01 O Canto Orfeonico No Curriculo Das Escolas Brasileiras Primeiras Aproximacoes de Pesquisa Priscila Paglia

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    O CANTO ORFENICO NO CURRCULO DAS ESCOLAS

    BRASILEIRAS: PRIMEIRAS APROXIMAES DE PESQUISA.

    Priscila Paglia Faculdade de Artes do Paran

    Marlete dos Anjos Silva Schaffrath Faculdade de Artes do Paran

    Resumo

    O texto que estamos apresentando neste evento, busca socializar os

    primeiros resultados da Pesquisa de Iniciao Cientfica (PIC/FAP/UNESPAR)

    iniciada no ano de 2007 e que tem objeto principal privilegiar em perspectiva

    histrica, a introduo do canto orfenico como disciplina curricular nas escolas

    brasileiras a partir das obras e da influncia de Villa-Lobos (1888-1959). Trata-

    se de uma pesquisa bibliogrfica e documental com nfase no levantamento e

    anlise de dados que possam dar conta de situar a produo de Villa-Lobos

    como sntese da realidade de sua poca e sua influncia nos padres da

    educao pblica da sociedade Brasileira. Como parte do projeto de educao

    pblica reservada aos brasileiros, o Canto Orfenico foi introduzido como

    disciplina obrigatria no currculo das escolas em 1931 durante o governo de

    Getlio Vargas (1930 -1945). Com a inteno de forjar no povo brasileiro

    esprito nacionalista, patriota e ordeiro, o ensino de Canto Orfenico baseava-

    se no trip: Disciplina, civismo e educao artstica. Neste texto, esto

    descritos alm de resultados iniciais, que trazem as primeiras aproximaes

    com o objeto da pesquisa, os procedimentos e metodologias que esto

    norteando nosso trabalho.

    Palavras-chave: Histria da educao; Educao musical; Villa-Lobos.

    Problematizao

    A educao tem sempre um papel preponderante nos projetos para a

    composio dos modelos de sociedade. Nossa histria revela fatos que

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    marcam a estreita relao entre educao, poltica e economia que se

    materializam nos projetos educacionais de formao do povo brasileiro.

    O ensino de arte na escola, tambm era chamado para ajudar a formar

    determinados perfis que a sociedade desejava e que variavam de acordo com

    os projetos sociais e econmicos mais expressivos em determinados perodos

    histricos. Villa-Lobos concebia um perfil de cidado brasileiro que se ajustava

    ao perfil desejado pelo Governo de Getlio Vargas (1930-1945) e foi capaz de

    propor que pelo Canto Orfenico, fossem inculcados os valores morais e

    cvicos necessrios ao povo.

    Como Villa-Lobos concebeu este projeto civilizatrio, de que forma se

    deu sua aproximao com o Estado brasileiro, e qual o movimento pedaggico

    e poltico que moveu o canto orfenico das escolas de msicas para as escolas

    de ensino regular brasileiras tm se colocado como problemas, ou melhor,

    como norte para a nossa pesquisa, cujos primeiros resultados estamos

    compartilhando agora.

    Justificativa

    Nossa tentativa de buscar compreender a contribuio de Heitor Villa-

    Lobos no perodo histrico de 1889-1959 e especificamente entender a

    importncia do canto orfenico como vetor do processo de moralizao do

    povo brasileiro via escola, nos coloca em condies de discutir aspectos da

    formao cultural do povo brasileiro, o que se justifica como uma demanda de

    saber necessrio para a formao de professores nos cursos de Arte.

    O trabalho de pesquisa, cujos primeiros resultados estamos

    apresentando, visa socializar com acadmicos dos cursos de licenciatura a

    perspectiva histrica do ensino de Arte na escola, ressaltando o valor da

    compreenso de que os currculos escolares na rea de Arte revelam o projeto

    de formao de cidados de cada sociedade via educao escolar.

    Por outro lado, a divulgao de resultados iniciais de pesquisa pode

    servir como provocao e incentivo para novos trabalho de pesquisa e novas

    reflexes sobre o tema, ou mesmo sobre outros temas motivados pelas

    provocaes que os trabalhos divulgados podem suscitar.

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    Objetivos da investigao

    O projeto de pesquisa em questo, pretende levantar dados que

    subsidiem a discusso da formao cultural do povo brasileiro a partir do

    ensino escolar. Tratando especificamente do caso da introduo do Canto

    Orfenico como disciplina obrigatria nas escolas brasileiras a partir de 1931,

    durante o governo de Getlio Vargas (1930-1945), a participao de Heitor

    Villa-Lobos (1888-1959) foi fundamental.

    Pressupostos tericos

    Os planos de conformao social da sociedade brasileira sempre

    contaram com projetos educacionais de instruo e aculturamento de

    escolares. Ano aps ano, desde a Proclamao da Repblica em 1889, os

    projetos educacionais brasileiros se sucediam em tentativas de forjar no povo,

    via escola, um perfil que contemplasse, que corroborasse o modelo de

    desenvolvimento estabelecido.

    Assim, na dcada de 20 a Reforma de Francisco Campos - que

    propunha uma atuao mais concisa do Estado em relao a educao - foi um

    marco na luta ideolgica pela escola pblica. Na dcada de 30, foi o Manifesto

    dos Pioneiros da Educao Nova quem defendeu a bandeira da educao

    nacional.

    A literatura da Histria da educao brasileira d conta de que de fato, a

    educao sempre correspondeu aos projetos da poltica e da economia

    nacional. Vejamos algumas anlises: De acordo com Ghiraldelli (1992), em

    meados dos anos 40, a populao brasileira vivia em sua maior parte, na zona

    rural. No entanto, a urbanizao e a crescente industrializao do pas,

    trouxeram para o cenrio poltico a presena do proletariado urbano. Certos

    setores de vanguarda desta classe almejavam a construo de um partido de

    esquerda forte que congregasse idias do socialismo da Unio Sovitica, ainda

    que o ideal de vida e democracia americanas encantasse parcelas da

    burguesia brasileira.

    O partido comunista, criado em 1922 e cassado em na dcada de 30,

    volta aps a abertura democrtica de 1945 ganhando fora para atuar na vidademocrtica do pas e nas questes do ensino. A populao, nesta poca,

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    reivindicava mais escolas pblicas e melhores condies de ensino para os

    professores, os parlamentares comunistas envolveram-se com estas questes.

    A atuao polticos como: Otvio Brando, Aparcio Torelly (o Baro de Itarar)

    e Paschoal Lemme, foi intensa nas campanhas pela democratizao e

    melhorias do ensino pblico no Brasil.

    No incio da dcada de 50, o pensamento progressista de vrios matizes

    do socialismo conquistava boa parte da intelectualidade brasileira. A partir da

    viu-se o pensamento de esquerda no Brasil comprometer-se com a

    problemtica do ensino pblico.

    Otaza Romanelli (1980), ao descrever este perodo da histria

    brasileira, afirma que com a revoluo de 30, o fim do poder das velhas

    oligarquias favoreceu a criao de condies bsicas para o surgimento do

    capitalismo industrial no Brasil. O que tambm acabou criando condies para

    que se modificassem o horizonte cultural e os nveis de aspirao de parte da

    populao brasileira. A demanda social da educao cresce e se

    consubstancia em forte presso para a expanso do ensino.

    O que se verificou a partir da foi que a expanso do ensino se deu de

    forma atropelada, improvisada, j que o Estado agia com vistas ao atendimento

    das presses do momento do que propriamente voltava-se para uma poltica

    nacional de educao. A instabilidade verificada na expanso das escolas

    caracterizava-se pelo dualismo uma vez que de um lado, cresceram a procura

    pela escola e as oportunidades educacionais e de outro lado, a estrutura

    escolar no sofreu mudanas substanciais a ponto de oferecer quantitativa e

    qualitativamente o ensino que a sociedade carecia.

    De todo modo, os currculos escolares refletiam o modelo de educao

    que o poder pblico e a classes dominantes desejavam para o Brasil. Neste

    sentido, a presena de uma ou de outra disciplina no era casual, mas um

    ajuste necessrio ao modelo de cidado que se queria formar via escola.

    O Canto orfenico nas escolas j se fazia presente desde os primeiros

    currculos das escolas em todos os nveis no Perodo Imperial de acordo com

    Schaffrath (1998). Entretanto, considervel o incremento deste componente

    curricular a partir das obras e do esforo do Heitor Villa-lobos em tom-lo como

    elemento essencial para a formao da moral do povo brasileiro. O canto

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    orfenico por ser uma prtica coletiva: estreita laos afetivos, desenvolve uma

    conscincia comum, diz Villa-Lobos (1980, p: 27)

    D-lhes a compreenso da solidariedade entre os homens, daimportncia da cooperao, da anulao das vaidades e dos

    propsitos exclusivistas de vez que o resultado s se encontrano esforo coordenado por todos, sem deslize qualquer numa

    demonstrao vigorosa de coeso de nimos e de sentimentos.

    Villa-Lobos imprimiu carter socializante ao ensino da msica, atribua

    atividade musical nas escolas o carter formador para a disciplina, o civismo e

    a educao artstica. De acordo com Santos (1975) em uma entrevista

    concedida ao Dirio de Notcias em 23 de fevereiro de 1932, Villa-Lobos

    declara que vai atravs da educao artstica tentar levantar o nvel da opinio

    pblica, com relao a arte e aos artistas.

    A partir de suas composies e sua influncia na poltica educacional

    brasileira, os desejos de difundir os ideais nacionalistas se materializavam via

    ensino de msica nas escolas pela obrigatoriedade do canto orfenico, das

    bandas escolares e de outras iniciativas. No dizer do prprio Villa-Lobos (1976,

    p: 04)

    O objetivo que temos em vista, ao realizar este trabalho,

    permitir que as novas geraes se formem dentro de bonssentimentos estticos e cvicos e que a nossa ptria, comosucede s nacionalidades vigorosas, possa ter uma arte dignada grandeza e vitalidade do seu povo. VILLA-LOBOS, H.Programa de Ensino de Msica, escrito em 1934.

    Do ponto de vista esttico, pretendia despertar as aptides naturais,

    desenvolv-las, abrindo-lhes horizontes novos e apontando-lhes o caminho dos

    institutos superiores de arte onde especializada a cultura. Portanto, no se

    tratava de criar o virtuoso, nem o simples msico, mas destinava-se a prepararo pblico, que deve apreciar e mesmo sustentar materialmente as realizaes

    artsticas dos virtuosos e tericos formados pelas escolas artsticas

    especializadas.

    Contribuies que a pesquisa pretende oferecer rea de estudo.

    A pesquisa cientfica dos acadmicos de cursos de graduao torna-se

    imperiosa no momento em que se compreende que o trabalho de

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    desvendamento cientfico da realidade passa pelo estudo, pelas anlises e

    reflexes que a pesquisa cientfica supe. Discutir aspectos da formao

    cultural brasileira pelo estudo da histria da educao e do ensino de arte nas

    escolas um modo de estabelecer significados para a compreenso do estado

    da arte da educao artstica no Brasil. O que para os cursos de licenciatura

    em artes, neste caso o foco est na linguagem musical, imperioso, uma vez

    que primamos por uma abordagem terico-prtica da arte-educao, no lugar

    do empirismo e do experimentalismo.

    Pesquisar Villa-Lobos e sua contribuio para a formao escolar das crianas

    e dos jovens brasileiros resgatar os meandros da consolidao de um projeto

    nacional que pretendia, pela arte, forjar uma identidade moral, nacionalista e

    ordeira para o nosso povo.

    Trazer esta discusso para os cursos de licenciatura de certa forma,

    contribuir para os professores de Arte nas escolas de ensino regular possam

    ultrapassar o ensino da tcnica de uma linguagem artstica, mas transitar por

    um conjunto de conhecimentos histricos que so elementos de expresso da

    cultura dominante e da escola como veculo de projetos polticos e culturais.

    Procedimentos metodolgicos

    Primeiramente preciso dizer que esta uma pesquisa historiogrfica

    que pretende investigar, analisar e registrar dados para uso da comunidade

    acadmica nas reas de educao e arte. Contudo, temos claro que a Villa-

    Lobos, o canto Orfenico e os demais focos e fatos da nossa histria no

    podem ser analisados isoladamente, seno compreendidos no contexto de sua

    poca e como parte de um projeto nacional que educacional, histrico, mas

    que tambm poltico e cultural.

    A anlise da histria da educao e a arte-educao em conformidade

    com os projetos polticos nacionais ser a tnica desta pesquisa. Entretanto

    cabe ressaltar que descobrir ou revelar dados no significa um trabalho de

    compilao, mero amontoado de dados com significao esttica, factual. A

    esse respeito Buffa e Nosella (1996, p.115) advertem para o seguinte:

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    ... preciso dizer que tudo isso (fontes, leituras, etc.) no suficiente para se escrever uma histria. Sem questes ehipteses definidas, sem uma determinada orientao terica, osdados empricos amontoam-se confusamente e no revelam seusignificado profundo.

    Este trabalho de pesquisa tem se sustentado pela anlise de material

    bibliogrfico, documental e imagtico que compreender as seguintes

    atividades: levantamento e catalogao de referencial bibliogrfico sobre o

    tema; estudo e fichamento das obras levantadas; discusses e anlise do

    material investigado; a produo de textos e por ltimo, a publicao do

    material produzido. Neste momento estamos concluindo a etapa de

    levantamento e catalogao e iniciando os primeiros estudos.

    A biblioteca da Faculdade de Artes do Paran dispe de material para o

    incio da pesquisa, e ainda temos contado com o acervo da biblioteca da

    Universidade Federal do Paran e do Arquivo Pblico do estado do Paran,

    alm de outros acervos que certamente sero includos no decorrer da

    pesquisa.

    Referncias bibliogrficas

    GHIRALDELLI Jr. P. Histria da Educao. 2 ed. So Paulo: Cortez, 1992.249 p. (Coleo Magistrio 2o. Grau - Srie Formao do professor).

    Museu Villa-Lobos. Presena de Villa-Lobos, Rio de Janeiro: Museu Villa-Lobos/SEAC/MEC, 1980.

    NOSELLA, P; BUFFA, E.Shola Mater

    : a antiga Escola Normal de So Carlos.So Carlos: EDUFSCar, 1996. XXX p.

    ROMANELLI, O. Histria da educao no Brasil 1930-1973. Petrpolis, RJ:Vozes, 1980.

    SANTOS, Turbio. Heitor Villa-Lobos e o violo. Rio de Janeio: Museu Villa-Lobos/MEC, 1975

    SCHAFFRATH, M. A. S. A Escola Normal Catharinense de 1892: profissoe ornamento.1999.Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal

    de Santa Catarina, Florianpolis, 1999.

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