UNIVERSIDADE UNIGRANRIO – ARQ025

Aula 01 – HTA IV – Prof. Mario Muylaert

ARQUITETURA COLONIAL

Costuma-se usar a denominação COLONIAL para os MONUMENTOS construídos desde o

DESCOBRIMENTO até a CHEGADA da FAMÍLIA REAL em 1808 e a elevação do BRASIL à condição de

REINO UNIDO.

Nesse período a ARQUITETURA não sofreu GRANDES ALTERAÇÕES em seu modo de PROJETAR e

CONSTRUIR, todavia, as INFLUÊNCIAS da ARQUITETURA PORTUGUESA passavam por ADAPTAÇÕES em

função das DISPONIBILIDADES LOCAIS e do MEIO CULTURAL.

Como recurso METODOLÓGICO, analisaremos a ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA a partir de 4

ASPECTOS:

1. o URBANISMO (Parte 1); 2. a ARQUITETURA RELIGIOSA (Parte 1); 3. a ARQUITETURA RURAL (Parte 2); 4. a ARQUITETURA URBANA (Parte 2).

1. URBANISMO

Após as 3 PRIMEIRAS DÉCADAS de OCUPAÇÃO EXTRATIVISTA, constatou-se que a DEFESA daquele NOVO TERRITÓRIO, que tantos lucros poderia oferecer para a Coroa, se definia como PRIORITÁRIA. Começaram a CONSTRUIR VILAS e CIDADES que reproduziam MODELOS da METRÓPOLE. Assim, paulatinamente, as principais EMBOCADURAS de RIOS e BAÍAS estratégicas, capazes de oferecer SEGUROS PORTOS, foram sendo ocupadas por ASSENTAMENTOS dotados de MAIOR COMPLEXIDADE CONSTRUTIVA, mesmo diante das dificuldades materiais.

MUROS Antes mesmo da IMPLANTAÇÃO oficial das VILAS, os MUROS foram definidos como FORMAS Legítimas de POSSE e DEFESA. O 1º NÚCLEO implantado com o fórum de CIDADE foi SÃO SALVADOR da BAÍA de TODOS os SANTOS, em 1549, e representava o IDEAL de “CIDADE-FORTALEZA”, junto a uma grande baía que lhe serviu de porto. Outra usual ESTRATÉGIA de DEFESA era a IMPLANTAÇÃO da CIDADE em SÍTIO ELEVADO, todavia diante da evolução dos ARMAMENTOS, NOVAS TÉCNICAS precisavam ser UTILIZADAS, e iniciou-se a CONSTRUÇÃO de FORTES em LOCAIS ESTRATÉGICOS. A IMAGEM das CIDADES COLONIAIS BRASILEIRAS, com seu CONJUNTO de CASA e IGREJAS sem a presença de MUROS ou PORTÕES é HERANÇA DIRETA desse TEMPO, quando as MURALHAS foram SUBSTITUÍDAS por OUTRAS FORMAS de PROTEÇÃO.

Ex.: Cidade de Paraty

TRAÇADOS IGREJAS e CASTELOS em posição de DESTAQUE, em pontos mais ELEVADOS, INFLUÊNCIA das VILAS MEDIEVAIS EUROPÉIAS, enquanto os outros EDIFÍCIOS esgueiravam-se morro abaixo, em VIAS SINUOSAS, revelando sua HERANÇA MULÇUMANA... VILAS e CIDADES brasileiras no PERÍODO COLONIAL foram arraigada na MEMÓRIA de seus OCUPANTES, de FORMAÇÃO POUCO ERUDITA.

Com a APROXIMAÇÃO do IDEAL RENASCENTISTA, os TRAÇACOS REGULARES voltaram a ordem do dia, recebendo INFLUÊNCIA DIRETA da TRADIÇÃO ROMANA do TABULEIRO de XADREZ. Essas determinações foram cumpridas de forma rigorosa na AMÉRICA ESPANHOLA, no BRASIL tal REGULARIDADE NÃO FOI ADOTADA de forma INCONDICIONAL. O COLONIZADOR PORTUGUÊS NÃO era o MILITAR ESPANHOL, mas CAMPONESES, MERCENÁRIOS, RENEGADOS, HOMENS SEM DISCIPLINA que tinham em comum sua memória das ALDEIAS e VILAS do ALÉM-MAR! Além disso NÃO HAVIA EQUIPAMENTOS de PRECISÃO ou PROFISSIONAIS suficientes para a DEMARCAÇÃO de RUAS ou LOCAÇÃO de EDIFICAÇÕES no LOTE, gerando DISTORÇÕES em provável planejamento do traçado. Desse modo tal IMPLANTAÇÃO procurou adaptar-se às CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS LOCAIS, SALVADOR originalmente obedeceu a TRAÇOS REGULARES por determinação real, mas o ENXADREZAMENTO de suas RUAS e PRAÇAS foi FLEXÍVEL, se ADAPTANDO a SINUOSIDADE das ENCOSTAS e do MAR, assim como a cidade do RIO DE JANEIRO e PARATY.

LOTES RETÂNGULOS ALONGADOS, com POUCA LARGURA VOLTADA para o LOGRADOURO PRINCIPAL e LONGAS FACES LATERAIS COLADAS nas DIVISAS. A INTENÇÃO era a mesma da antiga MESOPOTÂMIA, GARANTIR uma MENOR CONCENTRAÇÃO de HABITANTES em MENOS ESPAÇO, com ECONOMIA de TEMPO e MATERIAL. Uma ÁREA LIVRE do TERRENO era destinada à PLANTAÇÃO e a PEQUENA CRIAÇÃO, a casa passou por algumas MODIFICAÇÕES em relação à da Europa Medieval, principalmente por QUESTÕES CLIMÁTICAS, NÃO se FAZIA NECESSÁRIO um PONTO ELEVEADO para o TELHADO, e a COZINHA, elemento GERADOR de CALOR e FUMAÇA, dirigiu-se para o EXTERIOR da HABITAÇÃO, junto ao QUINTAL e à CRIAÇÃO.

PRAÇAS Desde a ÁGORA GREGA o ESPAÇO da PRAÇA é INSEPARÁVEL do IMAGINÁRIO URBANO. No BRASIL COLONIAL a PRAÇA definia um ESPAÇO PÚBLICO aberto principalmente ao COMÉRCIO, à POLÍTICA e às ATIVIDADES RELIGIOSAS. A PRAÇA CENTRAL da antiga VILA RICA consegue sintetizar os ASPECTOS SIMBÓLICOS deste ESPAÇO URBANO, pois ali se destacavam os ÍCONES da ADMINISTRAÇÃO COLONIAL.

2. ARQUITETURA RELIGIOSA

A POLÍTICA da COROA de OCUPAÇÃO do TERRITÓRIO INFLUENCIOU diretamente na ARQUITETURA dos CONJUNTOS RELIGIOSOS. Enquanto o LITORAL abrigou predominantemente as ORDENS RELIGIOSAS, durante os 2 primeiros séculos, o INTERIOR recebeu CAPELAS e IGREJAS para SEDIAR as ORDENS LAICAS, IRMANDADES e CONFRARIAS, que não NECESSITAVAM das CONSTRUÇÕES MONÁSTICAS ou CONVENTUAIS LITORÂNEAS. O LITORAL OCUPADO por ORDENS RELIGIOSAS ou REGULARES JESUÍTAS, FRANCISCANOS, CARMELITAS e BENEDITINOS, com seus COLÉGIOS, CONVENTOS e MOSTEIROS. O INTERIOR ABRIGAVA uma diversidade de CAPELAS e IGREJAS construídas por ORDENS LEIGAS. Estas EDIFICAÇÕES também podem ser CLASSIFICADAS pelas TIPOLOGIAS e CRONOLOGIA de seus CONJUNTOS, apresentando 3 FASES DISTINTAS: 1ª - Caracterizada pela PRESENÇA das ORDENS RELIGIOSAS no LITORAL, iniciada com a CHEGADA dos JESUÍTAS em 1549, quando da FUNDAÇÃO da cidade de SALVADOR que recebeu o 1º COLÉGIO; 2ª - Sua posterior EXPANSÃO no século XVII, caracterizada pelos GRANDES CONVENTOS das ORDENS RELIGIOSAS, iniciando na 2ª década de 1600 e perdurando até início do século XVIII;

3ª - E o progressivo PRESTÍGIO das ORDENS LEIGAS, IRMANDADES e CONFRARIAS ao longo do século XVIII; marcada pelas CONSTRUÇÕES de IGREJAS e CAPELAS consolidando a ORGANIZAÇÃO do INTERIOR do país. 1ª FASE A COROA portuguesa teve grande DIFCULDADE para OCUPAR o BRASIL no INÍCIO do século XVI, diante dessa situação a COROA agiu em ACORDO com a IGREJA CATÓLICA para EFETIVAR o processo COLONIZATÓRIO. Ao FUNDAR um NÚCLEO URBANO a COROA associava-se à COMPANHIA de JESUS, os JESUÍTAS além de COLABORAR com a EVANGELIZAÇÃO EDIFICAVA seus CONJUNTOS constituído de IGREJA e respectivo COLÉGIO ao lado. Além dos JESUÍTAS outras ORDENS RELIGIOSAS se INSTALARAM no BRASIL, mesmo não recebendo SALÁRIO da COROA como os JESUÍTAS, CARMELITAS e FRANCISCANOS surgiram dentro das CIDADES. A COMPANHIA de JESUS A IMPLANTAÇÃO dessa ORDEM foi um dos MAIS INFLUENTES INSTRUMENTOS da CONTRARREFORMA para RETOMAR o ESPAÇO PERDIDO entre os FIÉIS e até mesmo AMPLIAR os DOMÍNIOS da IGREJA CATÓLICA. Após sua OPORTUNA INTERVENÇÃO INICIAL, os JESUÍTAS tornaram-se um PROBLEMA para o GOVERNO, por várias vezes OPUSERAM-SE à ESCRAVATURA e EXERCERAM grande INFLUÊNCIA sobre as TRIBOS do SUL da COLÔNIA, chegando a FUNDAR uma LIGA de CIDADES-ESTADOS denominados MISSÕES. Em 1759, o MARQUÊS de POMBAL, 1º MINISTRO de PORTUGAL, EXPULSOU os JESUÍTAS da COLÔNIA PORTUGUESA. Os COLÉGIOS JESUÍTICOS O PARTIDO adotado para os seus EDIFÍCIOS no BRASIL era constituído por uma PLANTA QUADRANGULAR com PÁTIO descoberto ao CENTRO e o EDIFÍCIO para o CULTO, a IGREJA, em uma das FACES do polígono. Nas demais FACES do polígono desenvolvia-se o COLÉGIO. Os COLÉGIOS JESUÍTICOS adotaram uma UNIFORMIDADE quanto ao PARTIDO FORMAL. Os 3 principais ELEMENTOS da FACHADA PRINCIPAL eram IGREJA, TORRE SINEIRA e COLÉGIO, dispostos num mesmo PLANO, com ACESSO por PORTA ÚNICA, sobre ela um ÚNICO ÓCULO ou JANELA, ou 3 JANELAS definiam a simplicidade da COMPOSIÇÃO. A IGREJA de SÃO ROQUE (1573), LISBOA, INFLUENCIOU as IGREJAS desse PERÍODO com seu FRONTÃO TRIANGULAR e SOBREVERGAS TRIANGULARES nas PORTAS e JANELAS. A DECORAÇÃO das NAVES era DESPOJADA de ORNAMENTOS, PAREDES CAIADAS, TELHAS VÃ, (sem forro) somente nos RETÁBULOS (painel de madeira ou pedra que fica atrás do altar) e ALTARES LATERAIS havia MAIOR CUIDADO nas TALHAS (ornamentos esculpidos em madeira) ou nas IMAGENS dos SANTOS. FRANCISCANOS, CARMELITAS e BENEDITINOS Nesta FASE os FRANCISCANOS, CARMELITAS e BENEDITINOS produziram POUCOS EXEMPLARES, porém de GRANDE SIGNIFICADO ARQUITETÔNICO, pois se tratavam de PEQUENAS CAPELAS DEMOLIDAS posteriormente para a CONSTRUÇÃO de GRANDES CONJUNTOS CONVENTAIS. 2ª FASE A PROSPERIDADE nas primeiras décadas do século XVII devido à cultura da CANA-DE-AÇÚCAR, ofereceu BOAS CONDIÇÕES à EXPANSÃO das ORDENS na COLÔNIA. Este CENÁRIO TRANQUILO ALTEROU-SE com as sucessivas INVASÕES HOLANDESAS.

Após a RESTAURAÇÃO do TRONO PORTUGUÊS em 1640 e a EXPULSÃO dos HOLANDESES em 1654, as ORDENS RETOMARAM seus EMPREENDIMENTOS. Com esse RENOVADO INTERESSE as PEQUENAS CAPELAS e IGREJAS agregadas TRANSFORMARAM-SE em GRANDIOSAS CONSTRUÇÕES, com FACHADAS cuidadosamente ELABORADAS e INTERIORES REQUINTADOS. Além do cuidado nas ORNAMENTAÇÕES, as PLANTAS eram BEM RESOLVIDAS, atendendo às NECESSIDADES do PROGRAMA, questões técnicas relacionadas à ESTABILIDADE ESTRUTURAL, assim como o ABASTECIMENTO de ÁGUA através de AQUEDUTOS, AQUECIMENTO e DISPOSIÇÃO de VÃOS de ILUMINAÇÃO eram SOLUCIONADOS com EFICIÊNCIA pelos MESTRES de OBRAS e pelos PADRES ARQUITETOS. INSTALAÇÕES ANTIGAS que se encontravam em PRECÁRIAS CONDIÇÕES foram REFORMADAS e AMPLIADAS. NOVOS EDIFÍCIOS RELIGIOSOS foram CONSTRUÍDOS. Com algumas pequenas DIFERENÇAS nos PARTIDOS ARQUITETÔNICOS, CONJUNTOS para BRIGAR as ORDENS SURGIAM ou AMPLIAVAM-SE, assim como os COLÉGIOS JESUÍTICOS. As FACHADAS das IGREJAS dessa ÉPOCA apresentavam COMPOSIÇÃO AUSTERA, trazendo o DISCURSO CLÁSSICO de PORTUGAL para o BRASIL: FORMAS GEOMÉTRICAS dispostas com CLAREZA, RETÂNGULOS encimados por FRONTÕES TRIANGULARES, SEM ORNAMENTAÇÃO adicional, senão uma MARCAÇÃO com PILASTRAS e CIMALHAS. A fachada da Igreja do MOSTEIRO de SÃO BENTO, 1617, com suas PROPORÇÕES ROMÂNICAS ilustra bem esse PERÍODO, ainda INSPIRADA em SÃO ROQUE de LISBOA, 1573, e SÃO VICENTE DE FORA, 1602, porém com um pórtico do pavimento térreo à feição da IGREJA do ESPÍRITO SANTO de ÉVORA, 1599. O PREDOMÍNIO JESUÍTICO do primeiro século de colonização passou a DIVIDIR, no século XVII, o ESPAÇO RELIGIOSO com FRANCISCANOS, CARMELITAS e BENEDITINOS. Após a EXPULSÃO dos HOLANDESES os JESUÍTAS empreenderam a CONSTRUÇÃO de seu MAIOR TEMPLO no BRASIL, o COLÉGIO de, SALVADOR, seguindo PADRÕES estabelecidos pela IGREJA de JESUS em ROMA, 1568-1576. O trajetória da IGREJA de JESUS até a FACHADA da IGREJA do COLÉGIO de SALVADOR (1654-1684) ainda passou por ADAPTAÇÕES em PORTUGAL, nos PROJETOS do COLÉGIO de SANTARÉM, em 1621, e do PORTO, em 1630, cujas FACHADAS apresentaram MODIFICAÇÕES com INCLUSÃO das TORRES que NÃO existiam no PROJETO ITALIANO. A FACHADA baiana EXPRESSA com CLAREZA as INFLUÊNCIAS PORTUGUESAS com o FRONTÃO TRIANGULAR com dimensões adaptadas a largura do módulo central, abrindo espaços laterais para inclusão de VOLUTAS que limitam as 2 TORRES SINEIRAS. As TORRES foram incorporadas aos MÓDULOS EXTREMOS, uma SOLUÇÃO que se tornou FREQUENTE em TEMPLOS LUSITANOS e BRASILEIROS do PERÍODO. Os INTERIORES simplesmente CAIADOS do século ANTERIOR, gradativamente, seriam REVESTIDOS com o LUXO DECORATIVO do BARROCO, e depois do ROCOCÓ. 2ª FASE – FRANCISCANOS A MAIORIA dos CONVENTOS FRANCISCANOS seguiu um PARTIDO TRADICIONAL composto por IGREJA com NAVE ÚNICA ALONGADA, precedida por um PÓRTICO com ARCADAS em ARCO PLENO, sempre com número ÍMPAR de VÃOS. A concepção das FACHADAS FRANCISCANAS certamente foi INSPIRADA no CONVENTO FRANCISCANO de ASSIS, EDIFICAÇÃO MEDIEVAL com PREDOMÍNIO de FIGURAS GEOMÉTRICAS DISPOSTAS com CLAREZA absoluta e uma ÚNICA TORRE SINEIRA recuada. Essas FACHADAS posteriormente receberam a DECORAÇÃO BARROCA, conferindo-lhe MAIOR ATRAÇÃO. Na região sudeste foi PROMULGADO um DECRETO REAL proibindo a CONSTRUÇÃO de NOVOS CONVENTOS, para DRIBLAR a PROIBIÇÃO, os FRANCISCANOS optaram pela CONSTRUÇÃO de HOSPÍCIOS,

estabelecimentos destinados a atender as vítimas de epidemias locais, INTEGRANDO-OS posteriormente ao CONJUNTO RELIGIOSO, como o CONVENTO de SANTO ANTÔNIO, no RIO. Assim como os BENEDITINOS, os EDIFÍCIOS CARMELITAS para as ORDENS PRIMEIRA e SEGUNDA também foram INFLUENCIDOS pelos JESUÍTAS do século XVI. FACHADAS com elementos CLÁSSICOS, com DECORAÇÃO AUSTERA, situação MODIFICADA no final do século XVII quando elementos BARROCOS foram INCORPORADOS aos FRONTISPÍCIOS SUPERIORES. Os BENEDITINOS CONSTRUÍRAM os DOIS MAIS IMPORTANTES EDIFÍCIOS dessa FASE, o MOSTEIRO de SÃO BENTO no RIO de JANEIRO e o de SALVADOR. 3ª FASE Ao longo do século XVIII, POUCOS EDIFÍCIOS das ORDENS RELIGIOSAS INICIARAM OBRAS NOVAS, optando pela CONCLUSÃO daquelas já INICIADAS no século anterior, IMBUÍDAS, no entanto, das NOVAS TENDÊNCIAS correntes na EUROPA e ADAPTADAS a COLÔNIA. A PRODUÇÃO ARQUITETÔNICA esteve diretamente LIGADA à exploração das RIQUEZAS em MINAS GERAIS. A IMIGRAÇÃO SUBIU enormemente, a POPULAÇÃO MULTIPLICOU com a atração da RIQUEZA. A OPULÊNCIA e a OSTENTAÇÃO passaram a INTEGRAR, inclusive, os TEMPLOS das ORDENS RELIGIOSAS, mesmo aquelas de voto de pobreza. CAPELAS se TRANSFORMAVAM velozmente em IGREJAS LUXUOSAS, CONSTRUÍDAS pelos MELHORES MESTRES de OBRAS e DECORADAS pelos ARTISTAS mais RENOMADOS. INTERPRETAVA-SE o BARROCO e rapidamente o ROCOCÓ ganharia uma VERSÃO TROPICAL. Como as ORDENS eram PROIBIDAS de se INFILTRAR pelo INTERIOR do BRASIL por ORDEM da COROA portuguesa, SEM a PRESENÇA de MOSTEIROS ou CONVENTOS, apenas CAPELAS e IGREJAS surgiam no INTERIOR a partir do ACÚMULO de CAPITAL. No LITORAL as ORDENS e CONFRARIAS ganhavam IMPORTÂNCIA e seus TEMPLOS REFLETIAM isso, transitando entre o MANEIRISMO PORTUGUÊS de suas FACHADAS, herdado do DISCURSO JESUÍTICO e o BARROCO aplicado ao DESENHO de PLANTAS, e DECORAÇÃO de INTERIORES. As PLANTAS das IGREJAS das CONFRARIAS, ORDENS TERCEIRAS e IRMANDADES no século XVIII adotaram como PARTIDO a NAVE ÚNICA RETANGULAR, CORREDORES LATERIAS, PÚLPITOS (espécie de tribuna ou local elevado onde são proferidas a leitura da Bíblia) e CAPELA-MOR anexada à SACRISTIA (espaço onde são guardados os paramentos sacerdotais). O pavimento superior abrigava as TRIBUNAS (sacadas que se abrem do segundo piso para o interior da nave), CORO sobre o NÁRTEX (Átrio, Vestíbulo, Pronaos), com ACESSO às TORRES SINEIRAS, DEPÓSITOS e CONSISTÓRIO (aposento destinado à realização de assembleias dos integrantes das irmandades leigas). A ARQUITETURA das ORDENS LEIGAS no LITORAL REGISTROU EXEMPLARES de NOTÁVEIS PARTIDOS ADOTADOS. Ainda que as FACHADAS NÃO apresentassem a EXUBERÂNCIA e DINAMISMO de MOVIMENTO dos TEMPLOS do INTERIOR, algumas IGREJAS incorporaram padrões ERUDITOS em sua COMPOSIÇÃO de PLANTAS, que acabavam REFLETINDO na VOLUMETRIA. A IGREJA de NOSSA SENHORA da GLÓRIA do OUTEIRO, EDIFICAÇÃO do século XVIII, no RIO de JANEIRO, ADOTOU uma PLANTA composta por INTERSECÇÕES de OCTÓGONOS, resultando em uma FACHADA DINÂMICA de PLANOS MULTIFACETADOS, delimitados por CUNHAIS de PEDRA, arrematada por TORRE ÚNICA, precedendo a REDUZIDA NAVE PRINCIPAL, cujo maior ATRATIVO é o direcionamento para o ALTAR-MOR. EVOLUÇÃO TIPOLÓGICA das IGREJAS MINEIRAS ao longo do século XVIII, considerando suas RELAÇÕES de PROPORÇÃO. A SIMPLICIDADE e BIDIMENSIONALIDADE gradativamente foram SUBSTITUÍDAS pelo MOVIMENTO das PLANTAS e FACHADAS, INCORPORANDO a TRIDIMENSIONALIDADE do ESPAÇO BARROCO.

Os PRIMEIROS TEMPLOS contavam com um PROGRAMA ARQUITETÔNICO SIMPLES: NÁRTEX, CORO, NAVE, CAPELA-MOR e SACRISTIA, APOSENTOS RETANGULARES com POUCA ORNAMENTAÇÃO. Eventualmente agregavam-se algumas CAPELAS LATERAIS, as FACHADAS REPETIAM de forma ainda mais SIMPLIFICADA as CAPELAS MEDIEVAIS PORTUGUESAS: um RETÂNGULO encimado por um FRONTÃO TRIANGULAR dotado de ÓCULO ÚNICO, CIRCULAR, no CENTRO e PORTA ÚNICA, sem TORRE SINEIRA. O CRESCIMENTO POPULACIONAL implicou no AUMENTO da ÁREA para CULTO e uma melhoria no CONFORTO dos SACERDOTES, agregaram-se às CAPELAS MODESTAS CASAS PAROQUIAIS. As SINEIRAS INCORPORARAM-SE ao EDIFÍCIO, arrematando um ou dois CORREDORES LATERAIS responsáveis pelo acesso ao PÚLPITO, antes externo. Tal solução foi muitas vezes utilizada nas REFORMAS das CAPELAS existentes e em NOVAS EDIFICAÇÕES. A SOLUÇÃO TRADICIONAL das DUAS TORRES, assim como no século XVII, foi a MAIS UTILIZADA no BRASIL na segunda metade do século XVIII. Com a RIQUEZA gerada pelo CICLO do OURO, os DISTANTES MODELOS de CONFORTO da METRÓPOLE tornaram-se ACESSÍVEIS. No FINAL do século XVIII a SUPERFICIALIDADE DECORATIVA do ROCOCÓ, que ORNARA a CORTE de LUIZ XVI e difundiu-se na EUROPA OCIDENTAL, tornou-se CENÁRIO dos ALTARES MINEIROS e LITORÊNEOS e também MODO de VIDA dos PODEROSOS. Em MENOS de 1 século houve MAIS MUDANÇA nos PARTIDOS ARQUITETÔNICOS do que nos 2 séculos ANTERIORES. O ESPAÇO que deveria ABRIGAR o SENTIMENTO RELIGIOSO VIROU INSTRUMENTO de COMPETIÇÃO CLARA ou VELADA. A ARQUITETURA produzida a partir da SEGUNDA METADE do século XVIII, genericamente DENOMINADA BARROCA, contou com MANIFESTAÇÕES SINGULARES que incluíam resquícios do MANEIRISMO PORTUGUÊS dos séculos anteriores, o DINAMISMO ESPACIAL do BARROCO propriamente dito e a DECORAÇÃO SUPERFICIAL do ROCOCÓ.