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WALBORG WERBECK -SVÄRDSTRÖM Escola do Desvendar da Voz
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INTRODUO
Meus estudos de canto comearam em 1999. A maioria dos exerccios vocais
utilizados para aperfeioamento so derivados da escola italiana de canto.
Em 2005 houve o primeiro contato com a Escola do Desvendar da Voz,
atravs do livro homnimo escrito pela Sra. Valborg Werbeck-Svrdstm. A primeira
leitura, por si s, no proporcionou muita compreenso sobre o assunto. Em 2008,
no entanto, houve a primeira experincia real, com a Escola, atravs de uma aula
coletiva com o professor Thomas Adam. Nesta aula foi possvel conhecer melhor os
exerccios e execut-los pela primeira vez e ento comear a entender um pouco o
contedo do livro supracitado. Com estes exerccios podem-se ter sensaes
relacionadas ao canto que eu, at ento, conhecia na teoria ou por ouvir os outros,
mas que nunca haviam sido sentidas pessoalmente. Sua efetividade foi perceptvel.
A partir de ento, comeou a busca por maior compreenso daquela Escola, apesar
das dificuldades em encontrar publicaes que trouxessem estes exerccios escritos.
O material encontrado no nenhum tipo de publicao oficial, mas vrias
anotaes das aulas do professor Thomas Adam e da musicista Meca Vargas.
Pensou-se ento na validade de escrever estes exemplos prticos e de como eles
poderiam servir a outras pessoas, para, partindo da prtica, entender a teoria por
trs deles. A soluo para este problema surgiu atravs da realizao deste
pequeno apanhado de exerccios da Escola do Desvendar da Voz, mostrando quais
as principais ideias da Sra. Werbeck-Svrdstrm com relao ao que importante
no aprendizado da arte do canto, atravs da reviso bibliogrfica, principalmente de
seu livro, e de uma seleo dos exerccios que puderam ser agrupados.
Este trabalho est essencialmente dividido em duas partes. Na primeira so
abordados alguns aspectos importantes da vida da Sra. Werbeck-Svrdstrm, que
foram primordiais na criao desta escola, e em seguida, um resumo das trs etapas
do desenvolvimento vocal, que so os pilares centrais dessa escola. No captulo
seguinte realiza-se um apanhado dos principais exerccios da Escola do Desvendar
da Voz retirados de anotaes de aulas.
Espera-se que este trabalho sirva como um registro de uma tcnica vocal
diferenciada, que possa ser um recurso a mais a ser utilizado por cantores e
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professores de canto, especialmente interessante para iniciantes e cantores que
desejem desenvolver a capacidade de se ouvir e de descobrir, desvendar sua voz.
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1 BREVE BIOGRAFIA DE WALBORG WERBECK-SVRDSTRM
A Escola do Desvendar da Voz uma escola de canto ligada Antroposofia,
desenvolvida a partir de 1905 pela cantora sueca Valborg Werbeck-Svrdstm,
como uma alternativa de estudo vocal s tcnicas existentes na poca.
A Sra. Werbeck-Svrdstm cantou desde criana e em seu livro descreve
como era cantar para ela nesta poca de sua vida:
Para mim o canto era simplesmente meu elemento vital. Euno conhecia absolutamente nenhuma das chamadas dificuldades, quer nos registros
mais agudos, quer nos mais graves. Dificuldadesde respirao no
existiam...e eu no tinha tampouco porque me queixar da falta de fora de
expresso. (WERBECK-SVRDSTRM, 2004, p.23)
Aos 15 anos de idade ingressou como aluna de canto na Academia Real de
Msica de Estocolmo e logo comeou a sentir um desconforto na forma de cantar
ensinada ali. Depois de algum tempo comeou a desenvolver uma doena das
amigdalas que mesmo os mdicos no conseguiam entender, mas ela continuava
cantando, e neste meio tempo ingressou na Escola de pera afiliada a Academia.
Cantando grandes papis em seu ano de estreia, aos 21 anos, foi imediatamente
acolhida no elenco da pera Real. Nesta poca a cantora j descreve o incio de um
declnio vocal e os sacrifcios que precisava fazer para poder desempenhar seus
personagens.
Com 25 anos e ainda atuando na pera da Corte, a Sra. Werbeck-Svrdstm
contraiu uma espcie de paralisia das cordas vocais e de repente sua voz
simplesmente falhava. Ela ento lembrou-se das palavras do tenor Heinrich Knote
que anos antes havia lhe prevenido que sua forma de cantar no poderia leva-la
muito longe, e que ela deveria cantar todas as notas como ela cantava apenas uma
(o F), pelo nariz. A prpria autora descreve o que se seguiu:
Ento como no podia cantar as notas, ao falar eu comecei a conduzir o som pelo nariz. Mas como no primeiro estgio do colapso isso tambm era extremamente difcil, tentei escutar as notas mudas, trazendo-as, por assim
dizer, para a realidade da minha audio! (...) Ento emergiu dessa escuta, de forma incrivelmente vvida, a recordao da minha voz infantil! A sonoridade prateada, outrora presente nos tons, veio ao meu encontro
quase como um ser independente, fazendo-me procurar o fonema em que
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ela melhor se expressasse... E assim encontrei o fonema NG! (WERBECK-
SVRDSTRM, 2004, p.26)
A partir daquele momento ela comeou a recuperao de sua voz e o
desenvolvimento de uma nova forma de cantar. Em poucas semanas sua voz estava
recuperada e ela continuou com suas atividades artsticas, de uma forma diferente:
Agora, porm, cantar se tornara quase um martrio para mim. Era um
contnuo fazer acordos entre a nova e a antiga maneira de cantar. Esta ltima tentava, obviamente, predominava com vigor, enquanto a nova maneira era to sutil, to diferente que eu me sentia entre dois mundos
adversrios. (WERBECK-SVRDSTRM, 2004, p.26)
Casada, a Sra. Werbeck-Svrdstm foi morar na Alemanha, desligando-se da
pera Real. Ela seguiu fazendo inmeros concertos e apresentaes, como
convidada, utilizando os exerccios da nova escola, mas querendo cada vez mais
encerrar sua carreira pblica. Isto s aconteceu aps a II Guerra Mundial, e com o
falecimento de seu marido. Ela ento estava pronta para comear o
desenvolvimento de sua nova escola.
Foi em 1912, em Hamburgo, que conheceu Rudolf Steiner. E quando o ouviu,
imediatamente sentiu que ele poderia compreende-la. Assim trabalharam juntos por
12 anos. Ela sempre trazia o resultado de suas pesquisas para Steiner que a
ajudava, aprovando, questionando, levando a novas direes. Em 1935, ela
escreveu o livro Desvendar da Voz. Neste livro descreve as principais diretrizes
para o desenvolvimento da voz atravs de trs princpios bsicos: o direcionamento,
a expanso e o espelhamento do som. Sobre sua escola, disse Rudolf Steiner:
A naturezadessa escola individualmente muito diferente nas etapas e
fases de seu desenvolvimento. O oqu da escola ser, naturalmente, o
mesmo para todos, mas o como, mediante o qual cada um a vivencia,
depende do talento e da constituio pessoal de cada um (WERBECK-
SVRDSTRM, 2004, p.28).
Autorizada por Steiner a apresentar essa escola de canto como aprovada por
ele e fundamentada nos princpios da Antroposofia, a Sra. Werbeck-Svrdstm
seguiu ministrando palestras, aulas e cursos sobre esta nova forma de cantar.
No ano de 1926 ela encerrou suas atividades como cantora e passou a se
dedicar exclusivamente a sua escola. Atuou como professora a partir de ento e
dedicou-se aos seus alunos at uma idade avanada. J no fim da vida, dos 88 aos
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92 anos, dedicou-se a formar um de seus alunos para que desse continuidade sua
escola. O escolhido foi Jrgen Schriefer, hoje aposentado, que formou outros
cantores, entre eles, Thomas Adam, que tem dado continuidade ao trabalho da Sra.
Werbeck-Svrdstm, inclusive no Brasil.
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2 AS TRS FASES DO DESENVOLVIMENTO VOCAL
A Escola do Desvendar da Voz tem como alicerce o desenvolvimento vocal
em fases distintas. A principal abordagem destas fases o desenvolvimento do
princpio sonoro, que segundo a Escola do Desvendar da Voz o fator mais
importante para o canto, acima do princpio fontico. Segundo Werbeck-Svrdstrm
(2004) a compreenso da diferena entre os mundos fontico e sonoro essencial
para quem queira se aprofundar no trabalho prtico desta escola.
Neste aspecto, o trabalho com as consoantes se dirige exatamente a esse
ponto de separao dos mbitos fontico e musical do tom, da ressonncia,
conforme Adam (2006).
Podemos traar um paralelo entre fala e canto relacionando-os com
consoantes e vogais. Adam (2006) nos diz ainda, que a meta dos exerccios com
consoantes fazer esta separao, e estes exerccios trazem um forte elemento
plstico-escultural. O centro da energia que busca a dimenso escultural da palavra
est no umbigo. Que possamos buscar a fora para a fala na base da pelve (ADAM,
2006, p. 39).
O oposto disso o princpio da ressonncia musical, da corrente sonora. E o
princpio da corrente sonora fluir, no formar. O mundo da fala totalmente
diferente do mundo do canto, e o centro onde este mundo toca o cantor
encontrado atravs de um caminho que vai para cima, pelo nariz, testa, e mais alto
ainda.
Ento podemos dizer que temos de separar fala do canto na msica. Um deve ir para cima e o outro para baixo. O que surge no movimento oposto? Surge espao livre. A voz s mantm sua sade se este espao
(laringe/pulmes) se mantiver livre (ADAM, 2006, p.39).
Ainda com relao a formao dos fonemas uma forma bem simples de
vivenciar isto na prtica descrita por Werbeck-Svrdstrm (2004):
Basta imaginar que estamos diante de uma pessoa totalmente surda qual se deve transmitir uma mensagem importante. Neste caso no adianta
falar, nem sussurrar, mas procurar formar cada palavra, cada slaba e at cada fonema ntida e visivelmente, to somente pela movimentao silenciosa dos rgos fonadores com a maior lentido e nfase possveis.
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Assim podemos vivenciar as formas fonticas com muita intensidade, fazendo
todo o corpo trabalhar em funo desta formao. Essa simples experincia pode
ser muito significativa para compreender o que Werbeck-Svrdstrm (2004)
diz ser uma verdade no mbito do canto:
Ao cantar, aps ter conquistado o mundo sonoro objetivo atravs do trabalho, a pessoa deve manter-se passiva, numa atitude de espera e
observao frente ao querer fluir, enquanto dedica inteiramente suas foras mais ativas ao mundo das formas fonticas.
Atravs dos diversos exerccios, com consoantes, vogais ou combinados de
todas as formas possveis, podemos separar, dissociar estes dois universos distintos
para que, [...] isolados, possam ser retrabalhados, remodelados, reconduzidos, e
finalmente equilibrados, cada qual sua maneira (WERBECK-SVRDSTRM,
2004, p. 59).
A partir desta separao, a Escoda do Desvendar da Voz desenvolve o
aspecto sonoro da voz em trs fases:
Primeira fase o direcionamento do som.
Segunda fase a ampliao do som.
Terceira fase o espelhamento do som.
Detalharemos a seguir o que cada uma delas tem de mais importante para a
evoluo do cantor, e no captulo destinado aos exerccios teremos alguns exemplos
relacionados com cada uma das fases.
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2.1 PRIMEIRA FASE: O DIRECIONAMENTO DO SOM
Segundo Werbeck-Svrdstrm (2004, p.65), A Escola do Desvendar da Voz
se desenvolve organicamente a partir de um nico exerccio, relacionado com a
corrente sonora. Este exerccio capaz de fazer a necessria separao entre o
mundo sonoro e o mundo fontico. Para que isso ocorra preciso encontrar um
fonema que atenda a esse propsito, ou seja, um fonema que atue sobre o
organismo fonador fechando o acesso cavidade da boca, que leve o som para o
nariz, pois este foi o modo que a Sra. Valborg encontrou para restituir sua voz. A
definio da atuao deste fonema a seguinte:
O fonema deve, pelo modo como atua, fechar o acesso cavidade bucal, bloquear sobretudo o acesso a essa cavidade, para que a corrente sonora,
impedida de tomar essa direo, seja obrigada a procurar seu caminho ascendente por trs da cavidade bucal, pela parte posterior do nariz em direo ao seio esfenoidal e, mais tarde, para o seio frontal (WERBECK-
SVRDSTRM, 2004, p. 67).
O fonema em questo a interpenetrao sonora entre as consoantes [N] e
[G]. Esse fonema [NG] no nem consoante, nem vogal, mas poderia ser
considerado um fonema intermedirio. Quando esse fonema formado do modo
correto, a corrente sonora pode surgir a partir do elemento fontico, ficar
relativamente livre e aprende-se, gradualmente a separar os dois mbitos. Ele no
est presente no incio do trabalho, mas gradualmente vai se formando atravs do
exerccio. E conforme este exercitar se repete a tendncia haver um crescimento
da quantidade de substncia sonora. Estas mudanas so mais facilmente
percebidas nas vozes que nunca foram submetidas a nenhum tipo de treinamento
vocal tradicional, e tambm em pessoas consideradas inaptas, ou ditas sem voz".
Segundo Werbeck-Svrdstrm (2004) (...) graas a esta maneira de exercitar-se,
pode-se adquirir uma voz. E ainda por esta prtica pode-se aumentar os limites da
tessitura vocal. O fonema [NG] tambm usado por outras escolas de canto, a
diferena aqui que ele o foco central no desenvolvimento do som, enquanto que
em outras escolas no trabalhado com tanta nfase.
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Figura 1 mostrando os seios esfenoidal e central, relativamente, o primeiro e o segundo ponto de ressonncia.
FONTE: http://revendoeaprendendo.blogspot.com/2009/05/fisiologia-da-voz-parte-4.html
Em linhas gerais o objetivo desta primeira fase do desenvolvimento vocal
proposto pela Escola do Desvendar da Voz, tirar o som da voz cantada da
cavidade bucal e direcion-lo para o nariz. Porm no simplesmente um cantar
nasalizado, fanho. A procura pela melhor sonoridade do [NG] est direcionada a um
ponto, na altura do meio do nariz, para o fundo, no para a ponta. Este o primeiro
centro sonoro a ser descoberto. Com um curto perodo de treinamento, esse ponto
comea a surgir, e apesar de percebermos as diferentes alturas das notas,
possvel sentir que todas elas surgem desse mesmo ponto. a partir da que o
ponto se torna perifrico, abrangente.
A partir deste ponto, busca-se a ressonncia no segundo centro, mais perto
da testa. Se continuarmos a treinar surgir esta expanso ascendente. E com o
tempo e treino outro ponto de ressonncia aparece, ainda mais acima da testa,
como se o som estivesse vindo de fora do corpo, ou como se o fluxo sonoro
atravessasse nossa cabea. Atravs desse desenvolvimento da corrente vibratria
passamos a sentir no mais s um ponto, ele se expandir tornando-se perifrico.
Quanto a isso, nos diz Werbeck-Svrdstrm (2004, p.70):
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Assim, se comearmos muito concretamente com esse exerccio
aparentemente primitivo do [NG] e passarmos a ouvir to intensamente nossos prprios tons como se outra pessoa os cantasse, esforando-nos a cada momento do exerccio para estarmos bem acordados e vivos, logo
iremos vivenciar diversas coisas interessantes.
E conclui com o seguinte pensamento:
Portanto, com a ajuda desse fonema especial [NG] conseguimos dar uma real direo ao fluxo sonoro atravs de nossa cabea e para fora dela. E
no parecer mais estranho descrevermos o restante: no momento em que a organizao da cabea no mais o detm, esse algo sentido como ponto nos diversos estgios do exerccio passa a vibrar em direo a um ponto
central especfico situado pouco acima da cabea; trata-se pois de um centro situado fora do espao corporal humano (WERBECK-SVRDSTRM, 2004, P.73).
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2.2 SEGUNDA FASE: A EXPANSO DO SOM.
Esta segunda fase do desenvolvimento vocal nada mais do que a
continuao do trabalho feito na primeira fase. Aqui a tarefa basicamente diferente,
mais complexa que a primeira: abrir um caminho adicional para a corrente sonora. O
primeiro caminho mais fcil pois est fisiologicamente aberto, seguindo para o alto
atravs dos seios nasais. Porm, osegundo caminho precisa, por assim dizer, abrir
uma porta para essa corrente para dentro dos ouvidos.
O segundo caminho principal para a corrente sonora da laringe atravs do espao ampliado da faringe, seguindo pelas portas dos orifcios das trompas de Eustquio (que conectam entre si a faringe e os ouvidos) e,
atravs destas, para dentro de ambos os ouvidos, atravessando-os, e finalmente saindo pelo ouvido externo (ou seja, para fora do organismo) ( WERBECK-SVRDSTRM, 2004, P.80).
Figura 2 mostrando o caminho da corrente sonora atravs das trompas de Eustquio (FONTE:
WERBECK-SVRDSTRM, 2004, p. 81)
Para conduzir a corrente sonora por esse caminho preciso trabalhar no
sentido dadilatao do espao farngeo, o que no uma tarefa simples, mas por
essa dilatao que os pontos comeam a se abrir. um trabalho rduo que requer
pacincia e tempo, pois mais difcil que a fase anterior. Nesta fase extremamente
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importante a capacidade de ouvir, j que muito difcil ter sensibilidade nesse ponto
da faringe.
Apesar desta dificuldade intrnseca desta fase, com o trabalho adequado,
possvel trazer conscincia o ponto critico pelo qual se d a expanso.
O fonema indicado por Werbeck-Svrdstrm (2004) para esse
desenvolvimento novamente o [NG]. Mas agora ele soa de forma diferente. Nesta
fase possvel utilizar expresses faciais que ajudam a encontrar este espao. Em
aula com Thomas Adam, ele pediu que fizesse um gesto de antipatia com a boca,
exatamente como Werbeck-Svrdstrm (2004, p.86):
Um intenso sentimento de desprezo, atrai os cantos da boca para baixo, um
intenso sentimento de admirao atrai a fronte para cima, um sentimento humorstico estende os lbios para os lados, etc. assim, determinado sentimento, adequado ao trabalho na segunda fase do aprendizado,
provoca um gesto facial que est em restrita relao psicofisiolgica com o mencionado ponto importante na faringe. Tal sentimento a ser invocado como meio de exerccio no , pois,
escolhido por vontade, mas por necessidade; porm o estudante deve produzi-lo voluntariamente.
Este gesto, segundo ele, ajuda a criar espao, a abrir a musculatura da
faringe. A partir desse desenvolvimento, assim como na primeira fase o ponto se
transforma em periferia. O resultado desta fase a ampliao da garganta, as
trompas de Eustquio se abrem e a corrente sonora se precipita do ouvido para fora.
A sensao descrita por Werbeck-Svrdstrm (2004) como um choque, ou soco
no ouvido de dentro para fora. Colocando os exerccios com [NG] em prtica com
meus alunos, um deles me descreveu que sentia, exatamente com estas palavras,
um soco no ouvido. Indolor.
E por fim, essa ressonncia deve subir, a partir dos ouvidos, ao encontro da
ressonncia aprendida na primeira fase do desenvolvimento, acima da cabea.
Para criar uma imagem que ilustre a sensao obtida com o aprendizado
dasegunda fase do desenvolvimento, Werbeck-Svrdstrm (2004) nos pede que
imaginemos um morcego, em repouso, pendurado em suas garras e envolto por
suas asas, como que por um manto.
Quando cabe a algum ter a mencionada vivncia, essa pessoa se sente como que envolta num manto de sonoridade, e esse manto sonoro tem
uma espcie de garra ou dedo. Quando cantamos, como se atacssemos cada tom com esse dedo naquele ponto acima da cabea, no plo superior, onde ele estaria agarrado ou pendurado, enquanto embaixo
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nos sentiramos livres, balanando no ar, envoltos por uma onda sonora.
(WERBECK-SVRDSTRM, 2004, p.95)
Concluindo, o resultado do desenvolvimento das duas primeiras fases pode
ser encontrado atravs da preparao dos caminhos sonoros para as vibraes; o
primeiro subindo verticalmente para o ponto acima da cabea e o segundo atravs
de ambos os ouvidos e ascendendo at o mesmo ponto acima da cabea.
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2.3 TERCEIRA FASE: O ESPELHAMENTO DO SOM.
Se levarmos em considerao um processo comum de espelhamento
precisamos da participao de dois fatores: aquilo que se quer espelhar e um
aparelho refletor. Ento, um terceiro fator resulta da soma dos dois primeiros: a
figura espelhada. Dependendo da qualidade do aparelho refletor, podemos esperar
mais ou menos qualidade da figura espelhada.
No processo do desenvolvimento vocal, geralmente, damos grande
importncia a regio da garganta, e sim, ela tem muita importncia para o canto.
Porm para podermos vivenciar o processo de espelhamento do som precisamos
nos concentrar na importncia de outra parte de nosso instrumento corpreo: o
plexo solar, a regio onde est localizado o diafragma e sua musculatura adjacente.
Pois, segundo Werbeck-Svrdstrm (2004, p.97) o plexo solar (...) o rgo refletor
sonoro do nosso sistema nervoso simptico.
Neste processo de desenvolvimento desse organismo sonoro a que se
prope a Escola do Desvendar da Voz, necessrio ter em mente a confluncia das
trs etapas, de modo que os exerccios da primeira fase estejam contidos nos
exerccios da segunda. E que estes estejam agora contidos nos exerccios desta
fase final. Esta confluncia fica mais clara pela circunstancia de utilizarmos como
elemento fundamental para o desenvolvimento do espelhamento, assim como das
fases precedentes, o nico e mesmo fonema [NG].
Este processo obviamente no fcil. Exige, em sntese, tudo o que foi
aprendido at aqui, capacidade de ouvir; respirao correta, e para tanto,
elasticidade dos msculos da barriga e do diafragma; e s a respirao correta pode
nos aproximar desse terceiro passo. Da elasticidade e mobilidade desses msculos,
onde o rgo refletor- o plexo solar est ancorado, depende muita coisa essencial
para o exerccio do espelhamento. (Werbeck-Svrdstrm, 2004, p.102)
E agora vivenciamos algo contrrio ao que se espera das duas fases
anteriores. Enquanto naquelas se busca um ponto para trabalha-lo e desenvolve-lo
at que se transforme em periferia, aqui a busca na direo de novamente
aglutinar este som num ponto central. Na prtica isso possvel, se:
[...] por meio de um novo tipo de exerccio, consegussemos estabelecer um certo vcuo, uma espcie de espao vazio de ar, [...] que por esse motivo, no encerrasse seno uma certa fora de suco, que iria aspirar
21
gradativamente para dentro os elementos sonoros que vibram no espao
fora do corpo. (WERBECK-SVRDSTRM 2004, p.103)
A imagem criada para ilustrar o trmino do desenvolvimento desta terceira e
ltima fase descrita por Werbeck-Svrdstrm (2004, p. 108) como uma cruz, da
seguinte forma:
Em posio vertical, como que apoiada ou crescida de dentro do plexo solar, ela alcana o ponto acima da cabea. Na regio da laringe, as
colunas de luz interceptam-se e o conjunto como um organismo vivo de luz e som. No se trata de uma imagem diante da qual se possa adotar uma atitude de contemplao passiva, pois o cantor , em si mesmo, essa
imagem. E cada ser humano ser esta imagem se, como cantor, completar em si o crculo do desenvolvimento.
Como a prpria Sra. Werbeck-Svrdstrm coloca em vrios pontos de seu
livro, no possvel explicar de forma objetiva e clara cada fase do
desenvolvimento, sem vivenci-las, sem entender na prtica como cada uma delas
atua no organismo que canta. Com isto em mente, buscou-sei aqui apenas uma
reviso bibliogrfica dos aspectos mais prticos abordados pela autora. Para os
interessados em conhecer mais a fundo os ideais dessa escola de canto
indispensvel a completa leitura da obra da Sra. Werbeck-Svrdstrm, pois este
resumo no capaz de captar a essncia de todas as suas ideias. Muitos fatores
tericos importantes ficaram de fora para dar prioridade ao registro dos exerccios
desta escola, que esto descritos no capitulo a seguir.
22
3 EXERCCIOS DA ESCOLA DO DESVENDAR DA VOZ
Estes exerccios foram encontrados em anotaes de cursos e aulas
ministrados no Brasil entre os anos de 1992 e 2010, pelos professores Thomas
Adam, reconhecido professor alemo de canto formado pela Escola do Desvendar
da Voz, e da musicista brasileira Mechthild Vargas, autora de teses que utilizam as
tcnicas curativas da Escola do Desvendar da Voz.
O material citado no nenhum tipo de publicao oficial, apesar de muitos
deles possurem uma espcie de catalogao com datas e locais onde foram
recolhidos. So sim, anotaes de aulas feitas pelos prprios alunos, muitas vezes
descrevendo os exerccios com suas prprias palavras e outras repetindo fielmente
o que foi descrito e explicado pelo professor.
Em alguns textos a descrio dos exerccios bem completa, com a indicao
do fonema, da melodia e do objetivo de cada um dos exerccios, e muitas vezes
tambm sua melhor execuo. Muitos exemplos aliam a execuo vocal com
movimentos corporais de braos, ou pernas, e outros foram propostos para serem
feitos em duplas ou em um grupo, e para este trabalho estes ltimos no foram
selecionados, pois a prioridade aqui so os exerccios que possam ser executados
individualmente.
Em outros momentos, a nica indicao do exerccio era o fonema que
deveria ser cantado, s vezes com alguma indicao de execuo, porm sem
melodia. Nestes casos optou-se por alguma melodia de um exerccio similar ou
partiu-se da explicao do mesmo para criar alguma melodia que se encaixasse
naquele fonema.
Da mesma forma, poucos dos exerccios estudados davam alguma indicao
de como deveriam ser executados com relao a tonalidade e a possveis
modulaes. Na tcnica vocal tradicional, os exerccios so executados partindo da
regio mdia/grave da voz, subindo de meio em meio tom, at a regio mdio/aguda
e super aguda em alguns casos e voltando regio grave descendo igualmente de
meio em meio tom. No caso dos exerccios da Escola do Desvendar da Voz aqui
estudados, poucos tinham este tipo de indicao mas aps entrevista com o
professor Thomas Adam, as indicaes de tessitura foram includas nos exerccios
conforme sua orientao. Na realidade, os exerccios descritos aqui so indicados
23
para quem est comeando seu contato com a Escola do Desvendar da Voz, e
nesta etapa a expanso da tessitura no o ponto mais importante, mas ela se
desenvolve concomitantemente a outras caractersticas vocais que requerem
exerccios mais especficos.
No material pesquisado, a classificao e diviso dos exerccios no muito
exata, portanto para este estudo foi criada uma forma simples de separao dos
mesmos nas seguintes categorias: exerccios para esquecer a respirao, exerccios
com consoantes, exerccios com o fonema NG, e exerccios com vogais. Como
vrios exerccios so silbicos e estas silabas formadas por consoantes e vogais,
alguns exerccios foram catalogados numa quinta categoria, os exerccios variados.
Nesta seleo de exerccios tambm procurou-se identificar os mesmo com
relao a sua funo dentro da idia de trimembrao do desenvolvimento vocal
(direcionamento, expanso e espelhamento do som) sugerido por Valborg Werbeck-
Svrdstrm.
Outra caracterstica importante na descrio dos exerccios a criao de
metforas, que ajudam o cantor a visualizar o som produzido. Imagens, memrias,
e gestos tem uma grande importncia para a Escola do Desvendar da Voz. Precisa
sempre trabalhar com a imaginao. Tem de haver uma imagem se movimentando,
pois o msculo no sabe o que fazer sozinho. O som o professor da musculatura
(VARGAS, 2006, p.5).
Descrever estas metforas no o principal objetivo deste trabalho, porm as
imagens quando descritas nos exerccios, foram transcritas e detalhadas aqui tanto
quanto possvel.
O que deve ficar claro que esta compilao no tem a pretenso de ser
completa, alis, est bem longe disso. Esta pequena organizao deve servir como
fonte de pesquisa para interessados, lembrando sempre que o acompanhamento de
um professor qualificado indispensvel, pelo menos no incio do trabalho at que
se tenha certeza de estar exercitando corretamente. O que se gostaria de ressaltar
que atravs dos exemplos concretos foi possvel ter maior compreenso das
questes tericas acerca dos ideais desta escola, e este pode ser um bom caminho
a se trilhar para os iniciantes em Desvendar da Voz.
Finalmente, h ainda neste captulo uma combinao de alguns exerccios
que foram descritos aqui, como uma possibilidade de roteiro de estudo para se
executar diariamente, e h tambm uma reflexo pessoal sobre minha experincia
24
como professora e estudante de canto, no sentido de aliar estes exerccios do
Desvendar da Voz tcnica vocal tradicional, e a possibilidade de ver estas escolas
to diferentes no como opostos, mas como complemento uma da outra, j que,
durante a pesquisa encontrei muitas semelhanas entre elas.
25
3.1 EXERCCIOS PARA ESQUECER A RESPIRAO
A respirao um fenmeno vital espontneo realizado pelo movimento do
diafragma e dos msculos intercostais, de forma automtica. Quando crianas,
tnhamos a capacidade de respirar livremente, usando toda a capacidade de
expanso do nosso corpo para isso, com total relaxamento do nosso ventre e sem
trazer a respirao para a regio do trax. Mas, medida que nos tornamos adultos
as tenses do cotidiano nos trazem angstias e ansiedades que se refletem na
respirao deixando-a alta, e perdendo a plenitude de sua capacidade.
O ideal de respirao para o canto justamente aquela respirao plena e
livre e inconsciente, que j nasceu conosco e que com o tempo desaprendemos.
Werbeck-Svrdstrm (2004) diz que a respirao no deve ser tratada de
forma mecnica, e tampouco, deve-se treinar a respirao atravs de exerccios
que no utilizem o suporte de um tom cantado, pois, com o passar do tempo esta
forma de exerccio pode causar o progressivo enrijecimento do organismo do canto,
o que dificulta a execuo dos tons, resultando numa voz endurecida. Porm,
quando o cantor se utiliza de exerccios respiratrios com tons corretamente
cantados, ao contrrio, pode-se perceber uma soltura de todo o organismo do canto,
o que confere maior qualidade voz e aos tons cantados.
Uma respirao saudvel repousa no fundo da barriga, que uma espcie
de recipiente para ela. A musculatura ento elstica e se movimenta ritmicamente entre expanso e contrao se isso no acontece por s s, precisamos ajudar. [...] Aquelas consoantes cantadas so uma ajuda
maravilhosa (GUEDES, 2008, P.21).
A respirao ideal segundo a Escola do Desvendar da Voz inconsciente, ou
seja, quando estamos cantando no devemos e no precisamos pensar na
respirao ou na quantidade de ar que deve ser inspirado e expirado. Mais
importante que a quantidade de ar o movimento do ar, o fluxo que d ritmo a
respirao. E o ritmo, o movimento respiratrio que por si s deve determinar a
quantidade de ar necessria, e isso pode ser aprendido atravs de exerccios com
movimentos de carter rtmico, como veremos nos exemplos a seguir.
Neste primeiro exerccio devemos nos concentrar no ritmo dos movimentos.
o ritmo que deve estar em primeiro plano em nossa conscincia, devemos dirigir
nossa ateno aos msculos responsveis pela respirao conferindo-lhes energia e
26
flexibilidade, deixando que o movimento respiratrio acontea por si s. O principal
objetivo vivificar, fortalecer a musculatura da regio abdominal e plvica, deixando-
as soltas, mveis.
Uma motricidade fina da musculatura da barriga faz surgir uma corrente
respiratria mais sutil. Esta, por sua vez, capaz de trazer nuances sonoras mais
delicadas (GUEDES, 2008, p.22)
[HAM MA]
Trazer os lbios para dentro, de forma suave, e com a mo no abdome,
sentado, fazer os seguintes movimentos;
[HAM] Puxando o abdome para dentro, contraindo a musculatura.
[MA] Soltando o abdome, para que o ar possa entrar livremente.
Podemos relacionar abdome e lbios, ambos se prendem e se soltam no
mesmo momento. O movimento respiratrio deve ser cada vez mais profundo, para
baixo, at o perneo, e a metfora sugerida por Adam (1992) a da me canguru
guardando seu filhote no marspio.
importante no deixar o movimento subir para os ombros, mas movimentar
somente o abdome, suavemente, sem dar trancos na barriga.
Deve ser feito lento, priorizando o movimento respiratrio, e no necessrio
explorar a tessitura, pode-se fazer em dois ou trs tons apenas.
27
Com a mesma melodia e o mesmo movimento abdominal possvel executar
este exerccio com outros fonemas como [BAM-BO] [GAM-BO] [KLAM-BO] [NIM-BO]
[TUM-BO] [HAN-GA].
[DU BA KA]
Este exerccio tem o mesmo objetivo do anterior, com variaes na melodia e
nos fonemas. Como temos trs slabas, o movimento muscular abdominal deve ser
de contrao (para dentro) nas duas primeiras notas cantadas e de relaxamento
(para fora) da musculatura na ltima nota.
Assim como o anterior, este exerccio deve ser cantado lentamente, focando no
movimento muscular, sem explorar a tessitura vocal, apenas dois ou trs tons.
Tambm podemos utilizar o mesmo exemplo com os fonemas [DU KU RU]
[MVRS] ou Exerccio da Samambaia
Sentados, devemos enrolar nosso tronco para frente como uma espiral, at
ficarmos como que em posio fetal. Em seguida nos elevamos, desenrolando a
coluna, vrtebra por vrtebra, lentamente, emitindo o som das consoantes [M] [V] [R]
[S], sem altura definida, apenas sentindo a vibrao das mesmas, at estarmos
novamente sentados com as costas eretas e a cabea erguida.
[MFS]
Tambm deve ser feito sentado, emitindo as consoantes calmamente,
respirando profundamente, como se sentisse o perfume de rosas, abrindo o nariz,
28
(ADAM, 1995) buscando sentir o som acima do nariz, e deixando a garganta aberta.
Este exerccio est ligado ao direcionamento do som. possvel acrescentar um
movimento de rotao do quadril, enquanto canta este exerccio.
A unificao dos movimentos musculares aos exerccios com tons, fornece ao
cantor tnus e flexibilidade muscular regio do abdome e a toda musculatura da
regio do perneo, facilitando a conscincia da respirao e do apoio. Depois de
conscientes do processo, podemos comear a esquecer, a automatizar a forma
correta de respirar e de utilizar a respirao para o canto.
Estes exerccios aplicados pela autora deste estudo em aulas de canto tem
mostrado bons resultados relacionados a conscientizao corporal, e tem facilitado a
restaurao da respirao como ela deve ser, completa, livre de tenses e com
pleno aproveitamento de nossa possibilidade corporal.
29
3.2 EXERCCIOS COM CONSOANTES
Asconsoantes so muito importantes pela fora expressiva inerente a cada uma delas, pois o tempo de durao das consoantes diretamente proporcional fora dramtica da palavra. Depreende-se da que, pela
nfase ou leveza na articulao daconsoante, possvel, veicular a maior ou menor dramaticidade de um texto. (SHEWAN apud COELHO, 2001, P.46)
As consoantes tem ainda a funo de delinear as vogais, e sozinhas no tem
significado algum. Os exerccios, a seguir, tem diferentes objetivos, como o
relaxamento de todo o aparelho do canto, ou o aprimoramento de alguma das fases
do desenvolvimento vocal como o direcionamento do som rumo ao nariz e acima
dele.
[CRRR][BRRR] [GRRR] [PRRR]
Este um exerccio de relaxamento. Trabalhar a vibrao dos lbios de forma
leve, para deix-los soltos. Nas anotaes de aulas pesquisadas para este trabalho
e nas aulas feitas por mim com o professor Thomas Adam, estes exerccios
aparecem intercalados a outros, como forma de buscar relaxamento durante o
desenvolvimento da aula.
Nestes exerccios podemos fazer um movimento corporal, desenhando com o
brao uma lemniscata (curva geomtrica em formato de 8), inspirando no momento
que o movimento vem em direo ao corpo do cantor e emitindo o som no
movimento do brao que se distancia do cantor.
30
[V]
Primeiro deve ser feito sem tom cantado, bem leve e curto. Depois com tons
cantados, subindo trs ou quatro tons e voltando a tonalidade inicial.
Tambm podemos utilizar o movimento da lemniscata neste exerccio.
[S]
Com a mesma melodia do [V], dobrando levemente os joelhos quando
produzir o som. Assim como no anterior, subir por trs ou quatro tons e voltar a
tonalidade inicial.
[M]
Tentar criar atravs do [M] um grande espao dentro da boca como se
dissesse [A]. Deve-se dirigir a sonoridade ao nariz e procurar sentir o [M] num ponto
acima do nariz. Um leve sorriso ajuda muito a entonao do [M].
31
[Z]
Emitir o som do [Z] sem altura definida, de forma que depois do ataque o som
v desaparecendo lentamente. A imagem usada aqui a da gua que penetra na
areia. Fazer lentos movimentos musculares abdominais para dentro, durante a
emisso do som.
Em um segundo momento emitir o som do [Z] de forma curta e destacada,
ainda sem altura definida.
Um terceiro exemplo do uso do [Z], agora sim com a mesma melodia simples
utilizada nos exerccios anteriores.
Ainda outra melodia para cantar com [Z]
[L]
A principal funo dos exerccios com a consoante [L] a flexibilizao da
lngua. Para este primeiro exerccio deve-se posicionar a ponta da lngua no lbio
superior e no atrs dos dentes superiores. Pode-se at encostar a lngua fora, por
sobre o lbio. Com isto a lngua fica mvel na sua parte posterior. A mobilidade da
lngua muito importante para a formao das vogais. (ADAM,1995 p.1)
32
Outra melodia para ser entoada com a consoante [L]
[HAL-AL-AL]
Este um exerccio especfico para o relaxamento e soltura da mandbula.
Deve ser executado com o queixo bem solto, deixando a lngua quase passiva.
Tambm auxilia no relaxamento e sensibilizao da base da lngua.
33
34
3.3 EXERCCIOS COM [NG]
O [NG] no nem vogal, nem consoante, mas algo intermedirio, uma
transio entre os dois elementos. Segundo Werbeck-Svrdstrm (1994, p 67)
quando o fonema NG cantado corretamente, tudo se passa como se o elemento
consonantal e o voclico se interpenetrassem, formando um suprafonema.
Inicialmente o fonema [NG] apresenta dificuldade para ser cantado de forma
correta. Na aplicao regular de exerccios com [NG] com alunos de canto percebe-
se uma forte tendncia em abrir o som na direo da vogal [A]1. Muitos alunos no
conseguem movimentar corretamente e conscientemente a parte mediana2 da
lngua, que deve elevar-se e encostar-se ao palato. Algumas vezes a observao do
movimento feito por outra pessoa ajuda na conscientizao do movimento
necessrio, mas alguns alunos no obtm sucesso, mesmo com a ajuda de um
espelho. Um exerccio que tem dado excelente resultado o exerccio da lngua
enrolada, que ser descrito a seguir, pois parte do som da vogal [A] para o [NG]
com movimento da lngua, como veremos abaixo de forma mais detalhada.
Utilizando o [NG] como ponto de partida do trabalho prtico, com o tempo se
consegue uma gradual separao dos elementos fonticos e sonoros. Esta
separao ocorre mais facilmente quando se consegue separar tambm os rgos
do aparelho fonador inerentes fala, formao dos fonemas, como lbios, maxilar
e ponta da lngua. A utilizao deste fonema pode ser pura ou com variveis como
veremos na descrio dos exerccios a seguir.
Os exerccios com [NG] esto ligados a todas as fases do desenvolvimento
vocal da Escola do Desvendar da Voz, apesar de sua forte ligao com o movimento
do som para cima, desenvolvido no direcionamento do som. Aqui os exerccios
sero apresentados desligados desta diviso. Uma orientao ser dada no roteiro
que segue ao final deste captulo.
Falar a palavra DOMINGO sem pronunciar os fonemas, apenas
movimentando a boca, observando a lngua. No fundo da lngua acontece uma
pequena corcunda que em cima toca o palato. Assim o caminho da voz vedado e
1 Neste caso, a observao tem sido sobre as aulas ministradas pela prpria autora.
2 Werbeck-Svrdstrm(1994 p.123) cita uma diviso da lngua em trs partes: a ponta, uma parte
mediana e uma parte posterior. Esta ltima estende-se at a epiglote.
35
toda sonoridade, todo ar dirigido para cima, para o nariz, de forma que o fonema
se expressa saindo pelo nariz. um fonema nasal. (ADAM, 1992 p.5)
Figura 3: A linha indica o movimento da lngua e do palato na formao do fonema [NG]. (Fonte: LEHMANN, 1984, p. 44)
36
[NG]
Perceber como, um pouco acima da narina surge um primeiro centro sonoro; um
segundo, um pouco mais acima, perto dos olhos. E mais tarde a gente (sic)
consegue um novo centro sonoro perto da testa. (ADAM 1992 , p5)
O exemplo a seguir pode ser cantado com [NG] e depois repetido com [M]
procurando manter o [NG] em mente. Aqui a imagem criada a de que estamos
recebendo o tom imaginando que o tom entra no cantor, e no que sai dele. E a
direo do som deve ser na testa, nada na garganta.
Como em todos os exerccios descritos at aqui este deve ser executado sem
esforo, em um tempo confortvel, e sem muita mudana de tessitura. Algumas
modulaes podem ser feitas, porm no se deve ir para os extremos da voz.
Outras melodias que poder ser trabalhadas com [NG]
Na melodia acima podese cantar as notas em staccato, onde a barriga
funciona como um trampolim.
37
Este exerccio est ligado segunda etapa do desenvolvimento vocal da
Escola do Desvendar da Voz, a expanso do som. Aqui fazer um gesto de antipatia
com a boca, ajuda a criar espao abrindo os msculos do fundo da garganta, perto
da epiglote.
[RING] [NING] [ZING]
Estes fonemas podem ser cantados em exerccios separados ou podem ser
usados todos em um s, como no exemplo a seguir:
Novamente a ideia central buscar esse ponto de ressonncia na testa. E a
partir deste pequeno ponto central expandir o som para a periferia.
Outra melodia que pode ser explorada por estes fonemas, agora com
movimento de rotao de ombro, um de cada vez, soltando o mesmo na pausa.
E ainda outra melodia com os mesmos fonemas:
38
[NING O]
Deve ser feito com forma bem redonda no lbio e atrs. O [I] quase no
pronunciado, apenas um direcionador. O [O] tambm deve vibrar pelo nariz.
[MINGEN MONGEN]
Cantar percebendo uma cpula de ressonncia sobre a cabea. Comear bem
devagar. Novamente, ressalto que estes exerccios no se ocupam da tessitura toda
39
do cantor, ao contrrio, limitam-se a trs ou quatro tons.
Exerccio da Lngua Enrolada
Com a boca e os dentes fechados sem forar, enrolar a ponta da lngua para
baixo, deixando- a bem segura na frente. Assim, ela s poder trabalhar atrs, na
raiz, e a que esto os piores endurecimentos da voz. E esta regio deve se tornar
to mvel como as mos de um pianista. (ADAM, 1992, p.16)
Este exerccio no tem indicao de melodia, e pode ser feito sem altura
definida. O importante o movimento da parte posterior da lngua, conforme os
desenhos a seguir, retirados das anotaes de aula.
40
Figura 4: A lngua faz um arco... (Fonte: ADAM, 1992, p.16)
Figura 5: ...e depois desce (Fonte: ADAM, 1992, p.16).
41
Aps o exerccio da lngua enrolada deve-se repetir o exerccio com [GRR],
que traz relaxamento para todo o instrumento do canto3.
3 Tenho praticado este exerccio e comprovado sua eficcia, tanto no relaxamento quanto na fixao
do movimento necessrio para a correta execuo do fonema [NG]. E tenho aplicado com meus
alunos, obtendo bons resultados com relao ao direcionamento do som. um bom exerccio para
ensinar o [NG], j que muitos alunos tem dificuldade na percepo da prpria lngua e dos
movimentos necessrios, intrnsecos a ela, para cantar corretamente (Nota da autora).
42
3.4 EXERCCIOS COM VOGAIS
Nas anotaes de aulas pesquisadas, no h tanta riqueza de detalhes nos
exerccios com vogais, como h nos precedentes. Na grande maioria, h uma
explicao de como deve ser a forma de cada vogal, quais as consoantes que
podem ser aliadas a cada vogal, e quase no h indicao de melodias, por isso
muitas so repeties dos exerccios anteriores com adequaes aos fonemasque
veremos a seguir.
Vogal [O]
Segundo Adam (1992, p.5) o [O] deve ser sempre redondo, assim, devemos
fazer um crculo com os lbios e, tambm, com os ouvidos. No lugar onde
bocejamos, se fizermos um [O] correto, deve haver uma pequena elevao do
palato, este espao necessrio para ganhar volume.
Nos exerccios com [O] aliaremos esta vogal a algumas consoantes, e teremos os
seguintes fonemas [WO] [GLO] [MNO].
As melodias podem ser copiadas dos exerccios com consoantes como no
exemplo a seguir:
A mesma melodia pode ser cantada com os outros fonemas sugeridos com a
vogal [O].
importante ressaltar que a vogal [O] precisa de uma abertura labial para a
frente, e necessrio guiar o tom para dentro do nariz, sugando o [O].
43
Vogal [U]
Para a formao desta vogal, a tenso dos lbios deve ser parecida com
aquela que precisamos para tocar uma flauta transversa.(ADAM, 1995, p.8)
O [U] traz uma abertura grande na garganta. Para ento-lo, fazer um grande
bocejar, com muito ar.
[WU-ZU-FU]
Vogal [I]
O [I] deve ser claro como a neve e o sol. Ofuscante. (ADAM, 1992, p.20)
A forma do [I] deve ser larga, trabalhada com um sorriso at os olhos, e a
lngua deitada encostando a ponta nos dentes inferiores.
[WO-JI]
Partir de um [O] mais escuro e ir para a claridade do [I]. Deve-se pensar o [I]
como uma flecha, sempre piano, curto e preciso.
44
O mesmo exerccio pode ser feito com os fonemas [XI-JI]. A vogal [I] muito
importante para a primeira fase do desenvolvimento vocal proposta pela Escola do
Desvendar da Voz, o Direcionamento do Som.
Outro exerccio com a vogal [I]
[WI-JI-ANG]
Neste, deve-se entoar o [I] bem largo e o [A] estreito(com a forma da boca) e
um pouco escuro, projetando com tendncia ao [O].
Vogal [E]
uma das vogais mais importantes, porque atravs do [E] forma-se o meio
da voz, o seu centro.(ADAM, 1992, p.9)
Ainda segundo ADAM (1992), o [E] trabalha a possibilidade de separar as
duas regies do canto, ou duas camadas:
- uma regio referente musicalidade, ao princpio musical.
- a outra camada refere-se ao princpio da fala, onde interpretamos o texto, e
atuamos no texto atravs dos fonemas. A vogal [E] o som que pode unir estas
camadas.
[MEN]
Deve ser executado em pianssimo, e com o [E] bem claro quase como o [I]
passando pelo ponto acima do nariz. Pode-se modular para uns trs ou quatro tons
acima e retornar tonalidade principal.
45
[JELEMENTEPE]
Como um arqueiro. Segurar o arco coma mo esquerda e a flecha com a
direita, ombros em diagonal. Soltar a flecha no [PE] (VARGAS, 2006, p.47).
O [J] deve ser entoado com um sorriso, e o direcionamento do [E] constante
para a testa. O som do [E] fechado como na palavra estrela. Modulaes como
no exerccio anterior.
[BR-NR-DR]
Este exerccio atua na segunda fase do desenvolvimento vocal proposto pela
Escola do Desvendar da Voz, o Alargamento ou Expanso do Som.
Apesar do [] aberto, a direo do som deve continuar para cima. Porm
agora tambm se deve sentir o som nas tmporas. Como um alto-falante ao lado
das orelhas. O movimento de abertura exige um movimento diafragmtico mais
intenso.
[RE]
Novamente com o [E] fechado, ao contrrio do exerccio anterior.
46
VOGAL [A]
Segundo a Escola do Desvendar da Voz, esta a vogal mais importante e
tambm a mais difcil. Conforme Adam (1992, p. 26) [...]o [A] abraa todas as outras
formas de vogais. No comeo no se exercita o [A] sozinho, nem por muito tempo.
Realmente, no material pesquisado, h poucos exemplos de exerccios com a vogal
[A] como foco. Ela aparece em inmeros outros exemplos onde atua como auxiliar,
mas raras vezes o fonema que se quer desenvolver. No prximo tpico Exerccios
variados h alguns exemplos de exerccios que contm a vogal [A], mas novamente
ela aparece como coadjuvante para algum outro objetivo que no seja o seu
desenvolvimento individual.
Veremos um nico exemplo de uso da vogal [A], buscando o direcionamento
do som e a distino do funcionamento das musculaturas da lngua e do maxilar em
um s exerccio.
[HANG-ANG]
Colocar a lngua no lbio superior, deixando a lngua plana, e cantar com
[ANG-ANG-ANG], abrindo o queixo, movimentando bem o maxilar.
O tom vai caminhar fortemente pelo nariz. interessante notar que, neste
exerccio, todos os msculos (do maxilar) ficam separados da ao da lngua
(ADAM, 1992, p.27).
Este exerccio no possui indicao de melodia a ser executada, e depois de
execut-lo algumas vezes sozinha, sem altura definida, percebi que desta forma
tambm pode ser utilizado, por isso deixo este exerccio aqui por sua importante
funo de ativador das musculaturas necessrias ao canto.
Ainda conforme Adam (1992, p.27):
isto que precisamos alcanar; conseguir a possibilidade de todos os msculos trabalharem independentemente uns dos outros, a fim de que eles (os msculos) trabalhem no processo artstico mais rapidamente e mais
levemente, servio daquilo que queremos fazer.
Ao final deste exerccio repetir o [BRR], para relaxamento.
47
48
3.5 EXERCCIOS VARIADOS
Estes exerccios no desenvolvem um nico fonema, individualmente, seja
consoante ou vogal. Ao contrrio, agora o objetivo a unio de consoantes, vogais e
a passagem de umas para as outras, agregando a cada exemplo aquilo que j foi
explicado na individualidade de cada fonema. Para estes exerccios foram
selecionadas melodias ou pouco mais complexas que as anteriores, descritas nas
anotaes de aulas ministradas por Adam, e que segundo ele, eram melodias
utilizadas por Valborg Werbeck-Svrdstrm, criadora da Escola do Desvendar da
Voz.
[LAO]
Primeiro faremos um exerccio para desenvolver um pouco mais a tessitura.
Este pode ser modulado at um agudo confortvel, o que varia para cada cantor,
dependendo de seu registro. Tambm pode ser executado com mais velocidade que
os exemplos anteriores.
Aqui, deve-se sentir a laringe o mais calma possvel e imaginar a melodia
acontecendo fora do corpo.
Agora o fonema [LAO] com uma melodia da coleo da Sra. Werbeck-
Svrdstrm.
49
Outro exerccio da coleo da fundadora da Escola do Desvendar da Voz.
As vogais tem uma fonte no meio da lngua, de onde elas nascem. preciso sentir este ponto e a as diversas vogais encontram esta porta. A lngua vai se modificando, quando sente essas vogais (ADAM, 1995, p.9).
[I E A O U]
Cantar a sequencia de vogais em cada grau da escala ascendente e
descendente tentando sentir cada uma delas da seguinte forma:
[I] [E] nas maas do rosto
[A] mais para o fundo
[O] mais fechado
[U] como uma tromba de elefante
Podemos usar tambm a seguinte melodia
Exerccio de Concordncia
Finalizando os exerccios da Escola do Desvendar da Voz, um exemplo que
foi idealizado por Rudolf Steiner. Chamado de Exerccio de Concordncia. Pode ser
50
realizado s com as vogais ou aliado a alguma consoante. A ordem para execuo
das vogais ; [U][][A][][][][I][U] com as seguintes melodias:
51
4 ROTEIRO PARA A PRTICA DOS EXERCCIOS DA ESCOLA DO DESVENDAR
DA VOZ4*
EXERCCIOS PARA ESQUECER A RESPIRAO
1 grupo: exerccios bem calmos para fazer de manh cedo:
[MFS]
[MVRS]
Fazer tanto (todos os dias) at que acontece sozinho, automaticamente.
2 grupo:
Exerccios em 2 tons com :[S][V][M][Z] [GR]
Exerccios com 3 ou 4 tons com [L]
EXERCCIOS DUPLOS PARA A BARRIGA
3 grupo: Com movimento da barriga e da boca, em unssono. Sendo que a segunda
slaba deve ser como que deixando espocar.
[HAM-M][MAM-B] [BAMB] [GAMB] [DUK-KH] [DU-BA-KA]
Exerccio com [BR]
EXERCCIOS COM VOGAIS
4 grupo: para serem exercitados um pouco todos os dias e uma delas mais um
pouco por duas semanas
[O] [WO][GLO] [MNO]
[] [MN][JELEMENTEPE] [BR-NR-DR]
[I] [WO-JI] [WI-JI-ANG]
[A] [HANG-ANG]
Trabalhar em pocas escolhendo uma vogal por vez para desenvolver. Deve-se
ento fazer vrios exerccios com uma determinada vogal, o [O], por exemplo, e
praticar s um pouco as outras vogais, por um tempo mdio de duas a trs
semanas, de forma que em poucos meses tenha trabalhado todas as vogais.
4 ADAM, 1992, P. 33.
52
EXERCCIOS MUITO IMPORTANTES COM [NG]
5 grupo:
1 fase: direcionamento do som
[NING] [RING] [ZING]At a quinta e voltando, podendo-se inventar melodias,
improvisando, ou entoar canes conhecidas para exercitar.
[SINGING]
2 fase: ampliao do som ou alargamento.
[NG A] Com a lngua enrolada
[MINGEN-MONGEN]
A sugesto de execuo a seguinte: programa para amadores.
Fazer um exerccio do 1 grupo, do 2 grupo e do 3 grupo, durante uns 10 minutos.
Com isso vamos ficar aquecidos e mveis. Depois mais 10 minutos, trabalhar os
Exerccios com as vogais.Finalmente os exerccios com [NG], sendo 5 minutos da 1
fase e mais 7 minutos da 2 fase.
Mais 3 a 5 minutos trabalhar uma cano, escolhendo uma melodia, sempre
trabalhando dentro dessa qualidade.
Profissionalmente, deve-se exercitar de1:30 a 2:00 horas diariamente, e
juntar a 3 fase (do Espelhamento), pela manh.
tarde: Uma hora de exerccios italianos (Vocalize). Pausa. Duas horas de estudo
de textos.
53
5 CONSIDERAES FINAIS SOBRE OS EXERCCIOS DA ESCOLA DO
DESVENDAR DA VOZ
Durante anos de estudo de canto, no possvel saber onde cada professor
encontrou cada exerccio ou cada imagem proposta aos alunos5. No podemos nem
mesmo dizer que tudo o que foi apresentado neste trabalho com relao aos
exerccios, seja criao original da Sra. Valborg Werbeck-Svrdstrm. Muitos
exemplos podem ter sido criados por seus sucessores.
O ponto onde se quer chegar no a questo autoral, mas as semelhanas
nas imagens e ideias encontradas aqui, com o que j foi vivenciado6 com diferentes
professores de canto, que muitas vezes nem sabiam o que a Escola do Desvendar
da Voz.
A busca que o cantor empreende rumo sua essncia vocal a mesma.
Todos os professores (que conheci e com quem estudei)7 tem as mesmas ideias
acerca de aonde se quer chegar, de como a boa voz deve soar, onde devem ser
sentidas as vibraes e etc. todos com uma meta em comum.
O que os diferencia ento? No so os fins, mas os meios. O que neste caso
extremamente interessante, levando-se em considerao o fato de cada pessoa
sentir e perceber seu instrumento de forma diferente, e tambm tem sua forma
peculiar de perceber e responder ao que o professor lhe prope. Assim como cada
professor tem sua metodologia, o caminho que acredita ser mais eficaz, ou o que
funciona para ele, para alcanar aquela meta em comum. Porm nem sempre um
caminho exclui os outros.
Apesar da Sra. Werbeck-Svrdstrm ter deixado para trs uma forma errnea
de cantar (que, infelizmente, no temos como saber qual era o resultado sonoro),
podemos pensar que muitos cantores obtiveram xito com outras escolas de canto,
e que, portanto, o Desvendar no o nico caminho existente, ou o caminho
correto, excluindo quaisquer outras formas de estudo. E estas outras possibilidades
tanto no podem ser excludas, como podem ser aliadas do cantor na busca de seu
5 Eu mesma, assim como a maioria dos professores de canto j devem ter feito, j criei exerccios ou
metforas, no intuito de fazer um aluno encontrar alguma sonoridade ou sensao no trabalho vocal (Nota da autora). 6 Por mim mesma (Nota da autora).
7 Nota da autora.
54
desenvolvimento sonoro. No supracitado roteiro de estudos, inclusive, Adam (1992)
indica exerccios italianos, deixando subentendido que o Desvendar da Voz no
necessariamente um caminho exclusivo8.
Ainda buscando resultados prticos, aps pesquisar e selecionar os
exerccios apresentados no captulo anterior, os mesmos foram aplicados com os
alunos de canto9, com certa frequncia, tambm de forma alternada com a tcnica
da escola italiana, e mais profundamente com os iniciantes.
Alguns pontos positivos podem ser levantados. Como a grande maioria dos
exerccios tem melodias fceis e no requerem uma grande tessitura vocal, so
excelentes para o trabalho com estudantes iniciantes, pois os mesmos podem ser
executados sem grandes dificuldades e em tessituras confortveis. Outro ponto a
favor destes exerccios a dinmica, na maioria das vezes, em piano, ou, no
mximo, mezzo piano. Esta caracterstica obriga o cantor a dar muita ateno ao
que ouve. E, se ouvindo, a percepo do cantor fica mais aguada, no que diz
respeito afinao, emisso do som e a todo tipo de sensao fsica que o corpo
necessite para a produo do som. Alm disso, muitos exerccios trazem como
auxiliares os movimentos corporais, ou as imagens mentais, que com certeza
colaboram nesta busca do cantor por sua voz.
Exerccios divididos entre consoantes e vogais tambm so diferenciais desta
escola. O cantor tem a possibilidade de dar a ateno necessria a cada fonema,
que ele, indubitavelmente, vai aplicar nas peas que ir cantar. possvel, tambm
para o professor, perceber onde esto as dificuldades, e h uma gama imensa de
exerccios que podem ajudar na correo das mesmas. As consoantes, geralmente,
so facilmente assimiladas e executadas de forma satisfatria. Alguns alunos tem
dificuldades na execuo dos exerccios com o fonema [NG], e inicialmente foi um
pouco complicado explicar a eles e a melhor forma de lhes mostrar a execuo
correta foi aprender como dar um bom exemplo10. Vrios alunos esto apresentando
evoluo nestes exerccios conforme vo aprendendo a se ouvir e perceber a
8 Acreditando cada vez mais nessa fuso, tenho me exercitado regularmente dentro dos dois
caminhos, a escola italiana, que exige mais do corpo fsico, e o Desvendar da Voz, que exige maior
concentrao e foco em cada exerccio individual por mais simples que seja. Os resultados ainda no
so definitivos, como quase nada no mbito do canto e do corpo, mas a mudana perceptvel
(nota da autora). 9 Alunos de canto desta autora.
10 Passei muito tempo executando os exerccios com [NG] e em minha ltima aula com Thomas
Adam, no ms de outubro deste ano, tive a confirmao de que fazia o [NG] corretamente.
55
sonoridade peculiar do [NG]. Ao mesmo tempo comeam a tomar conscincia de
seu instrumento, de sua voz e de todo o aparato fsico que se faz necessrio para o
bom funcionamento da voz para o canto. Assim, vamos evoluindo. Tem sido
necessrio tomar menos tempo com os exerccios com vogais por no ter, ainda, a
segurana necessria em sua execuo e temer no ensin-los da forma correta.
11A tcnica da Escola do Desvendar da Voz certamente no ideal para
cantores que queiram resultados imediatos, e talvez nem para aqueles que,
eventualmente j estejam trilhando um caminho de estudo de canto, porm acredito
que a escola tem muito a oferecer tambm a cantores profissionais, como pude
comprovar na prtica.
Portanto a Escola do Desvenda da Voz, sim, uma alternativa metodolgica
para a prtica do canto correto e saudvel. Se corretamente aplicada e, conforme o
roteiro acima, aliada a outros exerccios, pode criar condies para o
desenvolvimento vocal tanto do cantor amador quanto do profissional.
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O resultado da mistura entre as escolas no to claro entre meus alunos com est sendo comigo, talvez pelo nvel pouco avanado dos alunos, mas seus progressos tm sido mais efetivos do que
quando s usvamos os exerccios tradicionais.
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REFERNCIAS
ANTROPOMSICA: MDULO 1, PROFESSORA MECA VARGAS . Notas de aula.
Florianpolis. Indito.
ANTROPOMSICA: MDULO 3, PROFESSORA MECA VARGAS. Notas de aula.
Florianpolis. Indito.
APOSTILA DE CANTO DESVENDAR DA VOZ. PROFESSOR THOMAS ADAM.
Notas de aula. Florianpolis.Indito.
COELHO, Helena Whl. Tcnica Vocal para Coros. 5 ed. So Leopoldo: Sinodal,
1994.
DESVENDAR DA VOZ. AULA COM PROFESSOR THOMAS ADAM. Notas de aula.
Florianpolis. 2006.
DESVENDAR, PROFESSORA MECA VARGAS. Notas de aula. Florianpolis, 2006.
Indito.
GUEDES, Maria Clia. Valborg Werbeck-Svrdstrm. Uma histria do canto
desvendado. Passa Quatro: Ed. Do Autor, 2008.
LEHMANN, Lilli. Aprenda a Cantar. So Paulo: Ediouro, 1984.
O DESVENDAR DA VOZ: AULA COM O PROFESSOR THOMAS ADAM. Notas de
aula. So Paulo, 1992. Indito.
PRZEDLACKI, KRYSTYNA M. W. Encontro de Coralistas e Regentes com
Thomas Adam. Notas de aula. So Paulo,1992. Indito.
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. Encontro com o Coral Desvendar da Voz: AULA COM O
PROFESSOR THOMAS ADAM. Notas de aula. So Paulo,1995. Indito.
RIETJENS, Tatiana. Aula coletiva em Florianpolis. Notas de aula. Florianpolis,
2008.
. Aula com Thomas Adam. Notas de aula. Florianpolis, 2010.
WERBECK-SVRDSTRM, Valborg. A Escola do Desvendar da Voz : Um caminho
para a redeno na arte do canto. 2 ed. So Paulo: Antroposfica, 2004.