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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISAPROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: Fevereiro/2015 a Agosto/2015( ) PARCIAL(X) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa: Mudanças Sociais, Modernização e Conflitos: novas dinâmicas na regulação da terra ena expansão de agronegócio no corredor da Br-163 e considerando a construção da Hidrelétrica de Belo Monte.
Nome do Orientador:Edna Maria Ramos de Castro
Titulação do Orientador:Doutora em Ciências Sociais
Faculdade: Ciências Sociais
Unidade: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA
Título do Plano de Trabalho: Análise do discurso fotográfico utilizado pelos maiores veículos de informação impresso do Brasil e de Belém sobre as hidrelétricas localizadas na Amazônia brasileira nos últimos 2 anos.
Nome do Bolsista: Gabriela Laroca Araújo
Tipo de Bolsa: ( X ) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/UFPA( ) PIBIC/INTERIOR( ) PIBIC/FAPESPA( ) PARD( ) PARD - renovação( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007
1. Introdução
Devido sua grande riqueza natural a Amazônia brasileira tem sido considerada, no
âmbito das políticas governamentais, dos interesses das elites nacionais e pela mídia,
como de grande importância para o abastecimento energético do país. O explicito
aumento do interesse manifesto nos planos governamentais pela exploração dos
recursos naturais da região para além de suas fronteiras políticas torna a Amazônia
brasileira um espaço central na geopolítica nacional.
Os Planos de Aceleração da Economia (PAC I e II) e a IIRSA, com projetos de
infraestrutura de energia (hidrelétricas), estradas e comunicação, assumem a mesma
orientação de integração competitiva, adotando um modelo de modernização com base
em megaprojetos de investimentos. No plano continental, expressam dinâmicas
socioterritoriais irreversíveis e representam interesses comuns do Brasil e dos demais
países, via modelo dominante de expansão da fronteira amazônica a partir dos anos 70
do século XX.
Populações locais, com sua percepção práticas sociais e saberes relativos ao
território, têm produzido leituras desse processo, a partir de movimentos sociais e
étnicos que tem mostrado que estão em curso novos processos de dominação
incorporados ao modo de implantação dos projetos de infraestrutura e às práticas de
agentes que violam direitos sociais e étnicos, provocando a desterritorialização de
grupos de população tradicional na extensão amazônica.
O grande potencial hídrico da região está na enorme quantidade de água que se
encontra em bacias hidrográficas formadas por grandes rios, como o Amazonas e o
Tocantins e seus inúmeros afluentes; e também pelas inúmeras quedas topográficas nos
rios. Transformando a região em principal alvo para a construção de hidrelétricas de
grande porte. O discurso sobre essas hidrelétricas tende a subestimar os impactos sociais
e ambientais e superestimar os benefícios socioeconômicos dessas represas.
O aumento de políticas desenvolvimentistas para a Amazônia, principalmente no
que tange a construção de hidrelétricas, gera um debate bastante polêmico dentro do
território nacional entre aqueles que defendem o desenvolvimento sustentável,
defendem a floresta, a sua biodiversidade e as populações tradicionais que nela vivem e
aqueles que prezam pelo desenvolvimento econômico e urbano, ignorando o impacto
ambiental e social advindos dele.
Tendo como foco as grandes hidrelétricas localizadas na região amazônica
brasileira a grande mídia impressa, muitas vezes pautada em determinados interesses,
tem conduzido o debate público sobre o assunto no Brasil. Pretende-se aqui entender
como os principais veículos de informação impressos, por conseguinte, grandes
formadores de opiniões públicas, mostram, representam as hidrelétricas através das
fotografias utilizadas nas reportagens. O que esse discurso fotográfico enfoca e a
mudança ou permanência desse discurso ao longo dos últimos dois anos.
Nos primeiros meses de minha bolsa de iniciação cientifica foram feitas várias
atividades e entre elas mudanças que eram necessárias ao meu plano de trabalho.
Mudanças, essas, que tinham a ver com a construção de um sub-projeto de pesquisa
integrado ao projeto da profª Edna Castro. Esses ajustes foram realizados com o
objetivo de unir os interesses acadêmicos de ambas as partes envolvidas no projeto.
Essa união foi proposta pela orientadora, a qual eu achei muito interessante, já que me
daria a oportunidade de estudar algo que eu tenho interesse.
Houve inicialmente a adequação do tema, mantivemos o foco nos estudos sobre
as hidrelétricas, mas sob um recorte específico; o objetivo é entender e interpretar o uso
da fotografia no jornalismo impresso e sua associação com a formação do imaginário
social nacional sobre o tema das hidrelétricas na Amazônia brasileira. Logo, um estudo
de relação imagem e imaginário. Por conseguinte, vieram a adequação dos demais
tópicos do projeto ao novo tema proposto. Portanto, neste relatório eu descrevo os
tópicos que compõem o meu sub-projeto, tais como justificativa, metodologia entre
outros.
2. Justificativa
2.1. Hidrelétricas na Amazônia: contextualização.
Uma usina hidrelétrica ou central hidrelétrica se resume a um conjunto
arquitetônico que objetiva a geração de energia elétrica a partir do aproveitamento da
força hidráulica de um rio. (VARGAS, SOUZA e LOCH, 2004, p. 2 apud RODRIGUES,
2013, p.10)
O planejamento para a construção de hidrelétricas no Brasil, principalmente na
região Amazônica, iniciou-se com o plano de emancipação econômica desenvolvido no
período de ditadura militar no Brasil, mais especificamente na década de 70. O objetivo
era integrar a região amazônica ao restante do país. E Para tanto, vieram, entre outros,
os planos Polamazônia1, Desenvolvimento Rural Integrado, Grande Carajás, Estratégias
de Desenvolvimento Sustentável no Âmbito do Programa Piloto (PPG-7), Avança
Brasil e o atual Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
As primeiras hidrelétricas a serem construídas na Amazônia foram: Coaracy
Nunes no Estado do Amapá, com capacidade instalada de 78 MW; e Curuá-Una no
Pará, com capacidade instalada de 30 MW. Coaracy Nunes foi inaugurada oficialmente
em 13 de janeiro de 1976 pelo então presidente da República Ernesto Geisel. E Curuá-
Una em 19 de agosto de 1977 pelo mesmo presidente.
O “Plao 2010” liberado para domínio público em 1987 contém a plena extensão
das hidrelétricas planejadas para a Amazônia brasileira. O plano previu 68 barragens no
bioma, independente do tempo da construção de cada uma. De acordo com o biólogo
Philip Fearnside essas represas inundariam 10 milhões de hectares, aproximadamente
3% da porção brasileira da floresta amazônica (FEARNSIDE, 2014: 3).
Portanto o tema se tornou muito debatido dentro do território nacional e
internacionalmente, devido aos imensos danos que esses projetos provocam no bioma
da região, danos que são incontáveis e irreparáveis. Dentre todos os impactos das
barragens estão os efeitos catastróficos sobre os povos indígenas, a maior parte das
hidrelétricas planejadas, construídas e que estão em fase de construção estão localizadas
na parte da região amazônica que mais possui incidência de populações indígenas. Só a
barragem de Tucuruí inundou parte de três reservas. Entre os impactos nessas
populações estão: a perda dos recursos advindos do rio, do território de caça, da aldeia,
entre muitos outros.
Os efeitos podem ser sentidos também em populações tradicionais não-índigenas,
como ribeirinhos que vivem a jusante dos rios afetados por barragens, que perdem sua
maior fonte de subsistência e sofrem com a consequente seca do rio. Os impactos
podem ser voltados também à saúde dessas populações, como o aumento da incidência
de vetores de doenças endêmicas. E há também a emissão de gases que provocam o
efeito estufa, como o CO², o óxido nitroso e o metano, isso devido à floresta que é
submergida que acaba morrendo e entra em processo de decomposição.
Portanto, vê-se que esses projetos desenvolvimentistas são marcados pelo
desconhecimento do bioma e a intolerância face às populações locais (RODRIGUES, 2013:
303), fazendo do Estado alvo de questionamentos por parte da população. Os projetos
também suscitaram o aumento do debate sobre impactos socioambientais na Amazônia e
nas populações que nela vivem.
O Brasil possui forte potencial para desenvolver outras formas de geração de energia
(como a eólica, solar e biomassa) que são consideradas sustentáveis e que não acarretam
problemas tão profundos na sociedade e no meio ambiente, mas ainda assim e perante todas
as manifestações sociais contrárias aos projetos hidroelétricos, o governo federal permanece
surdo e alheio a tais manifestações, consentindo licenças prévias á revelia da sociedade e
das populações primordialmente e diretamente afetadas por tais projetos.
2.2. Hidrelétrica de Belo Monte: uma aproximação
O projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte origina-se na década de 1970,
período em que a Eletronorte (recém-criada) inicia os estudos do Inventário Hidrelétrico
da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, o estudo foi concluído em 1980. O projeto integra,
portanto, a gama de projetos desenvolvimentistas autoritários (MELLO, 2013) que
visavam a integração nacional da Amazônia no período do governo ditatorial no Brasil
dito anteriormente. Estes projetos de geração de energia, como as construções de
hidrelétricas na Amazônia, visavam atender a demanda energética de setores como a
indústria, a agricultura intensiva e a expansão dos grandes centros urbanos (CASTRO,
ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014). A UHE de Belo Monte
passou a ser, então, nos dois governos Lula e no atual governo Dilma obra de extrema
relevância no PAC.
A licença prévia para o inicio das obras da UHE de Belo Monte foi concedida
alheia as denuncias de irregularidades nos estudos técnicos sobre os impactos
ambientais da construção da barragem, em 2012, deste então formou-se um cenário
intrinsecamente polêmico e controverso sobre a sua construção de repercussão nacional
e internacional. Populações locais se manifestaram (e ainda se manifestam, tendo em
vista as obras continuam) para que suas demandas fossem/sejam atendidas e seus
direitos políticos e sociais fossem/sejam respeitados, entretanto suas pautas não foram
atendidas e nem levadas em consideração em relatórios oficiais do projeto (CASTRO,
ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014).
A Hidrelétrica será construída no rio Xingu adjacente a cidades de Altamira,
Vitória do Xingu, Brasil Novo, Anapu e Senador José Porfírio e terá capacidade
instalada de “11.181 MW, mas a energia firme equivale a 4.719 MW médios anuais na
Casa de Força Principal e 77 MW na Casa de Força Complementar” (CASTRO,
ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014). O projeto da usina prevê
uma barram principal localizada na localidade de Sítio Pimentel, uma segunda barragem
na localidade de Sítio Bela vista, uma casa de força principal na comunidade Belo
Monte e um canal de derivação e diques; o projeto implica em diversas obras em
diferentes trechos do Rio Xingu e terá um reservatório de 516 km² formado a partir do
desvio do Rio Xingu (conhecido como a volta grande do Xingu) até a localidade de
Sítio Pimentel (FLEURY, 2014).
Entretanto, devido a suspensão do plano da UHE de Belo Monte em 1989 após o
Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, o projeto foi alterado pela
Eletronorte com intuito de agradar ambientalistas e populações locais, o que resultou na
diminuição da área do reservatório, ou seja, reduziu-se a área de inundação (PEREIRA,
2014). A área do reservatório diminuiria de 1.225 km² para 400 km² e, além disso,
“projetou-se a construção de uma usina a fio d’água, com turbinas bulbo, tecnologia
supostamente mais eficiente e menos impactante” (MELLO, 2013). De acordo com
Mello (2013) essa mudança, aparentemente positiva, impactaria de maneira negativa
tanto quanto a área anterior do reservatório: os povos indígenas, ao invés de terem suas
terras alagadas, viveriam na margem de um rio esvaziado.
A construção da hidrelétrica de BM possui um fator singular: pela primeira vez
dentro do cenário regional, o Governo Federal repassa para o setor privado a construção
e a gestão de um empreendimento hidrelétricoTrata-se de uma (nova) logística coerente com as estratégias da economia flexível, de mercado, que pressiona a liberalização dos serviços em países em desenvolvimento, observando-se na esfera mundial, o crescimento do interesse privado nos serviços básicos tradicionalmente mantidos e assegurados à sociedade pelo Estado. (CASTRO, ALONSO, NASCIMENTO, CARREIRA E CORREA; 2014).
O cenário em torno dessa construção é muito amplo, como se pode ver, e envolve
uma multiplicidade de atores sociais/políticos e ainda questões relativas ao meio
ambiente. A obra segue em fase de construção, e o governo ainda permanece alheio às
críticas feitas por especialistas, estudiosos, pesquisadores e pelas populações étnicas
atingidas social, cultural e fisicamente pela construção.
2.3. A fotografia como objeto de estudo
A primeira fotografia da história foi tirada há 188 anos atrás pelo inventor francês
Joseph Nicéphore Niépce (HACKING, 2012), porém sua maior utilização e propagação
só foi possível com o avanço tecnológico moderno que possibilitou instrumentos
eficazes, simples e baratos. Atualmente somos todos potenciais produtores e
consumidores de imagens fotográficas.
A fotografia, entretanto, ainda é tida como uma mera e simples mimese do real,
colada numa posição subalterna quando comparada com a escrita; ignora-se o fato dela
ser um é um instrumento de comunicação, formulada (e pensada) por um remetente, que
visa um destinatário (que também pensa) e contém em si uma mensagem codificada
(JUCHEM, 2009: 328). A fotografia, inventada dentro de uma época positivista – primeirasdécadas do século XIX – criou e referendou sua posição como espelhodo real, mimese de um mundo sem nenhuma interferência de um olho pensante, a falsa ideia de um registro documental isento: prova de umdiscurso oral ou escrito. (Persichetti, 2008: 208)
É sobre essa ideia, de uma fotografia sem importância, que as ciências sociais vêm
tentando combater e mostrar que dela provem efeitos de sentidos únicos que produzem,
reproduzem e refazem o imaginário social. O objetivo é considerá-la como um
“documento por si só, portadora de uma narrativa própria criada dentro de
circunstâncias sociais” (PERSICHETTI, 2008: 209).
Para compreender uma imagem fotográfica deve-se entender a relação que existe
entre todos os seus componentes, sejam eles internos (o próprio fazer fotográfico e a sua
mensagem codificada) e externos (tidos como o seu contexto existencial, sua realidade
factual). Portanto, o que será analisado aqui não são fatores relativos à técnica
fotográfica, mas sim ao seu aspecto simbólico. E é neste aspecto que repousa a
importância de estudar os fenômenos fotográficos, principalmente quando utilizados
pela mídia, onde aparentemente esses componentes simbólicos são ignorados, mas seus
efeitos de sentido existem e contribuem para a formação de imaginários socialmente
compartilhados e individuais.
3. Objetivos
3.1. Objetivo Geral:
Identificar, através da análise crítica das fotografias utilizadas nas reportagens,
qual é o discurso fotográfico utilizado pelos grandes jornais impressos do Brasil e de
Belém sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte e projetos hidrelétricos em geral na
região amazônica brasileira de 2013 a 2014.
3.2. Objetivos Específicos
Fazer o levantamento do acervo dos jornais impressos selecionados para a
pesquisa que abordaram o tema da UHE de Belo Monte principalmente e hidrelétricas
em geral, na Amazônia no período de 2013 a 2014;
Complementar a bibliografia relativa à sociologia da fotografia e da imagem;
Complementar a bibliografia relativa à construção de grandes hidrelétricas na
região amazônica;
Divulgar os resultados da pesquisa entre o meio acadêmico através de trabalhos
e artigos em eventos científicos.
Produção de dois relatórios, sendo um parcial e outro final.
4. Metodologia
Partimos do pressuposto que: As imagens, independente dos suportes ou veículos em que se encontrem, devem ser tomadas, reconhecidas e entendidas como entidades autônomas, ou seja, como presenças significantes em si mesmas. (CAMARGO, 2005: 12)
Portanto, nenhuma imagem se configura como neutra, muito menos quando
difundida por um veículo de informação impresso que tende a defender discursos
pautados em seus interesses. Ela, independente do discurso literário que – quase sempre
– vem acompanhada, produz efeitos de sentido próprios. Lembramos também que
imagens são “produtos e produtoras de imaginários” (ROCHA, 2012: 78) e este é mais
um motivo que exalta sua importância como objeto de estudo. Assim, tomamos como
ponto de partida das nossas reflexões as fotografias utilizadas em reportagens que
abordam questões relativas às hidrelétricas na Amazônia brasileira e, principalmente e
especificamente, à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a fim de expandir
os horizontes dos estudos sobre essa questão.
A análise foi feita sobre essas fotografias para identificar quais as direções que a
mídia impressa tende a dar para esse debate, o que fala fotograficamente sobre esse
assunto e, por conseguinte, deduzir o que essas imagens podem estar provocando no
imaginário nacional sobre o cenário conflitante das construções hidroelétricas que
envolvem diversos atores e agentes sociais na região amazônica.
Os jornais foram selecionados mediante sua importância nacional e no Pará. O site
da Associação Latino-Americana de Publicidade (Alap) forneceu uma lista dos 50
maiores jornais do Brasil de acordo com uma pesquisa realizada em janeiro de 2014.
Selecionamos os dois primeiros, que são: Folha de S. Paulo, O Globo (Rio de Janeiro).
Essa lista contém um jornal paraense que está colocado na 40ª posição que é o Diário do
Pará e que entra no nosso corpus também. Portanto, são dois jornais de importância
nacional e um de importância regional.
O arquivo analisado foi o encontrado nos últimos dois anos, no caso 2013 e 2014.
Houve também a seleção de uma amostra estabelecida na alternância dos meses do ano
com o intuito de percorrer todo o ano de 2013 e 2014. Os meses submetidos à pesquisa
foram: janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro. E lembramos que foram
selecionadas apenas as reportagens que vieram contidas fotografias e abordaram o tema
de hidrelétricas na Amazônia brasileira, tendo como foco majoritariamente a UHE de
Belo Monte.
As reportagens foram armazenadas para a formação do corpus ampliado, como
momento inicial da pesquisa. Após esse processo o material passou pela fase de
classificação, para formar o corpus final da pesquisa. Esse corpus final foi o objeto das
nossas analises.
4.1. Fotojornalismo: a função da fotografia no jornal
Inicialmente se faz necessário uma caracterização do jornal. Este se configura
como uma plataforma de informações sobre a atualidade e que possuem interesse
público (KARAN, 2004). Para que um determinado tema adquira o atributo de “noticia”
é necessário que ele prescreva certos requisitos, a saber: de verdade, de objetividade e
de interesse, além de ser atual. Portanto, a fotografia jornalística deve se enquadrar
nestes aspectos também.
A fotografia, portanto, dentro de um jornal possui objetivos pragmáticos, como
afirma Karan (2004), tendo utilização secundária dentro do ato jornalístico. Porém, essa
utilização até então secundária participa de maneira intima da interpretação por parte do
leitor da informação passada, provocando a partir de si mesma maneiras especificas de
sentido.
A imagem fotográfica no jornal e a sua relação com outros componentes
simbólicos, seja o próprio texto escrito e outros, é fundamental para as representações
ou juízos que o jornal produz, ou quer produzir. Possui também componentes internos,
que dizem respeito à sua produção e a sua formação física. E os componentes externos
que se caracteriza pela sua capacidade de intertextualização, ou seja, os componentes
externos a ela que participam ou que agregam efeitos de sentido. A fotografia como tal é
algo mais do que uma mera ilustração, é uma forma de congregar e localizar o agente
central na configuração visual e cognitiva dos fatos (CIAVATTA et al, 2004).
4.2. O Corpus
O corpus está anexado ao relatório após o parecer da orientadora.
5. Resultados
5.2. A pesquisa
Inicialmente constatou-se a escassa abordagem sobre o tema nos jornais
selecionados entre o período definido. Tanto que em dois anos apenas 21 reportagens
foram encontradas no total, incluindo os três jornais, sendo 9 delas especificas sobre a
UHE de Melo Monte e 12 sobre hidrelétricas em geral, como já foi dito, nossa atenção
será para as reportagens sobre BM.
Pode-se separar as fotografias encontradas em dois tipos predominantes. O
primeiro tipo é a fotografia que retrata o espaço físico da hidrelétrica propriamente,
mostrando ela em funcionamento ou o espaço da sua construção. O segundo tipo de
fotografias são as que retratam indígenas. Foram encontrados também outros dois tipos
que não são predominantes, representações que apareceram em duas fotografias cada: o
exército e fotografias que congregam aspectos que permeiam o imaginário social
nacional sobre a Amazônia – retratam o rio, a floresta, os ribeirinhos e canoas.
As reportagens que integram o corpus da UHE de Belo Monte, demonstra que o
cenário conflituoso que se formou com o inicio do inventário do potencial hidráulico do
Rio Xingu, ou seja, no inicio de tudo, perdura até hoje. As populações tradicionais
permanecem à margem do pólo central das tomadas de decisões, tendo que optar por
intervir de maneira direta, como ocupar o canteiro de obras. A posição alheia a tal
problema do governo contribui para que este cenário se configure até hoje.
6. Publicações
Um produto do projeto foi aprovado no Congresso Brasileiro de sociologia com o
título “Análise da representação imagética utilizada pelos maiores veículos de
informação impresso do Brasil e de Belém sobre as Hidrelétricas localizadas na região
Amazônica no período de 10 anos” na categoria Sociólogos do Futuro (única destinada
a graduandos) no formato de pôster.
7. Conclusão
Concluímos, então, que o jornal faz um recorte na realidade dos fatos e seleciona
o que julgam ser de interesse e que preencham aqueles pré requisitos para sem
veiculados como “notícia”, esse recorte excluí uma extensa gama de fatos que impede
que o leitor (o receptor) compreenda a totalidade do contexto sociopolítico/ambiental
que envolve as construções dessas barragens.
As fotografias jornalísticas não são inocentes: elas traduzem um acontecimento, construindo-o. Recortam uma realidade, são notícia e transmitem informação. Além disso, funcionam, assim como o jornal e seus textos, como mediadoras e peças importantes para a construção de uma imagem (no sentido de um imaginário) sobre algo específico; sobre uma realidade específica. (TAVARES & VAZ , 2005)
O arquivo encontrado reafirma a fotografia como espaço dado ao imaginário
humano, seja ela estética ou documental. A polissemia fotográfica transcende os
suportes ou veículos em que se encontram, gerando sentidos que vão além desses
aparatos para tornar-se autônoma de um discurso escrito ou oral.
8. Bibliografia
____________. Os 50 maiores jornais do Brasil Jan/14.
<http://www.alap.com.br/noticias/os-50-maiores-jornais-do-brasil-jan14>, acessado em
29 de janeiro de 2015, ás 23:15.
CAMARGO, Isaac Antonio. Imagem e mídia: apresentação, contextos e relações.
Discursos Fotográficos, Londrina, v.1, p.11-22, 2005.
CASTRO, Edna; ALONSO, Sara; Nascimento, Sabrina; Carreira, Larissa; CORREA
Simy. HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA E GRANDES DILEMAS POSTOS À
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CIAVATTA, Maria et al. A leitura de imagens na pesquisa social: história,
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FEARNSIDE, P.M. 2014. Análisis de
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FLEURY, Lorena Cândido. O CONFLITO EM TORNO DA CONSTRUÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE SOB O IDIOMA DA COPRODUÇÃO. 38º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu-MG/2014.
TAVARES, Frederico de Mello Brandão; VAZ, Paulo Bernardo. Fotografia jornalística e mídia impressa: formas de apreensão. Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 27. Agosto/2005.
GURAN, Milton. Considerações sobre a constituição e a utilização de um corpus
fotográfico na pesquisa antropológica. Discursos Fotográficos, Londrina, v.7, n.10,
p.77-106, jan./jun. 2011.
HACKING, Juliet. Tudo sobre fotografia. Prefácio: David Campany [tradução de
Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski]. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.
JUCHEM, Marcelo. LINGUAGEM FOTOGRÁFICA: UMA POSSIBILIDADE DE
LEITURA DE FOTOGRAFIAS. Linguagens - Revista de Letras, Artes e
Comunicação. Blumenau, v. 3, n. 3, p. 325-347, set./dez. 2009.
MELLO, Cecília Campello de Amaral. Se houvesse equidade: a percepção dos
grupos indígenas e ribeirinhos da região da Altamira sobre o projeto da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte. In Revista Novos Cadernos NAEA, v.16, n.1, p.127-149.
Jun/2013.
PERSICHETTI, Simonetta. Documento do imaginário social. Discursos Fotográficos,
Londrina, v.4, n.5, p.207-210, jul./dez. 2008.
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n.1, p. 47-64. Julho de 2003, Florianópolis.
SWITKES, Glenn. Águas turvas: alertas sobre as conseqüências de barrar o maior
afluente do Amazonas. Organizador: Patrícia Bonilha. São Paulo: International Rivers,
2008.
9. Dificuldades
No decorrer do desenvolvimento da pesquisa o jornal carioca O Globo bloqueou o
acesso ao seu acervo para não cadastrados e pagantes, então o período que pôde ser
contabilizado foi o início do ano de 2013. A substituição do jornal não foi feita, pois
não encontramos um jornal que tivesse a mesma abrangência nacional que o mesmo.
10. Parecer da orientadora: Aprovado, mas ainda estará sujeito a continuar o
trabalho de analise do corpus da pesquisa.
DATA : 17/08/2015
_________________________________________
ASSINATURA DO ORIENTADOR
ASSINATURA DO ALUNO
Hidrelétrica de Belo MonteDiário do Pará
Data Caderno Título Autor(a) (se tiver)
Resumo
08/01/2013
Cidade Índios param obras em Belo Monte
Kátia Brasil
10/01/2013
Cidade Obras de Belo Monte são retomadas após acordo.
Não informa Após a paralisação do dia 8 de janeiro a Norte Energia faz acordo com lideranças indígenas e as obras são retomadas.
26/03/2013
Cidade Força Nacional vai para Belo Monte
Não informa Devido a segunda invasão indígena nos canteiros das obras e a conseqüente paralisação das mesmas o governo decide mandar tropas de força nacional para garantir incolumidade para as pessoas e o patrimônio e se fazer firmar a ordem pública no
local.12/05/2013
Cidade As agruras de uma história sem fim
Luiza Mello A reportagem faz um histórico sobre os problemas e polêmicas da construção da usina de BM.
31/05/2013
Tapajós MPF pede diálogo com índios que ocupam Belo Monte
Não informa Índios ocupam canteiro de obra em BM e a Norte Energia pede reintegração de posse. Indígenas pedem a presença do Ministro Gilberto Carvalho para negociações e que haja o comprimento da constituição, e suas opiniões e demandas sejam ouvidas e atendidas.
Folha de São Paulo
Data Caderno Título Autor(a) Resumo
11/03/
2013
folhainvest Com obras atrasadas,
Belo Monte amplia
contratações
Aguirre Talento
(confirmar)
Com o cronograma atrasado, a construção da UHE de BM terá 5 mil operários a mais para o pico da obra, chegando a 28 mil homens. O objetivo é encerrar o ano com metade do projeto concluído.
O Globo
Data Caderno Título Autor(a) Resum
o
22/03/ Economia Índios paralisam obras de Belo Monte Bruno Rosa -
Hidrelétricas em Geral
Diário do ParáData Caderno Título Autor Resumo
17/07/2013 Cidade Índios vão discutir impactos ambientais
Michel Garcia Indígenas de Marabá vão para reunião na sede da Eletronorte em Brasília para discutir um pré-estudo antes do licenciamento prévio da construção da UHE de Marabá, visando principalmente debater os impactos ambientais e sociais sob a floresta e a população indígena.
12/09/2013 Diário de Carajás
Hidrelétrica de Marabá só sai com eclusas
Chagas Filho Discussão provocada pelo deputado Tião Miranda (PSDB) que pede que eclusas sejam integradas ao projeto da UHE de Marabá, pois essas eclusas diminuem impactos sobre as populações indígenas e sobre o meio ambiente.
15/09/2013 Economia BNDS libera R$ 11 bi para as hidrelétricas
Wellington Bahnemann -
19/03/2014 principal Governo tranqüiliza empresário do setor
Ae e folhapress Governo convocou cerca de 20 associações do setor elétrico para reiterar que o risco de racionamento de energia no país é baixo.
10/07/2014 Economia Elétricas ganham prazo para pagar R$ 1,3 bilhão
Danilo Fariello ANEEL prorrogou até o dia 31 de julho o pagamento de R$ 1,3 bilhão que as distribuidoras de energia elétrica deveriam fazer para honrar dividas perante o mercado de curto prazo referente a maio.
29/07/2014 Economia Condições dos reservatórios reduzem custo da energia
Nielmar de Oliveira
Folha de São Paulo
Data Caderno Título Autor(a) Resumo
05/01/2013 Mercado ‘Trabalhadores precisam de
mais direitos’, diz sociólogo
Eleonora de
Lucena
Entrevista com o sociólogo Ruy Braga sobre o atual cenário