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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Bruna Maciel Grochot AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE ENSAIO PRECONIZADOS NA NBR 15575-4/2010 QUANTO À ESTANQUEIDADE À ÁGUA APLICADOS EM REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA Porto Alegre dezembro 2012

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ENGENHARIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    Bruna Maciel Grochot

    AVALIAO DOS MTODOS DE ENSAIO PRECONIZADOS

    NA NBR 15575-4/2010 QUANTO ESTANQUEIDADE

    GUA APLICADOS EM REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

    Porto Alegre

    dezembro 2012

  • BRUNA MACIEL GROCHOT

    AVALIAO DOS MTODOS DE ENSAIO PRECONIZADOS

    NA NBR 15575-4/2010 QUANTO ESTANQUEIDADE

    GUA APLICADOS EM REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

    Trabalho de Diplomao apresentado ao Departamento de

    Engenharia Civil da Escola de Engenharia da Universidade Federal

    do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obteno do

    ttulo de Engenheiro Civil

    Orientadora: ngela Borges Masuero

    Coorientadora: Las Zucchetti

    Porto Alegre

    dezembro 2012

  • BRUNA MACIEL GROCHOT

    AVALIAO DOS MTODOS DE ENSAIO PRECONIZADOS

    NA NBR 15575-4/2010 QUANTO ESTANQUEIDADE

    GUA APLICADOS EM REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

    Este Trabalho de Diplomao foi julgado adequado como pr-requisito para a obteno do

    ttulo de ENGENHEIRO CIVIL e aprovado em sua forma final pela Professora Orientadora e

    pela Coordenadora da disciplina Trabalho de Diplomao Engenharia Civil II (ENG01040) da

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    Porto Alegre, dezembro de 2012

    Profa. ngela Borges Masuero Arq. Las Zucchetti

    Dra. pela UFRGS MSc. pela UFRGS

    Orientadora Coorientadora

    Profa. Carin Maria Schmitt

    Coordenadora

    BANCA EXAMINADORA

    Profa. ngela Borges Masuero (UFRGS)

    Dra. pela UFRGS Arq. Las Zucchetti

    MSc. pela UFRGS

    Eng. Anderson Augusto Mller

    Eng. Civil pela UFRGS Eng. Luciana de Nazar Pinheiro

    Cordeiro

    MSc. pela UFRGS

  • Dedico este trabalho a meus pais, Lusuir e Ftima,

    e ao meu irmo Rafael, que sempre me apoiaram,

    especialmente na escolha do Curso de Graduao,

    e durante, com muito amor, pacincia e dedicao.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo minha orientadora, Profa. ngela Borges Masuero, por ter aceitado me orientar e

    disponibilizar seu tempo para auxiliar no desenvolvimento deste trabalho, pela ateno e

    dedicao, e por todas as ideias e informaes fornecidas, buscando sempre a melhoria do

    tema e do contedo.

    Agradeo minha coorientadora, Lais Zucchetti, por ter aceitado a auxiliar na orientao,

    pela presena, especialmente no laboratrio, para me ajudar a planejar, preparar e executar

    meus ensaios, alm de todos os conselhos fornecidos.

    Agradeo Profa. Carin Maria Schmitt, a quem dedico minha total admirao pelo excelente

    trabalho que faz com uma dedicao inigualvel.

    minha famlia, que sempre me apoiou e me deu foras para ir at o fim, superando todas as

    dificuldades, e que no mediu esforos para fazer o possvel para me ajudar.

    Ao Lucas, por tudo, mas em especial pelo companheirismo e pela pacincia, e por me ajudar

    sempre que eu precisava, desde os ensaios para os seminrios, opinies no contedo do

    trabalho, at nos ensaios no laboratrio.

    A todos os meus amigos, que reclamam da minha ausncia desde que entrei na Engenharia,

    quero que saibam que mesmo com toda a correria, no esqueo de vocs nunca.

    Um agradecimento especial: s amigas Carla e Bruna, que me acompanharam durante todo o

    curso, agradeo o companheirismo e o apoio dentro e fora da UFRGS; dina, minha eterna

    vizinha, que foi minha companheira de TCC durante os dois semestres, pelo apoio e incentivo

    em todas as horas; e aos amigos Gabriel Bernardes e Casemiro, pela companhia e amizade.

  • A mente que se abre a uma nova ideia jamais

    voltar ao seu tamanho original.

    Albert Einstein

  • RESUMO

    Este trabalho trata da avaliao de ensaios normatizados, do ponto de vista de estanqueidade,

    para a anlise de revestimentos externos produzidos com argamassas industrializadas. A

    pesquisa bibliogrfica foi base para seu desenvolvimento e, uma vez que inexistem normas

    que avaliam o desempenho quanto estanqueidade de sistemas de revestimentos de

    argamassa conforme a necessidade deste trabalho, a mesma voltou-se para a NBR 15575-

    4/2010, que fornece subsdios para o desenvolvimento de avaliaes de sistemas de vedao

    vertical. Esta Norma apresenta dois ensaios referentes estanqueidade, abordados neste

    trabalho. O primeiro consistiu em fixar em prismas caixas com buretas anexadas e

    preench-las com gua, para medir o volume infiltrado em um intervalo de tempo pr-

    determinado; este foi aplicado em trs mini paredes de alvenaria, com revestimentos de

    argamassa (um fornecedor diferente para cada prisma) nas duas faces do volume. Ainda, foi

    aplicada uma camada de acabamento com tinta econmica, material com alta permeabilidade

    gua se comparada a tintas base de resinas. O outro consistiu na fixao de uma cmara de

    estanqueidade que aplica simultaneamente jatos de ar e gua constantes em um prisma com

    dimenses maiores, construdo da mesma forma que as demais paredes (menores). Como

    estes dois ensaios fornecem dados acerca do desempenho quanto estanqueidade do sistema e

    da argamassa de forma isolada, resolveu-se avali-la atravs de um teste destrutivo, o Mtodo

    de Kelham (desenvolvido para avaliar o comportamento do concreto quanto suco de

    gua), em busca de um ponto em comum entre as argamassas ensaiadas. Este mtodo analisa

    a absortividade de corpos de prova extrados dos prismas, pela submerso dos mesmos em

    gua seguida de sua pesagem (em certos intervalos de tempo), para avaliar a evoluo da

    absoro pelo material. Sua aplicao corroborou com os resultados dos demais ensaios: o

    revestimento argamassado sem um acabamento de baixa permeabilidade altamente poroso e

    permevel. Assim, pde-se chegar concluso que a falta de uma camada de tinta eficaz (de

    baixa permeabilidade) tem como consequncia a entrada de gua no conjunto. Concluiu-se

    tambm que, para a avaliao realizada neste trabalho, os ensaios preconizados na NBR

    15575-4/2010 no foram totalmente eficazes para avaliar a estanqueidade dos sistemas de

    revestimentos de argamassa utilizados, fornecendo apenas indicativos do desempenho do

    sistema, uma vez que as descries dos testes demonstraram-se deficientes em detalhamento e

    especificaes.

    Palavras-chave: Ensaios de estanqueidade. NBR 15575-4/2010. Mtodo de Kelham.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Diagrama das etapas do projeto de pesquisa .................................................. 17

    Figura 2 Camadas dos revestimentos de argamassa ..................................................... 25

    Figura 3 Relao entre o dimetro do poro e a absoro capilar .................................. 31

    Figura 4 Fatores que influenciam na penetrao da umidade ....................................... 33

    Figura 5 Panos corridos verticalmente .......................................................................... 35

    Figura 6 Diagrama dos fluxos de gua em detalhes com diferentes geometrias ........... 36

    Figura 7 Prismas de dimenses 0,90x0,60m com argamassa aplicada ......................... 39

    Figura 8 Prismas de dimenses 1,50x1,00m para realizao dos trs ensaios .............. 40

    Figura 9 Esquema correlacionando fornecedores, ensaios e prismas ........................... 41

    Figura 10 Prismas prontos para os ensaios .................................................................... 41

    Figura 11 Caixas do ensaio fixadas nos prismas ........................................................... 43

    Figura 12 Caixa com bureta graduada ........................................................................... 43

    Figura 13 Cmara fixada ao prisma .............................................................................. 45

    Figura 14 Pontos de corpos de prova extrados ............................................................. 46

    Figura 15 Esquema de vedao dos corpos de prova para Mtodo de Kelham ............ 47

    Figura 16 Corpos de prova selados e vedados .............................................................. 47

    Figura 17 Dispositivo metlico acoplado na balana hidrosttica para pesagem dos corpos-de prova midos ..................................................................................... 48

    Figura 18 Mancha de gua do sistema de revestimento: fornecedor A, lado 1 ............. 51

    Figura 19 Mancha de gua do sistema de revestimento: fornecedor A, lado 2 ............. 51

    Figura 20 Mancha de gua do sistema de revestimento: fornecedor B, lado 1 ............. 52

    Figura 21 Mancha de gua do sistema de revestimento: fornecedor B, lado 2 ............. 52

    Figura 22 Mancha de gua do sistema de revestimento: fornecedor C, lado 1 ............. 53

    Figura 23 Mancha de gua do sistema de revestimento: fornecedor C, lado 2 ............. 53

    Figura 24 Mancha de gua do sistema de revestimento: prisma grande aps 6 horas .. 54

    Figura 25 Anlise termogrfica da parede durante o ensaio da cmara ........................ 56

    Figura 26 Anlise termogrfica da parede aps 5 horas de ensaio (cmara) ................ 56

    Figura 27 Anlise da mancha na face da parede em contato com a cmara ................. 57

    Figura 28 Localizao dos pontos de extrao dos corpos de prova (prismas menores) ............................................................................................................. 58

    Figura 29 Localizao dos pontos de extrao dos corpos de prova (prisma maior) .... 58

    Figura 30 Legenda dos pontos de extrao demonstrados nos grficos ........................ 60

    Figura 31 Ganho de massa de gua em funo de t para argamassa do fornecedor A aplicada sobre substrato (bloco cermico e argamassa de assentamento) ......... 63

  • Figura 32 Ganho de massa de gua em funo de t para argamassa do fornecedor B aplicada sobre substrato (bloco cermico e argamassa de assentamento) ......... 64

    Figura 33 Ganho de massa de gua em funo de t para argamassa do fornecedor C aplicada sobre substrato (bloco cermico e argamassa de assentamento) ......... 65

    Figura 34 Ganho de massa de gua em funo de t para argamassa do fornecedor B aplicada no prisma de maior dimenso sobre substrato (bloco cermico e

    argamassa de assentamento) .............................................................................. 66

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Critrios gerais de classificao dos revestimentos ...................................... 20

    Quadro 2 Atividades e equipamentos de produo das argamassas ............................. 28

    Quadro 3 Propriedades das argamassas dos fornecedores A, B e C ............................. 38

    Quadro 4 Relao entre ensaios aplicados e (a) fornecedores; (b) tamanhos dos prismas ............................................................................................................... 40

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Dimenses e massa seca dos corpos de prova: fornecedor A ........................ 59

    Tabela 2 Dimenses e massa seca dos corpos de prova: fornecedor B ......................... 59

    Tabela 3 Dimenses e massa seca dos corpos de prova: fornecedor C ......................... 59

    Tabela 4 Dimenses e massa seca dos corpos de prova: fornecedor B (prisma grande) ................................................................................................................ 59

    Tabela 5 Resistncia capilar dos corpos de prova da argamassa do fornecedor A ....... 63

    Tabela 6 Resistncia capilar dos corpos de prova da argamassa do fornecedor B ....... 64

    Tabela 7 Resistncia capilar dos corpos de prova da argamassa do fornecedor C ....... 65

    Tabela 8 Resistncia capilar dos corpos de prova da argamassa do fornecedor B (prisma grande) .................................................................................................. 66

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................................... 13

    2 DIRETRIZES DA PESQUISA .................................................................................. 15

    2.1 QUESTO DE PESQUISA ....................................................................................... 15

    2.2 OBJETIVOS DA PESQUISA .................................................................................... 15

    2.2.1 Objetivo principal ................................................................................................. 15

    2.2.2 Objetivos secundrios ........................................................................................... 15

    2.3 DELIMITAES ...................................................................................................... 16

    2.4 LIMITAES ............................................................................................................ 16

    2.5 DELINEAMENTO .................................................................................................... 16

    3 REVESTIMENTOS DE FACHADA ........................................................................ 19

    3.1 CLASSIFICAO ..................................................................................................... 19

    3.2 VIDA TIL ................................................................................................................ 21

    3.3 DESEMPENHO ......................................................................................................... 22

    4 CARACTERIZAO DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA .................. 24

    4.1 CAMADAS DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA ..................................... 24

    4.1.1 Emboo ................................................................................................................... 25

    4.1.2 Reboco .................................................................................................................... 26

    4.1.3 Massa nica ............................................................................................................ 26

    4.1.4 Chapisco ................................................................................................................. 26

    4.2 PRODUO DE REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA ..................................... 27

    4.3 PROPRIEDADES ...................................................................................................... 29

    5 ESTANQUEIDADE .................................................................................................... 30

    5.1 MECANISMOS DE INFILTRAO DE GUA .................................................... 30

    5.2 PENETRAO DE GUA DA CHUVA ................................................................. 32

    5.3 INFLUNCIA DOS DETALHES ARQUITETNICOS E CONSTRUTIVOS EM

    FACHADAS ................................................................................................................ 34

    6 PROGRAMA EXPERIMENTAL ............................................................................. 37

    6.1 PLANEJAMENTO E PREPARAO DOS CORPOS DE PROVA ....................... 37

    6.2 ENSAIOS REALIZADOS ......................................................................................... 41

    6.2.1 Mtodo do anexo D da NBR 15575-4 ................................................................... 42

    6.2.2 Mtodo do anexo C da NBR 15575-4 ................................................................... 44

    6.2.3 Mtodo de Kelham ................................................................................................ 45

    7 APRESENTAO E NALISE DOS RESULTADOS ......................................... 50

  • 7.1 MTODO DO ANEXO D DA NBR 15575-4 ........................................................... 50

    7.2 MTODO DO ANEXO D DA NBR 15575-4 ........................................................... 55

    7.3 MTODO DE KELHAM .......................................................................................... 57

    8 CONCLUSES ........................................................................................................... 67

    REFERNCIAS ............................................................................................................... 68

    APNDICE A .................................................................................................................. 70

  • __________________________________________________________________________________________

    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

    13

    1 INTRODUO

    Devido importncia das funes exercidas pelas fachadas e seus constituintes, observa-se

    que o segmento da construo civil precisa aumentar sua preocupao com os revestimentos

    externos das edificaes, compatibilizando projeto, mo de obra, sistemas construtivos e

    materiais necessrios para a realizao dos mesmos. Isso pode ser notado pela grande

    incidncia de problemas como descolamentos, fissuras, aparecimento de microrganismos e

    presena de umidade, gerados pela falta de cuidado com a etapa de revestimento da

    construo.

    A execuo dos revestimentos de fachada de grande complexidade, j que esta varia em

    fatores como composio e desempenho, tornando-a peculiar para cada uso e funo. A

    variabilidade dos materiais disponveis no mercado leva os engenheiros a optarem por

    solues empricas, com resultados imprevistos, dificultando as etapas de projeto, execuo e

    controle de qualidade.

    Os revestimentos externos so os primeiros componentes da edificao a sofrerem a ao dos

    agentes agressivos, dentre eles o vento, a chuva, a emisso de gases, a poeira, a temperatura

    ambiente e a radiao solar. Portanto, tm como funo proteger a estrutura da edificao

    contra esses agentes, aumentando sua durabilidade e reduzindo os custos com sua

    manuteno.

    Para Petrucci (2000, p. 1-2), a necessidade de durabilidade dos edifcios contrasta com a ideia

    de envelhecimento. Os edifcios sofrem desgastes causados tanto pelo homem como pela

    natureza, com o passar do tempo, e os materiais que compe as edificaes esto sujeitos a

    processos fsicos, qumicos e biolgicos resultando em uma deteriorao contnua. O ciclo de

    vida das construes e de seus materiais determinado pelas condies ambientais s quais

    esto submetidos, e assim, sofrem constantes mudanas com o tempo.

    Para avaliar os efeitos da agressividade dos agentes mencionados nos materiais utilizados na

    construo, diversos laboratrios vm, ao longo do tempo, desenvolvendo diferentes mtodos

    de ensaios que auxiliam no seu estudo e compreenso, buscando simular situaes cada vez

    mais prximas realidade. Com os resultados destes ensaios, possvel atuar na melhoria do

  • __________________________________________________________________________________________

    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

    14

    desempenho dos materiais contra os problemas decorrentes das aes prejudiciais do meio em

    que se encontram, e buscar uma reduo no aparecimento das manifestaes patolgicas.

    Um estudo realizado no IPT em edificaes habitacionais verificou que grande parte das

    manifestaes observadas decorria da infiltrao, independentemente da idade da construo

    (IOSHIMOTO, 1988). Esta ocorre pelo desempenho inadequado de uma das propriedades do

    revestimento externo: a estanqueidade. Cuidados na execuo da edificao, como pelo uso

    de detalhes construtivos, entre outros, pode auxiliar a evitar a presena desta manifestao que

    com frequncia atrapalha o conforto dos usurios e por vezes a segurana das edificaes.

    Diante disso, este trabalho tem como objetivo avaliar os mtodos de ensaio fornecidos pela

    norma de desempenho NBR 15575-4 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS

    TECNICAS, 2010a) quanto estanqueidade, por meio da verificao do desempenho de

    revestimentos externos produzidos com argamassas industrializadas. Com amostras desses

    materiais, foram feitas simulaes em laboratrio de sistemas de revestimento, formados

    por paredes de alvenaria. Para conseguir resultados fiis ao cenrio real, os ensaios foram

    feitos em prismas de blocos cermicos, nos quais foram aplicadas camadas de argamassa de

    revestimento externo de diferentes fornecedores e pintura em tinta base de cal, como

    acabamento.

    Alm deste captulo inicial de introduo, o trabalho formado pelo captulo 2, que descreve

    as diretrizes da pesquisa, como objetivos e hiptese do trabalho. Em seguida, encontram-se os

    captulos de pesquisa bibliogrfica: o captulo 3, contendo uma viso geral sobre

    revestimentos de fachada; o captulo 4, com uma viso mais especfica sobre revestimentos de

    argamassa e sua caracterizao; e o captulo 5, que explica a estanqueidade e como evitar a

    penetrao de gua na edificao. Assim, os captulos seguintes englobam a parte prtica do

    trabalho: no captulo 6, encontra-se o programa experimental, no qual esto descritos os

    ensaios realizados e a preparao dos mesmos; no captulo 7, a obteno e anlise dos

    resultados obtidos nos ensaios; e, finalmente, no captulo 8, as concluses obtidas com o

    desenvolvimento deste trabalho.

  • __________________________________________________________________________________________

    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

    15

    2 DIRETRIZES DA PESQUISA

    As diretrizes para desenvolvimento do trabalho so apresentadas nos prximos itens.

    2.1 QUESTO DE PESQUISA

    A questo de pesquisa do trabalho : os ensaios presentes na norma de desempenho

    NBR 15575-4/2010 referentes estanqueidade so adequados para a anlise de sistemas de

    vedao compostos por revestimentos externos executados com argamassa industrializada,

    aplicadas sobre blocos cermicos, com acabamento em pintura com tinta econmica, base

    de cal?

    2.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

    Os objetivos da pesquisa esto classificados em principal e secundrio e so descritos a

    seguir.

    2.2.1 Objetivo principal

    O objetivo principal do trabalho a verificao da possibilidade de uso dos ensaios presentes

    na NBR 15575-4/2010 referentes estanqueidade para a anlise proposta de desempenho de

    sistemas de vedao compostos por revestimentos externos executados com argamassa

    industrializada, aplicadas sobre blocos cermicos, com acabamento em pintura com tinta

    econmica base de cal.

    2.2.2 Objetivos secundrios

    Os objetivos secundrios do trabalho so a anlise da:

  • __________________________________________________________________________________________

    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

    16

    a) influncia do fabricante de argamassas industrializadas no desempenho quanto

    estanqueidade do sistema de vedao vertical;

    b) influncia do fabricante na absortividade das argamassas.

    2.3 DELIMITAES

    O trabalho delimita-se a avaliar revestimentos externos executados com as argamassas

    industrializadas (fornecidas em sacos) comumente usadas nas edificaes de Porto Alegre.

    2.4 LIMITAES

    So limitaes do trabalho:

    a) os substratos que receberam os revestimentos argamassados foram

    confeccionados por blocos cermicos de mesmo fornecedor;

    b) a avaliao do desempenho quanto estanqueidade foi realizada com

    argamassas industrializadas de trs diferentes fornecedores;

    c) para o acabamento em pintura, foi utilizada tinta econmica base de cal;

    d) o ensaio da cmara foi executado no sistema de revestimento constitudo por

    apenas uma marca de argamassa.

    2.5 DELINEAMENTO

    O trabalho foi realizado atravs das etapas apresentadas a seguir, que esto representadas na

    figura 1, e so descritas nos prximos pargrafos:

    a) pesquisa bibliogrfica;

    b) elaborao do programa experimental;

    c) caracterizao dos testes de estanqueidade;

    d) preparao dos ensaios;

    e) realizao dos ensaios;

    f) obteno e anlise de resultados;

    g) concluses.

  • __________________________________________________________________________________________

    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

    17

    Figura 1 Diagrama das etapas do projeto de pesquisa

    (fonte: elaborado pela autora)

    Durante a pesquisa bibliogrfica, buscou-se aprofundar o conhecimento sobre os

    revestimentos externos e mecanismos de entrada de gua, alm do estudo dos diversos ensaios

    utilizados para poder avaliar a estanqueidade dos revestimentos de argamassa. Como a

    pesquisa bibliogrfica a base terica do projeto, foi fonte de informaes para dar suporte s

    concluses, e foi realizada desde o incio at o fechamento do trabalho.

    A primeira etapa prtica do trabalho foi a elaborao do programa experimental. A escolha

    das argamassas e do acabamento a serem utilizados nos testes primordial para a obteno de

    resultados que sejam fiis ao cenrio real e para ajudar a adquirir os resultados visados. Nessa

    etapa, definiu-se o nmero de prismas a serem executados, alm dos fabricantes das

    argamassas de revestimento e do sistema de pintura que seria utilizado para fazer o

    acabamento. Em adio, definiram-se os tempos necessrios para preparo dos prismas e

    realizao dos testes, e quais ensaios seriam utilizados.

  • __________________________________________________________________________________________

    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

    18

    Aps a seleo dos materiais para execuo dos testes e a definio dos tempos para execut-

    los, foi feita a caracterizao dos testes de estanqueidade, quando se fez uma anlise mais

    detalhada dos requisitos e critrios de avaliao da estanqueidade de sistemas de vedao

    vertical da NBR 15575-4/2010, ou seja, aparelhos necessrios para os ensaios e diretrizes a

    serem seguidas para a realizao dos mesmos. Nesta etapa, decidiu-se executar mais um

    ensaio (destrutivo, pelo Mtodo de Kelham) para comparao com os resultados dos outros

    ensaios.

    Quando j haviam sido definidos os materiais e revistos os ensaios e parmetros necessrios,

    foi feita a preparao dos ensaios. Primeiramente, foram montados os prismas que serviram

    de base nos ensaios, sendo estes executados com blocos cermicos. Foram executadas trs

    mini paredes e uma parede maior para a aplicao dos diferentes ensaios. Sobre cada prisma,

    aplicou-se a argamassa de revestimento de um dos trs fabricantes correspondentes (com

    aplicao em ambos os lados nas paredes menores) seguida do acabamento em pintura feito

    com tinta base de cal. Assim que os prismas estavam prontos para serem ensaiados, iniciou-

    se a etapa de realizao dos ensaios, quando foram executados os testes de estanqueidade

    mencionados na Norma, e o ensaio pelo Mtodo de Kelham.

    Com o trmino dos ensaios, iniciou-se a etapa de obteno e anlise de resultados, quando

    foram registrados os resultados obtidos pelos testes para comparao entre eles e verificao

    de qualquer presena de variao. A ltima etapa foi a das concluses, quando se analisou se

    os resultados obtidos nos testes foram conclusivos, e se os objetivos do trabalho foram

    alcanados.

  • __________________________________________________________________________________________

    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

    19

    3 REVESTIMENTOS DE FACHADA

    Polisseni (1986, p. 40-41) caracteriza o revestimento como o recobrimento da superfcie da

    parede, em uma ou mais camadas de espessura uniforme, executado com um mesmo material

    ou materiais distintos, que tem como finalidade a proteo ou o embelezamento. J Sabbatini

    (1990) designa aos revestimentos as funes de:

    a) proteo da estrutura e das vedaes contra a ao de agentes agressivos,

    evitando a degradao precoce das mesmas, e consequentemente, aumentando

    a durabilidade e reduzindo os custos de manuteno dos edifcios;

    b) isolamento termoacstico, estanqueidade gua e aos gases e segurana ao

    fogo;

    c) esttica e acabamento, pela valorizao da construo e determinao do

    padro do edifcio.

    Este ainda salienta que, embora muitas vezes utilizados para isto, no funo dos

    revestimentos dissimular imperfeies grosseiras das alvenarias ou das estruturas de concreto

    armado. Ao fazer a correo por meio do revestimento, problemas como ineficincia tcnica e

    ausncia de controle na execuo das etapas precedentes acabam sendo mascarados.

    Para que a escolha do revestimento a ser utilizado seja feita de forma correta, necessrio

    compreender como utiliz-los e o que exigido dos mesmos. Sendo assim, os itens a seguir

    constituem uma caracterizao dos revestimentos de acordo com a sua classificao, vida til

    e desempenho exigido pelos usurios, deixando mais clara esta seleo de acordo com o

    cenrio no qual ser aplicado.

    3.1 CLASSIFICAO

    Sabbatini et al. (2003, p. 6) classificam os revestimentos segundo os seguintes critrios:

    superfcie a revestir, ambiente de exposio, mecanismo de fixao base, continuidade

    superficial e materiais, conforme demonstrado no quadro 1. Segundo Maciel et al. (1998, p.

    11-12), o revestimento deve apresentar caractersticas prprias em funo do tipo de critrio

    considerado, resultando em comportamentos variados nas diversas situaes.

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    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

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    Quadro 1 Critrios gerais de classificao dos revestimentos

    Critrio de classificao Tipo

    Superfcie a revestir

    Vedao horizontal inferior (piso)

    Vedao horizontal superior (teto)

    Vedao vertical (parede)

    Ambiente de exposio

    Internos: reas secas ou molhadas

    Externos (fachada)

    Mecanismo de fixao base

    Aderentes

    Fixados por dispositivos

    No aderentes

    Continuidade superficial

    Monolticos ou contnuos

    Modulares

    Materiais

    Monolticos

    Modulares

    (fonte: adaptado de MACIEL et al., 1998, p. 11)

    Dentre os revestimentos com fixao aderente, encontram-se os revestimentos cermicos e os

    de argamassa. J na classificao de no aderido, entram aqueles fixados base com auxlio

    de componentes mecnicos, como insertos ou parafusos, alm daqueles que ficam

    simplesmente apoiados.

    Com relao continuidade superficial (que se refere visibilidade das juntas), as

    especificaes recebem a mesma denominao que a criada para diferenciar o tipo de

    material. A classificao da continuidade monoltica utilizada quando no h juntas

    aparentes, ou seja, em revestimentos de argamassas e pastas com aplicao de pintura ou

    textura, ou em argamassas pigmentadas (como a monocapa); usa-se a mesma ideia para a

    descrio dos materiais monolticos. A continuidade modular constituda por juntas

    aparentes, que esto presentes em materiais modulares, como por exemplo, cermicas, rochas,

    madeiras e sintticos (SABBATINI et al., 2003, p. 10-11).

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    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

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    Este trabalho foca nos revestimentos de argamassa utilizados nas fachadas. Desta forma,

    considerando as classificaes mencionadas, o estudo limita-se aos revestimentos de vedao

    vertical, externos, aderentes e monolticos.

    3.2 VIDA TIL

    A NBR 15575-1 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS, 2010b, p. 23-

    24) conecta a durabilidade do edifcio e de seus sistemas com a exigncia econmica do

    usurio, j que reflete no custo global do bem imvel. Alm disso, estabelece que, desde que

    realizadas intervenes peridicas de manuteno e conservao, o edifcio deve manter a

    capacidade funcional durante a vida til prevista em projeto sem os sinais de desgaste. De

    acordo com a Norma:

    A durabilidade de um produto se extingue quando ele deixa de cumprir as funes

    que lhe forem atribudas, quer seja pela degradao que o conduz a um estado

    insatisfatrio de desempenho, quer seja por obsolescncia funcional. O perodo de

    tempo compreendido entre o incio de operao ou uso de um produto e o momento

    em que o seu desempenho deixa de atender as exigncias do usurio pr-

    estabelecidas denominado vida til.

    Para Polisseni (1986, p. 52), a vida til de uma edificao estritamente relacionada com a

    vida til dos materiais que a compem. Se a manuteno (ou reposio) de um componente da

    estrutura restrita, o acesso da rea for limitado (ou at inacessvel), ou o processo em si for

    antieconmico, este componente deve ter uma vida til igual a do edifcio. No caso de um

    componente que apresente facilidades no processo e o custo seja baixo, este pode apresentar

    uma vida til inferior da edificao j que, com a manuteno, a integridade da estrutura no

    comprometida.

    Kazmierczac (1989, p. 18-20) ressalta que a degradao da edificao ao longo do tempo

    reflexo da perda do desempenho inicial dos componentes. O desempenho efetivo acaba

    ficando abaixo dos nveis mnimos aceitveis, o que considerado como o fim de sua vida

    til. Por isso, a anlise de desempenho dos materiais antes da aplicao na estrutura

    importante para verificar se determinado componente ou material, destinado a uma

    determinada funo, o mais adequado, tornando-se aliada da metodologia de normalizao,

    possibilitando a avaliao de novos produtos e tcnicas, alm da verificao do super ou

    subdimensionamento de materiais j consagrados.

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    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

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    necessrio salientar que se no for definida uma vida til de projeto (que a vida til

    requerida pelo usurio estabelecida antes da execuo do edifcio), a tendncia de escolha a

    de menor custo inicial, sendo esta, normalmente, menos durvel e de maior custo de

    manuteno, provocando um maior custo global. Na deciso da vida til de projeto,

    importante analisar a situao encontrada: se a obra for provisria ou o componente escolhido

    for facilmente substitudo, o usurio pode optar por uma vida til menor, com um menor custo

    inicial, desde que se comprometa a realizar as manutenes necessrias. Se esta etapa no for

    cumprida, eventuais manifestaes patolgicas podem surgir do uso inadequado, no sendo

    derivadas de uma construo falha (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS

    TECNICAS, 2010b, p. 38-39).

    3.3 DESEMPENHO

    Segundo Lichtenstein1 (1986 apud MELO JR., 2010, p. 20), o desempenho o resultado da

    interao entre as aes externas e a capacidade do edifcio em reagir a estes fatores

    tambm denominados agentes agressivos. Polisseni (1986, p. 43-54) explica que o conjunto

    desses agentes atuando sobre o edifcio, durante sua vida til, denomina-se condies de

    exposio. Quando submetidos a essas condies, os revestimentos de fachada devero

    atender a certos requisitos e critrios de desempenho pr-estabelecidos. Aps a definio dos

    requisitos e critrios a serem atendidos pelo edifcio, seus componentes e elementos, so

    necessrios mtodos de avaliao para constatar se tais produtos seguem as condies

    impostas previamente.

    A NBR 15575-4 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 2010a)

    menciona que os sistemas de vedaes verticais internas e externas dos edifcios integram-se

    aos demais elementos da construo, recebendo influncias e influenciando no desempenho

    destes. As vedaes verticais exercem funes muito importantes na edificao, como a

    estanqueidade a gua e a isolao trmica e acstica. Assim, a Norma lista e descreve os

    requisitos mnimos de desempenho exigidos considerados importantes nesta parte da obra, e

    dentre eles esto:

    1 LICHTENSTEIN, N. B. Patologia das construes. So Paulo: Escola Politcnica da Universidade de So

    Paulo, 1986. Boletim tcnico n. 6.

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    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

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    a) segurana estrutural, que inclui resistncia mecnica, deslocamentos, fissuras e

    descolamentos;

    b) segurana contra incndio;

    c) estanqueidade;

    d) desempenhos trmico, acstico e lumintico;

    e) durabilidade e manutenibilidade.

    Kazmierczac (1989, p. 17-18) lembra que na busca da melhora do desempenho de um

    componente, devem ser consideradas todas as exigncias a serem atendidas em conjunto. Um

    desempenho otimizado perante um determinado requisito no leva necessariamente

    otimizao de todas as caractersticas do material.

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    4 CARACTERIZAO DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

    Maciel et al. (1998, p. 2) afirmam que os revestimentos de argamassa precisam apresentar um

    conjunto especfico de propriedades relativas aos seus estados fresco e endurecido para

    que cumpram adequadamente as suas funes. Somente aps entender essas propriedades e os

    fatores que influenciam a sua obteno, possvel prever o comportamento do revestimento

    nas diferentes situaes nas quais ser utilizado. Dentre as propriedades relacionadas com o

    estado fresco, esto a trabalhabilidade, a reteno de gua e a aderncia inicial; no estado

    endurecido, necessrio analisar aspectos como a aderncia, a capacidade de absorver

    deformaes, a resistncia mecnica, a estanqueidade e a durabilidade.

    Os revestimentos de argamassa variam de acordo com a necessidade e as condies

    disponveis para o uso. A escolha deve ser baseada num conjunto de caractersticas que

    auxiliem na obteno de um revestimento que atinja um desempenho desejado, incluindo as

    condies de exposio (interno ou externo) e o plano de aplicao (vertical ou horizontal).

    Os itens a seguir auxiliam no esclarecimento dessas caractersticas classificando os

    revestimentos de acordo com o nmero de camadas constituintes, a produo das argamassas

    (industrializada, preparada em obra ou fornecida em silos) e as funes e propriedades

    requisitadas durante e aps sua aplicao.

    4.1 CAMADAS DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

    Como mencionado no captulo anterior, os revestimentos de argamassa podem ser formados

    por somente uma camada, denominada massa nica, ou por duas camadas, chamadas de

    emboo e reboco. Maciel et al. (1998, p. 12) explicam que, nos revestimentos constitudos

    por uma nica camada, a mesma deve cumprir as funes de regularizao da base e

    acabamento, diferentemente dos de duas camadas, nos quais cada uma cumpre uma das

    funes o emboo a camada que regulariza a base e o reboco d o acabamento. Em ambos

    os casos, o revestimento pode ser aplicado sobre uma camada de preparo da base, denominada

    chapisco. De forma opcional, pode-se ter a aplicao de um acabamento decorativo sobre a

    sua superfcie. O posicionamento das camadas est ilustrado na figura 2.

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    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

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    Figura 2 Camadas dos revestimentos de argamassa

    (fonte: MACIEL et al., 1998, p. 12)

    Sabbatini (1990) fundamenta a escolha do uso de uma ou duas camadas no conhecimento das

    condies e natureza da base (sobre a qual ser aplicado), dos materiais disponveis para a

    produo e da espessura necessria no local de aplicao. Para que o uso de cada sistema de

    revestimento fique mais claro, so descritas brevemente, a seguir, as funes e caractersticas

    de cada um deles.

    4.1.1 Emboo

    O emboo, ou massa grossa, uma camada cuja principal funo a regularizao da

    superfcie na qual ser executado o revestimento, e se destina a receber as camadas

    posteriores (reboco ou outro revestimento final). Como aplicado diretamente sobre a base,

    esta deve ser previamente preparada (com ou sem chapisco, pela limpeza e escovao da

    superfcie onde ser executado), e a espessura mdia da camada deve estar em torno de 30

    milmetros. Alm disso, a porosidade e a textura superficial devem ser compatveis com a

    capacidade de aderncia do acabamento final previsto e ambas so caractersticas

    determinadas pela granulometria dos materiais e pela tcnica de execuo (SABBATINI,

    1990).

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    4.1.2 Reboco

    Segundo a NBR 13529 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 1995), o

    reboco uma camada de revestimento utilizada para cobrir o emboo, propiciando uma

    superfcie que permita o recebimento do revestimento decorativo ou do acabamento final. Por

    isso, sua espessura constituda de apenas uma pelcula contnua e ntegra, no ultrapassando

    5 milmetros. Para Sabbatini (1990), a argamassa deve apresentar elevada capacidade de

    absorver deformaes, pois como a pintura aplicada diretamente sobre este, o mesmo no

    deve apresentar fissuras, principalmente em aplicaes externas. Do mesmo modo, por estar

    sujeito ao desgaste superficial (provocado por atividades do usurio ou por agentes

    agressivos), deve apresentar resistncia que lhe garanta o mnimo de danos.

    4.1.3 Massa nica

    Sabbatini (1990) descreve a massa nica (tambm conhecida como emboo paulista) como

    sendo o revestimento seguido de acabamento, executado em uma nica camada. Para que seja

    utilizada, necessrio ter os materiais apropriados, alm da disponibilidade de mo de obra

    capacitada. Neste caso, a argamassa utilizada e a tcnica de execuo devero resultar em um

    revestimento capaz de cumprir as funes de regularizao da base e acabamento que, no de

    duas camadas, so divididas entre o emboo e o reboco.

    O autor menciona que para o uso deste revestimento, a base deve ter como caracterstica

    principal a sua capacidade de aderncia, e a argamassa deve ser compatvel tanto com a base

    como com o acabamento especificado. Principalmente quando aplicada em paredes externas,

    a massa nica no deve apresentar fissuras, j que alm de comprometerem a esttica do

    acabamento, estas podem ser um meio para a penetrao de gua da chuva, prejudicando a

    aderncia, a durabilidade e a estanqueidade da vedao. importante ressaltar que este tipo

    de revestimento muito aplicado nos dias de hoje na cidade de Porto Alegre.

    4.1.4 Chapisco

    A norma NBR 13529 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 1995)

    descreve o chapisco como uma camada de preparo da base, aplicada de forma contnua ou

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    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

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    descontnua. Por ser uma camada opcional, dependente das caractersticas da base, no deve

    ser considerado como camada de revestimento. Seu uso objetiva uniformizar a superfcie

    quanto absoro e melhorar a aderncia entre a base e a primeira camada do revestimento,

    que so limitadas na presena de superfcies muito lisas e/ou com porosidade inadequada,

    bases com suco muito alta ou muito baixa, e revestimentos sujeitos a condies de

    exposio mais severas, como o caso dos revestimentos externos.

    4.2 PRODUO DE REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

    Kazmierczac (1989, p. 47-49) define argamassa como um material constitudo da combinao

    de agregado mido (materiais inertes de baixa granulometria) e de uma pasta com

    propriedades aglomerantes. A baixa granulometria serve para uma maior reteno de gua

    por ter maior superfcie de contato do que as partculas grossas j que se uma argamassa

    contm poucos finos, ela sedimenta-se facilmente e as partculas grossas atritam-se entre si,

    prejudicando a trabalhabilidade.

    Como neste trabalho foram utilizadas somente argamassas industrializadas, importante

    situ-las dentre os diferentes tipos de argamassas produzidas para a execuo dos

    revestimentos nas edificaes. Maciel et al. (1998, p. 16-19) esclarecem que, quanto sua

    produo, a argamassa pode ser preparada em obra ou industrializada (fornecida em sacos ou

    em silos) e cada um desses tipos interfere na escolha das ferramentas e equipamentos

    necessrios, bem como na organizao adequada do prprio canteiro de obras e na sequncia

    de produo, como demonstra o quadro 2. Ademais, lembram que preciso considerar a

    possibilidade de uso e a disponibilidade de equipamentos para fazer o transporte da argamassa

    at o local de aplicao.

    Conforme explicado pelos autores, a argamassa dosada em obra e a industrializada podem ser

    transportadas por elevador, guincho de coluna externo ou grua, alm da possvel execuo no

    prprio pavimento no qual ser executado o revestimento. No caso da argamassa fornecida

    em silos, o material em p transportado por mangueiras at o equipamento de mistura,

    localizado no pavimento onde ser aplicado o revestimento, ou tambm pode ser misturada

    em um equipamento acoplado ao prprio silo e depois transportada pelo elevador, pelo

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    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

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    guincho externo de coluna, ou pela grua, como nos outros tipos de argamassa, e at com

    preparo no prprio silo com transporte feito por mangotes.

    Quadro 2 Atividades e equipamentos de produo das argamassas

    Argamassa Atividades Equipamentos

    Preparada em obra

    Medio das quantidades dos

    materiais constituintes; transporte

    dos materiais at o equipamento de

    mistura; colocao dos materiais no

    equipamento; mistura.

    Equipamento de mistura

    (betoneira ou argamassadeira);

    recipientes para a medio dos

    materiais; ps; e peneiras para

    eliminar torres e materiais

    estranhos ao agregado.

    Industrializada (fornecida em sacos)

    Colocao da quantidade

    especificada do material em p no

    equipamento de mistura; adio da

    gua.

    Equipamento de mistura

    (argamassadeira) e recipiente

    para a colocao da gua.

    Fornecida em silos

    A medio mecanizada, e a mistura

    pode ser feita por um equipamento

    acoplado no prprio silo ou por um

    equipamento de mistura especfico,

    localizado nos pavimentos do

    edifcio.

    Equipamento de mistura

    especfico.

    (fonte: adaptado de MACIEL et al., 1998, p. 16)

    A Associao Brasileira de Cimento Portland (2002) explica que as argamassas ensacadas

    utilizadas no desenvolvimento deste trabalho so fabricadas em complexos industriais, onde

    os agregados midos, os aglomerantes e os aditivos em p, so selecionados, misturados a

    seco e ensacados. Estas apresentam grande uniformidade de dosagem, por serem produzidas

    por processos industriais mecanizados e com controles rgidos de produo, o que significa

    que se pode conseguir a repetio de um trao com um grau de confiana satisfatrio.

    A mesma entidade destaca como vantagens (perante as outras produes) do uso da

    argamassa industrializada fornecida em sacos:

    a) a rea necessria para estoque pequena;

    b) o nico equipamento necessrio a argamassadeira;

    c) h uma grande variedade de fornecedores no mercado;

    d) o trao padronizado;

    e) a mo de obra necessria simples (transporte dos sacos e mistura mecnica).

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    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

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    4.3 PROPRIEDADES

    Conforme j mencionado no captulo sobre desempenho, os revestimentos de argamassa

    devem apresentar bons resultados em algumas propriedades especficas, para que possam

    cumprir suas funes adequadamente. Algumas das principais propriedades devem constar

    nos revestimentos de argamassa, segundo Sabbatini (1990), so:

    a) aderncia: possibilita ao revestimento manter-se fixo ao substrato, e resulta da

    combinao das resistncias de aderncia trao e ao cisalhamento, e da

    extenso de aderncia, que relaciona a rea de contato efetivo e a rea total da

    base revestida. Depende da trabalhabilidade da argamassa, da execuo do

    revestimento, da porosidade da base, e das condies de limpeza da superfcie

    de aplicao;

    b) resistncia mecnica: permite aos revestimentos suportar aes mecnicas de

    diferentes naturezas devido a esforos de abraso, cargas de impacto e

    movimentos de contrao e expanso por conta da umidade, que geram tenses

    internas e tendem a desagreg-los. Depende da tcnica de execuo e do tipo

    de agregado e aglomerante da argamassa empregada, pois aumenta com a

    reduo dos agregados e diminui com o aumento da relao gua/cimento;

    c) capacidade de absorver deformaes: permite que o revestimento absorva

    retraes e expanses trmicas e higroscpicas, alm de deformaes pequenas

    da base, sem apresentar fissurao visvel e desagregao. Depende da

    resistncia trao e do mdulo de deformao do revestimento, que auxilia na

    movimentao deste sem ruptura, ou atravs de microfissuras imperceptveis,

    quando as foras atuantes ultrapassam o limite de resistncia trao;

    d) durabilidade: capacidade dos revestimentos de argamassa de manter o

    desempenho de suas funes ao longo do tempo. Depende de todas as etapas da

    construo, desde o projeto (especificao os materiais e as composies de

    dosagem, compatibilizando o revestimento com as condies a que estar

    exposto durante sua vida til), at o uso, quando deve ser submetido a

    manutenes periodicamente;

    e) permeabilidade gua: propriedade dos revestimentos relacionada com a

    absoro capilar da estrutura porosa. Depende de fatores como o trao e

    natureza dos materiais constituintes da argamassa, a tcnica de execuo, a

    espessura da camada, a natureza da base e as fissuras existentes.

    importante destacar que o desempenho de algumas propriedades dos revestimentos de

    argamassa no s est ligado ao aparecimento de fissuras (se no for adequado), mas

    tambm diretamente afetado por estas. Como o trabalho est voltado para a estanqueidade dos

    revestimentos argamassados, a propriedade de permeabilidade gua est descrita de forma

    mais especfica no captulo 5.

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    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

    30

    5 ESTANQUEIDADE

    Segundo Polisseni (1986, p. 50), A estanqueidade a propriedade dos materiais,

    componentes ou elementos da edificao de no permitirem a penetrao da gua, sendo

    definida geralmente para determinadas condies de exposio.. Esta capacidade de admitir

    ou no a entrada de gua denominada permeabilidade do material.

    A permeabilidade est relacionada com a passagem de gua pelo revestimento, que um

    material poroso e por isso permite a penetrao da gua tanto em sua forma lquida como no

    estado de vapor, e est diretamente ligada ao conjunto base-revestimento. Essa propriedade

    depende da natureza da base, da composio e dosagem da argamassa, da tcnica de

    execuo, da espessura do revestimento e da presena de fissuras, pois quando o revestimento

    est fissurado, a estanqueidade da vedao fica comprometida por conter um caminho direto

    at a base para a percolao da gua (MACIEL et al., 1998, p. 8-9).

    Os valores de permeabilidade do revestimento tem importncia fundamental na estanqueidade

    do sistema vedao e no nvel de proteo contra chuvas que o mesmo deve oferecer base.

    Embora o revestimento de argamassa deva ser estanque gua, a permeabilidade ao vapor

    recomendvel por favorecer a secagem da umidade acidental ou de infiltrao, e para reduzir

    os riscos de umidade de condensao interna em regies de clima frio (SABBATINI, 1990).

    Para uma anlise mais profunda desta propriedade, os itens a seguir descrevem a maneira

    como a gua pode penetrar na edificao e como a chuva influencia nesse quesito. Alm

    disso, encontra-se a descrio de quais os detalhes construtivos que podem ajudar a evitar a

    infiltrao nas fachadas.

    5.1 MECANISMOS DE INFILTRAO DE GUA

    A entrada de gua nos materiais depende da presena de poros acessveis s molculas de

    gua, fissuras, fendas ou trincas em sua superfcie. Quando h umidade presente em parte de

    um material, a tendncia que esta se distribua por toda a sua massa. As foras que causam

    esse deslocamento dependem do estado fsico em que a gua se encontra: se est em forma

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    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

    31

    lquida, o movimento dado pela capilaridade e por foras externas; se em vapor de gua,

    move-se por difuso e por conveco (POLISSENI, 1986, p. 9-12).

    Um dos meios mais comuns pelos quais a gua transportada a capilaridade, tendo um

    destaque maior na umidade ascensional. Para que ocorra, preciso considerar as presenas da

    tenso superficial, das foras de aspirao ou expulso capilar e da formao de menisco de

    gua.

    Polisseni (1986, p. 17-21) esclarece que o transporte de gua por capilaridade consequncia

    da fora de aspirao capilar, que ocorre nos poros de um material hidrfilo, e resulta da

    combinao da tenso superficial da gua e da adeso das molculas de gua no poro. Quando

    essa adeso forte e o material facilmente molhado, o mesmo denominado hidrfilo;

    quando a gua no entra em contato com os poros do material com facilidade, ou seja, a

    adeso fraca, diz-se que o material hidrfugo.

    importante destacar que a nica fora capaz de se opor a essas foras a gravidade, e que

    quanto menor o dimetro do poro dos materiais ou a largura da fenda, maior o efeito de

    capilaridade. Essa relao entre o dimetro do poro e a fora de absoro capilar est

    representada na figura 3.

    Figura 3 Relao entre o dimetro do poro e a absoro capilar

    (fonte: adaptado de POLISSENI, 1986, p. 22)

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    Um ponto importante de ser mencionado que grande parte das manifestaes patolgicas

    nas fachadas surgem devido presena da umidade. Esta, em uma edificao, pode provir de

    diversas fontes, atuando isolada ou simultaneamente. De acordo com o Centre Scientifique et

    Tecnique de la Construction2 (1982 apud POLISSENI, 1986, p. 26), estas fontes que causam

    a umidade nas edificaes, podem ser classificadas como:

    a) ascensional (proveniente do solo);

    b) por absoro e penetrao da gua da chuva;

    c) de condensao;

    d) devido higroscopicidade dos materiais;

    e) acidental.

    Como as fachadas esto sempre expostas a intempries, a chuva tem grande influncia nas

    infiltraes de edificaes. Este trabalho foca na estanqueidade, relacionada diretamente com

    a chuva, pois se a fachada tiver um bom desempenho com relao a esta propriedade, a gua

    pluvial no poder infiltrar. Deste modo, o item a seguir explica como a penetrao por este

    meio ocorre, e como o vento pode interferir na entrada de gua pelo revestimento externo.

    5.2 PENETRAO DE GUA DA CHUVA

    Polisseni (1986, p. 27-28) associa a penetrao de gua da chuva nas fachadas das edificaes

    fundamentalmente a dois fatores climticos: a chuva e o vento. Sem a presena do vento, as

    paredes externas do edifcio pouco molhariam, j que a chuva cairia verticalmente. Alm

    disso, haveria pouca ou nenhuma diferena de presso entre o interior e o exterior do edifcio.

    Garden3 (1963 apud BAUER, 1987, p. 19-30) explica que, sob a influncia do vento,

    possvel que as gotas de chuva penetrem em aberturas de diversos tamanhos. Se as aberturas

    forem largas e o vento estiver em uma velocidade considervel, possvel que a gua penetre

    facilmente. Caso a abertura seja pequena, a gota ir se subdividir em gotculas devido ao

    impacto, e essas pequenas gotas tambm podem acabar penetrando pela abertura.

    2 CENTRE SCIENTIFIQUE ET TECHNIQUE DE LA CONSTRUCTION. Transport de lhumidit dans ls

    materiaux poreux. Bases Theoriques. CSTC Revue, Bruxelles, n. 1, p. 7-12, 1982.

    3 GARDEN, G. K. Rain penetration and its control. Ottawa: Canadian Building Digest, 1963.

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    em revestimentos de argamassa

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    Assim, esse mesmo autor sistematizou a penetrao da gua na ocorrncia simultnea de trs

    condies: gua sobre a superfcie da parede, aberturas atravs das quais a gua pode

    penetrar, e foras que obrigam a gua a penetrar pelas aberturas. Caso uma destas condies

    no ocorra, no haver a entrada de gua.

    O autor esclarece que a primeira condio depende da exposio da parede (chuva, vento e

    orientao), da absoro e capacidade de armazenagem de umidade dos materiais da

    superfcie e da taxa de precipitao de chuvas. A necessidade de existir aberturas pelas quais a

    gua possa penetrar (segunda condio) satisfeita devido porosidade dos materiais, alm

    do aparecimento de fissuras, rachaduras, interfaces e juntas mal executadas por onde pode

    ocorrer a infiltrao.

    Mesmo com o cumprimento das duas primeiras condies, a penetrao da gua no ocorrer

    a menos que uma fora (ou combinao de foras) seja capaz de induzir a gua a penetrar

    atravs das aberturas (terceira condio). Atravs da figura 4, possvel observar algumas das

    foras que impulsionam a gua pelas aberturas da parede.

    Figura 4 Fatores que influenciam na penetrao da umidade

    (fonte: adaptado de BAUER, 1987, p. 24; POYASTRO, 2011, p. 112)

    Segundo Petrucci (2000, p. 42), o volume de gua que escorre na fachada proporcional

    quantidade de chuva que incide sobre as superfcies da mesma, alm da eficincia dos

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    detalhes da construo mais expostos ao da gua da chuva que, ao receb-la, devem

    afast-la da fachada, protegendo as superfcies de sua incidncia. Assim, o item a seguir

    descreve alguns desses elementos arquitetnicos e construtivos que ajudam a evitar

    infiltraes que prejudicam a estanqueidade da edificao.

    5.3 INFLUNCIA DOS DETALHES ARQUITETNICOS E

    CONSTRUTIVOS EM FACHADAS

    Devido necessidade da construo civil de reduzir os custos, as formas das fachadas

    tornaram-se mais simplificadas, uma vez que isso implica num ganho de velocidade e de

    agilidade na execuo. Essa ideia fez com que a arquitetura criasse novos conceitos de

    esttica para as edificaes, tendo como caracterstica predominante as formas lineares, isto ,

    fachadas sem grandes detalhes, ressaltos, projees ou salincias. Sem o conhecimento de sua

    utilidade, a importncia dos detalhes construtivos s foi constatada a partir do momento em

    que estes elementos deixaram de fazer parte das edificaes (PEREZ4, 1988 apud

    POYASTRO, 2011, p. 93).

    Apesar da simplificao sofrida pelas fachadas ao longo do tempo, so cada vez mais raros os

    casos em que as superfcies destas so constitudas por um nico plano vertical, liso e

    contnuo. Grande parte das edificaes apresenta algum tipo de descontinuidade, por motivos

    de ordem esttica, construtiva, funcional e at mesmo de autoproteo. a geometria destes

    detalhes que faz com que as fachadas se exponham de maneira no uniforme aos agentes

    agressivos do ambiente (PETRUCCI, 2000, p. 34-35).

    Segundo Petrucci (2000, p. 35-50), panos corridos verticalmente, reentrantes ou salientes,

    contendo ou no aberturas, ficam parcialmente protegidos de fluxos inclinados e rasantes e

    dificultam a formao da lmina de escorrimento, alm de poderem sofrer interrupes pela

    alternncia de vos de abertura e parapeitos macios (figura 5). Para a autora as caractersticas

    principais que afetam o processo de formao das sujidades, e possuem maior influncia na

    trajetria da gua da chuva na superfcie, correspondem inclinao e defasagem dos planos

    da fachada com relao a um plano-base.

    4 PEREZ, A. R. Umidade nas edificaes: recomendaes para a preveno da penetrao de gua pelas

    fachadas. In: Tecnologia de edificaes. So Paulo: PINI/IPT, 1988, p. 571-578.

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    em revestimentos de argamassa

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    Figura 5 Panos corridos verticalmente

    (fonte: VALLEJO5, 1990 apud PETRUCCI, 2000, p. 50)

    Thomaz6 (1990 apud MELO JR., 2010, p. 92) explica que os elementos que influenciam na

    incidncia da chuva nas fachadas podem se apresentar em formas de detalhes arquitetnicos

    ou construtivos. Estes so capazes de reduzir em at 50% o fluxo de gua incidente sobre as

    superfcies da fachada. Os mesmos funcionam como mecanismo de interrupo do

    escorrimento de gua, projetando-a para distante dos elementos de vedao. Alguns destes

    detalhes redirecionam a gua de acordo com seu tamanho e geometria, como apresentado na

    figura 6.

    Embora esses detalhes construtivos e arquitetnicos sirvam para influenciar positivamente na

    estanqueidade da fachada e evitar infiltraes, para Poyastro (2011, p. 95), o detalhamento

    incorreto ou mal executado pode conduzir a concentraes ou canalizaes de gua sobre

    certas regies da parede, tornando-as expostas e vulnerveis degradao. Entretanto, como o

    foco do trabalho no engloba o detalhamento e dimensionamento destes detalhes, este assunto

    no ser aprofundado nesta pesquisa.

    5 VALLEJO, F. J. L. Ensuciamiento de fachadas por contaminacin atmosfrica: anlisis y prevencin.

    Valladolid: Universidad, Secretariado de Publicaciones, 1990.

    6 THOMAZ, E. Patologia. In: ASSOCIAO BRASILEIRA DA CONSTRUO INDUSTRIALIZADA

    (Org.). Manual tcnico de alvenaria. So Paulo: Ed. Projeto, 1990, p. 97-117.

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    Figura 6 Diagrama dos fluxos de gua em detalhes com diferentes geometrias

    (fonte: THOMAZ7, 1990 apud MELO JR., 2010, p. 93)

    7 THOMAZ, E. Patologia. In: ASSOCIAO BRASILEIRA DA CONSTRUO INDUSTRIALIZADA

    (Org.). Manual tcnico de alvenaria. So Paulo: Ed. Projeto, 1990, p. 97-117.

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    em revestimentos de argamassa

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    6 PROGRAMA EXPERIMENTAL

    A pesquisa experimental tem como caracterstica a execuo de ensaios que possibilitam

    determinar a relao entre causa e efeito de um determinado fenmeno. O programa

    experimental desta pesquisa teve como objetivo avaliar os ensaios sugeridos pela norma de

    desempenho NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade, analisando o desempenho de

    revestimentos externos produzidos com argamassas industrializadas com aplicao de camada

    de tinta econmica. Buscando correlacionar a permeabilidade da argamassa aplicada sobre

    substrato poroso com o comportamento frente estanqueidade do revestimento, realizou-se

    um ensaio destrutivo denominado Mtodo de Kelham, utilizado para avaliar a absortividade

    do concreto. Nos itens a seguir, so apresentados o planejamento experimental, os materiais

    utilizados para execuo dos prismas e os ensaios executados nos mesmos.

    6.1 PLANEJAMENTO E PREPARAO DOS CORPOS DE PROVA

    Um planejamento adequado auxilia na obteno de uma maior eficincia no programa

    experimental, visando uma organizao prvia de materiais e a utilizao de um cronograma

    para evitar que ocorram imprevistos ao longo do trabalho. Por isso, antes de iniciar a

    confeco dos corpos de prova (prismas) e os ensaios, foram definidos os materiais que

    seriam utilizados juntamente com os tempos necessrios de preparo dos prismas e realizao

    dos testes, e quais ensaios seriam executados.

    A definio dos ensaios seguiu a NBR 15575-4/2010. Um dos mtodos, presente no anexo D

    da Norma, consiste em acoplar a uma parede uma caixa prismtica, conectada a uma bureta, e

    preench-las com gua, observando o volume absorvido em certos intervalos de tempo. O

    outro mtodo, anexo C da Norma, submete a face revestida de um prisma a uma vazo de

    gua, com a aplicao simultnea de presso pneumtica, por meio de uma cmara.

    Como estes ensaios tm como objetivo avaliar a estanqueidade do sistema, acrescentou-se um

    ensaio destrutivo (Mtodo de Kelham), adotado para a determinao da absortividade do

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    concreto, por meio de extrao de corpos de prova. Assim, para este trabalho, foi feita uma

    adaptao do mtodo para o estudo da permeabilidade das argamassas.

    Como mencionado anteriormente, a escolha das argamassas e do acabamento utilizados nos

    testes foi primordial para a obteno de resultados coerentes com o cenrio observado nas

    obras. Assim, foram escolhidas argamassas industrializadas (de revestimento externo) de trs

    diferentes fornecedores, comumente utilizadas nas edificaes da cidade de Porto Alegre, por

    possurem um maior controle no proporcionamento e na qualidade e com isso minimizar a

    interferncia de outras variveis que no esto sendo avaliadas. A utilizao de mais de um

    fornecedor de argamassa serviu para verificar se as argamassas possuam o mesmo

    comportamento quando submetidas solicitao de umidade, j que o desempenho de cada

    produto relaciona-se diretamente com seu fornecedor (atendendo a requisitos mnimos

    normatizados).

    As especificaes das argamassas utilizadas no desenvolvimento desta pesquisa e disponveis

    por seus fornecedores, segundo a NBR 13281 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS

    TCNICAS, 2005), podem ser observadas no quadro 3. Nestes dados podem ser visualizadas

    algumas variaes nas propriedades dos materiais, podendo ser observado que as argamassas

    dos fornecedores B e C tm as mesmas propriedades, e s coincidem com a propriedade de

    reteno de gua do fornecedor A. Este fator pode ter influenciado nos resultados dos testes

    realizados deste neste trabalho j que, por exemplo, a variao no coeficiente de capilaridade

    influencia na entrada de gua de cada argamassa.

    Quadro 3 Propriedades das argamassas dos fornecedores A, B e C

    (fonte: elaborado pela autora)

    Uma vez que o foco do trabalho foi a avaliao dos ensaios de estanqueidade da Norma, foi

    definido que seriam mantidos constantes a base de aplicao (blocos cermicos estruturais,

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    em revestimentos de argamassa

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    com dimenses 14x19x29cm e 14x19x14cm), a argamassa de assentamento (industrializada),

    e a camada de acabamento (tinta base de cal) em todos os prismas, sem variao de

    fornecedor ou de qualquer especificao dos materiais.

    Para os ensaios, foram executadas trs mini paredes de blocos cermicos denominadas

    prismas medindo 0,90x0,60m (figura 7), e uma parede maior, de dimenses 1,50x1,00m

    (figura 8). Cada uma das paredes menores recebeu a aplicao de argamassa de um dos

    fornecedores (A, B e C) preparada em argamassadeira e aplicada em ambos os lados onde

    foram realizados os ensaios das caixas (anexo D da NBR 15575-4/2010) e retirados os corpos

    de prova para a aplicao do mtodo de Kelham. J o prisma maior recebeu a argamassa do

    fornecedor B (escolhida dentre as trs por ter um melhor acabamento e trabalhabilidade), e

    nele foram aplicados todos os ensaios: caixas (anexo D da Norma), cmara (anexo C da

    Norma) e retiradas amostras para os testes de Kelham.

    Figura 7 Prismas de dimenses 0,90x0,60m com argamassa aplicada

    (fonte: foto da autora)

    O prisma de maior dimenso foi executado num tamanho prprio para o ensaio da cmara

    (anexo C da Norma), j que o mtodo requer uma rea mais extensa de aplicao. Este foi o

    nico prisma no qual foram aplicados os trs ensaios. Para uma melhor compreenso, a

    relao entre fornecedores, ensaios aplicados e tamanhos dos prismas pode ser observada nos

    quadros 4(a) e 4(b) e no esquema apresentado na figura 9.

    Aps a execuo das quatro paredes, aguardou-se a cura por duas semanas. Logo, cada

    argamassa foi aplicada no prisma correspondente, com um intervalo de uma semana entre a

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    execuo do revestimento em cada face (sendo que, como pr-requisito do ensaio da cmara

    da Norma, o prisma maior recebeu revestimento em uma nica face).

    Figura 8 Prismas de dimenses 1,50x1,00m para realizao dos trs ensaios

    (fonte: foto da autora)

    Quadro 4 Relao entre ensaios aplicados e (a) fornecedores; (b) dimenso dos prismas

    (fonte: elaborado pela autora)

    Para simular uma situao real, aps 28 dias foi aplicada uma camada de acabamento, com

    duas demos de tinta. Como os ensaios adotados neste trabalho servem para avaliar a

    estanqueidade do sistema, o acabamento escolhido foi a pintura com tinta denominada

    econmica, base de cal, que uma opo utilizada principalmente em habitaes de

    interesse social e pela populao de baixa renda. A figura 10 mostra os prismas j concludos,

    prontos para o incio dos ensaios, aps passadas as 48 horas de secagem da tinta

    (recomendao do fabricante).

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    em revestimentos de argamassa

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    Figura 9 Esquema correlacionando fornecedores, ensaios e prismas

    (fonte: elaborado pela autora)

    Figura 10 Prismas prontos para os ensaios

    (fonte: foto da autora)

    6.2 ENSAIOS REALIZADOS

    A estanqueidade de uma parede revestida verificada atravs de ensaios que decorrem da

    aplicao direta de gua na mesma, ou por simulaes em corpos de prova executados em

    laboratrio, com intuito de avaliar o desempenho da parede infiltrao de gua. Cada

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    mtodo possui especificaes como tempo de ensaio, alm de condies especficas de vazo

    de gua e presso pneumtica aplicada.

    Como os ensaios realizados neste trabalho servem para avaliar a estanqueidade do sistema (ou

    seja, a entrada ou no de gua) e no sua permeabilidade, foi acrescentado um ensaio

    destrutivo (Mtodo de Kelham) para a verificao da absortividade da argamassa de

    revestimento, permitindo assim uma comparao entre os resultados dos diferentes ensaios.

    Os mtodos de ensaio e a aplicao dos mesmos nos prismas so descritos nos itens que

    seguem.

    6.2.1 Mtodo do anexo D da NBR 15575-4

    O ensaio tambm conhecido por Mtodo do IPT consiste em submeter uma parede

    revestida presena da gua, com presso constante, por meio de uma cmara acoplada. A

    cmara tem um formato de caixa, medindo 34 cm de largura e 16 cm de altura, e deve ser

    prendida na parede com algum material selante, que fixe-a e a vede-a. Segundo Rodrigues

    (2010), a aplicao de silicone no desempenha de forma satisfatria a selagem das caixas

    parede, desta forma neste trabalho foi utilizado selante base de poliuretano para a fixao e

    vedao dos equipamentos s paredes. Para evitar qualquer deformao significativa do

    selante, comprometendo o ensaio, as caixas foram apoiadas por suportes de madeira, como

    pode ser observado na figura 11.

    Para manuteno da presso constante no interior da cmara e para que o volume de gua

    eventualmente infiltrado na parede fosse medido, conectou-se caixa uma bureta graduada

    em cm3 (mostrada na figura 12). Iniciando o ensaio, o volume da caixa deve ser completado

    com gua, seguido do preenchimento da bureta. Caso haja infiltrao de gua na parede, o

    mesmo volume de gua infiltrado reposto pela gua contida na bureta, mantendo-se

    constante o nvel de gua no interior da caixa e permitindo assim a quantificao da gua

    infiltrada.

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    em revestimentos de argamassa

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    Figura 11 Caixas do ensaio fixadas nos prismas

    (fonte: foto da autora)

    Figura 12 Caixa com bureta graduada

    (fonte: foto da autora)

    Os registros sobre a caixa auxiliam no preenchimento da mesma: um deles foi utilizado para a

    insero da gua, e o outro para a sada do ar. Esse detalhamento foi uma adaptao feita pelo

    laboratrio do NORIE (Ncleo Orientado para a Inovao da Edificao) /UFRGS no qual

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    foram realizados os ensaios deste trabalho , j que no h meno na Norma da necessidade

    dos mesmos.

    Durante a execuo, as medies foram realizadas aps os seguintes perodos 30 min, 1h, 2h,

    4h e 6h (a de 24 horas no foi necessria, j que a gua ainda no havia estabilizado depois de

    seis horas de ensaio). Para cada um deles, foi registrado o volume de gua infiltrado, obtido

    pela diferena entre o nvel de cada perodo e o nvel inicial da gua contida na bureta. Para

    que os resultados obtidos fossem validados, o mtodo foi analisado nas duas faces de cada um

    dos prismas.

    6.2.2 Mtodo do anexo C da NBR 15575-4

    Este ensaio foi realizado utilizando um equipamento fornecido pelo NORIE/UFRGS,

    desenvolvido para uma dissertao de mestrado (BAUER, 1987), o qual atende as

    especificaes do anexo C da NBR 15575-4/2010. O mtodo consiste em submeter, durante

    um tempo determinado, a face externa de um prisma a uma vazo de gua, criando uma

    pelcula homognea e contnua, com a aplicao simultnea de uma presso pneumtica sobre

    essa face. O equipamento mencionado, utilizado para sua realizao, foi uma cmara de

    formato prismtico, com abertura frontal, como a ilustrada na figura 13, provida de:

    a) orifcios para alimentao e recolhimento de gua;

    b) orifcio para entrada de ar;

    c) manmetro e hidrmetro;

    d) ventoinha para produo de ar;

    e) compressor para movimentao de gua.

    A face a ser ensaiada (na qual foi aplicado o revestimento argamassado e a pintura) deve ser

    fixada voltada para a cmara de ensaio. A face oposta no deve conter revestimento: se a

    mancha de umidade ultrapassar o sistema, sua avaliao requer a ausncia de qualquer

    interveno. Isto significa que, se houver argamassa tambm na outra face, a gua pode ser

    absorvida pela mesma, alterando os resultados do teste.

    A vazo utilizada durante todo o ensaio foi de 3,0 litros por minuto e a presso pneumtica

    utilizada foi de 40 Pascais. importante ressaltar que a escolha da presso pneumtica

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    em revestimentos de argamassa

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    aplicada sobre o prisma depende das condies da regio do Brasil onde realizado o ensaio,

    determinadas pela Norma.

    Figura 13 Cmara fixada ao prisma

    (fonte: foto da autora)

    O tempo total de ensaio de sete horas. Durante esse perodo, deve-se observar o tempo de

    surgimento da primeira mancha de umidade que ultrapassar o sistema e a porcentagem da rea

    da mancha de umidade ao final do ensaio em relao rea total, ambas na face oposta

    incidncia da gua e presso. Embora este ensaio tenha sido realizado em laboratrio, no

    foram controladas as condies de temperatura e umidade do ambiente, j que o mesmo

    tambm serve para aplicao in loco.

    6.2.3 Mtodo de Kelham

    O ensaio desenvolvido por Kelham8 (1988, apud KULAKOWSKI, 2002, p. 71-77) baseado

    na penetrao de gua em concreto no saturado ao longo do tempo, por suco capilar. Com

    8 KELHAM, S. A water absorption test for concrete. Magazine of Concrete Research, London, v. 40, n. 143, p.

    106-110, June 1988.

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    este, podem ser obtidas a taxa de penetrao de gua (absortividade) e a porosidade efetiva da

    amostra. Sua execuo neste trabalho veio da necessidade de obter pontos de comparao

    entre a permeabilidade das diferentes argamassas utilizadas.

    A escolha do ensaio destrutivo para a obteno dos valores de permeabilidade dos

    revestimentos e comparao com os resultados dos demais ensaios foi de acordo com o

    considerado mais adequado para a anlise proposta, pois possvel medir um fluxo contnuo

    de gua. Como este ensaio requer que as laterais e a parte inferior do corpo de prova sejam

    selados, a gua tem somente um caminho a realizar, o que acaba tornando o ensaio mais

    prximo do comportamento real da capilaridade.

    Para sua realizao, foram extrados seis corpos de prova de revestimento de cada face dos

    prismas, com dimetro aproximado de 5 cm. O nmero de amostras e a localizao das

    mesmas foram decididos estrategicamente, de forma a permitir a realizao dos trs ensaios

    na rea disponvel. Foram posicionadas as retiradas sobre as juntas verticais, horizontais, ou

    no meio do bloco. Os pontos extrados podem ser observados na figura 14.

    Figura 14 Pontos de corpos de prova extrados

    (fonte: foto da autora)

    Aps a extrao, os corpos de prova foram colocados em uma estufa at atingirem a

    constncia de massa. Quando retirados, foram envolvidos (nas laterais) com selante base de

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    em revestimentos de argamassa

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    poliuretano, e a face sem acabamento foi vedada conforme o esquema demonstrado na figura

    15.

    Figura 15 Esquema de vedao dos corpos de prova para Mtodo de Kelham

    (fonte: KULAKOWSKI, 2002, p. 74)

    Como o corpo de prova fica completamente vedado, a gua s entra se o ar sair. Por isso,

    como pde ser visto no esquema, foi feita uma tampa de plstico para uma das faces, com

    espaamento da superfcie de aproximadamente 2 mm, com um pequeno pedao de

    mangueira anexado para fazer o contato com o ar. Os corpos de prova j selados e vedados

    podem ser observados na figura 16.

    Figura 16 Corpos de prova selados e vedados

    (fonte: foto da autora)

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    Antes da selagem, as amostras foram medidas em seu dimetro e altura, para a obteno do

    volume. Quando os corpos de prova estavam prontos para serem ensaiados (aps serem

    selados e vedados), foram pesados para a obteno da massa seca.

    Para a realizao do ensaio, foi utilizada uma balana hidrosttica conectada a um dispositivo

    que permitiu a pesagem dos corpos de prova em imerso, o esquema pode ser visualizado na

    figura 17. A grade foi posicionada dentro de uma caixa plstica, submersa em gua

    deionizada, cujo nvel foi mantido constante para que no houvesse alterao na presso sobre

    o corpo de prova.

    Figura17 Dispositivo metlico acoplado na balana hidrosttica para pesagem dos corpos-de prova midos

    (fonte: foto da autora)

    Na realizao do ensaio, posicionou-se de forma cuidadosa um corpo de prova sobre a grade

    (ligada balana, localizada dentro da caixa com gua), em imerso, monitorando as massas

    at que j no houvesse variao. Com os valores obtidos na pesagem apontados a cada 30

    segundos (num intervalo de 0,5 a 10 min), foi possvel formar um grfico do ganho de massa

    em funo da raiz quadrada do tempo, o qual facilita observar a variao de absoro entre os

    corpos de prova e as argamassas de diferentes fornecedores.

    Ao construir o grfico, observam-se duas fases distintas, para as quais possvel interpolar

    duas retas. A primeira referente ao perodo de absoro inicial de gua e a segunda, o trecho

    de saturao, quando ocorre uma reduo no incremento de massa. A interseco destas duas

  • __________________________________________________________________________________________

    Avaliao dos mtodos de ensaio preconizados na NBR 15575-4/2010 quanto estanqueidade gua aplicados

    em revestimentos de argamassa

    49

    retas denominado ponto de saturao (nick point), a partir do qual se inicia a saturao do

    corpo-de-prova.

    A partir do grfico formado, possvel calcular a taxa de absoro e a resistncia capilar dos

    corpos de prova. A taxa de absoro calculada pelo quociente da inclinao da reta referente

    fase de absoro pela rea da seo transversal do corpo de prova. A resistncia capilar

    determinada pela razo entre o ponto de saturao e a espessura do corpo-de-prova, como

    expresso na equao 1 (GJORV9, 1994 apud MASUERO, 2001):

    2

    e

    tR

    cap

    (equao 1)

    Onde:

    R a resistncia capilar (s/m2)

    tcap o valor correspondente ao nick point

    e a espessura do corpo-de-prova (m)

    9 GJORV, O. Important test methods for evaluation of reinforced concrete durability. In: MOHAN MALHOTRA

    SYPOSIUM ON CONCRETE TECHNOLOGY: PAST, PRESENT AND FUTURE, Berkeley, California.

    ProceedingsDetroit: American Concrete Institute, 1994. p. 545-576.

  • __________________________________________________________________________________________

    Bruna Maciel Grochot. Porto Alegre: DECIV/EE/UFRGS, 2012

    50

    7 APRESENTAO E NALISE DOS RESULTADOS

    Os ensaios no destrutivos foram realizados de acordo com a metodologia fornecida pela

    NBR 15575-4/2010, que passou por algumas adaptaes por falta de especificidade. Os

    mtodos de avaliao quanto estanqueidade presentes nesta Norma deveriam ser vlidos

    para anlise de qualquer sistema de vedao vertical, j que estes so os nicos ensaios

    normatizados, a nvel nacional, voltados para este tema.

    No decorrer deste trabalho, foi possvel perceber que os processos continham diversas

    deficincias. A primeira a ser notada em ambos os ensaios da Norma que no descrita a

    necessidade de um ambiente com temperatura e umidade controladas, pois os ensaios tambm

    podem ser realizados in loco (e no s em laboratrio). O problema que o excesso de calor

    ou a falta de umidade aceleram a secagem das argamassas, podendo influenciar nos resultados

    dos ensaios. Os itens a seguir apresentam os resultados obtidos em cada um dos ensaios da

    Norma e pelo Mtodo de Kelham, e sua anlise, alm da ausncia de especificaes para o

    adequado desenvolvimento dos testes.

    7.1 MTODO DO ANEXO D DA NBR 15575-4

    No desenvolvimento deste trabalho foi possvel verificar que, embora a Norma englobe

    sistemas de vedao vertical em geral, esse mtodo no teve um comportamento adequado

    frente a revestimentos argamassados. O volume terico mximo de entrada de gua no

    material de 3 ml, mas na prtica a vazo da bureta no estabilizou em momento algum.

    No houve estabilizao da gua na bureta, ou seja, medida que a gua era adicionada, ela

    era diretamente absorvida. Assim, uma anlise qual