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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UM TRIBÔMETRO COM CONTROLE INDEPENDENTE DA TEMPERATURA DO DISCO por Patric Daniel Neis Tese para obtenção do Título de Doutor em Engenharia Porto Alegre, Novembro de 2012

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  • MINISTRIO DA EDUCAO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

    PROJETO E CONSTRUO DE UM TRIBMETRO COM CONTROLE

    INDEPENDENTE DA TEMPERATURA DO DISCO

    por

    Patric Daniel Neis

    Tese para obteno do Ttulo de

    Doutor em Engenharia

    Porto Alegre, Novembro de 2012

  • PROJETO E CONSTRUO DE UM TRIBMETRO COM CONTROLE

    INDEPENDENTE DA TEMPERATURA DO DISCO

    por

    Patric Daniel Neis

    Mestre em Engenharia

    Tese submetida ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica, da Escola

    de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos

    necessrios para a obteno do Ttulo de

    Doutor em Engenharia

    rea de Concentrao: Processos de Fabricao

    Orientador: Prof. Dr. Ney Francisco Ferreira

    Comisso de Avaliao:

    Prof. Dr. Eduardo Andr Perondi.....................................................PROMEC / UFRGS

    Prof. Dr. Marcos Roberto Soares...............Universidade de Caxias do Sul e Fras-le SA

    Prof. Dr. Jose Daniel Biasoli de Mello....................Universidade Federal de Uberlndia

    Prof. Dr. Francis H. R. Frana

    Coordenador do PROMEC

    Porto Alegre, 23 de Novembro de 2012

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, agradeo a Deus por iluminar o caminho trilhado, me dando fora nas

    horas difceis.

    Aos meus pais Benno e Iria, por todo apoio e amor que recebi ao longo destes anos.

    A minha famlia, especialmente as irms Vera, Sandra, Diana e Ana.

    A minha namorada Adriana, por toda pacincia, compreenso, carinho e preocupao

    por mim.

    Ao meu orientador Prof. Dr. Ney Ferreira pela ajuda, disponibilidade e pacincia que

    teve (e continua tendo) comigo.

    Ao Prof. Dr Patrick De Baets da Universidade de Gent, na Blgica, pela sua

    contribuio e apoio ao meu doutorado.

    Ao Prof. Dr. Heraldo, pelas suas palavras de incentivo.

    Ao Prof. Dr. Ruben, pela sua grande contribuio no entendimento das incertezas de

    medio.

  • iv

    RESUMO

    A presente tese descreve as etapas de desenvolvimento de um equipamento (tribmetro) e

    metodologia de ensaio para caracterizao do efeito isolado da temperatura sobre o atrito

    medido em materiais de frico utilizados em freios veiculares. O projeto deste equipamento

    foi baseado nas funcionalidades e limitaes encontradas nas principais mquinas e

    procedimentos de ensaio para freios automotivos. So apresentados e discutidos detalhes do

    projeto mecnico e de automao do tribmetro, bem como so levantadas suas incertezas de

    medio instrumentais e preciso. Alm disso, proposta uma nova metodologia de ensaio

    para caracterizao do efeito isolado da temperatura sobre os resultados de atrito obtidos

    durante os testes. O projeto mecnico atual do tribmetro contempla recursos que contribuem

    para facilitar a operacionalidade do equipamento e, consequentemente, reduzir o tempo

    envolvido na etapa de preparao dos testes. So exemplos destes recursos um mecanismo de

    fuso e manivela, o qual empregado para a regulagem do raio de deslizamento, e um

    dispositivo para troca rpida da amostra a partir do ajuste de um nico parafuso. O atual

    projeto de automao do tribmetro composto por circuitos de controle da carga, rotao,

    torque e temperatura, os quais operam em malha fechada. A incerteza instrumental do sistema

    de medio de atrito do tribmetro igual a 2,9% do valor nominal medido, considerando a

    faixa tpica de aplicao da mquina. Em termos de preciso, verificou-se experimentalmente

    que o equipamento projetado apresenta uma repetitividade de 0,013. O projeto de automao

    tambm contemplou a ligao do tribmetro a um aquecedor indutivo. O uso da referida

    tecnologia em conjunto com a metodologia de ensaio proposta na presente tese mostraram-se

    capazes de caracterizar de forma acelerada e independente o efeito da temperatura sobre o

    coeficiente de atrito obtido a partir de ensaios de frenagem executados no tribmetro.

    Complementa o estudo ainda o desenvolvimento de uma tcnica para ps-processamento dos

    dados relativos aos ensaios executados no tribmetro segundo a metodologia proposta. A

    referida tcnica mostrou-se uma maneira eficiente e relativamente simples de avaliar os

    efeitos simultneos da carga e da temperatura sobre o atrito.

    Palavras-chave: tribmetro; freio; frenagem; atrito.

  • v

    ABSTRACT

    The current thesis describes the development of equipment (tribometer) and testing procedure

    for characterizing the isolated effect of temperature on friction measurements obtained from

    vehicular friction materials. The design of this equipment was based on the features and

    limitations found in the main machinery and testing procedures for brakes. Details about the

    mechanical design and automation of the tribometer are presented as well as its instrumental

    measurement uncertainties and precision. Besides, a new testing procedure is proposed in

    order to characterize the isolated effect of temperature on friction results obtained in the tests.

    The current mechanical design of the tribometer comprises some features that contribute to

    make the equipment operation ease and thus reduce its setup time. A crank and screw

    mechanism, which is used for adjusting the sliding radius, and a device for rapid exchange of

    the samples by means of a single screw are both examples of those features. The current

    automation design of the tribometer consists of circuits for controlling load, speed, torque and

    temperature, which operate in closed loop mode. The instrumental measurement uncertainty

    from the friction measuring system is 2,9% of the nominal friction measurement,

    considering the typical operating range of the machine. Experimental tests performed on the

    tribometer showed that the repeatability (precision) of the friction measurements is 0,013.

    The automation design also included the connection between the tribometer and an induction

    heater. The use of this technology together with the proposed testing procedure proved to be a

    suitable tool for characterizing the isolated effect of temperature on friction during braking

    tests performed on the tribometer. This work is also complemented by the development of a

    technique for post-processing the data related to the tests carried out in accordance with the

    proposed testing procedure for the tribometer. This technique proved to be an efficient and

    clear way to assess the simultaneous effects of load and temperature on friction

    measurements.

    Keywords: tribometer; brake; braking; friction.

  • vi

    NDICE

    1 INTRODUO ........................................................................................................ 1

    2 OBJETIVO ............................................................................................................... 3

    3 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................. 4

    3.1 Conceito de Tribologia ............................................................................................. 4

    3.2 Importncia da Tribologia......................................................................................... 4

    3.3 Conceito e Mecanismos de Atrito ............................................................................. 6

    3.4 Materiais de Frico .................................................................................................. 8

    3.5 Fatores que Influenciam no Desempenho dos Materiais de Frico ........................ 9

    3.5.1 A Composio Qumica e a Microestrutura dos Materiais de Frico ................ 10 3.5.2 Rugosidade do Disco ........................................................................................... 11

    3.5.3 Velocidade de Deslizamento ............................................................................... 11 3.5.4 Condio Ambiental ............................................................................................ 13 3.5.5 Presso de Contato ............................................................................................... 14 3.5.6 Filme de Frico .................................................................................................. 15

    3.5.7 A Influncia do Histrico Trmico e de Carga .................................................... 16 3.5.8 Influncia da Temperatura do Disco .................................................................... 17

    3.6 O Estado da Arte - As Mquinas de Ensaios .......................................................... 18

    3.6.1 Dinammetro Inercial .......................................................................................... 19

    3.6.2 Mquina Chase .................................................................................................... 21 3.6.3 FAST (Friction Assessment and Screening Test) ................................................ 22 3.6.4 Mquinas em escala ............................................................................................. 23

    3.6.5 Tribmetros .......................................................................................................... 23

    3.6.6 Avaliao de um Tribmetro de Frenagem da Literatura .................................... 24

    3.7 O Estado da Arte - Procedimentos de Ensaios ....................................................... 26

    4 SOLUES PARA AS LIMITAES DO TRIBMETRO CONSTRUDO

    NO MESTRADO ...................................................................................................... 33

    4.1 Melhorias no Projeto Mecnico .............................................................................. 33

    4.2 Melhorias no Projeto de Automao e Controle ..................................................... 37

    5 AS INCERTEZAS DE MEDIO DO TRIBMETRO ........................................ 55

    5.1 Incerteza de Medio Instrumental da Temperatura do Disco ............................... 56

    5.1.1 Mtodo de Medio por Contato ......................................................................... 56 5.1.2 Mtodo de Medio Sem Contato ....................................................................... 57

    5.2 Incerteza de Medio Instrumental do Torque e da Fora Normal ........................ 59

    5.3 Incerteza de Medio Instrumental da Velocidade de Rotao .............................. 60

    5.4 Incerteza de Medio Instrumental do Coeficiente de Atrito ................................. 61

    5.5 Ajuste dos Sistemas de Medio e Circuitos de Controle ...................................... 64

  • vii

    5.5.1 Ajuste Esttico do Sistema de Medio da Temperatura .................................... 65 5.5.2 Ajuste Esttico do Sistema de Medio do Torque ............................................. 66

    5.5.3 Ajuste Esttico do Sistema de Medio da Carga ............................................... 67 5.5.4 Ajuste Dinmico do Circuito de Controle da Temperatura ................................. 69 5.5.5 Ajuste Dinmico do Circuito de Controle do Torque .......................................... 70 5.5.6 Ajuste Dinmico do Circuito de Controle da Carga ............................................ 72

    5.6 Outras Estimativas .................................................................................................. 74

    5.7 Levantamento da Repetitividade das Medidas de Atrito ........................................ 77

    6 METODOLOGIA DE ENSAIO NO TRIBMETRO ............................................. 80

    7 OUTROS RECURSOS DISPONIBILIZADOS PELO TRIBMETRO ................. 90

    7.1 Avaliao do Efeito de Stick-slip ............................................................................ 90

    7.2 Avaliao da Histerese no Atrito ............................................................................ 90

    7.3 Simulao de Torque ou Carga Residual entre Frenagens ..................................... 92

    7.4 Ensaio em Velocidade Constante............................................................................ 94

    7.5 Frenagens sob Diferentes Nveis de Variao de Temperatura .............................. 94

    8 CONCLUSES ........................................................................................................ 96

    9 TEMAS FUTUROS .................................................................................................. 97

    10 REFERNCIAS BIBLOGRFICAS ..................................................................... 99

    11 PUBLICAES DO AUTOR ................................................................................ 108

    12 APNDICE A Comparativo entre mquinas de ensaio ....................................... 112

    13 APNDICE B Procedimento de ajuste dos controladores pids ......................... 113

    14 APNDICE C Procedimento de preparao dos testes ....................................... 114

    15 APNDICE D Procedimento de alinhamento do disco ....................................... 115

    16 APNDICE E Metodologia de ensaio para caracterizao do efeito isolado .....

    da temperatura ......................................................................................................... 116

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 3.1 Distribuio das perdas de energia de um automvel ............................................ 5 Figura 3.2 - Coeficiente de atrito obtido entre uma pastilha e um disco com setores de

    acabamento grosseiro devido ao processo de jato de areia. ............................................. 11

    Figura 3.3 - Variao do atrito com a velocidade..................................................................... 12 Figura 3.4 - Efeito da velocidade sobre o atrito ....................................................................... 13 Figura 3.5 - Evoluo do atrito com a presso de contato ........................................................ 15 Figura 3.6 - Anlise de 3 etapas de ensaios executadas sob iguais condies de operao,

    porm com diferentes histricos de frenagen ................................................................... 16

    Figura 3.7 - Esquema de um dinammetro inercial ................................................................. 19 Figura 3.8 - Modos de operao do tribmetro investigado: (a) modo carga constante e (b)

    modo velocidade e torque constante . ............................................................................... 25 Figura 3.9 - Modos de operao do tribmetro do GPFAI/UFRGS: modo carga ou torque

    constante durante (a) ciclos de frenagens ou (b) ciclos em velocidade de arrasto

    constante. .......................................................................................................................... 25

    Figura 3.10 Grficos comparativos em termos de (a) coeficiente de atrito e (b) distncia de frenagem entre os resultados do tribmetro investigado e de uma bancada de teste em

    tamanho real ..................................................................................................................... 26 Figura 3.11 - Curvas tpicas de uma frenagem obtida na etapa de caracterizao a verde, onde

    em (a) tem-se o torque e a presso do cilindro atuador em relao ao tempo e em (b) tem-

    se o coeficiente de atrito e a rotao do disco versus tempo. ........................................... 29 Figura 3.12 - Curva tpica da desacelerao do disco obtida na caracterizao a verde. ......... 29

    Figura 3.13 - Curvas tpicas de uma frenagem obtida na etapa de fade, onde em (a) tem-se o

    torque de frenagem e a presso do cilindro atuador em relao ao tempo e em (b) o

    coeficiente de atrito e a rotao do disco versus tempo. .................................................. 31

    Figura 3.14 - Curva tpica da desacelerao do disco durante uma etapa de fade. .................. 32

    Figura 4.1 Vista tridimensional do tribmetro. ..................................................................... 33 Figura 4.2 - Fotografia ilustrando a possibilidade de extrao de dois corpos de prova de uma

    mesma pastilha de freio. ................................................................................................... 36

    Figura 4.3 Instrumentao do disco de freio para a utilizao de duas pistas de atrito sobre cada uma de suas faces. .................................................................................................... 37

    Figura 4.4- Sistema de medio tridimensional empregado no alinhamento dos dispositivos

    utilizados no projeto atual tribmetro. .............................................................................. 37 Figura 4.5- Curvas de fora obtidas em ensaios realizados na verso do tribmetro

    apresentada no mestrado ................................................................................................... 38 Figura 4.6 - Verso do tribmetro apresentada no mestrado: efeitos de dilatao/contrao

    trmica dos componentes da mquina sobre a medio da fora .................................... 39

    Figura 4.7 - Circuito de controle e medio da carga empregado no projeto atual do

    tribmetro. ........................................................................................................................ 40

    Figura 4.8 - Curvas de temperatura e fora obtidas a partir de um ensaio na verso atual do

    tribmetro, evidenciando a melhoria no sistema de controle da carga. ............................ 41

    Figura 4.9 - Circuito de controle e medio do torque de frenagem empregado na verso atual

    do tribmetro. ................................................................................................................... 42 Figura 4.10 - Desenho das partes integrantes do transdutor de torque utilizado no tribmetro

    .......................................................................................................................................... 42

  • ix

    Figura 4.11 - Curva de torque versus tempo, avaliada a 2000 rpm, sem aplicao de fora e

    partindo da temperatura ambiente. ................................................................................... 43

    Figura 4.12 - Relao entre torque e rotao, obtida experimentalmente imediatamente aps o

    procedimento de pr-aquecimento dos mancais sob a condio de 2000 rpm por 600s. . 44 Figura 4.13 - Curva de torque avaliada para diferentes nveis de desacelerao do eixo. ....... 45 Figura 4.14 - Curva tpica de stick-slip medido na verso atual do tribmetro. ....................... 47 Figura 4.15 - Circuito de medio e controle e da rotao empregado na verso atual do

    tribmetro. ........................................................................................................................ 48 Figura 4.16 - Circuito de controle e medio da temperatura empregado no projeto atual do

    tribmetro. ........................................................................................................................ 49 Figura 4.17 - Sistema de aquecimento do disco por processo de induo eletromagntica: (a)

    aquecedor indutivo e (b) detalhe da bobina instalada sobre o disco do tribmetro. ......... 51

    Figura 4.18 - Tribmetro comercial que emprega sistema de aquecimento do disco por meio

    de resistncia eltrica ........................................................................................................ 52

    Figura 4.19 - Processo de aquecimento e resfriamento do disco obtidos por meio das

    tecnologias empregadas na verso do tribmetro apresentada no mestrado .................... 53 Figura 4.20 - Curva de temperatura destacando perodo de aquecimento do disco do

    tribmetro por meio de induo eletromagntica. ............................................................ 54

    Figura 5.1 Circuito empregado no ajuste esttico do sistema de medio da temperatura. .. 65 Figura 5.2 Fotografia tirada durante a calibrao do sistema de medio do torque. ........... 66 Figura 5.3 Curva de temperatura mdia obtida a partir de 3 repeties do experimento para

    avaliar o ajuste do controlador PID do circuito de controle da temperatura. ................... 69 Figura 5.4 - Algumas curvas de torque obtidas experimentalmente a partir da avaliao do

    efeito do ajuste do circuito de controle dessa varivel. .................................................... 71 Figura 5.5 Curvas de fora normal obtidas a partir da execuo do experimento de avaliao

    do efeito do ajuste dinmico do circuito de controle da carga. ........................................ 73 Figura 5.6 Ilustrao de uma curva de temperatura tpica, obtida experimentalmente a partir

    de frenagens executadas com temperatura inicial de 100C. ............................................ 75 Figura 5.7 - Curvas de rotao e torque, obtidas na condio de desacelerao mxima

    (575 rpm/s) encontrada durante o levantamento da capacidade do mdulo de rotao. .. 77

    Figura 5.8 - Curvas de atrito mdio versus nmero da frenagem, obtidas a partir do

    experimento de avaliao da repetitividade do tribmetro. .............................................. 78 Figura 5.9 - Histogramas do coeficiente de atrito determinados para a amostra semi-metlica

    011, dimetro de 24mm, avaliado entre as frenagens (a) 1 a 460 e (b) 51 a 460. ............ 79 Figura 6.1 - Evoluo da temperatura do disco a cada frenagem do ciclo de fade executado no

    dinammetro e no tribmetro (amostra de 34 mm e disco de 6 mm, isolado). ................ 81

    Figura 6.2 - Coeficiente de atrito do ciclo de fade executado no dinammetro e reproduzido

    no tribmetro com a amostra de 34 mm de dimetro e disco de espessura de 6 mm,

    isolado. .............................................................................................................................. 82 Figura 6.3 - Detalhe da transio entre dois patamares de temperatura inicial (de 100C para

    200C) atravs do processo de aquecimento por induo. ............................................... 84 Figura 6.4 - Dados de atrito mdio referentes ao primeiro ciclo de frenagem, referentes a

    primeira proposta de metodologia de ensaio com o uso do aquecedor indutivo. ............. 85

    Figura 6.5 - Dados de atrito mdio obtidos para todos os ciclos de frenagens, referentes a

    primeira proposta de metodologia de ensaio com o uso do aquecedor indutivo. ............. 86 Figura 6.6 - Dados de atrito mdio obtidos para todos os ciclos de frenagens, referentes a

    segunda proposta de metodologia de ensaio com o uso do aquecedor indutivo. ............. 88

  • x

    Figura 6.7 - Efeitos da temperatura e da carga sobre os resultados mdios de atrito dos ciclos

    de frenagens. ..................................................................................................................... 89

    Figura 7.1 - Tribmetro linear do tipo alternativo existente na Universidade de Ghent, na

    Blgica .............................................................................................................................. 91 Figura 7.2 - Tipos de ondas que podem ser ajustadas para o controle da velocidade do

    tribmetro: (a) onda senoidal e (b) onda quadrada. .......................................................... 92 Figura 7.3 - Curva tpica de histerese do atrito obtida pelo tribmetro do GPFAI/UFRGS. ... 92

    Figura 7.4 - Ciclos de frenagens intercalados pela condio de carga residual de arrasto da

    amostra sobre o disco. ...................................................................................................... 93 Figura 7.5 - Ilustrao de um ensaio executado sob diferentes nveis de temperatura do disco e

    sob velocidade constante do disco. ................................................................................... 94 Figura 7.6 - Curvas mdias de temperatura relativas aos ensaios das sees 1, 2 e 3. ............. 95

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 3.1 - Sequncia de temperaturas iniciais de cada frenagem da etapa de fade. ............. 31 Tabela 4.1 Esquema dos procedimentos e respectivos polinmios empregados para correo

    das medidas de torque do tribmetro. ............................................................................... 46 Tabela 5.1 Procedimentos empregados no estudo das incertezas de medio do tribmetro.

    .......................................................................................................................................... 55 Tabela 5.2 - Dados dos dispositivos envolvidos na medio da temperatura pelo mtodo por

    contato de termopar. ......................................................................................................... 56 Tabela 5.3 - Resultados da avaliao da incerteza de medio instrumental da temperatura,

    obtidos para o mtodo por contado de termopar. ............................................................. 57

    Tabela 5.4 - Especificao tcnica dos instrumentos e dispositivos envolvidos na medio da

    temperatura via mtodo sem contato. ............................................................................... 58

    Tabela 5.5 - Resultados das incertezas de medio instrumental da temperatura pelo mtodo

    sem contato. ...................................................................................................................... 58 Tabela 5.6 Especificaes tcnicas dos instrumentos e dispositivos envolvidos no processo

    de medio do torque e da fora normal pelo tribmetro. ................................................ 59 Tabela 5.7 - Dados dos dispositivos envolvidos na medio da rotao do tribmetro. .......... 60

    Tabela 5.8 - Incertezas de medio instrumental do atrito medido pelo tribmetro. ............... 63 Tabela 5.9 Resultados do experimento de ajuste esttico e calibrao do sistema de medio

    do torque. .......................................................................................................................... 67 Tabela 5.10 Resultados do experimento de ajuste dinmico do circuito de controle da

    temperatura. ...................................................................................................................... 70

    Tabela 5.11 - Parmetros operacionais empregados no experimento para avaliar a resposta do

    circuito de controle do torque, aps a seu ajuste. ............................................................. 71

    Tabela 5.12 - Parmetros operacionais empregados no experimento para avaliar a resposta do

    circuito de controle da carga, aps o seu ajuste. ............................................................... 73

    Tabela 5.13 Resultados da avaliao do efeito do ajuste do circuito de controle da carga. .. 74 Tabela 5.14 Parmetros operacionais empregados no experimento de avaliao da

    repetitividade das medidas de atrito do tribmetro. ......................................................... 78 Tabela 5.15 Resultados de repetitividade obtidos nas medidas de atrito do tribmetro. ...... 79 Tabela 6.1 - Configurao dos ensaios executados de acordo com a primeira proposta de

    metodologia de avaliao do efeito da temperatura sobre o atrito com o uso integrado do

    tribmetro com o aquecedor indutivo. .............................................................................. 84

    Tabela 6.2 - Configurao dos ensaios executados de acordo com a segunda proposta de

    metodologia de avaliao do efeito da temperatura sobre o atrito com o uso integrado do

    tribmetro com o aquecedor indutivo. .............................................................................. 87

  • xii

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    GPFAI Grupo de Projetos, Fabricao e Automao Industrial

    PROMEC Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

  • xiii

    LISTA DE SMBOLOS (Unidades no sistema internacional)

    coeficiente de atrito, [adm]

    T torque frenante, [Nm]

    eficincia mecnica do sistema de freio, [adm]

    Pacion presso de acionamento, [Pa]

    P0 presso necessria para superar a fora da mola de retorno e o atrito do pisto com o

    cliper, [Pa]

    Apisto rea do pisto, [m]

    Re raio de deslizamento ou raio efetivo, [m]

    U(TK) incerteza de medio instrumental do sistema de medio da temperatura por

    termopar, [C]

    u(k) incerteza associada ao termopar tipo k, [C]

    u(ck) incerteza associada ao condicionador de sinal do termopar, [C]

    u(sa) incerteza padro associada capacidade de resoluo do sistema de aquisio e

    controle de dados, [C]

    U(TSC) incerteza de medio instrumental da temperatura pelo mtodo sem contato, [C]

    u(p) incerteza associada ao pirmetro, [C]

    U(G) incerteza de medio instrumental da grandeza em questo, [unidades de G]

    u(s) incerteza associada ao sensor, [unidades de G]

    u(c) incerteza associada ao condicionador ligado ao sensor, [unidades de G]

    u(sag) incerteza associada capacidade de resoluo do sistema de aquisio e controle de

    dados, [unidades de G]

    U(rot) incerteza de medio instrumental do sistema de medio da rotao, [rpm]

    u(e) incerteza associada a capacidade de resoluo do encoder, [rpm]

    u(ms) incerteza associada capacidade de resoluo da sada do mdulo analgico do

    inversor, [rpm]

    u(sar) incerteza associada capacidade de resoluo do sistema de aquisio e controle de

    dados, [rpm]

    M torque de frenagem, [Nm]

    FN fora normal, [N]

    R raio de deslizamento, [m]

  • xiv

    f funo f(x1,x2,x3, ..., xn)

    x1, x2, x3, ... ,xn, grandezas de entrada consideradas na funo f, [unidades da grandeza]

    r(xi, xj) coeficiente de correlao entre as grandezas de entrada xi e xj,[adimensional]

    U() incerteza combinada do coeficiente de atrito, [adimensional]

    u(M) incerteza do torque, [Nm]

    u(R) incerteza do raio de deslizamento, [m]

    F fora normal, [ N]

    u(F) incerteza da fora normal, [N]

    u(V) incerteza da tenso medida a partir de um multmetro digital, [mV]

    p preciso do multmetro, [%]

    V tenso medida, [V]

    d nmero de dgitos menos significativos do instrumento, [adm]

    Rs resoluo do multmetro, [mV]

    I inrcia do sistema rotativo equivalente a inrcia do veculo avaliado, [kgm]

    velocidade angular do disco de freio, cujo sub-ndice i representa a velocidade

    inicial e o sub-ndice f representa a velocidade final [rad/s].

    Ap rea da pastilha (ou par de pastilhas) utilizada, [m]

    i inrcia empregada no tribmetro, [kgm]

    ap rea da amostra do tribmetro, [m]

    r raio de deslizamento do tribmetro, [m]

    desacelerao angular do tribmetro, [rad/s]

    t durao da frenagem, [s]

    Tt torque de frenagem que deve ser empregado no tribmetro, [Nm]

  • 1

    1 INTRODUO

    At meados da dcada de 50, os testes envolvendo sistemas de freio eram avaliados

    unicamente sobre os veculos, atravs de ensaios realizados em campo. Entretanto, essa

    metodologia implica em custos elevados devido ao tempo envolvido no processo de

    preparao e execuo da mesma. Alm disso, diferentes motoristas, variaes nas condies

    ambientais e fatores externos, como a trafegabilidade, podem dificultar bastante as anlises

    dos resultados durante ensaios realizados em veculo [Tsang et al., 1985; Rusnak et al., 1970;

    Rhee e Schwartz, 1979]. Atualmente, a maioria dos ensaios com materiais de frico

    utilizados em freios automotivos tem sido realizada em bancadas de laboratrios. Testes em

    veculos continuam sendo importantes, porm com faixa de aplicao restrita a avaliaes de

    ergonomia, conforto e rudo do sistema de freio bem como para confirmao de resultados

    observados em bancada (dinammetro inercial) e homologao do veculo junto aos rgos

    reguladores de trnsito [Mller, 2009].

    A metodologia de avaliao de frenagens atravs de bancadas em laboratrio apresenta

    uma srie de vantagens, como facilidade de instrumentao e um controle mais preciso das

    variveis envolvidas no processo de ensaio, alm de um menor tempo gasto na execuo dos

    testes e reduo dos custos envolvidos [Rusnak et al., 1970; Timte, 2000].

    Existem diversos tipos de mquinas com a finalidade de ensaiar materiais de frico

    utilizados em freios veiculares. Conforme apontam algumas publicaes [Rusnak et al., 1970;

    Zimmer e Teves, 1982], devido s caractersticas construtivas e tecnologias empregadas, cada

    mquina especialmente indicada para um tipo especfico de avaliao. A metodologia de

    ensaio de cada equipamento de teste descrita por procedimentos ou normas especficas.

    Entretanto, nenhum dos equipamentos descritos pela literatura capaz de avaliar de

    maneira rpida e precisa o efeito exclusivo da temperatura sobre os resultados de atrito dos

    materiais. Em dinammetros inerciais, essa varivel geralmente avaliada atravs de

    sucessivas aplicaes dos freios, de forma a elevar a temperatura do disco numa espcie de

    efeito acumulativo de calor. Ensaios executados sobre dinammetros so custosos, uma vez

    que levam dias para serem concludos, necessitam um disco novo por procedimento e a

    anlise dos resultados pode ser considerada relativamente complexa dada a elevada

    quantidade de dados que so gerados.

  • 2

    Outros equipamentos de ensaio, como a mquina Chase ou a FAST, podem submeter

    os materiais a temperaturas da ordem de 300C ou mais. Porm, os ensaios nestas mquinas

    so realizados em condies de velocidade de arrasto constante da amostra sobre o disco,

    situao descrita no texto introdutrio da norma ISO 26867, 2009, como uma aproximao

    limitada para caracterizao de materiais de frico, uma vez que a desacelerao do rotor

    (disco) geralmente esperada em uma condio tpica de frenagem veicular.

    Com o objetivo de superar as limitaes acima mencionadas e, ao mesmo tempo,

    possibilitar a avaliao isolada do efeito da temperatura sobre os resultados de atrito de

    materiais de frico, um tribmetro foi especialmente projetado. Na presente tese, as

    caractersticas das principais mquinas de ensaios e procedimentos (normas) para testes de

    freios so descritas, com foco especial no que diz respeito as suas limitaes e na forma como

    a questo da temperatura abordada por esses equipamentos e metodologias. O projeto do

    tribmetro tambm discutido no decorrer desse trabalho, bem como so apresentadas as suas

    incertezas de medio instrumentais e preciso. Alm disso, proposta uma nova

    metodologia de ensaio para caracterizao do efeito da temperatura sobre o atrito obtido a

    partir do uso integrado do tribmetro com um aquecedor indutivo. Por ltimo, uma tcnica

    para ps-processamento dos dados dos ensaios apresentada, a qual associada metodologia

    de ensaio permite avaliar de maneira clara e relativamente rpida o efeito da carga e

    temperatura sobre o atrito medido durante os ensaios.

  • 3

    2 OBJETIVO

    Desenvolver um equipamento para ensaiar materiais de frico veiculares capaz de

    controlar separadamente a temperatura do disco, proporcionando a avaliao isolada desta

    varivel frente aos demais parmetros operacionais de frenagem.

    Objetivos especficos

    1. Estado da arte: i) identificao, com base na literatura especializada, das funcionalidades e

    limitaes relativas s principais mquinas de ensaio para materiais de frico, com especial

    ateno no que diz respeito ao controle da varivel temperatura (quando houver), ii)

    levantamento das dificuldades relativas s principais metodologias e procedimentos de ensaio

    com materiais de frico (normas), com foco particularmente voltado forma como esses

    documentos abordam a questo da anlise da temperatura durante os testes.

    2. Apontar as limitaes do tribmetro do autor construdo no trabalho de mestrado e propor

    solues para o seu projeto mecnico e de automao;

    3. Determinao das incertezas instrumentais bem como da preciso do tribmetro projetado

    para a faixa de operao deste equipamento.

    4. Aplicao de solues voltadas ao desenvolvimento de uma nova metodologia de ensaios

    capaz de avaliar de forma acelerada e independente o efeito da temperatura no coeficiente de

    atrito de materiais de frico.

    5. Apontar vantagens e/ou desvantagens do equipamento e metodologia propostos.

  • 4

    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 Conceito de Tribologia

    De acordo Halling, 1975, tribologia uma palavra derivada do grego, onde tribos

    literalmente significa atrito ou frico. Assim, a traduo literal da palavra tribologia seria o

    estudo ou cincia do atrito. O termo tribology foi utilizado pela primeira vez em 1966

    durante um relatrio publicado pelo Departamento de Cincia e Educao da Gr-Bretanha.

    Segundo este documento, que ficou conhecido como relatrio de Jost [Jost, 1966], a tribologia

    a cincia e tecnologia da interao entre superfcies em movimento relativo e demais

    questes relacionadas ao assunto e prticas. Essa ampla definio ilustra a natureza

    interdiciplinar do assunto. Conforme mencionam alguns autores [Glaeser et al., 1981;

    Moerlooze, 2010], o campo de estudo atual da tribologia est interligado a muitas reas de

    conhecimento, tais como fsica, qumica, cincia dos materiais, termodinmica, mecnica,

    elementos de mquinas, esttica e dinmica, metrologia, etc.

    Embora a definio do termo seja relativamente recente, a humanidade j vem

    empregando solues prticas relacionadas tribologia h sculos. A inveno da roda, por

    exemplo, mostra claramente o interesse do homem em reduzir o atrito durante movimento

    [Halling, 1975]. Segundo Dowson, 1979, talvez a mais antiga evidncia de tribologia date do

    perodo paleoltico, com a descoberta do fogo pelo homem a partir do calor gerado pelo atrito

    entre pedaos de madeira ou a partir do faiscamento resultante do choque entre pedras. O

    autor menciona ainda que o povo do Egito antigo empregava lubrificante a base de gordura

    animal nos mancais das rodas de suas carruagens.

    3.2 Importncia da Tribologia

    A tribologia est presente em vrios aspectos de nosso cotidiano, que vo desde a

    simples prtica de esportes (escalada ou ski, por exemplo) at o ato de escovar os dentes, onde

    que ocorre um processo de desgaste controlado no qual se deseja limpar a sujeira e manter o

    esmalte dos dentes ao mesmo tempo [Halling, 1975].

    Segundo Dowson, 1979, anlises de quebras em mquinas mostram que muitas falhas

    em equipamentos domsticos, motores veiculares e mquinas em geral esto relacionadas

  • 5

    com interao de peas e ou superfcies (engrenagens, embreagens, freios, cames, rolamentos,

    mancais), ou seja, esto associados tribologia.

    A importncia econmica da tribologia est no fato de que 30% da energia gerada no

    mundo industrial dissipada em processos envolvendo frico [Dowson, 1979]. Na indstria

    automobilstica, um dos maiores desafios , sem dvida, a melhora no consumo de

    combustvel, o que pode ser atingido reduzindo a energia dissipada atravs da frico. De

    acordo com Halling, 1975, um veculo possui mais de 2000 pontos de contato tribolgico, o

    que sugere elevado grau de dissipao trmica. Um estudo conduzido por Anderson, 1991,

    menciona que do total de energia liberada pela queima de combustvel em um veculo, cerca

    de 15% perdido pelo atrito de seus elementos mecnicos (pistes, anis, rolamentos,

    transmisses, vlvulas e acessrios). Um estudo atual [Holmberg et al., 2012], onde so

    tambm contabilizadas as perdas por atrito dos pneus com o solo bem como do sistema de

    freios, menciona que o percentual de energia dissipada pelo atrito pode chegar a at um tero

    da energia liberada pela queima de combustvel. Hinrichs e Kleinbach, 2000, apresentam a

    distribuio das perdas de energia de um veculo, as quais so mostradas na Figura 3.1.

    Figura 3.1 Distribuio das perdas de energia de um automvel [Adaptado: Hinrichs e

    Kleinbach, 2002].

    Segundo Moerlooze, 2010, recentes avanos no campo da lubrificao bem como nas

    tecnologias envolvendo as superfcies tem contribudo para diminuir as perdas energticas

    pelo processo de frico. Os ganhos disso no se restringem apenas esfera econmica, mas

    tambm ao aspecto ecolgico, completa o autor.

  • 6

    3.3 Conceito e Mecanismos de Atrito

    De acordo com Rabinowicz, 1995, atrito a resistncia ao movimento que existe

    quando um objeto slido movido tangencialmente com relao a uma superfcie de contato,

    ou quando uma tentativa de produzir tal movimento relativo feita. Ainda, de acordo com o

    autor, o atrito expresso em termos quantitativos como uma fora (fora de atrito), a qual

    proporcional carga normal existente entre os corpos. Segundo Halliday et al., 1996, a partir

    da relao entre a fora de atrito e a fora normal, surge uma grandeza adimensional

    conhecida como coeficiente de atrito. Ainda de acordo com os autores, o coeficiente de atrito

    se divide em esttico e dinmico. O coeficiente de atrito esttico determinado no instante de

    eminncia do movimento relativo entre as superfcies atritadas enquanto que o coeficiente de

    atrito dinmico ocorre no instante em que h movimento relativo entre as superfcies.

    Serbino, 2005, define o atrito sob o ponto de vista energtico. De acordo com o autor,

    o atrito um processo onde a energia cintica convertida em outras formas de energia, como

    trmica, acstica, tica, eltrica e mecnica. O balano de energia dissipada depender da

    natureza dos corpos em contato. Ainda segundo o autor, a energia de atrito dissipada atravs

    de deformaes nas camadas superficiais por mecanismos elsticos, plsticos e viscoelsticos

    e/ou atravs de microfraturas de partculas da superfcie sob cisalhamento ou unies entre

    interfaces adesivas bem como sob a ao de eventual terceiro corpo (filme) presente entre as

    superfcies de contato.

    Muitos autores vem procurando modelar o atrito e desgaste dos materiais durante

    frenagens, como mostram algumas publicaes [Fillot et al., 2007; Osterle et al. 2001; Baleri

    et al., 2003]. Porm, como o atrito e o desgaste so fenmenos complexos, governados

    principalmente pelo chamado tribosistema (interao entre variveis operacionais e material),

    ainda hoje no se tem conhecimento preciso sobre o papel de cada varivel sobre os mesmos.

    Isso torna relativamente complexo o desenvolvimento de uma modelagem matemtica capaz

    de englobar todos os fenmenos envolvidos no atrito e desgaste [Eriksson et al., 2002].

    Acredita-se ser por esse motivo que modelos de atrito e/ou de desgaste dos materiais se

    limitam a descrever um dado comportamento (stick-slip, curva de stribeck, por exemplo) de

    um determinado material para condies bem especficas de aplicao. Na presente tese, no

    sero descritos modelos matemticos para o atrito ou desgaste, uma vez que o foco deste

  • 7

    trabalho desenvolver uma ferramenta (tribmetro) capaz de ser empregada em futuros

    estudos para o entendimento dos mecanismos e fundamentos da tribologia associada a freios.

    Pouco avano no campo da tribologia ocorreu at a existncia de Leonardo da Vinci

    (1452-1519), que foi quem primeiro postulou uma aproximao cientfica para o atrito. Ele

    reconheceu que a fora de frico proporcional carga normal aplicada. A Revoluo

    Industrial (por volta do ano de 1700) impulsionou avanos importantes na tribologia por causa

    do crescente desenvolvimento de novas mquinas e equipamentos industriais [Halling, 1975].

    Alm disso, durante este perodo houve aumento do interesse pelo processo de frico sob

    condies no lubrificadas. Isso ocorreu devido a questes relacionadas aos sistemas de freios

    e trao entre o trilho e a roda das locomotivas recm criadas. Foi nessa poca que surgiram

    os rolamentos de esferas, que so componentes largamente difundidos atualmente [Dowson,

    1979].

    Na segunda metade do sculo XVIII, Charles Augustin Coulomb estabelece uma clara

    distino entre o coeficiente de atrito esttico e dinmico ou cintico. Neste estudo, Coulomb

    tambm postulou que o coeficiente de atrito independe da velocidade [Mki, 2005]. Em um

    segundo momento, porm, Coulomb percebeu que a fora de atrito no apenas uma

    componente constante em mdulo quando se inicia o movimento, mas uma componente que

    varia com a velocidade [Armstrong, 1988].

    Apesar de Coulomb j ter observado uma relao entre o coeficiente de atrito esttico

    e o tempo de aderncia entre as superfcies antes de iniciar o deslizamento entre as

    superfcies, a base terica que fundamenta tal fenmeno encontrada em recentes publicaes

    [Dieterich e Kilgore, 1994; Moerlooze, 2010]. De acordo com os referidos estudos, para a

    situao estacionria, com o tempo, h um maior fortalecimento entre as junes que, junto da

    relaxao plstica da carga em contato, resulta no aumento da rea real de contato entre as

    superfcies, o que leva ao aumento do coeficiente de atrito esttico.

    Segundo Al-Bender e Swevers, 2008, o regime de deslizamento caracterizado por

    um contnuo processo de formao e quebra dos pontos de contato tal que a fora de atrito

    torna-se predominantemente uma funo da velocidade de escorregamento relativa entre os

    corpos. Conforme a literatura [Al-Bender e Swevers, 2008; Serbino, 2005], os mecanismos

    fsicos que explicam a fora de frico quando duas superfcies deslizam uma sobre a outra

    com movimento relativo so:

  • 8

    a) Adeso: refere-se fora tangencial ou fora de cisalhamento que surge quando as

    superfcies esto relativamente prximas uma da outra. Assim, foras de ligao metlicas e

    covalentes so consideradas bem como foras de Van der Waals.

    b) Deformao: surgem foras decorrentes das deformaes geomtricas que ocorrem

    entre as asperezas das superfcies quando as mesmas passam umas sobre as outras.

    Os autores mencionam ser muito difcil de mensurar a esfera de abrangncia de cada

    um destes fenmenos no resultado global da fora de atrito. A interao dinmica entre esses

    mecanismos explica o complexo comportamento do coeficiente de atrito.

    3.4 Materiais de Frico

    De acordo com Rhee et al., 1991, os engenheiros utilizam uma variedade de materiais

    para maximizar o desempenho dos freios em todas as condies de aplicao, comumente

    combinando de 5 a 20 diferentes ingredientes para formar um material de frico.

    Ostermeyer e Mller, 2008, expem as dificuldades em determinar uma composio

    adequada para atender aos principais requisitos de pastilhas e lonas de freio, a saber:

    estabilidade do coeficiente de atrito (pouca perda de atrito com a temperatura), no variao

    de comportamento em condies constantes, taxas mnimas de desgaste do material de atrito

    (pastilhas e lonas) e das pistas de frenagem (disco e tambor), mnima quantidade de liberao

    de resduos, estabilidade contra gerao de rudo e vibraes. Blau, 2001, acrescenta a essa

    lista de requisitos a necessidade de alta resistncia corroso e baixo peso dos materiais de

    frico. Hee e Filip, 2005, completam o raciocnio apontando que materiais de frico

    precisam tambm ser compatveis com o material do rotor a fim de reduzir desgaste, rudo e

    vibrao durante a frenagem.

    Diante disso, no difcil perceber a complexidade envolvida na busca de uma

    composio de material de frico que atenda aos inmeros requisitos dos fabricantes. Alm

    disso, conforme observa Blau, 2001, o desempenho de um freio no somente afetado pelos

    materiais e sistema, mas tambm pela forma de conduo do motorista, estado de regulagem

    do sistema de freios, condio do veculo e ambiente sobre o qual o mesmo conduzido.

    Quanto classificao, materiais de frico para utilizao em freios geralmente

    seguem duas categorias, orgnicos ou semi-metlicos [Eriksson e Jacobson, 2000; Engberg,

    1995]. Na pastilha semi-metlica h carga maior de compostos metlicos (fibras de ao) em

    sua formulao, podendo chegar a ndices de at 50% [Eriksson e Jacobson, 2000]. Pastilhas

  • 9

    produzidas a partir de materiais semi-metlicos so visivelmente diferentes das orgnicas,

    pois so mais speras, possuem uma colorao mais escura, sendo ainda possvel obervar

    fibras metlicas na sua superfcie. Por possurem boas propriedades de dissipao do calor, as

    pastilhas semi-metlicas so largamente empregadas em aplicaes maios severas, como em

    veculos grandes e esportivos [Engberg, 1995].

    Por outro lado, as pastilhas orgnicas possuem uma textura mais lisa e uma tonalidade

    mais clara. So largamente aplicadas em veculos leves [Engberg, 1995]. Pastilhas orgnicas

    so mais macias do que as semi-metlicas, proporcionando um maior contato com o disco,

    diminuindo o coeficiente de atrito e aumentando a vida til dos discos. So utilizadas em

    mercados que priorizam o conforto da operao de frenagem, como por exemplo, o mercado

    americano [Birch, 1999].

    Quanto aos discos e tambores de freios, de acordo com Blau, 2001, estes componentes

    so tipicamente produzidos a partir de ferro fundido cinzento com grafite tipo A (flocos com

    distribuio uniforme e de orientao aleatria) sob uma matriz perltica com baixo contedo

    de ferrita e carbono.

    Com relao durabilidade, pastilhas de freios precisam ser substitudas entre 16 000

    at 80 000 km, dependendo do tipo de material, terreno e forma de conduo do veculo. As

    pastilhas podem ser adquiridas como pea original do fabricante automotivo ou ainda no

    mercado de reposio. Geralmente, ambos os tipos de produtos so produzidos pelo mesmo

    fabricante, sendo que as peas do mercado de reposio so etiquetadas com a marca do

    fabricante do material de frico enquanto que as originais levam a marca da indstria

    automotiva. Porm, o fabricante automotivo costuma especificar a formulao de suas

    pastilhas originais, enquanto que as peas que vo para o mercado de reposio, via de regra,

    possuem maior liberdade quanto a sua composio qumica [Engberg, 1995].

    3.5 Fatores que Influenciam no Desempenho dos Materiais de Frico

    Conforme previamente discutido na dissertao de mestrado do autor da presente tese

    [Neis, 2008], as variveis que influenciam no desempenho (atrito e desgaste) dos materiais de

    frico utilizados em freios so a composio qumica e microestrutura tanto do disco quanto

    da pastilha, a velocidade de deslizamento, a presso de contato, o filme de frico, o histrico

    trmico e de carga do material e a temperatura do disco. No levantamento (reviso da

    literatura) feito na presente tese, foram ainda acrescentadas duas novas variveis. So elas: a

  • 10

    rugosidade do disco e as condies ambientais de realizao dos testes. A seguir, todos esses

    fatores so individualmente abordados. Convm observar que, experimentalmente, apenas o

    parmetro da temperatura do disco avaliado por meio de ensaios no decorrer deste trabalho.

    3.5.1 A Composio Qumica e a Microestrutura dos Materiais de Frico

    O papel de cada ingrediente que compe uma pastilha e/ou um disco tema de grande

    interesse por parte dos fabricantes de materiais de frico, uma vez que o aumento da potncia

    dos motores dos veculos tem exigido maior desempenho e eficincia por parte dos sistemas

    de freio.

    No estudo conduzido por Bhabani e Bijwe, 2006, foi verificado, atravs de ensaios

    realizados em um equipamento para teste de freios em escala, que a variao exclusiva da

    natureza (tipo) da fibra orgnica que compe um material de frico exerce considervel

    influncia sobre a magnitude do coeficiente de atrito bem como sobre a resistncia oferecida

    ao desgaste. Kim e Jang, 2000, por sua vez, em seus experimentos executados em uma

    bancada, fixaram o tipo de fibra (aramida) e variaram apenas o seu percentual. Os autores

    concluram que houve uma melhora significativa na estabilidade do coeficiente de atrito

    medida que se aumentou a quantidade da fibra contida na amostra.

    Coyle et. al., 1983, realizaram um estudo com discos de freio de diferentes propores

    de C, Si, Mn, P e Ti e com variaes dos parmetros do processo: taxas de resfriamento e

    solidificao. Os autores concluram que possvel alterar o desempenho do sistema de freio

    atravs de alteraes qumicas e microestruturais do rotor.

    No restam dvidas de que, ambos os fatores, a composio qumica e a

    microestrutura dos materiais atritados (pastilha e disco), exercem influncia direta sobre o

    atrito e o desgaste, conforme discutido nesta subseo. Porm, de acordo com Kim e Jang,

    2000, um nmero limitado de estudos sobre o papel exato de cada componente qumico sobre

    o desempenho de um processo de frenagem pode ser encontrado. Por isso, pode-se afirmar

    que ainda existe muito a ser pesquisado sobre o assunto, principalmente se for levado em

    conta a diversidade de componentes qumicos que podem ser utilizados no processo de

    fabricao de pastilhas e lonas de freios - aproximadamente 150, segundo Kim e Jang, 2000.

  • 11

    3.5.2 Rugosidade do Disco

    Um estudo conduzido por Bergman et al., 1999, comparou o atrito gerado por um

    disco de freio com acabamento superficial original com os resultados obtidos a partir de um

    disco rugoso, previamente submetido a processo de jato de areia. Esse ltimo disco, ao ser

    atritado com uma pastilha de freio do tipo orgnica em uma bancada montada com o conjunto

    do sistema de freio e suspenso dianteira de um veculo comercial, gerou um coeficiente de

    atrito mdio de 0,3. J, o disco na condio de acabamento superficial original, gerou um

    coeficiente de atrito mdio de 0,6 em um ensaio semelhante executado sobre a mesma

    bancada. Os autores do estudo explicam que a presena de micro buracos sobre a superfcie

    do disco que passou pelo processo de jato de areia diminui a rea de contato, o que causa a

    reduo no coeficiente de atrito. Stoeterau, 2004, tambm afirma que superfcies muito lisas

    tendem a apresentar coeficientes de atrito elevados por causa do aumento da rea de contato.

    Em outra publicao [Eriksson et al., 2002], os autores submetem apenas um setor do

    disco ao processo de jato de areia. Durante ensaios executados sob uma rotao constante de

    0,22 rpm em uma bancada para teste de freios, observado que o coeficiente de atrito cai a

    cada passagem da pastilha sobre o referido setor, sendo restabelecido ao patamar inicial

    imediatamente aps terminada a passagem pela seo jateada do disco (Figura 3.2).

    Co

    efic

    iente

    de

    atri

    to[-

    ]

    Tempo [s] Figura 3.2 - Coeficiente de atrito obtido entre uma pastilha e um disco com setores de

    acabamento grosseiro devido ao processo de jato de areia [Adaptado: Eriksson et al., 2002].

    3.5.3 Velocidade de Deslizamento

    Conforme Rabinowicz, 1995, no processo de frico de metal contra metal, o

    coeficiente de atrito modifica-se apenas alguns pontos percentuais quando a velocidade

  • 12

    aumentada de um fator de 10. Assim, para uma faixa de velocidade que abrange um fator de

    1010

    (razo entre a maior e menor velocidades), o coeficiente de atrito varia no mais do que

    um fator de 2.

    Em testes de frenagem reproduzidos em um tribmetro em escala reduzida,

    Desplanques et al., 2007, verificaram a influncia da velocidade de deslizamento de uma

    pastilha de freio sobre um disco. Seus estudos mostram que em velocidades mais baixas h

    um rpido aumento da magnitude do coeficiente de atrito (Figura 3.3). Os materiais do disco e

    pastilha empregados neste experimento so provenientes de um sistema de freio de trem

    utilizado na europa. Convm destacar que os picos localizados que aparecem no sinal medido

    de atrito podem ser atribudos, dentre outros fatores, ao efeito de ressonncia do sistema sobre

    as medidas feitas pelo transdutor de fora, conforme menciona um relatrio tcnico emitido

    por um fabricante de mquinas de ensaio [Plint, 2012b]. Ainda de acordo com o referido

    relatrio, comum a aplicao de filtros com o objetivo de atenuar as flutuaes do sinal

    medido. Godfrey, 1995, realizou um estudo especfico para verificao e entendimento destes

    picos, tratados pelo autor como instabilidade e oscilaes do coeficiente de atrito. O autor

    conclui que esses efeitos so funo da rugosidade do disco e tambm da prpria natureza do

    material de frico. Ainda segundo o estudo, materiais que liberam grande quantidade de

    resduos e fragmentos tambm so aqueles que possuem maiores amplitudes de oscilao no

    sinal de atrito medido. Por ltimo, o referido estudo conclui que o atrito deve ser expresso no

    como um simples ponto, mas como uma faixa de valores para uma dada condio.

    Figura 3.3 - Variao do atrito com a velocidade [Adaptado: Deslanques et al., 2007].

    Resultado aproximado ao de Desplanques et al., 2007, tambm observado por Blau e

    McLaughlin, 2003. Esses autores realizaram testes atritando uma amostra de 12,7 x 12,7 mm

    (pertencente a um caminho comercial dos Estados Unidos) sobre um disco em uma mquina

  • 13

    de ensaio em escala reduzida. Perceberam haver uma tendncia de queda do coeficiente de

    atrito com o aumento da velocidade de deslizamento sob a condio de velocidade constante

    (durao de cada ensaio igual 30s).

    Wilson e Bowsher, 1971, verificaram que, sob as mesmas condies de temperatura e

    presso, uma variao de 23% na velocidade, correspondente diferena entre o raio de

    deslizamento mnimo e mximo do corpo de prova avaliado pelos autores (materiais de atrito

    de composio A, B e C) em um equipamento em escala reduzida, no produz variao

    significativa do coeficiente de atrito (Figura 3.4).

    Figura 3.4 - Efeito da velocidade sobre o atrito [Adaptado: Wilson e Bowsher, 1971].

    3.5.4 Condio Ambiental

    Grochowicz et al., 2011, investigaram a influncia das condies ambientais sobre a

    variabilidade dos resultados de coeficiente de atrito medido em frenagens executadas em

    dinammetro. Foram experimentadas duas situaes extremas: 52C com 505% de

    umidade relativa e 302C com 805% de umidade relativa. Os testes foram executados

    segundo o procedimento de ensaio ISO 26867, 2009. Visando a um resultado preciso, as

    amostras (disco e pastilha) empregadas neste estudo foram provenientes do mesmo lote de

    produo. Os autores concluem que as condies ambientais causam influncia significativa

    sobre os resultados de atrito quando pelo menos uma das duas situaes descritas a seguir

    satisfeita:

  • 14

    i) quando, durante as frenagens, a temperatura inicial do disco menor do que 100C, como

    no caso da etapa chamada de Cold do procedimento ISO 26867, 2009, em que uma das

    frenagens executada a 40C;

    ii) quando, durante as frenagens, apesar da temperatura inicial do disco ser maior de 100C, a

    combinao dos parmetros de presso e velocidade relativamente branda. Exemplo disso

    a etapa Low V/P indicada pela norma ISO 26867, 2009, onde que a velocidade inicial e a

    presso hidrulica empregadas sobre o sistema no ultrapassam, respectivamente, 20 km/h e 2

    MPa, em 4 das 6 frenagens desta etapa. Convm observar que em uma condio de frenagem

    tpica, a presso hidrulica e a velocidade empregadas so de, respectivamente, 3 MPa e 80

    km/h, como ocorre na etapa de caracterizao, presente nos procedimentos de ensaio AK-

    Master, 1998, e ISO 26867, 2009.

    Com base no estudo acima mencionado, pode-se concluir que um controle rigoroso

    sobre as condies ambientais de realizao dos testes deixa de ser um requisito importante

    para assegurar a repetitividade dos resultados de atrito caso os parmetros operacionais

    empregados possuam magnitudes superiores aos valores indicados pelas etapas LOW V/P e

    Cold do procedimento de ensaio ISO 26867, 2009. Na prtica, isso significa que, a fim de

    minimizar a influncia das condies ambientais sobre os resultados dos ensaios, a

    velocidade, a presso hidrulica e a temperatura devem possuir magnitudes

    consideravelmente superiores a, respectivamente, 20 km/h, 2 MPa e 100C (valores expressos

    com relao a ensaios em dinammetros).

    3.5.5 Presso de Contato

    consenso entre os autores que a carga normal parece agir no sentido da diminuio

    do coeficiente de atrito [Ostermeyer, 2003; Desplanques et al., 2007], embora no seja claro

    ainda como isso ocorre. A Figura 3.5 mostra o efeito da presso de contato sobre o coeficiente

    de atrito para uma pastilha utilizada em sistemas de freio de trem, a qual foi avaliada num

    tribmetro de frenagem em escala reduzida [Desplanques et al., 2007]. Da mesma forma que

    ocorreu com os resultados mostrados na Figura 3.3, o grfico da Figura 3.5 tambm apresenta

    picos localizados no sinal medido. Conforme explicado na subseo 3.5.3, esses efeitos

    podem ser atribudos principalmente pela rugosidade do disco, pela ressonncia do sistema de

    medio da carga e tambm da prpria natureza do material de frico.

  • 15

    Figura 3.5 - Evoluo do atrito com a presso de contato [Adaptado: Desplanques et al.,

    2007].

    3.5.6 Filme de Frico

    Segundo Fillot et al., 2007, o conceito de filme de frico ou terceiro corpo foi

    introduzido por Godet em 1970 para identificar a interface entre dois slidos postos em

    contato. Esse meio pode ser injetado artificialmente, como no caso dos leos e outros tipos de

    lubrificantes ou, na condio de superfcies secas, pode ser o resultado do arrancamento de

    material das superfcies atritadas.

    O filme o produto de uma complexa interao mecnica e qumica, que pode variar

    no tempo, com o tipo de material e ainda de acordo com as condies de velocidade,

    temperatura e presso impostas [Hee e Filip, 2005]. Alm disso, a rugosidade dos materiais

    atritados [Langlade et al., 1994] bem como o histrico trmico e de carga [Bode e

    Ostermeyer, 2009] tambm desempenham um papel importante sobre as caractersticas do

    terceiro corpo. Da a grande dificuldade em predizer o desempenho e o comportamento do

    atrito de um material de frico [Hee e Filip, 2005].

    Quanto composio qumica do filme de frico, ela diferente da composio

    original do disco e da pastilha, conforme aponta um estudo conduzido por Biswas, 2000. Essa

    observao tambm foi verificada por Osterle et al., 2007, atravs da tcnica de microscopia

    eletrnica sobre disco e pastilha durante ensaios de frenagens executados em dinammetro

    inercial.

    Algumas publicaes [Ostermeyer e Mller, 2008; Langlade et al., 1994] indicam que

    a estabilizao da magnitude do coeficiente de atrito durante um processo de deslizamento

    entre duas superfcies est diretamente ligada dinmica do filme de frico. Essa uma

  • 16

    observao importante na medida em que, conforme apontam alguns autores [Ostermeyer e

    Mller, 2008; Blau, 2001], a estabilidade do atrito um efeito desejvel para os materiais de

    frico utilizados em freios.

    3.5.7 A Influncia do Histrico Trmico e de Carga

    Bode e Ostermeyer, 2009, avaliaram o efeito do histrico trmico e de carga sobre o

    comportamento do atrito. Para isso, 3 etapas (Figura 3.6) do procedimento de ensaio AK-

    Master, 1998, executadas em um dinammetro inercial sob iguais condies de velocidade e

    presso, porm com diferentes histricos trmicos e de carga, so avaliadas. A presso

    hidrulica empregada de 3 MPa e a faixa de velocidade de frenagem vai de 80 a 30 km/h.

    Os autores concluem que os resultados de coeficiente de atrito diferem significativamente

    entre as 3 etapas devido a mudanas do filme de frico, o qual se modifica dinamicamente a

    medida que o histrico trmico e de carga das frenagens a que o material foi sujeito tambm

    vai se alterando.

    Figura 3.6 - Anlise de 3 etapas de ensaios executadas sob iguais condies de operao,

    porm com diferentes histricos de frenagens [Adaptado: Bode e Ostermeyer, 2009].

    Neuman et.al., 1983, destacam que um bom exemplo de efeito do histrico trmico e

    de carga a recuperao do atrito que ocorre logo aps a execuo do ensaio onde os

    materiais so submetidos a elevadas temperaturas (etapa de fade). Segundo o autor, as razes

    para essas mudanas so diversas e incluem a cura adicional do material (a maioria dos

  • 17

    materiais no saem 100% curados do fabricante), alteraes qumicas (reversveis e

    irreversveis) e vaporizao de componentes volteis.

    Ostermeyer, 2003, afirma que o histrico de utilizao da pastilha determina o estado

    atual da rea de contato a nvel microscpico e, por consequncia, o valor atual do coeficiente

    de atrito.

    3.5.8 Influncia da Temperatura do Disco

    Segundo Limpert, 1999, um problema comum que ocorre com os sistemas de freio

    quando atingem temperaturas elevadas (acima de 300C) o efeito de fade, isto , a reduo

    do coeficiente de atrito com o aumento da temperatura durante a frenagem. O fade mais

    crtico em sistemas de freio a tambor do que a disco, uma vez que nesses sistemas ocorre a

    combinao da perda das propriedades de frico do material de atrito (lona) com o efeito da

    dilatao do tambor em elevadas temperaturas (fade mecnico). O autor salienta que, durante

    o efeito de fade em sistemas a tambor, necessrio um aumento de 30 a 40% no curso do

    pedal de freio para a aplicao de um torque frenante equivalente s condies normais de

    operao.

    Conforme Rhee e Schwartz, 1979, a taxa de desgaste dos materiais de frico se

    mantm razoavelmente constante em relao temperatura do rotor at aproximadamente

    220C. A partir da, a taxa aumenta exponencialmente. O desgaste a baixas temperaturas

    (menores de 220C), conforme Rhee e Schwartz, 1979, atribudo essencialmente aos

    mecanismos de desgaste abrasivo e adesivo, enquanto que em altas temperaturas se deve

    decomposio dos ingredientes polimricos presentes nos materiais de frico. Concluso

    semelhante tambm estabelecida por Bulth et al., 2008, cujo estudo aborda tambm a

    relao entre a temperatura e o coeficiente de atrito. Atravs da anlise de emisso dos gases

    (H2O e CO2) resultantes do processo de frico, os autores do referido estudo verificaram que,

    especialmente a partir dos 300C, ocorrem transformaes qumicas importantes, como a

    degradao da resina fenlica do material compsito. observada perda significativa de atrito

    nesta situao, efeito que tende a ser reduzido ou at desaparecer aps o material de frico

    ser submetido repetidas vezes a temperaturas elevadas (entenda-se maiores do que 300C).

    Segundo Blau e McLaughlin, 2003, em altas temperaturas, a taxa de formao de

    xidos metlicos maior nas pastilhas. Certos xidos metlicos tm caractersticas

  • 18

    lubrificantes e podem contribuir para a reduo do coeficiente de atrito entre a pastilha e

    disco.

    Como se pode observar pelo exposto acima, a alta temperatura pode afetar

    significativamente o desempenho de um sistema de freios, tanto em um sistema de freios a

    disco quanto a tambor. Assim, h um compromisso dos fabricantes no sentido de desenvolver

    materiais resistentes a elevadas temperaturas, bem como, de projetar sistemas de freio mais

    eficientes do ponto de vista da dissipao do calor.

    3.6 O Estado da Arte - As Mquinas de Ensaios

    A metodologia de avaliao de frenagens atravs de bancadas em laboratrio apresenta

    uma srie de vantagens sobre ensaios de campo realizados com veculos. A literatura [Rusnak

    et al., 1970; Timte, 2000] cita como vantagens dos ensaios realizados em laboratrio a maior

    facilidade de instrumentao, o controle mais preciso das condies dos ensaios, o menor

    tempo envolvido com a execuo dos testes e a reduo dos custos operacionais.

    Neste contexto, Timte, 2000, exemplifica uma situao muito comum que acontece

    durante a fase de finalizao de um projeto de um sistema de freios para um veculo em

    desenvolvimento. De acordo com o autor, frequentemente ocorrem alteraes em alguns

    componentes da suspenso ou mesmo da distribuio de massa sobre o automvel, as quais

    requerem modificaes do projeto do sistema de freios. Dessa forma, pondera o autor, mais

    fcil e econmico rodar novamente um ensaio em um dinammetro para freios, que

    tipicamente leva 1 ou 2 dias, do que executar outra vez um ensaio em veculo, cujo processo

    pode durar de 10 a 20 dias.

    Existem diversos tipos de mquinas com a finalidade de ensaiar materiais de frico

    utilizados em freios veiculares. Conforme apontam algumas publicaes [Rusnak et al., 1970;

    Zimmer e Teves, 1982], devido s caractersticas construtivas e tecnologias empregadas, cada

    mquina indicada para um tipo especfico de avaliao, como o controle de qualidade ou

    para pesquisa e desenvolvimento, por exemplo. O procedimento de ensaio de cada

    equipamento de teste descrito por procedimentos ou normas especficas.

    A seguir, so apresentadas as principais mquinas de ensaios encontradas na

    literatura, com especial ateno a aspectos que dizem respeito aos dispositivos e tecnologias

    envolvidas no controle da temperatura (quando houver) bem como nas limitaes de cada

    equipamento.

  • 19

    3.6.1 Dinammetro Inercial

    O equipamento mais utilizado para avaliar materiais de frico de freios durante o

    desenvolvimento de novos sistemas de freios o dinammetro inercial [Zimmer e Teves,

    1982; Agudelo e Ferro, 2005; Timte, 2000]. Construtivamente, essa mquina consiste

    basicamente de discos de inrcia conectados a um eixo girante, sobre o qual de um lado

    montado o rotor do freio (disco ou tambor) enquanto na outra extremidade do eixo est ligado

    o motor eltrico (Figura 3.7). Os ensaios em dinammetro inercial so realizados com o

    prprio sistema de freio original do veculo (cliper ou tambor) montado sobre o

    equipamento.

    Figura 3.7 - Esquema de um dinammetro inercial [Haynes, 1999].

    Tipicamente, um dinammetro inercial pode funcionar em modo inercial ou em modo

    de velocidade (tambm chamado de arrasto) constante. No modo inercial, o motor provoca

    uma velocidade rotacional no rotor at o momento em que a frenagem comea, quando o

    motor se desacopla do eixo, deixando que o sistema de freio absorva a energia cintica. A

    inrcia rotacional do eixo pode ser variada atravs da configurao de diferentes discos de

    inrcia, de modo a igualar a massa inercial de um veculo especfico. Por isso, esse modo o

    que melhor representa as condies que ocorrem nos veculos durante as frenagens. No modo

    de arrasto constante, o motor fica ligado e opera sob velocidade constante enquanto o freio

    atuado.

    Os principais parmetros medidos durante as frenagens em dinammetro so: a

    presso de acionamento, o torque frenante e a rotao do disco. A medida de atrito

    determinada indiretamente, a partir dos dados de torque frenante, presso de acionamento,

  • 20

    eficincia mecnica do sistema e de dados geomtricos do cliper, conforme mostra a

    Equao 3.1 [Dohle et al., 2006].

    2 0 epistoacion R)AP (P

    T

    (3.1)

    onde o coeficiente de atrito [adm], T o torque frenante [Nm], a eficincia mecnica

    do sistema de freio (valor tabelado), Pacion a presso de acionamento [Pa], P0 a presso

    necessria para superar a fora da mola de retorno e o atrito do pisto com o cliper [Pa],

    Apisto a rea do pisto [m] e Re o raio de deslizamento, muitas vezes chamado de raio

    efetivo [m].

    Em consulta a dados informados no portal de internet de um fabricante [Link

    Engineering Company, 2011b], verificou-se que modelos mais sofisticados de dinammetros

    inerciais possuem ainda controle da umidade relativa do ar que soprado sobre os freios e/ou

    possuem cmara de resfriamento, capaz de reduzir a temperatura do ar soprado a at 20C

    negativos.

    Outro recurso tambm observado em alguns modelos de dinammetros, conforme

    observado em um exemplar existente no laboratrio de ensaios de um fabricante de materiais

    de frico do Brasil, a determinao do valor da inrcia efetiva (real) via programa

    computacional. Atravs da comparao do valor da inrcia determinada virtualmente com a

    inrcia efetivamente montada sobre o eixo do equipamento, pode-se conhecer o nvel das

    perdas apresentadas pela mquina devido ao atrito dos mancais, rolamentos, entre outros.

    Diversos estudos [Neumann et al., 1983, Rhee e Schwartz, 1979; Preston e Forthofer,

    1971] apontam que o dinammetro inercial o equipamento que melhor simula as condies

    reais dos sistemas de freios veiculares quanto s suas caractersticas de desempenho e

    durabilidade. Por outro lado, Neuman et al., 1983, afirmam que esse equipamento no capaz

    de avaliar as caractersticas do material de atrito isoladamente, mas apenas o desempenho de

    todo o conjunto ou sistema de freio. Conforme Sanders et al., 2001, testes em dinammetro

    so descritos como hardware-dependentes, uma vez que efeitos como a deflexo do cliper

    e de elementos de fixao do freio exercem influncia significativa sobre os resultados dos

    ensaios. Dessa maneira, um resultado de ensaio em dinammetro vlido exclusivamente

    para um dado conjunto (pastilha e cliper) de freio, particularidade tambm constatada por

    Kruze, 2009. O elevado custo para aquisio de um dinammetro inercial apontado por

  • 21

    Preston e Forthfer, 1971, como sua principal desvantagem. Outra limitao do dinammetro

    inercial diz respeito possibilidade da ocorrncia de torque residual de arrasto da amostra

    sobre o disco no perodo de resfriamento (entre as frenagens). A falta de controle sobre essa

    condio leva a variabilidades considerveis nos resultados de atrito e desgaste obtidos por

    essa mquina, conforme apontam Grochowicz et al., 2011.

    No que se refere s normas para teste de freios em dinammetros inerciais, segundo

    dados de um fabricante [Link Engineering Company, 2011a], esse equipamento indicado

    para cumprir procedimentos de ensaio aceitos mundialmente, os quais so protocolos

    utilizados pela GM, Ford Motor Co, DCX, TRW, Bosch, FMO, Toyota e Honda.

    Embora alguns autores apontem que atravs de dinammetros possvel avaliar,

    dentre outros fenmenos, o efeito da temperatura sobre os resultados de atrito dos ensaios

    [Zimmer e Teves, 1982; Timte, 2000], essas mquinas no contemplam sistema ou tecnologia

    dedicada ao controle do aquecimento do disco durante o processo de frenagem. Em

    dinammetros, o efeito da temperatura geralmente avaliado atravs de sucessivas aplicaes

    dos freios, executadas uma a uma, aumentando a temperatura numa espcie de efeito

    acumulativo. Contudo, a varivel temperatura do disco ou da pastilha apenas medida e

    no controlada.

    3.6.2 Mquina Chase

    O funcionamento da mquina Chase est baseado em pressionar um corpo de prova

    com dimenses 25,4 mm x 25,4 mm (ou 1 pol) contra um tambor de freio, cujo raio de

    escorregamento de aproximadamente 279 mm.

    O teste da mquina Chase descrito no procedimento SAE J661 - Brake Lining

    Quality Test Procedure. Segundo Blau, 2001, essa norma utilizada nos Estados Unidos para

    produzir o valor de coeficiente de atrito que estampado, na forma de cdigo, nas pastilhas e

    lonas de reposio comercializadas naquele pas. O autor pondera, porm, que essa prtica

    tem cado em desuso nos ltimos anos sob o argumento de que o comportamento do atrito no

    dependente somente da composio do material de frico como tambm do sistema

    mecnico utilizado e do histrico trmico e de carga a que o material foi submetido. Tsang et

    al., 1985, afirmam que os resultados da Chase devem ser interpretados com cautela, uma vez

    que podem no retratar precisamente as condies reais que ocorrem nos veculos durante as

    frenagens.

  • 22

    Na Chase, a temperatura do tambor de freio controlada por meio de um sistema

    composto por resistncias eltricas e soprador de ar, os quais aquecem e resfriam o rotor,

    respectivamente. Porm, essa mquina opera apenas sob velocidade constante do disco,

    situao apontada pela norma internacional para testes em dinammetro ISO 26867 como

    uma aproximao de uma condio real de frenagem veicular.

    Segundo pesquisa feita entre os principais fabricantes da mquina Chase [Link

    Engineering Company, 2011c; Greening Incorporated, 2008], modelos atuais deste

    equipamento so capazes de produzir uma carga normal de at 2670 N, uma velocidade de

    rotao de at 1200 rpm bem como uma temperatura mxima de 540C no tambor. Porm,

    para estes modelos especficos, o fabricante no menciona o tempo necessrio para submeter

    o tambor a esse patamar de temperatura.

    Detalhes construtivos e mecnicos da mquina Chase podem ser verificados no

    trabalho de dissertao de mestrado do autor da presente tese [Neis, 2008].

    3.6.3 FAST (Friction Assessment and Screening Test)

    Segundo Blau, 2001, a mquina FAST (Friction Assessment and Screening Test) foi

    introduzida na metade da dcada de 60 pela Ford Motor como um equipamento voltado para o

    controle de qualidade de materiais de frico. Conforme dados da norma NBR 7813, 1998,

    para a FAST indicada a utilizao de um corpo de prova com dimenses de 12,7 mm x

    12,7 mm, o qual pressionado contra um disco (ao invs de um tambor, como na Chase) de

    179,3 mm de dimetro e espessura de 38,10 mm. O raio de escorregamento de 76,2 mm

    (3 pol). Porm, de acordo com Blau, 2001, resultados de ensaios obtidos a partir dessa

    mquina podem apontar tendncia perda de atrito por temperatura (fade) em um dado

    material, cujo efeito pode no ocorrer quando um ensaio equivalente executado em

    dinammetro inercial. Outros autores, Hee e Filip, 2005, afirmam que no se pode

    correlacionar resultados de dinammetro com os resultados da mquina FAST. Da mesma

    forma como a mquina Chase, o equipamento FAST tambm opera somente sob velocidade

    constante do disco.

    Detalhes construtivos da mquina FAST podem ser encontrados no trabalho da

    dissertao de mestrado do autor da presente tese [Neis, 2008].

  • 23

    3.6.4 Mquinas em escala

    Segundo Blau, 2001, mquinas em escala tm sido projetadas principalmente para

    aplicaes com fins de pesquisa relacionada a materiais de frico. Efeitos de fade,

    instabilidade termo-elstica (pontos quentes), desgaste e fenmenos envolvendo a formao

    de filme podem ser estudados atravs de mquinas em escala. Boas correlaes podem existir

    entre esses equipamentos e os dinammetros inerciais. O autor ainda acrescenta que para

    certos tipos de estudos, mquinas em escala podem constituir uma soluo efetiva e de baixo

    custo para os fabricantes. Assim, por exemplo, quando a quantidade de materiais

    experimentais grande, a mquina em escala pode ser utilizada para fornecer informaes

    importantes sobre possveis candidatos a bons materiais. Nessa categoria de equipamento

    encontra-se, por exemplo, o FSD, um dinammetro em escala reduzida desenvolvido numa

    parceria entre a UFRGS e um fabricante de materiais de frico.

    3.6.5 Tribmetros

    Embora a literatura especializada no faa nenhuma distino entre tribmetros

    comerciais e tribmetros para teste com freios, uma avaliao mais apurada mostra que

    existem diferenas fundamentais entre os dois tipos de equipamento. Os primeiros so

    empregados em aplicaes genricas como, por exemplo, para a determinao do nvel de

    atrito e desgaste entre diferentes metais, polmeros ou cermicos, enquanto que os ltimos so

    especialmente dimensionados para avaliar materiais de frico utilizados em freios.

    Tribmetros comerciais classificam-se em rotativos e alternativos, de acordo com o

    tipo de movimento entre as superfcies atritadas. Esses equipamentos operam em faixas de

    velocidade e carga mais baixas do que as normalmente encontradas nos sistemas de freios

    reais. Alm disso, a geometria das amostras empregadas nessas mquinas geralmente

    diferente daquela utilizada em freios (formato esfrico, por exemplo). Os procedimentos de

    ensaio voltados para tribmetros comerciais so descritos pelas normas ASTM G99, 2010 e

    ASTM G133, 2010. Estes procedimentos determinam que o ensaio seja realizado em

    condio de velocidade de arrasto constante, situao diferente de uma frenagem veicular,

    onde geralmente ocorre a desacelerao do rotor (disco) medida que a frenagem acontece.

    Em consulta realizada a alguns fabricantes [CSM, 2011; Nanovea, 2011], verificou-se

    que, tipicamente, as cargas de tribmetros comerciais no ultrapassam 100 N, sejam eles

  • 24

    rotativos ou alternativos. Alguns modelos de tribmetros mostram capacidades de carga e

    velocidade relativamente superiores, abrangendo, respectivamente, 1000 N e 8 m/s [Plint,

    2012a], podendo chegar a at 1200 N e 30 m/s [CETR, 2012] em alguns casos. Verses mais

    sofisticadas de tribmetros rotativos possuem sistema de aquecimento do disco por meio de

    resistncias eltricas, sendo capazes de empregar temperaturas superiores a 1000C, conforme

    especificam catlogos tcnicos destes fabricantes [CSM, 2011; CETR, 2012].

    Os primeiros tribmetros para testes com materiais de frico utilizados em freios

    veiculares, doravante tratados como tribmetros de frenagem, surgiram em meados do ano

    2000, conforme indica levantamento feito literatura especializada [Desplanques et al., 2001;

    Bhabani e Bijwe, 2004]. Apesar disto, ainda hoje no se tem conhecimento de nenhuma

    norma ou procedimento de ensaio voltado especificamente para avaliar materiais de frico

    veiculares a partir de um tribmetro de frenagem. Alm disso, esse tipo de mquina no

    disponvel para comercializao, podendo apenas ser encontrada em universidades ou em

    centros de pesquisa privados e governamentais.

    Os tribmetros de frenagem geralmente so providos de um projeto mais robusto, que

    disponibiliza cargas e velocidades de rotao superiores s de um tribmetro comercial.

    Porm, o princpio de funcionamento de um tribmetro de frenagem basicamente o mesmo

    de um tribmetro comercial rotativo: um corpo de prova, que representa a pastilha,

    pressionado contra um disco girante, formando uma superfcie de deslizamento. A

    possibilidade de pesquisa de base uma das principais aplicaes dos tribmetros de

    frenagem, conforme mostram algumas publicaes [Desplanques et al., 2001 e 2006; Bhabani

    e Bijwe, 2004 e 2006; Cho et al., 2005; Siroux et al., 2008].

    A seguir, um tribmetro de frenagem encontrado na literatura tcnica especializada

    [Desplanques et al., 2001] avaliado por meio de um estudo comparativo com o equipamento

    desenvolvido pelo GPFAI/UFRGS. O equipamento que consta na referida publicao um

    dos projetos pioneiros na rea e talvez o mais parecido conceitualmente e em termos de

    tecnologias utilizadas com o tribmetro de frenagem descrito pela presente tese.

    3.6.6 Avaliao de um Tribmetro de Frenagem da Literatura

    Desplanques et al., 2001, desenvolveram um tribmetro de frenagem em escala para

    estudos relacionados a frenagens de trem de alta velocidade, comumente conhecido na europa

    pela sigla TGV (em francs: Train Grande Vitesse).

  • 25

    Em relao ao controle dos parmetros operacionais dos testes de frenagem

    (velocidade, torque de frenagem e carga normal), o tribmetro em escala apresentado pelos

    autores pode operar sob 2 modos distintos:

    (I) Modo ciclo de frenagem: a velocidade diminui de um valor pr-ajustado at zero,

    sob condio de carga normal constante (Figura 3.8-a).

    (II) Modo ciclo de arrasto constante: neste caso, a velocidade e o torque so ajustados

    para serem mantidos constantes durante o ensaio (Figura 3.8-b).

    Figura 3.8 - Modos de operao do tribmetro investigado: (a) modo carga constante e (b)

    modo velocidade e torque constante [Adaptado: Desplanques et al., 2007].

    O tribmetro do GPFAI/UFRGS capaz de reproduzir os itens nmeros I e II

    descritos acima, com a diferena de que em qualquer um dos dois modos (ciclo de frenagem

    ou ciclo de arrasto constante) possvel optar por carga normal ou por torque de frenagem

    constante (Figura 3.9).

    Figura 3.9 - Modos de operao do tribmetro do GPFAI/UFRGS: modo carga ou torque

    constante durante (a) ciclos de frenagens ou (b) ciclos em velocidade de arrasto constante.

    No que diz respeito s tecnologias empregadas com relao ao monitoramento da

    varivel temperatura, o equipamento apresentado por Desplanques et al., 2001, possui

    termopar instalado no interior do disco e tambm na pastilha. Um pirmetro ptico e uma

    cmera termogrfica completam o sistema empregado para a medio da temperatura de

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    frenagem no tribmetro dos autores. Porm, esse equipamento no possui sistema para

    controle da temperatura do disco durante os testes de frenagem.

    Os autores validam os resultados produzidos por essa mquina atravs de um estudo

    comparativo com um banco para testes de freios de trem em tamanho real (Figura 3.10).

    Figura 3.10 Grficos comparativos em termos de (a) coeficiente de atrito e (b) distncia de

    frenagem entre os resultados do tribmetro investigado e de uma bancada de teste em

    tamanho real [Adaptado: Desplanques et al., 2001].

    Verifica-se que, embora as tendncias do coeficiente do atrito em funo da

    velocidade divirjam entre os equipamentos comparados (Figura 3.10-a), os resultados em

    termos de distncia de frenagem (Figura 3.10-b) apresentam uma diferena menor que 9%,

    condio descrita como satisfatria pelos autores da pesquisa [Desplanques et al., 2001].

    Outras publicaes [Blau e McLaughlin, 2003; Lee et al., 2007; Bhabani e Bijwe,

    2004 e 2006] mostram verses diferenciadas de tribmetros de frenagem. Contudo, os

    equipamentos descritos nestes estudos no tm relevncia dentro do contexto do presente

    trabalho, dado que no abordam nenhuma funcionalidade que justifique uma anlise apurada.

    No APNDICE A mostrado um q