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01. Shadowlands [Terra Das Sombras]

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 Livro 01 

 Terra das Sombras

KATE BRIAN

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SINOPSERory Miller teve uma chance de revidar e ela a aceitou. Rory sobreviveu... e o

assassino em série que a atacou escapou. Agora que o infame Steven Nell está àsolta, Rory deve entrar na proteção de testemunhas com o pai e a irmã, Darcy,

deixando seus amigos e familiares sem nem um adeus.Começar de novo em uma nova cidade com apenas uma a outra é inimaginável

 para Rory e Darcy. Elas eram inseparáveis quando crianças, mas agora elas mal podiam ficar uma com a outra. Enquanto as irmãs se instalam em Juniper

Landing, uma pitoresca ilha de férias, parece que sua nova casa pode ser orecomeço que elas necessitam. Elas conhecem um grupo de jovens belos e

despreocupados e passam seus dias surfando, em festas na praia, e caminhando ao pôr do sol sem fim. Mas assim que elas estão começando a se sentir segurasnovamente, um de seus novos amigos desaparece. É uma coincidência? Ou o

 pesadelo está começando de novo?

Da autora do Best- Seller do New York Times “ Private ”  e de “ Privilege ” , Kate

Brian. 

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1A TENTATIVA 

Traduzido por Manoel Alves

uas mãos pareciam gelo. Ele as esfregou, o farfalhar ressoando nafloresta, outrora tranquila. O frio no ar era inaceitável, especialmente

para tão tarde na primavera. Depois que ele terminasse aquilo, iria semudar para um clima mais quente. Mas por enquanto ele estava aqui, e o solestava começando a fazer a sua descida. Ela estaria ali a qualquer momento.Então o frio já não importaria. Logo suas mãos estariam quentes. Ele assoprou e cantarolou “The Long and Winding Road”, uma música quesempre o fez sorrir.

Ele ouviu um estalo. Um triturar. Sua pele começou a ronronar. Elelevantou-se ligeiramente de onde estava agachado, apenas o suficiente paraespreitar através dos óculos sobre a rocha escarpada que blindava sua vista.Um suspiro escapou de sua garganta com a visão dela. Tão pequena, tãoatrevida, tão completamente distraída. Seu cabelo loiro caía em uma trançagrossa pelas costas. Foi o cabelo que o seduziu. Tão belo, tão suave, váriostons de dourado. Ela não tinha ideia de como ele era bonito. De como elaera bonita. Ele a amava por isso.

Ela estava contornando o carvalho morto, prestes a passar por cima doescorregadio rochedo molhado cheio de limo, desgastado pela água. Era ahora. Ele assegurou que sua bolsa carteiro de lona cinza estava devidamente

camuflada por uma pilha de folhas e saiu de trás da rocha. Um galho finoque tinha caído de uma bétula perto rachou sob sua bota pesada.

Ela congelou. Ele podia sentir o medo que irradiava dela. Ela se virou,com os olhos arregalados, mas não o viu. Abraçando-se, ela deu algunspassos rápidos, sua pesada mochila batendo contra sua espinha. Ele deu umpasso para outro galho, propositadamente desta vez, quebrando-o em dois.Ela parou de novo. Agora, ele podia provar o seu medo, e ele o engoliu porcompleto, saboreando a salinidade picante dele. Ela começou a correr. No

momento em que ela olhou para trás  —  elas sempre olhavam para trás —  

S

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ele surgiu no caminho à sua frente. Quando ela bateu nele, ele não vacilou.Ela pesava praticamente nada. Ela gritou, e seu peito encheu de puro jubilo.

Ele colocou as mãos em seus braços, estabilizando-a. Ela se afastou,com seus olhos arregalados, sua pele esticada, sua tez pálida. Então ela o

viu. Realmente o viu. E seu corpo relaxou. —  Sr. Nell! Oh, meu Deus! —  Sua mão estava em seu coração. Tudo

estava bem. Ela o conhecia. Ela sentia-se segura agora. Menina boba.  —  Você me assustou! O que você está fazendo aqui?

Ele a soltou por um breve momento. Deu-lhe aquele instante confiantede segurança. Então, ele lambeu os lábios.

Foi o que bastou. O medo voltara, mais quente e mais rápido desta vez.Ela deu um passo para trás, mas eles estavam bem na borda do penhasco.

Ela vacilou, assim como ele sabia que ela faria. Estendendo a mão, ele fechouos dedos ao redor de seu pulso e usou seu próprio impulso para arremessá-la do outro lado, jogando a mochila no chão com a mão livre. Ela tentougritar novamente, mas ele segurou um braço em volta do seu pescoço eoutro sobre sua boca. Ele arrastou-a para trás para fora da trilha, seu cabelo,seu delicioso cabelo, roçando em seus lábios.

Ela lutou, é claro. Elas sempre lutavam. A única variável é quantotempo ela duraria. Quanto tempo ela iria lutar antes de perceber ainevitabilidade do que estava para acontecer. Antes que ela aceitasse.Algumas lutavam até o fim, arranhando, chutando, mordendo, batendo osseus pequenos punhos contra ele até que ele estrangulava toda a força quehavia neles. Outras simplesmente imploravam. Não importava o que elasfizessem. O final era sempre o mesmo.

Rory Miller provavelmente imploraria para ele. Ele a observaradurante meses e sabia que ela não era uma menina espirituosa. Além de suapaixão por ciência e sua capacidade de chegar em terceiro em quase todas ascorridas corta-mato que ela já tinha participado, ela não tinha muito fogo

nela. Na verdade, não havia quase nada de especial sobre ela. Exceto ocabelo. Seu lindo cabelo dourado.

Ele abriu a boca e levou alguns fios para debaixo da sua língua.Ela tentou gritar novamente, mas seu abraço era muito apertado para

deixar escapar qualquer som. A pedra estava a poucos centímetros dedistância. Ele imaginou batendo sua cabeça na borda afiada, causando umaferida irregular em seu couro cabeludo. Mas, provavelmente, isso seriarápido demais.

Quando chegou à beira do rochedo, seu calcanhar deslizou sobre umafolha molhada, e ele escorregou. Por uma fração de segundo, ele lutou para

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manter o equilíbrio, e seu domínio sobre ela afrouxou ligeiramente. Foraum descuido mínimo, mas foi o suficiente. Ela soltou um grito e bateu ocotovelo afiado em seu peito.

Ele se agachou, tentando respirar, mas o ar não vinha. Sua visão

nublou. Sua mão pressionou contra a superfície fria da pedra, e ele piscouaté que seus olhos começaram a clarear. Foi quando ele viu o galhoquebradiço e irregular sendo levantado para cima em direção ao seu rosto.

Ele ouviu o barulho. Provou o sangue segundos antes de sentir a dorexcruciante. Seus óculos voaram de seu nariz. Seus joelhos atingiram a lamafria, que rapidamente ficou vermelha do rio de sangue que escorria de seunariz.

 —  Sua desgraçada! —  ele gritou, sangue borbulhando em sua boca.

Mas ela se foi.Não. Não. Não. Aquilo não podia estar acontecendo. Ele tirou um lençodo bolso, cobriu seu nariz, e cambaleou para frente. Galhos e arbustoschicoteavam seus braços, a vegetação rasteira prendia seus pés, o vento friobatia em seu rosto. Ele já havia provado ela. Ele tinha que tê-la.

Tudo era um borrão sem seus óculos. E então, um vislumbre. Um flash.O forro de lona branca de seu capuz. Ele correu mais rápido. Ele podia senti-la novamente. Sentir o seu terror. Tudo o que ele tinha que fazer era fecharo espaço entre eles e ela seria dele. Seus dedos esticaram. Eles doíam. Sómais alguns passos e ele a teria. Apenas. Mais. Alguns. Passos.

Uma luz ofuscante brilhou. Um barulho de pneus. Ele ouviu seu gritoantes que percebesse o que estava acontecendo. Ela chegou à beira dafloresta. Ela chegou na estrada. E agora ela estava morta ou salva.

Instintivamente, ele limpou a sujeira. Seu nariz latejava. Seu suor eravisível em sua pele, congelando-o de fora para dentro. Havia vozes. Gritosde alarme. Muito lentamente, ele se esgueirou para trás. Fugiu para osarbustos, para as arvores que ele conhecia tão bem. Ele poderia se esconder

aqui. Ele poderia desaparecer. Ele ficaria bem. Mas não era o suficiente.Porque ele tinha provado ela. Ele tinha provado ela. Ele tinha provado ela.Como ele poderia sobreviver sabendo o quão perto ele havia chegado? Estanecessidade jamais seria saciada. Não agora. Ele sabia que nunca iriadescansar até que a tivesse.

Não esteja morta, ele orou enquanto deslizava mais fundo na escuridãoque se aproximava. Por favor, não permita que ela esteja morta.

Se ela não estivesse morta, ainda havia uma chance. Se ela não estivesse

morta, ele iria encontrar um jeito. Ele sempre, sempre encontrava um jeito.

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2A FUGA

Traduzido por Manoel Alves

s resquícios desiguais de um galho de uma árvore fina arrancarama pele da minha bochecha. Meus pulmões queimavam com cada

respiração em pânico e irregular. Minha visão estava tão turva queeu não conseguia ver para onde estava indo. Meu pé ficou preso em uma raizde árvore, e eu voei para frente. Gritei, imaginando-o bem atrás de mim, seaproximando de mim, me agarrando para longe do chão, e me arrastandopara a morte. Obriguei-me a ficar de joelhos e respirei. Sua respiração estavaquente no meu pescoço. Seus dedos roçaram em meu ombro. Soltei outrogrito, minha garganta dolorida, mas quando virei, não havia ninguém lá.Forcei-me a levantar e continuei correndo.

Eu empurrei um ramo e saltei sobre um tronco caído, quase tropeçandonovamente no momento em que acertei o chão do outro lado. Isso não estavaacontecendo. Isso realmente não podia estar acontecendo. O Sr. Nell erameu professor. Ele era um bom homem. Engraçado. Todo mundo o achavatão legal naquele estilo de professor retro e bobo. Isso tinha que ser umpesadelo, e em qualquer segundo eu iria acordar e rir sobre o fato de que eupensava ser real.

Eu ouvi um galho estalar atrás de mim. Uma pisada. Ele estava seaproximando. Ele olhou nos meus olhos e lambeu os lábios. Ele provou omeu cabelo e gemeu.

Minha garganta encheu de bile. Eu não ia morrer dessa forma. Eu nãoia deixá-lo ter essa satisfação. Eu deveria ir para a faculdade, me tornar umamédica, casar e ter filhos, ganhar prêmios, comprar uma casa de praia, emorrer cercada por minha amada família sabendo que eu tinha salvadoinúmeras vidas ao longo de minha longa carreira. Ou, como minha irmã,Darcy, sempre dizia, eu deveria morrer sozinha e cercada por gatos. De umou de outro jeito. Mas não assim.

O

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Com uma explosão desesperada de adrenalina eu saltei à frente e, derepente, não havia árvores. Não havia folhas, nem arbustos, nem vegetaçãorasteira. Só havia asfalto rasgando o tecido da minha calça jeans na alturado joelho e um SUV passando sobre mim.

A última coisa que eu vi antes de jogar minhas mãos para cima foi agrade de prata reluzente indo direto para o meu rosto. Houve um gritoensurdecedor horrível, e o mundo preencheu-se com o cheiro de borrachaqueimada.

Prendi a respiração e me preparei para o impacto. —  Rory?Eu pisquei. O rosto de Christopher pairava sobre mim. Seu belo rosto

perfeito e assustado. Seu cabelo escuro estava penteado para trás de sua

testa, molhada dos chuveiros escolares. —  Oh meu Deus, você está bem?Olhei de volta para a floresta quando ele agarrou os meus braços e me

arrastou para fora da estrada. Quando eu tentei ficar de pé, meus joelhoscederam e eu me inclinei para ele, agarrando as mangas de sua jaqueta pretae branca do time do colégio, com meus dedos manchados de sujeira. Haviasangue nas costas de uma mão, e lama encharcando o punho da manga. Cadacentímetro meu estava tremendo.

 —  Entra no carro! —  eu gritei. —   O quê?  —   Suas sobrancelhas franziram em confusão sobre seus

olhos castanhos. —  Rory, o que você... —  Entra no carro, Chris! —  eu gritei novamente. —  Nós temos que

sair daqui!Mantendo meus olhos na floresta, eu cambaleei para a porta do lado do

passageiro. As árvores mergulharam e giraram em minha visão, e o chãodebaixo de mim começou a se inclinar. Eu pressionei minhas mãos contra ocapô para não cair, respirando através da vertigem. Eu não podia desistir

agora. Não quando eu estava tão perto de ficar segura. —  Eu peguei você —  disse Christopher no meu ouvido.Ele me ajudou a entrar no carro e bateu a porta. Enfiei meus dedos

trêmulos para baixo no botão de bloqueio várias vezes, até que finalmentefez um clic . Algo se moveu no canto da minha visão e eu paralisei, mas depoiseu vi uma cauda espessa, e percebi que era apenas um esquilo correndo atéum tronco de árvore.

 —  Rory, o que está acontecendo? —  perguntou Christopher, ficando

atrás do volante. —  Por que você está coberta de lama?

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 —  Apenas dirija, Chris. Por favor —  eu implorei. Meu corpo começoua tremer tão violentamente que doía. Tentei segurar minha respiração,tentei controlar o tremor, mas não parava. Mesmo quando eu envolviminhas mãos em torno dos meus braços, juntando meus joelhos, e apertando

a minha mandíbula. Simplesmente não parava. —  Mas a minha casa é bem... —   Por favor, me leve para casa  —   eu implorei.  —   E ligue para a

emergência. —  Por que? —  perguntou Christopher. Ele me olhou de cima a baixo,

com o rosto pálido.  —   Rory  —   disse ele, com a voz tensa.  —   O queaconteceu?

 —  O Sr. Nell —  eu gaguejei através dos meus dentes. —  O Sr. Nell me

atacou. —  O Sr. Nell, o professor de matemática ? —  ele deixou escapar, virandono final de sua rua larga demais e quase acertando um carro esperando naplaca de pare. Meu estômago revirou enquanto o outro motorista apertavaa buzina. Minhas mãos foram arremessadas para fora e as apoiei contra aporta e ao lado do banco de Chris.

Chris puxou o carro para o acostamento. Ele colocou uma mão sobresua boca, formando uma linha de preocupação logo acima do nariz. Quandoele olhou para mim, o meu coração parou de bater. Sua expressão era deatordoado, a resignado, a mórbido no espaço de cinco segundos. Foi só entãoque eu entendi o que ele realmente sentia por mim. Bem ali, naquelemomento terrível, com os carros zunindo rápido o suficiente para tremer ocarro.

Por que eu o recusara? Se eu tivesse dito sim, se eu tivesse apenasexibido meus sentimentos, como Darcy tinha demonstrado para mim tantasvezes na minha vida, Chris e eu teríamos sido um casal. Nós teríamos saídoda escola juntos hoje, e ele teria me levado até a casa dele para cuidar da sua

irmã. Se eu tivesse dito sim, eu nunca teria tomado esse atalho através dafloresta, e nada disso teria acontecido.

 —  Ele não... —  Manchas vermelhas apareceram ao longo do pescoçode Chris, movendo-se para seu rosto. —  Rory, ele não...

Meu estômago revirou quando eu percebi o que ele estavaperguntando. Eu balancei minha cabeça. —  Não. —  Um soluço escapou daminha garganta, e eu cobri o rosto com as duas mãos. —  Não.

Chris afundou em sua cadeira.  —  Graças a Deus.  —  Ele estendeu a

mão para o botão do Bluetooth em seu painel.

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De repente, uma voz masculina encheu o carro.  —  911. Qual é a suaemergência?

 —  Minha namo... minha amiga foi atacada  —  disse Christopher, coma voz embargada.

 —  Sua amiga está com você? —  perguntou o homem. —  Sim —  respondeu Christopher. —  Ela está aqui. Ela... está bem.Ele estendeu a mão e pegou a minha, apertando-a com tanta força que

doeu. —  Qual é a sua localização? —  Estamos em meu carro na 17, bem perto do Cruzamento da Fisher

 —   disse ele.  —  Mas o cara ainda está por aí. Sr. Nell. Eu não sei o seuprimeiro nome. Ele trabalha na minha escola. Na Princeton Hills High. Ele

ainda está na floresta. —  E os seus nomes? —  o homem perguntou. —  Christopher Kane e Rory Miller. —  Tudo bem, senhor. Não saia daí. Estamos enviando alguém agora

mesmo até vocês. —  Tudo bem —  disse Christopher, engolindo em seco. —  Ok.A chuva começou a cair em gotas enormes, respingando em todo o

para-brisa. Ele apertou o botão para desligar a chamada. Por um longomomento, nenhum de nós disse uma palavra, ou se mexeu ou respirou. Emseguida, ele saiu do carro, deu a volta ao meu lado, e apertou-se em mim.Arrastei-me em seu colo, e ele fechou a porta e me abraçou. Enterrando meurosto em seu peito, eu respirei profundamente o cheiro de lã de sua jaqueta,fechei os olhos e tentei parar de ver o rosto do Sr. Nell. Eu tentei pensar emoutra coisa. Qualquer outra coisa. Minha mãe sorrindo para mim, algunsmeses antes de morrer. Meu pai me levando na minha primeira corridacorta-mato. Minha irmã girando em torno de um tutu vermelho e óculos desol em forma de coração, dando um show para a família no Ação de Graças.

Mas a imagem do Sr. Nell obliterava as memórias uma por uma. Ahorrorosa jaqueta de veludo cor de vômito. A rachadura na parte superiordos seus óculos de aros de arame. Os olhos lacrimejantes. Os dentesamarelos. Os lábios secos, finos. A língua lisa. Isso. Simplesmente. Não.Parava.

Deixei escapar um gemido patético, e Christopher me segurou maisapertado.

 —  Está tudo bem —  ele sussurrou. —  Tudo vai ficar bem.

Mas eu sabia no meu coração que ele estava errado. Nada iria ficar bemde novo.

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3NÚMERO QUINZE

Traduzido por Manoel Alves

s luzes azul e vermelha da polícia piscavam causando borrõespulsantes em minha visão. Christopher manteve seu olhar à frente,

sua respiração notável enquanto ele seguia o carro de patrulha naminha rua sinuosa, seus para-brisas batendo de um lado para o outro, rápidodemais para a garoa cada vez mais leve. Ele parou em um meio-fio perto daminha casa, onde dezenas de carros da polícia estavam estacionados e umavan preta estava parada metade no meu gramado, metade na rua.

 —  Uau —  ele disse calmamente.Lentamente, entorpecidamente, saí do carro. Tudo o que eu queria

fazer era entrar no chuveiro, me enrolar como uma bola no chão de azulejos,

e ficar lá até que me sentisse limpa novamente. Mas eu tinha a sensação deque aqueles oficiais tinham ideias diferentes. —   Rory?  —   Meu pai se afastou de uma multidão de policiais

uniformizados e homens sérios em casacões e correu em direção ao carro.Sua camisa branca de botão estava meio fora de suas calças, e seu surradopaletó de tweed voava aberto. Seus olhos estavam injetados, seu narizvermelho, e os pingos de chuva brilhavam em seu cabelo escuro. Quando eleme alcançou, ele jogou os braços ao meu redor, seus dedos cravando emmeus ombros.

Enquanto estávamos lá, dezenas de estranhos e vizinhos nos espiavam,e eu me senti estranha e rígida. Eu não conseguia me lembrar da última vezque ele me abraçou. Meu pai ainda me pegava na escola quando eu estavadoente e fazia nossas refeições favoritas sempre que tinha tempo. Mas desdeque minha mãe morreu, ele tinha parado de verificar como estávamos ou denos dar um beijo de boa noite. Ele retirou-se para dentro de si,desenvolvendo esta camada raivosa fervendo lentamente, queconstantemente explodia.

A

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Uma sirene soou quando um outro carro da polícia parou. O abraçoterminou abruptamente. Darcy pairava perto, seus braços magros cruzadossobre o moletom das líderes de torcida do ensino médio da Princeton Hills,e havia uma capa preta por cima de seu cabelo castanho escuro para protegê-

la da garoa. Christopher começou a sair do carro, mas no segundo em queseus olhos se encontraram, ele voltou e ficou lá. Meu pai limpou a garganta.

 —  Você está bem? —  ele questionou. —  Quando a polícia apareceu naminha sala, eu pensei... —  Sua voz sumiu, e ele estendeu a mão para agarrardesajeitadamente meu pulso, como se quisesse ter certeza que eu aindaestava realmente ali. —  Se alguma coisa acontecesse com você...

 —  Eu estou bem —  eu assegurei o meu pai. —  Eu só estou... —   O que você estava pensando?  —   ele perguntou de repente,

afastando-se. Eu vacilei, meu coração saltando na minha garganta, e dei umpasso instintivo para trás. —  Pegando atalhos entre esses bosques sozinha?Você poderia ter morrido!

Agora, este era o pai que eu conhecia. Rápido no temperamento, maisrápido ainda para culpar. Era estranho o quanto aquilo era reconfortante —  uma coisa normal em um dia surreal.

 —  Pai, dá um tempo! —  Darcy rebateu.Seu rosto ficou vermelho e ele olhou para o chão, evitando contato

visual com qualquer pessoa. —  Entre —  ele disse em voz baixa, mas com firmeza.Abaixei meu queixo, as lágrimas ardendo meus olhos, e caminhei

trêmula em direção à nossa casa. Darcy caminhou comigo, tão perto quenossos ombros se tocavam enquanto andávamos. Um olhar para trás paraChristopher foi tudo o que eu consegui fazer. Ele ergueu a mão do volantedando um aceno, os lábios achatados em um sorriso tenso e encorajador. Derepente, eu só queria estar de volta no carro, de volta com ele, de volta ondeeu me sentia segura. Mas então ele ligou o motor, e simples assim, ele se foi.

Uma vez que estávamos lá dentro, meu pai bateu a porta atrás de nós.Então ele parou. De pé perto da parede na sala de estar, ao lado das fotosemolduradas de mim e Darcy quando éramos mais jovens, estava umamulher franzina em um boné de beisebol preto pingando e um sobretudopreto. Vários homens em macacões azuis estavam fazendo uma varreduranas escadas, correndo com bastões mecânicos ao longo das paredes ebalcões, enquanto outro subia as escadas para o segundo andar.

 —  Quem são vocês? —  meu pai exigiu saber.

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 —   Meu nome é Sharon Messenger.  —   Ela tirou uma carteira emostrou um distintivo para nós. Três letras maiúsculas em negrito saltarampara mim: FBI.

Meu coração começou a bater dolorosamente.

 —   Por que o FBI está aqui?  —   Meu pai perguntou, sua testaenrugando.

A agente o ignorou e virou-se para mim.  —  É este o homem que aatacou? —  ela perguntou, pegando um smartphone e tocando uma das teclasna tela. No mesmo instante, o rosto do Sr. Nell apareceu na tela, mas ele eramuito mais jovem, com um bigode e óculos escuros quadrados em vez dosatuais aros de arame dourado.

 —  Sim —  eu disse, me virando. —  É ele. Esse é o Sr. Nell.

A agente Messenger apertou os lábios pálidos. Ela deslizou para forade seu casaco encharcado da chuva, pendurou-o no suporte para casacos,então fez um gesto em direção à sala de estar. —  Por que você não se senta?

 —  Por que você não nos diz o que está acontecendo em primeiro lugar? —  meu pai desafiou, ajustando os ombros. Há algum tempo, meu pai era umatleta, um maratonista esbelto como eu. Mas, depois que minha mãe morreu,ele parou de malhar, parou de correr, e agora ele só parecia cansado e fraco.

 —  Pai —  Darcy reclamou, —  nós podemos, por favor, não entrar embrigas durante isso?

Os olhos do meu pai brilharam, mas ele sentou-se na velha poltrona.Eu me afundei na extremidade do sofá, puxando meus joelhos até embaixodo meu queixo e me abraçando com força. Darcy tomou a extremidadeoposta, enquanto a agente Messenger andava sobre o tapete oriental gastoque meus pais tinham comprado na lua de mel.

 —  O homem que você conhece como Steven Nell é na verdade RogerKrauss —  disse ela sem preâmbulos.  —  O FBI está tentando encontrá-lopor mais de uma década. —  Ela parou de andar e me olhou diretamente nos

olhos. Seus cachos negros encharcados grudavam em seu pescoço,parecendo tatuagens contra sua pele leitosa. —  Ele matou quatorze meninasem dez estados. Primeiro, ele as perseguiu. Em seguida, ele as atacou e...Você tem sorte de ter escapado.

Meu sangue se transformou em gelo. Quatorze meninas. Ele haviaassassinado quatorze meninas. E eu deveria ter sido a próxima. Eu era anúmero quinze.

 —  De jeito nenhum —  desabafou Darcy, empurrando o capuz do rosto.

 —  O Sr. Nell é um serial killer de verdade? —  Olhando dessa forma, ele é sim —  Messenger respondeu.

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De repente, o tremor começou de novo. Pela primeira vez, notei asfolhas secas que se agarravam na parte inferior das minhas mangas. Eu as

 joguei freneticamente no chão, minhas unhas rasgando a lã.Messenger tirou o boné de beisebol, limpando as gotas de água de sua

testa. Ela tinha olheiras roxas sob os olhos, as bochechas estavam magras,e alguns fios cinza eram visíveis em seu cabelo escuro, embora ela nãoparecesse muito mais velha do que trinta e cinco. Eu me perguntava quantotempo na última década Messenger havia se dedicado a encontrar o Sr. Nell

 —  e falhara. —  Krauss é inteligente. Brilhante, na verdade —  Messenger disse em

um tom uniforme, como se estivesse falando sobre o tempo ou um filme queela vira na semana passada, e não de um assassino brutal.  —  Ele sempre

cobre seus rastros e ele é um mestre em desaparecer. Toda vez quechegamos perto, ele escapa.  —   O telefone de Messenger vibrou em seuquadril. Ela rapidamente verifica a tela antes de guardá-lo de volta.  —  Tivemos indícios de que ele poderia estar aqui em Nova Jersey, e agoratemos a nossa prova. Cada oficial e agente na cidade está procurando por eleagora.

 —  Ótimo —  disse Darcy, olhando para mim. —  Espero que atirem nacara dele.

 —  Darcy —  meu pai avisou. —   Não posso dizer que discordo dela, senhor  —   Messenger disse,

levantando as mãos. —  Agente Messenger? —  uma voz chamou.O homem que havia subido levantava um saco de plástico na mão.

Aninhado dentro havia um pequeno quadrado preto ligado a um fio. Umacâmera espiã. —  Descobrimos isso no quarto da menina, escondido entre asportas do guarda-roupa.

 —  Oh, meu Deus. —  O queixo de Darcy caiu, quando ela se virou para

olhar para mim horrorizada.Eu não conseguia respirar. Ele esteve em nossa casa. Ele estava me 

observando. O tremor se tornou violento. —   Leve isso para o laboratório  —   disse Messenger com um aceno

rápido.  —  Descubra o raio de transmissão. Pode levar para um local nasproximidades.

Meu estômago se apertou. —  Quanto tempo esteve lá? —  eu sussurrei.Os olhos escuros de Messenger suavizaram. —  É impossível dizer —  

disse ela suavemente.

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Pensei no meu quarto, com as suas paredes amarelas, o meumicroscópio e os meus livros de biologia. Era onde eu fazia meu dever decasa e dos laboratórios, onde eu ligava para os meus amigos, onde minhamãe costumava me contar histórias sobre um sapo chamado Neville para me

ajudar a adormecer. Era onde eu acordava todas as manhãs e me vestia e...Corri para o banheiro do corredor, batendo os joelhos contra o chão de

ladrilhos em frente ao vaso sanitário. Eu arfei e vomitei até que meuestômago ficou vazio. Então eu me sentei de costas contra a parede e fecheios olhos, cegamente alcançando a descarga. No mesmo instante, o rosto doSr. Nell voou em minha direção, e eu pressionei as bordas das mãos emminhas órbitas, tentando apagar a imagem.

Se eu pudesse apagar o fato de que o Sr. Nell —  o homem que sempre

escrevia BOM TRABALHO em letras maiúsculas em meus testes esublinhava três vezes, o homem que me convenceu a entrar na competiçãoestadual de matemática no ano passado, a pessoa que eu confiava econsiderava um mentor  —   me observava no meu quarto e espionava osmomentos mais íntimos da minha vida. Eu nunca me senti tão violada. Euprecisava fugir. Eu precisava de um banho. Eu precisava ficar limpa. Euprecisava ficar sozinha.

 —  Eu vou lá para cima —  gritei no meu caminho para fora do banheiro. —  Espera.Meu pai parou no final do corredor com um olhar preocupado no rosto.

Ele hesitou por um momento estranho antes de perguntar,  —  Você estábem?

Lágrimas brotaram imediatamente dos meus olhos. Meu paiatravessou a sala em dois passos, tomando a frente da agente. Eu quase nãopodia acreditar no que estava vendo. Meu pai e eu tínhamos acabado de noscomunicar. Nós, na verdade, nos entendíamos.

 —  Bem, obrigado por ter vindo, mas se você e os outros oficiais não se

importam, eu acho que a minha filha precisa de um pouco de paz etranquilidade —  meu pai disse, tentando conduzi-la para a porta. Ela não semoveu.

 —  Sinto muito, senhor, mas isso não vai acontecer —  disse Messenger,dobrando o casaco úmido sobre seu braço.  —  Não é seguro vocês ficaremaqui sozinhos. Há uma boa chance de Krauss não ter terminado com a suafilha.

Meu coração e estômago trocaram de lugar. Apertei minhas mãos para

pará-las de tremer. Não terminou comigo? O que diabos isso queria dizer?

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 —  Nós vamos colocar um serviço de proteção em sua casa  —  disseMessenger, virando-se para me olhar nos olhos, como se soubesse o quantoeu precisava ser reconfortada. —  Eu não quero que nenhum de vocês saiadesta casa até que ele seja capturado e preso atrás das grades. Isso significa

nada de escola, nem trabalho, nem nada. —  E as minhas aulas? —  perguntou o meu pai. Seu trabalho era tudo

para ele, pelo menos desde que a mamãe tinha morrido.  —  O período deverão acabou de começar.

 —  Tenho certeza que a universidade pode encontrar um substituto —  disse a agente Messenger.

 —  Eu acho que isso significa que eu não tenho que fazer minha provafinal de biologia —  minha irmã disse com um sorriso.

Meu pai olhou para ela. —  Nós vamos pedir que a escola traga toda asua lição de casa.Darcy visivelmente decepcionou-se, mas eu mal registrava tudo aquilo.

De repente, eu estava de volta naquela floresta, correndo pela minha vida,sentindo Nell respirando no meu pescoço, enquanto as palavras deMessenger ecoavam na minha cabeça repetidamente.

Não é seguro. Não é seguro. Não é seguro. —   Você vai pegá-lo, certo?  —   eu disse com urgência, finalmente

encontrando a minha voz. —  Quero dizer, com todos os policiais e tudo àprocura dele... Não há nenhuma maneira dele escapar.

 —  Eu gostaria que tivesse acontecido de outra maneira, Rory, mas essaera exatamente a oportunidade que precisávamos.  —  Messenger colocouuma mão reconfortante no meu braço, seus olhos escuros grudados nosmeus. —  Com alguma sorte, vamos pegá-lo até o final da noite.

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4EM BREVE

Traduzido por Matheus Martins

que você quer dizer com ainda não o encontrou? —  meu paiexigiu.

 —  Sinto muito. Nós suspeitamos que ele ainda estejana cidade, mas ele desapareceu no subsolo  —   Messenger disse, cansada.Suas calças pretas caíam em torno de seus quadris estreitos. —  Eu prometoque nós estamos fazendo o nosso melhor. É só um pouco de jogo de espera.

Esperar . Isso era tudo o que fazíamos. Sete dias inteiros se passaram eaqui estamos nós mais uma vez, se reunindo na sala de estar, ouvindoMessenger nos dizer exatamente nada. Eu inclinei minha cabeça no encostodo sofá e olhei para o teto, olhando para a rachadura que eu estava estudando

durante toda a semana. Ela tinha na verdade ficado mais longa desde asexta-feira passada, serpenteando a partir do canto perto da porta da frenteaté o centro da sala. Perto de mim, as unhas polidas de prata de Darcypararam de bater no teclado do seu laptop.

 —  Então, espere —  disse ela, fechando o computador e ficando em pé. —  Você está me dizendo que ainda  não podemos sair?

 —  Sim, é isso que eu estou dizendo —  Messenger respondeu, franzindosua testa.

 —  Não. De jeito nenhum —  Darcy estalou. —  Esta noite é a festa deformatura de Becky Mazrow. Eu estive ansiosa por isso o ano todo. De jeitonenhum eu vou ficar sentada aqui assistindo as Kardashians no meucomputador enquanto todos da minha turma estão lá.

 —  Darcy —  meu pai disse, impaciente. —  O quê? —  Ela levantou os ombros. —  Eles podem me enviar com

um segurança ou algo assim —  disse ela, olhando para a agente Messenger. —  Sua inepticidade  é a razão pela qual estamos escondidos aqui como umafamília de fugitivos.

 —  Inepticidade não é uma palavra —  eu disse em voz baixa.

 — O

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Darcy me ignorou. —  Sim, eu não acho que isso esteja no topo da lista de prioridades do

Tio Sam —  Messenger respondeu. —  Eu não acredito nisso! Você disse que iria pegá-lo “hoje à noite”  —  

Darcy gritou, fazendo aspas no ar. —  Isso foi há uma semana! —  Sinto muito, mas... —   Sente muito pelo quê? Por ser uma merda em seu trabalho?  —  

Darcy disparou de volta. —  Darcy! —  meu pai trovejou.Ela ficou em silêncio e se jogou de volta no sofá, com o queixo se

projetando em desafio. Mas a coisa era que ela estava certa. Não era justoque ficássemos presos aqui. Não fazia sentido que todo o FBI não

conseguisse pegar um cara. Eu nunca teria tido a coragem de dizer isso. —  E então... o quê? —  eu perguntei, cruzando os braços sobre o E=mc 2  no meu moletom. —  Você está apenas esperando ele fazer alguma aparição?Cometer um erro? Eu pensei que você tinha dito que ele era brilhante. Quaisas chances de que ele realmente estrague tudo e deixe ser pego?

Messenger não teve que responder. O olhar resignado em seu rostodizia tudo. Eu puxei meus joelhos até embaixo do meu queixo e me abraceitão forte quanto eu poderia. E se o erro que ele cometesse fosse invadir omeu quarto e me esfaquear até a morte antes que alguém pudesse fazeralguma coisa? Alguém tinha considerado isso?

 —   Inacreditável  —   meu pai disse, jogando as mãos para cima. Eleandou até a janela da frente e olhou para as duas viaturas policiais emmarcha lenta perto do final da nossa garagem, uma coisa constante desde odia em que eu fui atacada. Uma luz vermelha na base da janela piscava emintervalos regulares, que fazia parte de um sistema de alarme complicadoque o FBI manipulou para a casa.  —   Eu não sei quanto mais eu possoaguentar disso. Minha substituta vai dar um teste hoje à noite  —   ele

murmurou. —  Se ela não conseguir dar a eles o questionário, todo o meusistema de avaliação será totalmente jogado fora.

O telefone de Darcy tocou, e ela gemeu. —  É Becky de novo. Ela vai me matar se eu perder essa festa. —  Já chega! —  eu soltei, me levantando. De repente, eu senti que não

podia me sentar ao lado dela por mais nenhum segundo. —  Há um assassinoà solta e ele está atrás de nós ! Eu não posso acreditar que você estápreocupada com uma festa! —  Eu queria gritar para o meu pai parar de se

preocupar com um teste estúpido, também, mas é claro que eu não fiz isso.

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Todos os meus pensamentos furiosos sobre o meu pai não passavam disso —  pensamentos.

Darcy revirou os olhos. —  Eu sei que você nunca foi em uma, Rory —  ela disse sarcasticamente. —  Mas elas são realmente divertidas.  —  Então

ela me olhou de cima a baixo e lentamente embolsou seu telefone.  —   Amenos que você goste de estar sob prisão domiciliar.

 —  Eu gosto  de ficar segura   —  retorqui. —  Por que não estou surpresa? —  ela atirou de volta, levantando-se

para me enfrentar.  —  Você está aqui praticamente o tempo todo mesmo,escondida em seu quarto com seu pequeno estetoscópio e todos os seusbéqueres...

 —  É um microscópio —  eu cuspi.

 —  Tanto faz. Tudo que eu sei é que não é de se admirar que você nuncateve um namorado. —  Darcy! —  Meu pai estalou. —  Já chega.Darcy me lançou um olhar ácido.Minha boca se encheu com um gosto amargo. Tão desesperada como

eu estava para manter o segredo sobre mim e Christopher, havia momentos,como agora, que tudo que eu queria fazer era jogar na cara dela. Provar queela não era a única com uma vida, a única que as pessoas achavam atraente,a única que poderia ter uma chance.

Nesse exato momento, meu telefone apitou com um sms. Eu sorri umpouco quando vi que era de Christopher.

Alguma novidade?

Chris tinha mandado mensagens algumas vezes para checar como euestava. Algumas pessoas da equipe de corrida também tinham mandado.Todos eles tinham o mesmo conjunto de perguntas, perguntas que nunca

teriam perguntado se eles realmente parassem para pensar. Como Você ficoucom medo?  ou Você achou que ia morrer?  E a minha favorita, Toda a sua vida passou diante dos seus olhos?  

Não. Não, isso não aconteceu. O que passou diante dos meus olhosforam as coisas que estavam realmente lá. As folhas brotando das árvores,o céu nublado, a sujeira debaixo das minhas unhas. Tudo o que eu conseguiapensar era: Estas são as últimas coisas que eu vou ver. Eu vou morrer nafloresta. A mesma floresta onde Darcy e eu costumávamos brincar de Peter

Pan e Piratas do Caribe. A mesma floresta onde eu quebrei meu braçoquando eu escalei uma árvore para espionar Darcy e seu primeiro namorado.

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A floresta para onde eu costumava escapar e ler enciclopédias antigas daminha mãe quando a provocação de Darcy ficava tão impiedosa que eu nãoaguentava mais.

Eu digitei uma resposta.

Não... Ainda presa.

Então eu coloquei meu celular de volta no bolso da frente do moletom.Darcy olhou para mim rapidamente. —  Quem era?

 —  Ninguém  —  eu disse rapidamente, esperando que meu rosto nãoparecesse tão quente como eu sentia.

Messenger esfregou os olhos.

 —  Você não contou a ninguém sobre as medidas de segurança aqui,certo? —  Não, claro que não —  eu disse rapidamente, com um tom defensivo

na minha voz. Eu sempre fazia o que me era dito. Por um momento horrível,eu me perguntava se foi por isso que o Sr. Nell tinha me escolhido. Porqueeu era tão previsível, tão organizada, tão fácil de seguir.

Messenger balançou para trás em seus calcanhares, segurando as mãosem sinal de rendição.

 —  Ok, ok. Eu só não quero que você se machuque novamente, Rory.Meu coração dobrou sobre si mesmo e apertou até doer. Era uma

sensação nova, algo que começou após o ataque, sempre que eu pensavasobre Steven Nell.

 —  Olha, gente, eu entendo que isso é difícil. Eu realmente entendo. Eusó preciso que vocês permaneçam aqui um pouco mais. Vocês podem fazerisso por mim?

O tom de Messenger era sério. Mas ela não entendia. Nenhum delesentendia. Eles não entendiam como era correr pela floresta com um

assassino em seus calcanhares. A única pessoa com quem eu queria estar, aúnica pessoa com quem eu me sentia segura desde o ataque, era Christopher.Meu coração deu outro aperto doloroso, e de repente me senticlaustrofóbica, como se eu não pudesse respirar.

Dane-se. Eu ia ligar para ele. Darcy nunca saberia. Se ela perguntasse,eu apenas diria a ela que eu estava conversando com o meu parceiro delaboratório. Então ela definitivamente me deixaria em paz.

 —  Eu vou para o meu quarto —  eu disse, já segurando meu telefone

dentro do meu bolso.

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Me virei e subi de dois em dois degraus, meu coração batendo comantecipação com a ideia de ouvir a voz de Christopher. O andar de cima danossa casa se abria para um grande patamar com uma claraboia acima.Todas as cinco portas, que levavam a três quartos, um escritório, e um

banheiro, estavam fechadas. Abri a primeira à direita, a que era do meuquarto, e fechei-a atrás de mim, inclinando-me contra a madeira familiar. Eupuxei o telefone, mas minhas mãos tremiam tanto que ele caiu no chão.Deixei-o lá por um segundo e respirei fundo. Eu não queria ligar para elesoando toda sem fôlego e histérica. Eu precisava me dar um segundo parame acalmar.

Fechei os olhos, e imediatamente os pensamentos de nosso primeiro —  e único  —  beijo me encheram. Havia sido quando eu ainda estava sendo

tutora dele, antes de eu começar a trabalhar com sua irmã mais nova.Estávamos sentados à mesa em seu quarto. Eu estava em sua cadeiraconfortável na mesa, porque ele insistia, e ele estava em uma cadeira decozinha dura que ele tinha arrastado pelas escadas. Eram cinco centímetrosmais curta do que a minha, o que deixava nossos rostos na mesma altura.Eu tinha tido uma queda por ele durante semanas, mas ele tinha sidonamorado de Darcy desde sempre, e eu tinha feito um bom trabalho emcontrolar a mim mesma ao recitar a tabela periódica ou ao listar ospresidentes mesmo que eu quisesse olhar para ele. Por alguma razão, noentanto, naquela noite eu não conseguia impedir que o meu olhar vagassepara seu rosto a cada cinco segundos. Ele estava com um corte de cabelocurto, e pela primeira vez eu notei as manchas verde em seus olhoscastanhos. Era difícil acreditar que alguém tão bonito existia na minhaescola, e de repente senti tanta inveja de Darcy por ter chegado a beijá-lo.Ela deve ter sentido o que era estar em seus braços. Ela deve ter visto eleolhar para ela como se ela fosse a única garota na terra.

Então Christopher de repente teve um progresso em cálculo e ele

pulou, aplaudindo como se ele tivesse acabado de bater um home run , e girouminha cadeira ao redor. Eu ri e fechei os olhos para não ficar tonta, o que sóme deixou mais tonta. Quando ele me parou, abri os olhos de novo e tudo oque eu vi foi o seu rosto quando ele trouxe seus lábios para baixo nos meus.

No segundo que ele me tocou, foi como se algo dentro de mim tivessesido liberado. Algo que eu nem sabia que estava lá. Mas ainda assim, eu oempurrei.

 —  O que você está fazendo? —  eu exigi.

 —  Eu terminei com Darcy —  ele exclamou, sem fôlego.

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Eu senti como se tivesse acabado de ser derrubada de cabeça parabaixo.

 —  O quê? Quando? —  Esta manhã. Você não soube?

Revirei os olhos. Era tão natural para ele pensar que tudo sobre suavida chegava a todos os ouvidos na escola em um nano segundo.

 —  Não. Ela não... Eu ainda nem a vi —  eu disse. —  Bem, eu terminei com ela porque eu não aguentava mais  —  disse

Christopher, agachando-se na frente da minha cadeira como se estivessetomando a posição do seu receptor do beisebol.  —  Nas últimas semanas,sempre que você está aqui... —  Ele fez uma pausa e estendeu a mão para osmeus dedos. —  Rory, sempre que você está aqui, tudo o que consigo pensar

é nisso.Então, ele se inclinou e me beijou novamente. Coloquei meus braços aoredor de seu pescoço e ele me abraçou, me puxando até que nós doisestivéssemos de pé. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo.Christopher gostava de mim. Ele tinha terminado com Darcy por mim. Euquis isso por tanto tempo, e, inacreditavelmente, descobri que ele queria,também.

Christopher me beijou com força, como se estivesse faminto por isso, eeu me uni a cada movimento seu. Ele tinha gosto de Oreos e cheirava abanho fresco. Quando caí em sua cama, eu estava tão animada, confusa,lisonjeada e feliz. E então eu vi o rosto de Darcy e me afastei.

 —  Nós não podemos fazer isso —  eu disse, ofegante. —  Por causa de Darcy? —  disse ele, pegando meu pulso. Ele fechou os

dedos em torno dele, e eu percebi o quão grande era a sua mão e quãopequeno era o meu pulso. Ele balançou a cabeça. —  Ela vai ficar bem. Vamosapenas...

Virei-me e sentei-me de costas para ele, minhas pernas penduradas

para o lado da cama. —  Ela é minha irmã, e ela está apaixonada por você —  eu disse. —  Eu

não posso... —   Mas, Rory.  —   Ele se sentou atrás de mim.  —   Eu não estou

apaixonado por ela. —  Chris... —  Rory —  disse ele, brincando. Ele deslizou para que eu pudesse ver

seu rosto. —  Eu tenho tentado não te beijar por uns dois meses. Toda vez

que você vem aqui, eu fico animado como se fosse um encontro ou algoassim. É patético, mas eu realmente espero ansiosamente as suas aulas de

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cálculo. Eu não aguento mais. E sim, é uma merda que você é a irmã dagarota que eu estive nos últimos dois anos, mas isso é apenas o jeito que é.

 —  Ele empurrou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. —  Eu queroestar com você, não com ela.

Estas foram as palavras mais doces que alguém já tinha dito para mim.Alguém tinha me escolhido. A tímida, inteligente demais e estranha ao invésda popular, linda e espirituosa Darcy. Mas para Darcy tudo se resumia aChristopher. Ela saltava quando ele mandava uma mensagem. Ela usava ocasaco do time do colégio em casa mesmo quando ficava calor.

Então eu lhe disse que não, me levantei e fui embora. Mas ele aindaveio no dia seguinte, quando Darcy foi ao treino de torcida e me convidoupara o baile de férias. E embora eu não quisesse nada mais do que ir com ele,

eu ainda disse que não. Porque Darcy tinha passado a noite inteira chorandoem seu quarto. E eu não podia fazer isso com ela.O tique-taque rítmico do relógio com tema de química que minha mãe

tinha comprado para mim no meu décimo aniversário me trouxe de volta aopresente. Minha respiração desacelerou e eu me senti um pouco mais calma.Talvez eu não pudesse ter saído com Christopher até então, mas eu poderiapelo menos dizer-lhe como eu me sentia agora, especialmente considerandocomo Darcy estava sendo malvada. No mínimo, a experiência com StevenNell era um lembrete terrível que a vida era curta.

Eu abri meus olhos, e meu quarto entrou lentamente em foco. Fora da janela, uma chuva começou a cair. Uma imagem de proteção de tela de mime minha mãe na linha de chegada da minha primeira corrida corta-matoapareceu em meu laptop. Meu tapete de ioga azul estava desfraldado no chãode quando eu tinha feito meus exercícios abdominais, meu celular pousadono centro dele. Um tênis de corrida aparecia debaixo da minha cama comcolcha branca. Então eu pisquei. Eu podia jurar que tinha deixado minhacama desfeita naquela manhã —  eu tive pesadelos desde o ataque, e parecia

inútil esticar os lençóis já que eu os amassava descontroladamente todas asnoites. Mas agora ela estava arrumada perfeitamente, os travesseirosordenadamente afofados. E lá, na minha colcha remendada, havia uma únicarosa vermelha.

Por um momento, eu me perguntei se Christopher havia deixado paramim. Um cartão de nota pequeno estava escondido debaixo do cauleespinhoso da rosa. Uma respiração irregular ficou presa na minha garganta.No cartão, impresso em letras maiúsculas completamente familiares e

sublinhadas três vezes, havia cinco palavras sinistras:NÓS ESTAREMOS JUNTOS. EM BREVE.

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5CORRER

Traduzido por Matheus Martins

u gritei. Bem alto. Meus joelhos cederam e minha bunda bateu nochão. Encostei minhas costas contra a porta do armário e enrolei-

me em uma bola, soluços quebrando meu peito. —  Rory! —  Meu pai entrou no quarto com Messenger e Darcy em seus

calcanhares. —  Rory, o que aconteceu?Tremendo, apontei para a cama. Instantaneamente, Messenger estava

em seu walkie-talkie, gritando ordens. —  Oh meu Deus —  Darcy arfou. —  Leve-a para fora daqui —  meu pai disse a ela.Gentilmente, Darcy me puxou do chão para o corredor, onde ambas

nos sentamos no chão. Lá fora, sirenes soaram. —  Ele esteve aqui, Darcy —  eu choraminguei. —  Ele esteve no meu

quarto. Ele passou por dois oficiais... o alarme... —  Está tudo bem. Você está bem —  disse Darcy, colocando o braço

em volta de mim. —  Não está tudo bem —  eu disse. —  Ele vai me matar, Darcy. Ele vai

me matar.Eu apertei meus olhos e chorei. Lá fora, o barulho de um motor de

helicóptero encheu a noite, e holofotes iluminavam o corredor. —  Como isso pôde acontecer?  —  meu pai exigia de dentro do meu

quarto. —  Como ele entrou aqui? —  Como ele entrou não é importante agora. O fato é que ele entrou —  

Messenger declarou, saindo para o corredor. A rosa e a nota pendiam deseus dedos em sacos de provas distintas.  —   Nós pensamos que nossasmedidas seriam o suficiente, mas é evidente que ele é ainda mais capaz doque tínhamos pensado.

Ela colocou a mão em seu coldre de arma, como se quisesse garantir

que ele ainda estava lá. De repente, ela parecia uma nova pessoa  —  toda

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energizada, pronta para entrar em ação. Seu telefone tocou e ela verificou amensagem, em seguida, o guardou. Ela olhou para cada um de nós.

 —  Vocês vão precisar ir para uma casa segura —  ela nos disse. —  Hojeà noite.

 —  Ir embora? Agora? —  exclamou o meu pai.Darcy levantou-se, arrastando-me do chão.

 —   De jeito nenhum  —   disse ela.  —   Eu não posso simplesmente irembora. Eu vou me formar semana que vem!

 —  Uma casa segura? —  eu disse. —  Por quê? —   Há algo que eu não lhe disse antes  —   Messenger explicou, me

olhando nos olhos de uma forma que adultos nunca pareciam fazer —  comose eu fosse igual a ela. —  Ele nunca falhou em terminar um trabalho antes.

Apenas outra vítima escapou dele, e duas semanas mais tarde, ele invadiu acasa dela e matou toda a sua família. —  Ela me pegou pelos meus ombros. —  Rory, eu não estou tentando assustá-la, mas ele vai continuar vindo. Elenunca vai parar.

Meu coração executou uma série de manobras dobráveis que me fezsentir fraca.

 —  E quanto a você, eu tenho certeza que ainda vão te dar um diploma,mas você realmente vai se importar se você estiver morta?  —   a mulherperguntou a Darcy.

 —  Uau. Você realmente não adoça nada, não é? —  perguntou Darcy.Messenger olhou-a de cima a baixo.

 —  Não é o meu estilo. Agora eu sugiro que vocês comecem a arrumartudo. Vocês sairão em quinze minutos. Sem fotos, sem itens pessoais oudocumentos. Nada que conecte vocês de alguma forma a esta vida.

Virando as costas para nós e indo para a janela acima da escada, elaolhou para fora. Dezenas de policiais em capas de chuva vasculhavam ogramado molhado, o holofote dos helicópteros piscando seu feixe amplo

sobre tudo, desde o nosso balanço antigo até o muro em ruínas em torno doque costumava ser a horta da minha mãe.

 —  Nós realmente temos que fazer isso? Nós realmente temos que irembora? —  disse meu pai através de seus dentes, apoiando uma mão sobrea sua cabeça na parede perto da porta de seu quarto. Seu rosto estava pálido.

Eu vi seus olhos viajarem para um quadro emoldurado na paredeoposta. Uma foto profissional da minha família, tirada quando eu estava naterceira série, Darcy estava na quinta, e minha mãe era jovem, bonita e

intocada pelo câncer. Ela sorriu de volta para ele, seu cabelo loiro brilhante,sua maquiagem perfeitamente aplicada, sua gola rulê rosa favorita nítida e

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inalterável. Estava todo esfarrapado nas extremidades, com manchas desuor em todo o topo da gola e pequenos buracos desgastados na bainha, masela se recusou a tirá-lo. Era a sua coisa favorita e ela não queria tirá-lo.

Meu coração lentamente rasgou ao meio. Eu desejei com todas as fibras

do meu ser, com todos os ossos do meu corpo, com cada grama do meusangue, que ela estivesse aqui agora. E eu sabia que ele estava pensando amesma coisa, também. Minha mãe saberia o que dizer, o que fazer. Minhamãe teria dado conta.

 —  Olha, Sr. Miller —  Messenger disse, seu tom calmo. —  Esperemosque não seja para sempre. Mas é a única maneira de manter a sua famíliasegura.

Meu batimento cardíaco martelava em meus ouvidos. Minha pele se

arrepiou. Meus pés coçavam para se moverem, para correr, para fugir. Meupai olhou por cima do ombro para nós, e nossos olhos se encontraram.Temos que sair daqui , eu queria gritar. Por favor, escute-a. Por favor .

 —  Meninas —  disse ele, sua voz rouca. —  Façam as malas.

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6SAINDO DE CASA

Traduzido por Manoel Alves

o meu quarto, peguei minha mochila grande, a que eu geralmenteusava para o acampamento de ciência, e comecei a abrir as gavetas,

tirando as roupas de forma aleatória, e empurrando-as paradentro.

Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Eu não podiaacreditar que o Sr. Nell tinha encontrado um jeito de passar pelo FBI eentrar em minha casa. Que eu estava sendo forçada a deixar o único lar queeu já tinha conhecido. A casa onde minha mãe tinha vivido. A casa onde elamorreu.

Zangada, lágrimas encheram meus olhos, enquanto eu me movia para

os lados, aterrorizada. Pregado no espelho ao redor da minha mesa haviadezenas de fitas azuis, vermelhas e amarelas, prêmios de ciência ecompetições acadêmicas. No canto na minha mesa estava meu microscópio,cercado por livros escolares, cadernos, slides e placas de amostras. Nadadisso iria comigo, obviamente, mas eu peguei o Manual Merck   na minhaestante e joguei meu iPad na minha bolsa. Ele deslizou para fora e saltoupelo chão.

 —  Não! —  eu gritei, liberando toda a minha emoção em nome do meubem mais valioso. Ajoelhei-me para pegá-lo, meus olhos transbordando delágrimas quando eu verifiquei os arranhões. Virei-o, e ele piscoualegremente à vida. Irracionalmente, eu ri e o levei até o meu peito, em umabraço.

 —  Rory? —  meu pai chamou. —  Que diabos foi isso? —  Nada! Eu estou bem! —  eu gritei de volta, minha voz embargada.Por quê? Por que eu tive que ir pela floresta naquele dia? Por que o Sr.

Nell me escolheu? De repente, minhas lágrimas não paravam.Apenas respire, Rory. Acalme-se e respire.

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Sentei-me em meus calcanhares e, silenciosamente, recitei a tabelaperiódica.

Hidrogénio, hélio, lítio, berílio, boro, carbono, nitrogênio, oxigênio,flúor...

Recitação era um grande mecanismo calmante. Minha mãe me ensinouquando ela estava doente, e isso me ajudou a passar por todas as visitas aohospital, as longas noites depois que ela voltava para casa e não havia nadaa fazer senão esperar pela morte dela. Isso me ajudou a aguentar ir aofuneral e ao velório, e as mil noites aterrorizantes desde então, desejandoque ela estivesse aqui comigo.

 —  Rory! Onde está o meu jeans preto? —  Darcy exigiu, aparecendo naporta.

 —  O quê? Como eu poderia saber onde seus jeans pretos estão? —  Eurapidamente empurrei meu iPad na mochila e virei de costas para ela,enxugando os olhos com as duas mãos. Olhei para a foto de mim e minhamãe no meu nono aniversário e tirei do meu armário. Eu não ligo para o queMessenger disse. A foto iria comigo.

 —  Porque eu coloquei eles no meu armário esta manhã e agora elesnão estão lá.

Lancei à Darcy um olhar incrédulo. Ela sempre fazia isso, me acusavade pegar coisas que eu nunca iria pegar dela.

 —  Como se seus jeans sequer coubessem em mim —  eu respondi, coma voz trêmula, recolhendo meu carregador e alguns pares de meias da minhagaveta de cima. —  Caso você não tenha notado, você não tem coxas.

 —  Bem, então onde diabos eles estão? —  ela gritou. —  Eu não faço ideia! É realmente com isso que você está preocupada

agora? —  eu gritei. —  Aquele é o meu jeans favorito! —  ela gritou de volta. —  Meninas!

A agente Messenger tinha aparecido no topo das escadas. —  O quê? —  nós duas gritamos para ela.Então, meu coração afundou. Gritar com uma agente do FBI era,

provavelmente, uma coisa ruim. —  Vocês têm dois minutos —  ela nos disse. —  Se aprontem.Então ela virou-se e entrou no quarto do meu pai, onde ele estava

ocupado batendo gavetas e tirando roupas dos cabides. —  Eu não acredito nisso  —  Darcy balbuciou, arrancando os cordões

de seu moletom. —  Eu fiquei o ano inteiro ansiosa pela festa da Becky! Todo

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mundo vai. Todo mundo! Mas adivinhe quem não vai estar lá em seus jeansfavorito? Eu!

Revirei meus olhos e respirei fundo. Ela estava apenas desabafando.Apenas lidando, do seu jeito, com a situação. Se eu podia gritar com meu

iPad caindo no chão, ela poderia divagar loucamente sobre alguma festaestúpida. Isso era tudo o que importava para ela, afinal de contas. Seusamigos. Suas festas. Sua diversão.

Ela correu para o corredor e começou a descer as escadas. De repente,houve um ruído alto seguido por um estrondo. Com o coração na garganta,eu corri para fora do meu quarto.

 —  Filhoda...Darcy estava esparramada na parte inferior da escada, a cabeça contra

o canto da cômoda pequena, onde nós jogamos as correspondências e tudoo mais que não sabíamos o que fazer. Ela sentou-se e trêmula tocou a partede trás de sua cabeça.

 —  Você está bem? —  eu exigi. —  Eu estou bem.Ela retirou a mão. Seus dedos estavam manchados de sangue.

 —  Eu vou chamar o papai —  eu disse. —  Não! Eu disse que estou bem —  Darcy gritou, obrigando-se a ficar

de pé. —  Eu vou verificar na lavanderia.Ela deu um passo cambaleante, então se endireitou e desapareceu

virando em um corredor. Olhei por cima do ombro, surpreendida por meupai e Messenger não terem ouvido a sua queda. Mas então eu percebi queeles estavam fazendo barulho suficiente para abafar qualquer coisa, elecaminhava ao redor do quarto e ela falava alto sobre o barulho.

Lentamente, subi na ponta dos pés e fiquei perto da porta aberta, forade vista.

 —  Até quando vamos ter que ficar fora? —  Eu ouvi meu pai perguntar,

fechando uma gaveta. —  Enquanto for preciso para encontrar esse cara e prendê-lo —  disse

Messenger. —  Por enquanto, vamos falar de logística. —   Tudo bem, certo  —   meu pai disse laconicamente. Ouvi um zip,

depois outra pancada. —  Então fale. —  Assim que você e as meninas estiverem prontos, vamos trancar aqui

e ir embora —  disse ela. —  O carro que estamos disponibilizando para vocêestá estacionado na garagem. Tem um GPS programado com o seu destino

final, juntamente com um pacote de informações sobre suas novasidentidades, cartões de crédito, esse tipo de coisa.

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 —   Novas identidades?  —   meu pai perguntou, incrédulo.  —   Isso érealmente necessário?

 —  Será, se você precisar ficar escondido por mais de alguns dias  —  respondeu ela. —  Seus primeiros nomes permanecerão o mesmo, mas vocês

serão a família Thayer, de Manhattan.Meu pai soltou uma risada triste.

 —  O que é tão engraçado? —  perguntou a agente. —   Eu sempre quis viver na cidade, mas minha esposa não podia

suportar o barulho.Eu nunca soube que meu pai queria isso. Ele sempre parecia o Sr.

Suburbano. —  Você sempre arranja novas vidas tão rápido? —  ele perguntou.

 —  Ao lidar com um homem como Krauss, tentamos manter as nossasbases cobertas. Criamos este plano de contingência, logo que soubemos doataque de Rory.

 —  Oh —  meu pai disse, com raiva na voz.  —  Havia uma razão paravocê não ter mencionado isso para mim antes?

 —  Eu estou dizendo a você agora  —  disse Messenger com calma. —  Não havia nenhuma necessidade de preocupar suas meninas mais do que jáestavam.

Houve uma longa pausa, seguido por outro zip. —  Tudo pronto, Sr. Miller? —  perguntou Messenger. —   Você não quer dizer Sr. Thayer?  —   disse meu pai, pingando

sarcasmo em todo o lugar.Meu rosto queimou. Por que ele não podia nunca responder a uma

pergunta normalmente? Por que tudo tinha que ser uma briga? —  Meninas! —  disse o meu pai, entrando no corredor com uma velha

mala preta. Darcy voltou de cima com o capuz sobre a cabeça e seus jeanspretos dobrados em seus braços. —  Vocês estão prontas? —  perguntou o

meu pai. —  Eu vou pegar minhas malas —  Darcy respondeu, passando por ele

e entrando em seu quarto. Peguei minhas coisas e as juntei, justo quandoDarcy chegou na porta com a bolsa hobo em um ombro, a mochila sobre ooutro, a mala de rodinhas atrás dela, e seus fones de ouvido em seus ouvidos.

 —  Você vem com a gente? —  eu perguntei à agente Messenger.Ela balançou a cabeça. —  Eu tenho que ficar aqui. Eu sou a especialista

em Krauss —  disse ela, apontando para as luzes brilhantes de fora.

 —  Oh, ok —  eu disse suavemente, um tremor de nervos percorrendoatravés de mim.

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 —  Eu preciso de seus celulares —  disse Messenger, levantando a mão. —  O quê? Por quê?  —  Os olhos de Darcy estavam arregalados. Ela

era viciada em mensagens de texto. Eu tinha certeza que ela não poderiaimaginar a próxima hora sem o telefone dela, muito menos possivelmente

dias. —   Vocês não podem contatar ninguém  —   Messenger respondeu

quando eu entreguei o meu celular. —  Se alguém souber onde vocês estãoindo, isso colocará não só vocês, mas eles  próprios em perigo também. Equando vocês chegarem onde estão indo, vocês não podem dizer quem vocêsrealmente são, ou de onde vocês vieram ou por que vocês estão lá. Para suasegurança e a deles.

Meu pai deu-lhe o seu celular. Darcy puxou o dela e começou a apertar

alguns botões. Messenger arrancou para fora de suas mãos. —  Ei! —  Darcy gritou. —  Eu estava apenas apagando algumas coisas! —  Não se preocupe. Eu não estava pensando em ler suas mensagens

de amor —  a agente disparou de volta. —  Agora vamos embora.Seguimos Messenger descendo as escadas. Eu arranquei meu casaco de

chuva do gancho e me arrastei com a minha família para fora da porta dafrente, onde dezenas de carros da polícia estavam em silêncio, suas luzespiscando. A chuva caía forte. Eu puxei meu capuz para cobrir meu cabelo.Um grande SUV preto estava parado no centro da nossa garagem, suascalotas cromadas brilhantes da chuva.

Meu pai estava estendo a mão para abrir a porta do lado do motorista,quando o telefone de Messenger tocou. Todos nós congelamos. Talvez elestenham encontrado ele. Talvez a gente não tivesse que ir.

 —  Sim. Sim, eu entendo  —  disse Messenger.  —  Claro, senhor. Sim.Estamos a caminho. —  Ela empurrou o telefone no bolso e abriu a porta docarro para o meu pai. Tanta esperança para isso. —  Não parem até que vocêsestejam fora do estado —  ela instruiu. —  Não façam chamadas, não contem

a ninguém quem vocês realmente são, e mantenham suas novas histórias.Alguma pergunta?

 —  Algum agente nos encontrará lá? —  disse o meu pai.Messenger balançou a cabeça. —  Toda a nossa força de trabalho será

dedicada à caça desse homem. Vocês têm segurança máxima  —   eu souapenas uma de um punhado de agentes que sequer sabem onde esta casasegura fica, e não podemos correr o risco de falar a sua localização. Eu vouentrar em contato na próxima semana —  mas eu espero trazer vocês para

casa antes. Algo mais? —  Não —  disse ele. —  Não, está tudo bem.

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Mas havia medo por trás de seus olhos, e minhas mãos começaram asuar. Eu não tinha visto meu pai parecer assustado desde que minha mãemorreu. Triste, sim. Irritado, todos os dias. Mas com medo? Nunca.

 —  Bom —  disse ela. —  Agora peguem a estrada.

Ela virou-se, dobrou sua estrutura alta atrás do volante de seu carro, efechou a porta.

Por um longo momento, meu pai, Darcy e eu só ficamos lá. Tudo o queeu queria fazer era voltar para dentro, rastejar na cama, e enterrar minhacabeça sob os travesseiros. Era a nossa casa. Nossa casa. Eu vi minha irmãe eu brincar de fazer chá na varanda quando éramos pequenas. Vi minhamãe plantar flores ao longo da entrada da frente. Vi o meu pai me ensinar aandar de patins na garagem. Vi o carro fúnebre chegando e levando minha

mãe para longe, no dia em que ela morreu. Vi meu pai chorando nos braçosda minha avó no degrau da frente. Havia lembranças terríveis nesta casa,muitas que eu preferiria esquecer, mas havia uma grande quantidade deboas, também. Meu coração apertou ao pensar em deixá-las todas para trás

 —  em deixar a minha mãe para trás.Quando abri a porta de trás, vi Darcy enxugando os olhos. Ela entrou

após o meu pai e se encolheu. Alguns dos carros de patrulha saíram docaminho para dar espaço à medida que andávamos com o carro. Meu pailimpou a garganta e mudou a marcha no SUV, em seguida, dirigiu pela rua.Quando chegamos na placa de pare no final da rua, eu me virei para dar umaúltima olhada na fachada de tijolos da minha casa, meus dedos cavando oassento de couro falso. Então, meu pai virou a esquina, e a casa desapareceuatrás das árvores.

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7A EMOÇÃO

Traduzido por Manoel Alves

então ela estava fugindo. Não era do jeito que ele sempre fazia ascoisas, mas ele podia se ajustar. Ele poderia se adaptar. Essa era a

marca de um ser humano altamente desenvolvido.Ele agachou-se no quintal dos vizinhos, atrás da casinha de brinquedos

infantis, e observou. Ele assistiu a irmã xingar baixinho quando ela abriu aporta do carro. Assistiu o pai lutando com suas próprias emoções quandoele assumiu o volante. Aqueles dois eram tão previsíveis. Ele quase os quismatá-los primeiro. Para fazer isso por ela. Para livrá-la deles, antes que elepegasse o que precisava.

Então, ele a observou. A viu apertar o capuz por cima do cabelo lindo.

Viu seus cachos em seu assento. A viu olhar para sua própria janela doquarto, sentindo saudade disso mesmo depois que ele o tinha invadido.Ele esperou até que o SUV tinha saído da garagem e começou a descer

a rua. Então ele se levantou, sacudiu a água do seu chapéu de polícia, eacendeu a lanterna. Ninguém olhou para ele quando ele caminhou em tornodo lado da casa, através das azaleias florescendo e por toda a passarela.Ninguém piscou quando ele abriu a porta do carro da polícia em marchalenta. Ele sorriu e ligou o aparelho de som, então colocou o carro em marcha.

Ninguém fazia a menor ideia.

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8À SOLTA

Traduzido por Manoel Alves

s autoridades ainda estão vasculhando o estado atrás do serialkiller chamado Roger Krauss   —  disse o locutor de rádio em

sua voz nasal.  —   O homem que se acredita ter assassinadoquatorze meninas e atacou mais uma ainda está à solta...

Darcy apertar o botão DESLIGAR no rádio. Meu pai atirou-lhe umolhar, que ela ignorou. Eu gostaria de saber se Christopher estava assistindoao noticiário. Se ele tinha tentado me ligar. Se na segunda-feira, quando eunão estivesse na escola, ele iria perceber que eu tive que fugir. Se pelo menoseu tivesse ligado para ele antes de achar o presente doentio que Steven Nellhavia deixado na minha cama, antes que Messenger tivesse tomado nossos

telefones. Eu teria dado qualquer coisa agora só para ouvir sua voz.Eram quatro da manhã e nós dirigíamos sem parar por sete horas. Mal

tínhamos conversado, os únicos sons eram dos pneus vibrando ao longo darodovia; o rádio, que Darcy ligava e desligava de forma intermitente; e a vozmecânica do GPS, que estava nos levando para a I-95 para o nosso destinofinal na Carolina do Sul. As estradas estavam quase vazias, exceto por causade um sedan ocasional e alguma entrega de carga de um estado para o outro.

 —  Este deve ser o trecho mais chato da terra na América —  meu pai

murmurou por entre os dentes, curvando sobre o volante enquanto olhavapara fora do para-brisa. A chuva tinha parado em algum lugar em Maryland,e agora estávamos na Virgínia, cercados por um denso matagal de árvoresem ambos os lados da rodovia, dividindo-nos do tráfego norte e das terrasa oeste. Parecia que o cenário não mudava há horas.

Meu corpo estava pesado. Eu vinha lutando para me manter acordada —  com medo dos pesadelos que eu sabia que iriam me atacar assim que eufechasse meus olhos —  mas era uma batalha perdida. Eu vinha observandocom os olhos turvos as saídas das estradas, uma a uma, contando os

quilômetros que estávamos colocando entre nós e o lugar onde o Sr. Nell

 — A  

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tinha me atacado. Cada quilômetro fazia eu me sentir mais segura, maiscalma, até que minha respiração ficou firme e minhas pálpebras caíram nomomento em que senti o sono me atingir.

* * *

Uma buzina soou alto, e meus olhos se abriram. O carro foisubitamente inundado de luz. Eu virei no meu assento. Um enormecaminhão estava caindo em cima de nós, seu brilho tão ofuscante que eu malconseguia distinguir a forma quadrada da cabine. Meu coração deu umaguinada em minha garganta, e meu pai sentou-se ereto, olhando para oespelho retrovisor.

 —  O que esse idiota está fazendo?Uma buzina soou alto novamente e eu gritei.

 —   Que diabos?  —   Darcy virou em seu assento e apertou os olhos,levantando a mão para bloquear a luz. —  Apenas ultrapasse, imbecil! —  elagritou.

 —  Darcy! —  meu pai gritou. —  A língua!E, em seguida, o caminhão nos acertou por trás. Agora nós três

gritamos. Meu pai desviou, e houve um guincho de pneus.

 —  Oh meu Deus, é ele. É ele!  —  eu chorei, curvando-me para frente,com a cabeça entre as mãos e a testa nos joelhos. Em minha mente, imagineiSteven Nell ao volante do caminhão, os lábios finos escancarados pararevelar dentes amarelados, enquanto ele se abatia sobre a minha família.

O caminhão bateu em nós de novo, e minha cabeça foi para frente.Imaginei suas mãos violentamente agarrando o volante, as olheiras feias sobos olhos sádicos, a camisa xadrez e a jaqueta de veludo horrível que eleestava usando na floresta quando desapareceu.

 —  Não é ele, Rory  —  meu pai disse, parecendo em pânico.  —  É umbêbado que não sabe o que está fazendo.O motor do caminhão estava tão barulhento no meu ouvido que eu

poderia jurar que estavam sob o capô do reboque do caminhão. Outra batida.O carro deu uma guinada. Meu pai xingou quando ele lutou com o volante.

 —  O quê!? —  Darcy gritou, com uma mão apoiada no painel. —  O queé isso?

 —  Nosso para-choque está preso em seu caminhão.De repente, o caminhão acelerou novamente, e nosso carro começou a

acelerar fora de controle em direção a uma placa de saída verde se

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aproximando. Meu estômago afundou. Era isso. Nós iríamos morrer. Minhafamília ia morrer.

 —  Pai! O que você está fazendo? —  gritou Darcy. —  Não sou eu! É ele! —  meu pai gritou, com as mãos fora do volante.

 —  Pai! Faça alguma coisa! Faça alguma coisa! —  eu gritei.Mas já era tarde demais. Houve um terrível chiado, emitido por cima

do som de pneus queimando no pavimento. Então nós estávamos girando.A força me jogou contra o lado do veículo. Meu crânio bateu na janela. Tudoestava estremecido. Tudo doía. Meu ombro. Meus joelhos. As minhascostelas. Meu coração. O carro girou novamente, sacudindo minhasentranhas. Senti algo puxar meu peito, puxar meu espírito. Como se euestivesse tentando flutuar para fora do carro para o éter, tentando escapar

do que estava acontecendo. Por uma fração de segundo, eu estava pairandofora do meu corpo, olhando para baixo, vendo a mim mesma se acovardar.Então, virei mais uma vez, e eu senti o corte do cinto de segurança emminhas coxas. Os gritos de Darcy ficaram mais altos, aflitos, desesperados.E então, de repente, paramos. Houve outro rugido ensurdecedor do motor,e o som de pneus quando o caminhão saiu para a noite. Então tudo ficoudolorosamente, estranhamente silencioso.

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9ACABADO

Traduzido por Matheus Martins

eninas? Meninas! —  Os olhos do meu pai se arregalaramenquanto ele lutava com o cinto de segurança.

Meu estômago se revirava de dentro para fora, emchamas, tentando rasgar-se do meu corpo. Eu desfiz o meu cinto e medobrei, tentando recuperar o fôlego.

 —   Pai?  —   Darcy resmungou. Virei o rosto e olhei para cima. Elacontinuava vesga enquanto tentava se concentrar e quando ela finalmentefechou os olhos, esfregou-os, em seguida, abriu-os novamente. Ele estendeua mão para tocar seu rosto, virando sua cabeça para trás e para frentelentamente enquanto ela piscava para ele.

 —  Estou bem —  ela murmurou. —  Rory? —  meu pai disse. —  Estou bem —  eu engasguei. —  Eu acho. —  Lentamente, comecei a

me sentar, com a mão sobre minha barriga. A dor ainda estava lá, mas euera capaz de tomar uma respiração profunda sem passar mal.

O caminhão tinha nos empurrado para fora da estrada, e tínhamosvindo parar em um aterro íngreme coberto de grama, a poucos metros doconcreto da saída da estrada. A rodovia aparecia em cima, fora de vista etranquila.

Meu pai engoliu tão forte que pude ouvir o gole. Ele abriu a porta comum rangido agudo.

 —  Fiquem aqui. —  Espera! Aonde você vai? —  eu soltei, agarrando seu ombro sobre o

encosto da cadeira. —   Eu vou ver se ainda temos um para-choque  —   disse ele

severamente, deixando claro que era duvidoso.  —  Eu preciso ver se aindapodemos dirigir o carro.

 —  Mas...

 — M 

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 —  Mas o quê? —  disse ele, impaciente. —  E se ele ainda estiver lá fora? —  eu perguntei em voz baixa. —  E se

ele estiver apenas esperando... —  Não era Steven Nell, Rory —  meu pai disse suavemente.

Meus olhos ardiam com lágrimas quentes que eu mal conseguiasegurar.

 —  Como você sabe? —  Ele está certo —  disse Darcy, girando em seu assento. —  Se fosse

ele, ele teria nos rondado para ter certeza de que o trabalho foi feito, certo?Você ouviu alguma coisa? Você está vendo o caminhão?

Eu engoli um soluço que estava alojado na minha garganta e olhei emvolta. Estava muito escuro para ver muito além do muro denso de árvores,

mas a saída da estrada estava silenciosa. Até mesmo a rodovia estava imóvel. —  Ok —  eu disse, minha voz embargada. Limpei a garganta e olheipara o meu pai. —  Ok.

Ele desligou o motor, colocou as chaves no bolso, e saiu. Eu pressioneimeu nariz na janela, tentando vê-lo, mas não havia nada fora das janelas.Nada além de escuridão.

 —  Darcy, você está vendo o papai? —  eu disse com urgência. —   Tenho certeza que ele está bem  —   disse ela, roendo sua unha

pintada de prata.Um minuto se passou. Em seguida, outro. Meu coração batia

dolorosamente. —  Porque ele está demorando tanto?Darcy deu de ombros e foi abrir a porta.Disparei para frente. —  Não vá lá!

 —  Rory. —  Minha irmã me nivelou com um olhar controlador. —  Estátudo bem. Eu só vou dizer a ele que queremos dar o fora daqui.

 —  Não —  eu disse, balançando a cabeça. —  Algo não está certo.

E foi aí que eu ouvi. Um baixo assobio fúnebre, claro como o dia.Era a música “The Long and Winding Road”  dos Beatles.

 —  Darcy —  eu engasguei.Os olhos de Darcy se arregalaram, e ela sentou-se em linha reta.

 —  Oh meu Deus —  ela arfou. —  O Sr. Nell sempre assobiava isso noscorredores.

Ela estendeu a mão para o lado do motorista e acendeu os faróis comum estalo decisivo. O brilho amarelo dos faróis capturaram o ar enevoado,

iluminando a extensão do gramado ao lado do aterro, o emaranhado deárvores, e...

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Eu respirei fundo, piscando rapidamente. Isso não poderia... issosimplesmente não poderia ser.

 —  Esse é... o papai...? —  Darcy disse, sua voz quase um sussurro.Nosso pai estava no meio da saída da estrada, com o pescoço dobrado

em um ângulo antinatural. Sua boca congelada aberta em um grito. Seusolhos mortos olhando diretamente para nós.

Antes que eu pudesse processar o que eu estava vendo, antes que eupudesse colocar um nome no que estava acontecendo, uma pedra veiocambaleando pelo para-brisa de trás do SUV, quebrando o vidro e mepulverização com detritos.

Darcy e eu gritamos.Estava acontecendo de novo. De novo. De novo. De novo. Só que desta

vez Darcy estava comigo. E meu pai... Eu movi minhas unhas em minhascoxas, desejando que eu mesma agisse. O Sr. Nell estava lá fora. Meu paiestava morto. E em segundos, estaríamos mortas também. Era hora de agir.

 —  Darcy, nós temos que ir. Agora —  eu disse através dos meus dentes,empurrando minha porta para abrir.

Ela não se moveu. Meus pés tocaram o chão, e corri ao redor do carropara o lado dela.

Não olhe , eu me ordenei, angulando o meu olhar para longe do meu pai.Abri a porta do lado do passageiro e puxei Darcy do assento.

 —  Vamos —  insisti, mas Darcy ficou ali sentada, com uma expressãohorrorizada no rosto.

 —   Darcy! Temos de correr, você está me ouvindo?  —   eu disse,segurando suas mãos. —  Corra!

Finalmente, minha irmã rompeu-se do foco. Ela agarrou meus dedos e, juntas, corremos em direção ao matagal de árvores que separavam o tráfegosul das pistas sentido norte.

 —  Temos que chegar do outro lado da estrada —  eu disse a ela através

de suspiros para respirar, um plano cristalizando no meu cérebro. Nossolado da rodovia estava imóvel  —  mas talvez houvesse carros indo para onorte. —  Temos de acenar para um carro.

Darcy assentiu, acompanhando-me passo a passo.Os bosques pressionavam espessamente ao nosso redor. Não estava

chovendo mais, mas gotículas gordas da chuva de mais cedo pingavam dasfolhas em cima, estatelando sobre meus ombros e cabelos. Minha respiraçãoestava entrecortada em meu peito. Galhos rasgavam nossas peles, tatuando

nossa carne com marcas vermelhas de raiva. Eu olhei rapidamente para trás,e um galho de árvore estalou em minha bochecha. Instintivamente, minha

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mão foi para o meu rosto. Quando eu puxei-o para longe, estava pegajosode sangue.

 —  Rory Miller  —  uma voz familiar e doente chamou.  —  Para ondevocê foi?

Os sons de passos trovejavam atrás de nós, do nosso lado, na nossafrente. Eles estavam por toda parte e em lugar nenhum, saltando fora dasárvores com o mesmo eco desencarnado como a voz.

 —  Rory —  Darcy disse ofegante, com os olhos arregalados.  —  E seele nos pegar?

 —  Ele não vai! —  eu insisti.Pensei em minha primeira corrida corta-mato na quinta série. No rosto

sorridente da minha mãe, já magra pelos tratamentos, enquanto ela

esperava por mim na linha de chegada. Eu tinha diminuído meus passosenquanto o marcador final vinha à vista, deixando a pessoa a alguns passosatrás de mim me passar e se afastar. Eu não queria ser o centro das atenções,desde então. Eu queria as sombras. Eu não corria para ganhar. Corria paralibertar minha mente.

Mas agora eu tinha que ganhar. Tínhamos que vencer. Porque se nósnão o fizermos, se não fugirmos, se deixarmos o medo tomar conta,perderíamos tudo.

Uma árvore enorme apareceu na frente, e Darcy soltou o aperto emminha mão para que pudéssemos correr em ambos os lados da mesma. Eucorri para frente, mas quando eu estendi a mão para pegar a mão dela maisuma vez, tudo o que eu peguei foi o ar.

 —  Darcy —  eu sussurrei, não abrandando o meu ritmo enquanto euolhava ao redor. —  Onde você foi?

 —  Rory? —  uma voz fraca chamou. —  Darcy! —  Rory? —  a voz veio novamente.

Eu parei e me virei. A área arborizada que dividia a estrada era muitomaior do que eu esperava, e eu estava em uma clareira com cerca de vintemetros de largura. Houve uma pausa nas nuvens, revelando uma meia-luaperfeita pendurada no alto.

 —  Darcy —  gritei, de repente, não me importando se isso chamasse oSr. Nell para mim. Eu tinha que encontrar a minha irmã.  —  Darcy! Ondevocê está?

Aves decolaram de uma árvore acima. Um esquilo correu pelos meus

pés. Um gemido suave soou à distância. Minutos pareceram horas quandoeu me virei ao redor, à procura de Darcy.

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Então eu vi.Um dedo longo e pálido em um emaranhado de arbustos baixos e

galhos. A unha era pintada de um prata cintilante que brilhava a luz do luar. —   Não  —   eu sussurrei, meu sangue fluindo como gelo nas minhas

veias. —  Não, não, não.Lentamente, muito lentamente, eu cortei através da clareira. Folhas

mortas estalavam sob meus pés. Um galho estalou. Agulhas de pinheirocaídas farfalhavam como lixa em madeira, e uma coruja piou ao longe. Entãologo alcancei a mão. Com o coração na minha garganta, eu puxei de trás dosarbustos. Um soluço alto escapou dos meus lábios.

Minha irmã  —   minha linda irmã  —   estava bem ali. Ela estava debruços, com os braços sobre a cabeça como se tivesse sido derrubada prestes

a mergulhar em uma piscina. Seu cabelo escuro se espalhara em todos osângulos, escondendo seu rosto —  mas não o corte profundo na parte de trásde seu crânio.

 —  Oh Deus, oh Deus.Pânico inchou dentro de mim assim que eu agarrei seu pulso. Sua pele

ainda estava quente, mas quando eu tateei o pulso dela, meu coração sedespedaçou. Não havia nada. Nada. Lágrimas escorriam pelo meu rosto,misturando-se com o sangue no cabelo emaranhado da minha irmã. Darcy,a menina que usou um tutu por um ano inteiro, que tinha chutado GrantSibley quando ele puxou minha trança na quarta série, que às vezes tinhame provocado até eu chorar, mas que eu amava desesperadamente, estavamorta. Assim como o meu pai.

A minha família, todo mundo que eu amava, tinha morrido. —  Rory Miller... —  uma voz desencarnada sussurrou atrás de mim.Eu me virei. Uma figura estava ali, encapuzada e escurecida, uma

sombra ganhando vida.Steven Nell.

Ele usava a jaqueta de veludo cor de canela horrível sobre uma camisaazul escura. Seus óculos de aros de arame brilhavam à luz do luar, e elesegurava uma longa faca em uma mão e uma pedra sangrenta na outra. Seunariz era plano onde eu tinha quebrado ele, as maçãs do rosto afiadas, e seusolhos azul-gelo se estreitaram para mim.

 —  Sentiu minha falta? —  ele sorriu afetadamente.Bile subiu na minha garganta.

 —  Você matou a minha irmã  —  eu assobiei, raiva e tristeza lutando

dentro de mim. —  Você matou o meu pai.O Sr. Nell sorriu.

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 —  Eu não teria que ter feito isso se você tivesse apenas vindo comigo.Mas você não joga pelas regras. —  A faca de prata ao lado dele brilhou. —  Você vai ser uma boa menina agora e se comportar?

Se eu seria uma  boa menina ? Ele estava falando sério?

Adrenalina correu através de mim, e eu soltei um grito selvagem. Euvi o olhar assustado em seus olhos pouco antes de eu bater nele, como se elenão esperasse que eu lutasse. Como se ele pensasse que eu era apenas umagarota dócil que tinha tido sorte em Nova Jersey. Como se eu fossesimplesmente aceitar que ele matasse a minha família, que ele tivessetomado tudo o que eu tinha como se não fosse nada mais do que apagar umavela. Como se eu fosse ser sua décima quinta menina depois de tudo.

Décima sexta , uma voz mecânica disse na minha cabeça. Ele já tinha

matado Darcy.Meu joelho bateu em sua coxa com um estalo alto. Ele soltou um gritode dor, mas eu não senti nada, exceto a raiva que corria através de mimcomo lava derretida. A faca escorregou da sua mão, pousando com um baquesuave no chão aos nossos pés. Ele agarrou meu ombro, mas eu abaixei,dando uma cotovelada no seu estômago.

Ele engasgou, soltando um oof   alto, e caiu.Antes que eu pudesse me mover, sua mão envolveu o meu tornozelo.

Ele deu um puxão forte, e eu me senti cair para trás. Eu chutei forte, batendomeus membros, e meu pé esquerdo enganchou em algo assim que minhascostas bateram no chão. Ouvi um ruído e olhei para cima para ver o Sr. Nellagachado com as mãos sobre o rosto. Com satisfação sombria, eu percebique eu requebrei seu nariz.

 —  Sua vadia —  ele gaguejou, o sangue escorrendo pelo rosto. Tenteichutá-lo novamente, mas ele pegou meu pé e torceu-o, com força. Senti algoestourar na minha perna, e dor explodiu pelo meu corpo. Ele me prendeu eempurrou seu joelho contra minhas costelas, me pressionando contra o

chão. Um momento depois, duas mãos ásperas fecharam-se ao redor do meupescoço e apertaram.

Engoli em seco, tensa, minhas mãos puxando a sua para tentar melibertar de suas garras, mas ele era muito poderoso. Seus olhos azuisperfuraram os meus, e uma gota de sangue de seu nariz quebrado pingavasobre a minha bochecha.

 —  Eu disse que eu teria você —  disse ele com um sorriso. Suas palavraseram quentes e doentes de amor.  —  Eu disse a você.  —  Ele apertou com

mais força.

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Pontos cinza formaram-se na borda da minha visão. Agarrei o chão,tentando me segurar, e minha mão sentiu algo frio, metálico.

A faca. Meus dedos se fecharam em torno do punho. Reunindo toda aminha força restante, eu arqueei a faca e enfiei a lâmina em suas costas.

Ele soltou um rugido alto e saiu de cima de mim.Oxigênio correu em meus pulmões, e eu rolei sobre o meu lado,

engolindo avidamente. O Sr. Nell contorceu seu corpo e puxou a faca emsuas costas. Apenas a ponta estava vermelha. A ferida não era profunda  —  minha pouca força não tinha adiantado para isso.

Uma dor rasgou através de mim enquanto eu estava lá, olhando para omeu pretensioso assassino. Minha perna latejava, meu pescoço estavasensível e a inspiração enviava agulhas para o meu peito; o Sr. Nell tinha

quebrado minhas costelas quando ele se ajoelhou em mim.Mas eu ainda tinha uma perna boa, meus braços, e minha raiva.Quando Steven me atacou novamente, com a faca na mão, eu estava

pronta para ele. Um segundo antes de ele me alcançar, eu balancei minhaperna direita e disparei nele, em seguida, prendi minhas pernas nas dele. Foiuma agonia, mas eu segurei.

O movimento era algo meio Darcy, e eu tinha feito quando estávamoshabituadas a jogar Crocodile   no nosso quintal quando éramos pequenas.Nossas pernas eram as mandíbulas, e nós derrubávamos uma a outra e osnossos amigos quando eles tentavam saltar por cima de nós.

E, assim como os nossos amigos, Steven caiu em cima de mim, com aspernas presas na minha. Ele torceu, tentando ficar em pé, mas caiu,aterrissando com força em suas costas, a mão direita batendo no meuestômago, enquanto a esquerda caía inutilmente contra o chão. Euengasguei com o impacto, e ele soltou um gemido baixo, o vento onocauteando.

 —   Eu disse que eu ia pegar você  —   ele rosnou mais uma vez, um

pequeno sorriso em seus lábios sangrentos.Eu pisquei, confusa. Mas enquanto eu lutava para me sentar, uma dor

aguda atravessou meu abdômen. Foi então que eu percebi que a faca aindaestava na mão de Steven  —   e essa lâmina estava enterrada no meuestômago. Apenas o cabo era visível, e tudo ao redor daquilo foi ficandoescuro, numa mancha crescente. Notei com um desprendimento ímpar queera a mesma tonalidade exata da rosa vermelha que Steven tinha deixado naminha cama.

Ele estava certo. Ele tinha me pegado. Ele tinha pegado o meu pai, eentão Darcy, e agora a mim. Desta vez, enquanto eu estava lá com as árvores

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verdes me circulando, a minha vida ficou passando diante de meus olhos. Vio rosto risonho da minha mãe quando nos sentamos à mesa de jantar. Osorriso orgulhoso do meu pai quando eu ganhei o primeiro lugar na feira deciências. O piscar de olhos verdes de Darcy quando ela sorrateiramente

pegava uma colher extra de sorvete. O doce sorriso de Christopher antes deme beijar.

O Sr. Nell tinha vencido.Ou não tinha? Eu envolvi minhas mãos em torno do punho da faca,

todo o meu corpo em chamas. Eu tinha estudado o suficiente de biologiapara saber que a única coisa me impedindo de sangrar era a faca, e que aremoção seria a última coisa que eu faria.

A segunda última coisa, eu jurei.

Olhei para Steven, com as pernas presas nas minhas, seu torsoespalhado no chão da floresta enlameada. Seus olhos estavam fechados portrás de seus óculos rachados, com aros de metal, e ele estava deitado decostas, respirando ruidosamente através de seus dentes quebrados. Sua

 jaqueta de veludo cor de canela estava manchada com sujeira e sangue, asabas abertas, expondo sua camisa de flanela rasgada —  e seu coração.

Rangendo os dentes, eu puxei a faca do meu estômago. Mal registei ador, mas eu estava muito perto do fim de sentir qualquer coisa, além daminha necessidade de vingança.

Os olhos de Steven se abriram agitados. Suas pupilas estavam enormese tão negras quanto sua alma. Então a lua saiu de novo, derramando luzsobre nós, e tudo que eu podia ver era o meu próprio reflexo nas lentes deseus óculos. Minhas mãos levantaram a faca. Meu sangue escorreu nalâmina de metal. Um sorriso sombrio apareceu em meus lábios enquanto eudescia com força, direto sobre o coração de Steven.

Quando isso foi feito, eu me deitei de novo, exausta, encarando o céunegro.

 —  Rory —  uma voz gritou de algum lugar. —  Rory!De repente, eu acordei no banco de trás do nosso novo SUV, um grito

entalado na minha garganta. A mão de Darcy agarrou a frente do meusuéter.

 —   Shhh! Papai está dormindo  —   ela sussurrou, me liberando etorcendo para trás em seu assento ao lado do meu pai. —  Você estava tendoum pesadelo.

 —  Um pesadelo?

Eu balancei minha cabeça, meu coração batendo descontroladamente.Minha camiseta estava agarrada à minha volta em manchas de suor e meu

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pescoço estava molhado debaixo da minha trança. Corri minhas mãos sobreo banco e sobre o meu corpo, tocando em qualquer coisa real para provarque o que eu tinha acabado de experimentar era nada mais que um sonho.Meu corpo estava inteiro. Minha irmã, muito viva, estava olhando para

mim, e no meu colo tinha o envelope contendo a história de Nick, Darcy eRory Thayer, que não era muito diferente da nossa história real. Excetopelo fato de que nós viemos de Manhattan e que o meu pai era um professorparticular em vez de um professor de literatura na Universidade dePrinceton.

Eu inspirei e expirei lentamente, tentando me acalmar e me orientar. —  Onde estamos agora? —  eu pressionei minha testa contra a janela,

o vidro frio me trazendo totalmente de volta à realidade. O carro estava

cercado pela névoa, e meu pai estava roncando atrás do volante. Uma buzinade neblina soou e eu percebi que o motor não estava nem ligado. Eu olheipara fora da janela e vi o espelho lateral de outro carro a poucos centímetrosde distância, sem se mover. Nós estávamos em uma balsa, assim como aquelaque tínhamos pegado quando fomos para o casamento da minha prima Taliaem Massachusetts.

Darcy deu de ombros. —  Não tenho ideia. Eu acabei acordando porque você estava gritando. —  Nós paramos desde o acidente? —  perguntei. —  Que acidente? —  perguntou Darcy, franzindo a testa confusa.Eu hesitei. —  O acidente na saída, na Virgínia.Darcy olhou para mim como se eu fosse uma louca.  —   Rory, você

desmaiou na Virgínia. Não houve acidente.Não houve acidente . Conforme as palavras de Darcy me atingiam, deixei

escapar um suspiro de alívio. —  Graças a Deus.Darcy revirou os olhos.  —   Ok, se você já acabou de pirar, eu vou

dormir um pouco mais.Eu balancei a cabeça fracamente, retirando meu iPad e clicando sobre

a minha cópia de O Imperador de Todos os Males . Eu estava com muito medode voltar a dormir, no caso de eu começar a sonhar novamente. Masenquanto eu olhava para a tela brilhante, um leve sorriso cruzou meuslábios. Nós estávamos em uma balsa para uma casa segura. Estávamosvivos. E nós estávamos longe, muito longe de Steven Nell.

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10JUNIPER LANDING

Traduzido por Matheus Martins

eu pai e Darcy agitaram-se conforme o nevoeiro começava a selevantar. À minha direita havia água escura azulada e ondas com

cristas de espumas tanto quanto o olho pudesse ver. Houve umbarulho e um grito diretivo, seguido por outro e outro. A balsa estavaancorada.

 —   Já chegamos?  —  Darcy perguntou com um bocejo, olhando pela janela.

Meu pai piscou o sono dos olhos e estendeu a mão para o GPS. Elesoltou um bipe duplo alto e piscou à vida. A tela branca exibiu a mensagemque ninguém nunca queria ver: SEM SINAL.

À nossa frente, a rampa para o carro estava abaixada. Um homem emuma camisa pólo azul com um cisne branco bordado no bolso do peito nosacenou na frente. Meu pai ligou o motor e endireitou-se, limpando agarganta.

 —  Acho que estamos prestes a descobrir.Ele nos levou para fora da balsa, descendo a rampa para um pequeno

estacionamento, onde um homem estava distribuindo mapas. Meu pai abriua janela para tomar um ar, e uma brisa quente e salgada do mar fez cócegasna minha pele. Apertei o botão para a minha própria janela, também,respirando o ar fresco que me cercava. Lá fora, as gaivotas crocitavam e umsino em uma boia soou.

Assim que meu pai entrou em uma vaga de estacionamento para olharpara o mapa, eu assisti os passageiros desembarcando para a passarela depedestres. Eram em sua maioria crianças da minha idade e adultos mais

 jovens, com algumas pessoas de meia-idade e idosos apimentados. Eu vi doiscaras de mãos dadas, a definição de os opostos se atraem. O cara mais altotinha a pele escura e cabelo escuro e usava uma camisa estampada apertada

e um chapéu de palha descolado, enquanto seu namorado tinha cabelo loiro-

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branco e sardas, e usava uma camisa pólo verde sobre o short. Mas quasetodo mundo parecia estar sozinho, perdido em seus próprios pensamentos.Sentei-me um pouco mais reta quando notei uma placa de madeira esculpida,que era pintada de azul escuro no fundo, as palavras escritas em letras

brancas destacadas:

BEM-VINDO À JUNIPER LANDING

Acima da mensagem havia um cisne de madeira, inflando seu peito comorgulho, suas asas para trás e sua cabeça erguida.

 —  Rory, os panfletos que Messenger nos deu tem um endereço?  —  perguntou meu pai, virando o mapa para cima.

Eu folheei os papéis em meu colo e encontrei um pequeno cartão napasta de bolso com uma chave da casa grudado nele. —  Sim. Rua Magnolia, número noventa e nove.Meu pai deixou cair um dedo no mapa.  —  Aqui  —  disse ele.  —  Na

praia. —  Legal —  comentou Darcy, colocando um par de óculos de sol.Meu pai saiu do estacionamento e dirigiu-se lentamente para a cidade.Os prédios eram amontoados todos juntos, suas telhas de madeira eram

resistentes e cinza, a ornamentação branca em torno de suas janelas estavaestilhaçada em alguns lugares. Havia varandas de tábuas; brilhantes, birutascom temas de praia eram balançadas pela brisa; e pranchas de surfencostadas nas portas. Pelo menos uma dúzia de bicicletas estavamestacionadas por toda parte, nenhuma delas presa, e quando nós passamospor um açougue, ouvi cinquenta músicas piegas tocando em um alto-falantevelho e rachado. Cada janela tinha uma caixa de flor, e cada local de trabalhotinha uma placa pintada à mão e um toldo colorido.

Passamos por tudo, desde uma padaria a uma loja de roupas de banho

até um estande de esquina que vendia óculos de sol. Isso na verdade me fezlembrar de Ocean City, onde alugávamos uma casa por uma semana todomês de agosto. Definitivamente era um destino de férias, o que explicariatodos os jovens solteiros na balsa. Eles provavelmente vinham docontinente todas as manhãs para o trabalho. Um lugar como este tinha queestar bombando no verão.

A estrada se abriu em uma praça da cidade e um bonito parque com umcisne numa fonte de pedra que jorrava água no ar. Um cara com dreads

compridos e um gorro estava no centro de uma das passarelasentrecruzadas, cantando “One Love”. Ele tinha um  violão vermelho,

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amarelo e verde, que parecia que tinha tido dias melhores, e a case do seuviolão estava aberta no chão na frente dele. Ele se manteve o tempo todotocando com o pé descalço.

 —  Está longe de abraçar o estereótipo, cara —  disse Darcy baixinho.

Acima de sua cabeça, amarrada de poste a poste, havia uma grandeplaca azul que dizia EXIBIÇÃO ANUAL DE FOGOS DE ARTIFÍCIO DE JUNIPER

LANDING! SEXTA-FEIRA, AO PÔR DO SOL!Eu me virei quando passamos pelo Departamento de Polícia de Juniper

Landing, querendo solidificar a localização do pequeno prédio de tijolos naminha memória, só por precaução. À distância, eu podia distinguir os doisprincipais pontos de uma ponte acima das nuvens brancas flutuando nonevoeiro, que ainda pairavam sobre a água.

 —  Por que não pegamos a ponte? —  eu perguntei, sentando-me parafrente novamente.Parando em uma placa de pare, meu pai olhou no retrovisor, então se

virou para olhar por cima do ombro. —  Porque o GPS nos levou até a balsa —  disse ele, impaciente.Meu rosto queimou. Eu estava tão cansada do tom humilhante do meu

pai que eu poderia ter gritado. Mas, é claro, eu não disse nada. Como sempre.Nós começamos a nos mover novamente. Duas meninas caminhavam

na calçada e olharam para o nosso carro como se estivessem tentando ver sehavia alguém famoso no interior. Uma delas, uma garota alta, de aparênciaconfiável, com cabelo vermelho encaracolado, olhou nos meus olhos e nãodesviou o olhar. Ela segurou o meu olhar até que eu finalmente me senti tãodesconfortável que eu virei minha cabeça e fingi tossir.

 —   Oh meu Deus, olha só aquele moreno-alto-e-bonito!  —   Darcyassobiou.

Ela inclinou-se para frente em seu assento quando passamos pela Lojade Departamentos Juniper Landing, que tinha um toldo listrado azul e

branco, um par de mesas de fio branco do lado de fora, e uma grande placana janela anunciando o serviço de café da manhã e de almoço, bem como oMELHOR SORVETE CASEIRO DA ILHA. Um cara de cabelos escuros,de ombros largos, de queixo quadrado estava encostado à janela com um pépressionado no vidro. Ele estava casualmente lançando uma moeda quebrilhava ao sol, o que lhe dava a aparência de ouro ou bronze, e rindo dealgo que a menina loira ao lado dele tinha dito. Sua risada foi carregadaatravés da estrada.

Do outro lado dele havia um cara com cabelo loiro comprido, maçãs dorosto acentuadas, e olhos azuis tão marcantes que eu podia vê-los mesmo

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desta distância. Suas mãos estavam cruzadas atrás das costas, os cotovelospara fora, e ele estava olhando para o nosso carro. Enquanto eu olhava, elecutucou o menino de cabelos escuros e ele olhou para nós, também. Então amenina loira também, em seguida, a menina asiática pequena ao lado dela,

em seguida, os outros três adolescentes sentados em uma mesa próxima.Eles simplesmente pararam de falar e olharam.

Darcy sentou-se imediatamente para trás e olhou para frente, tentandoparecer legal, mas eu não conseguia tirar os olhos do cara loiro. Seu olharestava travado no meu, muito parecido com o que aconteceu com a ruiva nacalçada. Mas de alguma forma, isso era diferente. Ele estava olhando paramim como se me conhecesse. Como se já nos conhecêssemos. Mas tambémcomo se ele estivesse triste em me ver.

Meu coração começou a bater de uma forma totalmente nova. Como seeu estivesse à beira de alguma coisa, mas eu não sabia se era algo bom oualgo ruim.

 —  Deus. Ele é literalmente o cara mais gostoso que eu já vi  —  disseDarcy quando meu pai virou o carro em direção a uma curva na estrada. —  Talvez essa coisa toda de fugir de Princeton não tenha sido a pior ideia detodas.

Eu não lhe respondi. Em vez disso, eu me virei em meu banco paraolhar para a multidão mais uma vez. Eles ainda estavam olhando. E elescontinuaram encarando fixamente até que finalmente descemos a colina eficamos fora de vista.

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11PRESA 

Traduzido por Matheus Martins

erfeição. Este lugar era a perfeição. A cidade das férias. Moradoresde cidades das férias eram blasés  por natureza. Eles nunca tomavam

conhecimento de um rosto estranho, porque cada rosto era estranho.E lugares como este eram notórios por sua força de polícia descuidada —  indivíduos mal treinados que não tinham ideia de como lidar com qualquercoisa mais urgente do que filhos perdidos e brigas de bêbados na praia. Semmencionar o fato de que era uma ilha. Uma ilha com, na medida em que eleera capaz de discernir, apenas duas possíveis rotas de volta para o continente

 —  uma balsa com uma programação esporádica e uma ponte no extremonorte, uma boa meia-hora de carro até a cidade.

Ela não iria escapar dele. Ela estava presa. Ele não poderia ter pedidoao FBI para enviar Rory Miller e sua família para um local mais oportuno.Ele teria que se lembrar de enviar um cartão de agradecimento quando

isso acabasse.

P

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12SENSAÇÃO FAMILIAR 

Traduzido por Matheus Martins

lhei pela janela enquanto o meu pai parava na frente de uma belacasa branca com janelas azuis, uma enorme varanda na frente, e

uma cerca branca. Um chorão pairava sobre a calçada, e o jardimestava cheio de lírios alaranjados e equináceas roxas. Atrás da casa, o oceanose estendia em direção ao horizonte distante. A água era verde brilhanteperto da costa arenosa e aprofundava para o azul marinho além darebentação.

 —  Então é isso? —  eu disse com ar de dúvida. Eu estava imaginandoum prédio cinza deprimente com três camas e um chuveiro. Talvez ogoverno tivesse mais empatia do que eu pensava. Talvez eles imaginassem

que se você estivesse fugindo de um serial killer , você merecia um pouco demimos. —   É o número noventa e nove  —   Darcy gritou alegremente,

disparando para abrir a porta do carro.Eu saí e inclinei a cabeça para trás, saboreando o sol quente no meu

rosto. Um pungente aroma floral arrepiou meu nariz de uma formaagradável. Eu respirei-o, na esperança de que uma boa inspiração fosseacalmar os meus nervos em frangalhos e parar a batida irregular em meupeito. Eu segurei o ar dentro dos meus pulmões enquanto eu podia enquantoDarcy destravava o portão e caminhava para a varanda, onde um grandebalanço rangia para frente e para trás na brisa. Então eu finalmente soltei oar.

Meu coração bateu contra as minhas costelas. Não. Ainda apavorada.Mas pelo menos havia o sol, a brisa era fria, e não havia seriais killers  à vista.Por enquanto.

 —  Porta trancada —  Darcy anunciou, sacudindo o punho.Meu pai andou a passos largos para se juntar a ela enquanto eu ficava

atrás.

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 —  Aqui —  eu disse, jogando a chave do pacote para ele.Ele pegou-a facilmente. Darcy saltou para cima e para baixo quando

meu pai abriu a porta. Notar alguns garotos surfistas gostosos tinhaclaramente melhorado o seu humor.

A porta rangeu alto, como se não tivesse sido movida nos últimos anos.No interior, a casa estava clara e ensolarada, e tudo estava polido e brilhoso.Darcy correu até as escadas, sem dúvida com a intenção de obter o melhorquarto. Meu pai e eu só ficamos lá por um momento, observando os tapetesantigos desbotados, os pisos de madeira escuros, a mobília antiga. Umacozinha pastel estilo-anos-cinquenta se elevava na parte de trás da casa.

Minha mãe teria adorado. —  Eu acho que nós deveríamos desfazer as malas  —  disse meu pai,

parecendo cansado e soando exausto. —  Ok. Vou verificar o...Mas ele já estava se afastando de mim de volta para o carro. Subi a

escada de madeira frágil, meus membros parecendo subitamente pesados.Darcy saiu do primeiro quarto à direita, quase me derrubando.

 —  Esse é meu —  ela anunciou antes de correr as escadas e sair pelaporta da frente. Eu pisei em seu novo quarto, examinando o papel de paredelistrado de amarelo e branco e a cama queen-size . A enorme janela da sacadadava para a rua, e eu podia ver Darcy quando ela abriu a mala do carro epuxou sua mala.

Sua escolha estava boa para mim. Depois de tudo o que tinhaacontecido, a última coisa que eu queria era encarar a rua.

Do outro lado do corredor havia uma suíte principal feita em azul ecinza, que meu pai iria reclamar, e a próxima porta se abriu para umbanheiro de azulejos brancos. No final do corredor, uma terceira portaestava entreaberta, revelando uma escada em caracol. Olhei dentro e inclineia cabeça, mas tudo que eu podia ver era um teto com painéis de madeira.

A escada era tão estreita que eu era capaz de arrastar os dedos ao longodas paredes opostas, conforme eu fazia o meu caminho para cima, as escadasrangiam a cada passo meu. No topo, fiz uma pausa. O quarto era grande,quase tão grande quanto a casa, com um teto inclinado e paredes caiadas debranco. A cama de casal estava no centro sob a parte mais alta do teto, comuma janela de seis painéis do chão ao teto por trás dela de frente para a água.A única outra janela tinha como vista a praia ao norte. A mobília era escassa

 —  um guarda-roupa, uma mesa, uma estante de livros cheia de volumes

cobertos de tecido arrumados aleatoriamente.

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Em qualquer outra circunstância, eu teria adorado. Mas naquelemomento, eu não queria nada mais do que ir para casa. Eu sentia falta domeu quarto. Eu sentia falta da minha mesa e de todas as minhas coisas. Eestar longe de casa, longe do papel de parede da minha mãe, seus utensílios

de cozinha, a obra de arte que ela tinha arranjado tão cuidadosamente nasala de estar, estava me fazendo sentir falta dela ainda mais.

É apenas temporário , eu me lembrei com uma profunda e forterespiração. Mas eu sabia que a primeira coisa que eu iria desempacotar seriao retrato emoldurado de nós duas.

Virando-me, eu desci as escadas para pegar minhas coisas. Quandopassei pela porta aberta do quarto de Darcy, ela puxou o capuz de seu cabelo.Na parte de trás de sua cabeça havia uma enorme mancha de sangue, toda

seca em seus cabelos emaranhados. —  Darcy! Sua cabeça! Ainda está sangrando! —  eu engasguei.Ela virou-se para mim, os olhos verdes piscando enquanto ela tentava

encobri-lo novamente. —  Está tudo bem. —  Não está tudo bem —  eu disse, um arrepio correndo por mim.Do nada, um flash ultrapassou minha visão. A mão pálida sob o luar

prateado. O pio distante de uma coruja. Um emaranhado de cabelo pretosangrento sobre um crânio esmagado. Mas quando eu pisquei, a visão tinhadesaparecido. Foi apenas um pesadelo , eu me lembrei. Eu apertei a mão naparede mais próxima e tentei respirar.

 —   Rory? O que foi? O que há de errado?  —   perguntou Darcy,alarmada.

 —  Nada —  eu disse, olhando para longe, evitando seus olhos. —   Isso não parece não ser nada. Isso parece com... você tinha esse

mesmo olhar em seu rosto quando você tinha... —  Os flashes —  ambas dissemos ao mesmo tempo.Engoli em seco e sentei-me ao lado dela. Meu coração batia forte com

o pânico, e eu tentei fazer o que meu psiquiatra me disse para fazer todosesses anos —  focar no que era real, me concentrar no que estava aqui. Haviauma mancha cinza no meu tênis. Um grande nó negro na tábua de madeiradebaixo do meu pé. Uma cutícula rasgada no meu dedo anelar direito. Essascoisas eram reais. Este quarto, este assento, e Darcy. Eles estavam aqui.

 —  Eu sabia! —  Darcy exclamou, seu rosto enrugado de preocupação. —  Está acontecendo de novo? Desde quando?

 —  Eu não sei. Só... essa foi a primeira vez —  eu disse. —  Tenho certeza

que não é nada. Não se preocupe com isso.

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Virei meu perfil para Darcy e olhei para o chão de madeira. Três nósescuros no grão de madeira formavam um rosto sorridente vacilante.

 —  Quanto tempo você acha que vamos ficar aqui? —  eu perguntei emvoz baixa.

Darcy se encolheu, trabalhando em seus emaranhados. —  Eu diria que é um mau sinal que eles estejam perseguindo-o por dez

anos. —  Sim —  eu disse, meu coração dobrando sobre si mesmo. —  Eu acho

que ele é muito inteligente.Darcy ficou em silêncio por um momento. Ela estava olhando para fora

da janela, como se perdida em pensamentos, a escova mole na mão. —  Você quer ouvir algo realmente doente? —  ela finalmente disse em

uma voz enojada. —  Eu realmente gostava  do Sr. Nell. Ele sempre explicavamatemática de uma maneira que eu poderia realmente usar na vida real, oque tornava muito mais interessante. E eu gostava de como ele faziacompetições de velocidade de matemática nos últimos cinco minutos de cadaaula, porque ele sabia que, caso contrário, todo mundo ia ficar olhando parao relógio. —  Ela estremeceu.

 —  Eu sei. Eu gostava dele, também  —  eu admiti. E eu gostava. Eugostava de como ele levava seu café em uma caneca dos Beatles, como ele

sempre tinha uma cópia orelhuda de Auto Reparo para Idiotas

 escondidadebaixo do braço, e como ele nunca tinha mal hálito, quando ele se inclinavapara ver o meu trabalho, ao contrário de todos os outros professores emPrinceton Hills High. Eu costumava sorrir quando eu o via passeando peloscorredores, segurando a alça de sua bolsa carteiro cinza com as duas mãos,assobiando como se ele não tivesse nenhuma preocupação.

 —   Eu acho que você nunca pode realmente saber o que estáacontecendo na cabeça de alguém  —  Darcy falou, começando a escovar ocabelo novamente.

Olhei para seus olhos verdes brilhantes, que eram tão parecidos comos da nossa mãe. Nós não tínhamos sido as melhores amigas há muitotempo, não desde antes da nossa mãe morrer. Mas depois de Christopherchutar Darcy, ela tinha mudado completamente. Cada frase que saia de suaboca era uma repreensão ou um insulto. A única coisa que tinha continuadona mesma era ela se elevando contra o papai. Ela sempre era a única arespondê-lo enquanto eu me encolhia no canto. Eu era grata a ela por isso

 —  por encará-lo um pouco para que eu não precisasse. Mas eu não sabia

como dizer isso a ela.

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Minha mãe teria me dito apenas para dizer de uma vez. Que eraimportante que as pessoas soubessem como eu me sentia. Meu coração batiaforte com uma energia nervosa em minhas veias só de pensar nisso, mas eudecidi tentar de qualquer maneira. Eu poderia estar morta agora, afinal de

contas. Então ela nunca saberia. Aparentemente “A vida é curta” ia ser meunovo mantra.

 —  Darcy, Eu...Ela se levantou abruptamente.

 —  Vou verificar o resto da casa  —  disse ela, virando-se, evitando meolhar nos olhos. Era como se tivesse ouvido a emoção na minha voz e tivessemedo dela.

 —  Hum, tudo bem.

Coloquei minhas mãos sob minha bunda, envergonhada, mas ela jáestava saindo pela porta. Suspirando, eu me virei para a janela e olhei parafora para meu novo bairro. Ele era pitoresco, com casas coloridas em verdelimão e hortelã. Cada jardim continha uma profusão de flores e árvores bemaparadas. Apenas a casa do outro lado da rua parecia fora do lugar. Era cinzaclara com persianas pintadas de preto. Não tinha árvores, nem jardim, nemarbustos. A única coisa interessante sobre ela era a grade quadrada nocentro da porta da frente —  um daqueles antiquados olhos mágicos que seabriam como uma mini porta por dentro.

Enquanto eu olhava, a cortina caiu sobre a janela em frente à de Darcye eu vi uma mão desaparecer de vista. Meu coração bateu na minhagarganta. Tinha alguém nos observando? Eu me inclinei para frente,apertando os olhos quando a cortina se agitou.

Algo caiu no andar de baixo, e minha mão voou para o meu coração.Meu pai amaldiçoou a plenos pulmões. Levantei-me e caminhei para o meunovo quarto. Deixando para trás o susto rápido que eu tive no quarto deDarcy, eu fechei a porta silenciosamente atrás de mim. Nós estávamos

seguros aqui. Ninguém estava me observando mais. Pessoas eramautorizadas a olhar para fora de suas janelas.

Subi as escadas, sentei-me na cama e olhei para o teto com vigas demadeira com um suspiro. Então era isso. Esta era a minha vida nova. Coma minha família, mas completamente sozinha. Pelo menos alguma coisaneste lugar era familiar.

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13A GAROTA NOVA 

Traduzido por Manoel Alves

ory ...Sentei-me em linha reta na cama. Meus olhos correram

ao redor do quarto desconhecido, dos cantos escuros, dassombras distorcidas. Alguém havia acabado de sussurrar meu nome.

 —  Rory Miller! —  a voz soou novamente. —  Rory Miller pode sair ebrincar?

Joguei as cobertas de lado, meus pés descalços batendo no chão demadeira fria. Um giro rápido no quarto me convenceu de que não havianinguém lá, mas a voz veio novamente.

 —  Vamos lá, Rory. Venha brincar comigo.

Arrepios surgiram pelos meus braços nus enquanto eu, trêmula,andava em direção as escadas e olhava por cima da grade de proteção.Ninguém estava lá. Apenas os passos descalços desacelerando na escuridão.

 —  Rory? —  Era Darcy, desta vez. —  Rory —  ela gritou. —  Rory, meajude!

Com o coração na garganta, desci as escadas. Quando abri a porta, pareicom um baque. Eu olhei para baixo e lá estava Darcy, enrolada em posiçãofetal no chão. Seus olhos estavam abertos e fixos, mortos. Sua cabeça estavatão esmagada que parecia impossível aquilo um dia ter sido uma cabeça

humana. —  Não! —  eu gritei, cobrindo meus olhos. —  Não! Não! Não!Eu me virei na escada, indo diretamente para os braços de Steven Nell.

 —  Não!Acordei assustada no domingo de manhã, minhas mãos sobre minha

barriga, o sol brilhante agredindo meus olhos. O suor cobria cadacentímetro do meu corpo e minha pele parecia que estava pegando fogo.Minha barriga doía como se eu tivesse comido sacos de algodão doce demais

e me enchido com uma garrafa inteira de Coca-Cola. Eu cobri meu rosto e

 — 

R  

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disse a mim mesma que era apenas um sonho. Era apenas um sonho. Eraapenas um sonho.

Respire, Rory. Respire.No momento em que minha respiração começou a acalmar, eu ouvi o

som do meu pai batendo panelas e frigideiras na cozinha. Enfiei meus pésem meus chinelos e puxei meu suéter E=mc 2  antes de descer os dois lancesde escada. Na ponta dos pés, através do foyer, parei ao lado da mesa pertoda porta. Meu pai tinha colocado a foto de família ali  —   aquela quecostumava ficar pendurada na nossa parede no andar de cima. Eu nemsequer o tinha visto tirá-la de nossa casa. Quando um outro barulho soou,eu deslizei até a porta da cozinha e espiei dentro. Meu pai usava jeans e umacamiseta, vasculhando um armário baixo, de vez em quando jogando uma

frigideira Teflon ou uma panela de bronze atrás dele no chão. —   Eles nos disseram que precisávamos deixar nossa casa e, em

seguida, nos enviam para uma ilha sem nenhum serviço de telefone enenhum Wi-Fi —  ele murmurou para o oco do armário. Eu tinha notado oproblema do Wi-Fi ontem à noite quando tinha tentado fazer logon nainternet do meu iPad, mas esperava que fosse uma falha temporária. —  Quetipo de jeito é este que executam em uma agência do governo?  —   Elecomeçou a se levantar e bateu a cabeça na borda da abertura. —  Filhos da...

Eu pulei para trás para me esconder antes que ele pudesse meidentificar e começar a gritar comigo, também. Do lado de fora, ouvi umsino de bicicleta, e me encaminhei para a porta da frente. Eu escorregueipara a varanda, fechando a porta silenciosamente atrás de mim. O ar quentede verão me envolveu dos pés à cabeça. Andei na ponta dos pés para obalanço da varanda e sentei-me, passando os braços em volta de mimmesma. Mesmo da frente da casa, eu podia ouvir as ondas correndo contraa praia lá atrás, e o ar cheio de um picante aroma salgado do mar, além deuma doce infusão floral que eu não pude identificar totalmente.

Alguém por perto estava cantarolando. A música soava vagamentefamiliar assim que flutuou na brisa. Familiarizada o suficiente, eu comecei acantarolar junto. Até que eu percebi exatamente porque eu sabia a melodia.Eu pulei do balanço, girando ao redor.

Era “The Long and Winding Road”.Eu estava tendo um flash novamente. Eu tinha que estar tendo um

flash novamente. Mas, então, um pequeno pássaro amarelo sobrevoou epousou no parapeito da varanda. Eu ouvi o som distante de um sino. A

árvore magnólia do outro lado da rua sussurrava na brisa. Eu estava aqui.Em Juniper Landing. No agora. E o zumbido era real.

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Tremendo, caminhei para o fim da varanda e espiei por cima da gradepara a parte traseira da casa. Sândalos e capim se estendiam como umcolchão irregular por um calçadão que separava nossa casa da praia. Masdiferente de um melro empoleirado em uma árvore em floração e algumas

abelhas zumbindo em torno de uma equinácea, não havia nada lá. Eucaminhei para o outro lado e voltei a olhar a garagem. Nosso carro novoestava na calçada, seu capô preto brilhando no sol da manhã. Prendi arespiração, fechei os olhos, e escutei. Nada mais do que o quebrar das ondase o grasnar do melro.

Mas quando eu abri meus olhos novamente, a mesma cortina na mesma janela da casa do outro lado da rua se fechou. Desta vez, eu peguei umvislumbre de cabelos loiros quando alguém se afastou da janela.

 —  Que diabos?  —  Antes que eu pudesse perder a coragem, eu corrinos degraus da varanda, abri o trinco, e sai para a calçada, para ver melhor. —  Uou!Eu quase pulei para fora da minha pele quando duas meninas da minha

idade derraparam até parar em suas bicicletas, apenas alguns centímetrosdo portão e de mim. Uma era bonita, de pele escura, bochechuda, com cachossaindo em todas as direções e um piercing na sobrancelha que brilhava aosol. Ela usava uma jaqueta do exército, apesar de o clima estar quente, juntocom um vestido preto, um cachecol listrado, e botas pretas altas. A outra eraa garota pequena que eu havia visto com a nova conquista de Darcy na lojade departamentos ontem. Ela tinha cabelos pretos e lisos que caiam noqueixo, olhos escuros, e usava uma camiseta com JUNIPER LANDINGsobre shorts jeans. Uma pulseira de couro desgastada agarrava-se a seupulso direito.

 —  Essa foi por pouco —  a menina com o piercing na sobrancelha disse,recuando sua bicicleta.

 —  Hum, sim —  eu disse, meus olhos correndo de volta para a janela.

A cortina estava parada. —  Você é nova  —  disse a menina pequena friamente. Ela me olhou

com uma pontada de curiosidade, como se estivesse estudando meu rosto. —  É tão óbvio assim? —  perguntei. —  Para um nativo, sim  —  ela disse com uma risada curta que senti

quase zombeteira. Como se houvesse alguma piada particular que eu tivesseperdido.

 —  Menos óbvio para mim, mas eu estou apenas visitando. —  A outra

garota chutou para baixo o tripé de sua bicicleta e me ofereceu sua mão. —  Eu sou Olive Walden. Esta é Lauren Caldwell.

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Eu apertei a mão dela, ainda olhando para o outro lado da rua, para acasa cinza.

 —  E você é...? —  Olive solicitou, claramente se divertindo. —  Oh, desculpe —  eu disse, me trazendo de volta para o momento. —  

Rory. Rory... Thayer. —  O novo nome parecia estranho na minha língua.Lauren olhou para a minha casa longe de casa. —  Lugar maneiro.

 —  Obrigada. Você tem alguma ideia de quem vive do outro lado darua? —  eu perguntei, levantando meu queixo para a casa cinza.

Lauren e Olive trocaram um olhar, então olharam de volta para a casa. —  Já está tentando saber os podres de seus vizinhos, não é? —  Lauren

disse, com um brilho malicioso nos olhos.Corei. —  Não. Eu apenas pensei que eu vi... Eu quero dizer...  —  Eu

parei, sem saber como terminar a frase. Eu não poderia explicar exatamenteque um serial killer estava me perseguindo, e que cortinas se movendomisteriosamente estavam me deixando maluca.

 —  Não se preocupe. Ela está apenas bancando a difícil. —  Olive riu,acotovelando Lauren, para ela se comportar. —  Quer ir dar um passeio coma gente? Podemos levá-la para um passeio pela cidade.

Eu olhei de volta para a casa. Eu não gostava da ideia de sair com Darcymal humorada e papai irritado, mas o zumbido sinistro ainda ecoava naminha cabeça.

 —  Obrigada, mas eu não tenho uma bicicleta  —   eu disse, feliz peladesculpa. —  Além disso, eu sou mais do tipo que corre.

 —  Você corre? Sério? —  Olive protegeu os olhos contra o sol.  —  Eununca tive vontade.

 —  Não? É ótimo. Eu adoro —  eu disse a ela. —  Mesmo?Eu levantei meus ombros e respirei fundo. —  É... Eu apenas gosto de

estar sozinha e não ter que pensar em nada, além do ritmo dos meus passos

e a velocidade do meu pulso —  eu disse. —  É muito... —  Zen —  ela respondeu. —  Ok, Zen —  eu disse com uma risada. Eu olhei nos olhos dela. Ela

olhou de volta com uma expressão intrigada.Lauren, por outro lado, estava começando a ficar entediada. —  Vamos

indo, Olive —  disse ela, impaciente, rolando para frente em sua bicicleta. —  Estou morrendo de fome.

Olive pulou para trás em seu assento, ergueu o estribo lateral com o

calcanhar e, em seguida, virou-se para mim mais uma vez.  —  Oh!  —  eladisse, seus olhos brilhando. —  Você deveria vir para a festa hoje à noite.

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 —   Festa?  —   eu perguntei cautelosamente. Eu detestava festas. Asevitava tanto quanto possível. Eu sempre me dava bem com um amigo ououtro, mas as multidões não eram a minha praia. De fato, uma das maneirasque eu me consolei sobre nunca ter tido um encontro com Christopher era

dizendo a mim mesma que ele teria me arrastado para pelo menos uma dasfestas de fim de semana.

É claro, agora aquilo parecia um pensamento bobo. Meu coraçãoapertou só de pensar nisso. Eu deveria ter dito sim a ele. Eu teria tido oprazer de ter ido a dez milhões de festas, se isso significasse estar com ele.

 —   Nós vamos fazer uma fogueira na praia  —   explicou Lauren,brincando com a pulseira de couro.  —  Nós sempre convidamos todos osturistas —  acrescentou ela, como se quisesse ter certeza de que eu não me

achasse especial de alguma forma. —  Começa por volta das nove e nós estaremos lá até qualquer hora —  disse Olive. —  Basta olhar para fora de sua janela. Você vai nos ver.

 —  Hum... ok. Talvez —  eu disse, mesmo que não tivesse a intenção deir. Claro, era totalmente o estilo de Darcy, mas se eu dissesse a ela, ela iriaquerer ir, meu pai diria que não, ela iria fugir e a III Guerra Mundialexplodiria dentro da nossa casa temporária.

 —  Legal. Vejo você mais tarde, então. Talvez —  disse Olive com umsorriso irônico. Em seguida, as duas se foram.

Assim que elas foram embora, a porta da frente se abriu e meu pai saiuvestindo shorts Adidas e uma antiga camiseta de Harvard. Ele saltou sobreos pés algumas vezes, sua barriga se movendo para cima e para baixo comouma bola pesada.

 —  Eu estou indo dar uma corrida —  disse ele, tenso. —  Você quer vir?Eu pisquei. Meu pai não tinha me convidado para uma corrida desde

antes de minha mãe morrer. Ele não tinha me convidado para fazer qualquercoisa desde antes de minha mãe morrer. O próprio pensamento de ir com

ele fez meus ombros ondularem, como se ele esperasse que eu esquecessecinco anos dele ignorando minha existência.

 —  Hum... Eu ainda preciso tomar café da manhã —  eu disse, sem jeito. —  Ok. Estarei de volta em uma hora.Então ele abriu o portão e correu para longe. Eu ainda estava de pé lá,

boquiaberta atrás dele, quando pelo canto do meu olho, eu vi outra vibraçãoem uma das janelas da casa cinza. Com o coração na garganta, me virei ecorri para dentro, fechando ambas as fechaduras atrás de mim. Então eu me

movi para a janela da sala e me escondi atrás da pesada cortina floral,inclinando-me para que eu pudesse ver o lado de fora.

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De repente, a porta da frente da casa cinza abriu com um rangido. Umcara com o cabelo louro, um bronzeado de matar e olhos azuis penetrantesdesceu as escadas, olhou para a nossa casa furtivamente, e depoisrapidamente virou o quarteirão, com a cabeça baixa. Eu o reconheci

imediatamente. Ele era o cara do lado de fora da loja de departamentos.Aquele que tinha olhado para mim como se me conhecesse.

Minha respiração ficou presa na minha garganta. Cabelo loiro. Olhospenetrantes. Teria sido ele que tinha estado me observado da janela? E seele morasse lá, Lauren não teria dito? Eles tinham saído ontem. Parecia queeles eram amigos.

Eu o observei chegar ao fim da rua e desaparecer na esquina, que levavaà cidade. Então eu verifiquei novamente as fechaduras, fui para o meu quarto

e tranquei a porta atrás de mim. Se havia uma coisa que Steven Nell tinhame ensinado, era para não confiar em ninguém —  especialmente as pessoasque pareciam ter uma queda por me observar.

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14FOGUEIRA 

Traduzido por Manoel Alves

u estava terminando um capítulo da biografia de Marie Curie,quando ouvi a porta no fundo das escadas abrir. Meu coração quase

parou, e meus olhos correram para o relógio cinza e brancopendurado na parede oposta. Era meia-noite.

 —  Olá? —  eu disse, minha voz falhando quando me sentei reta.Passos rápidos soaram subindo as escadas, e eu me enrolei contra a

cabeceira da cama, agarrando o meu iPad contra o meu peito. Eu estava meperguntando quanto eu iria danificá-lo se tivesse que usá-lo como uma armaquando Darcy apareceu. Ela estava completamente vestida em jeans skinnye uma regata brilhante, e usava maquiagem completa.

 —  Você me assustou! —  eu disse. —  Olha só!  —  disse ela, me ignorando enquanto gesticulava para a

 janela voltada para o norte. —  Fogueira na praia!Droga. Eu deveria ter sabido que ela podia sentir o cheiro de uma festa

no ar. Eu suspirei, colocando meu iPad/potencial estrela ninja para baixo, ecaminhei até a janela. De fato, havia uma fulgurante fogueira, talvez trêscasas até a praia, com pelo menos vinte jovens em torno dela. Daqueladistância, tudo o que eu pude notar foram suas sombras. Parecia vagamentecomo a capa de O Senhor das Moscas , um romance que eu tinha sido forçadaa ler na aula de inglês no ano passado. Ficção realmente nunca tinha sido aminha praia.

 —  Eu aposto que aquele cara da loja de departamentos estará lá  —  Darcy sussurrou animadamente, levantando as sobrancelhas. Ela virou-se ecomeçou a vasculhar o guarda-roupa em frente ao pé da cama, deslizando oscabides para o lado de um por um.

 —  O que você está fazendo? —  eu perguntei cautelosamente.

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 —  Encontrando algo para você vestir  —   respondeu ela em sua vozcondescendente favorita. —  Vá fazer alguma coisa com o seu cabelo. Pareceque passarinhos estão fazendo ninhos aí dentro.

 —  Darcy, eu não quero ir a uma festa —  eu protestei, passando minhas

mãos sobre minha trança, no entanto. —  Bem, eu quero, e eu não quero aparecer sozinha.  —  As mãos dela

caíram para os lados e ela gemeu.  —  Você não tem alguma coisa que nãoseja um moletom?

 —  Oh, bem. Eu não tenho nada para vestir, então eu acho que seriamelhor ficar em casa —  eu tentei, temendo a ideia de ficar por aí, tentando

 jogar conversa fora com estranhos.Darcy me olhou de cima a baixo, analisando minha blusa branca e

cinza, e minha larga calça com uma faixa lateral. —  Você pode pegar algumacoisa minha —  disse ela, pegando a minha mão e me puxando em direção àsescadas.

 —  Papai vai nos matar se sairmos escondidas —  eu disse, agitada. —  E daí? Qual a novidade? —  Darcy... —  Oh, vamos lá, Rory! —  ela gemeu, inclinando a cabeça para trás no

instante que tomou minhas mãos nas dela.  —  Por favor? Por favor, porfavor, por favor? Estou morrendo de tédio aqui. Ficamos trancadas em casapor dois dias inteiros depois de ficarmos trancadas em nossa casa por umasemana. Por favor, vem comigo? Eu estou te implorando. Por favor? Vocême deve.

Eu olhei nos olhos da minha irmã e senti um baque de maupressentimento misturado com uma culpa esmagadora.

 —  Por que eu devo a você? —  eu perguntei lentamente. Ela não sabia,não é? Como ela poderia saber?

Ela desviou o olhar e levantou os ombros. —  Eu não sei. Por defender

você do papai no outro dia? Por defender você do papai todos os dias? Pordeixar para trás todos os meus amigos, a festa da Becky e desaparecer daminha formatura para vir para cá?

 —   Como isso é minha culpa?  —   eu apontei. Mas ainda assim. Eupoderia respirar um pequeno suspiro de alívio, porque pelo menos ela nãotinha falado sobre Christopher. Pelo menos ela não tinha de alguma formadescoberto. Mas o estrago estava feito, e a culpa estava agora pressionadano meu peito.

Além disso, Darcy estava certa. Ela tinha desistido de muita coisa paravir aqui. Quando Steven Nell tinha me atacado, ela estava esperando

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avidamente não só a sua formatura e a festa de Becky, mas também cerca demeia dúzia de outras festas e uma viagem até a costa. Para não falar de outroverão trabalhando no restaurante da família de seu amigo, Liam. Este ano,ela seria velha o suficiente para servir bebidas e trazer para casa “altas

gorjetas”. Eu nunca tinha gostado ou compreendidos seus amigos, mas elavivia para eles, e tudo isso tinha sido tirado dela.

 —  Tudo bem, tudo bem. Nós vamos —  eu disse, empurrando os meuspés nos tênis que eu tinha jogado ao lado da minha cama mais cedo. —  Maseu vou usar minhas próprias roupas.

 —   Eba!  —   Darcy realmente me abraçou por meio segundo, e umsorriso brincou em meus lábios. Fui até o guarda-roupa, arranquei o meusuéter azul-marinho e o coloquei. Então eu segui a minha irmã, descendo as

escadas e saindo pela porta dos fundos.O ar estava frio do lado de fora, e até mesmo antes da praia, eu podiasentir o cheiro de cinzas na brisa. Longas linhas finas estavam penteadas naareia debaixo dos nossos pés, como se tivessem sido recentemente niveladase enfeitadas por uma equipe de manutenção. Enfiei as mãos nos bolsos ecombinei com o ritmo ocasional de Darcy quando nos aproximamos dafogueira. Meu pulso acelerou quando as primeiras pessoas na margem damultidão começaram a nos notar. Eu me senti bem visível, como se nãopertencesse à aqui. Mas Darcy estava no seu habitat. Ela parou a poucosmetros do fogo e empurrou uma mão no bolso de trás da calça jeans, e agitouseu cabelo longe de seu rosto.

 —  Lá está ele —  disse ela por entre os dentes, deslizando os olhos paraa direita.

O gato de cabelos escuros de Darcy estava com Lauren e Olive pertode um cooler azul. Eles estavam com os dois meninos e a menina loira daloja de departamentos, juntamente com mais dois caras do tipo surfista e aruiva que tinha olhado para nós da calçada. Todos eles eram bonitos e

estavam completamente à vontade, seus cabelos jogados ao vento, seussorrisos despreocupados, suas roupas soltas e casuais, em um estilo delitoral.

 —   O segredo é deixar o cara vir até você  —   Darcy me informou,inclinando-se um pouco em direção ao meu ouvido. —  Nunca, jamais, ir até...

 —  Oi!Nós duas saltamos. A paixão de Darcy estava à sua direita, segurando

um copo vermelho e exibindo um sorriso perfeito e suave. Ele tinha uma

covinha na bochecha esquerda. Seu cabelo castanho caía sobre o olho direito,e as mangas de sua camiseta vermelha se agarravam a seus bíceps. Seus jeans

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estavam desgastados na parte inferior, e ele estava com os pés descalços,como o resto do seu grupo. Até mesmo Darcy tinha ido descalça. De repente,eu me senti deslocada no meu tênis.

Então o cara loiro do outro lado fixou os olhos nos meus. Uma fração

de segundo depois, ele desviou o olhar e tomou um gole de sua bebida.Lambi meus lábios secos e agarrei minhas mãos atrás das minhas costas.Meu pulso começou a acelerar, enquanto eu me perguntava se ele iria falarcomigo, e o que eu diria para ele se ele o fizesse.

 —  Oi. Sou Darcy Thayer —  a minha irmã estava dizendo. Ela inclinoua cabeça com um sorriso. Seus longos cabelos castanhos caíram sobre seuombro nu.

 —  Joaquin Marquez —  disse o rapaz. Ele apontou para o cara loiro, e

eu notei que Joaquin estava usando a mesma pulseira de couro que eu viraem Lauren antes. —  Este é Tristan Parrish.Tristan simplesmente assentiu. Meus olhos dispararam para seus

braços. Como esperado, uma pulseira de couro estava amarrada em seupulso.

 —  E esta é sua irmã, Krista  —   disse Joaquin, erguendo o copo emdireção à loira, que usava um vestido branco transparente; um colar de ourolongo e delicado; e o bracelete, embora o dela parecesse mais novo do queos outros.

 —  Olá —  disse ela, me examinando da cabeça aos pés, como se fosseuma designer de moda examinando seu trabalho. Havia uma confiançasofisticada nela, o que não era tão surpreendente, considerando como ela erabonita. Ela tinha as mesmas maçãs do rosto acentuadas que seu irmão e osmesmos olhos azuis impressionantes. —  Eu amei o seu cabelo —  ela disse,tocando o fim da minha trança.

 —  Hum, obrigada. —  Eu me contorci sob seu toque. —  Que tal passarmos as introduções antes de você apalpar ela, Krista?

 —  Joaquin sugeriu levemente. —  Desculpe —  Krista se desculpou, soltando meu cabelo. —  Não se preocupe com ela. Ela é bonita, mas socialmente desajeitada

 —  disse Joaquin baixinho, inclinando-se um pouco para nós. —  Cale a boca! —  Krista disse, empurrando seu braço, mas sorrindo

de uma forma autodepreciativa no mesmo instante que todo mundo riu.Então, ele era esse tipo de cara. Não importava se o que ele dizia era rudeou desagradável, todos apenas o deixavam dizer. Darcy tinha um desses em

seu grupo —  o amigo dela, Liam —  e eu não conseguia suportá-lo.

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 —  Esse pessoal lá atrás são Bea, Fisher e Kevin  —  Krista me disse,deslizando um braço ao redor do meu e apontando para a ruiva e doisrapazes. Eles silenciosamente levantaram suas bebidas em saudação. Fisherera alto, largo-como-um-linebacker, de pele escura e o cabelo tão raspado que

era quase inexistente. Kevin era magro e pálido, com cabelos pretos e umatatuagem de fogo intrincada atravessando seu antebraço direito. —  E você

 já conhece Lauren e Olive.Darcy me lançou um olhar confuso.Limpei a garganta, desembaraçando meu braço de Krista. —  Hum, eu

conheci Lauren e Olive mais cedo —  eu expliquei a Darcy. —  Elas estavamandando de bicicleta na frente da casa.

Lauren vestia a mesma camiseta e calções que usara naquela manhã,

mas Olive tinha mudado para uma blusa preta de mangas compridas sobrecalças largas. Seus cachos escuros saltavam loucamente com a brisa dooceano. Ela era a única sem uma pulseira de couro no braço, a não ser queestivesse escondido debaixo da manga.

 —  Oi, Rory —  disse Olive. —  Oi —  eu disse. —  Esta é minha irmã, Darcy.As meninas sorriram educadamente para Darcy, mas não disseram

nada. Darcy pigarreou e mudou seu peso. —   Então, Rory, como está sendo Juniper Landing até agora?  —  

Joaquin me perguntou, passando por Darcy e indo para o meu lado.Enquanto o resto do grupo ficava me olhando, eu olhei de lado para

Darcy, cujo sorriso vacilou. Ela não estava acostumada a ser ignorada,especialmente por minha culpa. Meu rosto ficou quente, e de repente meucoração parecia estar pulsando diretamente contra a minha pele.

 —  Hum, está... legal —  eu disse. —  Você já foi à cidade? —  perguntou Krista, brincando com seu colar. —  O sorvete na loja de departamentos é de matar —  Olive adicionou.

 —  E você tem que ir à biblioteca  —  acrescentou Krista. —  Eles têmuma seção de ciência incrível.

Meu coração pulou. Como Krista saberia que eu gostava de ciência? —  Porque você estava usando aquele moletom E=mc 2  esta manhã —  

explicou Krista, lendo claramente o meu olhar assustado. —  Pelo menos foio que Lauren me disse.

 —  Oh —  eu disse com cautela, lançando um olhar para Lauren, queolhou diretamente para mim, como se não fosse estranho que ela houvesse

relatado a minha roupa. —  Certo.

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 —  Ela estava? Deus —  disse Darcy de forma apologética, tocando meubraço. —  Perdoem a minha irmã. Ela ainda está aprendendo a se vestir.

Levantei uma sobrancelha irritada para a minha irmã. —  Eu acho que ela está bem  —  Tristan disse, falando pela primeira

vez. O timbre grave de sua voz enviou um arrepio pela minha espinha. —  Cada um tem seu estilo —  Darcy falou, jogando o cabelo para trás.

Mas eu podia ver o vermelho se formando em suas bochechas por ter sidocontrariada. As pessoas bonitas deveriam estar na sua, não na minha.

 —   Então, Rory, vamos encontrar um lugar para sentar  —   disseJoaquin, colocando o braço em volta de mim e dando em meu ombro umaperto familiar. —  Eu gosto de conhecer todos os nossos novos visitantes.

Aposto que sim , eu pensei, me perguntando com quantas garotas aquela

fala já tinha funcionado no passado.Tristan olhou mortificadamente para mim com isso, com umaexpressão de mágoa.

 —  Na verdade, eu estou com sede —  eu disse, esquivando-me do toquede Joaquin.

 —   Fisher vai pegar algo  —   disse Joaquin, inclinando a cabeça emdireção aos outros. —  Certo, Fish?

Instantaneamente, Fisher estava ao lado de Joaquin, como se estivessepronto para fazer o que ele mandasse. Olhei para Darcy, assustada, mas elasimplesmente olhou de volta para mim.

 —   Hum, obrigada, mas eu posso pegar sozinha  —   eu disse, meinclinando para que eu pudesse deslizar por ele.

 —  Tem certeza? —  perguntou Joaquim. —  Sim! Absoluta. Eu já volto —  eu disse a Darcy.Mas pelo jeito que ela estava olhando para mim, estava muito claro que

ela não teria se importado se nunca me visse novamente.

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15ZONA MORTA 

Traduzido por Manoel Alves

u caminhei para o outro lado da fogueira, agarrada a uma garrafa deágua do cooler, e tentando parecer que bebericava aquilo

perfeitamente satisfeita, enquanto observava as ondas.Discretamente, eu mantive um olho em Darcy e nos outros. Ela estavaflertando com Joaquin agora, mas de vez em quando ele olhava em minhadireção. Olive e Tristan estavam conversando sozinhos, suas cabeçasinclinadas juntas, enquanto Fisher, Kevin e Bea tinham encontrado algunscoolers para se sentar, de frente para o fogo. Lauren e Krista estavam aolado deles, sussurrando e olhando na minha direção.

Apenas respire. Apenas respire e recite.

Hidrogênio, hélio, lítio, berílio, boro, carbono, nitrogênio, oxigênio,flúor...Uma rodada de riso feminino me chamou a atenção. A poucos metros

de distância, mais perto da borda da água, um cara da minha idade estavaconversando com duas meninas mais jovens. Ele tinha o cabelo castanho eolhos castanhos, um rosto bonito, e era a única outra pessoa usando tênis.Ele estava ouvindo o que as meninas estavam dizendo, mas de vez emquando, quando elas não estavam olhando, ele olhava em volta, como seestivesse entediado.

Enquanto ele observava a festa, seu olhar captou o meu. Um momentodepois, ele desculpou-se da sua conversa e se aproximou de mim.

 —   Importa-se de me salvar da conversa mais ridícula de todos ostempos?  —   ele perguntou com um sotaque britânico cadenciado.Claramente, ele não era da ilha, o que significava que ele não fazia parte doGrupo Super Popular de Juniper Landing. Olhei para seu pulso, testandouma teoria. Sem pulseira de couro. Parecia que era algum tipo de tendêncialocal, ou talvez uma coisa do tipo clube exclusivo. Talvez houvesse alguma

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sociedade secreta dos moradores locais, deixando todos os outros saberemo quanto exclusivo era por usarem um mesmo acessório. Muito maduro.

 —  Qual era a conversa? —  perguntei.Ele soltou de seus lábios.  —  Você acredita que elas estavam falando

sobre o casal real, me perguntando se eu os conhecia? Como se todas aspessoas britânicas conhecessem um ao outro.

 —  Você não os conhece? —  eu brinquei.Ele riu, e o som quente me deixou à vontade.

 —  Eu sou Rory. —  Aaron —  disse ele com um leve aceno de cabeça. Ele moveu-se mais

perto de mim, observando a festa. Do outro lado do fogo, dois rapazeslutavam, enquanto um grupo de meninas gritava. Na minha direita, um

esguicho soou enquanto um cara sem camisa tentava se sustentar sobre obarril. Algo que eu não teria sequer reconhecido se não fosse uma exposiçãorecente sobre trotes de fraternidades no noticiário noturno. Joaquin e Darcyestavam entre eles.

Aaron estalou a língua. —  Você não odeia essas coisas? —  Muito, muito mesmo  —  eu respondi. Então lhe atirei um sorriso

provocante. —  Os seus amigos Lady Kate e o Príncipe Will se ergueriamsobre o barril?

Aaron deixou escapar um gemido exagerado. —  Na minha última festa,eu tive que chamar a guarda real para ter que tirá-los —  disse ele, seus olhoscastanhos dançando. —  Mas eu vi você falando com as pessoas bonitas. Qualé o problema com o moreno alto? —  ele perguntou, olhando Joaquin de cimaa baixo apreciativamente.

Eu balancei minha cabeça. —  Não faço ideia. Não é o meu tipo. —  Mas é o meu   —  disse ele, tomando um gole de sua bebida. —  Eles

não se aventuram desse jeito neste lado do oceano. Infelizmente, ele parece jogar no seu time, não no meu —  disse ele, lançando um olhar para a minha

irmã, que agarrou o braço de Joaquin enquanto ria. —  Se isso faz você se sentir melhor, ele meio que parece ser um idiota

 —  eu disse.Ele sorriu. —  Obrigado por isso.Eu sorri. —  Então, de que parte da Inglaterra você é?

 —  Eu sou um menino Birmingham, mas estou indo para Oxford nooutono.

 —  Oxford, uau. Então você é ridiculamente inteligente —  eu disse.

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Ele deu de ombros, sacudindo a cabeça. —  Não. Estou na nona geração,então eles tinham que me deixar entrar. Eu decidi estudar arqueologia, paragrande desgosto dos meus pais literários de espírito.

 —  Arqueologia não soa muito prosaico para mim —  eu disse.

 —  E você? O que você quer estudar?  —  Ele tomou um gole de suabebida, virou um pouco o rosto para mim, e plantou os pés, como sedecidindo que era ali que queria ficar, pelo menos por enquanto.

 —  Eu? —  Eu coloquei minha garrafa de água para baixo no cooler, emseguida, puxei minha trança por cima do meu ombro e comecei a mexer nofinal dela.  —   Ciência. Medicina, especificamente. Eu quero ser umaoncologista.

Eu queria salvar pessoas como a minha mãe. Pessoas que não mereciam

morrer. Pessoas cujas famílias não mereciam ser deixadas para trás. Mas euachei que era muito mórbido para uma festa. —  Uau. Você tem sua vida traçada. Impressionante —  disse ele. Houve

um longo momento de silêncio entre nós, mas não foi desconfortável. Nósdois tomamos nossas bebidas. —  Então, você está de férias, ou...

Mordi o interior da minha bochecha.  —   Sim. Nós chegamos aquiontem.

 —  Nós? —  ele questionou. —  Eu, meu pai, minha irmã. —  Meu coração pulou uma batida. Falar

sobre a minha família podia significar que eu teria que começar a contar anossa história de fachada. Eu tinha memorizado os fatos da nossa vida novano carro, mas ser capaz de contar as mentiras era uma coisa completamentediferente. —  E você?

 —  Acabei de chegar esta manhã —  disse ele. Ele terminou sua bebida,pegou minha garrafa vazia, e lançou-as em um saco de lixo nasproximidades, que já estava transbordando com copos e latas.  —   Naverdade, eu vim aqui para visitar o meu tio, que mora em Boston, mas houve

um incêndio enquanto eu estava lá e toda a família foi desalojada. —  Oh meu Deus —  eu engasguei. —  Espero que todos estejam bem. —  Sim, todos nós conseguimos sair ilesos, milagrosamente  —  disse

ele, brincando com um anel de prata em sua mão direita. —  Que bom —  eu respondi, pensando em minha própria fuga de casa.

Não que eu pudesse falar com ele sobre isso. —  De qualquer forma, eles decidiram voar de volta para o Reino Unido

até que os reparos na casa fossem feitos, mas eu não estava pronto para

voltar, então eu decidi que eu iria ver um pouco do país primeiro  —   eleexplicou.

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 —   Oh. Legal.  —   Desta vez a pausa foi estranha. Eu senti como sedevesse elaborar sobre as nossas férias, mas minha língua estava amarrada.

 —  Nós apenas... viajamos todos os anos logo após a escola liberar  —   euimprovisei.

Na verdade, nosso ano escolar terminaria em uma semana, mas ele nãotinha como saber disso.

 —  Minha família sempre vai à praia no feriado —  disse Aaron, com umsorriso melancólico.  —  Estar aqui está me fazendo sentir falta da minhairmã, devo confessar. Eu não tenho ninguém para ir fazer suf de vela. —  Eleme olhou com curiosidade. —  Eu suponho que você não...?

 —  Surf de vela? Não —  eu zombei. —  Então, eu gostaria de lhe ensinar. O que você diz? —  ele perguntou,

seus olhos iluminados com o entusiasmo.Meu coração acelerou de nervosismo. Eu nunca tinha sido demergulhar em coisas novas. Com estranhos. Em lugares estranhos.

 —  Eu prometo que vou ser gentil —  ele brincou, levantando uma mão. —  Por favor? Eu realmente quero ir, mas eu prefiro ir com um amigo. Evocê definitivamente parece ser uma boa amiga.

Corei, lisonjeada, depois encontrei-me imaginando como Darcyreagiria se eu lhe dissesse que estava indo fazer surf de vela. Elaprovavelmente iria rir na minha cara com um “Sim, claro”  e o própriopensamento fez minha pele queimar. Eu não queria mais ser previsível. Eunão queria ser a menina fraca e chata que Steven Nell escolheu da multidão.Eu queria abraçar todo este lema de “A vida é curta”, e se eu fosse fazer isso,era hora de começar a enfrentar meus medos e tentar coisas novas.

 —  Tudo bem —  eu disse. —  Por que não? —   Fantástico!  —   ele exclamou.  —   Encontre-me na baía amanhã à

tarde, às duas. Há um lugar de alugueis lá. Não tem como não encontrar. —  Eu estarei lá —  eu prometi.

Ouvi a risada de flerte da minha irmã do outro lado da festa e suspireiquando ela praticamente caiu em Joaquin rindo. Duas meninas nasproximidades pareciam irritadas. Eu desejei que ela não tivesse que ser tãoevidente.

 —  Bem, alguém está se divertindo  —  disse Aaron, seguindo o meuolhar.

 —  Você disse que tem uma irmã?  —   eu perguntei, na esperança demudar de assunto.

 —  E um irmão  —  disse ele. Ele abaixou-se para pegar uma pedra eatirou-a na água.  —  Eu tentei ligar para eles hoje pela primeira vez em

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muito tempo, mas não tinha serviço. —  Ele apertou os olhos quando olhoupara mim. —  Eu acho que o seu celular não funciona aqui, não é?

Eu não sei, eu não tenho um em minha posse. Mas o GPS tinha morridoquando chegamos aqui, meu iPad ainda não estava funcionando, e meu pai

tinha dito que até mesmo os telefones fixos não funcionavam. Talvez sejapor isso que o FBI nos enviou aqui, não havia nenhuma maneira possível denós entrarmos em contato com as pessoas da nossa vida antiga e estragarnosso disfarce. —  Não. Aparentemente, a ilha é uma zona morta.

Ele suspirou. —  Eu estava com medo disso. —   Por que é a primeira vez que você liga há algum tempo?  —   eu

perguntei.Aaron chutou a areia.  —   Isso é meio que uma longa história, mas

basicamente, eu tive uma enorme briga com o meu pai antes de ir embora,então eu tenho evitado ligar para casa. —  Ah —  eu disse. —  Isso faz sentido. —  É claro que, a grande ironia das ironias, eu finalmente me sinto

pronto para pedir desculpas e ligar para ele, e eu não consigo falar com ele. —  Ele encolheu os ombros.

Antes que eu pudesse responder, as garotas que ele tinha faladoanteriormente correram até ele com um grito alto.

 —  Aí está você!  —  A garota de cabelos castanhos disse, envolvendoseu braço no dele.

 —   Pensamos que havíamos perdido você!  —   sua amiga loira arfou,balançando levemente na areia. O copo vermelho em sua mão estava quasevazio.

 —   Aqui estou eu  —   disse ele fracamente, olhando para mim sedesculpando. —  Vejo você amanhã —  ele murmurou enquanto o puxavampara longe.

 —   Ok!  —   Eu dei-lhe um aceno e um sorriso encorajador, que ele

respondeu com uma careta, mas eu tinha certeza que ele poderia cuidar desi mesmo. Pelo menos, eu esperava que sim.

Deixada sozinha novamente, bati meus punhos juntos, querendo sabero que fazer a seguir. Eu verifiquei Darcy, esperando que ela pudesse estarficando entediada, mas ela estava olhando para Joaquin, extasiada, enquantoele gesticulava contando uma história. Deixei escapar um suspiro e estavaprestes a me virar quando notei Lauren, Krista, Kevin, Fisher e Bea sentadosde frente para o fogo com bebidas na mão. As chamas lançavam sombras

escuras sobre os seus rostos, e as faíscas do fogo faziam os seus olhos

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brilharem vermelho. Nenhum deles estava falando. Em vez disso, elesestavam todos olhando para mim, com expressões ilegíveis em seus rostos.

Seu rosto. O rosto de Nell. Salpicado de sangue. Olhando para mim. Oflash de uma faca. O ramo torcido de uma árvore. Alguém gritou.

Sentei-me com força no cooler mais próximo, com falta de ar. Outroflash. O grito tinha sido apenas uma garota qualquer, fugindo de doisrapazes na água. Eu apertei a mão na minha testa e disse a mim mesma quenão era real.

Concentrei-me no cooler frio abaixo das minhas coxas. As ondasquebrando em meus ouvidos. O calor do fogo contra a minha pele. Isso metrouxe de volta para a Terra, mas tudo o que eu queria era estar de volta emcasa, lendo meu livro na segurança do meu quarto no terceiro andar.

Eu me levantei, caminhando trêmula para Darcy, e toquei seu ombro. —  Podemos ir agora? —  eu perguntei em voz baixa. —  Por favor? —  Rory, acabamos de chegar aqui —  disse ela. Joaquin tomou um gole

de bebida, me estudando. —  Vamos lá, Darcy. Eu vim com você, agora eu preciso que você venha

para casa comigo —  eu sussurrei. —  Está tudo bem? —  perguntou Joaquim, aproximando-se de nós. —  Rory —  disse Darcy por entre os dentes, com os olhos arregalados. —  Mas eu... —  Se você quer ir para casa, vá. Eu vou ficar bem —  disse ela um pouco

mais alto.Olhei para ela. Certo. Claro. Ela ficaria bem. Mas e quanto a mim? Eu

não estava exatamente feliz com a ideia de voltar sozinha. —  Estamos há cinco passos de casa —  disse ela em voz baixa, seu tom

apaziguador. —  Não se preocupe. Eu não vou ficar até muito tarde.Eu me virei e olhei da praia para a nossa casa. Não era realmente tão

longe, e todas as casas entre aqui e lá tinha luzes em seus terraços. Além

disso, se alguma coisa acontecesse comigo, alguém na festa iria me ouvirgritar. Assim eu esperava.

 —  Tudo bem, tudo bem. Eu vou. Mas tenha cuidado  —  eu disse, meinclinando em direção a sua orelha.

 —  Deus. Se acalme —  ela replicou. Então ela virou-se para Joaquim. —  Então, como exatamente você começou a salvar vidas?

Voltei a olhar para o fogo, e meu olhar caiu sobre Tristan. Olive estavafalando com ele, mas ele estava olhando diretamente para mim de novo, me

estudando, como se estivesse tentando ler meus pensamentos. Meu coraçãocomeçou a bater de uma forma superficial, oscilante, e parte de mim queria

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apenas ir lá e falar com ele. Perguntar a ele o porquê de todos aquelesolhares. Mas eu não poderia fazer isso. Talvez ele não estivesse olhandopara mim. Talvez ele só gostasse de olhar. E tudo que eu ganharia porconfrontá-lo seria trazer mais atenção para mim e sair como uma idiota

egoísta no processo.Então, em vez disso, eu virei de costas para ele e me dirigi até a praia

sozinha, meu queixo enfiado na gola alta do meu suéter.Eu tinha andado cerca de cinquenta passos quando uma névoa cinzenta

começou a girar em torno de meus tornozelos. Meu coração deu um puloassustado, e então meus pés desapareceram inteiramente de vista. O ar aomeu redor parecia estar se movendo, se encolhendo, ondulando. Com ocoração na garganta, eu me virei para olhar para trás, o fogo não era nada

mais do que uma bola fosca e brilhante no cinza. Eu não podia distinguirnem um único rosto, nem uma única pessoa. O nevoeiro tinha rolado edistorcido tudo.

Eu me virei novamente, sentindo-me totalmente desorientada, eacelerei meu ritmo. Eu não podia ver mais de meio metro à frente, então eudesviei para a direita, procurando um ponto de referência. Um conjunto deescadas apareceu, levando até uma das casas, mas não era a nossa.

Uma risada veio do nada.Eu congelei no meu caminho, e um calafrio deslizou pela minha

espinha. O som arrepiou meus ouvidos. Era exatamente como o riso de meuspesadelos. Exatamente como o de Steven Nell.

 —  Não —  eu disse baixinho. —  Não.Ele veio de novo, desta vez mais perto. Gargalhando. O mais

silenciosamente que pude, comecei a correr. A areia sob meus pés me feztropeçar e eu estendi a mão, pronta para cair, mas minha mão bateu em algoduro. Um grito subiu na minha garganta até que eu percebi que era apenasum corrimão. Um corrimão de um outro conjunto de escadas. Eu não tinha

ideia se era a nossa casa ou de um vizinho, mas naquele momento eu não meimportava. Subi de dois ou três degraus de cada vez. Tudo o que importavaera entrar. Ficar longe dele.

Quando cheguei ao topo da escada, ouvi a risada de novo. Pairou nanévoa, quase em cima de mim. Subi através das tábuas de madeira e descobrique eu estava no terraço da nossa casa. Depois de me atrapalhar com a chaveno meu bolso, eu consegui deslizar para dentro e fechar a porta atrás demim, girando a fechadura o mais rápido que pude. A névoa cinza rodou

contra a vidraça quando eu recuei, deixando um rastro molhado decondensação. No outro lado do vidro, a névoa movia em pequenas pulsações.

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Como se alguém estivesse lá fora, em pé a poucos centímetros de distânciade mim, respirando lentamente para dentro e para fora. Dentro e fora.

Virei-me e corri até as escadas para o segundo andar, meu coraçãobatendo em meu crânio. No topo da escada, ouvi um barulho e parei,

agarrando-me ao canto do papel de parede. Mas, desta vez, não era um riso.Era algo totalmente diferente.

Ofegando, eu andei na ponta dos pés pelo corredor e fiquei do lado defora da porta fechada do quarto do meu pai. Ele deixou escapar um soluçotão aflito que pude senti-lo dentro do meu coração. Meu pai estava lá,sozinho, chorando. Uma coisa que eu não tinha ouvido dele desde o dia quetínhamos enterrado a minha mãe.

Eu fiquei lá, com minha mão na porta, e escutei. Escutei até que o medo

desapareceu. Até que eu comecei a perceber o quão irracional eu tinha sido.Como eu devia ter imaginado tudo. Como eu deixei um fenômeno climáticonatural me assustar a ponto do pânico. Nada disso era real. Isso  era real. Ador do meu pai. Ele finalmente desmoronando.

Isso era real. E por mais que doesse, estar ali de pé no corredor,ouvindo a sua dor, isso me deu esperança.

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16UM CONVITE 

Traduzido por Lua Moreira

pós o café da manhã na manhã seguinte, eu decidi andar na cidadee ver se conseguia encontrar um jornal. Não havia uma única TV

em casa, e eu precisava saber o que estava acontecendo com abusca por Steven Nell. Talvez a polícia o houvesse encontrado. Talvez tudoestivesse bem e nós poderíamos ir para casa.

Assim que coloquei minha mão na maçaneta da porta da frente, vi algose mover em uma das janelas do outro lado.

 —  O que você está fazendo?Minha mão voou para cobrir meu coração. —  Darcy! Você me assustou!

 —  Bem, por que você está aí congelada? —  ela perguntou, olhando-me

de cima a baixo do degrau como se não pudesse acreditar que estavarelacionada com alguém tão estranha. Ela estendeu a mão para amarrar ocabelo preto brilhante em um rabo de cavalo alto com uma faixa dourada.

 —  Você pareceu catatônica por um segundo. Você teve outro flash? —   Não.  —   Eu não podia acreditar que ela sabia o que significava

catatônica . —  Eu estava prestes a fazer uma caminhada —  dar uma olhadana cidade. —  Eu abri a porta e fiz uma pausa. —  Quer ir?

Ela estreitou os olhos. Eu tinha certeza que ela estava pensando amesma coisa que eu estava pensando. Nós duas saindo juntas duas vezes emmenos de vinte e quatro horas? Parecia que o inferno havia finalmentecongelado.

 —  Claro —  ela disse finalmente, pegando sua bolsa da mesa ao lado daporta e quase derrubando a foto da família no processo.

 —  Devemos dizer ao papai que vamos sair? —  eu perguntei. —  Ele foi dar uma corrida, tipo, de uma hora  —  disse ela enquanto

colocava seus óculos escuros. —  Sério?  —  eu perguntei, seguindo-a para fora da porta e do outro

lado da varanda. —  De novo?

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 —  O quê? Isso é tão bizarro?  —  ela perguntou. Ela abriu o portão eatravessou, sem se preocupar em mantê-lo aberto para mim.

 —  Papai não sai para uma corrida há cerca de cinco anos —  eu disse aela. Era estranho Darcy não ter notado. —  Agora ele foi duas vezes desde

que estamos aqui.Ela ergueu um ombro, andando para trás até a calçada iluminada pelo

sol. —  Bem, bom para ele. Talvez isso o relaxe.Então ela se virou, jogando o cabelo, e caminhou na minha frente.

Quando chegamos à esquina, olhei para trás para a casa cinza, meio queesperando ver o rosto de Tristan em uma das janelas, mas ela estava quieta.O lugar parecia deserto. Mesmo assim, eu acelerei meus passos, tentandofazer parecer que eu só queria acompanhar Darcy, não que eu estivesse com

medo. Um homem de meia-idade em uma bicicleta pedalava com umaprancha debaixo do braço, e tocou sua buzina quando passou. Do outro ladoda rua, um cara de vinte e poucos anos estava regando seu pequenogramado. Respirei profundamente o ar excepcionalmente perfumado etentei relaxar.

 —  Que cheiro é esse? —  eu meditei. —  É madressilva? Lavanda? Nãoconsigo identificá-lo.

Darcy inalou. —  Eu não sei, mas é bom. —  Ela parou sua mão no topode uma roseira ordenadamente cortada crescendo ao longo da calçada. —  Émeio...

 —  Calmante —  eu falei.Ela inclinou a cabeça, considerando. —  É. Como aromaterapia.Andamos alguns quarteirões, passando por casas coloniais coloridas

com jardins floridos, balanços na varanda e pessegueiros, cada uma maisimpressionante que a anterior. Era tudo muito bonito, mas quase perfeitodemais. Como se alguém tivesse chegado e dito a todos para começar aaprontar suas casas para o fotógrafo de cartão postal.

 —  Então, você não me perguntou como foi com Joaquin ontem à noite —  disse Darcy.

 —  Como foi com Joaquin ontem à noite? —  perguntei. —  Incrível! —  respondeu ela, inclinando-se um pouco nos joelhos. —  

Ele é um salva-vidas. Isso não é incrível? E ele trabalha em um bar na baía,então temos isso em comum.

 —  Que legal —  eu disse. —  Ele é tão bonito, e ele totalmente acreditou em toda a história sobre

nós sermos de Manhattan. Ele ficou fascinado —  disse Darcy, apertando asmãos sob o queixo e, em seguida, balançando os braços.  —  Graças a Deus

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que nos fizeram ser de algum lugar legal e não da cidade do Kansas ou algoassim. Eu mal posso esperar para vê-lo novamente.

Bem, pelo menos ela tinha conseguido espalhar nossa história dedisfarce por aí. Talvez agora todos soubessem e eu não teria que responder

a perguntas sobre nosso suposto passado. —  Isso é ótimo, Darcy, de verdade. —  Eu estava feliz que ela parecesse

ter esquecido toda a atenção que Joaquin tinha dado a mim quando tínhamoschegado lá. E sua raiva contra mim por isso. Aparentemente, o charme deDarcy tinha feito sua magia.

Quando virávamos em uma rua lateral e íamos para o centro da cidade,uma brisa fria deslizou pela minha espinha e eu tive um sentimentoopressivo de que eu estava sendo vigiada. Virei-me lentamente, verificando

cada uma das janelas, mas a maioria das cortinas estava fechada. Não havianada.Enquanto eu fiquei parada, Darcy tinha andado em frente e estava

quase no topo da colina. Eu me abracei enquanto passava por um velhoparque cheio de mato. Tinha dois balanços, um escorregador, e um conjuntode barras de macaco enferrujadas. A cerca estava quebrada, e as ervasdaninhas já tinham ultrapassado um banco destinado a pais atentos. Era aprimeira coisa feia que eu tinha visto na ilha, e meu passo automaticamentediminuiu novamente. Um dos balanços rangeu para trás e para frente coma brisa do oceano, o seu ritmo parecendo com o de um relógio.

À frente, Darcy virou à esquerda e desapareceu de vista. Com o cantodo meu olho, eu notei um pedaço de tecido de veludo cor de canela preso auma das cercas enferrujadas. A mesma cor exata da jaqueta que Steven Nellestava usando quando me atacou.

Minha garganta se contraiu de medo. Eu me virei, mas não havianinguém lá. Apertando os lábios, eu puxei o pedaço de tecido. Costurado nolargo vergão havia dois pequenos remendos quadrados. Um era xadrez

branco e azul. O outro era azul ao redor da borda, com um quadrado brancodentro do contorno e um quadrado vermelho sólido no centro. Pareciambandeiras de marinheiros usadas para sinalizar a passagem de barcos. Nellnão tinha nada parecido com isso em sua jaqueta.

Eu respirei fundo e o larguei. Eu tinha que relaxar. Steven Nell nãopossuía a única peça de veludo cor de canela do planeta. Respireiprofundamente e corri atrás da minha irmã.

Dez segundos depois, fui parar na Main Street, onde podia ver a loja

de departamentos no final do bloco. No parque no centro da cidade, doishomens jogavam boliche de gramado enquanto o menino menestrel cantava

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uma versão reggae de “The Remedy” sob o banner de publicidade dos fogosde artifício de sexta-feira.

O menino balançava a cabeça enquanto cantava e tocava seu violão. Elehavia atraído uma multidão, e um cara estava tocando bateria no ar com a

batida. Vi Tristan e Fisher se aproximarem do grupo vindo da direçãooposta, e meu coração pulou. Toda vez que eu via Tristan, era como se eufosse surpreendida mais uma vez pela forma como ele era lindo —  seu cabeloloiro roçando aquelas alucinantes maçãs do rosto, seu bronzeado, seusbraços fortes. Ele olhou para mim, então direcionou rapidamente a suaatenção para o cantor. Corei ao ser pega olhando.

Fisher estava chupando um picolé, e eu o vi dobrar a embalagem ecomeçar a jogá-la por cima do ombro, mas Tristan o deteve com uma mão

em seu braço. Ele disse alguma coisa, e Fisher deu de ombros, colocando aembalagem no bolso. Acho que Tristan era tão ecológico quanto era bonito. —  Sabe, ele realmente não é tão ruim —  Darcy falou, balançando junto

com a canção do menestrel.Revirei os olhos. Essa era a Darcy. Zombando de algo um dia, amando-

o no outro. —   Vamos  —   eu disse.  —   Vamos dar uma olhada na loja de

departamentos.Caminhamos até o final da rua, e Darcy colocou a mão na porta, então

congelou, olhando para algo sobre o ombro. Pairando sobre o oceano emuma falésia no ponto mais ao sul da ilha estava uma casa enorme com umavaranda ao redor. Era pintada de azul, com intrincados detalhes esculpidosem torno das muitas janelas e dezenas de vasos de flores pendurados navaranda. Tinha duas torres, quase como um castelo, e as janelas ficavam defrente para cidade, além de um enorme pátio com treliças cobertas devideiras que as rodeavam. No topo de uma das torres estava um cata-ventodourado com um tema de cisne, que eu notei que estava apontando para o

norte, embora o vento estivesse definitivamente soprando do oeste. —  Isso é um hotel? —  perguntei. —  Tem que ser —  disse Darcy. —  Ou isso ou alguém podre de rico

vive lá.Viramos para entrar na loja, mas a porta se abriu e nós duas pulamos

para trás quando Joaquin saiu. —  Ei, Rory —  disse ele em sua voz profunda, dando-me um sorriso do

tipo Você não está feliz porque esbarrou em mim? .

 —  Um, oi —  eu disse, olhando para Darcy.

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 —  E Darcy! —  ele acrescentou rapidamente. Ele estava vestindo umacamisa polo preta, com um cisne bordado no bolso do peito esquerdo, aspalavras THIRSTY SWAN costuradas em letras cursivas sobre a cabeça docisne. Notei Darcy admirando seus bíceps enquanto ele torcia a tampa de

uma garrafa de chá gelado. —   Oi!  —   ela disse.  —   Eu pensei que você estava trabalhando dois

turnos hoje. —  Eu estou. —  Ele tomou um gole, então abaixou novamente a garrafa

e se afastou da porta para deixar duas meninas entrarem na loja. Eu asreconheci como as meninas que tinham falado com Aaron ontem à noite,mas elas não se preocuparam em dizer oi. —  Eu só vim aqui para um lanche.

 —  Oh. Nós também —  disse Darcy.

Nenhuma de nós disse uma palavra sobre lanchar, mas era como se elativesse que concordar com tudo o que ele dissesse. —  Pena que eu já tenha lanchado  —  disse ele, olhando-a de cima a

baixo. —  Eu não teria me importado em ter as garotas Thayer como minhasacompanhantes.

Ela corou em um vermelho profundo. Eu tentei não vomitar. Ele deuum passo em direção a nós, forçando-nos a dar um passo para trás para queele pudesse passar.

 —  Vocês deveriam vir para o Swan esta noite  —  disse ele, parandoperto da beira da calçada e olhando diretamente para mim.

 —  Por quê? —  eu disse.Darcy deu um tapa no meu braço com as costas da mão.

 —  Porque eu vou estar lá  —  respondeu ele. O brilho em seus olhosestava meio brincalhão, meio arrogante.

 —  Ha-ha —  eu disse, sem rodeios. —  Eu realmente não vou receber nenhuma afeição de você, não é? —  

ele perguntou, ainda sorrindo.

A adoração óbvia da minha irmã não era o suficiente para ele? —  Não, é sério  —  acrescentou ele, quando eu não me incomodei em

responder. —  Todo mundo aparece lá. É o nosso tipo de coisa. —  Legal. Nós vamos —  disse Darcy, empurrando as mãos nos bolsos

de trás da calça jeans, o que forçou seu peito para cima e para fora.Eu atirei-lhe um olhar. Não iríamos nos safar tantas vezes por escapar

de casa. —   Legal  —   disse Joaquin.  —   Basta ir até as docas e procurar a

escultura do cisne bêbado. Não tem como não encontrar.

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Então ele abriu um par de óculos aviador, deslizou pelo nariz com umdedo, e se afastou. Eu não pude deixar de notar que todas as mulheres quepassaram por ele na rua, desde as de doze anos de idade com sorvete decasquinha à idosa com o cabelo azul, viraram-se para olhá-lo.

 —  Por que você gosta desse cara?  —  eu perguntei a Darcy, logo queele estava fora do alcance da voz.

 —  Como você pode não  gostar daquele cara? —  ela perguntou.Porque ele era arrogante. Porque ele era muito seguro de si mesmo e,

obviamente, um conquistador. Além disso, mesmo depois de sua supostasessão de intimidade ontem à noite, ele continuava a falar comigo como seela nem estivesse lá.

 —  Nós não vamos sair hoje à noite —  eu disse a ela, pensando de novo

no nevoeiro que me envolveu na praia. Risada imaginada ou não, ficar emcasa parecia uma opção muito mais segura. —  Sim, nós vamos —  respondeu ela, puxando a porta da loja. —  Não. Nós não vamos —  eu respondi.Darcy gemeu alto e entrou na minha frente. Ela já estava

experimentando óculos de sol em uma grade quando eu fechei a porta atrásde nós. Lentamente, eu fiz o meu caminho ao redor da loja, para cima e parabaixo pelos três corredores curtos. O lugar era abastecido com tudo, decereais a luvas de jardinagem, até roupas íntimas, mas não havia nenhumaseção de revistas. Isso era estranho. Pensei que as pessoas em cidades deférias estavam sempre pedindo as últimas edições da US Weekly ou qualquercoisa para ler na praia.

Aproximei-me do balcão, onde uma mulher de cabelos brancos estavasecando copos altos da fonte de soda. Ela estava com um vestido de algodãoazul e branco e um avental branco com acabamento de renda.

 —  Com licença —  eu disse.Seu sorriso era mais brilhante do que o sol do lado de fora.  —  O que

posso fazer por você, querida? —  Você tem jornais? —  eu perguntei.Ela apontou o queixo em direção à registradora.  —  Tem esses. Eles

são gratuitos. —  Próximo à registradora antiga estava uma pilha de papéisdobrados que pareciam com o meu jornal da escola, que só era impressoquatro vezes por ano. Fui até lá e levantei a primeira folha.

REGISTRO DIÁRIO:

A ÚNICA FONTE DE NOTÍCIAS DE JUNIPER LANDING

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O primeiro artigo estava intitulado UM DIA NA VIDA DE UMSALVA-VIDAS DE JL. Sob o título estava uma grande fotografia de umsorridente Joaquin Marquez.

 —  Só isso? —  eu soltei.

 —  As pessoas vêm aqui para ficar longe de tudo isso —  disse a mulhercom um encolher de ombros. Em seguida, ela empurrou a porta balançandoatrás do balcão e desapareceu na cozinha.

Inacreditável . —  Eu vou lá pra fora! —  eu gritei para Darcy. —  Tanto faz —  respondeu ela.A campainha tilintou novamente quando eu empurrei a porta e sentei

na primeira cadeira de arame. Eu rapidamente folheei a folha fina, minhasesperanças caindo a cada virada de página. Havia histórias do desfile do

próximo Dia do Fundador, uma parte sobre um joalheiro local, e um avisosobre uma mesa-redonda que o prefeito estava organizando, mas não havianenhuma página de notícias nacionais. Nem mesmo uma coluna. Nem umaúnica menção a Roger Krauss/Steven Nell ou à “adolescente sem nome” queele atacou na floresta fora de Princeton. Lá em casa, a nossa história tinhasido notícia de primeira página todas as manhãs e estampada em todas asestações locais. Tinha estado na CNN e na Dateline .

Mas aqui em Juniper Landing era como se nenhum de nós sequerexistisse.

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17COISAS NOVAS 

Traduzido por Matheus Martins

traje de mergulho era surpreendentemente confortável, uma vezque todo o neoprene tinha sido esticado, ajustado e endireitado.

Mas graças a Deus que eu nunca tinha sido tão autoconscientesobre o meu corpo, porque esta coisa mostrava cada curva dele. Eu dei umpasso para dentro do compartimento de água fria e caminhei até onde Aaronestava de pé com um traje semelhante, embora o seu fosse de dois tons deazul e moderno, enquanto o meu era preto liso e parecia algo saído de umfilme de espionagem de 1950.

 —   Então. O que você acha?  —   ele perguntou, batendo palmas eesfregando-as juntas.

Eu olhei para a prancha de surf de vela florida vermelha e branca e asua vela alagada no lado oposto. Foi só nesse momento que eu senti aenorme força do vento e o ouvi tentar cavar um túnel através do meu ouvido.A poucos metros de distância, a água estava agitada e com ondasespumantes. Ao longe, vi os principais pontos da ponte aparecendo acimada sempre presente neblina, que se agarrava à água ao norte de nós, mesmoque o céu estivesse azul brilhante sobre nossas cabeças. Eu senti um arrepiocom a simples visão da névoa rodopiando.

 —  Eu acho que isso é insano —  eu disse.Uma possibilidade concreta após o episódio de pânico no nevoeiro da

noite passada e o zumbido que eu poderia ou não ter ouvido na nossavaranda. Não que eu fosse dizer algo do tipo para ele.

Aaron riu e deu um passo em cima da prancha como se não fosse nada. —  Você vai adorar. —  Ele pegou uma corda presa à vela com uma mão

e segurou a outra para mim.  —  Nós vamos sair juntos da primeira vez, equando você ver como é simples, vamos voltar e pegar a sua própriaprancha.

Essa ideia era um pouco menos assustadora.

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 —  Agora suba aqui —  disse ele com um sorriso.Meu coração acelerou, e eu peguei a mão dele. Ele me puxou e me

deslizou na frente dele. Ele se inclinou para o lado e puxou a corda até quea vela subisse lentamente para fora da água. Meus pés escorregaram e quase

caí, mas Aaron de alguma forma me segurou contra seu peito enquantocontinuava a hastear a vela com as duas mãos.

 —  Segure-se na vela e encoste-se em mim —  disse ele, uma vez queiríamos ficar em pé todo o caminho. Havia um bar à frente de nós, e eu meagarrei a ele como um salva-vidas. Ele rapidamente pegou uma corda denylon e amarrou em torno das nossas cinturas, ancorando-nos um ao outroe ao mastro. Ele estava tão seguro de si e tão rápido que eu senti minhapulsação começar a correr.

 —   As três coisas mais importantes são que você segure a vela, semantenha inclinada para trás, e mantenha os pés o mais próximo do mastroque puder  —   disse ele no meu ouvido.  —   Eu vou virar a prancha paracontinuarmos indo.

 —  Tudo bem. —  Eu balancei a cabeça, olhando para os meus pés. Meusdedos estavam enrolados, segurando a superfície escorregadia como umsalva-vidas, e os músculos de meus tendões já estavam começando a doer.

 —  Onde você aprendeu a fazer tudo isso?Seus braços e pés estavam ambos trabalhando, movendo a prancha ao

redor sob os nossos pés. Eu dei um passo para cima e para baixo, também,sentindo como se a cada segundo eu fosse perder o equilíbrio e cair de carana água. Mas eu supus que seria outra primeira vez.

 —  Meu pai me ensinou —  disse ele. —  Tiramos férias todo Natal emSt. Croix. Minha família inteira faz surf de vela.

 —  Que legal —  eu disse.Eu não poderia imaginar minha família inteira fazendo nada juntos.

Bem, nada a não ser fugir de um serial killer . Meu coração acelerou com o

pensamento de Steven Nell, mas tão rápido quanto eu pude, eu empurrei-ode lado. Eu não queria ter medo. Não agora. Agora eu queria tentar algonovo. Eu queria ser livre.

O vento tinha acabado de atingir a vela, e de repente nós cambaleamospara frente, dirigindo-nos para a baía aberta. Eu caí para frente, mas Aaronrapidamente travou os braços perto dos meus lados, apertando meus ombrospara me firmar, e eu fui capaz de me endireitar.

 —  Se incline para trás! —  ele gritava para ser ouvido sobre o vento. —  

Incline-se em mim.Fiz o que me foi dito, deixando meu corpo roçar o dele.

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 —  Não é o suficiente —  ele gritou. —  Você tem que confiar em mim,Rory. Incline-se para mim.

Eu engoli o meu medo, deixei meus cotovelos relaxarem, e me inclineipara trás. Instantaneamente eu pude sentir a diferença. A prancha estava

mais equilibrada e eu me sentia dez vezes mais segura com o meu corpocontra o dele.

 —  É isso aí —  disse ele. —  Mantenha os joelhos dobrados assim, se aprancha saltar você pode absorver o impacto.

Relaxei meus joelhos. A prancha pulou e saltou, mas não demoroumuito para que eu encontrasse o ritmo e estarmos nos movendo juntos comoprofissionais. Ou pelo menos como se tivéssemos feito isso antes.

 —  Daqui a pouco, eu vou te ensinar como mudar de direção, mas, por

enquanto, apenas fique calma e desfrute do passeio.Eu respirei fundo e soltei o ar lentamente. O sol estava quente no meurosto, mesmo quando o vento soprava meu cabelo molhado para trás demeus olhos. Aaron tinha o controle completo da prancha, e eu relaxei umpouco na vela. Olhei para longe no horizonte, encarando o céu azul, asgaivotas mergulhando, o sal picante da água. Pulamos uma ondaparticularmente grande, e eu soltei um grito de alegria, me entregando maisao passeio.

Uma hora depois, eu cambaleei até a baía e caí do meu lado na areiaquente. Todos os músculos do meu corpo pareciam geleia. Meus ombrosdoíam. Meus pés estavam em chamas. Meu rosto estava tão queimado queeu ia precisar de um galão de Aloe vera . Mas eu não conseguia tirar o sorrisodo meu rosto.

Aaron caiu esparramado ao meu lado, e rolou de costas, deixandoescapar um gemido de satisfação.

 —  Você não pode me dizer que essa não foi a coisa mais divertida quevocê já fez em sua vida —  disse ele, piscando um olho ao olhar para mim.

Empurrei-me para cima em meus cotovelos trêmulos e olhei para asduas pranchas de surf de vela, que estavam sendo transportadas para forada água pela tripulação do aluguel.

 —  Você está certo. Eu não posso te dizer isso —  eu disse.Sentei-me e inclinei a cabeça para trás para olhar as nuvens

perseguirem umas as outras pelo céu. A areia agarrou-se a cada centímetroda minha roupa de mergulho, e meu rosto se arrepiou com o vento quente,mas eu nunca me senti melhor em toda a minha vida. Eu me sentia realizada.

Me sentia livre. Me sentia viva. —  Obrigada por me trazer até aqui —  eu disse. —  Eu precisava disso.

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Havia manchas verdes e douradas em seus olhos castanhos e umacamada de areia presa em sua bochecha.

 —  Quando quiser, Rory Thayer.Minha pulsação parou. Aaron era o meu novo amigo, e ele ainda nem

sabia meu nome verdadeiro ou qualquer coisa sobre de onde eu vim. Masisso era uma coisa boa, eu me lembrei. Isso significava que eu estava a salvo.Que ele estava a salvo. E enquanto eu estivesse lá, o sol aquecendo meucorpo e o cheiro do ar calmante de madressilva envolvendo meus sentidos,eu acho que talvez, apenas talvez, tudo ficaria bem.

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18O THIRSTY SWAN 

Traduzido por Matheus Martins

ssim que meu pé em tênis passou pela porta do Thirsty Swan nasegunda-feira à noite, eu quis dar a volta e ir para casa. Cada uma

das mesas de madeira estava cheia de pessoas e cada pessoa nolugar parecia ter vinte e cinco anos ou menos. A música era alta, asconversas eram feitas aos gritos, e de vez em quando uma rodada de risosestridentes irrompiam a partir de um canto do salão. Três paredes eramcompletamente compostas de janelas de tela com vista para a baía, e a brisafresca circulava por toda o salão, misturando o ar salgado do mar com osaromas de fritura de alimentos e cerveja derramada.

 —  Isso é incrível!  —  Darcy gritou, olhando quando dois rapazes no

bar beberam um conjunto de copos de doses, cada um preenchido com umlíquido marrom escuro. —  Na verdade, eu acho que isso é meio ilegal  —  eu respondi, quando

um dos caras já bêbado entornou sua última dose. Todo mundo ao redordele aplaudiu, incluindo Fisher e Kevin. O garoto parecia ter cerca de 14anos de idade. Eu explorei a multidão procurando Aaron, mas ele estavalonge de ser encontrado. Eu tinha mencionado isso para ele esta tarde, masaparentemente ele era esperto o suficiente para evitar esta cena emparticular.

 —  Rory —  Joaquin gritou de trás do bar. Ele inclinou-se para o balcãoquando nos aproximamos, e sorriu. —  Eu sabia que você não poderia ficarde fora.

Eu senti Darcy endurecer ao meu lado. —  Na verdade, eu só estou aqui para ser braço direito de Darcy —  eu

disse.  —  Você se lembra de Darcy, certo?  —   eu adicionei incisivamente,apontando para a minha irmã.

 —  Lealdade. Eu gosto disso —  disse ele, ignorando minha alfinetada. —  Ei, Darce —  disse ele, levantando o queixo para ela.  —  Por que vocês

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não pegam um lugar? —  Ele fez um gesto em direção a três bancos livresno final do bar. Krista acenou para nós a partir do quarto, ao lado da parede.

 —   Ei, pessoal  —   disse ela, batendo no banco à sua esquerda.  —  Guardei um assento para vocês, Ror.

Darce? Ror? Sério? Não tínhamos acabado de conhecer essas pessoas?Sentei-me ao lado de Krista enquanto Darcy tomava o banquinho na

extremidade, deixando um vazio entre nós. Isso fez eu me sentir conspícuae desajeitada, o que era provavelmente o que ela estava esperando. Tristanestava ocupado cortando limões no balcão de trás. Na frente dele estava umaenorme parede espelhada, repleta de prateleiras longas cheias de garrafas debebidas alcoólicas. Ele não disse oi nem ao menos olhou por cima de suatarefa. Joaquin virou de lado e deslizou por ele, então inclinou uma mão para

o bar na minha frente. Sua pulseira de couro se agarrava a sua pele tão forteque parecia desconfortável. —  O que posso pegar para você? —  ele questionou. —  Água, por favor —  eu disse. —   Qualquer coisa que você tiver na torneira  —   Darcy respondeu,

tirando sua jaqueta de couro. —  É isso aí —  disse ele com um sorriso. —  Você vai servi-la? —  eu perguntei, surpresa. —  Rory! —  disse Darcy, olhando para mim.Tristan olhou para cima brevemente, olhando em meus olhos, em

seguida, voltou para seus limões. —  Ele serve a todos —  disse Krista com um encolher de ombros. Ela

parecia uma supermodelo em um vestido maxi colorido, joias de bom gosto,e, é claro, a sua pulseira de couro. Como se tivesse notado o meu olhar, elacolocou a mão sobre o bracelete de couro. —  Esse é o nosso Joaquim.

 —  Não é o meu trabalho dizer às pessoas o que elas podem e não podemfazer —  Joaquin respondeu, enchendo uma caneca de cerveja até a borda. —  

Mas eu gosto que você tenha um saudável senso de moralidade, Rory.Krista sorriu para isso, e eu não pude evitar me perguntar se eles

estavam tirando sarro de mim de alguma forma. Com um suspiro, ela retirouuma moeda do bolso e segurou-a na posição vertical em cima do balcão coma ponta do seu dedo. Quando ela jogou-a para fazê-la girar, percebi que nãoera qualquer moeda americana normal. Era do tamanho de uma moeda, masera de uma cor bronze claro, e eu me perguntei de que país ela vinha. OsParrishs eram viajantes pelo mundo? Eu não tive tempo de ver o entalhe,

no entanto, antes que ela estivesse girando sobre o balcão. Tristan olhou

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para cima e seus olhos se arregalaram um pouco. Ele bateu sua mão sobre amoeda e a deslizou de volta para ela.

 —  Não brinque com isso —  ele disse através de seus dentes.Ela revirou os olhos e guardou a moeda.

 —  Já é a centésima vez que você me diz o que fazer hoje, ou é apenas anonagésima nona?  —  ela brincou. Tristan ignorou-a e voltou para o seutrabalho.

Olhei para Darcy para ver se ela tinha notado suas atitudes estranhas,mas ela estava muito ocupada olhando para Joaquin enquanto ele colocavaos nossos copos na frente de nós, em seguida, afastava-se para ajudaralguém. Darcy tomou um gole de cerveja, e eu a vi tentando não estremecer.Eu me forcei a não rolar os olhos e tomei um gole de água.

 —  Então, vocês já estiveram na loja de departamentos? —  perguntouKrista, voltando a inclinar-se para trás contra o balcão. Era como se elaestivesse trabalhando em uma série de poses pré-definidas.

 —  Fomos esta tarde —  Darcy respondeu, tomando outro gole. —  Oh! Pena que eu não vi vocês  —  disse Krista com uma pequena

careta. —  Eu teria oferecido sorvete grátis para vocês. —  Você trabalha lá? —  perguntei. —  Sim —  disse ela, revirando os olhos novamente. —  Mamãe insistiu

para que eu conseguisse um emprego. Tenho que me manter ocu...Tristan jogou uma toalha em seu rosto, onde ela se agarrou a seu

cabelo e cobriu tudo, até sua boca. Ela puxou-a lentamente, ficandobrilhantemente vermelha.

 —  Muito obrigada, mano   —  disse ela com sarcasmo, chicoteando-a devolta para ele. Ele pegou-a do ar e deu-lhe um olhar de advertência. —  Eleacha que assuntos de família devem permanecer na família —  explicou ela.

Olhei para Tristan, cujo rosto parecia um pouco rosa, também. —  E aí, pessoal?

Olive deslizou para o banco ao lado do meu, preenchendo o vazio entremim e Darcy.

 —   Dá para acreditar nesse lugar?  —   perguntou Olive, sorrindoafetadamente quando um cara do outro lado do bar deu uma cuspida em suabebida e todo mundo riu. —  É como férias de primavera elevado ao cubo.

Como se fosse uma sugestão, um grupo de meninas perto das janelassoltou um sonoro “Wuu-huuu!” 

Olive e eu nos olhamos nos olhos e rimos.

 —  Ei, Olive.Meu coração aqueceu ao som da voz de Tristan.

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 —  Ei, T —  ela respondeu de uma forma familiar, ajustando a mangade sua blusa preta florida.

 —  Olá —  eu disse incisivamente, tentando destacar o fato de que eleainda não tinha cumprimentado nem eu nem Darcy.

Ele se virou para olhar para mim, mas não disse nada. O azul de seusolhos era profundo, quase a cor do Oceano Caribenho, sólido e liso, nãomarcado por variação ou manchas. Ele usava uma camiseta do Thirsty Swanazul que exibia os músculos do seu peito e seu bronzeado escuro.

 —  Posso pegar alguma coisa pra você, Olive? —  ele perguntou, aindaolhando para mim.

 —   Você me conhece, T  —   ela respondeu, brincando com umguardanapo. —  Coca-Diet.

Ele deu um pequeno sorriso, o primeiro que eu tinha visto nele, e issomudou seu rosto completamente. Se possível, o deixou ainda mais bonito. —  É pra já.Ele virou-se e pegou um copo limpo.Olive me cutucou. —  Então, eu estive pensando sobre essa coisa toda

de corrida, e eu decidi dar uma chance —  disse ela, levantando-se no degraude seu banquinho e se estendendo por cima do bar para pegar uma varinhade coquetel. Ela colocou-a entre os lábios e mastigou a extremidade. —  Vocêquer ir comigo amanhã?

 —  Eu adoraria ir dar uma corrida! —  Krista entusiasmou-se. —  Você não corre —  disse Tristan, colocando a Coca-Diet de Olive na

frente dela. —  Mas eu... —  Você não vai estar trabalhando amanhã de qualquer maneira? —  ele

questionou.O rosto de Krista caiu, e ela fez beicinho de novo. —  É —  disse ela por

entre os dentes assim que Tristan afastou-se para encher um copo para

outro cliente.Eu mordi meu lábio inferior, considerando. Eu não havia saído para

uma corrida desde que tinha chegado aqui, e eu sabia que eu nunca iriasozinha, não com o espectro de Steven Nell pairando sobre mim.

Ainda assim, sob o meu banquinho, os meus pés saltavam loucamente,ansiosos com a ideia de um bom treino.  —   Por que não?  —   eu dissefinalmente. —  Quanto mais pessoas mais seguro é, certo?

 —  Seguro? —  perguntou Joaquim, convergindo para nós.  —  Com o

que você está preocupada?

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Meu rosto ficou vermelho. Droga. Por que eu disse isso em voz alta?Atirei a Darcy um olhar de me salve , mas ela estava congelada com os lábiosna borda do copo. Tristan se aproximou e deu um tapa nas costas de Joaquin,mas ele parou quando viu a cena de mim e Darcy em modo suspense opa!  e

Olive, Krista e Joaquin esperando pela minha resposta. —  Ok. No que eu acabei de me meter? —  perguntou Tristan. —  Nós estávamos prestes a descobrir por que Rory está preocupada

com sua segurança —  disse Krista enquanto Joaquin apoiava os cotovelosno balcão.

Darcy colocou seu copo na mesa e limpou a garganta. —  Oh —  disse Tristan, e uma sombra passou através de seus olhos. —  

Isso soa sinistro.

Meu coração batia horrivelmente forte.E quando vocês chegarem onde estiverem indo, vocês não podem dizer quemvocês realmente são, ou de onde vocês são ou por que vocês estão lá , a voz da AgenteMessenger disse no meu ouvido. Para sua segurança e a deles .

 —  Não é nada. Eu só... eu não gosto de correr sozinha —  eu improvisei,tomando outro gole de água. —  É sempre melhor com um amigo.

 —  Mas você disse que gostava de ser Zen —  Olive me disse. —  Vocêdisse que era o que você amava sobre isso.

 —  Eu disse isso, não disse? —  eu disse. Coloquei o copo no balcão comum barulho. —  Eu só... eu não sei.  —  Meu corpo inteiro queimou quandotodos ao meu redor ficaram me olhando. Deus, eu odiava isso.  —   Hum,correr em torno de um lugar estranho... sem saber para onde está indo...parece mais inteligente ter alguém com você, certo? Eu só... eu... eu só...

 —  Rory, não há nada para se preocupar.  —  Do nada, Tristan pegouminha mão, colocando seus dedos em cima dos meus. Eu instantaneamentefiquei rígida. Darcy, Olive, Krista e Joaquin olharam para nossas mãos, masTristan não pareceu notar. Sua pele estava incrivelmente quente, a ponta

dos seus dedos confortavelmente calejadas, e seu toque enviou arrepios pelomeu braço.  —   Juniper Landing é praticamente o lugar mais seguro douniverso. Honestamente. Nada de ruim acontece aqui.

Olhei em seus olhos, sem fôlego, e acreditei em cada palavra que eledisse. Ou, pelo menos, eu acreditei que ele acreditava nisso. Minhafrequência cardíaca começou a desacelerar. Quando Tristan rompeu ocontato e jogou algumas cascas de limão e guardanapos em uma pequenalata de lixo, meus dedos formigaram onde sua mão tinha estado. Eu tive

uma imagem mental súbita de me derreter nele e fiquei tão assustada comisso que eu realmente tive de sacudir a minha cabeça para limpá-la.

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Tristan agarrou a lata de lixo e empurrou-a de volta sob o balcão. Eutive uma clara visão de dentro quando ele fez isso e senti um estalo no meucérebro, como uma chicotada. Mesmo que ele tivesse acabado de jogar lixoslá dentro, a lata de lixo estava vazia.

Olive estreitou os olhos para mim. —  Você está bem? Seu rosto estávermelho brilhante.

Tristan limpou as mãos em seu meio avental, como se nada estivesseerrado.

 —  Oh, hum. Eu estou bem. Eu só preciso... correr para o banheiro  —  eu falei atrapalhada, empurrando meu banquinho. O que eu precisava era deum minuto para me recompor. Eu não só era a pior mentirosa do planeta,mas agora, ao que parecia, eu não podia nem mesmo confiar em meus

próprios olhos.Eu evitei um bêbado cambaleante e estava tecendo meu caminho porentre as mesas em direção à parede de separação, quando de repente amúsica no jukebox mudou. A música de dança que estava tocando foi cortadaabruptamente e, de repente, uma familiar melodia aguda encheu o bar. “TheLong and Winding Road”. Eu parei de me mover. Parei de respirar.

 —  Rory Miller   —  alguém sussurrou.Meu coração virou pedra. Eu me virei. E virei. E virei.

 —  Rory Miller   —  a mesma voz sussurrou novamente.Alguém estava dizendo o meu nome. Exceto que ninguém em Juniper

Landing conhecia esse nome. Para eles eu era Rory Thayer.De repente, eu estava correndo pela floresta, meu pescoço molhado de

suor, meu coração batendo em pânico. Havia escuridão em toda parte. Umgalho estala. Uma risada. Uma risada horrível, horrível.

Alguém bate no meu ombro. —  Ai! —  eu disse em voz alta, voltando ao presente. —   Desculpe  —   um cara em uma camisa de flanela disse

sarcasticamente, olhando-me de cima a baixo como se eu fosse umaaberração.

Meus olhos correram pela sala. Darcy continuava sentada olhandoJoaquin ansiosamente. Olive estava fazendo algum tipo de trabalho artísticono bar com as varinhas de coquetel e pretzels enquanto Tristan estava decostas para mim por trás do balcão, olhando fixamente para algo que eu nãopodia ver. Fisher e Kevin estavam inclinando-se para o balcão, sussurrandoalgo para Joaquin. De repente, os três se viraram para olhar para mim, suas

expressões em branco, e eu rapidamente desviei o olhar. Havia jovens combonés de beisebol, meninas em saias apertadas, um casal discutindo perto do

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banheiro. Mas em nenhum lugar, em nenhum lugar, em nenhum lugarestava Steven Nell.

Eu fiquei lá por um momento, escutando. Não havia nada. Nada maisdo que gritos, risos e aquela música horrível. Mas quando eu olhei uma

última vez para o bar, eu vi Tristan me olhando de novo também, com osolhos mais azuis do que nunca, olhando para mim como se soubesse cadadetalhe da minha vida.

Até o meu nome verdadeiro.

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19FUGA 

Traduzido por Matheus Martins

u acho que Joaquin é o cara mais gostoso que eu já conheci —   disse Darcy quando nós pisamos no calçadão fora da

Thirsty Swan. —  Bem mais gostoso do que Christopher,você não acha?

Eu atirei-lhe um olhar rápido, mas ela estava muito ocupada inclinandoa cabeça para trás para olhar as estrelas. Christopher. Eu não tinha pensadonele o dia todo. Eu acho que entre Aaron, Tristan, Olive e Joaquin, além detoda a diversão potencialmente-enlouquecendo-minha-mente, eu tinhaestado meio distraída.

 —  Claro. Eu acho —  eu disse cuidadosamente, ouvindo o som da água

da baía batendo suavemente contra as torres enquanto caminhávamos. Eraum alívio estar fora do bar e longe do barulho. Longe daquela multidão e da jukebox com suas seleções estranhamente desconcertantes.

Toda vez que eu pensava naquela música tocando, naquele sussurro,no zumbido que eu ouvi no outro dia, no riso no meio do nevoeiro e nopedaço de tecido no parque, meu coração paralisava dolorosamente e eu mesentia como se quisesse gritar. Se eu não conversasse sobre isso com alguém,eu ia enlouquecer.

 —  Darcy, eu tenho algo para lhe dizer, mas por favor não surte —  eudisse.

Ela parou de andar e me olhou com interesse. —  O quê? —  Eu pensei ter ouvido Steven Nell no bar hoje à noite —  eu disse.A mandíbula da minha irmã caiu. Era quase como se ela esperasse que

eu iria dizer uma coisa, e eu tinha dito uma completamente diferente. —  O quê?  

 — E 

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 —   Alguém sussurrou meu nome. E não foi Rory Thayer, foi RoryMiller —  eu disse. —  Você não ouviu “ The Long and Winding Road”  na

 jukebox?Darcy piscou. —  Sim, mas os Beatles são a banda mais popular de todas

 —  ela ressaltou. —  E eu ouvi alguém cantarolando fora da nossa casa no outro dia,

também —  eu insisti. —  E então, nesta manhã, eu encontrei um pedaço detecido no parque que se parecia com aquele casaco cor de canela que elesempre usava.

Por um longo momento, ela apenas olhou para mim, como se estivesseà espera de mais. —  É isso?

 —   O que você quer dizer com é isso ?  —   eu rangi.  —   Isso não é o

suficiente? —  Rory —  disse ela, estalando a língua com impaciência. —  Você já

parou para pensar que talvez você esteja apenas ouvindo coisas? —  Ouvindo coisas? —  eu repeti.Ela levantou os ombros. —  Eu não sei. Talvez esses seus flashes sejam

um sintoma de estresse pós-traumático. Faz total sentido que estejaacontecendo de novo, certo? Quero dizer, você quase foi morta.

Eu cerrei os dentes. —  Isso não era como os flashes, Darcy —  eu dissea ela. —  Eu posso dizer a diferença entre os flashes e a realidade. Eu sei oque eu vi! Eu sei o que eu ouvi!

Darcy revirou os olhos e gemeu. —  Podemos apenas ir? Está ficandofrio aqui fora.

Eu deveria ter sabido que ela nunca me levaria a sério. No mundo deDarcy, nada de ruim acontecia. E se acontecesse, ela simplesmente ignoravaou nunca conversava sobre isso. Como depois que minha mãe morreu. Tudoo que Darcy fez foi fazer mais amigos, comprar mais roupas no shopping, ira mais festas. Ela nunca chegou a ficar deprimida ou nostálgica; ela nunca

quis relembrar. Ela estava muito ocupada se divertindo. Muito ocupadaseguindo em frente.

 —  Tudo bem —  eu disse com firmeza. —  Vamos.Estávamos prestes a virar o calçadão e nos dirigir para a cidade,

quando vi algo se mover na água. O ar parecia estar se movendo. Eu agarreio braço de Darcy, e minha garganta ficou seca. Era o nevoeiro de novo, eestava rolando rapidamente.

 —  Darcy, olha! —  eu sussurrei.

 —  O quê? Steven Nell está pendurado em um dos barcos?

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No momento em que ela virou a cabeça, a névoa já estava girando emtorno de nós. O som sibilante estranho começou a fazer meu pulso bater nosmeus ouvidos. Darcy estava tão tensa que eu podia praticamente sentir issosaindo dela em rajadas.

 —   Venha. Está ficando tarde.  —   Darcy começou a subir a colina edesapareceu completamente. O nevoeiro engoliu-a por inteiro. Com ocoração na minha garganta, eu avancei e corri alguns passos até que avisteisuas panturrilhas —  duas listras brancas deslizando no cinza enquanto elaacelerava para caminhar na minha frente.

 —  Darcy —  eu sussurrei. —  Vai mais devagar. —  Por que você não me acompanha, estrela das corridas? —  ela atirou

de volta.

Eu tentei, mas o nevoeiro era muito desorientador. No topo da colina,meu pé bateu numa rachadura irregular na calçada, e meu tornozelo torceu.No momento em que eu me endireitei, minha irmã tinha desaparecido denovo inteiramente.

 —  Darcy! —  eu assobiei, virando-me na névoa. —  Darcy! Onde vocêestá?

Nenhuma resposta. Nada além do silvo da névoa ondulante. —  Darcy? —  eu choraminguei. —  Eu estou aqui! —  Sua voz estava praticamente no meu ouvido. —  Você me assustou  —   eu sussurrei, lançando o braço para frente.

Minha mão bateu em seu ombro. Eu não tinha ideia de que ela estava tãoperto.

 —  Ai! —  ela disse.Peguei a mão dela para que não nos separássemos novamente.

 —  Isso é realmente necessário? —  ela reclamou, tentando se afastar. —  Sim. É sim —  eu respondi, esmagando seus dedos. —  Deus! Tudo bem! Apenas solte-os, ok?

Eu soltei. Mas apenas um pouco.Combinando os nossos passos, cortamos na diagonal da grama

molhada do parque e descemos a colina em direção a nossa casa. Eu podiaouvir as ondas rolando na praia à frente e comecei a relaxar. Estávamosquase lá. Quase seguras.

Então, em algum lugar dentro do nevoeiro, alguém riu.Darcy e eu congelamos. Ela apertou minha mão com tanta força que

eu senti um estalo.

 —  Você ouviu isso? —  ela disse. —  Sim —  eu arfei.

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Então veio de novo. Outra risada. Uma espécie de risada baixa eameaçadora.

 —  Darcy? —  eu sussurrei com a voz rouca. —  Corre —  ela ordenou.

Viramos e arrancamos pela rua, tropeçando para fora da borda invisívelda calçada e tropeçando em toda a estrada larga. O nevoeiro puxou meucabelo enquanto eu corria, puxando-o do meu rosto e deixando sua calorosatrilha úmida ao longo da minha pele. Meu pé bateu no meio-fio oposto, e euvoei para frente sem peso, mas Darcy parou a minha queda com um puxãoforte no meu braço.

 —  A porta está bem aqui! —  ela sussurrou.Nós viramos e gritamos enquanto corríamos de cabeça para o peito de

alguém. Uma mão forte apertou em torno de meu braço. Eu estava prestesa começar a implorar por nossas vidas quando eu reconheci o cheiro do gelde banho do meu pai.

 —  Garotas! Para dentro! Agora! —  meu pai exigiu.Eu senti como se meu coração fosse explodir. Darcy agarrou-se ao meu

lado, cambaleamos até o portão aberto, subimos os degraus, e entramos emnossa casa. As luzes brilhantes feriram meus olhos após a escuridão da rua,e levaram um segundo para se focarem. Meu pai bateu a porta atrás de nós,e eu pulei quando ele a trancou.

 —  O que vocês estavam pensando? —  meu pai se irritou, girando sobrenós. —  Vocês saem de casa sem me dizer? Ficam fora até meia-noite? O quevocês acham que isso é, uma espécie de férias?

Darcy cruzou os braços sobre o peito.  —   O que você espera quefaçamos? Que fiquemos trancadas aqui o tempo todo?

 —  Sim  —  ele gritou, tremendo enquanto seu rosto ficava fúcsia.  —  Isso é exatamente o que eu espero que vocês façam! Não conheço ninguémnesta cidade. Vocês duas poderiam ter sido feridas! Ou mortas!

 —  Mas nós não fomos! —  Darcy destacou com raiva. —  Nós estamosmuito bem!

Mas meu pai não parecia ouvi-la. —  A partir de agora, vocês duas estãode castigo. Sem sair de casa à noite. E durante o dia vocês vão me dizerexatamente onde vocês estão indo e com quem vocês estão indo. Semdiscussão.

Ele se virou e começou a pisar duro pelas escadas. —  Mas, pai —  Darcy lamentou.

 —  Não me responda! —  ele rugiu. —  É para sua própria segurança.

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Os olhos de Darcy brilharam. —  Quando foi a última vez que você meperguntou onde eu estava indo à noite? Quando eu iria voltar para casadepois da escola? Quem eram meus amigos? Quem era o meu namorado? —  ela vociferou, lágrimas transbordando em suas bochechas vermelhas.  —  

Você nunca me perguntou nada! Você nunca ouvia qualquer coisa que eudizia! E agora, de repente, você quer me dizer o que fazer, quem eu possover, onde eu posso ir? Não! De jeito nenhum! Você não pode simplesmentedecidir de repente ser um pai novamente após cinco anos de completosilêncio!

Ela passou por ele e caminhou até as escadas. —  Darcy! —  ele gritou atrás dela. —  Não! —  ela gritou de volta. E, em seguida, a porta dela bateu.

Eu estava contra a parede, olhando para a nossa foto de família sobre amesa com os olhos embaçados, tentando recuperar o fôlego. Darcy já tinharespondido o meu pai antes, mas nunca assim. Ela nunca gritou com ele.Nunca colocou para fora todos os seus defeitos. E agora, aqui estávamos,nós dois, de pé em meio à destruição de sua bomba nuclear.

Depois de um longo momento, eu ouvi meu pai suspirar. Olhei paracima, derramando uma lágrima, e ele olhou para mim. Seus olhos estavampesados e tristes. Sua postura curvada. Pela primeira vez em muito tempo,ele parecia arrependido.

 —  Eu apenas vou para a cama —  eu disse calmamente.Ele sentou-se na escada, como se o ar tivesse sido soltado dele. Até o

momento que eu passei por ele, ele tinha o rosto enterrado nas mãos. Penseino que eu tinha ouvido na noite passada, ele chorando sozinho em seuquarto, e meu coração se penalizou por ele.

 —  Boa noite, pai —  eu disse, percebendo que eu não tinha dito isso emum impossível longo tempo.

Ele não respondeu a princípio, mas quando cheguei ao topo da escada,

ele se virou e olhou para mim, com lágrimas brilhando em seus olhos. —  Boa noite, Rory.

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20PRESENTES 

Traduzido por L. G.

sta ilha não economizava em seus presentes. A neblina. A fantásticaneblina. Sua capacidade de cegar era tão completa. Tão

absolutamente abrangente. Não era igual a nada que ele já tivessevisto, lido ou ouvido falar, mas era adorável. Era estimulante.

Ele tinha estado tão perto dela esta noite. Muito, muito perto. Eleprovou o seu medo de novo, tão doce e salgado. Ele se segurou para nãoestender a mão e arrancar um fio daquele cabelo para si. Para prová-lonovamente. Para obtê-lo. A possibilidade era quase demais para suportar.

Mas agora não era o momento. Ele já tinha colocado o seu plano emação e não podia arriscar agora. Desta vez, tudo iria acontecer como o

planejado. Desta vez, nada e ninguém iria impedi-lo. Desta vez, ela seriadele.

E

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21PERFEITO 

Traduzido por L. G.

eus músculos da coxa estavam em chamas, e minhas

panturrilhas com câimbra. Havia uma bolha se formando nolado do meu dedão do pé, e suor encharcava as costas da minha

camiseta cinza. Meus pulmões queimavam, meus olhos estavam aguados, emeu pescoço coçava sempre que meu cabelo roçava contra ele.

Eu estava no paraíso. Por que eu tinha esperado tanto tempo para fazerisso?

Quando cheguei a uma curva na pista, o topo da falésia apareceu à vista.No primeiro quilômetro, Olive tinha acompanhado o meu ritmo, ofegando

ao meu lado. Depois disso ela ficou para trás e agora não havia nada alémdas ondas quebrando no mar e o vento chicoteando. Eu esperava que elaestivesse bem, porque eu não   iria parar. Isso era muito divertido.Imaginando a linha de chegada à frente, ativei minha excitação e meempurrei para uma arrancada para o último declive. Assim que cheguei aotopo, deixei escapar um riso triunfante e eufórico. Eu diminuí meus passospara uma caminhada e segurei meus dedos no pescoço para ver o meu pulso.

Perfeito. Tudo, neste momento, estava perfeito. Decidi saborear isso.Saborear o sol no meu rosto, o ar limpo sibilando dentro e fora dos meuspulmões, o aroma floral encantador ao meu redor. Eu não iria pensar na casaestranha cinza, no pedaço de tecido e nem nos sussurros, nas risadas ou nosassobios. Eu não iria refletir sobre o fato de que Darcy se recusou a me levara sério ontem à noite, ou que meu pai não tinha saído de seu quarto estamanhã. Eu ia ficar aqui e respirar.

Bem abaixo de mim na colina havia um pequeno afloramento com ummirante muito branco em seu centro, e mais abaixo eu podia ver o telhadoda nossa casa na Rua Magnolia. Depois disso, o mar seguia até o infinito.

Eu ergui meus braços sobre minha cabeça e estiquei.

M

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Minha mãe teria adorado este lugar. Ela vivia para a praia, para cidadespequenas e pitorescas. Os jardins daqui fariam ela morrer de inveja, e eupodia imaginá-la polvilhando os moradores locais com perguntas sobrecomo eles conseguiram fazer suas tulipas florescerem assim no final da

estação e se suas rosas precisavam de mais ou menos poda. Senti umapontada de tristeza, desejando que ela estivesse aqui neste lugar que pareciafeito sob medida para ela, e me esforcei para deixá-la de lado. Essas doreseram parte da minha vida agora —  elas seriam para sempre —  e embora euàs vezes me deixasse chafurdar nelas, este não era um desses momentos.Não enquanto eu estava tentando apreciar a perfeição.

À minha esquerda, uma trilha fina e pavimentada cortava a grama, eeventualmente rompia em duas direções. Uma levava à direita para a grande

casa azul que Darcy tinha notado ontem, a outra para a rua, onde setransformava em uma grande calçada. Fui até um banco situado à direita nabifurcação no caminho e me sentei nas costas dele alongando a panturrilhaenquanto eu esperava por Olive. Assim que eu virei de costas para a casa,senti um arrepio como se alguém estivesse me observando e olhei por cimado meu ombro. As plantas balançavam na brisa, e o cata-vento no topo dotelhado estava voltado para o sul. De resto, o lugar estava quieto.

 —  Deus, você não estava brincando quando disse que você era umacorredora! —  disse Olive entre suspiros quando ela finalmente se juntou amim uns bons cinco minutos mais tarde. Ela caiu sobre o banco e colocou acabeça entre os joelhos. Sua camiseta listrada preta e cinza de mangascompridas estava saturada com o suor. —  Você é perversamente rápida.

 —   É, eu sou um terceiro lugar sólido  —   disse eu, levantando umombro.

Os olhos dela se arregalaram.  —   Terceiro lugar? As pessoas quechegam em primeiro têm asas em seus pés?

Eu ri e voltei a alcançar meu tornozelo para alongar meus quadríceps.

 —  Então você decidiu que correr não é sua praia? —  Nem um pouco —  disse Olive, segurando sua mão em seu coração,

enquanto tentava regular a respiração.Eu dei-lhe um sorriso torto. —  Bem, obrigada, de qualquer maneira,

por me pedir para vir com você. Era exatamente o que eu precisava. Pelaúltima meia hora, eu não tive um pensamento sério.

 —  Sem problema —  Olive respondeu. Ela puxou sua faixa para fora deseu cabelo. —  Você geralmente tem um monte de pensamentos sérios?

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Meu coração golpeou com todos os pensamentos escurecendo minhamente —  pensamentos que eu não podia compartilhar. Eu contornei o bancoe me sentei ao lado dela, descansando os antebraços em meus joelhos.

 —   As coisas têm sido realmente... difíceis para a minha família

ultimamente —  eu restringi.Olive franziu os lábios. —  Eu entendo. —  Ela colocou sua faixa dentro

do bolso de seu short volumoso, que não foi feito para correr, e se inclinoupara trás, curvando os braços atrás da cabeça.  —  É claro que eu sou a quetorna as coisas difíceis, então...

Ela parou, puxando seus pés para cima do banco e olhando para alémdo meu ombro para o oeste. Nesse sentido estavam as docas do estaleiro ecerca de meia dúzia de barcos balançando pacificamente na baía. Aparecendo

à distância ao norte estava a ponte, cercada como sempre pela névoa espessa.Havia algo de fascinante na névoa cinza que lentamente girava. De longe,não era tão aterrorizante.

 —  Como assim? —  perguntei.Ela me olhou nos olhos, e a profundidade da tristeza e pesar que eu vi

fez algo virar dentro de mim. —  Quero dizer, você não tem que me dizer se não quiser —  eu voltei

atrás. —  Não, é só que... nos últimos anos, eu não fui exatamente a melhor

filha. E então um dia eu ultrapassei os limites —  disse Olive, levantando osombros. —  Estou melhor agora... quero dizer, eu me fiz melhorar, mas eusei que realmente machuquei a minha mãe. Fiz coisas... —  Ela suspirou comtristeza e balançou a cabeça.  —  Bem, de qualquer maneira, eu tenho quepedir desculpas a ela, encontrar uma maneira de fazer as pazes com ela, eusó... não sei como.

 —  Eu sinto muito —  eu disse a ela, sem saber o que dizer.Eu não era boa nesse tipo de coisa. Eu nunca tinha tido qualquer

amizade próxima, a menos que Darcy contasse, e mesmo assim parecia serhá um milhão de anos atrás. Olive olhou em volta para o céu, e vi que havialágrimas em seus olhos. Engoli em seco, odiando quão estúpida e inútil eume sentia.

 —   E você?  —   ela perguntou.  —   Quer falar sobre o que estáacontecendo com a sua família?

Senti-me quente e sem fôlego, desejando que eu pudesse dizer a ela,desejando que eu pudesse apenas deixar escapar toda a história louca. Eu

tinha a sensação de que iríamos nos sentir melhor, ela sabendo que não eraa única com um passado deprimente, e eu porque desabafar tudo seria tão

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libertador. Mas eu não podia. Eu tinha que manter tudo em segredo. Talvezfosse por isso que eu estivesse tendo pesadelos. Porque eu não tinhaninguém para conversar sobre essas coisas. Não tinha libertação.

Isso era só mais uma coisa que Steven Nell tinha tirado de mim.

 —  Eu não posso —  eu disse finalmente. —  É muito... complicado. —  Eu entendo —  disse Olive. —  Ninguém sabe todos os detalhes da

minha vida, também. Bem, exceto Tristan.  —  Ela corou e olhou para seuspés. Então Olive gostava de Tristan. Claro que ela gostava. Lembrei-me daprimeira noite na praia quando eles estavam muito envolvidos em umaconversa. A forma familiar na qual eles falavam um com o outro no bar ecomo ela não parava de olhar para ele quando ele não estava olhando. Sentium lampejo de ciúme antes de me lembrar de que eu não queria Tristan. Eu

queria Christopher. Eu só queria que ele não estivesse a centenas dequilômetros de distância. E fosse ex da minha irmã. —   Mas se você quiser conversar, eu sou uma ouvinte fantástica  —  

Olive acrescentou, me empurrando com o ombro.Eu cutuquei suas costas. —  Eu acredito nisso. —  Eu me levantei. —  

Quer voltar para a cidade? —  Claro. Mas vamos caminhando, só pra você saber, porque eu acho

que minhas pernas podem se revoltar se eu tentar alguma coisa mais rápida. —  Sem problemas —  eu respondi com uma risada.Antes de irmos em direção à rua, virei para olhar a casa azul mais uma

vez. Havia algo quase assustador, mesmo em sua alegre beleza. Ele ficava lácomo uma espécie de fortaleza ou castelo, impondo sua imensa presençasobre o resto da pitoresca cidade.

 —  Lindo, não é? —  disse Olive, olhando por cima do ombro enquantocaminhávamos na descida. —  Você deveria ver o interior.

 —  Você já esteve lá dentro? —  eu disse. —  Quem mora lá?Suas sobrancelhas se juntaram, e ela olhou para mim como se eu tivesse

acabado de lhe perguntar como se soletra “que”. —  Essa é a casa do Tristane da Krista. Sua mãe é a prefeita.

Eu parei em minha caminhada e olhei para ela, sentindo como sealguém tivesse acabado de arrancar o asfalto de debaixo de mim.

 —  Espera. Tristan mora lá? Eu pensei que ele morasse na casa emfrente à minha —  eu disse.

 —  Hum, não —  disse ela. —  O príncipe de Juniper Landing vive aquiem cima no castelo com a princesa e a rainha, assim como deve ser —  disse

ela, levantando o nariz no ar comicamente. —  Não é que eles hajam comoum príncipe e uma princesa. Eles são apenas tratados dessa maneira.

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 —  Eu teria pensado que Joaquin era o príncipe deste lugar —  eu dissevagamente.

 —   Sério? Eu o vejo mais como um cavaleiro desonesto  —   Oliverespondeu.

Eu presumi que tudo era questão de percepção, e se ela gostava deTristan, talvez ela o visse como o líder da matilha. Mas eu ainda tinha quevê-lo mandar em alguém como Joaquin fez com Fisher. Tristan parecia maisrefinado. Mais modesto. Mais confortável nas sombras.

Mais como eu. —  Interessante —  eu disse, só para dizer alguma coisa.Eu me virei e estreitei os olhos para a casa, e meu coração ficou preso

na minha garganta. Alguém estava de pé na varanda, à sombra de uma aba

do telhado, olhando para mim. —  Oh meu Deus —  eu disse, inclinando-me para longe do espreitadore falando com os dentes cerrados. Eu agarrei o braço de Olive. —  Alguémlá em cima está nos observando.

Olive seguiu meu olhar.  —   Onde?  —   disse ela, franzindo assobrancelhas em confusão.

 —  Bem ali. —  Encorajada por seu movimento flagrante, eu me vireitambém, mas depois congelei. A varanda estava deserta. Quem quer queestivesse lá, nos observando, tinha desaparecido.

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22CONFRONTAÇÃO 

Traduzido por Ivana

eus pés batiam contra o pavimento enquanto eu corria parabaixo em direção à cidade. Se Tristan vivia aqui em cima, por

que ele estava espreitando da casa do outro lado da minha rua?Será que ele estava lá apenas para me observar? Ele era algum tipo deperseguidor bizarro que ficava de olho na garota nova? E quem estava meobservando de sua verdadeira casa? Eu queria respostas, e eu queria elasagora.

Eu cruzei a cidade, passando pelo nosso local favorito no parque, ondeum músico estava tocando seu violão com os olhos fechados e um sorriso norosto. Em um canto, eu flagrei um par de olhares perturbados de um casal

mais velho em um banco. Não que eu tivesse ficado surpresa. Devo estarparecendo uma lunática maluca, correndo vigorosamente e ignorandocompletamente a calçada. Eu só esperava que Olive não tivesse pensado queeu estava louca quando eu disse que tinha que ir e fui embora, deixando-apara trás.

Corri pela rua em diagonal, propositadamente evitando olhar o parquedegradado, e tomei o caminho para o nosso bloco, derrapando com tantaforça que quase tropecei no lixo. Eu estava prestes a tomar o caminho maiscurto para a casa cinza, quando vi algo pendurado no portão da frente.

Parei e recuperei o fôlego. Era uma bolsa estilo carteiro, cinza, comuma correia desgastada. Exatamente a mesma bolsa que Steven Nell levavapara a escola todos os dias.

O ar estava frio e o chão molhado contra minhas costas. Agulhas de pinheiro perfuraram meus braços. As nuvens se abriram em cima. Uma meia-lua perfeita eo sorriso sádico de Steven Nell, com os olhos lacrimejantes, os lábios finos e secos.

Um sino tocou e me trouxe de volta para o agora. O sol quente fezcócegas na minha carne. Pisquei enquanto um homem de meia-idade com

sua maleta passava por mim com um sorriso. Além dele, a rua estava deserta,

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mas essa bolsa ainda estava lá. Aquilo não podia estar acontecendo. Nãopodia ser real.

Parte de mim queria dar meia volta e correr direto para a polícia, maso que eu ia dizer a eles? Que alguém tinha deixado uma bolsa em nosso

portão? Eu ia ter que lidar com isso sozinha. Talvez não fosse nada.Desafiadoramente, eu atravessei para o outro lado da rua até a bolsa.

Ela estava aberta, praticamente me convidando a olhar para dentro. Mas oque eu ia encontrar se eu olhasse? Um bilhete ameaçador? Uma mãodecepada? O quê?

Segurando minha respiração, eu puxei a bolsa aberta. Eu pisquei,surpresa. Estava cheia até a borda com modelos de faróis de váriostamanhos. O menor tinha cerca de cinco centímetros de altura, esculpido em

pedra e meticulosamente pintado. O maior tinha cerca de quinzecentímetros de altura, feito de plástico de baixa qualidade e encimado poruma pequena luz que iluminava ao pressionar um botão. Haviam dezenasdeles, cada um com um cisne de Juniper Landing estampado em suaslaterais.

 —  Ei.Eu me virei, deixando cair a bolsa de volta onde ela estava, deixando-

a bater contra o muro. Tristan estava bem na minha frente, simplesmenteperfeito em uma camiseta branca e bermuda cargo, seu cabelo loiro caindopara a frente em suas bochechas.

 —  Que diabos? —  eu gritei, empurrando-o com as duas mãos tão fortequanto eu podia. Ele não se moveu um centímetro, mas ele olhou para mim,surpreso. —  Você me assustou!

 —  Sinto muito —  disse ele, com uma expressão sincera.Por cima do ombro dele, vi a porta da casa cinza balançando

lentamente, se fechando. De repente, lembrei-me por que eu corri para casa. —  Por que você está sempre aqui?  —   eu exigi, cruzando os braços

sobre o peito. Meu rosto estava em chamas, e eu senti minha gargantatentando fechar —  a maneira do meu corpo de rejeitar o confronto —  maseu pressionei. —  Olive me disse que você vive em cima da falésia, então porque você passa tanto tempo nessa casa? —  eu disse, apontando do outro ladoda rua. —  Por que você está sempre me olhando?

Tristan olhou por cima do ombro. —  Eu só... Eu conheço a pessoa quemora lá —  disse ele. Então ele colocou as mãos sob seus braços e me olhoudiretamente, como se isso explicasse tudo.

 —  Ah, é? Quem? Quem mora lá? —  eu exigi.

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Ele franziu a testa ligeiramente.  —  Minha nanna  —  disse ele.  —  Aminha avó. Da parte do meu pai. Ela está confinada a uma cadeira de rodaspor isso que eu... nós... eu e Krista tentamos vir visitá-la sempre que possível.

 —  Oh. —  Me enchi de culpa. Lá estava eu, julgando antecipadamente,

e tudo o que ele estava fazendo era ser o neto perfeito. —  Ela gosta de se sentar e ficar olhando por muito tempo para fora da

 janela, então se você vê as cortinas se movendo ou o que for, provavelmenteé ela —  ele acrescentou com um encolher de ombros.

 —  Então foi ela que eu vi me observando aquela primeira manhã?  —  eu perguntei.

 —  Provavelmente —  ele respondeu. —  Na verdade, eu me lembro delamencionar algo. A menina loira bonita caminhando no outro lado da rua.

Ele parou e limpou a garganta, olhando para longe. Como se talvez eletivesse falado demais. Como se talvez ele concordasse com Nanna. —  Oh —  eu disse de novo, corando. —  Bem, isso é legal da parte dela. —  É.Tristan bateu suas mãos juntas, e eu vi seu pomo de adão quando ele

apertou os lábios em uma linha. Por um longo momento, nós só ficamos ali,até a situação ficar completamente estranha. Eu estava prestes a inventaruma desculpa para ir para dentro quando Joaquin veio vindo da esquina ecaminhou propositadamente em direção à mim, uma linha vincada em suatesta.

 —  Rory. Aí está você —  ele disse, sua respiração um pouco irregular.Ele caminhou até mim e me envolveu em um grande e caloroso abraço,forçando Tristan a dar um passo para longe de mim.

Eu me contorci e mergulhei para fora do círculo de seus braços, quaseperdendo o equilíbrio. Tristan estendeu a mão e rapidamente me segurou.

 —  Hum, o que foi isso? —  Eu acabei de ver Olive na cidade. Você está bem?  —   perguntou

Joaquim, segurando meu pulso.  —   Ela disse que vocês estavam juntasquando de repente você fugiu como se tivesse visto um fantasma.

Olhei para Tristan e corei.  —   Oh, isso. Eu estou bem  —   eu disse,puxando meu braço para fora do agarre de Tristan. —  Eu disse a ela que eutinha que voltar para casa. Ela está brava?

 —  Nem um pouco —  disse Joaquin. —  Só preocupada. —  Bem, eu estou bem —  eu repeti, olhando de Tristan para Joaquin e

de volta. Dois exemplos de perfeição —  fisicamente, a propósito —  e tudo

que eu conseguia pensar era em ficar longe deles. As meninas da corrida a

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corta mato do meu antigo lar provavelmente teriam pensando que eu haviasofrido sérios danos cerebrais. —  De qualquer forma, é melhor eu...

 —  Então, você já convidou ela? —  Joaquin perguntou a Tristan. —  Eu estava prestes a fazer isso —  Tristan respondeu.

 —  Me convidar para o quê? —  perguntei. —  Tristan e Krista darão uma festa amanhã à noite  —  disse Joaquin,

cruzando os braços sobre o peito. —  Eu acho que você deveria vir.Eu senti meu rubor se aprofundar. —  Você  acha que eu deveria vir —  

eu repeti. Olhei para Tristan. —  O que você acha?Ele piscou, surpreso.  —   O quê? Ah, com certeza. Sim. Você

definitivamente deve vir. Se você quiser.Uau. Então um deles esperava que eu fosse apenas porque ele achava

que eu deveria e outro claramente não poderia se importar menos se eu iriaou não. —   Isso é um belo convite, pessoal. Obrigada  —   eu disse

sarcasticamente. —  Eu vou com certeza pensar bastante a respeito. —  Rory —  disse Joaquin em um tom condescendente quando me virei

para ir embora.Mas eu não queria parar. Corri em passos largos para casa, batendo a

porta atrás de mim e recostando-me contra ela. O que acontecia com essescaras? Por que eles não poderiam perseguir Darcy em vez de mim? Ela teriaadorado cada minuto.

Olhei pela janela e vi Joaquin dizer algumas palavras para Tristanantes de ir embora. Uma vez que ele se foi, Tristan olhou para a bolsa cinza,e eu senti meu coração pular uma batida. Eu momentaneamente haviaesquecido que ela estava lá. Ele levantou a bolsa e espiou para dentro, assobrancelhas vincando em confusão. Pelo menos eu não era a única quepensava que uma bolsa cheio de faróis era estranho. Ele olhou para a minhacasa, e eu abaixei para trás da parede novamente.

Quando eu olhei para fora da janela novamente, eu meio que esperavaque Tristan ainda estivesse lá, mas ele já havia ido. A bolsa cinza, noentanto, continuava pendurada no portão, me provocando. Eu chequei se aporta estava trancada e, em seguida, fui para o meu quarto. Eu esperava quequem quer que tivesse deixado lá fosse voltar para buscá-la em breve, maseu também não queria estar ali quando eles voltassem.

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23RENDIÇÃO 

Traduzido por Ivana

momento estava chegando. O momento em que ele iria finalmenteter o que era seu por direito. Ele tinha estado tão perto tantas

vezes, mas agora, nada iria ficar em seu caminho. Uma vez que aúltima etapa de seu plano estivesse concluída, não haveria nenhuma maneiradela dizer não a ele. Não havia nenhuma maneira dela resistir.

Sim. Ela viria a ele, de bom grado. E, talvez, talvez, talvez...Talvez esse seria o fim mais satisfatório para essa perseguição. Saber

que ele tinha vencido ela, finalmente. Que ela não iria lutar. Que a suarendição seria completa.

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24MILAGRE 

Traduzido por Ivana

uarta-feira de manhã eu me sentei na mesa de fórmica da cozinha,comendo sucrilhos de uma tigela lascada, observando o telefone velho

que estava pendurado na parede mais distante. Nós tínhamos estadoem Juniper Landing por quatro dias. Ele não tinha tocado uma única vez.

 —  Ok, qual é a sua? —  Darcy perguntou, entrando na cozinha vestidacom seu pijama de seda preto e puxando uma cadeira na diagonal da minha.Ela tinha o cabelo para trás em um rabo de cavalo elegante e já tinha lavadoo rosto. —  Você lançou um feitiço sobre esta ilha ou algo assim?

 —  Do que você está falando? —  eu perguntei, pegando minha tigelapara beber o último gole do leite.

Darcy ficou me olhando com um olhar de repugnância e esperou eucolocar a tigela para baixo novamente. —  Ontem à noite, Joaquin finalmente me convidou para ir a uma festa

na casa de Tristan esta noite, e eu estava toda animada, até que elebasicamente deu a entender que eu tinha que levar você ou eu não poderiair  —   ela disse, curvando-se para trás na cadeira com os braços cruzadossobre a blusa de alcinha.

 —  Oh, isso —  eu disse. —   Você já sabe sobre isso?  —   perguntou Darcy, com os olhos

incrédulos. —  Eles me convidaram ontem, também —  eu disse a ela. —   Inacreditável  —   disse ela, empurrando a cadeira para trás e

caminhando para o armário. Ela pegou uma caixa de Froot Loops e colocoude volta na mesa. —  E isso teria sido quando Joaquin foi até você lá fora edeu-lhe aquele abraço totalmente íntimo?

Senti minha pele quente. —  Você viu isso? —  Todo mundo no bloco viu —  Darcy respondeu, jogando um Froot

Loop em sua boca.  —   Eu aposto que alguém lá fora ficou inspirado a

Q

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escrever um blog sobre isso. Eu acho que não havia um centímetro sequerde seus corpos que não estivessem se tocando.

Estremeci. O próprio pensamento me deu arrepios. —  Darcy... —  Você e Joaquin estão tendo alguma coisa pelas minhas costas?  —  

ela interrompeu.Eu soltei uma risada. —  O quê?Darcy deu a volta até o final da mesa para que ela pudesse me olhar

nos olhos. A expressão em seu rosto, apontando, levantando seu queixo, aligeira apreensão em seus olhos, fez meu coração parar. Será que ela sabiasobre Christopher e eu? Era por isso que ela estava imaginando algumaintimidade entre mim e Joaquin?

 —  Ele vive me perguntando sobre você, em primeiro lugar. E depois

há todos os abraços, sorrisos e cumprimentos... Me diga a verdade, Rory.Eu sou uma menina grande. Eu posso lidar com isso —  disse ela. As pontasde seus dedos ficaram brancos quando ela agarrou a caixa de cereal.

 —  Darcy, eu posso te garantir com cem por cento de certeza que nãotenho interesse em Joaquin —  eu disse a ela com firmeza. —  Eu prometo.

Ela me olhou por mais um momento, antes de caminhar de volta parasua cadeira e cavar o saco de cereal com a mão. —  Ótimo.

Vi quando ela saiu com um punhado de bolinhas de cereal coloridas.Não havia nenhuma maneira que ela pudesse saber sobre mim eChristopher. Eu não tinha contado a ela, e eu tinha certeza que ele não tinhadito a ela também, e mais ninguém na Terra sabia. Eu estava apenas sendoparanoica. Como de costume.

 —   O que, exatamente, Joaquin disse para você?  —   eu perguntei,inclinando o meu peito em cima da mesa. —  Por que você acha que tem queme levar?

 —  Ele veio com uma conversa estranha sobre não ter o mesmo númerode rapazes e garotas...  —  Ela parou, colocando pedaços de cereais em sua

boca enquanto ela estreitava os olhos. —  Fez sentido no momento, quandoele tinha o braço em volta de mim, eu estava um pouco distraída...

 —  Que idiota —  pensei, pegando meu suco de laranja. —  Tanto faz —  disse Darcy, colocando a caixa em cima da mesa.  —  

Mas isso é bom! Você já ia mesmo, então não é uma grande coisa.Isso era uma loucura. Como ela ainda podia querer ir na festa? Como

ela ainda podia gostar desse cara depois que ele veio com uma conversa tãoóbvia? Eu nunca ia entender o cérebro de Darcy. Nunca em um milhão de

anos. —  Só que eu não vou —  eu disse, levantando e indo para longe da mesa.

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 —  Uh, sim, você vai —  disse Darcy. —  Não. Eu não vou  —  eu disse enquanto eu largava minha tigela e

copo na pia de cerâmica. Deus, eu desejava que nós voltássemos para casa.Se estivéssemos em casa, eu estaria na aula de cálculo agora, resolvendo

problemas que eu poderia resolver. Não lidando com o dilema de saber seeu deveria ajudar a manter a vida social de Darcy viva —  um dilema que eununca pensei que fosse ter que lidar em um milhão de anos e eu não tinhaideia de como lidar. —  E você não vai, tampouco. Nós estamos de castigo,lembra?

Naquele momento, meu pai parou perto da porta aberta entre a cozinhae o hall de entrada. Ele estava completamente vestido em jeans e umacamiseta, com o rosto barbeado e seu cabelo penteado para trás. Ele tinha

começado a pegar um bronzeado, provavelmente das suas corridas, e eleparecia diferente. Saudável. —  Na verdade, eu queria falar com vocês, meninas, sobre isso.  —  Ele

examinou nós duas e seu rosto caiu um pouco. —  Oh. Vocês já comeram? —  Não, na verdade —  disse Darcy com cautela, seu rosto ainda cheio

de cereal. —  Eu só comi cereais —  eu disse. —  Por quê? —  Vamos sair para tomar café da manhã  —  disse ele. —  Eu ouvi que

a loja de departamentos tem excelentes panquecas.Darcy e eu trocamos um olhar. Quem era essa pessoa e o que ele tinha

feito com o nosso verdadeiro pai? —  Hum... eu teria que me vestir —  disse Darcy, engolindo. —  Eu também —  eu acrescentei, olhando para a camiseta e calças de

moletom que eu vestia para dormir. —  Eu posso esperar —  disse ele com um sorriso.Nenhuma de nós se moveu.

 —  Vamos lá, meninas —  meu pai incentivou. —  É apenas um café da

manhã. —  Ok —  eu disse finalmente. —  Claro —  acrescentou Darcy.Então nós duas caminhamos para fora da cozinha passando por ele.

 —   O que há com ele?  —   Darcy sussurrou enquanto subíamos osdegraus rangentes.

 —  Eu não tenho ideia  —  eu respondi, seguindo-a em seu quarto. —  Talvez você gritar com ele na outra noite mexeu com ele.

 —  Você acha? —  ela perguntou, surpresa.

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 —  Nunca se sabe. Mas seja legal com ele no café da manhã —  eu disseenquanto ela deslizava para dentro de seu guarda-roupa. Encostei-me emuma de suas cômodas e olhei através da rua para as janelas da casa cinza.Meu coração pulou uma batida com a visão da casa.  —  Talvez você tenha

deixado ele sem chão. —  E então, você vai à festa comigo?  —  perguntou Darcy, segurando

um suéter branco em seu peito quando ela veio até a porta do guarda-roupa.Revirei os olhos, mas sorri. Era bom compartilhar este momento

fraternal com ela. Me senti esperançosa sobre o meu pai. —  Tudo bem —  eu disse a ela. —  Se, por algum milagre, ficarmos sem

chão, eu prometo que vou à festa com você. —  Uhul! —  Ela pulou nas pontas dos pés, então mergulhou de volta

para o guarda-roupa para se vestir.Eu ri e comecei a me virar para que eu pudesse ir me vestir, mas,naquele momento, a cortina do outro lado se moveu. E dessa vez, eu podia

 jurar que vi uma pulseira de couro desaparecer por trás dela.

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25UM PEDIDO DE DESCULPAS 

Traduzido por Manoel Alves

ristan estava definitivamente me observando. A não ser que avovozinha tivesse uma pulseira de couro, também. Mas o que havia

de tão estupidamente interessante em mim que fazia ele ficarespionando de uma casa de um décimo do tamanho da sua própria? E erapossível que fosse algo inocente? Que talvez ele apenas... tivesse uma quedapor mim?

 —  Está tudo bem, Rory?  —  perguntou meu pai, olhando para mim.Minha pele estava queimando após o meu último pensamento, erapidamente desviei o olhar. Estávamos apenas passando pelo parqueestranhamente silencioso, onde as oscilações temporais pairavam sobre as

ervas daninhas desordenadas. O portão estava tão totalmente aberto queestava nivelado com a cerca do lado de dentro, e como de costume, não haviacrianças à vista.

 —  Está —  eu disse distraidamente. —  Por quê? —  Você só parecia... séria —  disse ele com um pequeno sorriso.Darcy me lançou um olhar assustado, e eu sabia que ela queria saber se

eu tinha acabado de ter um flash. Eu dei uma sacudida quase imperceptívelde cabeça e relaxei os ombros. Eu não tinha dito ao meu pai sobre os flashes,porque eu não precisava que ele se preocupasse e vasculhasse em algumalista telefônica para encontrar um psiquiatra na ilha para mim. Não que eu

 já tivesse visto alguma lista telefônica desde que tinha chegado aqui, emborana nossa antiga casa o nosso carteiro as deixava em nossa varanda, a cadaduas semanas. Na verdade, agora que eu pensava sobre isso, eu não tinhavisto nenhum carteiro aqui, também. Ou uma caixa de correio. Olhei emvolta para as casas e, de fato, não havia uma única caixa de correio à vista.Hum. Talvez todos aqui tivessem suas encomendas entregues diretamentepara uma caixa postal. Não seria a primeira coisa antiquada e pitoresca nesta

ilha.

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 —  Eu estava apenas... tentando me lembrar da última vez que todosnós comemos juntos —  eu disse em resposta ao meu pai.

 —  Oh. Não foi há muito tempo —  disse o meu pai vagamente.Darcy e eu trocamos um olhar. Deveria fazer, pelo menos, quatro anos.

O único instante que eu conseguia me lembrar era o décimo terceiroaniversário de Darcy e uma viagem mal aconselhada para o restauranteFriendly’s, a qual meu pai tinha insistido que ela comesse um daquelessundaes de palhaço, como se ela tivesse seis anos de idade. Desde que elativera sua primeira menstruação e começara sua primeira dieta sem a mamãepor perto para aconselhá-la em ambos, Darcy começou a chorar e correrpara fora do restaurante. E talvez tenha sido por isso que não comíamos

 juntos desde então.

Chegamos ao topo da colina e viramos para a Main Street. Meu paiolhou para o céu e sorriu.Agora isso eu estava certa de que não via há anos. Pelo menos não

desde que minha mãe havia morrido.Do outro lado da rua, a fonte no centro do parque borbulhava e

espirrava enquanto dois caras com cabelos longos e bermudas xadrezsaltavam em seus skates fora da borda da piscina. O banner dos fogos deartifícios ondulava na brisa.

 —  Ei, Darcy, seu namorado rastafári que tinha sumido —  eu brinquei,empurrando meus óculos de sol para cima em meu cabelo. O lugar no topodo caminho, onde ele normalmente ficava, parecia estranhamente solitáriosem ele.

Darcy olhou para mim sem entender. —  O quê? —  Olha  —   eu disse, levantando o queixo em direção ao parque.  —  

Você acha que ele conseguiu dinheiro o suficiente para levar sua habilidadepara a estrada ou algo assim?

Eu não podia ver os olhos de Darcy por trás de seus óculos escuros,

mas sua expressão estava pálida quando ela se virou para olhar para oparque. —  Ok, eu não tenho ideia do que você está falando.

Eu fiquei boquiaberta para ela, meu coração dando um apertodesagradável, nervoso. Meu pai tinha andado em frente e estava a poucospassos das mesas ao ar livre da loja de departamentos.

 —  Darcy, vamos lá. Ele esteve lá todas as manhãs desde que chegamosaqui? —  eu disse, forçando uma risada na minha voz.  —  O cara que pareceBob Marley...? Você disse que ele estava abraçando o clichê?

Darcy olhou para mim como se eu fosse louca.

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 —  Eu acho que você precisa ter sua cabeça examinada  —  disse ela,virando-se. Sua minissaia floral voava enquanto ela se afastava. Senti comose meu cérebro tivesse acabado de ser ligado em hiperdrive. Não era comose eu o tivesse imaginado. Eu o tinha visto três ou quatro vezes, eu tinha

visto outras pessoas em pé ao redor dele desfrutando de sua música, eupoderia citar todas as músicas que eu o ouvi cantar, e Darcy e eu tínhamosfalado sobre ele em mais de uma ocasião. Ter caído da escada e batido coma cabeça havia, de alguma forma, afetado a sua memória a curto prazo?

Respirando fundo, eu olhei de volta para o parque mais uma vez antesde entrar na loja de departamentos. Papai e Darcy já tinham encontradouma pequena cabine em frente ao antigo contador de aro cromado. O casalque eu tinha visto descer da balsa em nosso primeiro dia estava aqui no

balcão, seus mindinhos ligados enquanto bebericavam seu café. O altochapéu de feltro do homem estava pousado ao lado dele. Ele sorriu quandoele me pegou olhando, e eu sorri de volta enquanto me escorregava no bancoao lado de Darcy.

Meu pai me entregou um pequeno cardápio de plástico. Eu deixei meusolhos deslizarem sobre as seleções clássicas do restaurante, então entregueipara Darcy. Ela estava sem os óculos escuros e sentada com a cabeçacasualmente descansando em sua mão enquanto examinava o cardápio.

 —  Ei, pessoal! O que vão querer? —  Uma garçonete em um vestido dealgodão azul e branco apareceu na nossa mesa, com a caneta já pronta.

 —  Meninas? —  perguntou o meu pai. —  Eu vou querer uma pequena pilha de panquecas com mirtilo —  disse

Darcy, empurrando o cardápio do outro lado da mesa. —  E café. —  Bagel tostado e suco de laranja, por favor —  eu disse. —  Eu vou experimentar essas panquecas de trigo com bacon e café

também —  meu pai disse. Ele empilhou os cardápios e os entregou para ela. —  Obrigado.

 —  Obrigada vocês   —   disse ela com um sorriso, então se virou e seafastou.

Meu pai soltou um suspiro e entrelaçou as mãos em cima da mesa.  —  Ouçam. Eu devo um pedido de desculpas a vocês.

Agarrei a borda do assento de vinil em ambos os lados das minhaspernas. Perto de mim, Darcy parou de respirar.

 —  Tem sido muito difícil para mim... desde que sua mãe morreu, e eusei que isso não é desculpa, mas eu não percebi até recentemente o quão...

fechado eu estava —  ele disse, olhando para nós duas. —  E... furioso.Limpei a garganta. Darcy se moveu em seu assento.

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 —  Na verdade, isso não é verdade —  disse ele, esfregando a testa. —  Eu percebia o quanto eu estava com raiva, mas eu não queria admitir isso,porque eu estava com raiva dela e me sentia mal.

Meu estômago espremeu-se, porque eu sabia exatamente o que ele

queria dizer. Houve momentos em que eu senti raiva da minha mãe por medeixar, por nos deixar. Como se ela tivesse tido qualquer controle sobreaquilo. No ano passado eu havia ganhado o primeiro lugar na feira deciências regional com o meu estudo de células cancerosas em ratos decampo, derrotando Samir Clark e seu braço robótico, e enquanto todos osfuncionários, professores e alunos aplaudiam a minha vitória, eu apenasolhava para a multidão, desejando que ela estivesse lá. Ela tinha se formadoem biologia na faculdade e ensinava em Princeton, assim como meu pai, e

eu sabia o quão orgulhosa ela teria ficado, mas não era o suficiente. Eu queriaela lá . De alguma forma eu tinha conseguido passar por toda a recepção etodas as fotos, mas assim que eu cheguei em casa, joguei o troféu no sofá,corri para o meu quarto, e comecei a gritar em um travesseiro. Eu gritei,gritei e gritei até que comecei a me sentir estúpida por estar gritando. Atéque eu percebi que ela estaria lá se ela pudesse. E então eu me senti muitoestúpida.

 —  Eu não acho que realmente aceitei que nunca vou ver sua mãe denovo  —  meu pai disse, lágrimas brilhando em seus olhos. Darcy fungou.Seus olhos estavam marejados, também. Talvez ela pensasse em nossa mãe.Talvez ela sentisse falta dela.  —   E vocês, meninas, têm muito dela emvocês... Eu a vejo sempre que olho para vocês. E isso me deixa muitoorgulhoso, mas ao mesmo tempo, isso me deixa triste. Eu apenas nunca seicomo lidar com isso. Eu nunca soube como ser a pessoa que vocêsprecisavam que eu fosse.

Ele engoliu em seco, contendo as lágrimas. Darcy pegou umguardanapo do dispensador e cobriu os olhos por alguns instantes.

 —  Eu entendo, pai —  eu disse, minha voz um coaxar. —  Eu realmenteentendo. Eu só... Eu acho que ela quer que façamos melhor. Acho que elaquer que a gente se esforce mais para sermos...

 —  Uma boa família —  concluiu Darcy, fungando novamente. —  Elaqueria que fôssemos uma família.

Papai assentiu e desviou o olhar. —  Vocês acham que nós poderíamosfazer isso? —  ele perguntou depois de um momento. —  Vocês acham quenós poderíamos tentar? Por ela?

 —   Eu acho que nós poderíamos  —   eu disse, meu coração batendocontra minhas costelas.

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Darcy assentiu, ainda tentando não chorar. —  Ótimo —  disse meu pai.Ele respirou fundo, sentando-se em linha reta enquanto tomava ar e soltava,apoiando os braços na mesa. —  Obrigado —  disse ele. —  Por me ouvirem.

 —  Obrigada —  disse Darcy suavemente, sua voz chorosa.

Ainda havia uma tonelada de porcarias entre nós. Todos os gritos, todaa confusão e a raiva. Mas bem ali, naquele momento, o meu pai parecia,soava, como antigamente. Como o pai que eu conhecia antes da palavracâncer  ter entrado em nossas vidas. Eu amava esse pai.

Então eu forcei um sorriso. —  A qualquer hora.Olhei para Darcy, esperando que ela aproveitasse a chance para

perguntar ao papai sobre a festa, mas ela estava olhando para a mesa, o lábioinferior tremendo enquanto ela brincava com os dedos trêmulos em seu

colo. Ela parecia frágil, como se caso eu a tocasse de forma errada ela fossedesmoronar. Engoli em seco. Eu me senti tão culpada, de repente, porpensar que ela não se importava que a mamãe tivesse partido. Talvez elalidasse com isso de forma diferente da que eu lidei. Talvez todas as festas,as compras e a torcida tenha sido sua maneira de distrair-se. Porque não eratudo o que eu estava fazendo, estudando pra caramba o tempo todo,correndo sempre que eu tinha muito tempo para pensar?

 —  Pai? —  eu disse de repente. —  Há uma festa hoje à noite, e Darcy eeu estávamos pensando se poderíamos ir.

Darcy levantou o queixo e olhou para mim como se nunca tivesse mevisto antes.

 —  Uma festa? —  disse ele, hesitante. —  Eu não sei se...Um prato de panquecas caiu na nossa mesa fazendo barulho. —  Vocês

vão para a festa?Krista estava ao lado de nossa mesa em um minivestido azul que fazia

suas pernas parecer com palitos de dente, o seu cabelo para trás em um rabode cavalo alto, e um sorriso de expectativa em seu rosto. Ela colocou a

comida de Darcy na frente dela, e então na minha. Olhei por trás ela e vi quea nossa garçonete original estava ocupada fazendo um novo copo de café.

 —   Isso é ótimo! Tristan achava que você não ia!  —   disse Krista, juntando as mãos enquanto sorria para mim.

 —  E você é? —  meu pai perguntou agradavelmente. —  Pai, esta é Krista —  Darcy saltou. —  A festa vai ser na casa dela. —  Oh —  meu pai disse, limpando a garganta. —  Prazer em conhecê-

la, Krista. Haverá adultos nessa festa?

 —  Pai! —  disse Darcy entredentes.

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 —  Oh, é claro! —  Krista respondeu, rindo. —  Minha mãe é a prefeita,então ela sempre faz questão de deixar a polícia a postos quando meu irmãoe eu damos uma festa. Ela é totalmente superprotetora, por isso elescostumam enviar alguns oficiais para termos “vigilância policial” —  disse

ela, acrescentando algumas aspas no ar.  —  Elas são, tipo, as festas maiscalmas de todas. —  Então ela olhou para mim e Darcy. —  Mas ainda assimsão divertidas!

 —  Viu?  —  eu disse, erguendo as sobrancelhas.  —  Uma festa com apresença da polícia. Não vamos ter mais segurança do que isso, certo,Darcy?

 —  Totalmente! —  exclamou Darcy. —  Você tem que deixá-las ir, Sr. Thayer  —  disse Krista, tocando o

braço do meu pai. Olhei para a sua pulseira de couro, que parecia dura, emcomparação com a macia de seu irmão.  —  Estou morrendo  de vontade deconhecer Rory melhor. —  Ela sorriu para mim.

Obriguei-me a sorrir de volta, apesar de que a última coisa que euqueria era que Krista disparasse perguntas para mim a noite toda. Eu nãoconseguia entender, mas sentia como se ela estivesse à procura de uma razãopara ficar perto de mim. Para algo nos unir. Ela segurou meu olhar, e umpunhado de arrepios passou ao longo dos meus braços.

 —  Tudo bem. Se for na casa da prefeita, eu tenho certeza que vai ficartudo bem —  disse meu pai, finalmente. —  Vocês, meninas, podem ir.

 —  Eba! Obrigada, obrigada, obrigada! —  Darcy aplaudiu.Eu soltei um suspiro. —  Obrigada, pai.

 —  Obrigada, Sr. Thayer! —  disse Krista.Meu pai sorriu. Talvez ele estivesse percebendo que fazia um bom

tempo desde que ele tinha feito alguma coisa para fazer tantas pessoas felizesao mesmo tempo.

 —  Vocês me avisem se precisarem de alguma coisa, está bem? —  disse

Krista. —  Eu estarei bem atrás do balcão!Ela praticamente pulou para longe, sua saia flutuando, e pegou o

telefone velho atrás do balcão. Depois de discar rapidamente, ela virou ascostas para nós, sussurrando para quem estava na extremidade oposta.Quando ouvi seu grito, eu sabia que ela estava dizendo a alguém que nóshavíamos decidido ir à festa. Eu me perguntei se era Tristan. Eu meperguntei se ele estava sorrindo.

E eu me perguntei por que eu me importava.

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26UM LIFER 

Traduzido por Manoel Alves

orri pela rua que levava às docas naquela tarde, dizendo a mimmesma que eu não estava indo por ali porque queria topar com

Tristan. Eu estava indo por aquele caminho porque queria fazer umtour pela ilha, eu queria experimentar diferentes rotas para corrida  —  algum lugar povoado, para me sentir um pouco mais segura em minhaprimeira corrida sozinha desde Nell.

Mas, conforme eu virava a esquina e me dirigia ao Thirsty Swan, meucoração acelerou e me perguntei se eu estava muito suada, se meu rostoestava muito vermelho, e se —  oh, meu Deus —  e se eu cheirava mal?

O que diabos eu estava pensando, vindo aqui?

Eu aumentei o meu ritmo quando passei pelo bar, uma rodada de risoflutuando para fora e me engolindo. Um vislumbre de dentro não me dissenada. Tudo o que eu via era um borrão de rostos, as luzes da jukebox, ealguém nas sombras gerenciando o bar. Corri passando pelo beco entre obar e um restaurante ao lado, chamado Crab Shack, e fiz uma pausa,apoiando minhas mãos acima dos meus joelhos e tentando recuperar ofôlego. Eu não podia acreditar que tinha corrido todo o caminho até aquipara nada. Talvez eu devesse virar e ir para a loja de departamentos agora,onde eu poderia prontamente nutrir minha humilhação interior com umagrande e boa tigela de sorvete.

Levantei-me em linha reta e estava prestes a colocar meu plano emação quando uma porta próxima se abriu e ouvi a voz de Tristan.

 —  Tudo o que eu estou dizendo é que você tem que recuar um poucodela.

Meu coração pulsou cerca de duas mil batidas. Com quem quer quefosse que ele estivesse falando, eles estavam no beco virando a esquina deonde eu estava. Eu me inclinei contra a parede do Crab Shack e, tão

cuidadosamente quanto pude, vislumbrei a dobra da esquina. Krista estava

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na frente de Tristan no beco limpo e vazio, ainda em seu uniforme da lojade departamentos. Ela disse algo em resposta, que eu não conseguientender.

Tristan suspirou profundamente. —  Eu entendo o porquê de você estar

tão...A porta do Crab Shack abriu e fechou, abafando suas próximas

palavras. Xinguei sob a minha respiração e tentei parecer natural enquantoum grupo de rapazes saíam pela porta e passavam por mim.

 —  ...quero conhecê-la. Isso é tudo —  Krista estava dizendo quando fuicapaz de me ajustar novamente.

 —   Eu entendo, mas você está começando a assustá-la  —   Tristanrespondeu. —  Eu posso dizer.

 —  Como você sabe que não é você que está assustando-a?  —  Kristaexigiu. —   Talvez eu também esteja. Eu não sei  —   disse Tristan.  —   Ela é

diferente. —  Bem, dã! —  exclamou Krista. —  Até eu sei disso!A porta do Crab Shack se abriu de novo e alguns homens mais velhos

saíram, falando alto sobre alguma viagem de pesca. Pareceu levar umaeternidade para se afastarem da porta e irem embora. Assim que elesdesapareceram ao virar da esquina, eu prendi a respiração e escutei.

 —  ...mesmo que ela seja um lifer   —  Tristan estava dizendo. —  Tanto faz —  disse Krista. —  Se você quer que eu recue, tudo bem.

Eu vou recuar. Você deixou bem claro quem está no comando por aqui.Ela estava prestes a se distanciar. Se ela saísse do beco para o calçadão

eu estava ferrada. Olhando ao redor, eu rapidamente me escondi atrás deum alto arbusto em um vaso fora do Crab Shack e prendi a respiração.Depois de alguns segundos, eu arrisquei um olhar ao redor do lado datopiaria e vi Krista ao longo das pranchas de madeira indo na direção de

onde eu vim, voltando para a cidade.Eu fiquei lá, escondida, esperando que Tristan voltasse para dentro. E

esperei. E esperei. A cada segundo eu esperava que ele aparecesse na dobrada esquina e me pegasse. Mas então, depois do que pareceu uma eternidade,eu finalmente ouvi o ranger da porta abrindo e se fechando novamente.Deixei escapar a respiração que estava segurando e caminhei lentamente emdireção à água. Havia alguns bancos vazios de frente para a baía, pairandosobre uma pequena praia onde duas gaivotas estavam empoleiradas na areia

recém penteada.

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Sentei-me na areia quente, vendo um grande barco de pesca se moverem direção ao cais à minha direita, seu sino retinindo. Suspirei e repassei aconversa de Tristan e Krista em minha mente.

Primeiro de tudo, não havia nenhuma razão para acreditar que Tristan

e Krista estavam falando sobre mim. Eles poderiam estar falando sobrequalquer um. Mas, aí é que estava. Por outro lado, Krista tinha estadorealmente interessada nela, e depois de ontem, Tristan sabia que eu tinhaum monte de perguntas sobre ele, também. Assim, eles  poderiam   estarfalando sobre mim. Eu acho que deveria estar me sentindo grata por Tristantentar me ajudar com Krista.

Mas o que era um lifer , e por que seria um?Eu terminei o meu alongamento e caminhei para casa, nem sequer me

atrevendo a dar ao Thirsty Swan ou ao beco outra olhada.

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27HORA DA FESTA 

Traduzido por Manoel Alves

ntão, espere. Você nunca tocou um instrumento musical?Nem mesmo, tipo, uma música fácil no piano? —  perguntou

Olive, com os olhos arregalados.Estávamos sentados em um sofá de brocado contra uma das paredes

amarelo claro da sala de Tristan, e dezenas de jovens conversavam, riam eflertavam ao nosso redor. O ar estava frio, graças à brisa movendo-seatravés das grandes janelas, e o zumbido constante de conversa enchia-mede dentro para fora. Olive tinha razão sobre o interior da casa, tãoimpressionante quanto o exterior. Todo o lugar cheirava a madeira polonesae protetor solar de coco, como uma espécie de resort de praia de luxo. Toda

a mobília era antiga e perfeitamente conservada, com almofadas coloridas ecaprichosamente incompatíveis. Do outro lado da sala havia uma enormelareira com um vaso de mosaico único no centro da sua abóbada. Não haviaoutras bugigangas, nem pilhas de revistas, nem fotos de família. Claramenteos pais de Tristan adoravam a simplicidade.

Eu ainda não tinha visto Tristan ou Krista. Darcy ficou perto dasportas de correr para o pátio, flertando com Joaquin, o que era bom. Estanoite era importante para ela. Graças a Deus Joaquin não estava estragandotudo.

 —  Bem, na escola tínhamos aula de música, então eu acho que usei umpandeiro e alguns bongôs, mas não desde que eu tinha oito ou nove anos. —  Eu me mexi no meu lugar, movendo minha bolsa para o meu lado.  —  Eununca fui interessada nisso.

 —   Uau.  —   Olive recostou-se, olhando para a festa em estado dechoque. —  Você gostaria de aprender? Eu poderia ensiná-la a tocar violão.

Eu hesitei. Eu gostava de Olive e eu não queria decepcioná-la, masaprender a tocar um instrumento nunca tinha passado pela minha cabeça na

minha vida.

 — E 

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 —  Vamos lá! —  ela exclamou, apertando meu braço. —  Eu corri comvocê! Quem sabe, talvez você goste.

Seja imprevisível, Rory, eu disse a mim mesma. A vida é curta. —  Sabe de uma coisa? Ok. Eu adoraria aprender —  eu disse.

 —  Legal. —  O rosto de Olive iluminou-se completamente. —  Por quenão nos encontramos no café da manhã de amanhã na loja dedepartamentos? Então, podemos voltar para o meu quarto na pensão, e euvou lhe mostrar o básico.

 —  Parece ótimo.Ela procurou em sua bolsa e tirou um pequeno bloco e um lápis. —  Eu

vou anotar o endereço e o número para você —  disse ela. —  É a pensão daSra. Chen na Freesia. A dona é totalmente intrometida, mas o lugar tem

uma acústica de matar.Ela arrancou o pedaço de papel, e eu o enfiei no bolso.  —  Há quantotempo você toca violão?

 —  Desde que eu era pequena  —  ela respondeu, pegando seu copo deágua. A manga de sua blusa começou a subir, e ela puxou-a de volta parabaixo novamente. Ela enfiou a mão livre debaixo do braço como se estivessecom frio.

 —  Então, você provavelmente deve ter notado o cara no parque —  eudisse. —  O que toca por dinheiro todos os dias?

Os olhos de Olive estreitaram sobre a borda de seu copo vermelhoenquanto ela considerava. —  Não. Quando foi isso?

Naquele momento, Tristan e Krista apareceram na parte inferior daescada larga. Ele vestia uma camiseta branca abaixo de uma jaqueta azulaberta e bermuda. Ela estava com um vestido rosa floral, que balançava emtorno de seus joelhos quando ela se movia. Eles realmente faziam um parimpressionante, e pela primeira vez eu entendi o que Olive quis dizer comeles serem tratados como o príncipe e a princesa de Juniper Landing. À

medida que se moviam pela sala de estar, todos pararam o que estavamfazendo para cumprimentá-los. Eu quase poderia imaginar alguns delesquerendo mergulhar em reverências e aplausos.

Assim que eu pensei nisso, Tristan olhou para nós, e nossos olhos seencontraram. Eu estava quente por toda parte, como se de alguma forma elesoubesse o que eu estava pensando. Então Kevin e Fisher o levaram para obarril, e o momento passou. Eu meio que esperava que Krista viesse eexigisse uma reforma no cabelo, mas em vez disso ela encontrou Lauren e

Bea ao lado da lareira e começou a conversar. Talvez ela e Tristan tenham

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falado sobre mim esta tarde. Definitivamente parecia que ela estavaatendendo o seu aviso para se afastar.

Meu coração disparou com a ideia, mas eu voltei minha atenção paraOlive e limpei minha garganta. —  O que estávamos falando?

 —  Um cara que toca violão no parque? —  Olive me lembrou. —  Certo! Ele estava lá em algumas manhãs e então hoje ele apenas...

não estava. —  Talvez ele tenha feito bastante dinheiro e pegou um avião para Nova

York —  Olive brincou. —  Talvez, mas a coisa realmente estranha é que Darcy não se lembra

dele  —   eu disse, brincando com o zíper do meu suéter enquanto euobservava Krista. Ela não olhou para mim nenhuma vez.

 —  O que você quer dizer? —  perguntou Olive. —  Ela foi a primeira a apontá-lo no dia em que eu cheguei aqui —  euexpliquei, mantendo um olho em Krista e suas amigas.  —  E, em seguida,alguns dias depois, nós o vimos tocar por alguns minutos e ela disse que eleestava dando em cima dela. Mas quando eu disse que ele tinha ido embora,ela não tinha ideia de quem eu estava falando.

 —  Isso é estranho —  disse Olive, totalmente alerta. Ela colocou o copona mesa e endireitou-se, como uma convidada de um programa deentrevistas particularmente interessante. A possibilidade do menestrel terdesaparecido não a tinha incomodado, mas claramente a ideia doesquecimento de Darcy sim. —  Ela simplesmente não se lembra dele?

 —  Não —  eu disse, feliz que alguém pensasse que essa coisa toda eratão estranha quanto eu achava. —  Era como se ele tivesse sido apagado dasua memória.

 —  Isso costumava acontecer com um de meus amigos em casa —  Oliveme disse, baixando a voz. —  De vez em quando, ele esquecia horas inteirasda sua vida. Às vezes, até mesmo dias.

 —  Sério? —  eu perguntei, intrigada. —  Ele foi ao médico?Olive riu sarcasticamente. —  Eu meio que acho que um médico teria

apenas lhe dito para parar com a heroína.Meu queixo caiu, e eu senti meu pescoço aquecer. —  Você acha que a

minha irmã é viciada em drogas ? —  eu sussurrei, surpresa e meio ofendida. —  Darcy nunca usou drogas na sua vida.

Olive me olhou como se ela tivesse acabado de ser esbofeteada. —  O que foi? Você está bem? —  perguntei.

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 —  Eu estou bem —  disse Olive. —  Eu só... algo voou no meu olho. —  Ela se levantou e pegou sua bolsa, segurando os dedos sobre sua pálpebradireita. —  Eu só vou correr para o banheiro. Volto em um segundo.

 —   Olive, espera.  —   Quando ela se abaixou em torno de um canto,

levantei-me também, mas quando eu peguei minha bolsa, ela abriu e tudoderramou-se para fora  —  minha carteira, minhas faixas de cabelo, o meubatom. Eu rapidamente coloquei tudo de volta na bolsa e segui Olive, masno momento em que eu virei no canto, encontrei-me no final de um longocorredor com pelo menos meia dúzia de portas fechadas.

Suspirando, eu bati na primeira. —  Olive?Nada. Mudei-me para a segunda. —  Olive? Você está aí?Nenhuma resposta. Movendo-me lentamente pelo corredor, o barulho

da festa começou a desvanecer-se. Bati na terceira porta e ouvi uma respostaabafada. Lentamente, eu testei a antiga maçaneta de bronze, e a porta seabriu, mas não era um banheiro. Era um quarto enorme e ele estava cheiodo chão ao teto, com lixo.

 —  Uau —  eu disse baixinho.Minha curiosidade levou a melhor, e eu dei um passo para dentro.

Prateleiras preenchiam cada parede, cada uma repleta de todo tipo de coisa,e ainda mais itens estavam amontoados em oscilantes torres no centro dochão. Havia livros e revistas, várias joias emaranhadas, bolsas, mochilas emalas de todas as formas e tamanhos, alguns deles recheados até asaberturas. Havia computadores portáteis amontoados no chão, fiosenrolados em todos os lugares, e uma grande prateleira pregada na paredecheia com iPads e outros tablets. Quando entrei mais, meu quadril bateu emuma caixa de papelão enorme que estava cheia até a borda com telefonescelulares.

 —  Que diabos...?Talvez por isso a casa de Tristan parecesse tão vazia. Sua família

mantinha todos os pertences atrás de portas fechadas. Lentamente, eu mevirei para sair, e eu congelei. Ao longo da parede ao lado da porta estava umcabideiro de roupas, e ao lado um cabide cheio de bonés de beisebol e detaxistas, chapéus de sol e viseiras. Pendurado no gancho superior estavauma gasta correia de violão amarela, verde e vermelha.

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28RESPOSTAS 

Traduzido por Matheus Martins

ory.Eu pisquei. Tristan estava em pé na minha frente,

emoldurado pela porta, sua postura ereta. —  O que você está fazendo aqui? —  ele perguntou, sem rodeios. —   M-me desculpe, eu só...  —   Eu limpei minha garganta, o calor

subindo no meu pescoço. Meus olhos dispararam de volta para a correia doviolão. Ela estava lá. Estava definitivamente lá. Isto não era um flash. —  Euestava procurando por Olive.

 —  Bem, ela não parece estar aqui, então...Ele segurou a porta aberta para mim. Tomei a dica e deslizei por ele.

Ele fechou a porta firmemente atrás de mim e colocou as mãos nos bolsosda frente de sua bermuda. —  Desculpe. Minha mãe não gosta que ninguém venha aqui.Ele se virou e me levou de volta para o corredor, em direção à festa.

 —  Oh. Desculpe. Olive disse que ia ao banheiro, então... —  O banheiro é do outro lado da cozinha  —  disse ele, inclinando o

rosto para baixo, e o seu cabelo caiu sobre sua bochecha. —  Se você precisardele.

 —  Oh, bem... obrigada —  eu disse.Tínhamos chegado ao fim do corredor. À minha direita, Darcy e

Joaquin conversavam com Bea e Kevin. À minha esquerda estava a sala e osofá de brocado que eu tinha desocupado. Olive ainda não tinha voltado.Virei-me para Tristan, morrendo de vontade de perguntar a ele sobre essequarto, sobre a correia do violão. Ela pertencia ao menino menestreldesaparecido. Eu tinha certeza disso. Mas como tinha vindo parar aqui? Seráque Tristan conhecia o cara? E se ele tivesse dado a ele? Ou será que alguémda família de Tristan o pegou?

 —  Então —  disse Tristan. —  Você veio.

 — R 

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Um rubor rodou pelo meu rosto. —  Darcy queria vir, então... —  Você sempre faz coisas que você não quer fazer pela sua irmã? —  

ele questionou.Ele caminhou para o sofá de brocado e se sentou. Ainda tentando

descobrir como abordar as minhas perguntas, eu me sentei ao lado dele. Apele das minhas pernas formigava só pela proximidade de seu joelho com omeu. Eu me virei no meu assento ligeiramente, angulando para longe dele.

 —  Não —  eu disse. —  Isso era muito importante para ela. —   Por quê?  —   ele perguntou, olhando do outro lado da sala, onde

Darcy estava rindo com a mão no braço de Joaquin.Porque ela tem uma queda grande pelo seu amigo chato   foi a primeira

resposta que me veio à mente.

 —  Ela gosta de festas —  eu disse simplesmente. —  E você não? —  perguntou ele, voltando-se para mim de novo.Ele estava olhando para mim, como se estivesse olhando para a minha

alma. Nenhum cara nunca me olhou assim. Talvez nem mesmo Christopher.Os olhos dele estavam sempre muito inquietos, ou olhando além de mimpara algo melhor. Eles tinham um desvio de atenção. Mas não Tristan.Tristan sabia como focar. Eu só não sabia como ser o objeto desse foco.

 —   Por que você se importa?  —   eu perguntei, minha temperaturacorporal se elevando sob seu escrutínio.

 —  Eu apenas me importo  —  ele disse simplesmente. —  Eu imaginoque você evita esse tipo de coisa porque é inferior a você.

 —  Uau. Então você acha que eu sou orgulhosa —  eu o desafiei. —  Nem um pouco —  disse ele com naturalidade. —  Eu acho que você

sabe quem você é e não cede à pressão do grupo. Mas com a sua irmã édiferente, por isso você está aqui. Isso não torna você uma orgulhosa. Issotorna você especial.

Engoli em seco, sentindo-me lisonjeada, mas também desconcertada.

 —  Você gosta de observar as pessoas? —  ele perguntou. —  O que você quer dizer? —  Às vezes, quando estou em uma festa, eu só sento e observo —  disse

ele, olhando ao redor da sala. —  Como aquele cara ali. —  Ele acenou paraum menino ruivo adorável e nerd, mas encostado na parede oposta. —  Eleestá claramente nervoso.

O menino estava enrolando o cordão em seu moletom ao redor de seudedo com tanta força que a ponta estava ficando branca. Enquanto isso, a

menina com quem ele estava conversando levantou o braço para alisar ocabelo e disfarçadamente olhar para o relógio.

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 —  E aquela menina não poderia se importar menos —  eu apontei. —   Exatamente  —   disse Tristan, sorrindo para mim por cima do

ombro. —  Então, eu estava certo. Você é  uma observadora natural.Me movi sob seu olhar, achando isso levemente inquietante, que ele

continuasse a agir como se soubesse muito sobre mim. —  Talvez —  eu respondi. —  Mas pelo menos eu nunca espiei ninguém

abertamente.Tristan piscou, então finalmente desviou o olhar. Ele descansou seus

antebraços sobre os joelhos e entrelaçou os dedos. A pulseira de courotrançada se agarrava firmemente a seu pulso. Parecia que era fundida à suapele. Como se tivesse estado lá desde sempre. Ele começou a brincardistraidamente com a trança dela.

 —   Existe algo que você queira me perguntar, Rory?  —   disse elefinalmente, olhando através da sala para Krista, que ainda estava de pé aolado da lareira.

 —  Sim, tem algo  —  eu disse, sentando-me em linha reta e de frentepara ele completamente. De alguma forma, a sua pergunta direta me tornouvalente.

 —  O que aconteceu com o garoto no parque?Ele me olhou nos olhos. —  O garoto no parque.

 —  O tocador de violão. Aquele com os dreadlocks. Eu vi que você oestava vendo tocar com Fisher no outro dia, então eu sei que você sabe dequem estou falando —  eu disse, aquecendo a minha investigação. —  Ondeele está, e por que a minha irmã não se lembra dele? Ah, e por que a correiado violão dele está pendurada no seu quarto de armazenamento lá atrás?

 —  Rory... —  ele começou em voz baixa.A maneira como ele disse meu nome, como se ele realmente me

conhecesse —  como se sempre me conhecesse —  enviou um ímpeto quenteno meu peito. Eu olhei para ele, bem nos olhos, e descobri que não conseguia

desviar o olhar. —  Rory! —  uma voz familiar chamou. —  Oh, oi, Aaron! —  eu disse, levantando-me para lhe dar um abraço e

tentando não gemer pelo seu timing . Tristan ia me dizer algo sobre omenestrel. Eu podia sentir isso.

 —  Você já conhece Tristan? Esta é a casa dele. —  Oh, sim. Claro. —  Aaron ofereceu sua mão, e Tristan se levantou

para apertar a dele. —  Festa de matar, cara.

 —  Obrigado. —  Então ele olhou para sua irmã, que estava dando a elealgum tipo de olhar. Palavras não ditas entre irmãos, eu imaginei.  —  Eu

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tenho que ir... fazer uma coisa  —   disse Tristan. Ele olhou de mim paraAaron e de volta para mim novamente. Eu poderia dizer que havia algo queele queria dizer, mas ele pensou melhor.

 —  Vocês dois se divirtam.

Então, ele fez o seu caminho através da multidão, até a sua irmã. —  Ele parece ser um cara legal —  disse Aaron.Eu tomei uma respiração profunda.  —   Isso ainda está a ser

determinado. —   Então, você sentiu dores no outro dia?  —   perguntou Aaron,

tomando um gole de sua bebida.Eu fiz uma careta com o pensamento.  —   Não, na verdade. Isso é

estranho.

Eu estava exausta depois do surf de vela —  no bom sentido —  e certade que os músculos que eu quase nunca usei estariam sofrendo nos dias queviriam.

Aaron riu. —  Acho que você é uma atleta melhor do que pensa. —  Aparentemente —  eu disse. —  Então, vamos sair de novo? Tipo, sexta-feira de manhã? Eu pego

você na sua casa? —  Aaron sugeriu. —  Eu estou dentro —  eu disse com um sorriso.Podia ser bom para mim passar mais tempo com Aaron e menos com

os moradores locais. Até agora, ele era a pessoa menos enigmática que euconheci nessa ilha maluca.

 —   Ei, olha só  —   ele disse, olhando por cima do meu ombro.  —   Aneblina está vindo de novo.

De fato, o ar lá fora estava rodando, as luzes ao longo da falésiapiscando uma por uma. Todos os festeiros começaram a se reunir nas janelaspara assistir, e Aaron me puxou para me juntar a eles.

 —  Isso é tão legal —  alguém na multidão arfou.

 —  Assustador, você quis dizer —  alguém respondeu. —  Eu li um livro, uma vez, e haviam monstros que viviam na névoa —  

um cara disse, usando uma voz estranha. Alguns de seus amigos riram, etodos ficamos em silêncio, observando o nevoeiro envolver a casa.

Do nada, senti um arrepio na parte de trás do meu pescoço e eu mevirei. Krista estava escorregando por uma porta lateral perto de mim,enquanto, no outro extremo do corredor, Tristan estava abrindo a porta devidro para o pátio, segurando para Olive. Ela sorriu para ele quando eles

colocaram o pé para fora, a névoa cinza rodando em torno deles. Senti umbaque súbito de medo, e abri a boca para chamá-los, mas as palavras não

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vieram. O que eu diria? Tenham cuidado? Não vão por aí? Tristan viviaaqui. Ele conhecia este lugar e ele sabia sobre a névoa. Ele não estarialevando Olive para fora se fosse perigoso. Eu esperava.

Enquanto todo mundo na festa ficava boquiaberto na frente da janela,

eu assisti Tristan e Olive descendo os degraus, a mão dele na parte inferiordas costas dela, até que ambos desapareceram na neblina.

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29QUEBRADA 

Traduzido por Matheus Martins

o momento em que ele via uma menina, ele sabia ou não se ela erao tipo dele. Isso não era físico. Não. Fisicamente, a variedade de

suas conquistas eram ótimas. Tão ótimas que todos os traçadoresde perfis em Washington, na Califórnia, na Virgínia e em DC tiveramdificuldade para descobri-lo. Ele tinha certeza de que, num primeiromomento, eles acreditavam que ele não tinha um tipo. Lacey Turner era,afinal, baixa, gorda e loira, enquanto Gigi Abassian era alta e esbelta, de peleescura, olhos escuros, cabelo escuro. Jenna Moskowitz tinha acne, eczema esuspensórios, enquanto Felicia Renee havia modelado para revistas. E entãohavia Rory Miller. Rory Miller, a mais simples de todas.

Exceto pelo cabelo. Aquele lindo e delicioso cabelo...Então, não. Não era uma coisa física. Isso era interno. Toda garota queele já tinha escolhido era quebrada. Não importava o quão valente ela era,ou o quão alto ela se levava ou como ela olhava para o mundodesafiadoramente. Ele poderia apontar uma menina quebrada a umquilômetro de distância. Estava tudo nos olhos.

E esta amiga de Rory Miller, ela era a mais destruída de todas elas.

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30DISPENSADA 

Traduzido por Matheus Martins

onforme eu subia ao topo da colina na Main Street na quinta-feirade manhã, eu cruzei meus dedos, esperando que o menino cantor

estivesse de volta ao seu lugar, cantando uma versão reggae de“Sweet Dreams” ou algo assim. Esperando que eu tivesse imaginado o queeu tinha visto na casa de Tristan. Mas ele não estava. Em vez disso, uma

 jovem mulher em calças de ioga cinza fazia uma pose contorcida sob obanner dos fogos de artifício, levantando o rosto para o sol.

Meus ombros caíram, e eu virei meus passos em direção à loja dedepartamentos. Talvez eu prove as panquecas de mirtilo que Darcy tinhapedido ontem. Elas pareciam incríveis. Talvez isso me animasse e me

preparasse para essa conversa. Eu queria perguntar a Olive o que eu haviadito que tinha feito ela correr para o banheiro na noite passada, mas euestava nervosa para trazer isso à tona. Eu esperava que isso não fosse nada.Esperava que eu tivesse imaginado isso, também. Assim que eu abri a porta,eu disse a mim mesma que este era o caso, só para acalmar meus nervos.

Olhando para o balcão, fiquei aliviada ao encontrar duas garçonetesdesconhecidas movimentando em torno da cafeteira. Eu não queria queKrista aparecesse no nosso café da manhã. Sentei-me de frente para a portapara que eu pudesse ver Olive quando ela entrasse.

 —  O que eu posso pegar para você, senhorita?  —  uma mulher idosacom o uniforme da loja de departamentos perguntou, aproximando-se damesa.

 —  Suco de laranja por enquanto, por favor. Eu estou esperando umaamiga —  eu disse a ela.

Ela bateu a ponta de seu lápis contra seu bloco. —  Está bem!Eu me estabeleci no assento confortável e li o cardápio, item por item,

apenas no caso de haver algo melhor do que panquecas de mirtilo para eu

provar. A porta se abriu e eu olhei para cima, mas era apenas um dos caras

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do casal que eu tinha visto comer aqui ontem, o estudante meio loiro. Euolhei para a porta, à espera de seu namorado acompanhá-lo, mas ninguémapareceu. O cara caminhou para o balcão e cumprimentou a garçonete comum sorriso, em seguida, pediu um copo de café e um bagel.

Eu li o cardápio novamente, palavra por palavra. Ainda nada de Olive.Olhei para o relógio. Ela só estava atrasada sete minutos. Meu suco chegou,e eu o engoli, meu estômago roncando. Eu li o cardápio novamente. A portase abriu, e eu olhei para cima mais uma vez. Desta vez, era Tristan. Eleestava vestindo um calção úmido, e sua camiseta branca agarrava-se a eleem manchas molhadas. Seu cabelo estava penteado para trás de seu rosto,acentuando suas maçãs do rosto afiadas e o azul surpreendente de seusolhos.

Meu coração fez uma cambalhota estranha de esperança-mas-cheia-de-apreensão quando eu me lembrei da nossa conversa ontem à noite. Eucomecei a abrir minha boca para dizer olá, mas ele deu uma olhada em mim,ficou vermelho, e saiu.

Isso era novo. Olhei em volta, envergonhada, até que eu percebi queninguém tinha notado ele ou a sua retirada. Eles não tinham nenhumamaneira de saber que eu tinha sido a responsável por assustá-lo, de qualquermaneira.

O cara no balcão pegou seu bagel e começou a comer. Tomei um goledo suco e tentei não pensar no quanto eu estava com fome. A garçonete seaproximou da minha mesa e limpou a garganta.

 —   Posso pegar mais alguma coisa para você, querida?  —   elaperguntou.

Eu sorri para ela. —  Eu acho que só vou esperar por minha amiga. —  Nós duas olhamos para o meu copo agora vazio.  —  Você poderia reenchê-lo, por favor? —  perguntei.

 —  Claro.

Ela pegou o meu copo e voltou com ele cheio. —  Aproveite!Esperei mais quinze minutos, desejando que eu tivesse um celular para

que eu pudesse mandar uma mensagem para Olive. Ela teria se esquecidodo nosso encontro para o café da manhã? Ou será que eu possivelmente aofendi tanto ontem à noite que ela simplesmente decidiu me dispensar? Eudrenei meu suco novamente. Verifiquei o meu relógio. Ela estava mais demeia hora atrasada. Claramente ela não viria. Finalmente, eu levantei,pegando alguns dólares na minha carteira.

 —  Desistiu? —  a garçonete perguntou, pairando sobre mim.

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 —  Ela provavelmente dormiu demais —  eu disse a ela com um sorrisoembaraçado. —  Eu vou ver como ela está, e espero que voltemos aqui.

 —  Tudo bem, então —  disse a garçonete com um sorriso de pena, comose ela não acreditasse que eu voltaria. Quando eu abri a porta, o sino acima

dela tilintou e a garçonete levantou uma mão. —  Tenha um bom dia!Eu puxei o pedaço de papel com o endereço da pensão de Olive para

fora do meu bolso. Freesia Lane, número 22, quarto 2A. Olhei em volta,percebendo que eu não tinha ideia para onde eu estava indo. Então eu vi ocara ruivo da festa de Tristan virando à direita na rua lateral com o parque.Corri atrás dele, imaginando que eu poderia perguntar se ele conhecia a rua,e parei no caminho. Em uma placa diretamente sobre a minha cabeça lia-seFREESIA LANE. Eu simplesmente não tinha notado antes.

 —  Ótimo. Ela tinha que viver na rua do parque assustador —  eu dissebaixinho, empurrando o pedaço de papel no bolso.Engolindo meu nervosismo, eu me virei na rua. Felizmente o número

vinte e dois era a apenas algumas casas a frente, a um quarteirão de distânciado parque. Havia uma casa alta, estreita e branca que lançava uma longasombra sobre a rua. Sua caixa de flores de ferro forjado estourava comsamambaias vermelhas. Parei na calçada por um segundo para reunircoragem para entrar, esperando que ela não estivesse tentando me evitar.

Eu caminhei pela calçada da frente, o assoalho do alpendre rangendosob os meus pés. Quando eu tentei abrir a porta, ela se abriu com facilidade,as velhas dobradiças deixando escapar um gemido agudo. Não havianinguém à vista, todas as luzes estavam apagadas, e lá havia um friodiferente no ar, apesar do calor do dia.

Minha pele se arrepiou e meu peito ficou apertado. Eu verifiquei porcima do meu ombro, meio que esperando ver Steven Nell se lançando emdireção a mim. Mas tudo o que havia lá eram as casas silenciosas e sem vidado outro lado da rua.

Engoli em seco e entrei. —  Olá? —  eu chamei. Uma escada alta e estreita levava ao segundo

andar, e um desbotado papel florido cor de canela e verde cobria as paredes. —  Olá? Tem alguém aqui?

Não houve resposta. Em algum lugar das profundezas da casa, ouvi ummurmurar. A melodia era familiar, mas eu não pude identificá-la. Lambimeus lábios e engoli em seco. Olive entrava e saía de casa todos os dias. Nãohavia nada a temer. Agarrei o corrimão lascado e me arrastei lentamente

pelas escadas. Depois de alguns passos, comecei a me sentir como se eu

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estivesse no meio de um filme de terror e corri o resto do caminhocasualmente, recusando-me a fazer o papel da garota nervosa.

A primeira porta à esquerda tinha um 2A banhado a ouro cravado emseu centro. Prendi a respiração e bati. A porta se abriu um centímetro ao

meu toque.Com o coração acelerado, eu olhei através da fresta. Lá dentro, eu podia

apenas distinguir a manga de uma das blusas de Olive, jogada sobre a cama.Então, notei o sinal sonoro incessante e empurrei a porta.

Ao lado da cama arrumada dela, o alarme de Olive estava badalando. —  Ela não está aqui.Eu me virei, minhas mãos voando para me preparar contra a porta

aberta. Uma mulher chinesa pequena com cabelo branco e óculos enormes

estava atrás de mim. —  Quem é você? —  perguntei. —  Sra. Chen. Eu gerencio este lugar —  disse ela, gesticulando com um

aro enorme cheio de chaves. —  Ela não voltou para casa ontem à noite. —  Ah... ok —  eu disse.Em seguida, ela balançou a cabeça e começou a descer as escadas muito

lentamente, os chinelos fazendo um som contra a madeira envelhecida.Meu batimento cardíaco pulsava descontroladamente, e me voltei para

o quarto de Olive. Eu sabia que vir era uma enorme invasão a suaprivacidade, mas racionalizei com o pensamento de que alguém realmentedevia desligar o alarme antes de começar a incomodar seus vizinhos. Euandei para dentro e apertei o botão no relógio. Silêncio misericordioso.

A porta do armário de Olive estava aberta e apenas algumas peças deroupa estavam penduradas no interior. Seu violão estava encostado nacadeira do outro lado da sala, e algumas partituras estavam espalhadas sobreuma mesa baixa. Havia flores frescas no parapeito da janela mais distante.

Um sino de bicicleta soou na rua, e eu me virei para a janela mais

próxima de mim, acima da mesa. No segundo que eu o fiz, um grandepássaro preto levantou voo do peitoril da janela, suas asas fazendo umbarulho que enviou meu coração para minha garganta.

Inclinei as duas mãos na mesa, lutando para poder me sustentar.Claramente, eu estava tensa demais se uma velha senhora e um pássaropoderiam fazer tudo isso comigo. Eu inspirei e expirei, dizendo a mimmesma para relaxar, mas eu simplesmente não conseguia.

Quando eu levantei a minha mão, um pedaço de papel estava preso à

palma da minha mão. Era um bilhete de recolhimento de uma restauradorade bicicletas, que deveria ser pega hoje. Abaixo dele havia um pedaço de

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papel de carta rosa antigo. No topo, Olive tinha escrito as palavrasQUERIDA MÃE. A carta estava apenas metade concluída.

Fiz uma pausa. Eu sabia o que era, e eu não estava com vontade de lê-la.

Virei-me para o quarto dela mais uma vez. A cama feita. As roupasespalhadas. O copo vazio na mesa de cabeceira. Era estranho. Como sealguém tivesse congelado a vida de Olive no tempo. De repente, umasensação horrível e inquietante criou raízes dentro do meu peito. Algo tinhaacontecido com Olive. Algo terrível.

E eu sabia quem tinha feito isso.

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31LOUCA 

Traduzido por Ivana

orri para casa tão rápido que qualquer pessoa que me visse teriapensado que eu estava sendo perseguida. Eu senti como se estivesse

sendo perseguida. Toda vez que eu tomava ar, eu tinha certeza queeu estava prestes a correr de cabeça para Steven Nell. Toda vez que eupensava em parar para tomar um fôlego, eu o via saltar de trás de uma cercaviva. Eu não podia acreditar que eu tinha ignorado os sinais de alerta, queeu tinha escolhido fechar os olhos e fingir estar segura quando tudoapontava para o contrário. Steven Nell estava aqui. Ele estava meperseguindo, me provocando, e agora ele tinha Olive. Eu tinha que avisarDarcy. Eu tinha que avisar o meu pai.

Eu derrapei ao virar da esquina para o nosso bloco e corri em frente anossa casa, meu cabelo batendo na parte de trás do meu pescoço. Quando eupassei pela porta da frente, meu pai e Darcy estavam ambos sentados à mesada cozinha, comendo em tigelas de cerâmica.

 —  Rory? O que há de errado? —  perguntou o meu pai, de pé. Ele estavausando seu uniforme de corrida e um boné de beisebol. Amontadas na frentedele em cima da mesa haviam pilhas de páginas datilografadas. Eu asreconheci em pânico. Essas páginas ficavam dispostas em nossa mesa de

 jantar toda a minha infância, mas tinham desaparecido quando a minha mãeficou doente. Era o romance dele. Ele parou de trabalhar nisso anos atrás.Eu teria ficado animada por ele estar recomeçando novamente, se eu nãoestivesse prestes a explodir de terror.

 —  Ele está aqui! —  eu engasguei, cambaleando em direção a eles.  —  Steven Nell está aqui.

 —  Rory... —  Darcy começou. —  Você o viu? Onde? —  meu pai perguntou, pálido. —  Não. Eu não... eu não o vi. —  Eu me inclinei para a parte de trás da

cadeira de Darcy, com a minha mão ao meu peito, tentando recuperar o

C

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fôlego.  —   Mas ele está aqui. Darcy, diga a ele! Lembra da outra noite,quando ouvimos o riso no nevoeiro? Era ele!

Darcy suspirou. —  Sem essa, Rory. Tenho certeza de que era apenasalguém brincando com a gente.

 —  Sim, e Steven Nell é esse alguém! —  gritei. Virei-me para enfrentaro meu pai, desesperada.  —  Pai, escuta. Na primeira manhã aqui, eu ouvialguém fora da casa cantarolar “The Long and Winding Road”, que o Sr.Nell sempre costumava cantarolar nos corredores. E então alguém colocoua música na jukebox no Thirsty Swan na noite em que nós fugimos. Eu ouviele rindo, eu o ouvi sussurrar meu nome. E havia um pedaço de tecidoexatamente como o da sua jaqueta e uma bolsa carteiro pendurada em nossacerca a alguns dias atrás, assim como a que ele costumava levar para a aula.

 —  Espere um minuto, espere um minuto —  meu pai disse, estendendoa mão para segurar meus dois braços. —  Você está baseando tudo isso emuma série de coincidências aleatórias?

Meu coração se afundou. Ele não acreditou em mim. Eu senti como seestivesse prestes a explodir.

 —  Não! Estou baseando no fato de que todas essas coisas aconteceram,e agora Olive desapareceu! —  eu soltei.

 —  Quem é Olive? —  ele e Darcy perguntaram ao mesmo tempo.Meu sangue se transformou em gelo em minhas veias. Eu senti como

se alguém tivesse acabado de me bater na cabeça com uma barra de madeira.Lentamente, eu me virei para enfrentar Darcy. Minha visão estava borrada.

 —  O que você quer dizer com quem é Olive ? —  eu perguntei.Ela levantou os ombros e levantou-se da mesa, pegando sua tigela e

colher. —  Eu quero dizer , quem é Olive?Casualmente, ela passou por mim e meu pai para despejar seus pratos

na pia. Ela correu a água por um segundo, em seguida, sacudiu as mãos e sevirou para mim, encostando-se ao balcão. Eu procurei seus olhos. Ela olhou

para mim com curiosidade, esperando. Esperando que eu respondesse paraela. Para explicar a ela quem era essa pessoa —  a pessoa com quem ela saiuem várias ocasiões.

 —   Darcy, qual é  —   eu disse.  —   Agora eu sei que você está desacanagem comigo.

 —  Por que eu estou de sacanagem com você? —  ela perguntou. —  Você sabe quem é Olive —  gritei. —  Nós saímos com ela na fogueira

e, novamente, no Thristy Swan! Eu saí para uma corrida com ela dois dias

atrás e você falou com ela na festa de ontem à noite antes de se encontrarcom Joaquin. —  Minha voz ficou progressivamente mais alta, enquanto ela

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continuava a olhar para mim como se eu estivesse falando em alguma línguaestrangeira.

 —  Espere um minuto, quem é Joaquin? —  meu pai perguntou a Darcy,completamente alheio ao meu pânico crescente.

Ela tornou-se agradavelmente rosa. —  Ele é um cara que eu... —  Darcy —  eu interrompi. —  Você sabe  quem é Olive! —   Deus, Rory! Desista!  —   Darcy deixou escapar, claramente

frustrada. —  Eu conheço Krista, eu conheço Lauren e Bea, mas eu não melembro de Olive. E eu acho que eu me lembraria, porque com esse nome?Eca.

Meus joelhos cederam e eu me deixei cair em sua cadeira desocupada.Isso não estava acontecendo. Isso não   estava acontecendo. Primeiro o

menino menestrel e agora Olive? Eu não estava fabricando essas pessoas.Elas eram reais. Darcy os conhecia. Era como se ela tivesse desenvolvidoalgum tipo de amnésia seletiva estranha que a fez apagar certas pessoas. Eufiquei boquiaberta para ela quando ela saiu da cozinha e se dirigiu para asescadas.

 —  Eu vou tomar um banho e, em seguida, vou para a praia —  disse ela. —  Me avise se você quiser vir.

 —  Nós vamos precisar falar sobre esse Joaquin! —  o meu pai a chamou. —  Sim, sim —  disse ela suavemente. —  Mais tarde.Eu esperei até que ouvi a porta bater e o chuveiro ligar antes de me

virar para o meu pai, meio que esperando ele me repreender por assustá-lo.Essa teria sido sua reação normal. Mas hoje ele apenas ficou lá, olhando paramim com uma expressão preocupada.

 —  Pai, há algo seriamente estranho acontecendo por aqui —  eu disse. —  Darcy conhece  Olive. Eu juro a você. Eu a conheci na primeira manhãaqui, e nós saímos com ela a semana toda. Ela é a amiga que correu comigo.E eu deveria encontrá-la no café da manhã, mas ela não apareceu, e quando

eu fui para a pensão, ela não esteve em casa durante toda a noite, e todas ascoisas dela ainda estavam lá.

 —  Talvez ela tenha dormido na casa de uma amiga —  disse meu pai. —  Ou talvez ela saiu esta manhã para um café ou uma corrida. Ela poderiater se esquecido dos seus planos. Isso acontece.

 —  Sim, ou talvez quando ela estava caminhando para casa da festa danoite passada algum serial killer psicopata a agarrou, a assassinou eenterrou seu corpo na praia em algum lugar!  —  eu disse, enrolando meus

dedos em punhos. Por que ele não acreditava em mim? Por que a minhairmã enlouqueceu?

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Ou era eu? Eu era a única que estava ficando louca? Mas não era comose eu tivesse criado Olive. Ela era uma pessoa real, com coisas reais em seuquarto e verdadeiros sentimentos sobre seu passado, sua mãe e seu futuro.E agora ela se foi.

Meu pai sentou-se em diagonal à mim e pegou uma das minhas mãosentre as suas. Suas mãos eram quentes e aconchegantes.

 —  Rory, escuta, eu entendo por que você está chateada  —  disse elepacientemente, olhando-me nos olhos. Pisquei e olhei para as nossas mãos,não acostumada com esse tipo de contato, este tipo de tratamento gentil. —  Você acabou de passar por uma experiência horrível. Lembra de depois quea sua mãe morreu? Os flashes que você costumava ter? Talvez isso seja algoparecido. Talvez seja apenas mais uma manifestação de estresse pós-

traumático.Ele estendeu a mão e colocou meu cabelo atrás da minha orelha, assimcomo ele costumava fazer quando eu era pequena e esfolava meu joelho oucaía da cama. Eu apertei minhas mãos até minhas unhas cortarem a carneda minha palma. Mal sabia ele que eu estava tendo flashes e que essas outrascoisas que eu estava vendo, ouvindo, sentindo, experimentando nada tinhamem comum com aqueles. Mas, agora, não parecia ser o momento para trazerminhas pequenas desconexões da realidade. Só provaria o seu ponto —  queeu estava perdendo o controle.

 —  Por que você não vai para a praia com Darcy e tenta relaxar? —  elesugeriu.

Minha boca estava completamente seca, o meu coração trabalhandohoras extras. Enquanto eu estava sentada lá, com a minha mão dentro dasmãos do meu pai, eu nunca me senti tão sozinha, tão absolutamentedesnorteada, tão assustada.

Ele não acreditou em mim. Ele nunca iria acreditar em mim. Mas eusabia que Steven Nell estava lá fora, e era só uma questão de tempo antes

que ele atacasse.

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32A VERDADEIRA AMEAÇA 

Traduzido por Ivana

u acordei com um susto no meio da noite, certa de que o som devidro quebrando tinha interrompido meu sono. Com o coração na

minha garganta, eu joguei os lençóis de lado e me arrastei parabaixo. O nevoeiro estava espesso lá fora em todas as janelas, e tudo que eupodia ouvir eram incessantes assobios enquanto a névoa úmida rastejava aolongo das telhas, do telhado, das vidraças.

Fiz uma pausa fora da porta do quarto de Darcy, meu pulso batendonos meus ouvidos, e a abri. Sua cama estava vazia.

 —  Pai?  —   eu gritei. Atravessei o corredor e abri a porta dele. Nãohavia ninguém lá.

Outro barulho, desta vez mais perto. Eu me virei e corri para baixo. —  Pai? Darcy?Foi quando eu ouvi a risada.Eu gritei com toda força dos meus pulmões e me lancei para a porta da

frente. Minhas mãos tremiam enquanto eu forçava as fechaduras e corri parafora, para o terraço. A neblina estava tão espessa que eu poderia tersegurado na minha mão. Tudo o que eu podia ouvir era o assobio. O assobioe o som da respiração irregular.

 —  Por favor, não —  eu gemi baixinho. —  Papai? Me ajude.A névoa rodopiava morta em frente, e foi quando eu vi seus corpos,

todos alinhados em uma fileira pequena e arrumada. Darcy com a parte detrás de sua cabeça ferida. Meu pai com a perna quebrada, sua gargantacortada. E Olive. Olive estava... quase irreconhecível.

 —  Não! —  eu gritei, afastando-me deles. —  Nããããããããão.Eu esbarrei em alguém, e uma mão seca desceu sobre a minha boca.

 —  Sentiu minha falta?

* * *

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Sentei-me em linha reta na minha cama com um estalo ensurdecedorde um trovão acompanhado de um clarão de relâmpago. Lutando pararespirar, eu coloquei minha mão sobre minha barriga, que estava dolorida.Agarrei os lençóis com a outra mão e segurei a respiração até que diminuísse

a dor. —  Foi apenas um sonho —  eu disse em voz alta. —  Apenas um sonho.Lentamente, eu deitei de novo no meu travesseiro encharcado de suor.

Este era o inconveniente de estar no terceiro andar. O isolamento aqui nãoera tão bom, e eu tinha certeza que eu estava ouvindo cada gota de chuva,cada estrondo, muito mais claro do que Darcy ou meu pai.

Levantei-me, peguei meu iPad da mesa, e o levei para a cama. Eu tenteivárias vezes hoje e ainda não tinha sido capaz de conseguir qualquer sinal,

mas não ia doer tentar novamente. Eu tinha que pelo menos verificar ossites de notícias e descobrir se havia alguma informação nova sobre StevenNell. Talvez eu estivesse sendo paranoica. Talvez eles o pegaram. Talvezamanhã nós poderíamos ir para casa.

Mas quando eu cliquei no navegador e ele abriu, não havia nada alémde uma tela em branco e uma roda colorida girando. Suspirei e desliguei oiPad.

Rolando sobre meu estômago, eu olhei pela janela enorme, observandoos raios sobre o oceano. Cada raio irregular iluminava bolsões de ondas,esburacados pela chuva conforme a água se enfurecia e enervava. Inspirei eexpirei, inspirei e expirei, e lentamente o pesadelo desapareceu.

De repente, ouvi um grito, e quando o céu se iluminou mais brilhanteainda, eu pude distinguir quatro silhuetas na água, segurando pranchas desurf. Subi de joelhos e me inclinei para frente. As pessoas estavam surfandonessa confusão? Eles estavam loucos?

Duas das figuras viraram em direção à costa e começaram a remarfuriosamente. Eles pularam nas pranchas em seus pés e subiram uma onda

maciça, lado a lado, até que um deles caiu para a frente, de cara na água.Minhas mãos voaram para cobrir minha boca e ficaram lá até que eleapareceu mais uma vez. Ele meio nadou, meio cambaleou para a costa, ondeseu amigo cumprimentou-o com um aceno. Logo depois, outro dos quatromontou uma onda e se juntou a eles perto da areia. Chuva escorria por seusombros, mas eles não pareciam se importar —  como se eles pensassem queeram invencíveis. Eu os invejava. Eu costumava me sentir assim, e eugostaria de voltar à isso.

Relâmpagos brilharam novamente, e naquela fração de segundo eu osreconheci. Kevin, Fisher e Bea. Os três conversaram por alguns minutos

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antes de todos se virarem para olhar para a água. Eu me virei para olhartambém. O quarto surfista ainda estava lá. Ele remou passando por umaonda grande e agora estava sentado, com as pernas balançando casualmenteem ambos os lados de sua prancha enquanto ele balançava para cima e para

baixo sobre o mar agitado. Ele estava indo em direção ao horizonte, apenasolhando, com as mãos pousadas sobre suas coxas.

Meu coração deu uma batida extra. Uma batida triste. Havia algonaquela figura solitária, algo na maneira como ele olhava fixamente, quelembrava solidão, tristeza, talvez até arrependimento. Então os caras napraia gritaram alguma coisa, e ele virou a cabeça, com o céu iluminandonovamente. Minha respiração ficou presa. O rosto anguloso e os cabelosloiros molhados e casuais. Era Tristan.

Por alguma razão, eu me joguei para trás na minha cama. No segundoque eu fiz, eu me senti tola. Não era como se ele fosse olhar para cima e meidentificar. E mesmo se o fizesse, quem se importava? Eu vivia aqui. Euestava autorizada a olhar para fora da minha janela. Além disso, ele tinhame espionado bastante. Seria um jogo justo.

Arrastei-me para a frente com minhas mãos e joelhos e espiei pela janela novamente. Ele remou na frente de uma onda e disparou para cimaem sua prancha. Fiquei maravilhada com o quão gracioso que ele era, quãofácil ele fazia aquilo parecer, equilibrando com os pés descalços sobre umaprancha encharcada, enquanto a chuva golpeava seu rosto.

Finalmente, ele chegou com segurança em terra, colocou sua pranchadebaixo do braço, e correu até a praia. Ele riu com seus amigos, batendo asmãos e balançando o cabelo molhado para trás de seu rosto.

Eu pressionei meus lábios enquanto eu observava, e de repente umalembrança me bateu tão forte que eu engasguei. Ontem à noite, Olive tinhadeixado a festa com Tristan. Eu tinha visto eles saindo juntos na névoa. Issonão quis dizer nada para mim na hora, porque eles eram amigos. Porque ela

gostava dele. Mas então me lembrei de como ele tentou ficar longe de mimesta manhã na loja. Será que ele sabia algo sobre Olive? Talvez todo essetempo ele não tinha estado me espionado, mas espionado Olive. Talvez elerealmente fosse algum tipo de perseguidor obcecado, mas não o meu  perseguidor sinistro e obcecado. Eu senti um frio agora, pensando em comoeu tinha deixado ele me tocar. Como eu tinha deixado ele me confortar.

Com os braços e pernas tremendo, eu me arrastei para mais perto da janela, observando como os quatro amigos bebiam cervejas e tilintavam

garrafas. Tristan tomou um longo gole, depois inclinou a cabeça para trás e

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sacudiu o cabelo longe de seu rosto, deixando a chuva cair sobre ele comose ele estivesse sendo limpo.

Eu enrolei minha mão sobre o parapeito da janela, segurando apertado.Talvez o Sr. Nell não fosse a única ameaça lá fora. Talvez houvesse uma

ameaça ainda maior muito, muito perto de casa.

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33DPJL 

Traduzido por Ivana

sol estava pairando sobre o oceano na sexta-feira de manhã quandoeu fechei o meu moletom com capuz e sai pela porta da frente. O ar

estava frio, e eu tremi enquanto eu olhava para a casa cinza dooutro lado da rua. As cortinas ainda estavam fechadas. Olhei para a esquerdae para a direita. Não havia sinal de ninguém à espreita, mas por precaução,eu coloquei o capuz para cobrir o meu cabelo e desci correndo os degraus dafrente.

Lá fora no oceano, um veleiro cortava a água em direção ao horizonte.Gaivotas grasnavam, mergulhando em direção aos golfinhos. Em algumlugar, um conjunto de sinos de vento tocou feliz. Não havia nenhum

zumbido. Nem risada. Apenas o som da minha respiração e a batida nervosa,mas determinada do meu coração.Eu acelerei na esquina e quase atropelei Aaron.

 —  Oi!  —   disse ele alegremente. Ele tinha uma bolsa pendurada noombro. —  Eu achei que ia te encontrar em sua casa.

Eu pisquei para ele. Seu rosto já estava se entristecendo quando eufinalmente me lembrei. —  Nós íamos praticar surf de vela! —  exclamei.

 —  Você esqueceu —  disse ele, mordendo o lábio inferior. —  Eu sinto muito.  —  Eu levei as duas mãos na minha testa.  —  Há

muita coisa acontecendo. Eu estou indo para a delegacia de polícia.Seus olhos se arregalaram. —  Para quê?

 —  É uma longa história, mas... minha amiga Olive desapareceu —  eudisse a ele.

 —  Olive? —  ele questionou. —  Já me encontrei com ela?Uma brisa fresca bateu no meu nariz enquanto o meu coração dava um

baque extra-forte. Eu queria estender a mão e sacudir ele. Por que ninguémse lembrava de Olive? Mas então eu lembrei que apesar de haverem estado

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nas mesmas festas, eles não chegaram a ser apresentados. Não havianenhuma razão para ele se lembrar dela.

 —   Eu acho que não. Eu a conheci quando eu cheguei aqui, e nósdeveríamos sair para um café da manhã ontem, mas ela não apareceu  —  eu

disse, começando a andar novamente. Ele me seguiu em sintonia ao meulado. Eu não poderia dizer-lhe sobre as minhas suspeitas sobre Steven Nell,e eu não sabia como colocar em palavras o que eu sentia por Tristan. Emvez disso, eu torci minhas mãos e me forcei a manter isso simples.  —  Elanão ligou, ela não veio falar comigo. Eu só estou realmente preocupada. Euestou a caminho da delegacia agora.

 —  Ir à polícia não é um pouco extremo? —  disse ele, sua bolsa batendocontra sua perna enquanto ele caminhava.  —  Talvez ela simplesmente se

esqueceu de seus planos.Mordi a língua, desejando poder apenas dizer-lhe a verdade. —  Eu sei.Eu acho que sou uma pessoa que acredita que “o-seguro-morreu-de-velho”.

Chegamos ao topo da colina. Do outro lado da rua estava a fachada detijolos do Departamento de Polícia de Juniper Landing.

 —  Você não precisa vir comigo, se você não quiser —  eu disse a ele.Ele pegou minha mão e apertou-a. —  Não. Eu quero.Meu coração aqueceu, e trocamos um breve sorriso. Subimos os

degraus de pedra em uma corrida leve e entramos. O ar estava gelado,graças ao ar-condicionado, e eu não pude deixar de notar o quão limpoestava tudo. O piso de mármore brilhava, o banco de madeira sob a placa deanúncio parecia recém encerado, e a placa de anúncio em si estavapraticamente vazia. O único aviso nela era um anúncio para a noite decinema na sala de atividades da biblioteca. Não haviam fotos de criminososprocurados, nenhum aviso sobre a segurança da noite, nem lembretes pararenovar sua carta de motorista ou manter sua propriedade livre de perigos.

Aaron abriu a porta de vidro para a sala principal e segurou-a para

mim. Eu senti uma onda avassaladora de gratidão à ele por não me deixarsozinha, mesmo que ele pensasse claramente que eu estava exagerando.

Encostado ao balcão de madeira não estava outro senão o meuhabitante local favorito, Joaquin, vestindo uma jaqueta de capuz vermelho econversando com quatro policiais fardados, que estavam em um círculomuito unido atrás do balcão. Havia uma caixa de donuts e um grande livrocom capa de couro aberto entre eles. Quase parecia que Joaquin estavaexplicando alguma coisa para eles. Um oficial alto assentiu enquanto ouvia,

e outro foi tomando notas. Então Joaquin deve ter dito algo engraçado,

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porque todos riram, os olhos brilhando enquanto eles olhavam para ele,como se ele fosse o segundo Jesus Cristo.

É claro. É claro que Joaquin era amigo dos policiais. Ele provavelmentetrazia rosquinhas todas as manhãs para que eles ignorassem suas pequenas

infrações, como fogueiras nas praias e menores de idade no Thirsty Swan.Meu coração caiu quando nós lentamente nos aproximamos. Como eudeveria dizer à polícia o que eu suspeitava, que Tristan tinha algo a ver como desaparecimento de Olive, com seu melhor amigo bem ali?

A porta finalmente se fechou atrás de nós, e todos olharam para cima.Joaquin sorriu, empurrando o livro em direção a um dos policiais, querapidamente o fechou e colocou sob o balcão. Os policiais, por sua vez,dispararam olhares irritados, como se tudo o que Joaquin estava dizendo a

eles fosse muito importante para ser interrompido. —   Rory!  —   disse Joaquin, sacudindo seus olhos sobre Aaron comdesdém. —  O que você está fazendo aqui?

Eu busquei a minha coragem e enfrentei os homens por trás do balcão. —  Eu preciso falar com alguém sobre uma pessoa desaparecida —  eu

disse, ignorando Joaquin.Todos eles ficaram em silêncio. Um deles trocou um olhar com

Joaquin, que engoliu a última de suas rosquinhas com uma mordida. Ooficial era alto e robusto e parecia tão forte como uma rocha. Parecia um ex-fuzileiro naval  —   e não alguém que uma pessoa iria querer mexer. Eupoderia ter me sentido confortada por esse fato se ele não estivesse medando um olhar como se eu fosse algo rançoso que ele tinha raspado da parteinferior da sua bota.

 —  Bem-vinda ao Departamento de Polícia de Juniper Landing. Eu souo Oficial Dorn —  disse ele, como se não tivesse ouvido uma palavra do queeu havia dito. Ele pôs as mãos espalmadas sobre a mesa.  —  Agora, o que éisso de uma pessoa estar desaparecida?

 —  Minha amiga sumiu  —  eu disse.  —  Fomos a uma festa juntas háduas noites atrás, e ninguém a viu desde então.

Os lábios de Dorn se contraíram levemente. Joaquin limpou a gargantae fechou o topo da caixa de rosquinha, empurrando para longe.

 —  Esta menina era uma local ou um dos nossos turistas? —  perguntouDorn.

Algo dentro de mim se moveu. Por que ele usou a palavra era ? —  Elaé  uma turista —  eu disse. —  Ela está ficando na pensão na Freesia.

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 —  Ah, o lugar da Sra. Chen  —  disse Dorn com um grande sorriso.Seus dentes eram muito retos e brancos. —  Boa senhora. Ela faz um ótimopão com limão.

Os outros oficiais riram e fizeram sons de concordância geral. Aaron e

eu trocamos um olhar. Ok, ótimo. Ele estava tão irritado com estecomportamento como eu estava.

 —  Espere um minuto —  disse Joaquin, esfregando suas mãos. —  Vocêestá falando de Olive?

Meu espírito se iluminou imediatamente, e eu senti uma onda degratidão para com ele que era totalmente incongruente com tudo o que eusentia sobre o cara. Pelo menos alguém lembrava da existência de Olive.Pelo menos eu não estava totalmente insana.

 —  Sim! —  exclamei. —  Você a conhece? —  perguntou Aaron. —  Sim, eu a conheço. É claro que eu conheço —  disse Joaquin em um

tom de “dã” . Ele se inclinou para o lado no balcão, apoiando-se num cotoveloe cruzando os pés. —  Não se preocupe com Olive. Ela está bem.

 —  Você sabe onde ela está? —  perguntei. —   Não, mas eu tenho certeza que ela está bem  —   disse Joaquin,

abrindo a caixa de rosquinhas e casualmente se levantando. —  Ela é Olive.O que diabos isso queria dizer?

 —  Ela não está bem —  eu disse. —  Ela está desaparecida. —  Ouça, senhorita —  disse Dorn, claramente perdendo a paciência. —  

O que você disse a nós é que vocês duas foram a uma festa e ela não voltoupara a Sra. Chen —  disse ele, olhando para mim. Ele inclinou para trás paraendireitar sua cintura e suspirou. —  O que eu acho é que ela teve sorte eficou com algum outro... amigo ...  —   Então ele ficou rindo com seuscompanheiros. —  Ou ela decidiu terminar suas férias e foi para casa.

 —  Ela não foi para casa —  eu insisti. —  E como você sabe disso? —  ele questionou. —  Eu fui ao quarto dela. Todas as coisas dela ainda estão lá —  eu disse.Dorn piscou, e o sorriso de Joaquin congelou no rosto. Os caras atrás

dele sussurraram algo uns para os outros e, em seguida, um deles atravessoua sala, entrou em outro escritório, e fechou a porta. Meus dedos começarama tremer.

 —  Além disso, ela não pode ir para casa —  eu pressionei. —  Ela estábrigada com sua mãe, e ela não pode ir até que ela faça as pazes com ela. —  

Olhei de soslaio para Joaquin, odiando ter que dizer isso na frente dele, queeu tivesse que deixar ele ouvir os segredos de Olive.

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 —  Sabem de uma coisa? Eu tenho que ir  —  disse Joaquin de repente,olhando para um relógio na parede oposta. —  Vocês podem desfrutar dosdonuts —  ele disse à polícia. Então ele olhou para mim e Aaron. —  Até mais.

Deixei escapar um suspiro de alívio com sua partida. Pelo menos agora

eu poderia falar livremente sobre Tristan.Quando a porta se fechou atrás de Joaquin, o Oficial Dorn exalou alto.

 —  Ouça, querida...Meu rosto ficou vermelho tomate. Querida?  Sério?

 —  Eu quero que você fale com Tristan Parrish —  eu disse em voz alta.Eu não era geralmente assim em torno de figuras de autoridade, mas minharaiva e terror estavam, ironicamente, me deixando corajosa.  —  Ele foi aúltima pessoa que eu vi com ela.

Houve um silêncio prolongado, e depois o Oficial Dorn e os outros doispoliciais restantes caíram na gargalhada. —  Tristan Parrish —  disse Dorn, incrédulo. —  O filho da prefeita. —  Sim! —  exclamei. —  Talvez ele saiba onde ela está. —  Nós não vamos interrogar o filho da prefeita  —  disse Dorn. Ele

pegou sua xícara de café e tomou um gole casual. Mas a partir do canto domeu olho, eu vi um pequeno indício de um tremor em suas mãos.

 —  Por que não? Só porque ele é o filho da prefeita? E se ele sabe dealguma coisa? —  eu perguntei. —  Eu não estou pedindo para você prendê-lo. Eu só quero que você fale com ele.

Finalmente, um dos outros policiais se aproximou para se juntar a nós.Ele era mais velho do que Dorn, mais baixo e mais feio. —  Ouça, senhorita.As pessoas vêm e vão por aqui o tempo todo. Isso é apenas a maneira comosão as cidades de veraneio. Agora, por que você e seu amigo não saem e vãodesfrutar desta bela manhã que estamos tendo?

 —  Eu estou dizendo que isso é diferente —  eu disse estridentemente. —  Alguma coisa aconteceu com ela. Eu posso sentir isso.

O cara barrigudo cruzou os braços por cima de sua barriga. Ele meestudou pelo que pareceu ser para sempre.

 —  Tudo bem, tudo bem. Se vai fazer você se sentir melhor, vamosenviar alguns oficiais para a praia e para as docas, para ver se alguém a viu,está bem? —  ele disse. —  Agora, vocês dois saiam daqui e vão se divertir.Vamos procurar a sua amiga.

Aaron colocou a mão nas minhas costas, e eu relutantemente me vireipara ir, mas no momento em que estávamos saindo, eu percebi uma coisa e

corri de volta subindo os degraus.

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 —  Eu nem sequer lhe disse seu sobrenome  —  eu anunciei assim queentrei pela porta. —  Ou como ela é.

Mas não havia mais ninguém atrás do balcão. O barrigudo, Dorn, osoutros oficiais... todo mundo tinha ido embora.

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34VAZIO 

Traduzido por Matheus Martins

ara onde vamos agora?  —   Aaron perguntou quando eupassei por ele e corri escada abaixo. Meu rosto estava em

chamas. Meu coração batia forte contra o meu crânio. Eucerrei os dentes quando acelerei e atravessei o parque, me abraçando contraa brisa fria.

 —  Eles não acreditam em mim? Ótimo. Eu vou conseguir uma prova —  eu disse, furiosa.

Fisher e Lauren estavam sentados na borda da fonte conversando, masambos pararam para olhar quando eu corri para eles, seus olhares duros esilenciosos. Eu quase tropecei quando eu tive um vislumbre do que Fisher

estava usando. Colocado em um ângulo arrogante em sua cabeça havia umchapéu de palha moderno, um que eu reconheci muito bem. —  Que diabos? —  eu disse, parando de repente.Mesmo que estivessem a metros de distância, Fisher e Lauren se

levantaram, como se tivessem ouvido o que eu disse, e começassem a seafastar em outra direção. Na borda do parque, Fisher colocou o chapéu emsua cabeça e segurou-o na frente dele, fora da minha linha de visão.

 —  O que foi? —  perguntou Aaron, assistindo eles irem. —  Nada —  eu disse, balançando a cabeça.Eu senti como se uma série de peças de um quebra-cabeça estivessem

tentando se ajustar dentro da minha mente. Primeiro, o menestreldesapareceu e, em seguida, sua correia do violão aparece misteriosamentena casa de Tristan. Então, o cara loiro aparece na loja de departamentossozinho, e agora o chapéu do seu namorado ausente estava na cabeça deFisher. Será que os adolescentes locais estavam envolvidos em algum tipode onda de crimes? Roubando acessórios aleatórios dos visitantes?

 — P 

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A menos, é claro, que o cara alto tinha dado o chapéu para Fisher.Talvez foi por isso que ele não estava com seu namorado ontem. Elespoderiam ter terminado. Ele poderia ter deixado o outro cara por Fisher.

Exceto que eles pareciam tão felizes, com seus dedos mindinhos

ligados, seus sorrisos verdadeiros. Eles poderiam ter realmente terminadoassim do nada?

 —  Rory? Você está começando a me assustar —  disse Aaron. —  Desculpe —  eu disse, começando a andar novamente. —  Eu estou

bem. —  Aaron se empurrou para me acompanhar enquanto eu atravessavaa Main Street e virava à esquerda para a Freesia Lane.

 —  Que tipo de prova que você está procurando? —  ele me perguntou.Essa era uma boa pergunta. O que eu estava procurando? Provas do

fato de que ela ainda não estava lá? Do canto do meu olho eu vi uma sombraem uma das janelas superiores de uma casa amarela, e eu andei ainda maisrápido. No parque, os balanços rangiam no vento crescente. Acima, nuvenscinzentas começavam a se reunir.

 —  Eu não sei —  eu disse a ele. Balançando a cabeça, eu abri a porta dafrente. —  Mas tem que ter alguma coisa.

 —  Eu vou esperar aqui fora! —  Aaron falou atrás de mim. —  Apenasno caso de ela estar lá e vocês duas precisarem conversar!

No caso de ela estar lá. Deus, seria tão surpreendente se elasimplesmente estivesse lá .

Uma gota gorda de chuva se estatelou na parte de trás da minha mãoquando cheguei ao corrimão do alpendre, e, de repente, eu estava na floresta.Gotas de chuva caíam de folhas molhadas e lisas. Havia lama como lodo sobminhas unhas. A dor no meu intestino era insuportável quando eu levanteia faca e balancei.

A porta da frente abriu, e Joaquin saiu dela. Pisquei, forçando-me devolta ao presente. À realidade. Eu saltei os cinco passos para a varanda.

 —  Que diabos você está fazendo aqui? —  eu exigi.Ele olhou por cima do ombro e fechou a porta atrás dele, me forçando

a ficar na varanda. —  O que você está fazendo, me seguindo?  —  ele perguntou com um

sorriso casual. —  Não, eu não estou seguindo você —  eu respondi. —  O que você está 

 fazendo aqui, Joaquin? —  Eu só vim checar Olive  —  ele disse, virando as palmas das mãos,

em seguida, cruzando os braços sobre o peito. —  Você está certa. Ela nãoestá aqui.

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Meu coração caiu ligeiramente. Olhei para Aaron, que deu de ombrospara mim a partir da rua, como se perguntasse “O que está acontecendo?” 

 —  Eu volto já! —  eu gritei para ele, pegando a maçaneta da porta. —  Ei, espere. Aonde você vai? —  perguntou Joaquim, agarrando meu

pulso. —  Eu acabei de dizer que ela não está lá.Eu nunca gostei de Joaquin, mas esta era a primeira vez que eu sentia

seu toque ser ameaçador. Minhas mãos ficaram úmidas quando a adrenalinacorreu quente nas minhas veias.

 —  Eu não achava que ela estivesse aqui —  eu disse a ele, tentando, semsucesso, me esquivar de suas garras. —  Eu só quero ver se consigo algumaprova de que algo aconteceu com ela.

 —   Você não vai encontrar nada  —   disse Joaquin com um sorriso

condescendente. —   Você pode, por favor, tirar a sua mão de cima de mim?  —   euperguntei, uma raiva quente fervendo sob a minha pele.

 —  Ei, amigo! Acho que ela disse para você tirar a mão dela  —  Aarongritou, começando a subir as escadas.

Instantaneamente, Joaquin levantou as mãos em sinal de rendição. —  Desculpe, cara. Não sabia que você era o guarda-costas dela.No momento em que eu estava livre, eu me empurrei para dentro,

rasgando as escadas para o segundo andar, e abri a porta do quarto de Olive.Ele estava vazio. A cama estava feita, todos os cantos dobrados

ordenadamente e os travesseiros arranjados perfeitamente. A mobília tinhasido encerrada e brilhava à luz do sol derramada através das janelas recémapagadas. Não havia papéis sobre a mesa, nem roupas na cadeira. Mesmo asflores frescas foram embora. Era como se Olive nunca tivesse estado aqui.

Eu dei um passo hesitante no quarto. As janelas estavam fechadas etrancadas e o ar estava parado e sufocante. Eu olhei para o local onde seuviolão tinha estado, como se eu pudesse fazê-lo reaparecer. Lentamente, eu

andei ao redor da cama para a mesa. Corri meus dedos sobre a superfície,parando no lugar onde a carta para a mãe dela tinha estado. O silêncio eratão completo que minha respiração irregular soava como um trem de carga.Teria ela voltado, feito as malas e depois partido? Por que ela não tinhavindo me ver? Por que ela não disse adeus?

Um grito soou perto, e me virei. A porta do guarda-roupa estavaentreaberta e eu podia jurar que havia visto uma sombra deslizar para seuinterior, fora de vista. Eu congelei no lugar.

 —  Olá? Tem alguém aí? —  eu disse, minha voz embargada de medo.Nada. Com os dedos trêmulos, eu alcancei a maçaneta de latão.

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Outro rangido. Olhei para cima e vi a Sra. Chen parada do lado de fora.Deixei escapar um suspiro de alívio. Era só a dona da pensão. Claramente,minha mente estava brincando comigo.

 —  Olá, Sra. Chen —  eu disse. —  Você sabe se...

Ela estava tão parada que a bainha de seu roupão florido desbotadopastava as tábuas do assoalho, mas no momento em que eu falei, ela começoua se mover novamente, mais rápido do que eu teria imaginado.

 —  Sra. Chen? —  eu disse.Ela me ignorou, correndo as escadas para o terceiro andar.

 —  Espere! Sra. Chen! —  eu disse, indo atrás dela. —  Onde estão todasas coisas de Olive? —  A Sra. Chen parou em uma porta e se atrapalhou comseu enorme conjunto de chaves, com os dedos tremendo.

 —  Ela mandou buscá-las —  ela disse. —  Ela mandou? —  eu disse, meio aliviada, meio perplexa. —  Quando?Para onde ela teria enviado?

 —  Eu não sei. —  Ela empurrou a chave na maçaneta da porta na frentedela. —  Você precisa ir.

 —  O que você está querendo dizer com você não sabe?  —   eu disseassim que ela abriu a porta e se moveu para dentro. Eu podia ver uma salade estar pouco decorada atrás dela e pilhas de revistas amontoadas sob uma

 janela, tudo desde Mecânica Popular  até a InStyle e a Cottage Home . —  Vocêque empacotou tudo? —  eu perguntei. —  Alguém veio buscar ou você teveque enviar?

 —  Não é da minha conta e você está invadindo —  disse a Sra. Chen, jáfechando a porta para mim. —  Agora vá!

 —  Não, espere! Sra. Chen! Eu só quero saber onde ela está. Eu querosaber se ela está bem —  eu disse.

A porta parou de fechar com centímetros de sobra. A Sra. Chen espiou,com os olhos lacrimejantes por trás de seus óculos de lentes grossas.

 —  Ela está bem, senhorita —  ela sussurrou, olhando para as escadas.Um calafrio passou por mim. Por que ela estava sussurrando? E o que elaquis dizer com bem? Então ela estendeu uma mão íngreme e apertou-a emvolta do meu pulso. Sua pele era surpreendentemente quente, e eu senti umaagradável vibração quase reconfortante dentro do meu peito.  —  Ela... estámelhor onde ela está. Agora vá.

E então ela fechou a porta.

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35EXPLICAÇÃO 

Traduzido por Matheus Martins

uando eu cambaleei descendo os degraus em direção à Aaron, tudopareceu se inclinar. Eu agarrei o corrimão e fiz uma pausa, levando a

mão até a testa, tentando respirar. —  Ela ainda não está lá? —  Aaron me perguntou.Eu balancei minha cabeça, não confiando em minha voz ou no que eu

poderia deixar escapar, e comecei a passar lentamente por ele. Joaquin tinhaido embora, graças a Deus. Eu não tinha certeza se poderia lidar com eleagora.

Por que ela mandou buscar suas coisas? Por que ela não poderia passaraqui e explicar?

 —  Rory? Aonde você vai? —  perguntou Aaron. —  Para casa —  eu disse, olhando para a calçada quando me virei para

a direita e comecei a descer a colina. —  Eu não me sinto bem.  —  Grandeeufemismo. Eu sentia náuseas. E cansaço. E nervosismo. E confusão.

Ele correu para me alcançar, colocando uma mão reconfortante no meuombro.

 —  Me deixe acompanhá-la.Eu me distanciei. —  Obrigada, mas eu vou ficar bem —  eu disse a ele

firmemente. —  Tudo bem —  disse ele, segurando a alça de sua bolsa com as duas

mãos. Ele continuou no centro da calçada enquanto me via ir embora, umolhar confuso e ligeiramente ferido no rosto.  —   Ei! Eu ia perguntar sepoderíamos ir para os fogos de artifício juntos mais tarde!

 —  Claro! —  eu gritei de volta, principalmente para tirá-lo do meu pé. —  Eu passo na sua casa às oito! —  Ok! —  eu gritei, acelerando o passo.Tudo que eu queria era sair da rua. Voltar para o meu quarto. Sentar-

me e pensar. Nada fazia sentido agora. Nem Darcy excluindo a existência

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de Olive de sua memória. Nem Tristan e seus amigos me encarandoconstantemente. Nem os policiais desrespeitando completamente os meusmedos. Nem Joaquin aparecendo na pensão ou a explicação da Sra. Chen deque Olive estava melhor onde quer que ela esteja agora. E o que era aquele

quarto de armazenamento na casa de Tristan? Por que Fisher estava com ochapéu daquele cara? E o que todas essas lembranças de Steven Nell tinhama ver com tudo isso?

Quando eu pisei no portão em frente da nossa casa, uma cortina semoveu em uma janela do outro lado da rua. Instantaneamente, toda a minhaconfusão e terror transformou-se em uma bola gigante de raiva, e tudo issofoi dirigido a Tristan. Ele sabia alguma coisa. Eu tinha certeza disso. E euia fazer com que ele me dissesse.

Eu atravessei para o outro lado da rua até a porta da frente, e bati nelatão forte quanto eu pude. Dor irradiou pelos meus braços e pelos meusombros, mas isso só me fez bater mais forte. Eu estava começando a meperguntar se a sua avó realmente morava lá. Se alguém realmente moravalá. Ou se ele estava se escondendo na casa para que ele pudesse ficar de olhoem mim. Ou em Olive. Ou em todos.

De repente, a porta se abriu, e lá estava Tristan em toda a suabronzeada, loira e esculpida perfeição. Sua camiseta branca salientava obrilho do seu bronze, e quando ele empurrou seu cabelo dourado de seurosto, ele caiu de volta onde ele tinha estado, pastoreando suas maçãs dorosto incríveis. Ele me olhou de cima a baixo com uma espécie de tristezaresignada no rosto. Estava claro que ele não estava surpreso por me ver.

 —  Olá, Rory —  ele disse. —  Visitando a vovó? —  eu disse sarcasticamente.Ele simplesmente me olhou, como se tal comportamento fosse abaixo

de mim. E ele estava certo. Engoli de volta a minha humilhação. Eu estavaaqui por uma razão.

 —  O que você sabe? —  eu exigi. —  O que eu sei sobre o quê? —  ele perguntou calmamente. —  Olive —  eu disse, irritada.  —  Onde ela foi depois da festa na sua

casa? Onde você a levou?Seus olhos azuis escureceram. —  O que fez você pensar que eu a levei

a algum lugar? —  Ele começou a passar por mim, mas eu o parei com a mãoem seu peito.

 —  Eu vi você sair da festa com ela.

Ele fez uma pausa e olhou para os meus dedos. Eu não pude deixar denotar quão sólido era seu peito. Lentamente, trêmula, tirei minha mão.

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Ele estreitou os olhos e piscou para o sol. —  Nós não deixamos a festa.Saímos com alguns amigos para a falésia.

 —  Naquele nevoeiro? —  eu exigi. —   Os visitantes sempre querem verificar o nevoeiro  —   ele disse,

soando levemente divertido, como se nós, os turistas, fôssemos algum tipode subconjunto menor e ignorante da humanidade.

 —  E depois? —  perguntei.Olhando nos meus olhos, ele deu de ombros. —  Eu não sei —  disse ele

lentamente. —  Era uma festa. Havia dezenas de pessoas lá. Eu não possomanter o controle de todos.

 —  Sim, bem, ela sumiu  —  eu disse.  —  E até onde eu sei, você foi aúltima pessoa a vê-la.

Tristan balançou a cabeça, olhando para algum ponto por cima do meuombro. —  Sinto muito. Eu não posso ajudá-la. —  Ótimo!  —   eu disse, com lágrimas brotando de repente dos meus

olhos. Ele olhou para mim, alarmado.  —  Assim como todo mundo nestacidade confusa. O que tem de errado com vocês? Como é que ninguém seimporta que as pessoas continuem a desaparecer?

Eu levei a minha mão para a minha cabeça e me virei, chutando umplantador de madeira vazio perto da borda do degrau da frente. Eu esperavaque Tristan se afastasse para evitar meu colapso, especialmente desde queestava tão claro que ele queria fugir antes mesmo de eu começar a chorar,mas ele estendeu a mão e a colocou no meu ombro. Seus dedos eram tãoquentes que eu podia sentir seu calor através do tecido do meu moletomfino. Ele me puxou, me forçando a encará-lo.

Seus olhos estavam brilhantes. —  Você realmente quer saber? —  Sim —  eu disse, mantendo a minha voz baixa como a dele. —  Eu

realmente quero saber.

 —  Não —  ele disse com um aceno de sua cabeça, frustrado.  —  Não.Você precisa pensar sobre isso por um segundo, Rory. Olhe para mim. Olhepara mim e me diga. Você realmente  quer saber?

Eu olhei para ele, olhei-o nos olhos, e pensei sobre isso. Será que eurealmente queria saber o que tinha acontecido com Olive? Será que eurealmente queria saber o que estava acontecendo com a minha irmã? Seráque eu realmente queria saber por que o cara que estava tocando no parquetodas as manhãs parecia ter desaparecido? Será que eu realmente queria

respostas para as minhas mil-e-uma outras questões, como por que eleestava me espionando? Por que Joaquin e Krista pareciam obcecados por

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mim? E eu estava louca pensando que Steven Nell estava me deixandoalucinada, me provocando com presentes?

Olhei em seus belos olhos azuis caribenhos, e de repente algo se abriudentro de mim. Começou pequeno, como um pontinho de dúvida profundo

dentro do meu peito. Mas rapidamente cresceu. Tornou-se um buracogrande, largo, escancarado, preto e vazio que congelou meu sangue dentrodas minhas veias. O mundo à minha volta pareceu acalmar e escurecer, todasas cores silenciaram, todos os cheiros azedaram. Meu coração batia tão forteque eu senti como se estivesse perdendo os sentidos. Eu tive uma súbitasensação de que a calçada estava inclinando para trás abaixo de mim. Foicomo se o chão estivesse se abrindo, ameaçando me engolir inteira.Sufocando um grito, eu agarrei a mão de Tristan para não escorregar para

o abismo.No segundo que seus dedos se fecharam ao redor dos meus, o mundovoltou ao foco. Som, olfato, visão, tudo voltou rapidamente. As aves piaramem uma árvore na floresta próxima, alguém em algum lugar estava cortandoseu gramado, o cheiro de bacon frito flutuava no ar através de uma janelada cozinha aberta. Eu poderia respirar novamente.

Tristan se aproximou de mim, quase como se ele estivesse me puxandopara um beijo, mas parou a centímetros da minha boca. Ele parecia triste.Ele parecia arrependido.

 —  Ouça —  disse ele em voz baixa. —  Olive tem alguns problemas.Eu pisquei. —  Que tipo de problemas?

 —  Problemas com... vício —  ele disse. —  O quê? —  eu recuei um passo. Ainda assim, ele manteve o controle

sobre meus ombros. —  Que tipo de vício?Tristan engoliu em seco. Ele olhou para a calçada por um segundo, em

seguida, de volta para os meus olhos. Alguma coisa estava diferente agora.Ele parecia menos seguro de si.

 —  Ela está bem agora —  ela tem que se manter limpa  —  mas eu seique ela realmente queria fazer as pazes com sua mãe —  disse ele. —  Isso éo que ela foi fazer. Ela está bem. Na verdade, ela está mais do que bem. Elaestá... seguindo em frente.

O rítmico zumbido do cortador se aproximava, cantarolando dentrodos meus ouvidos. De repente, eu me lembrei do que Olive tinha me dito nodia da nossa corrida. Que ela tinha conseguido melhorar. Ela deve terquerido dizer que ela tinha melhorado de seu vício. E, em seguida, na outra

noite na festa, quando eu tinha ficado tão ofendida por ela ter pensado queDarcy estava usando drogas... eu tinha  ofendido ela. Eu tinha ofendido com

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o meu choque e desgosto, porque ela mesma era uma viciada. Ela disse queseu amigo tinha desmaiado graças à heroína. Deve ser por isso que elasempre usava mangas compridas, por que ela fazia questão de encobrir seusbraços. Ela estava encobrindo marcas de agulhas.

 —   Eu sou tão estúpida.  —   Eu respirei fundo, fechando os olhosenquanto uma onda de vergonha tomava conta de mim. Quando eu os abrinovamente, Tristan ainda estava lá, ainda me segurando, ainda estudandomeu rosto. —  Ela te contou isso? —  eu perguntei, sentindo-me quase cominveja. Olive claramente se sentia mais próxima de Tristan do que ela sesentia de mim.

 —  Era algo que falávamos a respeito —  respondeu ele. —   Mas por que ela não me disse que estava indo embora?  —   eu

perguntei, minha voz embargada. —  Por que ela ao menos não disse adeus? —  Tenho certeza que ela teve suas razões, mas o ponto é que tudo vaificar bem  —  disse ele com firmeza.  —  As pessoas vêm e vão por aqui otempo todo. É apenas o jeito como as coisas são em cidades de veraneio. Eume acostumei com isso, e você também vai.

 —  Você soa exatamente como os policiais —  eu disse com escárnio. Eume virei, me libertando de suas garras, e sentei-me no degrau mais alto.Tristan sentou ao meu lado, nossas coxas se tocando.

 —  Você foi até a polícia? —  ele perguntou, surpreso. —   Bem, o que mais você faz quando sua amiga desaparece?  —   eu

perguntei.Tristan olhou para a rua, em direção ao oceano, com um pequeno

sorriso divertido. —  Deve ter sido interessante —  disse ele em voz baixa. —  O quê? —  eu perguntei. —  Oh, nada —  respondeu ele. —  É como nós dissemos no outro dia.

Nada de ruim acontece por aqui. Eles provavelmente não sabem o que fazer

com você, certo?Deixei escapar uma risada silenciosa. —  Praticamente.

 —  Vai ficar tudo bem —  disse Tristan com confiança, colocando umamão reconfortante nas minhas costas.

 —  Vai? —  eu disse. —  Vai —  ele respondeu, virando-se para olhar para mim. Enquanto eu

olhava para seus olhos firmes, a terrível sensação de aperto ao redor do meucoração começou a diminuir.

Quem era eu para pensar que depois de três dias de amizade eu mereciauma explicação ou até mesmo um adeus? Olive não era do meu mundo, e ela

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claramente tinha problemas que eu não podia sequer começar a entender.Era perfeitamente razoável supor que ela era o tipo de pessoa que fugia, ese ela tinha ido para casa para fazer as pazes com sua mãe, bom para ela.

Justo então, Joaquin apareceu no final da calçada. Eu nem tinha notado

ele virar para a rua. —  Tudo bem? —  perguntou ele, inclinando-se de um lado casualmente

no poste.Empurrei-me de pé, ainda irritada com a forma como ele me tratou na

pensão e riu de mim mais cedo. —  Eu já estava de saída. —  O que eu fiz? —  perguntou Joaquim, erguendo as mãos quando eu

empurrei mais o portão para passar por ele.

 —  Como se você não soubesse —  eu respondi. —  Rory, espere —  disse ele, pegando meu pulso, mas muito mais suavedesta vez. Ele olhou significativamente para Tristan, mas eu não tinha ideiado que ele estava tentando comunicar. —  Precisamos contar algo para você.

 —   Eu acabei de dizer a ela, cara  —   disse Tristan, levantando eempurrando as mãos nos bolsos.

Joaquin piscou, com um aborrecimento piscando em seu rosto. —  Vocêcontou?

 —  Sim. Sobre o problema com drogas de Olive —  Tristan respondeu,seu tom pontual.

Joaquin deixou meu pulso cair e cruzou os braços sobre o peito. —  Nãoé disso que eu estou falando.

Tristan correu descendo os degraus e atravessou a calçada em duaslongas passadas. —  É sim.

 —  Não. Não é —  disse Joaquin com uma risada sarcástica.Meu pulso disparou com curiosidade. Por um segundo, eles apenas

encararam um ao outro. As narinas de Joaquin queimavam. A respiração de

Tristan aumentou gradativamente. —  Será que um de vocês pode me dizer o que diabos está acontecendo?

 —  eu exigi. —   Precisamos conversar  —   Tristan disse a Joaquin com os dentes

cerrados. —  Em particular.Ele virou-se e caminhou de volta para a casa. Depois de hesitar por um

longo momento, Joaquin o seguiu. Eles ficaram sob a sombra de umalaranjeira, suas cabeças inclinadas e próximas enquanto eles discutiam em

voz baixa. Eu tentei ouvir, mas o zumbido do cortador de grama agoraestava irritantemente perto e eu podia ouvir apenas algumas palavras.

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 —  Mas ela me viu na delegacia com... —  Não importa! Ela não é... —  E então Krista estava no meio de... —  Eu estou dizendo a você, eu tentei e ela não pode...

 —   Tudo bem!  —   Joaquin disse de repente.  —   Você quem manda,menino de ouro.

Ele virou-se e correu voando para mim, com o rosto contorcido deraiva, mas parou na calçada e pareceu tomar uma decisão. Ele colocou asduas mãos sobre os meus ombros e inclinou-se perto do meu ouvido. Euestava tão assustada que quase recuei, mas seu aperto me segurou firme nolugar.

 —  Rory, se você quiser saber alguma coisa... se você tiver qualquer

pergunta sobre tudo... venha me ver, ok? —  Ele se inclinou para trás parame olhar nos olhos, e pela primeira vez o brilho superior tinha ido embora.Ele era todo sinceridade. Meu coração bateu com surpresa.  —  Qualquercoisa —  disse ele. —  Entendeu?

Eu balancei a cabeça lentamente, perplexa e intrigada. —  Entendi.Ele me soltou e atirou a Tristan uma espécie de olhar desafiador e

triunfante antes de virar e começar a correr rua acima. Virei-me paraperguntar a Tristan o que era aquilo tudo, mas ele já tinha ido embora. Tudoo que eu vi foi a porta da casa cinza se fechar com um baque retumbante.

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36A BRIGA 

Traduzido por Matheus Martins

le provavelmente se esqueceu que tinha me dito que ia mepegar —   Darcy teorizou mais tarde naquela noite, puxando

as longas mangas de seu suéter branco sobre suas mãosenquanto caminhávamos até o caminho íngreme em direção ao penhascoonde veríamos os fogos de artifício. O sol estava afundando rapidamente nooeste, e uma brisa fresca nos fazia estremecer. —  Em um momento estávamos  apenas falando em nos encontrarmos no penhasco. Aposto que ele apenas seconfundiu.

 —  Tenho certeza de que você está certa —  disse Aaron. —  Ele vai sesentir como um idiota estúpido quando você contar a ele.

Ou ele realmente é um idiota estúpido. Mas eu decidi manter minha bocafechada. Eu queria me divertir hoje à noite, e isso significava não brigar comDarcy. Aaron parecia tão adorável em uma camisa de rúgbi listrada brancae azul e short bege, seu desleixado cabelo castanho agitava contra o vento.Ele me fez desejar que Joaquin  fosse  gay, assim Aaron teria uma chance eDarcy poderia seguir em frente.

 —  Ei, obrigado. Você está bonita, também —  disse Aaron, de repente,atirando o braço por cima dos meus ombros.

Corei. —  Como você sabia o que eu estava pensando? —  Nunca perco um olhar de admiração, especialmente quando se estáfocado em mim —  ele respondeu com um sorriso. —  Mas eu estou falandosério. O vestido ficou bem em você. Você deveria usar vestidos mais vezes.

Olhei para o vestido que eu tinha pegado emprestado de Darcy, comsuas mangas e uma saia gritante que fazia cócegas em minhas coxasenquanto caminhávamos. Eu até abandonei a trança, indo com um rabo decavalo baixo ao invés. Todo o traje me fez sentir mais leve de alguma forma.Mais livre.

 —  Talvez eu use —  respondi.

 — E 

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Conforme chegamos ao topo do penhasco, a multidão de moradores evisitantes com bronzeados frescos ficava a vista, tomei uma respiraçãoprofunda de ar floral e suspirei.

 —  Feliz por ter vindo? —  perguntou Aaron, dando-me um aperto.

 —  Definitivamente.Caminhamos em direção ao mirante no centro do afloramento. A

maioria das pessoas parecia estar se reunindo perto dos degraus, e conformechegamos mais perto, vi o porquê. Havia uma grande mesa oferecendobandejas de cupcakes, cookies e barras de frutas. Um casal estava perto doscoolers com limonada e chá gelado. Um pouco além do mirante, vi a casa deTristan, localizada no ponto mais alto da ilha, a bandeira americanabalançando na brisa. Eu me vi de pé ali naquele dia que Olive e eu tínhamos

ido para uma corrida juntas —  me vi olhando para esse mirante, sentindo,ainda que brevemente, que tudo estava bem no mundo enquanto eu esperavaela me alcançar. Eu me perguntei onde Olive estava naquela noite, e euesperava que, onde quer que ela estivesse, que ela estivesse se sentindoassim agora.

 —  Por que vocês não encontram um lugar para nos sentarmos e eupego um pouco de comida para nós?  —  Aaron sugeriu, entregando-me amanta xadrez que ele tinha trazido.

 —  Isso soa bem. Darcy? —  perguntei.Ela estava em pé na ponta dos pés, esticando o pescoço, procurando

pela multidão. Revirei os olhos e agarrei-lhe a mão. —  Vamos —  eu disse. —  Deixe os caras virem até você, lembra?Ela suspirou, trazendo os calcanhares de volta à Terra.  —  Eu disse

isso?Caminhamos ao redor do mirante e vi que as pessoas estavam nas

cadeiras e mantas de frente para a água. Desdobrei a nossa manta, e Darcyme ajudou a achatá-la na grama. Nós nos sentamos perto uma da outra, e eu

inclinei minhas mãos para trás. —  Que pena que papai decidiu escrever esta noite —  eu disse com um

suspiro. —  Ele costumava amar fogos de artifício. —   Pois é. Correr, escrever, pedir desculpas... é como se os últimos

cinco anos nunca tivessem acontecido  —  respondeu Darcy. Ela sentou-sesobre os joelhos, a bunda dela se inclinou para trás em seus pés, examinandoa multidão.

 —  Estranho, não é? —  eu disse, aquecendo o tópico. Darcy e eu quase

nunca falávamos a sério sobre qualquer coisa. —  Você acha que ele vai...

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 —   Sinto muito. Eu não posso simplesmente sentar aqui  —  interrompeu Darcy. —  Eu aposto que ele está procurando por mim.

Eu gemi. Tanta coisa para isso. —  Então deixe-o encontrar você —  eu sugeri. —  Não era a mamãe que

sempre dizia que se você se perder, a melhor maneira de ser encontrado éficando parado em um só lugar?

Darcy mordeu o interior de sua bochecha.  —  Ela disse isso.  —  Elarespirou fundo, e por um segundo eu pensei que ela estava prestes a relaxar,mas em vez disso ela saltou sobre seus pés. O céu tinha escurecido para umroxo profundo, e as pessoas estavam começando a se mover a partir domirante, se aproximando de nós.  —   Eu vou dar uma olhada rápida namultidão.

 —   Darcy  —   eu disse, empurrando-me para cima.  —   Olhe para simesma. Essa não é você. Por que você vai perder tempo com alguém queestá claramente descartando você?

Seus olhos verdes brilharam.  —   Eu não posso acreditar que vocêacabou de dizer isso para mim  —   disse ela, cruzando os braços sobre oestômago.

Eu tentei pensar em alguma maneira de retirar o que eu disse, mas jáera tarde demais agora. E, além disso, eu estava certa e ela precisava ouviro que eu pensava.

 —  Sinto muito, mas acho que Joaquin é um conquistador, eu só nãoquero que você se machuque —  eu disse a ela.

 —  Se você se importa tanto em não me machucar, então talvez vocêdeva parar de flertar com ele na frente de todos —  ela cuspiu.

 —  O quê? —  eu disse, com meu rosto em confusão. —  Oh, por favor! Largue a atuação de inocente, Rory!  —  ela gritou,

 jogando os braços para cima e deixando-os cair para baixo em seus lados.Eu vi um casal de transeuntes sussurrar sobre nós, mas eu não poderia ter

me importado menos. —  Primeiro, eu vejo vocês se abraçando, então hojede manhã ele está sussurrando em seu ouvido na frente da casa? Você gostadele, Rory! Admita!

 —  Você passa todo o seu tempo me espionando da sua janela?  —  euatirei de volta.  —   E para sua informação, eu não pedi a ele para fazerqualquer uma dessas coisas!

 —   Ah, não? Bem, e quanto a Christopher? Você pediu a ele paraterminar comigo, ou foi tudo ideia dele, também?

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Um único fogo de artifício estourou acima, uma branca explosãobrilhante anunciando o início do show. Todo mundo em torno de nós gritoue aplaudiu. Darcy e eu simplesmente ficamos ali, nos encarando.

Ela sabia sobre Christopher. Ela sabia . Eu senti como se o penhasco

estivesse lentamente se desintegrando sob os meus pés. —  Como... como você... a quanto tempo você sabe? —  eu gaguejei. —  Oh, só desde o dia em que o ouvi pedindo para você ir ao baile de

inverno com ele —  ela atirou de volta, inclinando-se na cintura.Outro fogo de artifício explodiu, seguido por uma série de estalos

alegres. Eu balancei minha cabeça, completamente desnorteada.Christopher e eu tivemos essa conversa em nossa casa depois da escola.Darcy estava no treino de líder de torcida, onde ela estava todos os dias. Ou

onde ela deveria  estar. —  Você estava lá? —  eu perguntei humildemente. —  Eu disse a treinadora Haskins que eu não estava me sentindo bem e

fui para casa. Eu estava tendo um monte de problemas para dormir, no casode você não se lembrar —  ela disse amargamente.

Ela estava tendo problemas para dormir, porque ela estava chorandopraticamente sem parar durante as 48 horas desde que Christopher tinhaterminado com ela. Eu ainda me lembrava de estar deitada na cama,contando os adesivos de estrelas que eu tinha pregado no meu teto na quartasérie, agarrando meu cobertor ao meu peito enquanto eu a ouvia soluçar.

 —  Mas, se... se você estava lá, então você sabe que eu recusei  —  eugaguejei. —  Você... você sabe  que eu disse a ele que não podia fazer isso comvocê.

Darcy soltou uma risada tensa quando todo mundo começou a dizerOoooaah  e Aaahhh  sobre uma série barulhenta de fogos de artifício.

 —  Oh, sim, eu ouvi. E muito obrigada por sua piedade —  disse ela, comlágrimas escorrendo pelo rosto, cortando linhas através de sua maquiagem

cuidadosamente aplicada. —  Isso é apenas o que toda garota quer. Ouvir oamor de sua vida implorando para sua irmã mais nova e estúpida para estarcom ele e ouvi-la dizer que não para poupar os sentimentos dela. Muitoobrigada, Rory. E eu acredito que tudo isso aconteceu depois  de você terpassado uma tarde inteira ficando com ele? Eu definitivamente me lembrodele dizendo algo sobre isso.

Uma enorme bola molhada estava sufocando o meu suprimento de ar. —  Vocês já... vocês já tinham terminado.

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 —  Oh, nós já tínhamos terminado! —  Ela jogou as mãos para cima. —  Uau! Muito obrigada por dar ao nosso relacionamento de dois anos oitohoras para esfriar.

Eu levei as minhas mãos para a minha testa por um segundo, tentando

recuperar o fôlego, tentando organizar meus pensamentos. Quando eu olheipara ela novamente, havia lágrimas nos meus olhos.

 —  Darcy... —  Não. Você não tem permissão para olhar para mim desse jeito. Eu

estou indo me encontrar com Joaquin, e se você não gosta disso, ou se vocênão gosta dele, então ótimo —  disse ela. —  Pelo menos isso significa quevocê não vai tentar roubá-lo também.

Então ela se virou e cortou no meio da multidão, praticamente

empurrando Aaron e seu prato cuidadosamente equilibrado de guloseimasfora de seu caminho. —  O que está acontecendo? —  ele perguntou, mergulhando para baixo

para colocar a comida em nossa manta.  —  Onde Darcy esta indo? —  Eleinclinou a cabeça com preocupação antes de dar um olhar mais atento sobreo meu rosto. —  Rory, por que você está chorando?

 —  Eu tenho que ir atrás dela —  eu disse. —  Agora? —  Ele fez um gesto para o céu que ficava azul, depois roxo,

e, em seguida, ouro brilhante. —  Eu sei, mas... é coisa demais para explicar. Eu só tenho que falar

com ela —  eu disse. —  Você me ajudaria? —  É claro —  disse ele. —  Me siga.Ele pegou minha mão e a puxou por uma pequena abertura no meio da

multidão. Minhas costas roçaram uma jaqueta jeans, e eu tropecei na pernade metal de uma cadeira de gramado quando eu me agarrei a seus dedos. Océu pareceu escurecer no segundo em que mais pessoas se amontoaram e osfogos de artifício estouraram, transformando os rostos desconhecidos em

torno de mim em azul, depois roxo, depois vermelho. —  Você a viu? —  eu perguntei a Aaron. —  Ainda não —  ele gritou para ser ouvido sobre o show. —  Ela estava

procurando por Joaquin? Talvez devêssemos encontrar ele , e então vamosencontrá-la.

Virei-me para andar para trás, deixando-o esculpir um caminho paramim. O menino ruivo da festa de Tristan apareceu perto do mirante,conversando com uma menina com óculos de lentes grossas. O loiro da loja

de armazenamentos estava de costas para a treliça do mirante, aindasozinho, enquanto observava o céu. Uma chuva de faíscas brancas iluminava

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o mundo, e eu vi Bea, Lauren, Fisher e Kevin inclinando-se para a grade domirante alguns passos acima. Meu coração parou. Havia uma centena depessoas no meio da multidão, mas cada um dos quatro moradores estavamme observando.

Eu torci minha mão na de Aaron e empurrei meu caminho para omirante.

 —  Vocês viram Darcy? —  eu exigi. —  Quem? —  perguntou Fisher. —   Minha irmã! Darcy  —   gritei. Todos olharam para mim sem

entender. Eu senti como se quisesse arremessar algo neles. Algo seriamentepesado. —  Deixa pra lá. Onde está Joaquin?

 —  Não sei  —   respondeu Kevin. Ele deu de ombros, então virou as

costas para mim e os fogos de artifício, encostando a bunda na grade.  —  Não o vi. —  Bem, se vocês vê-lo, vocês podem...Alguém me empurrou por trás, e eu me virei, esperando que fosse

Darcy. Em vez disso, eu peguei um vislumbre de uma jaqueta de veludo corde canela pouco antes de ela ser engolida pela multidão.

Meu sangue gelou nas veias. —  Não —  eu disse baixinho.Era ele. Ele estava aqui.Corri atrás do casaco. A multidão era grossa e pressionava em torno

de mim. Uma menina com uma toca de porco olhou para mim quando eupisei na ponta do seu pé, e um cara musculoso em um moletom me xingouquando eu lhe dei uma cotovelada na costela para passar. O céu brilhavarosa. Eu me virei, examinando a multidão para ter um vislumbre da jaquetade veludo. Uma brecha surgiu no meio da multidão, e lá estava ele, bem afrente. Aquela cor feia de vomito. Aquela calça grande e horrível. Engoli emseco quando o homem que a usava virou a cabeça, e eu vi sua silhueta em

perfil.Ele usava óculos. Óculos de aros de arame.Ele se afastou de mim, e seu ritmo estava acelerado.

 —  Steven Nell! —  gritei no topo dos meus pulmões.Ele congelou. E então ele realmente começou a se mover.Com o coração na minha garganta, eu me mantive acotovelando por

entre a multidão e persegui Nell. Minha manga pegou o botão de alguém erasgou. Empurrei um cara em uma camisa xadrez com tanta força que ele

bateu os joelhos no chão. Meu tornozelo pegou uma perna esticada, e euvoei para a frente e caí no colo de uma menina magra.

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 —  Desculpe —  eu murmurei, arremessada sobre ela.Ele estava perto da borda da multidão agora, voltando para a cidade.

Ele estava tentando fugir. Mas, então, um grupo todo de meninas emminissaias e tops minúsculos caminharam na frente dele, de braços dados,

fofocando, rindo e se divertindo, e ele foi forçado a parar. Ele estava a metrosde distância. Centímetros. Eu estava bem perto.

 —  Onde ela está? —  eu gritei, minha mão caindo sobre seu ombro.Ele virou-se de frente para mim, e eu senti meu coração explodir. Acnes

vermelhas e irritadas pontilhavam sua bochecha direita. Uma pequenacicatriz cortava a carne sobre seu lábio. Sua testa larga estava pontilhadacom suor e os óculos não tinham armações de arame, mas sim grossas eazuis.

Não era Steven Nell afinal de contas. —  O quê? —  disse o rapaz, erguendo as palmas de carne branca. —  Oque eu fiz?

Eu senti meu estômago revirar, e me esforcei para não vomitar em seusNikes brancos.

 —  Sinto muito. Eu... eu pensei que você fosse outra pessoa —  eu dissea ele.

 —  Tanto faz —  disse ele, balançando a cabeça.Então ele fungou, murmurou “maluca” baixinho, e voltou para a cidade.

Eu empurrei minhas mãos no meu cabelo e me forcei a respirar. Talvez euestivesse louca. Talvez Darcy estivesse bem. Ela provavelmente estava comJoaquin agora, beijando a noite toda. Talvez eu devesse me acalmar.

Voltei para a multidão, com a intenção de encontrar Aaron e ficar comele durante a noite. Houve um breve momento de silêncio entre explosõesde fogos de artifício, e então ouvi um grito. O grito de Darcy. Seu gritoquando o caminhão bateu em nosso carro. Quando ele bateu na cabeça dela.Seu cabelo emaranhado em seu rosto, seus dedos pálidos espalhados sobre a

sujeira. Seu pulso ainda quente, mas sem pulso.Outro fogo de artifício estourou, e meu coração bateu dentro da minha

caixa torácica. —  Darcy! —  eu gritei para as pessoas na minha frente. —  Darcy! Onde

você está? Me responda!Algumas pessoas perto da borda traseira da multidão atiraram-me

olhares irritados. Lentamente, eu me virei em um círculo, tentando abafar osom da minha respiração, as batidas do meu pulso em meus ouvidos,

esperando ouvir outro grito, algo que iria identificar sua localização paramim. Tudo piscava rapidamente. Árvores, luzes, mirante, oceano, fogos de

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artifício, multidão, rochas, telhados. Árvores, luzes, mirante, oceano, fogosde artifício, multidão, rochas, telhados. Uma e outra e outra vez, eu girei aoredor, mas não vi Darcy. Eu parei de girar e apertei minhas mãos em meusolhos, esperando que o mundo parasse de girar. À espera de algum som,

alguma pista. Mas não havia nada. Nada, mas além das explosões de fogosde artifício acima, os gritos dos espectadores encantados.

Quando eu finalmente abri meus olhos, eu me concentrei direto emuma coisa branca no chão a poucos metros na minha frente. Meu pulsosaltou mil batidas. Corri e parei. Era o cardigã de Darcy. Estava pousado nochão ao lado de uma lata de lixo, enlameado com uma pegada de um homempressionada em seu tecido que já fora intocável. Minha visão ficou turva.

 —  Darcy? —  eu choraminguei. —  Darcy?

Minhas mãos tremeram quando me inclinei para pegá-lo. Outroartifício explodiu, regando a cidade de Juniper Landing com faíscasvermelhas.

 —  Darcy! —  eu gritei o mais alto que pude. —  Darcy, onde está você?De repente, as luzes da cidade entorpeceram, em seguida, foram

extintas por completo. Dei um passo cambaleante para trás quando o ar aomeu redor começou a se mover, começou a rastejar em direção a mim. Empoucos segundos, o nevoeiro tinha chicoteado em torno de meus tornozelose rodou até os joelhos. Eu ouvi a multidão atrás de mim gemer com a névoaespessa e cinza formando uma vedação entre nós e o céu, apagando os fogosde artifício.

 —  Darcy! —  eu gritei novamente. —  Darcy, por favor, me responda!Em algum lugar ao longe, em algum lugar incrivelmente longe, ouvi

um grito. Ouvi Darcy gritar.Minhas mãos estenderam-se para cobrir minha boca. Não havia

nenhuma maneira de saber de onde o grito tinha vindo. Não havia forma desaber qual direção que eu tinha que tomar. Eu fiquei lá e ouvi, na esperança

de outro grito, outro sinal, qualquer coisa. Mas tudo o que eu ouvi foi obater do meu coração e o assobio incessante da névoa.

Darcy tinha ido embora. E Nell tinha pegado ela.

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37IRMÃS 

Traduzido por Lua Moreira

o longo dos anos, ele havia aprendido que as irmãs não eram amesma coisa. Não importava quão parecidas elas fossem, quão

próximas na idade eram, que tivessem crescido na mesma casa sobas mesmas regras. Em sua experiência não havia quase nada sobre elas queera semelhante. Nem o seu cheiro, nem o seu gosto, e nem seu espírito.Muitas vezes, uma irmã era muito mais bem-sucedida, em termos coloquiais,do que a outra. Mais bonita, mais extrovertida, mais popular. Algunsteorizam que este era um simples acaso da natureza, mas não ele. Eleacreditava que era tudo por causa de uma guerra psicológica.

As irmãs poderiam nem mesmo saber dessa guerra que estava sendo

travada, mas sempre estava, e era frequentemente a segunda ou terceiranascida que sofria. Ela saiu do ventre fresco, cheia de esperança e propósito,mas foi rapidamente ensinada que ela não era especial, ela nunca mais seriaa única, ela nunca seria tão boa ou tão amada quanto à primeira. E assim, elarecuou. Ela enrolou em si mesma. Ela encontrou uma maneira desobreviver, mas não de brilhar.

Rory Miller merecia ter uma chance de brilhar, mas, infelizmente, elaera a segunda filha. Talvez ela fosse lhe agradecer quando ela visse o queele tinha feito para ela. Agradecer-lhe por dar-lhe a oportunidade que elanunca teve, de ser a única, a estrela.

Claro, ela teria um precioso e rápido momento para tomar seu lugar dedireito na sua família, antes que ele a matasse, também.

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38AINDA NÃO 

Traduzido por Lua Moreira

lguém bateu no meu lado, e eu cambaleei para a esquerda, minhamão segurando o lixo de metal frio para me impedir de cair no chão.

 —  Desculpe. Não te vi —  disse uma voz de homem.A multidão estava se movendo em torno de mim, voltando para a

cidade na névoa desorientadora. Alguém pisou no meu pé. Uma mão roçoumeu quadril. Outra pessoa caminhou direto para a lata de lixo, quase aderrubando. Agarrei-me ao casaco de Darcy e virei-me ao redor, tentandoencontrar alguém que eu reconhecesse, desesperada para fazer alguma coisa.

Uma mão desceu sobre o meu ombro, e eu gritei. —  Rory! Sou apenas eu! —  Tristan segurou meus dois braços. Ele deu

uma olhada em meus olhos e empalideceu. —  O que há de errado? —  Minha irmã —  eu disse. —  Eu não consigo encontrar a minha irmã.Joaquin e Krista se materializaram para fora da névoa, em pé logo atrás

de Tristan. Joaquin estava vestindo uma camisa polo listrada vermelha ebranca com a gola virada para cima, e todo o visual playboy-superior me fezquerer bater nele.

 —  O quê? —  disse Joaquin, uma sombra cruzando seu rosto. —  Ela saiu à sua procura depois que você deu um bolo nela! —  eu falei,

vomitando veneno da minha língua. —  E agora ele está...Parei, mordendo minha língua. Eu não podia dizer-lhes sobre Steven

Nell. Eu não tinha permissão. —  E agora ela simplesmente desapareceu! —  eu terminei. —  Desapareceu? —  perguntou Krista, alarmada. —  E não me diga: “Ela é Darcy, ela está bem!” —  eu gritei para Joaquin

sarcasticamente, imitando sua voz.  —  E não se atreva a me dizer que aspessoas vêm e vão por aqui o tempo todo!  —  eu acrescentei, girando emtorno de Tristan. —  É da minha irmã que estamos falando.

 —  O que está acontecendo? —  perguntou Kevin.

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Ele, Fisher, Bea e Lauren apareceram como que do nada, se reunindoem torno de Tristan, com suas expressões sérias. Ah, então agora queJoaquin estava oficialmente envolvido eles estavam dispostos a ajudar.

 —  Darcy Thayer está desaparecida —  disse Tristan.

 —  Espere, tipo desaparecida  desaparecida? —  perguntou Fisher. —  O quê? —  perguntou Lauren. —  Mas isso não é... —   Nós sabemos  —   disse Joaquin, cortando-a.  —   Todo mundo,

espalhem-se. Nós temos que encontrá-la. Fisher, você começa na praia.Kevin, você fica nas docas. Lauren e Bea, vocês vão para a cidade, e Krista...

 —  Eu sei —  disse Krista. —  Eu estou dentro.Ela virou-se e saiu para o nevoeiro quando os outros desapareceram

também, se movendo em todas as direções. A névoa se moveu e rolou antes

de engoli-los por inteiro, um por um. Em algum lugar distante, o sino deum barco soou, o som silenciado pela espessura do ar. —   O que está acontecendo?  —   perguntei.  —   Em quê Krista “está

dentro”?Joaquin olhou friamente para longe de mim.

 —  Olá? Você disse que eu podia te perguntar qualquer coisa, certo? —  eu disse, agarrando-lhe o braço.  —  Então, o que ela sabe? Onde ela estáindo?

Meu peito estava prestes a estourar em frustração, mas Joaquinpermaneceu em silêncio. Virei-me para Tristan. —  Será que alguém poderiame dizer o que diabos está acontecendo?

 —  Rory... —  Tristan começou. —   Cara, agora não é o momento  —   disse Joaquin em advertência,

agarrando o ombro de Tristan. —  Nós temos que ir.O rosto de Tristan corou. —  Você deve estar brincando comigo. Agora  

você quer deixá-la de fora? É da irmã dela que estamos falando!Meu pulso batia em meus olhos. O que eles estavam falando? O que

eles estavam escondendo de mim? —  Isso é diferente, Tristan —  disse Joaquin através de seus dentes. —  

Isso é o DEFCON1 UM. Alguma coisa está errada. A menina não estavapronta ainda. Temos que entrar. Temos de dizer-lhes o que estáacontecendo. Você sabe disso.  —   Ele virou para mim, com a mandíbulaabrindo e fechando. —  Eu sinto muito, Rory —  disse ele, com um tom denegócios.

1 DEFCON (Defense Condition): Escala de 1 a 5 utilizada pelo exército norte-americano para avaliar o seu

nível de preparação para a guerra (5=estado de preparação normal, 1=estado de alerta máximo). 

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Então ele se virou e começou a andar na direção da casa de Tristan.Pelo menos, eu pensava que a casa dele estava naquele caminho. Na neblina,era quase impossível saber com certeza. Tristan olhou para mim e apertouos lábios, claramente desesperado para falar. Eu senti como se estivesse

sendo dobrada ao avesso. —   Vamos lá, cara  —   Joaquin disse, sua voz vindo de algum lugar

profundo dentro do nevoeiro.Tristan deu um passo para trás, um passo de distância. —  Sinto muito

 —  disse ele. —  Tristan, não. Não vá —  eu implorei. —  Por favor, diga-me o que

está acontecendo. Eu sei que você quer. Apenas me diga!Ele balançou a cabeça. —  Eu não posso —  disse ele. —  Ainda não.

 —  O que significa “ainda não”? —  eu chorei, lágrimas escorrendo pelomeu rosto. Com um último olhar arrependido, ele se virou e se afastou demim, o turbilhão de névoa ao seu redor. —  Espere! O que significa “aindanão”? Tristan! Tristan, volte! Não me deixe aqui!

Mas Tristan não voltou, e eu fui deixada sozinha no nevoeiro,segurando o casaco da minha irmã.

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39CANADÁ 

Traduzido por L. G.

u estava grudada aos calcanhares do meu pai quando ele empurrouas portas do Departamento de Polícia de Juniper Landing e se

moveu rápido no lobby frio, tirando seu boné de beisebol dosYankees de sua cabeça.

 —  É a minha filha —  ele gritou. —  Ela...Nós dois paramos no meio do caminho, no centro da sala ampla. Havia

cerca de cinquenta pessoas reunidas lá com jaquetas azul escuras em que selia JUNIPER LANDING, e todos eles ficaram em silêncio e olharam. Amaioria deles se reunia em torno do balcão, onde parecia que a polícia tinhaestabelecido um mapa de algum tipo. Eu ouvi um barulho e, de repente, o

mesmo policial corpulento daquela manhã saiu de trás do balcão, ajustandosua calça na parte de trás. —  Você deve ser o Sr. Thayer —  disse ele, estendendo a mão. —  Eu

sou o chefe de polícia Grantz. Nós já sabemos sobre a sua filha, senhor.Estamos montando um grupo de busca.

Ele gesticulou ao redor da sala, e algumas das pessoas que nosrodeavam assentiram. Um homem com cabelo branco enfiou um pedaço depapel atrás das costas, e eu pensei ter visto nele um vislumbre do rosto deDarcy. Olhei em volta e vi rapidamente algumas outras pessoas enfiaremfotos em seus bolsos também. Onde eles tinham arrumado uma foto deDarcy?

 —  Obrigado, mas não precisamos de um grupo de busca —  disse meupai com a voz rouca. —  O que precisamos é chamar o FBI.

Um murmúrio atravessou a multidão e rapidamente virou um barulho.Chefe Grantz olhou em volta nervosamente.

 —  Vamos ao meu escritório para conversarmos, pode ser?O chefe agarrou o braço do meu pai e conduziu-o para trás do balcão.

Eu o segui, sentindo dezenas de pares de olhos me seguindo enquanto ia.

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Contornamos algumas mesas cuidadosamente organizadas no centro da salae, em seguida, Grantz abriu uma porta, esperando por nós entrarmos antesde fechá-la atrás de si. O escritório do chefe era pequeno e quadrado, comuma mesa de metal no centro e um enorme emblema de metal com DP DE

JUNIPER LANDING na parede atrás dele. Não havia armários, nemequipamentos de alta tecnologia. Nada além de um telefone e um porta-casacos com um casaco e um chapéu pendurados. No centro da mesa estavaa foto do último ano de Darcy da escola. Meu sangue gelou. Como eleshaviam conseguido essa foto? Ninguém nesta ilha tinha aquela foto exceto,talvez, o meu pai, e se ele a tivesse estaria em sua carteira. O chefe me viuolhando para ela e empurrou-a em uma gaveta.

Olhei para o meu pai, mas ele não pareceu notar que alguma coisa

estava errada. Na sala ao lado, um par de vozes tensas brigavam, mas eu nãoconseguia entender o que eles estavam dizendo. —  Não há nenhuma necessidade de alertar os federais, senhor —  disse

o chefe baixinho. —  Sua filha sumiu há menos de uma hora. —  Mas há uma razão —  meu pai disse, atirando-me um olhar cauteloso

enquanto apertava seu boné de beisebol nas mãos.  —  Minha família estáaqui como parte do programa de proteção a testemunhas. Minha filha Roryfoi atacada por um serial killer chamado Roger Krauss na semana passadae, tanto quanto sabemos, ele nunca foi pego. Há uma possibilidade de eleestar com Darcy agora.

O homem olhou para nós. Houve uma pausa longa e arrastada, e eusenti que eu podia ouvir as engrenagens em sua cabeça trabalhando comesta informação. —  Senhor, isso é altamente improvável.

 —  Eu não me importo o quão improvável é! —  meu pai gritou. —  Euquero uma ligação para eles, agora!

O chefe de polícia deu um passo para trás e pela primeira vez na minhavida eu estava feliz que meu pai fosse tão assustador quando estava

chateado. Na sala ao lado, algo bateu e houve um grito de surpresa. —  Tudo bem. Tudo bem, então. Vou ligar para o meu contato do FBI.O homem foi até a mesa e pegou o telefone preto perto do canto. A

briga na sala ao lado continuou cada vez mais alta, mais tensa, mas aindaininteligível.

 —  Vocês poderiam, por favor, esperar lá fora?  —  perguntou o chefe,olhando para a parede entre nós e a briga.

 —  Não. Eu quero estar aqui —  disse meu pai.

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 —  Eu entendo senhor, mas eu receio que não seja o protocolo —  disseo chefe, com a mão tremendo um pouco quando ele levantou o receptor.  —  Eu não posso ter civis na sala enquanto eu discuto um caso com o FBI.

Meu pai soltou um suspiro de frustração, mas abriu a porta. Ele me

deixou passar primeiro e, em seguida, a bateu, causando outra interrupçãode som no lobby. Eu vi algumas pessoas olhando para nós sobre o balcão evirei de costas para eles. Dentro do escritório, Chefe Grantz começou a falarem voz baixa.

 —  Eu sinto muito, Rory —  meu pai disse, esfregando a testa com umamão, sentado em um banco do lado de fora do escritório. Ele olhou paramim, com os olhos pesados. —  Desculpa por não ter acreditado em você.

 —  Está tudo bem  —  eu disse calmamente.  —  Eu nem sabia no que

acreditar. Até agora.Ele pegou minha mão e a segurou. —  Se eu a perder... —  Eu sei  —  eu disse, minha voz cheia.  —  Nós não podemos sequer

pensar nisso. —  Eu respirei fundo. —  Pai? Posso ver sua carteira?Suas sobrancelhas se uniram, mas ele estendeu a mão até o seu bolso

traseiro. —  Por quê? —  Eu só quero ver uma coisa —  eu disse.Abri a carteira de couro macio e enfiei a mão no bolso onde meu pai

guardava fotos da família. Havia a minha foto do segundo ano, minha franjamuito curta e meu sorriso muito grande, e logo atrás estava a foto de Darcy.Ela ainda estava lá. Ele não tinha perdido. Darcy não tinha pegado e dado aJoaquin. Ninguém tinha roubado para fazer cópias. Então, como diabos apolícia a tinha distribuído?

A porta atrás de nós se abriu, e o chefe veio caminhando para fora.  —  Boas notícias. Não é Roger Krauss.

 —  O quê?  —  eu arfei. Meu pai levantou-se, ainda agarrado à minhamão. As vozes na sala ao lado se elevaram.

 —  Acabei de falar com o Agente Lawrence do FBI —  disse o chefe, seendireitando em pé. —  Ele disse que esse cara, Nell, partiu para o Canadá,e eles estão seguindo várias pistas dele por lá. Eles parecem pensar que estãochegando perto. Eles querem que você fique aqui por mais alguns dias atéque eles o alcancem, mas eles me garantiram que o homem está longe deJuniper Landing.

Deixei escapar um suspiro, alívio inundando através de mim. Canadá.Darcy estava bem.

 —  Graças a Deus —  meu pai disse, relaxando um pouco. —  Mas, então,onde está Darcy? Onde está a minha filha?

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 —  É para isso que serve a equipe de busca, senhor  —  disse o chefe,colocando a mão nas costas de meu pai e levando-o em direção ao balcão,longe da rápida elevação de vozes atrás das portas fechadas. —  De vez emquando, um dos nossos visitantes se perde na praia ou entra naquele

nevoeiro desagradável e nós temos que sair e encontrá-los. Já fizemos issoantes, e sempre fomos bem sucedidos. Então, se você nos deixar fazer onosso trabalho...

 —  Bem, nós queremos nos juntar ao grupo de busca —  disse meu paicom força. —  Rory e eu podemos ajudar.

Alguém tossiu nas proximidades, e o chefe de polícia puxou sua orelha. —  Isso não será necessário —  disse ele.

 —  Por que não? Quanto mais pessoas procurarem por ela, melhor, não

é? —  eu disse. —  Bem, suponho que sim, em teoria, mas eu acho que é melhor se vocêsdois esperarem por ela em sua casa. Nunca se sabe. Ela poderia ir para casa,e se ninguém estiver por lá, nós não teremos nenhuma maneira de saber.

Meu pai olhou para mim, considerando a lógica disso. Eu poderia dizerque ele se sentia muito melhor, muito mais seguro, sabendo que Steven Nellou Roger Krauss ou qualquer que fosse o nome dele, estava fora decogitação. Eu queria me sentir assim também, mas eu não conseguia afastara sensação que eu tive durante toda a semana de que algo estava errado.

 —  Ok, tudo bem —  meu pai disse, finalmente, colocando o braço emvolta de mim.  —  Vamos voltar para casa. Mas você vai nos informar nosegundo em que encontrar alguma coisa?

 —  É claro —  respondeu o chefe solícito.Uma porta do escritório atrás do balcão abriu e vozes iradas ecoaram

pela sala. —  O que faz você achar que sabe mais sobre isso do que eu?  —  uma

voz familiar gritou. Eu me virei a tempo de ver Joaquin, com o rosto

vermelho como sangue, gritar por cima do ombro para o escritório.  —  Quem diabos você pensa que é?

Ele saiu em direção à parte de trás do prédio, sem perceber eu ou o meupai, e bateu a porta de metal pesado. Um segundo depois, o Policial Dornentrou pela porta do escritório, parecendo abalado  —   como se tivesseacabado de tomar uma bronca.

 —  Quem diabos era aquele?  —  meu pai me perguntou em voz baixaenquanto se movia em direção à porta da frente.

 —  Era o Joaquin —  eu respondi, minhas pernas tremendo.

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 —  O menino que Darcy gosta?  —  ele perguntou, segurando a portaaberta para mim. —  Uau. Ele parecia realmente chateado. Ele deve gostardela também.

 —  Sim —  eu disse vagamente. —  Ele deve.

Mas o meu pai não tinha registrado o que ele disse, o que nós tínhamosacabado de ver? O que Joaquin estava fazendo, repreendendo um policial?O que ele quis dizer com “Quem diabos você pensa que é?”  E o que,exatamente, ele sabia mais do que Dorn?

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40A BUSCA 

Traduzido por Manoel Alves

entei-me no terraço traseiro da nossa casa duas horas depois,encarando o norte, observando enquanto o grupo de busca de

moradores caminhava em direção à praia, os flashes de sua lanternasmergulhavam através da terra e do céu. Eu estive esperando a noite todapara vê-los em ação, e agora, ali estavam eles, uma longa fila de cerca deduas dezenas de pessoas, caminhando lado a lado ao longo da areia. A fila seestendia desde as dunas até todo o caminho para a água, e eles caminhavamlentamente, seus olhos baixos, olhando o chão sob seus pés com suaslanternas. Deste modo, eu pensei, eles asseguravam-se de que não iriamperder nada. Mas enquanto eu os observava se aproximarem da minha casa,

senti uma pontada de profundo desconforto no estômago.Por que seus olhos miravam o chão? Eles estavam procurando a minhairmã ou procurando um corpo?

Eu respirei fundo e olhei para o céu. O nevoeiro havia sumido assimque meu pai e eu voltamos para casa, e agora milhões de estrelas piscavamalegremente acima, claramente alheias à tortura que eu estavaexperimentando sob sua vigília.

Onde estava Darcy? Se Steven Nell realmente não estava aqui, entãopara onde ela havia ido? Por que eu a ouvi gritar?

À minha esquerda, ouvi vozes. Havia uma tenda branca entendidaentre a calçada e as duas casas próximas, uma espécie de sede improvisadapara a busca. Holofotes iluminavam o rosto do meu pai enquanto ele discutiacom os dois policiais ali parados. Um deles era o oficial Dorn. O outro, eunão conhecia.

Depois, no clássico estilo do papai, ele pegou a prancheta das mãos deDorn e a jogou ao longo da praia, onde ela voou como um frisbee a uns bonstrinta metros antes de derrapar na areia. Ele afastou-se furioso e, momentos

depois, nossa porta da frente se abriu e fechou. Ele se juntou a mim no

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terraço, e eu podia ouvi-lo trabalhando para manter sua respiração sobcontrole.

 —  Eles ainda não me deixam participar da busca —  disse ele, por fim,de pé ao lado da minha cadeira. —  Mesmo eu dizendo a eles que você ficaria

aqui. O que se passa com essa gente? É como se eles fossem algum tipo defacção insular. Parece que Deus os proibiu de deixar alguém de fora dacidade participar das coisas de alguma forma.

Eu não disse nada. Tudo em que eu conseguia pensar era que o FBIpoderia estar errado. Steven Nell era brilhante, fora o que Messenger tinhadito. Ele poderia muito bem tê-los levado em uma busca inútil e vir para cá,enquanto eles estavam distraídos. Ele poderia estar com Darcy em algumlugar desta ilha, neste exato momento, e tudo o que estávamos fazendo era

ficar sentados, esperando o seu retorno.Uma brisa fria arrepiou o cabelo do meu pescoço. Eu olhei para a águae congelei. Tristan estava em pé na praia lá em baixo, vestindo um moletompreto com o capuz cobrindo seu cabelo, olhando diretamente para mim.

 —  Eu vou pegar um suéter  —  meu pai disse, esfregando a mão nasminhas costas. Ainda de frente para o grupo de busca que se aproximava donorte, ele não tinha percebido o nosso espreitador.  —   Você precisa dealguma coisa?

Eu olhei para ele e forcei um sorriso, só querendo que ele fosse, paraque eu pudesse falar com Tristan. —  Não, pai. Obrigada.

Ele olhou para mim, infeliz, beijou minha testa, depois foi. Levantei-me, jogando o cobertor das minhas pernas, e corri para a casinha de salva-vidas em frente à água, meu coração pulsando com dezenas de perguntasque se aglomeravam em meu cérebro.

Mas quando eu olhei para a areia novamente, Tristan havia sumido.

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41AJUDA 

Traduzido por Manoel Alves

spinhos rasgaram meus tornozelos. Um ramo úmido chicoteouminha bochecha. Eu caí de joelhos, uma pedra afiada perfurou

minha pele. Mas, tudo aquilo era nada. Nada. Nada comparado como que Steven Nell ia fazer comigo.

Quando tentei me levantar, meu joelho dobrou e tudo que eu podiafazer era rastejar. Se eu soubesse onde eu estava. Se ao menos eu pudessever onde eu estava indo, mas estava tão escuro. Muito, muito escuro.

Então, algo me chamou a atenção —  algo branco e liso aparecendo naescuridão. Choramingando, eu me inclinei para frente para dar um olharmais atento. Dedos brancos com as unhas pintadas. A mão de Darcy. Seu

braço preso em um ângulo não natural por debaixo de um arbusto, a mangade seu suéter torcida e encharcada de sangue. Tremendo, eu empurrei osramos de lado. Os olhos de Darcy estavam abertos, sem vida, a parte de trásde sua cabeça esmagada.

 —  Darcy! —  eu gritei. —  Não!Eu afundei em minhas mãos. Steven Nell tinha matado ela, e eu era a

próxima. Eu abri minha boca para gritar de novo, e uma mão enluvadatampou meus lábios.

 —  Não!Eu abri meus olhos e encontrei-me olhando para o teto do meu quarto.

Eu ainda estava viva, mas Darcy... No momento que lembrei de tudo quetinha acontecido mais cedo, eu levantei e gritei. Alguém estava sentado naminha cadeira, vestido de preto da cabeça aos pés. Seus joelhos tocavam meucolchão, seu capuz cobria seu rosto, e sua postura estava para frente comose estivesse de luto. Assim que eu gritei, ele olhou para cima, o capuz caindopara trás de seu cabelo loiro.

Tristan. —  Shhhh! —  ele sussurrou, levando um dedo aos lábios.

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Meu peito arfava enquanto eu lutava para respirar e tentava entendero que estava acontecendo. Olhei para baixo e percebi que estava vestindoapenas uma blusa fina sem sutiã, e eu puxei meu cobertor para cobrir meuspeitos.

 —  Que diabos você está fazendo?  —  eu exigi.  —  Como você entrouaqui?

 —  Nós precisamos de sua ajuda  —   respondeu ele, ignorando minhapergunta. Ele se inclinou para mim, apoiando os antebraços sobre os joelhose esfregando as mãos. Percebi a pulseira de couro espreitando para fora damanga. Seu cabelo loiro caiu para frente, tocando as maçãs do seu rostoquando ele olhou-me nos olhos.  —   Steven Nell está com a sua irmã emalgum lugar na ilha.

 —  O quê? —  eu gritei, sobressaltada, ainda segurando o cobertor. Meupulso correu tão rápido que eu estava prestes a desmaiar. Eu levei uma mãopara a cabeça e tentei me concentrar. —  Eu sabia! Eu sabia...

Fiz uma pausa e olhei para Tristan. Ele me olhou com uma espécie deexpectativa relutante. Como se ele estivesse esperando que eu percebesse oque eu estava lentamente percebendo.

 —  Como você sabe sobre Steven Nell? —  eu perguntei, tremendo. — 

A polícia lhe disse? Eles disseram para Joaquin? —  Não importa como eu sei —  disse ele, em pé. —  Eu apenas sei.Pisquei, completamente confusa. —  Chefe Grantz disse que ele tinha

ido para o Canadá. Ele disse que o FBI... —  Chefe Grantz mentiu —  disse Tristan categoricamente. —  O quê? —  eu arfei. —  Por quê?Ele soltou um suspiro, olhando para o chão enquanto balançava a

cabeça. —  É uma longa história.Andei na frente dele, segurando a minha cabeça com uma das mãos. —  

Ok, ok —  eu disse, meu cérebro trabalhava arduamente para processar tudo

isso. —  Como você sabe que ele está aqui? Ele entrou em contato com você? —  Não —  ele disse, balançando a cabeça. —  Tristan, você não está colaborando. O que está acontecendo? —  eu

perguntei, cada vez mais frustrada, mais desesperada a cada segundo. —  Oque você quer dizer com você precisa da minha ajuda?

Tristan foi até a janela voltada para o norte e inclinou seu cotovelocontra a borda superior do painel inferior. Ele fechou os olhos e apertou apalma da mão na testa, como se as minhas perguntas perturbassem ele.

Como se ele não soubesse o que responder.

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 —  Tudo o que posso dizer é que você é a única que pode encontrá-la —  disse ele, voltando-se para olhar para mim, seus olhos azuis aflitos.

Então, ele olhou pela janela de uma maneira que fez meu coração pulsaruma batida. Ele estava olhando para algo ou alguém lá embaixo. Minha

respiração ficou curta e superficial, e eu caminhei até ele, meu cobertor longofarfalhando atrás de mim. No início tudo que eu vi foi o brilho, mas quandome aproximei da janela, a multidão entrou em foco. Havia pelo menos umadúzia deles reunidos em um grupo muito unido na areia. Cada um delesusava um moletom com capuz, e cada um carregava uma lanterna preta. Eupodia ver Joaquin, Lauren, Krista, Fisher, Bea e Kevin, além de algunsoutros que eu tinha notado em torno da cidade. Estavam todos ali, e elestodos olhavam para mim em um silêncio sombrio.

 —  Você vai nos ajudar? —  perguntou Tristan calmamente.Engoli em seco. Minha garganta estava seca, meu coração estavabatendo forte, adrenalina incandescente aquecia a minha pele de dentro parafora. Eu sabia que deveria ir acordar o meu pai. Eu sabia que devia fazê-loentrar em contato com a polícia. Nada disso fazia sentido. E de maneiraalguma eu deveria sair com um grupo de estranhos, um bando de jovens,para tentar pegar um serial killer. Mas quando eu olhei nos olhos de Tristan,eu sabia que havia apenas uma resposta para sua pergunta.

 —  Claro que eu vou —  eu disse. —  Ela é minha irmã.

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42AS PISTAS 

Traduzido por Manoel Alves

areia era suave e fria sob meus pés descalços enquanto Tristan e eufazíamos nosso caminho através da praia com seus amigos

encapuzados. Cada um deles assistiu a minha aproximação como seeu fosse algum tipo de profeta. Como se eu estivesse brilhando de dentropara fora e fosse expelir o sentido da vida. Eu segurei meus tênis de corridacontra meu peito, segurando-os em minhas mãos suadas.

Isto realmente estava acontecendo. Steven Nell tinha nos encontrado. —  Rory  —  disse Joaquin em uma voz profunda e prática.  —  O que

você sabe sobre Steven Nell? —  Não muito —  eu disse. —  Eu pensei que ele era apenas um professor

de matemática normal até que ele me atacou na floresta perto da minha casa.Eu não sou realmente de Manhattan —  eu esclareci, lembrando como Darcytinha enchido Joaquin com nossa história falsa. —  Eu sou de Nova Jersey.

Ninguém sequer piscou. —   Continue  —   disse Tristan, tocando minhas costas por alguns

instantes. —   Bem... Acontece que ele assassinou quatorze meninas em todo o

país, e eu fui a única a conseguir fugir —  eu disse. Tristan e Krista trocaramum olhar sombrio.  —   A agente do FBI que nos colocou na proteção àtestemunha nos disse que Nell nunca havia falhado antes, então havia umaboa chance de que ele tentaria vir atrás de nós, mas isso é tudo que eu sei.Eu estava esperando que o apanhassem, até...

 —  Até agora —  Tristan terminou para mim. —  É. —  Engoli em seco um soluço e olhei para os tênis contra o meu

peito, sabendo quão aterrorizada Darcy deveria estar. Se ela ainda estivesseviva. —  Até agora. Por que a polícia não está aqui? —  eu perguntei, olhandopara cima novamente, reprimindo uma lágrima.  —  Não deveríamos falar

com eles sobre isso? Ou, pelo menos, dizer a algum adulto?

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 —  Os adultos são inúteis —  disse Joaquin com escárnio. —  Eles estãotodos em negação.

 —  Eles acham que é impossível que este homem esteja aqui —  explicouKrista. —  Eles se recusam a acreditar em nós.

Olhei para Joaquin, cuja mandíbula estava cerrada. Era isso o que eletinha discutido com o oficial Dorn?

 —  Mas vocês acham que ele está aqui? —  eu disse. —  Por quê? —  Porque nada como isso já aconteceu antes  —  Lauren respondeu,

com a voz estridente. —  Jamais.Tristan e Joaquin atiraram-lhe um olhar de censura, e ela abaixou a

cabeça, corando. —  Nada como o quê?  —  perguntei. —  Alguém desaparecendo? Mas

Grantz disse que isso acontece de vez em quando. Que eles sempre formamum grupo de busca e...Minhas palavras morreram na minha língua. Tristan estava olhando

para mim como se ele estivesse esperando que eu compreendesse. —  Oh —  eu disse, meu coração se transformando em pedra. —  Isso foi

uma mentira, também.Mas, por quê? Por que o chefe de polícia iria mentir para mim e meu

pai? Ele estava envolvido? Será que ele sabia sobre Steven Nell de algumaforma?

 —  O que eu não entendo é por que ele pegou Darcy —  disse Joaquin,cerrando o punho na frente de sua boca. —  Se ele está tão chateado por terfalhado, porque ele simplesmente não veio atrás de você de novo?

 —   Porque ele está brincando comigo  —   eu disse, abraçando meusapato ainda mais apertado. —  Ele quer me fazer pagar antes de...

Eu não consegui terminar a frase. A multidão se deslocou em seus pés,murmurando, sussurrando. Olhei para Tristan.

 —  Ele entrou em contato com você desde que você chegou aqui?  —  

ele questionou.Pensei no bilhete que ele deixou na minha cama, na minha casa em

Princeton. —  Não —  eu disse. —  Tem certeza? —  Ele me virou, me olhando de igual para igual, e

pegou minha mão direita. Ele segurou-a levemente em sua própria por umsegundo, em seguida, a apertou. —  Pense, Rory. Você não recebeu nenhumamensagem dele de qualquer tipo?

Eu olhei nos olhos de Tristan, e de repente algo me acertou. Me

acertou com tanta força como o vento ao redor. A risada, o murmurado, amúsica na jukebox. O pedaço de tecido, a bolsa carteiro, os faróis. Talvez

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não tivesse sido coincidências. Talvez não tivesse sido provocações oulembretes. Talvez tivessem sido mensagens.

 —  “The Long and Winding Road”  —  eu arfei. —  O quê? —  perguntou Joaquim.

 —  A música. “The Long and Winding Road”  —  eu disse, meu cérebrocorrendo enquanto eu segurava a mão de Tristan.  —  É a música favoritadele. Ouvi alguém cantarolando na minha primeira manhã aqui, e então elaestava na jukebox no Thirsty Swan.

Joaquin olhou para Tristan. —  “The Long and Winding Road.” O queisso quer dizer?

 —  Eu não sei  —  disse Tristan, ainda olhando nos meus olhos.  —  Oque mais, Rory?

 —  Havia um pedaço de tecido que parecia que tinha sido arrancado desua jaqueta —  eu disse. —  Tinha dois remendos costurados sobre ele. Euacho que eles eram como aquelas bandeiras que se vê em um veleiro.

 —  Você pode desenhá-las? —  perguntou Krista, sem fôlego. —  Com o quê? —  perguntei. —  Na areia —  Joaquin sugeriu, apontando para baixo.Eu puxei meus dedos para longe de Tristan, deixando cair os meus

sapatos, e caí de joelhos na praia fria. Todo o grupo de moradores se reuniuem torno de mim, seus capuzes escurecendo seus rostos quando elesapontaram suas lanternas em um único ponto na areia. Trêmula, euconsegui desenhar as duas bandeiras.

 —  Esta era xadrez azul e branca, e esta era azul, branca e vermelha nocentro —  eu disse, olhando em volta para eles.

 —   Elas são bandeiras de sinalização. Isso significa um N   —   disseKevin, apontando para a xadrez. —  E a outra é um O .

 —  Noroeste —  acrescentou Tristan.Outro murmúrio atravessou a multidão. Todos os minúsculos pêlos na

parte de trás do meu pescoço se arrepiaram. Meu estômago virou, e eu tiveque prender a respiração para não vomitar nos pés de alguém.

 —  A Via Dryer —  disse Lauren. —  Essa é uma estrada longa e sinuosa. —  E termina no ponto noroeste da ilha —  acrescentou Joaquin.Levantei-me, limpando a areia dos meus pés. Outra onda de náusea me

atingiu, e eu instintivamente agarrei o braço de Tristan. Eu respirei, limpeiminha garganta, e o soltei.

 —  Havia uma outra coisa —  eu disse. —  Sua bolsa carteiro. Ele deixou

pendurada na minha cerca, e ela estava cheia de pequenos faróis.Joaquin piscou. —  Não há nenhum farol em Juniper Landing.

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Eu senti meu coração começar a despencar. Eu pensei que nósestávamos chegando a algum lugar.

 —  Costumava haver —  disse Tristan.Todos se viraram para olhar para ele.

 —  O que você quer dizer? —  perguntou Joaquim. —   Ela estava situada no ponto noroeste  —   disse ele, parecendo

assustado, mas resignado.  —   Eles o derrubaram porque as pessoas... osvisitantes... costumavam se machucar lá em cima. Mas o alicerce ainda estálá. E também a casa do faroleiro.

 —  Como é que eu não sei disso? —  perguntou Joaquim.Tristan brincou com sua pulseira. —  Nós nunca fomos lá em cima. A

não ser para a ponte  —  disse ele, olhando para Krista. Todos os amigos

trocaram olhares entendedores. Claramente, isso significava alguma coisapara eles. —  Ele queria que eu o encontrasse —  eu disse, tremendo. —  Ele estava

planejando isso o tempo todo, e agora ele tem a sua isca.Tristan deu um passo adiante.  —  Mas ele não espera que todos nós

iremos com você.Olhei para eles. Para Lauren e Krista, Fisher, Bea e Kevin, todos os

outros cujos nomes eu não sabia. Até mesmo Joaquin. Todos eles estavamdispostos a me ajudar a resgatar Darcy. Todos eles estavam dispostos aarriscar tudo para salvá-la. Eu não entendia por que, mas eu estava grata.De pé no meio deles, eu me sentia segura. Sentia-me como se ainda fossepossível que tudo poderia ficar bem.

Olhei para Tristan, esperançosa. Seus olhos estavam determinados,mas de alguma forma tristes.

 —  Bem, o que estamos esperando? —  disse Joaquin. —  Vamos pegá-la. 

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43O ASSASSINO 

Traduzido por Lua Moreira

ós nos dirigimos ao ponto noroeste da ilha em silêncio, eu entaladano banco da frente de uma velha caminhonete enferrujada entre

Joaquin e Tristan, com os pés calçados com tênis de Krista sobreminha coxa. Joaquin estava dirigindo, e Krista estava sentada de lado nocolo de Tristan. Três carros cheios com os outros se arrastavam atrás denós, seus faróis ocasionalmente refletindo no espelho retrovisor, cegando-me a intervalos aleatórios.

O farol encheu o carro. O barulho dissonante quando o caminhão bateuem nosso para-choque. Darcy gritando. Meu pai desesperado ao volante.Em seguida a leveza, a dor, o terror. Meu pai morto espalhado no chão.

 —  Vire à esquerda aqui —  disse Tristan.Eu voltei ao presente. Percebi que eu estava segurando o braço deTristan, e liberei lentamente o aperto. Ele me olhou nos olhos, mas não deuma forma perturbada ou julgadora. Ele olhou para mim como seentendesse.

Joaquin inclinou-se sobre o volante, olhando para a escuridão atravésdo para-brisa. —  Onde?

 —  Bem ali! —  disse Tristan, erguendo a voz pela primeira vez desdeque eu o conheci.

Vi a estrada de terra ao mesmo tempo em que Joaquin, e, em seguida,a caminhonete virou à esquerda e os pneus cantaram, levantando areia esujeira para trás. Segurei o ombro de Tristan enquanto fazíamos a curva. Acabeça de Krista bateu contra a janela do lado do passageiro.

 —  Ai —  ela disse claramente, esfregando-a.Ninguém perguntou se ela estava bem. Todo mundo estava muito

focado na pequena casa agredida pelo vento entrando e saindo de vistaenquanto Joaquin seguia pela estrada esburacada. Minha irmã estava dentro

daquela casa. Viva ou morta, ela estava lá. Eu tinha certeza disso.

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A névoa se agarrava à baía como o merengue em cima de uma torta delimão, e alguns dedos da névoa enrolavam em torno da base da casa. À nossaesquerda estava a ponte, uma estrutura alta, de cobre, com duas torres, queconduzia da ilha até dentro da névoa. Ela era ainda maior do que eu pensava,

pairando sobre a água como uma estrutura alienígena maciça. —  Pare aqui —  disse Tristan. Joaquin pisou no freio, estacionando ao

virar a curva da casa, o carro camuflado por uma enorme floresta de juncoscrescidos.

 —  Apague os faróis —  Tristan instruiu. Joaquin fez como ordenado.Atrás de nós, os outros carros apagaram seus faróis também e andaram

lento até parar. Várias portas de carro bateram. Em poucos segundos, oresto do grupo se reuniu em torno da nossa caminhonete, capuzes colocados,

lanternas desligadas. —   O que vamos fazer agora?  —   perguntou Fisher, com sua vozprofunda. Suas narinas estavam arregaladas, sua mandíbula apertada.Parecia que ele estava pronto para uma briga.

 —  Nós vamos entrar —  Joaquin começou a abrir a porta, mas eu sentiuma onda de pânico e agarrei seu ombro.

 —  Não. —   O que você quer dizer com “não”?  —   Joaquin estalou.  —   Nós

estamos perdendo tempo. —  Ouça ela —  disse Tristan.Joaquin exalou alto pelo nariz, mas sentou-se, as molas sob o seu antigo

assento de vinil do carro guinchando. —  Esse cara é um gênio —  eu disse a eles. —  Ele viajou o país matando

meninas e conseguiu iludir as autoridades por dez anos. Ele me atraiu atéaqui. Entrar pode ser uma armadilha.

 —  Então o que você quer fazer? —  perguntou Krista calmamente.Eu pressionei meus lábios. Eu podia ver a parte superior do telhado

sobre os juncos. —  Nós vamos fazê-lo vir até nós —  eu disse com determinação.Fiz um gesto para Joaquin sair da caminhonete. Deslizei atrás dele, e

meus joelhos quase dobraram quando meus pés tocaram o chão. Eu respireifundo e caminhei até a frente do carro, a multidão de moradores se dividindoao meu redor. Meus pés esmagavam os seixos, a areia e as conchas enquantoeu andava pela pista em direção à casa. Parei a três metros da porta, Tristanatrás do meu ombro direito, Joaquin atrás do meu esquerdo, o resto deles

reunidos em torno como um pequeno exército.

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Em minha mente, eu vi as mãos secas de Steven Nell quando ele meagarrou. Senti sua respiração contra meu rosto. Vi a membrana aquosa emseus olhos. Cada centímetro de mim estava tremendo, mas enrolei meusdedos em punhos. Eu tinha que fazer isso. Eu tinha que salvar minha irmã.

 —  Steven Nell! —  gritei no topo dos meus pulmões.Silencio mortal. Não havia vento, nem ondas, nada.

 —   Estou aqui! Eu fiz o que você queria!  —   eu gritei, minha vozembargada. —  Agora me deixe ver a minha irmã!

Esperamos. Eu inspirei e expirei, contando as batidas do meu coração.Umdoistrêsquatrocincoseisseteoitonovedezonzedoze...

A porta se abriu. Minha respiração parou. Tristan deu um passo maisperto de mim. Eu senti seu peito contra a parte de trás do meu ombro. O

raio de luz ficou mais amplo. Mais amplo. —  Rory Miller! —  a voz esganiçada de Steven Nell chamou.  —  Vocênão vai entrar e jogar?

Bile subiu no fundo da minha garganta. Tristan pegou minha mão, seusdedos quentes entrelaçando em torno dos meus.  —  Não! Eu quero ver aminha irmã primeiro.

 —   Você só vai ver a sua irmã se você entrar  —   ele zombou, aindapairando fora de vista.

Meu coração bateu forte em meu peito. Meu pulso batia nas minhastêmporas. Nunca na minha vida eu tinha sentido esse terror, este frio, estaincerteza. Mas eu tinha que salvar Darcy. Eu vim aqui para salvar Darcy.Dei um passo para frente.

 —  O que você está fazendo?  —   Joaquin sussurrou.  —  Você mesmadisse que entrar pode ser uma armadilha.

 —  Deixe-a ir —  disse Tristan, soltando minha mão. —  Eu não sei sobre isso, cara —  disse Joaquin. —  Eu não gosto disso.Algo dentro de mim estalou. Eu estava cansada deles falarem de mim

como se eu não estivesse lá. Decidir o que me dizer e quando me manter noescuro. Isso não tinha nada a ver com eles. Isto era sobre eu e minha irmã.

 —  Eu não me importo se você gosta ou não  —  eu disse rapidamente.  —  Darcy está naquela casa, e eu vou lá buscá-la.

Joaquin e Tristan se entreolharam. Nenhum dos dois disse umapalavra. Uma leve brisa passou quando me aproximei da casa branca. Umaluz brilhava através de uma janela quebrada. O telhado cedeu no centro, etoda a varanda da frente se inclinava para a direita. As tábuas soltaram um

gemido alto quando pisei em direção à porta da frente, e o vento levantoumeu cabelo do meu pescoço. Olhei para trás uma vez para Tristan e Joaquin.

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Eles estavam tão imóveis quanto estátuas. Então eu me virei e passei pelolimiar. Darcy levantou-se do chão e pulou em mim.

 —  Rory! Oh meu Deus! Rory!Eu empurrei o cabelo emaranhado do seu rosto, lágrimas escorrendo

pelo meu rosto.  —  Você está bem?  —  eu sussurrei.  —  O que ele fez comvocê?

Ela balançou a cabeça. Havia sujeira por toda sua blusa rosa e sangueem seu ombro, mas apesar disso, ela parecia bem. Aterrorizada, mas bem.

 —  Nada. Ele disse que queria você —  ela chorou. —  Ele disse que nósestávamos esperando por você.

 —   Onde ele está?  —   eu perguntei, tremendo enquanto meus olhoscorriam ao redor da pequena sala. Havia uma pequena mesa de madeira com

duas cadeiras quebradas em torno dela. Uma panela quente estava apoiadano chão no canto, e havia um sofá azul perto da parede com um buracoenorme rasgado na parte traseira do mesmo. Lentamente, os olhos de Darcyse deslocaram para a direita. Comecei a me virar, assim que Steven Nell saiude trás da porta aberta. Ele agarrou o braço de Darcy e puxou-a para forado meu alcance, lançando-a para fora como uma boneca de pano. Ela aindaestava gritando quando a porta bateu em seu rosto.

E de repente eu estava sozinha com o meu pior pesadelo. —  Olá, Rory —  disse ele, com um pequeno sorriso rastejando em seus

lábios. —  Eu sabia que você viria para mim.Ele inclinou a cabeça para o lado, olhando-me de cima a baixo com uma

expressão avarenta e faminta. De repente eu queria atacá-lo, queriaenfrentar ele, queria surrá-lo até o esquecimento.

 —  Eu estava planejando ter a sua irmã, mas depois pensei que não seria justo para nenhum de nós —  disse ele, fazendo minha pele arrepiar. —  Vocêsempre foi o que eu queria, Rory. Só você. A estrela desconhecida.

Ele deu um passo em minha direção e estendeu a mão. Eu vacilei

enquanto ele acariciava meu cabelo com as costas de seus dedos. —  Vamos terminar o que começamos, vamos?Com isso, ele investiu contra mim e me virou, travando o braço em

volta do meu pescoço. Eu estava prestes a gritar quando uma dor perfurantee excruciante cortou meu intestino. Naquele exato momento, Nell gritou eme soltou, cambaleando de costas contra a parede e afundando no chão, maseu estava com tanta dor que eu mal tinha consciência dele. Eu me dobrei,engasguei, tossi, busquei por ar. Minhas mãos voaram para frente, mas meu

rosto ainda colidiu com o chão de madeira. De repente, a porta se abriu, e os joelhos de Darcy caíram no chão ao meu lado.

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 —  Rory? O que está acontecendo? Você está bem? —  Darcy estava emcima de mim, me sacudindo. A dor era tão horrível que as imagens na minhafrente se inclinaram e balançaram. Virei o rosto devagar, meu narizraspando contra as tábuas de madeira lascadas, e olhei para a parede.

Steven Nell estava se contorcendo no chão também. Gritando.Implorando por misericórdia.

 —  O que é isso? —  Darcy me perguntou desesperadamente. —  O queestá errado?

Tossi e fechei os olhos. Eu só queria que isso parasse. Eu só queria quea dor parasse.

E então Darcy desapareceu. Eu a ouvi gritando, mas alguém tinhapuxado ela para longe. Uma mão tocou a parte de trás do meu pescoço, e

um zumbido reconfortante e quente encheu meu corpo. Aos poucos, a dorcomeçou a diminuir. Resfriada a um pulsar lento. Eu tentei respirar e ooxigênio doce encheu os meus pulmões.

 —  Está tudo bem —  Tristan sussurrou em meu ouvido. —  Você estábem. Tudo vai ficar bem.

Abri os olhos. O mundo voltou lentamente de volta ao foco.Cuidadosamente, eu sentei, os dedos de Tristan ainda apoiando a parte detrás do meu pescoço. Ele se sentou na minha frente, as pernas tortas para olado, e me olhou nos olhos.

 —  Respire —  disse ele. —  Respire.Então eu o fiz. Por cima do ombro, vi Kevin e Fisher arrastando Steven

Nell pelo chão enquanto ele se contorcia e gritava entre eles. Juntos, eles semoveram até a porta, mas Nell cambaleou para o lado, com os joelhoscedendo enquanto ele cuspia, chorava e se debatia. De alguma forma elesconseguiram levá-lo para o lado de fora. Conseguiram arrastá-lo para longe.

 —  Olhe para mim —  Tristan ordenou. —  Rory. Olhe para mim.Fiz o que me foi dito. Eu olhei nos olhos de Tristan.

 —  Você está pronta —  disse ele, sem fôlego. —  Você está pronta agora. —  Pronta para quê?Mas mesmo enquanto eu dizia as palavras, estava acontecendo de novo.

Uma alfinetada de vazio começou dentro do meu peito e ampliou, aumentou,aumentou até me engolir. Estendi a mão e agarrei-me aos braços de Tristanquando me senti começar a deslizar para trás, começar a perder a gravidadee a forma, começar a escorregar. Pânico tomou conta de cada poro meu,espremendo o ar para fora, apagando o céu acima.

Mas não, isso era apenas o nevoeiro. Apenas o nevoeiro entrando. —  Olhe para mim, Rory —  disse ele com firmeza. —  Confie em mim.

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Seus olhos eram tão azuis. A cor tão real, tão verdadeira, tão bonita. —  Eu não consigo, Tristan —  eu me ouvi gemendo, apertando os olhos

fechados. —  Sim, você consegue. Está na hora —  ele me disse, me segurando. —  

Você consegue fazer isso, Rory. Está tudo bem. Apenas respire.Eu respirei fundo e soltei o ar. De repente, as imagens vieram correndo

para mim. Minha mãe me empurrando no balanço no nosso quintal. Meupai apagando velas de aniversário na nossa cozinha, antes de mamãereformá-la. Darcy rindo de mim por cima do ombro enquanto eu a perseguiaem uma brincadeira de pega-pega. A tartaruga que eu tive por três semanasna quinta série. O primeiro prêmio de ciências que ganhei, sendo penduradono meu pescoço. Minha mãe na cama, tão frágil e pequena, apertando a

minha mão e dizendo adeus. Ganhando o terceiro lugar nas regionais do anopassado. Ganhando a fita na feira de ciências e a cara ranzinza de Samirenquanto observava. Christopher me beijando no quarto dele. Steven Nellme agarrando na floresta. Messenger nos dizendo que tínhamos que irembora.

E então meu pai jogado na estrada. A cabeça de Darcy machucada. Osangue, as lágrimas, o grito. O corte de uma faca.

Abri os olhos, e o mundo voltou ao foco. Os dedos de Tristan estavamapertados ao redor dos meus braços, os olhos presos nos meus, o nevoeiroaumentando ao nosso redor. E foi assim que eu entendi.

 —  Rory? —  Darcy gritou, aparecendo com Joaquin. Ela caiu no chãoao meu lado e segurou minha mão. —  Você está bem?

Limpei a garganta, ainda olhando para Tristan. Havia lágrimas emseus olhos enquanto ele estudava meu rosto.

Darcy me abraçou, interrompendo o contato entre mim e Tristan, e eua abracei de volta tão firme quanto eu poderia, não querendo nunca deixá-la ir.

Lá fora, Steven Nell gritou um contínuo gemido agudo, enquantoKevin e Fisher o levantaram como uma boneca de pano e o jogaram na partede trás da caminhonete de Joaquin com um estrondo. Tristan se levantou.Ele me ajudou a levantar, e Darcy apoiou meu lado direito enquanto juntoscaminhamos para fora. Krista pairava perto da porta da cabine com Joaquine Lauren enquanto Nell esmurrava a plataforma da caminhonete, fazendobarulho suficiente para acordar os mortos.

 —  Leve-o —  disse Tristan a Krista.

Ela assentiu com a cabeça, correu até a caminhonete, e ficou atrás dovolante, sozinha. Os caras se afastaram quando ela engatou a marcha com

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autoridade e decolou em direção à ponte, levantando areia enquanto ia. Ocaminhão estava há cerca de meia milha de distância, quando de repente onevoeiro envolveu as luzes traseiras, e abruptamente, os gritos pararam.

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44REPARAÇÃO 

Traduzido por L. G.

inda estava escuro quando voltamos para casa. Meus sentidosestavam aumentados. Eu sentia cada batida do meu coração.

Cheirava cada aroma do ar florido. Tudo parecia diferente paramim. A água do mar estava muito perfeita. As árvores floridas pareciamfalsas. Era tudo como um set de filmagem.

 —  Eu estou muito elétrica para dormir  —  Darcy disse quando nosaproximamos da porta da frente. —  Vamos sair de novo.

Caminhamos ao redor da lateral da casa até o quintal, onde nossentamos por um longo tempo, observando as ondas rolarem até a margem.Com cada quebra de onda meu coração parecia mais e mais pesado. Eu tinha

dez milhões de perguntas, mas não havia ninguém aqui para perguntar. —  Eu sinto muito —  disse Darcy de repente. —  Pelo quê?  —  perguntei. Ela não tinha nada para se desculpar. Se

dependesse de mim, ela nunca se sentiria mal sobre qualquer coisa nuncamais.

 —  Por não acreditar em você. Por brigar com você. Por ser uma vadianos últimos meses —  ela disse, olhando para a sujeira debaixo de suas unhas.

 —  Eu não deveria ter descontado em você. Christopher é o idiota.Ela riu amargamente e fungou, limpando o nariz com as costas da mão.

Havia uma mancha de lama no seu rosto, e seu cabelo estava uma bagunçade emaranhados.

Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira, mas ele meio que era. Nãoimportava o quanto eu gostava dele, não importava o quanto ele gostava demim, que tipo de cara terminava com uma menina e depois beijava sua irmãna mesma tarde? Eu me virei e olhei para ela. —  Você está certa.

Darcy e eu rimos.  —  Pena que não podemos ligar para ele para lhefalar isso —  disse ela, abraçando os joelhos contra o peito e descansando o

queixo no topo de um. —  Talvez quando chegarmos em casa.

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Meu coração bateu forte, e lágrimas encheram meus olhos. Eu olheipara longe, em direção à água, não querendo que ela visse.

 —  Me desculpe por beijá-lo —  eu disse, mordendo meu lábio. —  Medesculpe por ter tomado aquele atalho estúpido que nos mandou para cá.

Eu apertei meus olhos fechados contra uma enxurrada de emoção econtive as lágrimas.

 —  Rory —  Darcy falou com firmeza, pegando minha mão, —  não é suaculpa que um psicopata tenha te atacado. Você sabe disso, não é?

Eu balancei a cabeça, incapaz de formar uma palavra. —  E quer saber? Tirando o fato de ter sido sequestrada por um serial

killer, eu meio que gosto daqui —  ela acrescentou.Eu engoli o nó que se formou na minha garganta e assenti.  —  Sim,

Juniper Landing é legal.Darcy bocejou imensamente e esticou os braços sobre a cabeça.  —  Estou começando a ficar cansada. Acho que vou tomar um banho e ir para acama.

 —  Talvez você devesse acordar o papai primeiro e falar que está tudobem —  eu disse.

 —  Bem lembrado —  Darcy disse com uma risada, sacudindo a cabeça.Ela começou a ir, mas parou perto da porta.  —  O que você acha que ospoliciais vão fazer com o Sr. Nell? Será que eles ao menos têm uma prisãonessa ilha?

Provavelmente não, eu pensei. Eu olhei para ela, me sentindo emconflito. Era quase triste como ela não sabia de nada. Mas eu também ainvejava.

 —  Tenho certeza que eles vão entregá-lo direto para o FBI —  falei.Ela assentiu com a cabeça, aceitando isso. —  Ótimo. E então sua bunda

vai estar longe daqui para sempre. —  É. Acho que essa é a ideia.

 —  Boa noite, Rory —  disse ela. —  Boa noite.Então ela se virou e entrou. Sentei-me nas almofadas e olhei através do

oceano sem fim. Quando eu era pequena, costumava assistir as ondas eimaginar que eu pudesse ver através dele as terras estrangeiras do outrolado do mundo. Eu imaginava visitar todos esses lugares exóticos um dia eficar na praia deles olhando o lugar onde eu costumava estar. Agora eu meperguntava o que tinha de verdade lá fora. Será que continuava para sempre

ou terminava em algum lugar? Eu senti um arrepio que não tinha nada aver com a brisa e me abracei o mais apertado que consegui.

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 —  Rory?Eu me virei, quase pulando para fora da minha pele. Aaron estava na

ponta dos pés na lateral da casa, olhando para o quintal. —  O que você está fazendo aqui? —  eu perguntei, levantando em um

pulo. —  São três horas da manhã! —  Eu sei —  ele disse, olhando para cima. —  Eu não conseguia dormir.

Você achou sua irmã?Meu coração bateu mais forte do que o normal. Ele era tão doce,

incapaz de dormir por causa de mim. Uma pessoa tão boa. Uma pessoa quenão merecia isso. Eu senti uma nova onda de lágrimas e balancei a cabeça.Tudo iria me fazer chorar de agora em diante?

 —  É. Ela está de volta —  eu disse simplesmente.

Seu sorriso quase quebrou meu coração. —  Isso é ótimo! Posso entrar?Parte de mim queria dizer sim. Eu queria passar um tempo com ele,conversar e sentir esse tipo de sentimento seguro, confortável, semcomplicações que eu tinha quando eu estava perto dele. Mas eu não podiasimplesmente sair. Não agora. Não quando eu estava me sentindo tão crua.

 —  Estou muito cansada, na verdade —  eu disse a ele. —  Eu acho quevou para a cama.

Aaron já tinha feito um movimento para as escadas e parou em seucaminho. —  Você tem certeza?

 —  Sim. Vejo você amanhã —  eu disse a ele.Pelo menos eu esperava que sim.

 —  Mas obrigada —  acrescentei. —  Por vir ver como eu estava. —  A qualquer hora  —  disse ele com um sorriso.  —  É pra isso que

servem os amigos.Ele ergueu a mão em um aceno, então se virou e caminhou de volta

para a rua. Eu o observei até ele sair de vista, melancolicamente meperguntando se eu iria vê-lo novamente. Querendo saber se amanhã Darcy

teria esquecido quem ele era.

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45A VERDADE 

Traduzido por Manoel Alves

epois de um tempo, eu desci os degraus para a praia, sentei na areiafria, recentemente suavizada. O amanhecer estava se aproximando

rapidamente, e eu queria ver o sol nascer. Era algo que minha mãe,Darcy e eu costumávamos fazer juntas quando éramos pequenas, em OceanCity. Ela nos acordava quando ainda estava escuro e prendia-me no meucarrinho, em seguida, carregava Darcy até a água, enquanto me empurravana frente delas. Eu cochilava no caminho, mas ela sempre me acordava

 justamente quando o céu começava a ficar rosa. Então nós duas nosaninhávamos em seu colo no momento em que a primeira luz surgia paranós sobre a água e até a praia. Assistíamos a benção de um novo dia

começando diante de nós.Era assim que ela sempre chamava. Uma benção. Eu nunca percebi oquanto ela estava certa até agora.

A minha mãe tinha vindo alguma vez à Juniper Landing? Ela jáassistira a este nascer do sol em particular?

Eu respirei fundo e soltei o ar. Um formigamento deslizava pela minhaespinha enquanto eu sentia Tristan se aproximando. Seus pés pararampróximos a mim na areia.

 —  Você quer falar sobre isso? —  ele questionou.Eu balancei minha cabeça e abracei meus joelhos no meu peito.  —  

Ainda não.Ele caiu ao meu lado, puxando as pernas até o queixo. Escutei o som

rítmico de sua respiração e olhei para sua pulseira de couro, sua mãopressionada na areia perto do meu quadril.

 —  Ele já foi? —  eu perguntei depois de um tempo. —  Steven Nell. Elerealmente se foi?

 —   Oh, ele se foi  —   disse Tristan, levantando o queixo um pouco

quando a primeira névoa rosa apareceu no horizonte.

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 —  E quanto a Olive? —  perguntei. —  E o cantor do parque? —  Eles... seguiram em frente —  disse Tristan com cuidado. —  E o cara com o chapéu? —  perguntei. —  Ele também. —  Ele nem sequer pausou. Ele sabia exatamente do

que eu estava falando. —  Então, quando a Sra. Chen disse que Olive tinha mandado pegar

suas coisas... —  Isso foi uma mentira  —  disse Tristan francamente.  —  Krista fez

besteira. Acontece. Raramente, mas acontece. Claro, geralmente não háninguém procurando os visitantes então... você tornou as coisas um poucomais difíceis.

Ninguém procurando. É por isso que Darcy a esquecera. Porque Aaron

a esquecera. Porque os habitantes locais não se lembravam dela. Aquilo erasimples. Mas então, por que eu me lembrava? —  Ela ainda estava lá naquele dia, quando você veio com Aaron  —  

disse ele. —  Joaquin foi até lá com ela, e eles estavam quase acabando depegar suas coisas quando você chegou lá, mas Krista ainda estava no quarto.Ela me disse que se escondeu no armário até que você foi embora.

Eu sabia. Eu sabia que alguém estava lá dentro.Virei na areia de frente para ele, e ele se virou para mim. Eu cruzei as

pernas, assim como ele, e nossos joelhos se tocaram. —   Eu preciso que você diga, Tristan  —   eu disse, minha voz

embargada. —  Apenas me diga. Basta dizer isso em voz alta. Isso é o que eupenso que é? Eu estou...?

Eu não conseguia me obrigar a pronunciar a palavra que se agarravana ponta da minha língua. Eu não podia forçá-la a sair. Era completamenteinacreditável. Completamente surreal. Completamente errado.

Tristan pegou a minha mão, e depois a outra. Ele segurou as duas entrenós, seus dedos quentes como o sol que agora estava explodindo no

horizonte. —  Eu sinto muito, Rory, mas sim, é exatamente o que você pensa  —  

disse ele. —  Você, sua irmã, seu pai... todos nós aqui na ilha... estamos todosmortos.

FIM!

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PRÓXIMO LIVRO:HEREAFTER (A SEGUIR)