PEIXOTO, 2014, p. 26).
Algumas ações públicas federais foram tentadas para compensar a extinção do sistema
EMBRATER/SIBRATER, como a atribuição à EMBRAPA de um papel mais efetivo e
específico de extensão rural. Todavia, isto, bem como outras medidas, foi insuficiente para
garantir uma atuação minimamente adequada aos serviços públicos federais de ATER na
década de 1990. Até porque predominava a concepção de que a obtenção de informações
tecnológicas, necessárias aos agricultores, deveria ser garantida via mercado e não via estatal.
A ação mais abrangente do Governo Federal no campo da ATER só iria ser recuperada
no século XXI, com nova orientação, a de se vincular especificamente com a agricultura
familiar. Para ser considerado como da agricultura familiar, um estabelecimento agropecuário
deve ser de pequeno porte, possuindo até quatro módulos fiscais de área, ter predomínio do
trabalho familiar em relação ao assalariado, com a gestão sendo conduzida pela própria
família e que esta dependa, de forma predominante, da renda do estabelecimento para
sobreviver.
A nova orientação pode ser interpretada da seguinte maneira: o grande agricultor teria
recursos suficientes para pagar diretamente pela ATER, enquanto os agricultores familiares
não apresentariam renda suficiente para tanto, ficando na dependência da oferta de ATER por
órgãos governamentais.
Uma análise dos dados do Censo Agropecuário 1995/96, feita por Guanzirolli e
Cardim (2000) e citada por Peixoto (2014, p. 27), informa que: “O acesso à tecnologia apresenta grande variação tanto entre familiares e patronais quanto entre os agricultores de diferentes regiões, mesmo que de uma mesma categoria. Entre os familiares, apenas 16,7% utilizam assistência técnica, contra 43,5% entre os patronais. Entretanto, entre os familiares este percentual varia de 2,7% na região Nordeste a 47,2% na região Sul. Mesmo considerando as diferenças no interior da agricultura familiar nordestina, o número de agricultores com acesso à assistência técnica é muito pequeno.”
Explicita-se nesta citação uma diferenciação no conjunto de agricultores familiares, o
que se repete nos estudos com base no Censo Agropecuário 2006. Guanzirolli et al. (2009)
estimam que, em 2006, os agricultores familiares com renda superior a três vezes o valor
anualizado da diária regional representavam 9,0% do total de agricultores familiares. Os que
contavam com renda entre metade e três vezes o valor anualizado da diária regional eram
33,2%, e os que percebiam menos que a metade daquele valor eram 57,6% do total de
agricultores familiares. Enquanto o primeiro grupo era responsável por 67,8% do Valor Bruto
da Produção da agricultura familiar, o segundo tinha uma participação de 21,0%, e o terceiro,
de apenas 11,2%.
Existem agricultores familiares que usam tecnologias modernas, com atividades
econômicas integradas ao mercado, embora sujeitos, normalmente, a condições menos
favoráveis em relação aos preços pagos e recebidos pelos grandes agricultores. Existem
também os que praticam agricultura de subsistência, vivem em condições de pobreza, sendo
que, muitas vezes, obtêm parcela de seu rendimento com o assalariamento temporário fora de
seus estabelecimentos. Neste caso, a maioria deles está localizada na região do Semiárido, que
impõe severas restrições edafoclimáticas às práticas agropecuárias.
Voltando-se às políticas agrícolas, convém tecer algumas considerações sobre aquelas
direcionadas especificamente à agricultura familiar pelo Governo Federal. Há quase um
consenso entre os analistas que isto começa a se firmar a partir de 1996, em que se verificava
uma crise generalizada na agricultura brasileira, em grande parte associada à valorização
cambial do Plano Real. Ao mesmo tempo, os conflitos fundiários aumentaram, ganhando
destaque episódios como o de Corumbiara (RO), em agosto de 1995, e o de Eldorado dos
Carajás (PA), em abril de 1996, nos quais embates entre os sem Terra e Polícia Militar
resultaram na morte de três dezenas de trabalhadores. O Movimento Sem Terra (MST)
conseguiu organizar grandes marchas reivindicatórias em direção à Brasília, à época, com
forte apoio de setores sociais urbanos.
Neste ambiente e aproveitando estudos e formulações acadêmicas, o movimento social
conseguiu viabilizar junto ao Governo Federal a criação de novos programas e órgãos
públicos direcionados à agricultura familiar. Assim, o Decreto s/n., de 29-4-1996, nomeou o
Ministro Extraordinário da Política Fundiária e, mais adiante, as Medidas Provisórias 1911-
1912 e 1911-1914 fizeram com que o Ministério da Política Fundiária passasse da condição
de extraordinário para ordinário, recebendo a nova denominação de Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), que perdura até o presente momento.
Quanto aos programas, em 1996, o Decreto 1.946, de 28-1-1996, havia instituído o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), com o objetivo de
propiciar crédito rural, de custeio e investimento, aos agricultores familiares, com juros mais
baixos que os do crédito rural convencional. Também aumentaram as ações de desapropriação
para reforma agrária entre 1996-1998, sem maior continuidade, verificando-se redução
evidente no período 1999-2002 (BACCARIN, 2015)
A partir de 2003, conforme Baccarin (2015), um novo conjunto de programas foi
direcionado à agricultura familiar, além dos recursos do PRONAF aumentarem ano a ano e
crescer o número de famílias assentadas na reforma agrária, pelo menos até 2006.
Em 2003, foi criado o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar
(PAA), autorizando a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e outros órgãos
públicos a realizarem, por um preço previamente fixado, compra direta de alimentos ou
financiamentos de seus estoques dos/pelos agricultores familiares em limite inicial de R$
2.500,00/ano/agricultor. Esse valor foi elevado, em 2006, para R$ 3.500,00 e na safra de
2013/2014 estava vigorando o valor de R$ 8.000,00. Após a aquisição, os alimentos são
destinados a estoques governamentais e para programas institucionais, como a distribuição de
leite no Semiárido Brasileiro, de cestas de alimentos ou para alimentação escolar. Além do
seu efeito direto, o PAA, ao permitir canal alternativo de venda, costuma servir como
balizador de preços oferecidos por atacadistas e comerciantes a produtos da agricultura
familiar.
Outra iniciativa direcionada à compra de produtos originários da agricultura familiar
foi a aprovação da Lei 11.947/2009, que regulamenta a Política Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE). Ela determina, em seu Artigo 14, que no mínimo 30% dos recursos da
alimentação escolar repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) para estados e municípios devam ser destinados à compra de produtos da agricultura
familiar, até um limite anual de R$ 20.000,00 por agricultor.
Na safra 2004/2005 começou a vigorar o Seguro da Agricultura Familiar (SEAF) para
os créditos de custeio do PRONAF. O prêmio do SEAF varia de 2% a 4%, podendo ser
acionado quando as perdas ultrapassarem 30% da produção esperada.“O SEAF garante 100% de cobertura para o financiamento do PRONAF e 65% da renda líquida esperada, em casos de secas, geadas, chuva de granizo, tromba d’água, vendaval e as geradas por doença fúngica ou praga sem método difundido de combate, controle ou profilaxia, no custeio de culturas com Zoneamento Agrícolas” (MDA, 2007).
Na safra de 2010/2011 tornou-se possível o seguro de clima para operações de
investimento.“O agricultor que tem operações de investimento e realiza o plantio de culturas que se enquadram no SEAF pode segurar o valor das prestações de investimento com o pagamento de um adicional de (...) 2% sobre o valor das prestações. A adesão ao seguro de investimento é opcional” (MDA, 2010).
Na safra de 2006/2007 passou a funcionar o Programa de Garantia de Preços para a
Agricultura Familiar que objetiva a proteção contra a queda de preços no período de colheita.
Essa garantia deve ser acionada quando o preço de mercado, por ocasião da venda da
produção, for menor que o preço de referência, definido previamente, sendo que essa
diferença é descontada no pagamento do financiamento de custeio ou investimento do
PRONAF. Na safra de 2013/2014 foram contemplados 49 produtos agropecuários com este
programa.
E, quanto ao que nos interessa mais de perto, foi promulgada uma série de medidas,
desde 2003, com vistas a recuperar o papel do Governo Federal na área de ATER, mas desta
vez com vínculo específico à agricultura familiar e aos assentados de reforma agrária. Assim,
o Decreto 4.739, de junho de 2003, deliberou que a coordenação nacional de ATER passaria a
ser exercida pela Secretaria de Agricultura Familiar do MDA. A partir daí, elaboraram-se a
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), em 2004, e o
Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PRONATER), em 2005, e
constituiu-se o Comitê de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), como seu órgão
executivo e que guarda relativa semelhança com a extinta EMBRATER. Já o Decreto 25, de
março de 2006, definiu a implementação e estabeleceu as diretrizes do Sistema Brasileiro
Descentralizado de Assistência Técnica e Extensão Rural (SIBRATER).
Essas medidas foram referendadas pelo Congresso Nacional, em 2010, quando da
aprovação da Lei 12.188, que instituiu a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária (PNATER) e o Programa Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária
(PRONATER).
Concomitantemente, os recursos do Governo Federal para ATER foram aumentando.
Na safra de 2003/2004, foram disponibilizados R$ 46 milhões para esse programa, valor que
atingiu R$ 830 milhões em 2013/2014 (MDA, 2013).
Desde a safra 2010/2011, os recursos de ATER são repassados para empresas privadas
ou públicas com expertise na área, através do instrumento denominado Chamada Pública.
Nela, é definida uma série de quesitos, como região e número de agricultores a serem
atendidos, metas relativas às diversas ações de ATER, valor a ser repassado, etc.
Basicamente, a seleção da empresa vencedora baseia-se em seu acervo técnico.
Segundo Diesel et al, (2015, p. 124), em 2010, foram realizadas 137 chamadas
públicas de ATER pelo Governo Federal, visando a atender a 290 mil agricultores familiares,
o que mesmo somado aos atendimentos por órgãos estaduais5, mostra-se insuficiente para um
universo de 4,37 milhões de agricultores familiares no Brasil (IBGE, 2009).
Esta forma de atuação é muito recente, o que não impede que ela seja questionada.
Optou-se por não se instituir uma estrutura mais duradoura, com base em servidores públicos,
procurando associar as ações de ATER a outros programas ou projetos, como o Território da
Cidadania, que propõe a aplicação de um conjunto de ações de políticas agrícolas nas regiões
mais pobres dos estados e do País. À medida que esses projetos e programas mudam, os
conteúdos das Chamadas Públicas de ATER se alteram, garantindo-lhe maior agilidade e
adaptabilidade. O risco que se corre, entretanto, é de haver descontinuidade nos serviços de
ATER para um determinado grupo de agricultores, mesmo porque os contratos estabelecidos
com os vencedores das Chamadas Públicas duram dois anos, no máximo.
Para os assentamentos federais de reforma agrária, o INCRA tem adotado o mesmo
procedimento da Chamada Pública na contratação de serviços de ATER.
4 - Acesso à Extensão Rural e Perspectivas para OlericultoresAtravés da Tabela 1, baseada nas últimas edições de censo agropecuário, pode-se
verificar como vem evoluindo o acesso dos agricultores à Extensão Rural, outras políticas
públicas e algumas tecnologias. Infelizmente, a última edição do censo disponível é a de
2006, impedindo de se aferir, a partir desta fonte, as repercussões sociais das recentes medidas
governamentais tomadas no campo da ATER.
Tabela 1 – Proporção de estabelecimentos rurais com uso de tecnologias ou contemplados com políticas públicas no Brasil, 1980 a 2006.
Tipo de Tecnologia ouPolítica Pública
Ano1980 1985 1995/96 2006
Conservação do Solo 13,0 12,6 29,6 33,0Irrigação 3,6 4,1 5,9 6,3Energia Elétrica 10,4 16,9 40,0 68,1Assistência Técnica - 10,7 19,5 24,0Crédito Rural 21,0 12,6 5,3 15,1
Fonte: IBGE (1984, 1991, 1998, 2009).
5 Em 2012, a ASBRAER (2014) informa que os serviços estaduais de ATER atenderam dois milhões de agricultores, não deixando claro se um mesmo agricultor foi atendido mais de uma vez.
A pergunta sobre ATER começou a ser realizada no Censo de1985 e, de lá para cá, o
número de agricultores que dizem receber Assistência Técnica tem crescido, embora em 2006
se resumisse a pouco menos de ¼ dos agricultores brasileiros.
É importante dizer-se que, enquanto em 1985, 52,7% da assistência técnica recebida
pelos estabelecimentos rurais eram provenientes de instituições públicas, em 2006, este valor
tinha-se reduzido para 39,5%. Neste último ano, a assistência técnica também provinha do
próprio estabelecimento (em 20,1% dos casos), de cooperativas (18,1%), de empresas
integradoras (12,3%), de empresas privadas de planejamento (6,9%), de organizações não
governamentais (0,5%) e de outras fontes (2,4%). Ou seja, em termos da porcentagem de
agricultores atendidos, percebe-se uma diminuição da participação estatal em favor da
iniciativa privada na oferta de ATER no Brasil.
Pode-se verificar, para 2006, como os diversos estados e regiões geográficas
brasileiras foram contemplados com ATER, o que se faz através da Tabela 2. Na região Sul,
constata-se a maior porcentagem de estabelecimentos agropecuários com ATER, acima de
50%, com destaque para o Estado de Santa Catarina. Ao contrário, no Nordeste, apenas 8,6%
dos estabelecimentos foram contemplados com ATER, com a pior situação sendo verificada
no Maranhão, e a melhor, no Rio Grande do Norte, bem acima da média regional.
Tabela 2 - Importância da Assistência Técnica e Extensão Rural nos estabelecimentos agropecuários de estados e grandes regiões do Brasil (2006).
Estados Regiões
Total Estabel.
Estabel. c/ ATER % Estados
RegiõesTotal
Estabel.Estabel. c/ ATER %
Brasil 5.175.636 1.243.616 24,0 Sergipe 100.607 11.413 11,3Norte 475.778 75.629 15,9 Bahia 761.558 54.123 7,1Rondônia 87.078 25.739 29,6 Sudeste 922.097 304.278 33,0Acre 29.483 2.936 10,0 Minas Gerais 551.621 152.458 27,6Amazonas 66.784 8.971 13,4 Espírito Santo 84.361 23.459 27,8Roraima 10.310 847 8,2 Rio de Janeiro 58.493 18.549 31,7Pará 222.029 21.827 9,8 São Paulo 227.622 109.812 48,2Amapá 3.527 1.475 41,8 Sul 1.006.203 550.947 54,8Tocantins 56.567 13.834 24,5 Paraná 371.063 184.158 49,6Nordeste 2.454.060 211.017 8,6 Santa Catarina 193.668 118.973 61,4Maranhão 287.039 12.447 4,3 Rio Grande Sul 441.472 247.816 56,1Piauí 245.378 15.818 6,4 Cent.-Oeste 317.498 101.745 32,0Ceará 381.017 46.050 12,1 Mato G. Sul 64.864 26.448 40,8Rio G. do Norte 83.053 18.917 22,8 Mato Grosso 112.987 29.058 25,7Paraíba 167.286 15.741 9,4 Goiás 135.692 42.760 31,5Pernambuco 304.790 26.409 8,7 Distrito Federal 3.955 3.479 88,0Alagoas 123.332 10.099 8,2Fonte: IBGE (2009).
Na Região Norte, a porcentagem de estabelecimentos com ATER, aos moldes do
Nordeste, mostrava-se abaixo da média nacional. Desconsiderando-se o Amapá, com número
de estabelecimentos muito reduzido, as melhores situações eram verificadas em Rondônia e
Tocantins.
O Sudeste e o Centro-Oeste apresentavam uma situação muito parecida, com próximo
a 1/3 de seus estabelecimentos sendo contemplados com ATER. Entre os estados, destacava-
se, no Sudeste, o de São Paulo, com praticamente metade de seus estabelecimentos sendo
atendidos por ATER. No Centro-Oeste, verificava-se uma posição muito favorável em
Brasília, a melhor de todo o País, embora se deva considerar o pequeno número de
estabelecimentos locais.
Outro cruzamento que os dados do Censo de 2006 permitem é verificar a importância
de ATER por tamanho, em hectares, dos estabelecimentos. Neste caso, consideraram-se seis
agrupamentos: estabelecimentos até 10 ha (muito pequenos), de 10 a 50 ha (pequenos), de 50
a 100 ha (médios), de 100 a 200 (médio-grandes), de 200 a 1.000 ha (grandes) e acima de
1.000 ha (muito grandes estabelecimentos). Os resultados aparecem na Tabela 3.
Tabela 3 - Porcentagem de estabelecimentos agropecuários contemplados com ATER estatal e privada, Brasil, 2006.Tamanho Estabelecimento ATER Estatal ATER Privada ATER TotalMuito Pequenos 6,8 7,5 14,3Pequenos 13,9 20,3 34,3Médios 11,9 20,0 31,9Médio-Grandes 10,8 24,7 35,6Grandes 10,0 37,4 47,4Muito Grandes 8,0 58,0 65,9Fonte: IBGE (2009).
Como era de se esperar, a tendência é de crescer a porcentagem de estabelecimentos
com acesso à ATER à medida que seu tamanho aumenta. Apenas 14,3% dos estabelecimentos
até 10 ha tiveram acesso à ATER, em 2006, contra 65,9% dos estabelecimentos muito
grandes. A ATER estatal é relativamente mais importante para os estabelecimentos pequenos,
de 10 a 50 ha, e, a partir daí, tende a diminuir, ainda que muito levemente. O privilégio que se
poderia esperar da ATER estatal aos estabelecimentos de menor porte, praticamente, não é
verificado. Já a ATER privada ganha importância à medida que o estabelecimento fica com
maior porte e apresenta maior capacidade financeira de buscar assistência técnica no mercado.
Sabe-se que grande parte da olericultura é realizada em pequenas áreas. Com base no
Censo de 2006, Belik e Cunha (2015, p. 219) afirmam que 73% da produção da horticultura e
da floricultura no Brasil são provenientes de estabelecimentos de até 10 ha, e 94%, de até 50
ha. No caso da fruticultura, mais de 90% da produção originam-se em estabelecimentos de até
10 ha, sendo que, no caso particular da laranja, esse valor é um pouco menor, de 86%.
Os parágrafos anteriores poderiam levar ao seguinte raciocínio: como os
estabelecimentos de pequeno porte são menos atingidos por ações de ATER e como os
estabelecimentos da olericultura são de pequeno porte, conclui-se que a olericultura é pouco
contemplada com ATER.
Essa conclusão, contudo, deve ser relativizada. Em parte, porque as informações da
Tabela 3 dizem respeito a todo o Brasil e pode-se que em alguns estados ou em algumas de
suas regiões, em que predomina a olericultura, a importância de ATER pode ser maior.
Além disso, a Tabela 3 toma como indicador de tamanho dos estabelecimentos a sua
área e sabe-se que os estabelecimentos da olericultura tendem a ser relativamente maiores na
renda bruta obtida, garantindo maior condição financeira de contratar ATER. Através da
Tabela 4 é possível perceber que as frutas e legumes em áreas relativamente menores, quando
comparadas com as demais culturas, obtêm alto valor da produção. O exemplo mais gritante é
do tomate, que com área de apenas 63.859 ha gerou mais de R$ 3,3 bilhões de renda bruta em
2012.
Tabela 4 – Área e valor da produção de culturas agrícolas brasileiras com valor da produção acima de R$ 2,0 bilhões (2012).
Cultura Área Colhida (ha) Valor da ProduçãoMil Reais % Total
Soja 24.975.258 50.465.629 24,7Cana-de-açúcar 9.705.388 40.451.016 19,8Milho 14.198.496 26.824.867 13,2Café 2.120.080 16.711.208 8,2Algodão herbáceo 1.381.919 8.134.897 4,0Mandioca 1.692.986 7.885.089 3,9Arroz 2.413.288 6.290.787 3,1Feijão 2.709.485 6.216.876 3,0Fumo 410.225 4.600.116 2,3Laranja 729.583 4.595.830 2,3Banana 481.116 4.396.349 2,2Tomate 63.859 3.356.331 1,6Batata Inglesa 135.970 2.345.778 1,2Trigo 1.912.711 2.324.278 1,1Uva 82.063 2.042.870 1,0Demais 4.339.386 17.313.495 8,5Total 67.351.813 203.955.416 100,0Fonte: IBGE (2013).
4.1 - Perspectivas dos Mercados da Olericultura
Quando se fala em Extensão Rural, não apenas as técnicas produtivas devem ser
abordadas, pois há questões econômicas e de estratégicas mercadológicas, além de outras, que
podem ser consideradas. Sugerimos aqui três possibilidades de ampliação do mercado para
olericultores.
Já se comentou que, à medida que a renda per capita aumenta, diversifica-se a dieta,
com maior consumo de FLV. Os dados do comércio internacional mostram o grande
dinamismo do mercado destes produtos, sendo que, entre 2000 e 2010, as exportações
mundiais de frutas e vegetais aumentaram de 75 bilhões para 158 bilhões de dólares, maior
crescimento absoluto entre todos os grupos de produtos agrícolas analisados (FAO, 2013).
Isto, apesar de todas as dificuldades logísticas de exportar frutas e vegetais in natura.
Indicadores recentes do Brasil mostram que, embora tenha aumentado a
disponibilidade per capita de alimentos no Brasil, mantiveram ou até aumentaram os
problemas associados à sua qualidade nutricional. Quanto aos macronutrientes, na média, o
brasileiro já consome açúcar em excesso e caminha a passos largos para o mesmo acontecer
com os lipídeos (gorduras). Em relação aos micronutrientes, observam-se algumas
inadequações nutricionais, entre as quais o excesso de consumo de sódio e a baixa ingestão de
cálcio (IBGE, 2010). Uma das consequências da má qualidade nutricional é a elevação do
porcentual de pessoas com sobrepeso, que passou de 29,5%, em 1989, para 50,1%, em 2008,
e de obesidade, de 5,1% para 12,5% no mesmo período, isto para homens em idade adulta no
Brasil (IBGE, 2007, 2010)
Quanto aos grupos de alimentos, seu consumo domiciliar indicava que, em 2008-2009,
consumiam-se lácteos abaixo do recomendado, e os FLV correspondiam a apenas 2,8% das
calorias totais consumidas, cerca de um terço do que é considerado correto (IBGE, 2010).
Estes últimos dados revelam o grande potencial que se tem para melhorar a dieta do
brasileiro, casada com a maior produção de FLV. O crescimento da renda é um fator
importante para elevar o consumo de FLV, ao que se poderiam agregar algumas políticas
públicas, de maior regulamentação e controle de alimentos não saudáveis e de estímulo ao
consumo de FLV. A educação alimentar pode ser iniciada, e há várias experiências boas nesse
sentido em andamento, no Programa Nacional de Alimentação Escolar, com a maior presença
de alimentos in natura no cardápio das refeições servidas aos alunos.
Os próximos anos deverão revelar, no Brasil, o aumento do consumo de produtos de
base orgânica ou, pelo menos, com forte controle de resíduos químicos. Aqui se visualiza um
grande desafio, que é a realização de novas pesquisas e divulgação aos agricultores de seus
resultados técnicos e financeiros. Se se conseguir produzir orgânicos de forma mais barata,
seu mercado consumidor aumentaria, e diminuiria o espaço para a venda de produtos
convencionalmente obtidos, normalmente mais baratos, como se fossem orgânicos.
A produção orgânica precisa ser reconhecida publicamente, e isto é feito através de
sua acreditação ou certificação por profissionais da área. Aliás, em outros casos, a certificação
vem tornando-se obrigatória em termos legais ou necessária para se conseguir vender
determinados produtos agropecuários ou seus derivados. Tal fato acaba por repercutir no
curriculum de escolas de ciências agrárias e no desenvolvimento de mais um conteúdo de
Extensão Rural, possibilitando, inclusive, a criação de consultorias específicas na área.
Há de se citar as perspectivas de que os olericultores familiares ocupem os espaços das
compras institucionais de alimentos. Já se descreveu o PAA e o PNAE e, além deles, há
atualmente uma orientação do Governo Federal para que todos os seus órgãos que gastem
com a compra de alimentos reservem no mínimo 30% destes gastos na aquisição de produtos
da agricultura familiar. No Estado de São Paulo, há alguns anos, foi criado pelo Governo
Estadual o PPAIS (Programa de Promoção da Agricultura de Interesse Social), com a
finalidade de que hospitais, presídios, escolas e outros órgãos que servem refeições adquiram
produtos oriundos de agricultores familiares.
Por fim, deve-se comentar que os preços dos produtos da olericultura têm evoluído, de
forma geral, bem acima da inflação brasileira nos últimos anos. Enquanto, entre 2007-2014, o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 55,25%, a maior parte dos FLV variou
acima de 100%6 (BACCARIN et al., 2015). Ruim para o consumidor, mas uma excelente
oportunidade a ser aproveitada para aumentar a produção na olericultura.
5 - Considerações FinaisCom o desenvolvimento e a massificação do computador e da rede mundial de
computadores - internet - aumentaram muito as possibilidades de se ter acesso a diversos tipos
de informações, que vão de excelentes a péssimas. Especificamente, o agricultor dedicado à
olericultura poderá encontrar sites especializados em informações técnicas, econômicas, de
legislação, de gestão e outras que possam contribuir para o aprimoramento de sua produção e
para a elevação de sua renda. Para tanto, é necessário que as informações sejam filtradas, o
que não é tarefa simples ou trivial.
Essa nova fonte de informações, desenvolvida nos últimos 20-30 anos, junta-se a
outras, públicas e privadas, disponíveis há mais tempo e, como vimos, com alcance
relativamente pequeno em termos de agricultores brasileiros contemplados.
6 Entre 2007-2014, observou-se que o preço ao consumidor no Brasil da batata cresceu 190,4%, do tomate, 110,2%, da cebola, 181,2%, da alface, 123,0%, da banana prata, 110,7%, da maçã, 62,1%, do mamão, 87,3%, da manga, 99,3%, da melancia, 139,8%, da tangerina, 190,2%, da laranja pera, 73,6% e da goiaba, 156,7%.
O sucesso obtido pela agricultura brasileira no mercado mundial, facilmente
comprovado pelos altos e crescentes saldos na Balança Comercial do Agronegócio, não deve
encobrir as deficiências ainda observadas na agricultura, no ensino específico e na política
agrícola brasileira.
Embora isto não seja exclusivo das ciências agrárias, deve-se considerar que seu
ensino não estimula que seus formados tenham uma visão mais geral da atividade agrícola,
que, muitas vezes, nem é tomada como centro das preocupações. A capacidade de orientar o
agricultor em escolher tecnologias adequadas e sustentáveis, de refletir sobre os potenciais
dos mercados, de conhecer e estimular os agricultores, através de suas organizações coletivas,
que tentem influenciar nas políticas agrícolas, é reduzida entre os agrônomos e outros
profissionais, muitas vezes ligados às empresas que fornecem insumos ou compram produtos
dos agricultores. Evidente que tal fato tem forte relação com as oportunidades hoje existentes
no mercado de trabalho para esses profissionais.
A Extensão Rural pública hoje é insuficiente para contribuir para o desenvolvimento
da agricultura praticada especialmente pelos agricultores familiares. Na maioria dos estados
brasileiros, uma porcentagem mínima de agricultores é atendida por esse serviço tão
necessário.
É urgente que sejam feitos estudos sobre a forma com que o Governo Federal vem
tentando retomar uma ação mais efetiva na Extensão Rural, em específico sobre o uso da
Chamada Pública para contratação de empresas de consultoria agropecuária. Ao mesmo
tempo, é fundamental que muitos novos profissionais de ciências agrárias estejam à
disposição dos agricultores brasileiros nos serviços de Extensão Rural, enfrentando os
desafios de atuar em áreas mais amplas e abrindo novas possibilidades para a agricultura
brasileira.
Nos mercados de alguns grãos, com destaque para a soja, o café, o açúcar, e as carnes,
o Brasil figura como primeiro ou segundo exportador mundial. Pode-se pensar em estabelecer
estratégias para que algo semelhante, ao longo de anos, viesse a ocorrer com outros produtos,
como o leite e os da olericultura, em que ainda predominam os agricultores familiares.
O fortalecimento da Extensão Rural poderia, quem sabe, resultar em importante feed
back, que seriam as mudanças na forma como são ensinadas as ciências agrárias, recuperando
ou estabelecendo que a preocupação principal dos profissionais deveria relacionar-se com o
dia a dia vivido pelos agricultores.
6 - Bibliografia
ASBRAER (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão
Rural). Antecedentes históricos. Disponível em http://www.asbraer.org.br. Acesso em 22 de
abril de 2007.
ASBRAER (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão
Rural). Organizações Estaduais de ATER atenderam 2 milhões de agricultores.
Disponível em http://www.asbraer.org.br. Acesso em 18 de julho de 2014.
ANFAVEA (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores). Anuário da
Indústria Automobilística Brasileira – 2013. São Paulo: ANFAVEA, 2013.
BACCARIN, J. G. Sistema de Produção Agropecuário Brasileiro: características e
evolução recente. Jaboticabal: FCAV/UNESP, 2015. (Material Didático).
BACCARIN, J. G.; ALEIXO, S. S. Vem cada vez mais de longe o leite nosso de cada dia:
alterações recentes na cadeia dos lácteos no Estado de São Paulo. Segurança Alimentar e
Nutricional, Campinas, v. 20, p. 62-79, 2013.
BACCARIN, J. G.; BUENO. G.; SILVA, D. B. P. da. Produtos e cadeias agropecuárias e a
inflação brasileira da alimentação no domicílio. Revista de Política Agrícola, v. 24, p. 38-57,
2015.
BELIK, W. Muito além da porteira – mudanças na forma de coordenação da cadeia
agroalimentar no Brasil. Campinas: UNICAMP. IE, 2001. 184 p. (Coleção Teses).
BELIK, W.; CUNHA, A. R. A. de A. Abastecimento no Brasil: o desafio de alimentar as
cidades e promover o Desenvolvimento Rural. In: CRISA, C. & SCHNEIDER, S. (Orgs.).
Políticas públicas de Desenvolvimento Rural no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2015. p. 217-235.
BROOKES, G.; BARFOOT, P. GM crops: global socio-economic and environmental
impacts 1996-2009. Dorchester (UK): PG Economics, 2011.
CARREFOUR. Selo de Garantia Carrefour. Disponível em www.grupocarrefour.com.
Acesso em 16 de agosto de 2013.
DIESEL, V.; DIAS, M. M.; NEUMANN, P. S. PNATER (2004-2014): da concepção à
materialização. In: CRISA, C. & SCHNEIDER, S. (Orgs.). Políticas públicas de
Desenvolvimento Rural no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015. p. 107-128.
EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Balanço social da Embrapa.
Disponível em www.embrapa.gov.br. Acesso em 19 de setembro de 2013.
ESCOTO, F. C.; RAMIREZ, J. F. G.; RANGEL, M. I. P. Propuesta para el fortalecimiento
metodológico del enfoque de Sistemas Agroalimentarios Localizados - SIAL. In: VI
Congresso Internacional de Sistemas Agroalimentares Localizados - Os SIAL face às
oportunidades e aos desafios do novo contexto global. Florianópolis (SC). Anais... 2013.
FRANÇA, L. R. de. A reestruturação produtiva da avicultura de corte: Rio Verde (GO) e
Videira (SC). 2005. 234 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Departamento de Economia
Rural, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.
FAO (Food and Agricultural Organization). El estado de la inseguridad alimentaria em el
mundo – El crecimiento económico es necessário pero no suficiente para acelerar la
reducción del hambre y la malnutrición. Roma: FAO. 2012.
FAO (Food and Agricultural Organization). FAO Statistical Yearbook 2013 – world food
and agriculture. Disponível em www.fao.org. Acesso em 6 de agosto de 2013.
FRIEDMAN, T. L. O mundo é plano - uma breve história do Século XXI. Rio de janeiro:
Objetiva, 2005. 471 p.
GUANZIROLLI, C. E.; BUAINAIN, A. M.; DI SABATTO, A. Agricultura familiar – uma
análise comparativa 1996-2006. In: Congresso Brasileiro de Economia, Administração e
Sociologia Rural, 48, 2009. Campo Grande. Anais... Brasília: SOBER, 2009.
HILÁRIO, W. Setor cresce R$ 18,6 bilhões em 2012. Disponível em www.abrasnet.com.br.
Acesso em 16 de agosto de 2013.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo Agropecuário 1980. Rio de
Janeiro, 1984. 494 p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo Agropecuário 1985. Rio de
Janeiro: IBGE, 1991. 400 p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo Agropecuário 1995/96. Rio de
Janeiro, 1998. 366 p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquisa de Orçamentos Familiares
2002-2003. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 251 p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo Agropecuário 2006. Rio de
Janeiro: IBGE, 2009. 777 p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquisa de Orçamentos Familiares
2008-2009. Brasília: IBGE, 2010. 130 p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Produção Agrícola Municipal - Ano
2012. Rio de Janeiro: IBGE. 2013.
IEA (Instituto de Economia Agrícola). Banco de dados. Disponível em
http://www.iea.sp.gov.br. Acesso em 23 de janeiro de 2016.
MAZOYER, M.; ROUDART, L. História das agriculturas no mundo – do neolítico à crise
contemporânea. São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: NEAD, 2010, p. 567.
MIELE, M.; MIRANDA, C. R. de. O desenvolvimento da agroindústria brasileira de carnes e
as opções estratégicas dos pequenos produtores de suínos do Oeste Catarinense no início do
século 21. In: CAMPOS, S. K. & NAVARRO, Z. (Org.). A pequena produção rural e as
tendências do desenvolvimento agrário brasileiro – Ganhar tempo é possível? Brasília:
CGEE, 2013. p. 201-232.
MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Câmara Temática de
Insumos Agropecuários. Disponível em www.agricultura.gov.br/camaras-setoriais-e-
tematicas. Acesso em 16 de agosto de 2013.
MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Relatório de Gestão 2003-2006. Disponível
em www.mda.gov.br. Acesso em 18 de abril 2007.
MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Plano Safra da Agricultura Familiar
2010/2011. Disponível em www.mda.gov.br. Acesso em 17 de outubro de 2010.
MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Plano Safra da Agricultura Familiar
2013/14. Disponível em www.mda.gov.br. Acesso em setembro de 2013.
PÃO DE AÇÚCAR. Relatório anual e de sustentabilidade 2012. Disponível em
www.paodeacucar.com.br. Acesso em 16 de agosto de 2013.
OLIVEIRA, S. P. de & THÉBAUD-MONY, A. Modelo de consumo agroindustrial: homogeneização ou diversificação de hábitos alimentares. Cadernos de Debates NEPA/UNICAMP, Campinas, v. 4, p 1-13, 1996.
PEIXOTO, M. Extensão Rural no Brasil - uma abordagem histórica da legislação.
Brasília: Senado Federal, 2008. (Textos para discussão, número 48). Disponível em:
http://www.senado.gov.br/conleg/textos_discussao.htm. Acesso em: 15/04/2014.
POLIZELLI, M. H. M. Avanço da colheita mecânica de cana-de-açúcar e reflexo na
relação agroindústria e fornecedores canavieiros. 2012. 54 f. Trabalho de Conclusão de
Curso (Administração) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade
Estadual Paulista (UNESP), Jaboticabal.
ROSS, D. Ireland: History of a Nation. New Lanark: Geddes & Grosset, 2002, p. 226.