37
PROFESSOR: Agostinho Franklin Curado Carvalho DISCIPLINA: Filosofia ALUNO: Rúben João Santos Cardoso Nº 19 Turma: 1 Ano: 10º

dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

PROFESSOR: Agostinho Franklin Curado Carvalho

DISCIPLINA: Filosofia

ALUNO: Rúben João Santos CardosoNº 19 Turma: 1 Ano: 10º

DATA: 12 Junho de 2008

Page 2: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

O que me levou a escolher este tema?

Quando queremos avaliar algo, é sempre mais fácil e proveitoso analisarmos um tema que esteja bem próximo de nós, que faça parte da nossa vida, que nos leve a pensar sobre o melhor modo de agir sobre isso.

Dai que a escolha dos “valores na adolescência” como tema tenha sido uma atitude pensada, reflectida e avaliada, de modo a que pudesse aplicar o mais possível o estudo feito à minha vida e tentar, ao mesmo tempo, ajudar-me na minha descoberta como pessoa e como membro cada vez mais activo na sociedade que me rodeia. Em toda e qualquer pesquisa que efectuei tentei tirar o máximo proveito da informação fornecida de modo a conseguir reflectir o mais possível, tentando adoptar um ponto de vista filosófico sempre que possível.

Ao longo deste trabalho abordarei temas do dia-a-dia mais dirigidos para a faixa etária dos adolescentes como é o caso do álcool, das drogas e do sexo.

Estes são temas bastante tratados pela sociedade moderna, mas será que realmente são estudados de um ponto de vista globalizante e específico ou ficam-se apenas pela opinião de cada jovem, de cada jornalista, de cada pai?...

Tentarei abordar estes temas de um modo mais profundo, elucidativo e adoptando uma perspectiva o mais filosófica possível de acordo com as minhas capacidades; tenho plena consciência de que o meu discurso não é brilhante, nem magnificamente eloquente, mas tentarei acima de tudo, analisar os problemas na sua essência de acordo com tudo o que aprendi e desenvolvi ao longo deste ano.

Através da análise de textos, vídeos, livros… consegui uma melhor familiarização com estes problemas e o modo como os haveria de tratar e abordar.

Partindo da opinião de especialistas, com muito mais experiência do que eu neste campo, consegui retirar o essencial, compreender os seus pontos de vista e saber traduzi-los para a minha vida, permitindo-me formular uma opinião sólida, com bases fortes em que me suportei.

Confrontarei sempre que possível a minha opinião com a de outros, tentando ver onde cada uma difere da outra e tentar decidir qual a que realmente se traduz numa opinião válida para o tema tratado.

Todos os tópicos que estudei ao longo do ano irão ser postos em prática e utilizados como meio para a decifração de problemas reais da sociedade e serão também uma forma de testar o meu real conhecimento sobre a minha aprendizagem e a minha capacidade de aplicação do que aprendo em novas situações.

O tema em si reflecte a minha intenção de explorar um assunto que está intimamente ligado comigo. Os valores na adolescência são por si só uma expressão do desenvolvimento e crescimento humano, mostrando como um ser humano começa o seu processo evolutivo da busca da independência.

É nesta fase que os jovens se interrogam sobre o mundo que os rodeia. Porque faço isto deste modo? Porque sou julgado desta maneira? Qual o sentido

da minha vida? São perguntas que eu próprio já coloquei e tentei responder por mim mesmo, mas vi que isso era extremamente difícil e que, antes de mais, para conseguir

Page 3: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

responder a questões tão complexas tinha primeiro que me conhecer um pouco melhor e saber quem era eu afinal no meio da sociedade. Foi isso que tentei também descobrir.

Page 4: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

ValoresFoi-me ensinado que a filosofia é uma área de pensamento que se caracteriza por

uma radicalidade profunda, ou seja, começa por analisar a essência das coisas e só depois parte ao aprofundamento desses saberes. Deste modo, é fundamental saber o que são os valores para depois os conseguir associar à adolescência e a todos os problemas daí adjacentes.

“Filosoficamente falando” valor é “o carácter de algo que o torna preferido, desejado e tido como superior” (Franklin, Phi, 2007: 104).

Os valores implicam sempre uma relação entre o sujeito humano e a realidade. O sujeito é todo aquele que prefere, deseja e formula juízos acerca de objectos ou actos. A atitude deste nunca ou muito raramente é de indiferença.

Os valores surgem-nos apresentados numa ordem hierárquica, designada por tábua de valores. Esta tábua de valores consiste numa lista hierarquizada que pessoas e comunidades estabelecem. Mas essa hierarquização nem sempre é consistente, mas está sempre presente nas nossas vidas e a regular o nosso modo de actuar.

Já assumir que nos regemos por uma pauta de valores revela a nossa falta de neutralidade perante o real.

“Um valor não é um facto. Um facto é uma realidade constatável ou um acontecimento susceptível de ser atestado por várias pessoas: coisas, pessoas, acontecimentos, instituições...” (http://ocanto.esenviseu.net/novo10/valores2.htm). Ou seja, um valor difere de um facto na medida em que apresenta uma maior susceptibilidade, não sendo tão objectivo. Os valores implicam que cada sujeito dê a sua própria opinião e, como essa opinião varia sempre de indivíduo para indivíduo, é impossível uma definição universal de um dado assunto uma vez que é demasiado subjectivo para ser avaliado de modo concreto.

"Reconhecer um certo aspecto das coisas como um valor consiste em tê-lo em conta na tomada de decisões ou, por outras palavras, em estar inclinado a usá-lo como um elemento a ter em consideração na escolha e na orientação que damos a nós próprios e aos outros" (Blackburn, Dicionário de Filosofia, 1997); é pois visível a subjectividade dos valores que cada sujeito atribui a determinada situação. O modo como este se coloca perante certo assunto vai condicionar toda a sua avaliação do mesmo e, muito dificilmente, a avaliação será feita de igual modo àquela efectuada por outro indivíduo sobre o mesmo tópico.

Page 5: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Os valores não são qualidades sensíveis das coisas (como a cor, por ex.), embora as propriedades valiosas estejam baseadas nas qualidades das coisas. Os valores também não são objectos (relógios, livros...), embora atribuamos valor às coisas. Os valores não são ideias (como, por ex., os objectos matemáticos: a recta, o triângulo...).

Os valores apresentam também bipolaridade, isto é, para um valor considerado bom outro será considerado mau (apresentam sempre dois pólos). Ao olharmos para a paz como sendo um bom valor, olhamos obrigatoriamente para a guerra como sendo má.

Os valores são uma constante da vida humana. Quando olhamos para alguém acabamos, mesmo sem querer, por julgá-la pela sua aparência, sem olhar mais fundo no problema. É uma característica inerente da fragilidade do ser humano. Esta imediatez de pensamento espontâneo torna o ser humano mais fraco, uma vez que é regido pelo seu consciente sem conseguir controlá-lo, na maioria das vezes.

Esta constante acompanha-nos desde crianças até velhos mas, só a partir da adolescência é que começamos efectivamente a pensar sobre eles. Daí que seja pertinente começar a reflectir inicialmente sobre: Os Valores Na Adolescência.

Segundo Adolfo Sanchez Vásqez “tanto as coisas que o Homem não criou, como os actos humanos ou produtos da actividade humana, têm um valor para nós” mas coloca ainda a questão “mas o que significa ter um valor ou ser valioso para nós?” (Franklin, Phi, 2007: 114). Daqui podemos verificar que é também opinião deste filósofo que o homem atribui valores às coisas, independentemente de ter sido ele a elaborá-las ou não; faz parte da condição humana analisar todo o universo e, inicialmente, isto é feito sem recurso a qualquer pensamento profundo. O homem guia-se apenas pela sua primeira impressão.

Mas no fundo o que é ter um valor ou ser valioso? Na sua essência ter um valor pode significar várias coisas, dependendo da inserção desse valor na hierarquização dos mesmos. Quando nos referimos a algo “de valor”, pretendemos caracterizar positivamente esse factor, dizemos que ele é importante para nós, preferimo-lo a outros e desejamo-lo acima de demais.

Podemos então caracterizar toda a valorização humana como uma forma de o ser humano se organizar na sua vida e na sua sociedade; um modo de este tentar manter um equilíbrio entre a sua vivência e a vivência dos outros em seu redor.

Após uma breve reflexão sobre a essência dos valores, podemos aperceber-nos da rede conceptual que se cria em torno desta palavra. Isto reflecte a impossibilidade ou a enorme dificuldade de conseguirmos uma reflexão realmente completa e inequívoca sobre os valores. Sempre que estamos prestes a dar uma definição próxima da correcta acontece-nos uma de duas coisas: ou um novo problema emerge, ou então retornamos ao início, o que revela a ciclicidade deste conceito e a impossibilidade de encontrar um fim.

[(Deparo-me então com a primeira dificuldade do trabalho. Como conseguir prosseguir se já à primeira definição esbarro com um beco sem saída? Não é bem assim, no entanto.

Foi-me ensinado que a filosofia se faz por aproximações sucessivas e nunca (ou raramente) por certezas dogmáticas. Daí que já tenha conseguido alguma coisa. Partindo de alguns conceitos e aplicando-os ao meu tema de trabalho posso facilmente tornar este

Page 6: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

circulo de conceitos numa imensa teia conceptual, tornando-a mais completa e complexa (na sua simplicidade).]

Quando deparados com um problema sem solução aparente, o melhor que temos a fazer é estruturar as ideias de modo a que estas fiquem mais claras, de modo a permitir encontrar um ponto de ligação entre tudo o que já fizemos.

Por isso, muitas vezes, a criação de esquemas, gráficos ou tabelas constitui uma boa forma de contornar obstáculos:

Page 7: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Valores

Sujeito Humano

Tábua de valores específica de cada indivíduo

Caracterização da realidade e valores

inerentes

Bons Valores

Maus Valores

Realidade

Apreciação meramente científica

dos problemas

Apreciação mais reflectida e pensada a

nível filosófico

Modo de organização e

estruturação pessoal

Dificuldade de conseguir a

abstracção total

Como fazer essa organização de

acordo com os valores dos outros?

Impossibilidade de conseguir ser 100%

objectivo dando sempre opinião dependendo dos

meus valores

Page 8: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

A relação entre os adolescentes e os valores

Na adolescência, dá-se o salto em direcção a si mesmo, como ser individual, cuja meta a definição de uma identidade pessoal.

A adolescência caracteriza-se principalmente por ser um período turbulento.É um período da vida, no qual as contradições assumem um papel dinâmico

essencial. Uma das contradições mais evidentes é a que se refere à dependência versus independência. Isto é, por um lado os jovens vivem completamente dependentes dos pais e de todo o seu ambiente familiar, este é o seu suporte e sem ele não conseguiriam sobreviver; por outro lado, nesta fase da vida os jovens tendem a ganhar autonomia, a tentar libertar-se do círculo familiar e a criar o seu próprio círculo, a fugir à prisão que julgam ser os pais e tendem a procurar a liberdade junto dos amigos e da sociedade lá fora.

O estado de dependência é uma característica fundamental humana e podemos até mesmo dizer que ela é estruturante para o sujeito, porque, através de um estado de total dependência entre a relação mãe e filho, a criança vai adquirir condições de tornar-se alguém diferente e único. De acordo com todas as influências que o indivíduo, durante a sua infância, recebe este vai organizar-se, estruturar-se (fazer-se a si mesmo) de um modo único, próprio e que sempre varia de pessoa para pessoa.

É nesta altura que enormes diferenças surgem no ser humano, e é agora que, pela primeira vez, é posta à prova toda sua capacidade de enfrentar os problemas e conseguir desenvolver-se a si próprio.

A identidade de cada um é influenciada grandemente por aquilo que vive durante esta fase da sua existência e o modo como encara essa mesma vivência.

A sua construção como pessoa depende grandemente do indivíduo, a partir do momento em que entra nesta fase. Até esta altura, limitava-se a seguir aquilo que lhe mandavam fazer e aquilo que via os outros fazer; agora, tudo o que vê tem consequências para as suas acções, e tudo aquilo que faz terá consequência naquilo que virá a fazer um dia mais tarde.

Coisas que parecem não ter a mínima importância num dado momento, poderão vir a ter um papel importantíssimo no futuro.

Tome-se por exemplo o filme “Aviador” de Martin Scorsese-2004, que relata a vida de um americano excêntrico, multimilionário, apaixonado por aviões e cinema; com uma extrema obsessividade pela limpeza. Ora esta obsessão foi-lhe desenvolvida pela mãe desde que ele era ainda uma criança e todas as atitudes desta face a este factor marcaram-no de tal modo que ele acabou por se tornar completamente obcecado com a sua limpeza e higiene pessoal. É uma prova (embora vinda de um filme, de que somos determinantemente influenciados por todo aquilo que vivemos).

É fácil observar as características que herdamos dos nossos pais ou avós. E porquê? Porque sempre fomos educados a agir como eles e, como tal, sem nos aperceber-mos fomos adquirido práticas, caprichos e costumes dos nossos antecessores.

Page 9: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Os jovens, sem se aperceberem, começaram a introduzir os estereótipos que observam em seu redor nas suas acções, e no seu modo de viver. Vão ser influenciados por todo o que os rodeia; por vezes isso é bom para a sua vida mas, muitas vezes, os ensinamentos que se retiram daí são degenerativos de uma boa vivência gregária (=em sociedade) e conduzem a situações de mal-estar e recusa perante a sociedade.

Com as mudanças corporais, características desse período de desenvolvimento, o adolescente vê-se obrigado a suportar passivamente uma série de transformações na sua estrutura física. O facto de não poder fazer nada, em relação a esse corpo que se modifica, é sentido como uma profunda impotência. Esse sentimento favorece o mecanismo de deslocamento da rebelião que, ao não poder expressar-se contra o corpo que se modifica, manifesta-se na esfera do pensamento.

Por isso, “observamos em muitos adolescentes o predomínio de uma intelectualização omnipotente, isto é, expresso numa postura provocadora, na qual ele é o dono do saber, o dono da verdade. As discussões intelectuais expressas através de símbolos, ideias, desejos de reformas políticas, sociais, religiosas não constituem tentativas verdadeiras para a solução das tarefas impostas pela realidade”(www.unicap.br/Arte/ler.php?art_cod=1538). Ou seja, o adolescente acaba por, numa tentativa de se defender de si próprio devido às mudanças que começam a aparecer, se colocar na posição de eterno conhecedor de todo o mundo e de todas as vidas.

A arrogância torna-se característica base da adolescência. Sim! É triste dize-lo mas é a verdade. A minha vida é também um pouco assim; não posso dizer que não tenho atitudes arrogantes porque estaria a mentir. A arrogância está também presente na minha, agora eu tenho a capacidade de permitir que essa arrogância seja, ou não, revelada aos outros. Todos os sentimentos, quer sejam julgados bons ou maus, fazem parte do nosso consciente, do nosso “eu” específico; mas nós temos a capacidade de discernir quais queremos permitir que sejam revelados aos outros. A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que comandamos aquilo que fazemos. No entanto, as nossas atitudes dependem imensamente de factores externos a nós (como a coação ou outros exemplos menos explícitos como mau ambiente). Então até que ponto poderemos dizer que existe livre arbítrio? Isso é outro assunto, mas é visível a imensa dificuldade que é explicar conceitos em filosofia porque um conduz sempre a outro que por sua vez leva a mais dois e assim sucessivamente (=rede conceptual).

Voltando aos adolescentes, estes são demasiado frágeis a toda e qualquer alteração do meio logo enquanto não souberem encontrar o equilíbrio entre o espírito (a alma ou consciência como lhe quiserem chamar) e o seu corpo (relembre-se que é este corpo que é uma das principais razões da fragilidade no Homem e, mais especificamente, no adolescente).

O que o adolescente precisa é de um tempo e de uma compreensão para poder aceitar que seu corpo está transformando-

Page 10: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

se e que ele tem de, aos poucos, elaborar a perda do seu corpo infantil.

É natural falar que o adolescente sofre de um “fracasso de personificação” e delega ao grupo grande parte de seus atributos e aos pais, a maioria das obrigações e responsabilidades. É aí que se situa a tão famosa irresponsabilidade da adolescência: como são os outros que se encarregam do princípio da realidade, ele, o adolescente, nada tem a ver com nada.

Esse fracasso de personificação surge pela confusão de papéis, já que não pode manter a dependência infantil e não pode assumir a independência adulta.

“O adolescente vive, então, entre a realidade e a fantasia; confunde-as e isso provoca uma mudança constante de objectos. Essa confusão pode levá-lo a “despersonificar” os seres humanos, tratando-os como objectos necessários às suas satisfações imediatas. O facto de desconsiderar as pessoas e as coisas do mundo externo real faz com que muitas das relações objectais do adolescente sejam intensas e frágeis, vivendo, assim, crises passionais e períodos de absoluta indiferença” (www.unicap.br/Arte/ler.php?art_cod=1538). Ou seja o adolescente cria um mundo próprio, afastado da realidade da restante sociedade, e acaba por criar ilusões, de que é capaz de tudo, de que os outros são meros peões num tabuleiro de Xadrez em que ele é rei e jogador. Pensa que tudo pode fazer, que o mundo gira em torno dele mesmo, e acaba por afectar o mundo à sua volta. Tudo o que faz é correcto para ele.

É através do manejo dessas situações que o adolescente vai estabelecer sua identidade. Vivendo todo esse processo, o pensamento começa a funcionar de acordo com as características grupais.

Podemos perceber, então, a importância da turma e do grupo. Dessa forma, é no grupo que o adolescente se sente seguro, participando da actuação, responsabilidade e culpa grupais, não existindo, no entanto, uma responsabilidade pessoal.

A crise da adolescência, portanto, manifesta-se num determinado tempo, num certo espaço contido entre a família e a sociedade, e não num vácuo sem significados.

A família, como um grupo social, significa o encontro de um determinado número de pessoas que convivem e que desempenham actividades e papéis. Esses papéis sociais irão expressar a extensão da responsabilidade do adolescente, suas funções e deveres para com o grupo.

Os pais, nesse caso, serão os líderes, orientadores que dão as directrizes que devem ser aceitas e respeitadas.

Quando os filhos crescem, as verdades e as regras não se mantêm porque eles começam a pôr em questão os princípios até então aceitos como definitivos. O adolescente faz questão e necessita de renunciar a relação infantil de dependência para poder encontrar a sua identidade de adulto.

E, nesse caminho, ocorre a constatação de que os pais estão a distanciar-se, formando-se para o adolescente a perda mais significativa: a perda dos pais da infância, os quais eram o seu

Page 11: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

grande pilar de apoio. Para as crianças, os pais são vistos como perfeitos, sem erros, fraquezas ou problemas, provedores de segurança e com eles tudo devem aprender. É na adolescência que ocorre a constatação de que os pais nunca foram, na realidade, tudo aquilo que profundamente fora idealizado na infância. E o adolescente entra em choque com os pais, contestando inclusive a sua autoridade. Também, nesse processo, é preciso que o adolescente apague as imagens parentais protectoras que o cercavam durante a infância. Por outro lado, os pais também entram em crise porque perdem a relação de dependência e precisam de elaborar a perda dos filhos infantis. Essa situação é, muitas vezes, vivida pelos pais como abandono. O questionamento feito pelos adolescentes, em relação ao comportamento dos pais, não significa que haja menos amor entre eles.

É uma necessidade típica da adolescência de encontrar, fora do convívio paterno, outras referências, outros modelos de comportamento.

Resumindo, a adolescência traduz-se numa fase de percepção de que o mundo da infância não existe, de que tudo aquilo era um mundo ilusório criado pelos pais, de modo a que os filhos pudessem viver na ingenuidade da sua idade e, como tal, quando os jovens ganham consciência da realidade, revoltam-se com tudo o resto e procuram formas de encontrar a liberdade, de se libertarem das amarras que lhe foram impostas pelos pais.

Problemas adjacentes da relação entre os Jovens e os Valores:

Como são vistos, então, os valores por parte deste escalão etário tão atribulado consigo mesmo e tão compenetrado no seu próprio ego?

Nesta fase, o adolescente começa a criar em si próprio os seus verdadeiros conceitos de valores bons e valores maus. Começa agora a interessar-se por definir aquilo que considera correcto e aquilo que considera errado. Desenvolve o gosto por novas experiências, novas aventuras, alguma que lhe permita encontrar um rumo na vida, um fio de ligação que o conduza pelo meio da amargura que é sentir tudo à sua volta (e ele mesmo) a mudar sem que nada possa fazer.

Valores como a honestidade, a sinceridade, a preserverança, … são, por vezes, subestimados e subvalorizados o que conduz a que outros (que se encontram numa posição menos confortável na tábua de valores da nossa sociedade) sobressaiam e sejam muitas vezes recorrentes na vida dos jovens, tais como: a crueldade, a desonestidade, a falta de sensibilidade …

Quando os valores mais enaltecidos (consciente ou inconscientemente) pelo jovem entram em choque com os valores tidos como mais aceitáveis pela sociedade

Page 12: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

ocorrem situações de ruptura na vida do indivíduo que procura modos de se reencontrar com o mundo que o rodeia, os quais são, na sua maioria, nefastos para a sua vida futura.

De entre estes problemas podemos destacar:

A droga é hoje uma realidade a qual é caracterizada como sendo um problema social. É um problema cada vez mais importante, atingindo inúmeras pessoas em todo o mundo, e face ao qual a sociedade ainda não foi capaz de encontrar uma resposta totalmente eficaz e esclarecedora.

A toxicodependência é o resultado do encontro de uma pessoa com uma substância, num determinado momento e contexto, isto é, surge da interacção do indivíduo ou grupo com a sociedade e com determinados grupos localizados.

“Como resistir à droga, numa idade em que, à procura de um ideal, o adolescente descobre simultaneamente a possível grandeza humana e a sua miséria afectiva?”. O jovem sente-se atraído a experimentar novas experiências, algo que o conduza a um estado de êxtase e de prazer imediato acabando por decidir optar por métodos mais fáceis.

- “Que existe para oferecer a um adolescente prestes a entrar numa fase importante da sua vida, tendo em consideração que devido às pressões profissionais os pais não lhe dão a devida atenção, em que os alunos passam a maior parte do tempo na escola, em que os professores não podem exercer todos os papéis que se lhe deviam impor ou até em que o psicólogo não pode resolver todos os problemas?”

- “Que pode então fazer o adolescente senão copiar os modelos sociais que lhe estão mais perto e com os quais acaba por se identificar?” O indivíduo acaba por ser extremamente influenciado pelos outros e opta por seguir os comportamentos daqueles que o rodeiam, numa tentativa de se integrar e de não ficar à margem do grupo que escolhe. O adolescente observa o comportamento do modelo e passa não só a aprender algumas respostas específicas, mas passa também a reproduzir o estilo da pessoa que observa, até porque o modelo social é (pensa ele) recompensado.

Há quem considere o uso de drogas, na adolescência, como parte do seu problema de desenvolvimento. Acreditam que a necessidade de experimentar novidades, ter diferentes emoções, correr riscos levam o adolescente, entre outros factores, a querer conhecer as drogas. A droga surge como auxílio no sentido de superar as inibições e ousar viver situações novas. A emergência dos impulsos sexuais é outro factor que produz ansiedade, temor e expectativa. Dessa forma, a droga pode também ser usada para anestesiar esses novos sentimentos, como assinalam os autores acima citados. A droga acaba por conduzir os jovens a estados de adolescência eterna ou até mesmo retorno à infância.

Page 13: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

O uso da droga, nesse período, também caracteriza a necessidade de viver num mundo sem frustrações que, ao se separar com a família, muitas vezes aumentam, e, dependendo de como se encontra a estruturação de sua personalidade, a reacção terá variações, podendo chegar ao processo de dependência psíquica ou física à droga. Outras motivações para uso de drogas na adolescência: a importância do grupo, jogo com a morte e o papel da transgressão.

A droga pode funcionar, para o adolescente, como uma forma de afirmar-se dentro do grupo, em busca de sua identidade. A uniformidade grupal proporciona-lhe segurança e estima pessoal. O adolescente acaba por pertencer mais ao grupo do que à família, e a procura de um líder no grupo pode ser explicada pelo desejo de submeter-se ou de eleger-se como tal para poder exercer o poder do pai ou da mãe.

Dependendo da qualidade e da natureza dos vínculos existentes entre a criança e seus pais, o adolescente vai demonstrar sua capacidade de integração nos diversos grupos sociais de que participa. O modo de avaliar subjectivamente do sujeito vai, portanto, revelar sua identidade.

Dessa forma, observamos que os adolescentes que tiveram pais ausentes, ficaram sem oportunidade de fazer uma sólida e estruturante identificação com seus pais, terão maiores dificuldades nas relações posteriores, podendo, nesse caso, o uso de drogas indicar a grande preocupação, por estar (o adolescente) inserido nesse contexto familiar sem referências.

Quanto ao jogo de morte, podemos estabelecer uma relação entre o uso de drogas e a manipulação da ideia de morte, facto comum em níveis de compreensão variados da adolescência. Essa ideia passa a ser uma função estruturante da personalidade adolescente, pois é no confronto com a morte que ele descobre o valor da vida, testa sua autonomia e sua liberdade, toma consciência de como tornar-se adulto e encontra ocasião de afirmar o seu eu.

No que diz respeito à transgressão, o uso de drogas pode funcionar como forma de protestar contra as normas estabelecidas, de pôr à prova a autoridade dos pais de determinar limites, de contestar o mundo dos adultos, como também pode indicar uma negação e uma recusa aos padrões sociais pré-estabelecidos, por considerá-los socialmente limitados à sua capacidade de raciocínio e atitudes adolescentes.

É possível concluir-se então que, as drogas não são mais do que um meio de refúgio dos problemas da vida real. São outro importante factor que revela a fragilidade do ser humano face aos problemas inerentes de uma vida tipicamente Humana, a qual o indivíduo não consegue enfrentar de cabeça erguida, acabando por se esconder por detrás da máscara horrível de uma vida dividida entre o mundo físico e o mundo alucinado criado pelo consumo das drogas.

O uso de drogas, durante a adolescência, pode ser, portanto, uma maneira de expressar a crise, o mal-estar de numerosos adolescentes. Pode também, muitas vezes, reflectir como um espelho, um mal-estar maior, o de nossa sociedade. Observamos que

Page 14: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

a família, a escola, as instituições sociais e a sociedade em geral têm tido, para com o adolescente, um relacionamento rico em conflitos violentos. A perda desse sentimento de solidariedade transforma o outro num estranho ameaçador.

O excesso de estímulos e a perda de referências internas ou externas têm levado o jovem a um estado de dissociação, fragmentação, busca de drogas e perda de controlo da realidade. O que se vivencia hoje é a ampliação do narcisismo pela sedução dos nossos dias. Prevalece a cultura do corpo, a negativa beleza de fumar e o falso charme de beber.

Cada vez mais o jovem desestabiliza sua estrutura do ego. Como resultado, temos, então, não apenas uma crise de transição, na adolescência para idade adulta, mas uma vivência baseada na destruição do pensamento, cisões, negação da realidade, omnipotência, busca da imediata satisfação dos desejos, baixa tolerância a frustrações e problemas quotidianos e uso de drogas.

A droga deixa de ocupar o lugar da curiosidade, da auto-afirmação, do protesto contra as normas sociais, para denunciar a ausência de identificação e as carências imaginarias típicas do adolescente. A sua personalidade fica comprometida.

“Qual será o futuro psíquico das crianças e adolescentes submetidos a uma estimulação maciça e precoce? Quais os benefícios e prejuízos para as mentes em desenvolvimento, quando uma sociedade transforma a arte, a religião, o corpo, os sentimentos, a vida e a morte em material de consumo? (Levinsky-1998).” Entende-se, portanto, que não podemos, como membros da sociedade, centralizar os problemas do adolescente no uso de drogas, porque eles surgem anunciando sintomas de que algo não está bem com as suas relações sociais.

É preciso saber onde se encontra o busílis da questão “porque começam por experimentar?” e tentar cortar o mal pela raiz, tentando penetrar na mente dos jovens, tentando compreender e ajudar a ultrapassar uma fase que, por si só, já constitui uma aprendizagem dura e complexa de “quem somos nós”.

Observe-se as seguintes tabelas e gráficos, demonstrativos do problema dos dias de hoje relativos ao consumo de drogas na nossa sociedade:

Page 15: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que
Page 16: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Pela análise destes gráficos é flagrante a localização do problema. Apercebe-se que os principais pontos de contacto com estas substâncias ilícitas são os locais onde, à partida, a educação e o desenvolvimento pessoal é mais facilmente construído, ou seja, na escola e no ambiente familiar.

No entanto, embora estes sejam os locais em que se pretende desenvolver o indivíduo do ponto de vista gregário e desenvolver a sua capacidade de conhecimento dos outros e de si próprio, é aqui que se dão, na maioria das vezes, o 1º contacto com este problema muito devido ao facto de aqui se encontrarem muitos jovens nesta fase problemática que é a adolescência e estes, numa tentativa de se encontrarem, começam a construção de grupos os quais optam frequentemente por novas experiências como o consumo de estupefacientes.

Page 17: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Outro dos grandes flagelos da sociedade actual é o contacto activo que os jovens têm com o álcool.

Este problema não é mais que uma tentativa de integração dos jovens na sociedade madura dos adultos e uma tentativa de se mostrarem com capacidade para lidar com temas de cariz mais desenvolvido.

Os jovens tentam, por um lado, mostrar que deixaram para trás a fase da infância e que são já desenvolvidos, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vistas psicológico. No entanto, por outro lado, não conseguem muitas vezes desligar a sua essência infantil e acabam por cometer actos irreflectidos e irresponsáveis, não medindo a sua capacidade de confronto com o álcool, abusando desnecessariamente.

Vivemos numa sociedade onde “apanhar bebedeiras” se tornou algo comum e até mesmo sinal de inserção e de integração. Grupos de jovens julgam encontrar no estado de euforia provocado pelo álcool a diversão que tanto anseiam, acabando por se esquecer da sua condição frágil de Humanos. Mais uma vez é possível observar a fraqueza dos Homens e a sua íntima relação com o seu corpo e as limitações que este estabelece.

Os jovens são mais vulneráveis a sofrer danos físicos, emocionais e sociais devido ao consumo próprio ou de terceiros. Existem fortes ligações entre o consumo de alto risco, a violência, os comportamentos sexuais de risco, os acidentes de trânsito e de outro tipo, as deficiências permanentes e a morte. Os custos dos problemas relacionados com o consumo de álcool entre os jovens, a nível social, económico e de saúde, impõe um fardo substancial à sociedade.

Actualmente, a saúde e o bem-estar de muitos jovens estão seriamente ameaçados pelo consumo de álcool e de outras substâncias psico-activas.

Segundo uma perspectiva de saúde pública, a mensagem é clara: não há provas científicas de um limite seguro para o consumo de álcool, especialmente para as crianças e os adolescentes, que são os grupos mais vulneráveis. Muitas crianças são também vítimas das consequências do consumo de álcool por terceiros, em particular por familiares, que tem como resultado a ruptura familiar, a pobreza económica e emocional, a negligência, o abuso, a violência e a perda de oportunidades.

Uma vez mais, a família e a escola têm um papel decisivo e determinante na introdução e no modo de abordagem deste tema aos jovens. Numa família onde alguns membros sejam alcoólicos não é de estranhar que, mais cedo ou mais tarde, os jovens pertencentes a esse grupo familiar sejam levados a experimentar aquilo que motiva os mais velhos e que os leva a cometer tantas loucuras no estado tão distante e no entanto tão ao alcance da mão.

Analisando alguns esquemas referentes a este problema na nossa sociedade conseguimos localizar o problema e dar largos passos na procura de modos de prevenção destes problemas:

Page 18: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que
Page 19: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que
Page 20: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

É fácil concluir que todos estes assuntos não são apenas um problema isolado, mas sim uma rede de problemas na qual um atrai outro que por sua vez atrai outro.

Desde do desgosto com o próprio corpo até a problemas familiares e escolares, tudo se relaciona de modo a promover no jovem um desejo de fuga aos problemas. Este encontra-se desesperado e só pretende refugiar-se do modo mais fácil e menos doloroso.

Acaba então por optar pelo caminho do álcool, do tabaco, e das restantes drogas. Tudo isto como forma de fuga e, ao mesmo tempo de integração na sociedade.

O álcool acaba por afectar muito mais do que o indivíduo que o consome. Toda a sua vida e todos aqueles que estão em contacto com ela acabam por se ressentir de um modo mais profundo ou não.

As famílias perdem cada vez mais o contacto, a vida torna-se um suplício em vez de um prazer, qualquer pequeno problema é pretexto para discussões que terminam sempre com zangas intermináveis. A estrutura familiar acaba por ceder a tamanha complicação, os pais não sabem o que fazer, os filhos não sabem encontrar-se e o seu mundo torna-se cada vez mais distante, inseguro e livre de se encontrar com enormes flagelos do dia-a-dia.

Os amigos deste indivíduo problemático acabam por não encontrar forma de apoiar a pessoa em causa, acabam por se sentir mal com eles mesmos o que pode conduzir a situação de depressão, as quais podem originar problemas de maior risco.

Este ciclo vicioso torna-se cada vez maior e só pode ser parado se algo for feito neste sentido. Bloqueando um dos problemas, os outros serão de certo modo atenuados e conseguir-se-á a médio prazo controlar o problema maior. No caso da família conseguir encontrar tempo para conversar e avaliar o problema como uma família que é, o jovem sentirá que existe o tal “ombro amigo” no qual pode confiar e com o qual pode sempre contar.

Mais uma vez o Homem mostra-se fraco. Depende bastante dos outros para se fazer como pessoa; molda-se consoante o gosto dos outros e a vontade dos outros, sente-se impelido a fazer o mesmo que eles e, sempre que algo corre mal, é a eles que recorre não conseguindo encontrar o caminho por si só. São estes alguns riscos e vantagens da convivência gregária.

Mas não são só estes os problemas que afectam a juventude.Temos outros ainda mais relacionados com o “eu” pessoal e a intimidade de cada

um.

Page 21: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Este é um dos problemas que nesta fase acaba por ter um papel muito importante na vida dos jovens.

É por esta altura, com a modificação do corpo e da mente, que os jovens se começam a sentir atraídos por outros e tentam descobrir esse mesmo sentimento. O problema surge quando estes, não o sabem fazer?

O adolescente é facilmente influenciável por aquilo que vê na televisão, no cinema e na vida de outros e isso vai influencia-lo positiva ou negativamente na sua experiência e primeiro encontro com este assunto. O sexo tem vindo a ser cada vez mais desprestigiado e a Humanidade tem-se remetido apenas à sua parte animal, na tentativa de satisfazer os seus desejos pessoais esquecendo aquilo que o difere dos restantes animais.

Já o simples facto de sermos homens ou mulheres vai influenciar a nossa atitude perante este temática. A definição inicial do sexo é algo que não se controla e que não podemos alterar, mas é um facto que hoje em dia essa falta de possibilidade de regular a nossa natureza tem, vindo a perder cada vez mais o seu significado e tem-se assistido à degradação cada vez maior do conceito “Homem e Mulher”. As diferenças iniciais são atenuadas de modo a que, por vezes, homens acabam por ganhar características femininas e as mulheres acabam por ganhar características masculinas.

Não me oponho a esta realidade, mas tento compreender as motivações de cada indivíduo.

É flagrante o poder que a sociedade e, mais especificamente, os meios de comunicação têm neste processo. Tudo o que o jovem vê, observa e interpreta, vai ser usado na sua vida se este não souber fazer uma distinção entre a realidade e a ficção.

O modo como o sexo como relação sexual é visto hoje em dia, dificulta grandemente a organização das ideias do adolescente em torno deste problema. Este acaba por sentir que o sexo não é mais que a satisfação do desejo carnal, prazer instantâneo e momentâneo sem ver para lá disso. Uma das coisas que nos distingue dos restantes seres deste mundo, é a capacidade que temos em conseguir controlar esse impulso sexual, não é para nós simples acto de reprodução, mas sim de entrega ao outro, de aprofundamento quase máximo de uma relação que coloca em causa um dos valores mais profundos e misteriosos de todos os tempos: o amor.

A relação sexual não pode ser um mero desenrolar de uma relação superficial; tem que corresponder a um profundo encontro entre duas pessoas cujo seu relacionamento se aprofundou de tal modo que a vida de um depende quase inteiramente do outro.

O principal problema reside no modo de entendimento dos jovens perante este problema, e é preciso alertá-los para riscos, consequências e vantagens. Não se pode tratar apenas da satisfação de caprichos, de seguir costumes ou ordens. O sexo tem que ser visto como algo muito superior a isso. Tem que ser visto como mais do que um domínio sobre o outro, um domínio sobre si; é importantíssimo saber controlar o momento certo, o tempo certo, a altura certa, a alma certa, o par certo.

Page 22: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Cada ser humano possui a sua própria identidade própria, específica e particular. A nossa consciência é a criadora desta identidade única.

Ora, é óptimo ter consciência e ser capaz de pensar, reflectir, caracterizar o mundo que nos rodeia e tudo aquilo que nos agrada. Mas há sempre contras no meio de tantos prós. É impossível ver o lado considerado “agradável” da consciência sem termos em conta tudo o que ela nos traz de menos “bom”. É também esta consciência que nos faz pensar sobre a fugacidade da vida Humana, a sua fragilidade e a sua insignificante relevância no Universo face a todo o resto que o constitui.

São estes dois pólos opostos que vão moldar a identidade pessoal de cada indivíduo mediante as ideias que este vai formular relativamente ao que o rodeia e ao modo como pensa que deverá interagir com o real.

Mas será que a nossa identidade depende realmente de nós? Seremos nós os verdadeiros donos do nosso pensamento? Ou seremos complexas máquinas que se limitam a responder a estímulos vindos do exterior sem muito poder fazer para contrariar esse efeito?

É minha opinião que a identidade pessoal futura de uma pessoa é enormemente influenciada pela sua infância e (período no qual o ser não tem consciência total dos seus actos e se limita a observar os outros e a imitá-los sem reflectir sobre as consequências dos actos) por todo o ambiente que o rodeia: as suas ligações paternais, ou falta delas; as características da sociedade e a sua inserção no tempo e espaço específicos, …

Apenas nos limitamos a adquirir costumes, rotinas, modos de estar perante várias situações que, sem qualquer esforço da nossa parte, passamos a viver uma vida que não é nossa (=que não é pensada e efectivamente controlada por nós). Ex: se vivemos numa sociedade maioritariamente racista ou poligâmica, o mais certo é seguirmos esses modos de estar perante a vida sem nos apercebermos realmente que optámos por algo porque, efectivamente não o escolhemos tendo apenas seguido os demais. Isto são influências mais visíveis durante idades mais jovens nas quais não pensamos muito nas nossas acções e somos apoiados por outras pessoas quase a 100% a fim de podermos sobreviver.

Mas as coisas mudam de figura quando atingimos a fase em que começamos a reflectir sobre as nossas acções e começamos a pensar se o que temos vindo a fazer até agora foi realmente a melhor opção ou não. No entanto é sempre difícil mudarmos realmente a forma de estar perante o mundo sem pormos em causa os nossos princípios e fundamentos.

Com a reflexão sobre nós próprio começamos verdadeiramente a criar uma identidade pessoal e a adoptar uma relação com o mundo que anteriormente não tínhamos. Essa relação surge como não sendo neutra, ou seja, pressupõe sempre uma tomada de posição perante isto ou aquilo.

De que modo podemos então proteger a nossa identidade pessoal, uma vez que estamos sempre em contacto com inúmeras realidades? Será que a nossa identidade pessoal nunca poderá ser estável, estando nós sempre em contacto com o mundo?

A meu ver podemos conservar a nossa identidade, no fundo é ela que nos caracteriza como Humanos e revela a nossa consciência e capacidade de raciocinar. Mas como? Algo que nos permite proteger a nossa identidade é a sua privacidade. Ex: podemos tentar adivinhar pelo comportamento de outrem o seu estado de espírito, mas

Page 23: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

isso nunca nos trará certezas quanto ao verdadeiro e efectivo estado de espírito da pessoa. O que fazemos não são mais do que suposições que podem ou não corresponder à realidade. Mas isso é algo que apenas o próprio sujeito sabe. Mesmo no caso de este revelar o seu suposto modo de estar, não sabemos até que ponto o que nos é dito é verdade ou mentira. Limitamo-nos a supor que a pessoa com quem falamos está a dizer a verdade. As certezas sobre os outros são humanamente impossíveis. Dai que seja necessário criar modelos (=tábuas de valores) que se adaptam a cada sociedade de um modo mais ou menos independente. Daí que a personalidade de um Europeu ou Americano seja muito diferente da de um Asiático ou Africano. Note-se que eu próprio ao fazer esta afirmação não consigo distanciar-me totalmente da minha sociedade e, sendo eu europeu, vou colocar a minha comunidade num lugar de maior importância do que as sociedades Africanas e Asiáticas.

Poderei assim, ser acusado de racismo, xenofobia, ou algo parecido? Se estou a constatar um facto (embora considere inconscientemente a cultura europeia uma “melhor” cultura do que a asiática) porque poderei então ser acusado de algo desta gravidade? Cabe à sociedade mundial saber impor limites à expressividade das emoções de cada sujeito. Posso ter ideias racistas à vontade, posso ser xenófobo, terrorista em pensamento, pérfido, mórbido, deturpado, tudo e mais alguma coisa se souber não exprimir os meus pensamentos.

Será então esta sociedade uma sociedade de hipócritas puros ou de anjos de pensamentos muito castos e puros??? (Ando à procura de resposta).

No fundo cada um de nós pode ser por dentro aquilo que desejar. Expressá-lo é um problema diferente e cabe à identidade pessoal de cada indivíduo saber “permitir” ou não essa expressão.

Isto coloca-me uma nova questão: será que no decorrer da nossa vida somos alterados por dentro mas, devido aos nossos princípios e fundamentos essas mudanças não traduzidas em actos?

Creio que a questão se traduz numa resposta positiva mas que no entanto depende de sujeito para sujeito. Uns são mais receptivos a novos modelos, costumes e rotinas do que outros. Ex: um jovem facilmente se adapta a novas realidade enquanto que um idoso muito dificilmente acrescenta novos costumes à sua vida (talvez por desinteresse, talvez por falta de compreensão). É um facto que estamos em constante mudança devido a tudo o que nos acontece mas sabemos, ou procuramos saber, quando é que essa mudança é boa para a convivência gregária (=vivência em sociedade) e, no caso da resposta ser afirmativa, como aplicá-la na vida quotidiana.

Vejo então que nós, Humanos, não somos assim tão simples como pensava inicialmente. Tanta complexidade exige tempo para ser abordada coisa que por agora me falta. Fico então por aqui com os meus pensamentos, deixando apenas uma pergunta em aberto:

Terei eu sido sincero na expressão dos meus pensamentos, ou terei sido hipócrita ao ponto de escrever mentiras sobre o meu imaginar?

Page 24: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Análise a textos de Fernando Savater retirados do livro Ética para um Jovem :

“Podem existir ordens, costumes e caprichos que são motivos adequados para agir, mas nem sempre é o caso. Seria um tanto idiota querer contrariar todas as ordens e todos os costumes, como igualmente todos, porque às vezes se revelam convenientes ou agradáveis.”

Partindo da análise deste texto, podemos, baseando-nos na opinião de Savater, afirmar que, embora o ser humano e, mais propriamente o jovem, tenha que saber organizar a sua mente e pensamento, não sucumbindo a todos os caprichos não os possa renegar totalmente, uma vez que isso seria anti-natura e contribuiria para a rotura psicológico-social do indivíduo. Se contrariássemos tudo o que a nossa mente nos indicasse, não nos sentiríamos bem porque nada nos iria satisfazer algumas carências e até “mimos” necessários para o aumento da auto-estima individual. O nosso corpo ir-se-ia ressentir desta falta de estima da nossa parte e a não concretização daquilo que desejamos embora que muito fútil e insignificante pode conduzir a situações de desespero e colapso psicológico.

“Responsabilidade é saber que cada um dos meus actos me vai construindo, me vai definindo, me vai inventando. Ao escolher aquilo que quero vou-me transformando pouco a pouco. Todas as minhas decisões deixam a sua marca em mim antes de a deixarem no mundo que me rodeia.”

Tudo aquilo que fazemos irá influenciar a nossa vivência futura. Nada ou muito pouco do que fazemos passa pela nossa vida sem deixar marcas que por muito pequenas que sejam vão sempre marcar o nosso futuro e influenciar-nos nas nossas atitudes. Algo que façamos, que vejamos, que sintamos, terá repercussões nas nossas atitudes futuras, uma vez que fomos influenciados por factores da daquela altura. Tomemos o exemplo das crianças, que inconscientemente acabam por seguir os adultos fazendo o que eles fazem sem se oporem. Embora nos adolescentes e adultos isso não aconteça deste modo, estes não são totalmente indiferentes a estes factores e acabam inconscientemente (ou por querer) por fazer o mesmo que a maioria das pessoas faz (veja-se o caso da pirataria, todos sabem que é ilegal, mas todos a fazem o que leva a que mais e mais pessoas a pratiquem, pois sabem a dificuldade em serem apanhados pelas autoridades). Mesmo que muito ligados a eles próprios e conhecedores de si mesmos, os Homens nunca conseguirão viver isolados para sempre de outros Homens, o que leva a que sejam influenciados por atitudes que cada um toma.

Page 25: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

É fácil verificar o grande impacto que todos estes problemas surtem na nossa sociedade, através da comparação de dados concretos (tabelas, gráficos, estudos) ou através de reflexões subjectivas (reflexões sobre os temas de um ponto de vista mais filosófico).

O álcool e a toxicodependência constituem patologias sociais que envolvem aspectos biológicos e psicológicos do indivíduo. A maior ou menor vulnerabilidade do indivíduo é visível no modo como opta por se relacionar com estes fenómenos. Personalidades mais frágeis serão mais facilmente conduzidas por caminhos menos “agradáveis” aos olhos da sociedade enquanto que indivíduos com uma identidade pessoal mais definida e forte conseguirão evitar estes flagelos do dia-a-dia com uma facilidade acrescida.

A relação entre o indivíduo e a família é fundamental para o seu desenvolvimento como pessoa e como membro da sociedade. A nossa condição de Homens não nos permite viver desligados dos outros e por isso acabamos por aprender com tudo o que os outros fazem, dizem ou pensam. No entanto, o modo como essa informação vai ser recebida e interiorizada por cada sujeito particular depende somente dele e do seu carácter, logo ele irá decidir se a informação é deveras importante para a sua vida ou se simplesmente constitui mais dados prontos a serem despejados para a “reciclagem”.

A intenção deste trabalho foi permitir um melhor conhecimento sobre os temas que atormentam a sociedade juvenil nos dias de hoje e uma reflexão mais profunda sobre estes, de modo a que se consiga tirar conclusões relativamente próximas daquelas que são consideradas as mais correctas.

Resta continuar a pensar em modos de reflectir sobre as questões do dia-a-dia e aplicar esses mesmos pensamentos à nossa vivência gregária.

Page 26: dezumdoistres0708.files.wordpress.com  · Web viewO facto de não poder fazer nada, ... A meu ver, nós somos os donos do nosso corpo e, apesar das contrariedades, somos nós que

Referências Bibliográficas:

- Blackburn, Simon – Dicionário de Filosofia; Gradiva, 1997;- Franklin, Agostinho; Gomes, Isabel – Phi; Texto Editora, 2007;- Savater, Fernando – Ética para um Jovem; Editorial Presença, 1993

Web sites visitados:

-www.filosofia.com.pt/trabalhos/emo_afectos.ppt -http://www.fmh.utl.pt/aventurasocial/pdf/droganac.pdf-http://www.antidrogas.com.br/sociedade.php-http://www.cras.min-saude.pt/Declara%C3%A7%C3%A3o%20alcool.pdf-http://www.fmh.utl.pt/aventurasocial/pdf/alcool.pdf-http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?11-http://www.ajudasdevida.hpg.com.br/jovens/ojovemeosexo.htm-http://www.ipv.pt/forumedia/4/7.htm-http://metafisica.no.sapo.pt/ricoeur1.html

Filmes Visualizados:

- Scorsese, Martin; O Aviador 2004, Initial Entertainment Group- Wachowski, Andy; Wachowski, Andrew; Matrix, 2001, Warner

Bros.- Wachowski, Andy; Wachowski, Andrew; Matrix Reloaded, 2004,

Warner Bros.- Wachowski, Andy; Wachowski, Andrew; Matrix Reloaded, 2004,

Warner Bros.- Wachowski, Andy; Wachowski, Andrew; Matrix Revolutions,

2004, Warner Bros.