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PERFIL DE SAÚDE OCUPACIONAL DE INDIVÍDUOS QUE DESEMPENHAM TAREFAS LABORAIS EM TERMINAIS INFORMATIZADOS NA POSTURA

SENTADA.

MSc. Luana Meneghini Belmonte; Mestre em Neurociências – UFSC; Docente da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL; Membro do Laboratório de Pesquisa em Exercício Físico e Saúde - LAPES– UNISUL.

Camilla de Almeida Borges; Graduanda do Curso de Educação Física pela Universidade do Sul de Santa Catarina-UNISUL-Pedra Branca, Palhoça-SC.

Bruno Kotaka; Graduando do Curso de Fisioterapia pela Universidade do Sul de Santa Catarina-UNISUL-Pedra Branca, Palhoça-SC.

Jussara Galão; Graduanda do Curso de Educação Física pela Universidade do Sul de Santa Catarina-UNISUL-Pedra Branca, Palhoça-SC.

Resumo

O objetivo deste estudo foi identificar o perfil dos funcionários de uma Secretaria de uma Instituição de Ensino com relação à presença de queixas de dor e desconforto corporal, posturas e sobrecarga biomecânica durante a realização da tarefa e nível de flexibilidade corporal. Fizeram parte do estudo 41 funcionários que desempenham suas atividades laborais na postura sentada em terminais informatizados. Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram: a Escala de Dor e/ou Desconforto Corporal e o Banco de Wells para realização do teste Sentar e Alcançar. Os dados foram tratados por meio de estatística descritiva (média, desvio padrão, frequência relativa) e inferencial. Na associação entre variáveis categóricas utilizou-se o teste Qui Quadrado ou Exato de Fisher, conforme a necessidade. Na comparação entre as variáveis numéricas normais, utilizou-se teste t para amostras independentes ou ANOVA oneway, conforme os níveis de comparação. Para as variáveis numéricas não normais, utilizou-se teste U de Mann Whitney ou Krusskal Wallis, conforme os níveis de comparação. A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro Wilk. Adotou-se um nível de significância de 5%. Quanto aos resultados verificou-se média de idade de 32 anos, média de tempo de trabalho de 5,32 anos e jornada de trabalho de 40 horas semanais. Quanto às queixas de dor e desconforto corporal verificou-se ombros (63,4%), coluna cervical (61%) e coluna lombar (56,1%) respectivamente como os segmentos corporais mais prevalentes. Quanto à análise das posturas dos diferentes segmentos observou-se que nenhuma postura foi considerada aceitável, ou seja, todas as posturas geram risco a saúde do trabalhador. Sendo que a maioria das posturas necessitava de mudanças breves (n=20) ou imediatas (n=15). Com relação a flexibilidade da cadeia muscular posterior observou-se que a maioria dos funcionários obtiveram desempenho ruim, ou seja, obtiveram valores abaixo da média de acordo com grupos etários e gênero para o teste de "sentar e alcançar". Considera-se desta forma um perfil negativo dos funcionários do presente estudo com relação à presença de queixas de dor e desconforto corporal, posturas e sobrecarga biomecânica durante a realização da tarefa e nível de flexibilidade corporal, que separadamente ou em conjunto causam risco a saúde do trabalhador afetando possivelmente seu desempenho e qualidade de vida.

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Palavras-chave: Ergonomia, saúde do trabalhador, postura sentada, fisioterapia no trabalho.

INTRODUÇÃO

Na atualidade, os sintomas decorrentes dos acometimentos osteomusculares, relacionados às atividades ocupacionais, são considerados os mais importantes fatores de afastamento do trabalho. Os mesmos podem gerar dor e desconforto corporal e consequente repercussão na saúde geral do trabalhador. (MARTINS, 2009)

A dor é um dos sintomas mais referidos, principalmente relacionada às posturas inadequadas com consequente redução na produtividade. Desta forma, o seu controle torna-se essencial tanto do ponto de vista da saúde do trabalhador quanto do ponto de vista do desempenho. (COURY E MOREIRA, 2009)

A relação da dor, desconforto e incômodo associado aos fatores de risco no ambiente de trabalho, como posturas extremas, solicitações de força, repetitividade e ausência de pausas, pode ser entendida como uma das primeiras indicações da necessidade de investigação. (HAGBERG, 1995)

A investigação, análise e estudo dos fatores de risco presentes nos diversos ambientes ocupacionais são fundamentais para o planejamento e implementação de intervenções preventivas eficazes. Segundo Diniz e colaboradores (2008), a prevenção é a melhor maneira de evitar o surgimento dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. (COURY, et al., 2009 E DINIZ et al., 2008)

No ambiente ocupacional, vários são os fatores envolvidos no desencadeamento de tais distúrbios, entretanto, muitos estudos apontam os fatores de risco biomecânicos como sendo os principais. Dentre os fatores de riscos biomecânicos destaca-se a força excessiva, repetitividade, velocidade dos movimentos, duração da atividade, posturas de trabalho desconfortáveis e assimétricas, entre outras (DEVEREUX E LEYSHON et al., 2002).

Trabalhadores de terminais informatizados permanecem longos períodos de tempo em posturas que exigem trabalho estático da musculatura. Se forem repetidas, prolongadas e excessivas as exigências de trabalho estático, podem se estabelecer desconfortos e/ou dores maiores ou menores, localizadas não só nos músculos, mas também nas articulações, nos tendões e outro tecidos. (KROEMER et al., 2005)

Devido à necessidade da presença de computadores nos postos de trabalhos administrativos e o aumento de problemas musculoesqueléticos nos trabalhadores que os utilizam (DINIZ et al., 2008), torna-se importante a avaliação dos terminais informatizados para integrar e buscar harmonia entre ambiente, equipamento e o trabalhador permitindo uma execução correta do trabalho preservando a saúde e segurança do trabalhador. (GUIMARAES et al., 2011 e HEYWARD et al., 2004)

Para uma intervenção ergonômica, deve-se realizar a identificação e a quantificação dos fatores de risco presentes no ambiente de trabalho. Desta forma a avaliação biomecânica e sintomatológica torna-se uma peça muito importante no processo de avaliação dos riscos. (HUET et al., 2003 e KROEMER et al., 2005)Neste contexto, a Análise Ergonômica do Trabalho se caracteriza como uma ferramenta que permite compreender o trabalho para depois transformá-lo.

A postura sentada é uma das mais adotadas nos postos de trabalho informatizado, por permitir ao indivíduo diminuir o gasto energético, obter maior estabilidade em determinadas tarefas e reduzir os esforços nas articulações de membros

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inferiores. Porém pode provocar alterações musculoesqueléticas desencadeando sensação de desconforto e dor, podendo evoluir para dores crônicas. (HUET, 2003 e RESENDE et al., 2006)

Assim a monitorização da dor, desconforto relacionado ao sistema musculoesquelético é uma das formas de avaliar a manifestação sintomática corporal que pode servir como alerta para a prevenção das doenças relacionadas ao trabalho que possam vir a limitar ou diminuir a interação do homem com o sistema de trabalho. Ou seja, postos de trabalho que apresentam prevalências significativas dos sintomas referidos, especialmente quando vários trabalhadores, em tarefas semelhantes referem sintomatologia análoga, devem ser objeto de atenção e de intervenção ergonômica. (SERRANHEIRA et al., 2003)

Desta forma no presente estudo são apresentados os resultados da análise ergonômica realizada em uma secretaria de uma instituição de ensino, cujo objetivo foi identificar o perfil dos funcionários deste setor com relação à presença de queixas de dor e desconforto corporal, posturas e sobrecarga biomecânica durante a realização da tarefa e nível de flexibilidade corporal.

Metodologia

A pesquisa foi realizada em 2012 em uma secretaria de uma instituição de ensino superior da Grande Florianópolis (S.C.) com 41 funcionários que desempenham suas atividades laborais na postura sentada em terminais informatizados.

O presente trabalho seguiu as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para estudos com seres humanos e foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) sob código 11.488.4.08.III.

Após aprovação o projeto foi apresentado aos funcionários e houve o convite para participar da pesquisa. Havendo a concordância assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido agendando-se, posteriormente, dia e horário para coleta dos dados de acordo com a disponibilidade no horário de trabalho.

Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram: a Escala de Dor e/ou Desconforto Corporal (Corlett, 1995), o Método RULA (McATAMNEY; CORLETT, 1995) e o Banco de Wells para realização do teste Sentar e Alcançar.

A Escala de Dor e/ou Desconforto Corporal para as diferentes partes do corpo, adaptada de Corlett e Wilson (1986), consiste em graduar o nível de desconforto manifesto sob a forma de dor em cada parte do corpo, numa escala representada por cores, sendo: “verde” nenhuma dor; “amarelo” dor suportável que caracteriza-se como um leve desconforto, ou seja, consegue-se trabalhar mesmo sentindo-a; “alaranjado” dor intensa que significa dor forte que obriga o trabalhador por alguns instantes parar o trabalho e manter-se em repouso ou mudar de posição para aliviar a dor e posteriormente continuar o trabalho e “vermelho” dor insuportável que caracteriza a incapacidade de continuar o trabalho obrigando o funcionário a parar. A escala divide o corpo humano em segmentos e, para cada um deles, registrou-se o nível de desconforto relatado subjetivamente por cada funcionário.

O método RULA (RapidUpper-limbassessment) é um instrumento que permite uma avaliação da sobrecarga biomecânica dos membros superiores e do pescoço em uma tarefa ocupacional. O determinante de risco ergonômico nesse método é

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representado pelas posturas assumidas pelos trabalhadores na jornada de trabalho. As posturas avaliadas são as adotadas pelos membros superiores, o pescoço, o tronco e os membros inferiores. A avaliação de risco foi feita a partir de uma observação sistemática dos ciclos de trabalho dos funcionários pontuando as posturas, frequência e força dentro de uma escala que varia de 1 (um), correspondente ao intervalo de movimento ou postura de trabalho onde o fator de risco correlato é mínimo até ao valor 9 (nove) onde o fator de risco correlato é máximo. Para avaliação dos ângulos articulares utilizou-se um goniômetro da marca Carci.

A partir da análise das posturas dos diferentes segmentos determinaram-se, para cada funcionário, quatro níveis de ação: Nível 1: A postura é aceitável se não for mantida ou repetida por longos períodos; Nível 2: São necessárias investigações posteriores; algumas intervenções podem se tornar necessárias; Nível 3: É necessário investigar e mudar em breve e Nível 4: É necessário investigar e mudar imediatamente.

O teste utilizado para avaliar a flexibilidade dos músculos isquiotibiais foi o de Sentar e Alcançar (Wells; Dillon, 1952) seguindo a padronização canadense para os testes de avaliação da aptidão física do CanadianStandardized Test of Fitness (CSTF, 198).

O teste foi realizado utilizando-se o Banco de Wells medindo 30,5 cm x 30,5 cm x 30,5 cm com uma escala de 26,0 cm em seu prolongamento, sendo que o ponto zero se encontrava na extremidade mais próxima do avaliado e o 26°cm coincide com o ponto de apoio dos pés. O funcionário retirava o calçado e na posição sentada tocava os pés na caixa com os joelhos estendidos. Com ombros flexionados, cotovelos estendidos e mãos sobrepostas executava a flexão do tronco à frente devendo este tocar o ponto máximo da escala com as mãos. Foram realizadas três tentativas sendo considerada e transcrita a melhor marca.

Os dados foram tratados por meio de estatística descritiva (média, desvio padrão, frequência relativa) e inferencial. Na associação entre variáveis categóricas utilizou-se o teste Qui Quadrado ou Exato de Fisher, conforme a necessidade. Na comparação entre as variáveis numéricas normais, utilizou-se teste t para amostras independentes ou ANOVA oneway, conforme os níveis de comparação. Para as variáveis numéricas não normais, utilizou-se teste U de Mann Whitney ou Krusskal Wallis, conforme os níveis de comparação. A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro Wilk.Adotou-se um nível de significância de 5%

Resultados

Foram avaliados 41 funcionários com média de idade de 31,93 (DP= 10,165) anos, sendo 75,6% mulheres e 24,4% homens. Com relação ao tempo de trabalho, a média encontrada na amostra foi de 5,32 (DP= 2,94) anos. A maioria na função de auxiliar administrativo com jornada de trabalho de aproximadamente 40 horas semanais, sendo 8 horas de trabalho diário e intervalo de 1 hora para almoço. Na avaliação da presença de dor e desconforto corporal para as diferentes partes do corpo, nota-se na Figura 1 que dores nos ombros (63,4%), na coluna cervical (61,0%) e na

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região da coluna lombar (56,1%) foram as mais prevalentes. Não houve diferença significativa entre a ocorrência dessas dores e o sexo dos participantes (p> 0,05).

Figura 1 Porcentagem de queixas de dor e/ou desconforto por segmento corporal dos funcionários de uma instituição de ensino superior da Grande Florianópolis (S.C.), que desempenham suas atividades laborais na postura sentada em terminais informatizados.

Quanto à análise das posturas dos diferentes segmentos, utilizando-se a ferramenta RULA, determinou-se para cada funcionário os níveis de ação de acordo com a interpretação dos resultados finais fornecida pelos autores do método para a postura mais prevalente durante o ciclo de trabalho. Na tabela 1 observa-se a frequência dos níveis de ação da amostra do estudo.

Tabela 1 Frequência dos níveis de ação gerados a partir da avaliação da postura de trabalho, utilizando-se o Método RULA, dos funcionários em seus postos de trabalho.

Níveis de ação Frequência

Nível 2- Algumas intervenções podem ser

necessárias

6

Nível 3- Necessidade de mudança breve 20

Nível 4- Necessidade de mudança imediata 15

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Observa-se que nenhuma postura foi considerada aceitável, ou seja, todas as posturas geram risco a saúde do trabalhador. Sendo que a maioria precisa de mudanças breves (n=20) ou imediatas (n=15).

Não houve diferença significativa entre níveis de ação, a partir do Método RULA, e as variáveis flexibilidade (F= 1,803; p= 0,179) e tempo de trabalho (K= 2,278; p= 0,320). No entanto, nota-se na Figura 2 e 3 que indivíduos que necessitam de mudança imediata apresentam menor flexibilidade e maior tempo de trabalho do que as demais classificações.

Figura 2 Média de flexibilidade da cadeia muscular posterior dos funcionários que obtiveram níveis de ação, 2 (n=6, Algumas intervenções podem ser necessárias) 3 (n=20, Necessidade de mudança breve) e 4 (n=15, Necessidade de mudança imediata).

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Figura 3 Média do tempo de trabalho dos funcionários que obtiveram níveis de ação, 2 (n=6, Algumas intervenções podem ser necessárias) 3 (n=20, Necessidade de mudança breve) e 4 (n=15, Necessidade de mudança imediata).

Quanto à flexibilidade, a média da amostra foi de 20,28 (DP= 10,31) cm. Nas mulheres a média foi de 20,24±10 cm e nos homens 20,40±12 cm. Observa-se na tabela 2 que a maioria, ou seja, 34 funcionários tiveram classificação abaixo da média dos valores normativos, sendo 6 “abaixo da média” e 28 “ruim”.

Tabela 2 Frequência da Classificação do nível de flexibilidade para o teste sentar e alcançar dos funcionários, de acordo com o CanadianStandardizes Test of Fitness (CSTF,1986).

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DISCUSSÃO/CONCLUSÃO

A dor é um dos principais sintomas associados às disfunções

musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho, podendo agravar-se e evoluir de forma

progressiva para perda funcional (STRAZDINS E BAMMER, 2004). Assim, a adoção

de medidas para controle dessas disfunções torna-se essencial, tanto em termos sociais

como econômicos. (HELENICE e COURY, et al.,2009). Para a elaboração de ações

relacionadas a promoção de saúde do trabalhador faz-se necessário a identificação do

perfil dos funcionários e a quantificação dos fatores de risco presentes no ambiente de

trabalho.

Os resultados encontrados no presente estudo relacionados à dor e/ou

desconforto corporal vão de encontro aos encontrados por Guimarães, Martins, Azevedo

e Andrade (2011) em pesquisa com 45 analistas de sistemas de um escritório de

informática na cidade de Recife. Esses autores verificaram prevalência de dor nas

regiões da coluna lombar (71%) seguida pela coluna cervical (64%). De forma

semelhante Campos (2004), em seu estudo com trabalhadores do setor de informática,

observaram maior frequência de dor na coluna lombar (43,67%), ombro (37,34%) e

coluna cervical (34,81%). Já Rocha e Ribeiro (2001) verificaram, em um estudo com

analistas de sistemas que desempenhavam suas atividades na postura sentada, maior

prevalência de dor em coluna lombar (57%) e cervical/ombros (55%) em homens,

enquanto nas mulheres coluna cervical/ombro (74%) e coluna lombar (72%). Em estudo

com 210 funcionários de uma empresa de prestação de serviço de fornecimento de água

e tratamento de esgoto da cidade de Bauru que exerciam atividades sedentárias

Classificação do nível de

flexibilidade

Número de

funcionários

Ruim 28

Abaixo da média 6

Média 4

Acima da média 3

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observou-se predomínio de queixas de dor principalmente na coluna lombar (40,3%),

coluna cervical (27,3%)e ombros (23,8%) (VITTA et al., 2012).

No presente trabalho as dores nos ombros apareceram como as queixas mais

prevalentes. Em um estudo bibliográfico realizado por Mendonça Jr e Assunção (2005)

verificou-se que os distúrbios do ombro são influenciados por fatores biomecânicos

relacionados ao trabalho, como flexão ou abdução dos ombros por tempo prolongado,

vibrações, postura estática ou com carga no membro superior. E evidenciaram

associação entre os distúrbios do ombro e os fatores psicossociais como estresse, longas

jornadas de trabalho, período de descanso insatisfatório.

Já a dor na região cervical vem sendo considerada um dos mais onerosos

problemas osteomusculares, com enorme impacto sobre a saúde e qualidade de vida dos

indivíduos e na sociedade como um todo (Kapreli et al., 2009).

Sugere-se que a alta prevalência de queixas álgicas nos ombros e na coluna

cervical, encontrada no presente estudo, esteja relacionada com a postura adotada

durante a realização das tarefas laborais, lembrando que nenhuma postura foi

considerada aceitável, ou seja, todas as posturas assumidas pelos funcionários geravam

risco a saúde do trabalhador.

De acordo com Armijo e colaboradores (2006) e Bevilaqua-grossi, Chaves e

Oliveira (2007) nas disfunções cervicais, a dor é geralmente o sintoma mais frequente,

estando relacionada aos esforços repetitivos e a manutenção de posturas inadequadas

durante a atividade ocupacional, que acarretam microtraumatismos às vértebras

cervicais e aos tecidos moles periarticulares. De acordo com Chaffin e Anderson (2001)

a tela do monitor localizada abaixo da linha dos olhos, aumenta a flexão cervical e a

ativação dos músculos extensores do pescoço, por suportar o peso da cabeça

potencializado com a ação da gravidade.

A alta frequência de queixas de lombalgia, também encontrada no presente

estudo, é frequentemente atribuída à fadiga e às deficiências musculares proporcionadas

em posturas inadequadas e repetitivas. Pode ser atribuída a determinadas atividades

ocupacionais, principalmente aquelas em que o trabalhador permanece sentado em

condições antiergonômicas por tempo prolongado (TOSCANA e EGYPTO, 2001).

A lombalgia leva a alteração da qualidade de vida do trabalhador gerando li-

mitação funcional e diminuição do rendimento da execução das tarefas laborais, geradas

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pela dor e desconforto, sendo desta forma considerada uma das principais causas de

afastamento do trabalho, interferindo diretamente na qualidade de vida dos indivíduos

sintomáticos (HORNG et al., 2005).

Desta forma sugere-se que a alta frequência de dor e/ou desconforto corporal

encontrada no presente estudo parece estar relacionada com os baixos níveis de

flexibilidade da cadeia muscular posterior encontrado na maioria dos funcionários, já

que de acordo com Achour (1994) e Heiwardet al (2004), a flexibilidade ao nível da

coluna vertebral e dos músculos isquiotibiais estão associados com a maioria das

queixas dolorosas na região lombar.

No presente estudo verificou-se que todos os funcionários adotavam posturas

inaceitáveis, ou seja, que geravam risco aos trabalhadores durante a realização das

tarefas laborais. Esses resultados vão ao encontro do estudo de LOURINHO et al (2011)

sobre riscos de lesões musculoesquelético em diferentes setores de uma empresa

calçadista de SP, onde verificaram que 78% dos funcionários adotavam posturas

inaceitáveis com necessidade de mudanças breves, 18% dos funcionários adotavam

posturas inaceitáveis que necessitavam de mudanças imediatas e apenas 4% dos

funcionários adotavam posturas com necessidade de intervenções posteriores. E

também corrobora com estudo de Motta (2009) cuja avaliação ergonômica de postos de

trabalho, no setor de pré-impressão de uma indústria gráfica em Juiz de Fora-MG de

funcionários que exercem suas tarefas em computadores, resultou na necessidade de

mudanças breves devido aos riscos ergonômicos aos quais estes trabalhadores estavam

expostos. Entretanto FONTES et al., (2013) verificou em seu estudo que os funcionários

que trabalham na posição sentada apresentam menor risco postural quando comparado

com a posição em pé.

Para Rumaquella e Menezes, et al (2008) a postura sentada durante um

prolongado tempo, pode levar a adoção de uma má postura e consequentemente levar a

fadiga dos músculos posteriores de suporte da coluna vertebral. Costa e Nachemson , et

al (2010) ressaltam que o aumento da tensão dos ligamentos da coluna, podem causar

alterações nas pressões sobre os discos intervertebrais culminando em degenerações e

possivelmente hérnia de disco.

Considera-se desta forma um perfil negativo dos funcionários do presente estudo

com relação à presença de queixas de dor e desconforto corporal, posturas e sobrecarga

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biomecânica durante a realização da tarefa e nível de flexibilidade corporal. Que

separadamente ou em conjunto causam risco a saúde do trabalhador afetando

possivelmente seu desempenho e qualidade de vida.

Desta forma ressalta-se a importância da investigação, análise e estudo dos

fatores de risco presentes nos diversos ambientes ocupacionais para posterior

planejamento e implementação de intervenções visando a promoção e proteção da saúde

dos trabalhadores.

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FOMENTO

O trabalho teve a concessão de bolsa oferecida pelo Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior (Fumdes) e recursos financeiros do Artigo 170, do governo de Santa Catarina.