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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NCLEO DE ESTUDOS DO SEMI-`RIDO - NESA MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE- PRODEMA Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofdicas Jeane Carvalho Vilar Orientadores: Dr. Angelo Roberto Antoniolli Dra. Maria de FÆtima Domingues Furtado 2004

04 ofidismo em sergipe- epidemiologia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

NÚCLEO DE ESTUDOS DO SEMI-ÁRIDO - NESA

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE- PRODEMA

Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e

plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofídicas

Jeane Carvalho Vilar

Orientadores: Dr. Angelo Roberto Antoniolli

Dra. Maria de Fátima Domingues Furtado

2004

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ii

Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e

plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofídicas

Jeane Carvalho Vilar

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente� Prodema � Nesa, Universidade Federal de Sergipe, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre

em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

2004

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Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e

plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofídicas

Jeane Carvalho Vilar

Banca Examinadora

Dr. Celso Morato de Carvalho

Universidade Federal de Sergipe - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia

Dra. Maria de Fátima Domingues Furtado

Instituto Butantan- Secretaria da Saúde de São Paulo

Dr. Angelo Roberto Antoniolli

Universidade Federal de Sergipe

27.ii.2004

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iv

Dedico este trabalho aos meus

queridos pais: Joel e Hélia

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v

Agradecimentos

Ao Dr. Celso Morato de Carvalho, Universidade Federal de Sergipe, pelo constante

apoio, auxílio na bibliografia e, principalmente, pela agradável companhia durante a

execução do trabalho.

A Dra. Maria de Fátima Domingues Furtado, Instituto Butantan, São Paulo, que

orientou e incentivou a pesquisa em todas as fases, auxiliou na bibliografia e pela gentil

acolhida que tive no Instituto Butantan.

Ao Dr. Paulo Emílio Vanzolini, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo,

pelas sugestões, auxílio na bibliografia e, principalmente, pela amizade.

A Dra. Vera Lúcia Gomes Klein, Universidade Federal de Goiás e Dra. Lúcia Rossi,

Instituto de Botânica, São Paulo, que identificaram as plantas das famílias Cucurbitaceae e

Euphorbiaceae.

A médica veterinária Gina Maria Freire Brandão Linofi, Vigilância Epidemiológica,

Secretaria Estadual de Saúde de Sergipe, pelas informações dos acidentes ofídicos.

Ao Dr. José Wellington Carvalho Vilar, Centro Federal de Educação Tecnológica de

Sergipe, pelas valiosas sugestões.

Ao MSc. Clóvis Roberto Pereira Franco, que auxiliou nas edições de fotografias; Dr.

Carlos Dias da Silva Júnior e Dr. Angelo Roberto Antoniolli, professores da Universidade

Federal de Sergipe, que deram suporte durante as fases experimentais do trabalho.

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Sumário

Resumo............................................................................................................................ xiii Abstract........................................................................................................................... xiv Introdução....................................................................................................................... 01 Literatura........................................................................................................................ 04

A origem e evolução do estudo dos venenos ofídicos............................................. 04 Plantas medicinais e ofidismo................................................................................... 09

Materiais e Métodos...................................................................................................... 14

1. Epidemiologia......................................................................................................... 14 2. Parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca.................................. 15 3. Verificação da eficácia das plantas..................................................................... 18

Resultados....................................................................................................................... 22

1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos.................................................................. 22 2. Parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca.................................. 33

Dose letal (DL50) ................................................................................................... 33 Dose mínima hemorrágica (DMH)...................................................................... 36

3. Eficácia das plantas............................................................................................... 37 Dose letal (DL50) ................................................................................................... 37 Inibição da letalidade........................................................................................... 38 Inibição da hemorragia local............................................................................... 44

Discussão......................................................................................................................... 60

1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos.................................................................. 60 2. Parâmetros biológicos do veneno botrópico....................................................... 70 3. Eficácia das plantas em inibir os efeitos do veneno de Bothrops jararaca..... 79

Conclusões....................................................................................................................... 87 Referências...................................................................................................................... 89 Apêndices........................................................................................................................ 98

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vii

Lista de tabelas

Tabela 1. Distribuições de freqüências do número de ampolas de soros antiofídicos

utilizados em Sergipe................................................................................... 26

Tabela 2. Coeficientes de incidência anuais dos acidentes ofídicos em Sergipe (1999-2002)............................................................................................................. 27

Tabela 3. Distribuição anual dos acidentes ofídicos por gênero de serpente.................. 27

Tabela 4. Distribuições de freqüências dos acidentes ofídicos por idade, sexo............... 27

Tabela 5. Sazonalidade dos acidentes ofídicos: proporção entre períodos seco (verão)

e chuva (inverno)........................................................................................... 28

Tabela 6. Acidentes ofídicos: associações entre sexo dos acidentados, período

analisado e sazonalidade............................................................................... 28

Tabela 7. Proporções dos acidentes ofídicos por região.................................................. 29

Tabela 8. Distribuições de freqüências dos acidentes ofídicos por regiões (1999-2002).............................................................................................................. 29

Tabela 9. Acidentes ofídicos, Sergipe (1999-2002): sintomas locais mais freqüentes

nas três horas do acidente e após este período.............................................. 31

Tabela 10. Envenenamentos ofídicos, Sergipe: alterações locais e sistêmicas................ 32

Tabela 11. Classificação de acidentes ofídicos de Sergipe quanto à gravidade dos

casos.............................................................................................................. 32

Tabela 12. Bothrops jararaca, proporção entre camundongos mortos e inoculados após 24 horas de observação......................................................................... 34

Tabela 13. Bothrops jararaca, DL50 do veneno: programa probítico da OMS............... 34

Tabela 14. Bothrops jararaca, valores probíticos do número de camundongos mortos

(y) sobre a concentração de veneno (x): programa probítico da OMS......... 34

Tabela 15. Bothrops jararaca, estatística da regressão do número de camundongos

mortos (y) sobre a concentração de veneno (x): comparações entre retas.... 34

Tabela 16. Bothrops jararaca, DL50 do veneno: comparações entre retas e programa

probítico da OMS.......................................................................................... 35

Tabela 17. Bothrops jararaca, diâmetro da área hemorrágica........................................ 36

Page 8: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

viii

Tabela 18. Bothrops jararaca, estatística da regressão do diâmetro da área

hemorrágica (mm) sobre a concentração de veneno.................................... 36

Tabela 19. Dose letal 50% (DL50) dos extratos das plantas............................................. 37

Tabela 20. Bothrops jararaca, homogeneidade entre os grupos controles: estatística

da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................... 38

Tabela 21. Bothrops jararaca, homogeneidade entre grupos controles: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)....................................................................... 38

Tabela 22. Apodanthera villosa, estudo piloto: estatística da distribuição de

freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................................................ 39

Tabela 23. Apodanthera villosa, estudo piloto: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)........................................................................................ 40

Tabela 24. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h). 40

Tabela 25. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h).................................................................................. 40

Tabela 26. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do tempo de

sobrevida dos camundongos (h)................................................................... 40

Tabela 27. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).... 41

Tabela 28. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................................................... 41

Tabela 29. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do tempo

de sobrevida dos camundongos (h).............................................................. 41

Tabela 30. Apodanthera glaziovii, Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h).................................................................................................................. 42

Tabela 31. Jatropha mollissima, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h). 42

Tabela 32. Jatropha mollissima: estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................................................................... 42

Tabela 33. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do tempo de

sobrevida dos camundongos (h)................................................................. 43

Tabela 34. Jatropha elliptica, Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)..... 43

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ix

Tabela 35. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 44

Tabela 36. Apodanthera villosa, homogeneidade entre grupos controles: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 44

Tabela 37. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 45

Tabela 38. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro

da área hemorrágica (mm)......................................................................... 45

Tabela 39. Apodanthera villosa, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).............. 45

Tabela 40. Apodanthera villosa, teste de Tukey , diâmetro da área hemorrágica

(mm)........................................................................................................... 45

Tabela 41. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre os grupos controles: estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área

hemorrágica (mm)...................................................................................... 47

Tabela 42. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 48

Tabela 43. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do

diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 48

Tabela 44. Apodanthera glaziovii, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 48

Tabela 45. Apodanthera glaziovii, teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica

(mm)........................................................................................................... 49

Tabela 46. Jatropha mollissima, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro

da área hemorrágica (mm), homogeneidade entre os grupos controles..... 51

Tabela 47. Jatropha mollissima, homogeneidade entre grupos controles: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 51

Tabela 48. Jatropha mollissima, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 52

Tabela 49. Jatropha mollissima, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro

da área hemorrágica (mm)......................................................................... 52

Tabela 50. Jatropha mollissima, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).............. 52

Tabela 51. Jatropha mollissima, teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm). 52

Page 10: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

x

Tabela 52. Jatropha elliptica, homogeneidade entre os grupos controles: estatística

da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)...... 54

Tabela 53. Jatropha elliptica, Anova, homogeneidade entre os grupos controles: diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 54

Tabela 54. Jatropha elliptica, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 55

Tabela 55. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da

área hemorrágica (mm).............................................................................. 55

Tabela 56. Jatropha elliptica, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).................. 55

Tabela 57. Jatropha elliptica, teste de Tukey (q), diâmetro da área hemorrágica

(mm)........................................................................................................... 56

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xi

Lista de figuras

Figura 1. Localização da região de Curituba, Sergipe..................................................... 18

Figura 2. Localização das regionais de saúde e os domínios morfoclimáticos das

regiões de Sergipe............................................................................................ 25

Figura 3. Regressão dos valores probíticos sobre as dosagens: comparações entre as

retas.................................................................................................................. 35

Figura 4. Apodanthera villosa, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e

veneno) e controle (veneno).......................................................................... 46

Figura 5. Apodanthera glaziovii, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato

e veneno) e controle (veneno)......................................................................... 50

Figura 6. Jatropha mollissima, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e

veneno) e controle (veneno)............................................................................ 53

Figura 7. Jatropha elliptica, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e

veneno) e controle (veneno)............................................................................ 57

Figura 8. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Apodanthera villosa e

Apodanthera glaziovii...................................................................................... 58

Figura 9. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Jatropha mollissima e

Jatropha elliptica............................................................................................. 59

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xii

Apêndices

Apêndice 1. Proporção de camundongos mortos/inoculados com relação à

concentração de extrato............................................................................ 99

Apêndice 2. Homogeneidade entre grupos controles: tempo de sobrevida (h)................ 100

Apêndice 3. Apodanthera villosa, estudo piloto: tempo de sobrevida (h)....................... 100

Apêndice 4. Apodanthera villosa: tempo de sobrevida (h).............................................. 101

Apêndice 5. Apodanthera glaziovii: tempo de sobrevida (h)........................................... 101

Apêndice 6. Jatropha mollissima: tempo de sobrevida (h).............................................. 102

Apêndice 7. Jatropha elliptica: tempo de sobrevida (h).................................................. 102

Apêndice 8. Apodanthera villosa: diâmetro da área hemorrágica (mm)......................... 103

Apêndice 9. Apodanthera glaziovii: diâmetro da área hemorrágica (mm)...................... 103

Apêndice 10. Jatropha mollissima: diâmetro da área hemorrágica (mm)....................... 103

Apêndice 11. Jatropha elliptica: diâmetro da área hemorrágica (mm)........................... 103

Apêndice 12. Diâmetro da área hemorrágica com relação à concentração de extrato..... 104

Apêndice 13. Espécies de plantas citadas como antiofídicas na literatura...................... 105

Page 13: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

xiii

Resumo

Foram analisados os aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos que ocorreram

em Sergipe no período 1999-2002 e verificado as ações de plantas indicadas popularmente

como antiofídicas na catinga, utilizando o veneno de Bothrops jararaca (Viperidae) como

modelo experimental.

No período analisado ocorreram 95 casos de acidentes ofídicos notificados; os

coeficientes de incidência anual variaram entre 0,16 a 0,88 casos por 10000 habitantes da

zona rural. Os homens foram mais atingidos; a maior ocorrência dos acidentes foi na faixa

etária até 20 anos; no período anual seco (setembro a abril) ocorreram mais acidentes.

Acidentes causados por Bothrops foram mais freqüentes (93%), seguidos por Crotalus

(5%) e Micrurus (1%). Dois acidentes notificados como tendo sido causado por Lachesis

provavelmente estão em erro. A soroterapia foi aplicada em pelo menos 65% dos casos, os

demais não constam nas notificações.

Para verificar as ações antiofídicas das plantas, primeiro foram determinados os

parâmetros biológicos das ações letais e hemorrágicas do veneno de B. jararaca, através de

comparações entre retas das regressões e análises probíticas. A DL50 do veneno foi 37.1g,

a DMH foi 0.24g; as doses-desafio utilizadas nos experimentos foram 2DL50(74.2g) e

5DMH (1.2g).

Três plantas da caatinga foram analisadas para verificar a inibição das ações

hemorrágicas e letais do veneno: Apodanthera villosa, batata-de-teiú (Cucurbitaceae);

Apodanthera glaziovii, cabeça-de-negro (Cucurbitaceae) e Jatropha mollissima, pinhão-

bravo (Euphorbiaceae). A planta Jatropha elliptica, batata-de-teiú (Euphorbiaceae),

coletada no cerrado do rio Tocantins (Peixe, To), também foi analisada. O extrato aquoso

da A. villosa (1mg) aumentou o tempo de sobrevida dos animais experimentais quando

comparado com os animais controles inoculados apenas com o veneno de B. jararaca. As

manchas hemorrágicas dos animais experimentais, inoculados com veneno mais os

extratos aquosos de A. villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg), A. glaziovii (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg), J.

mollissima (1.0, 3.0 e 6.0mg) e J. elliptica (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg), foram

significantemente menores do que os controles.

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xiv

Abstract

Epidemiological aspects of the ophidic accidents ocurred in Sergipe in the period of

1999-2002 were analysed and verified the actions of the �caatinga� plants popularly

indicated as antiophidic, using the venom of Bothrops jararaca as experimental model.

It was notified 95 cases of ophidic accidents in the analysed period; the annual

cofficient of incidence varied from 0.16 to 0.88 cases per10000 habitants in the rural zone.

Man were most hited; the major ocurrence of the accidents was in the age class up to 20

years; in the dry period (September to April) ocurred more accidents. Accidents caused by

Bothrops were the most frequent (93%); followed by Crotalus (5%) and Micrurus (1%).

Two accidents notified as beeing caused by Lachesis are probably in error. The

sorotherapy was applied in at least 65% of the cases, the others are not in the

notifications.

In order to verify the antiophidic actions of the plants, first it were determined the

biological parameters of the lethal and hemorragic actions of the venom of B. jararaca, by

comparisons between the regression lines and probitic analysis. The LD50 of the venom

was 37.1g, the MHD was 0.24g; the limit dose (dose-desafio) used in the experiments

were 2 LD50 (71.2g) and 5MDH (1.2g).

Three �caatinga� plants were analysed in order to verify the inhibiton of the

haemorragic and lethal actions of the venom: Apodanthera villosa, batata-de-teiú

(Cucurbitaceae); Apodanthera glaziovii, cabeça-de-negro (Cucurbitaceae) and Jatropha

mollissima, pinhão-bravo (Euphorbiaceae). The plant Jatropha elliptica, batata-de-teiú

(Euphorbiaceae), collected in the �cerrado� area of rio Tocantins (Peixe, To), was also

analysed. The aqueous extract of A. villosa (1mg) increased the survivorsip time in the

experimental animals when compared to control animals inoculated only with the venom

of B. jararaca. The hemorragic marks of the experimental animals, inoculated with venom

plus the aqueous extract of A. villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg), A. glaziovii (1.0, 3.0, 6.0 e

10.0mg), J. mollissima (1.0, 3.0 e 6.0mg) and J. elliptica (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg) were

significantly smaller then controls.

Page 15: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

1

Introdução

Ofidismo é o estudo do veneno de serpentes, cujo entendimento inclui não só os

aspectos relacionados à composição e ações destes, mas deve também englobar os demais

fatores diretamente relacionados aos envenenamentos, tais como, avaliações

epidemiológicas regionais dos acidentes ofídicos, análise dos parâmetros biológicos dos

venenos e aplicação da soroterapia (Vital Brazil, 1987; Raw et al., 1991; Furtado et al,

1991a, 1991b; Pinho & Pereira, 2001). Neste contexto, situam-se também as diversas

práticas populares utilizadas nos casos de envenenamentos por serpentes, dentre as quais,

a mais importante é a utilização das plantas medicinais regionais, como coadjuvantes à

soroterapia ou como medicamento alternativo aplicado na falta de recursos soroterápicos

(Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000; Mors et al, 2000; Cardoso, 2003).

Cerca de 300 espécies de serpentes estão distribuídas nas várias formações vegetais

da América do Sul; destas, aproximadamente 90 espécies são venenosas, pertencentes à

família Viperidae, repesentada por várias espécies dos gêneros Atropoides, Bothriechis,

Bothriopsis, Bothrocophias, Bothrops, Crotalus, Lachesis e Porthridium e família

Elapidae, com apenas um gênero sul americano, Micrurus, composto por diversas espécies

(Campbel & Lamar, 1989; Peters & Orejas-Miranda, 1986)

No Brasil, distribuídas em todos os domínios morfoclimáticos, ocorrem

aproximadamente 70 espécies de serpentes venenosas, pertencentes aos gêneros

Bothriopsis, encontradas na amazônia; Bothrops e Crotalus, na amazônia, caatinga,

cerrado e mata atlântica; Lachesis, na amazônia e mata atlântica e Micrurus, na amazônia,

caatinga, cerrado e mata atlântica (Peters & Orejas-Miranda, Vanzolini et al., 1980;

Vanzolini & Caleffo, 2002; Cunha & Nascimento, 1993). Estas espécies causam cerca de

vinte mil acidentes ofídicos por ano, com incidências que variam entre sete a vinte e quatro

casos anuais em cada cem mil habitantes, dependendo da região (Brasil, 1991,1999). Cerca

de noventa por cento dos acidentes são provocados por várias espécies do gênero Bothrops,

oito por cento dos envenenamentos são causados por Crotalus e, menos freqüentes, dois

por cento são causados por Micrurus e Lachesis (Brazil, 1901; Brasil, 1999; Amaral et al.,

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Page 16: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

2

1986). Nas regiões mais carentes, com dificuldades de assistência à saúde, os índices de

acidentes ofídicos podem estar subestimados (Brasil, 1991,1999).

Apesar das estratégias do Ministério da Saúde em distribuir imunobiológicos, como

os soros antiofídicos, para as Secretarias Estaduais de Saúde, frequentemente os casos de

envenenamentos por serpentes (e outros animais) são tratados com preparados populares

feitos com plantas medicinais regionais. Muitas destas plantas estão identificadas, porém a

maioria nunca foi estudada para verificar suas ações e validar os usos, as quais são

indicadas por rezadores e raizeiros somente pelos nomes populares. Um problema sobre o

reconhecimento das plantas pelos nomes populares é que estes variam de região para

região, dificultando ainda mais os estudos. Por exemplo, as plantas cabeça-de-negro e a

batata-de-teiú são citadas na literatura como tendo propriedades antiofídicas, mas existem

pelo menos dez espécies com estes nomes, distribuídas em todas as regiões brasileiras

(Mors et al., 2000; Martz, 1992). Em 1998 foi criada a Subcomissão Nacional de

Assessoramento em Fitoterápicos (Conafit) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária

do Ministério da Saúde. A Conafit recomenda que sejam realizados estudos sobre as

plantas medicinais regionais utilizadas popularmente, como forma de validar o uso das

plantas e proteger o patrimônio genético deste recurso natural (Brasil, 1999).

O presente estudo é sobre ofidismo, analisado sob três aspectos. O primeiro é uma

análise epidemiológica dos acidentes ofídicos que ocorrem na região de Sergipe, relatando

os índices de incidência por envenenamentos crotálico, botrópico, laquético e elapídico

ocorridos na região, bem como analisa as variáveis epidemiológicas associadas (Bochner

& Struchiner, 2003; Rouquayrol & Almeida Filho, 1999). O segundo é relacionado aos

parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca (Wied, 1824), cujos ensaios são

necessários para servirem como modelo (controle) na verificação da eficácia das plantas

estudadas. O veneno de B. jararaca foi escolhido como modelo porque não existe

disponível para estudo venenos das espécies de Bothrops da região e o veneno de

B.jararaca se ajusta perfeitamente para os objetivos do trabalho. O terceiro é com relação à

verificação da eficácia de plantas utilizadas popularmente como antiofídicas na caatinga de

Sergipe.

As metodologias da parte experimental são adequadas às questões para verificar se

os extratos das plantas inibem a hemorragia local causada pelo veneno botrópico e se

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3

diminuem o tempo de letalidade do veneno. Os aspectos bioquímicos, farmacológicos e

fisiológicos dos fenômenos observados são discutidos com base na literatura considerada

relevante no contexto das questões delimitadas no estudo. A epidemiologia dos acidentes

ofídicos da região de Sergipe é analisada entre 1999 a 2002, cujos dados estão

informatizados no Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde do Estado de

Sergipe. Os dados anteriores a 1999 não estavam disponíveis. O estudo como um todo �

plantas medicinais, veneno de B. jararaca e epidemiologia dos acidentes ofídicos �,

apresenta informações e discute resultados que, somados a outros, poderão contribuir com

as pesquisas da mesma linha que são realizadas por instituições acadêmicas, bem como

poderão contribuir com informações que possam ser utilizadas pelos órgãos

governamentais locais da área da saúde e meio ambiente.

A apresentação do trabalho está na seguinte seqüência: i) breve abordagem da

literatura sobre os aspectos populares e científicos do ofidismo e das plantas medicinais

utilizadas como antiofídicas. A literatura sobre ofidismo abrange a origem e a evolução do

estudo sobre os venenos de serpentes, até os estudos de Vital Brazil, porque após esta fase

os trabalhos tratam principalmente da bioquímica e da farmacologia, cuja literatura,

embora vasta, traz poucas informações gerais no contexto das questões da dissertação. A

literatura sobre plantas segue a mesma estratégia: uma abordagem sobre o conhecimento

popular das plantas, com base nas representações, até a década de 80, porque após este

período predominam os trabalhos sobre bioquímica e síntese dos produtos naturais das

plantas. Esta literatura é vasta e será melhor aproveitada nas discussões, ii) metodologia

do trabalho, descrevendo os métodos utilizados para a análise epidemiológica dos

acidentes ofídicos de Sergipe, mostrando a área de coleta das plantas, os protocolos

experimentais para os parâmetros biológicos do veneno e verificação da eficácia das

plantas; as estatísticas utilizadas são descritas em todas as análises, iii) resultados,

apresentados na seguinte ordem: 1. epidemiologia dos acidentes ofídicos; 2. parâmetros

biológicos do veneno de Bothrops jararaca � dose mínima hemorrágica (DMH) e DL50; 3.

eficácia das plantas � DL50, inibição da letalidade do veneno e inibição da hemorragia

local; iv) discussão dos resultados, v) conclusões gerais e vi) referências.

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4

Literatura

A origem e evolução do estudo dos venenos ofídicos

O conhecimento que os povos antigos tinham sobre ofidismo era fundamentado

principalmente nas representações, carregadas de simbolismos e em grande parte

religiosas. Dentre estas, destacava-se o mito de que as serpentes possuíam �espíritos

ruins�, os quais eram responsáveis pelos sintomas do envenenamento. Estes mitos não

impediram, entretanto, que Athanasius Kirsher, em 1675, incluísse várias espécies de

cobras na Arca de Noé idealizada por ele. Os escritos de Aristóteles (384 � 322 a.C.),

reunidos em nove volumes na sua �Historia animalium� e as descrições um tanto

fantasiosas de Plínio (23 � 79 d.C), reunidas em 37 volumes na sua �História Natural�,

foram os primeiros relatos sobre a história natural das serpentes, principalmente as

descrições de Aristóteles, que foi um grande zoólogo, o primeiro a classificar os

organismos com base nas características morfológicas (Goin, Goin & Zug, 1978; Medawar

& Medawar, 1977).

Os primeiros relatos sobre experimentos com venenos de serpentes foram publicados

em 1664 pelo italiano Francesco Redi (1626-1696). Ele relatou que o veneno das serpentes

se encontrava em um líquido amarelo, o qual fluía por sulcos através dos dentes. Redi

observou que alguns animais sobreviviam sem tratamento ao envenenamento por serpentes

e descreveu diferenças entre as venenosas e não-venenosas, utilizando os dentes como

principal caráter definidor. Estas diferenças foram também relatadas pelos naturalistas

ingleses John Ray em 1693 e Patrick Russel em 1787. Ray escreveu a clássica obra

�Synopsis methodica animalium quadrupedum et serpentini�, na qual diferencia as

serpentes peçonhentas das não peçonhentas (Goin, Goin & Zug, 1978; Habermehl, 1994;

Hawgood, 1999).

O primeiro experimento in vitro com venenos de serpentes foi realizado pelo inglês

Richard Mead, em 1708. Ele caracterizou o veneno de cobras no grupo dos ácidos, porque

associou algumas propriedades do veneno com compostos ácidos conhecidos na época. A

partir daí surgiu a idéia de que um álcali volátil, como o amoníaco, seria o antídoto para

venenos ofídicos.

Page 19: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

5

Um século após os experimentos de Francesco Redi, Ablé Felice Fontana (1730-

1805), também italiano, escreveu �Traité sur le vénin de la vipère�, um texto clássico de

toxinologia, traduzido do italiano e publicado em 1781. Ao lado dos trabalhos de Redi e

Mead, embora com muitos anos de diferença, os trabalhos de Fontana foram pioneiros em

utilizar a experimentação nos estudos sobre venenos de cobras. Felice Fontana descreveu a

glândula e o ducto de veneno, o sulco dos dentes e o mecanismo pelo qual as serpentes

articulam a boca e inoculam o veneno na presa. Ele descreveu também algumas ações

biológicas do veneno de Vipera berus (Viperidae), como a hemorragia e miotoxicidade,

além de ter demonstrado que o veneno de serpentes não era um ácido. Desse modo,

Fontana mostrou que o amoníaco utilizado nos envenenamentos ofídicos também não era

eficaz para neutralizar as ações do veneno de serpentes. Apesar disso, o uso do amoníaco

continuou a ser utilizado nos casos de envenenamentos durante os 100 anos seguintes

(Hawgood, 1995; Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000).

Um dos pioneiros nas pesquisas sobre os efeitos sistêmicos dos envenenamentos

ofídicos foi o médico inglês Joseph Fayrer (1824-1907). Ele trabalhou no Serviço Médico

da India e, em 1872, escreveu um tratado tão longo quanto o título �The thanatophidia of

India being a description of the venomous snakes of the Indian Peninsula with an account

of the influence of their poison on life and a series of experiments�. Fayrer relacionou com

o curare os efeitos do envenenamento por Naja naja (Elapidae) � bloqueio da junção

neuro-muscular. Em 1875 uma comissão médica da India apoiou definitivamente os

estudos de Fontana, Russel e Fayrer sobre a ineficácia do amoníaco em inibir o veneno de

serpentes e, em 1878, Brunton e Fayrer relataram que o permanganato de potássio destruía

in vitro a atividade letal do veneno de N. naja, mas não protegia completamente o

organismo quando submetido a altas doses de veneno (Hawgood, 1996, Otero, Fonnegra &

Jiménez, 2000).

Os estudos sobre a toxinologia de venenos ofídicos avançaram bastante durante a

segunda metade do século XIX. Em 1860, Silas Weir Mitchell descreveu a natureza

proteica do veneno de Crotalus horridus; em 1873, Brunton Fayrer relataram que a parada

respiratória era a causa da morte pelo envenenamento de C. horridus; em 1890, Victor

Razotzi mostrou experimentalmente que a parada respiratória causada pelo veneno de C.

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6

horridus era devido ao bloqueio da junção neuro-muscular, e que este veneno tinha ação

miotóxica sobre o músculo cardíaco e esquelético (Hawgood, 1996).

No Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1881, o fisiologista João Batista de

Lacerda relatou sobre a eficácia do permanganato de potássio (1%) em neutralizar in vitro

a ação letal do veneno botrópico. O estudo de Lacerda foi realizado independentemente

das pesquisas de Brunton e Fayrer de 1878, os quais também relataram o uso do

permanganato nos envenenamentos ofídicos. Embora ineficaz, o uso do permanganato foi

utilizado até o desenvolvimento da soroterapia (Brazil, 1911; Hawgood, 1996; Otero,

Fonnegra & Jiménez, 2000; Cardoso, 2003).

Quando o médico francês Albert Calmette (1863-1933) iniciou em 1891 seus

estudos sobre o veneno de Naja naja, no laboratório de Roux no Instituto Pasteur, nenhum

método era eficiente para neutralizar venenos de cobras. Fundamentado nas descobertas de

Behring e Kitassato sobre a imunidade contra as toxinas da difteria e tétano, publicadas

em 1890, Calmette verificou que doses repetidas do veneno de N. naja (recebido da

Indochina) injetadas em cavalos, conferiam imunidade aos animais. Estimulado pelos

resultados, Calmette aperfeiçoou o método para neutralizar o veneno de várias espécies de

serpentes e o seu eu protocolo foi adotado por Vital Brazil no Brasil em 1898, por

MacFarland nos Estados Unidos em 1899, por Tidswell na Austrália em 1901, por Lamb

na India em 1904 e por Ishizaka no Japão em 1907.

As pesquisas realizadas após a descoberta de Calmette apontaram para as

especificidades bioquímicas dos venenos, porque o soro elaborado com o veneno de Naja

não neutralizava o veneno de outras serpentes, nem mesmo as espécies da família

Elapidae. Calmette então formulou a hipótese de que os venenos de serpentes possuíam

dois tipos de proteínas (Hawgood, 1992, 1999; Vital Brazil, 1987): uma predominante nos

viperíneos, que era destruída pelo calor a 75-85oC, de alto peso molecular; outra

predominante nos elapídeos, mais resistente ao calor e de baixo peso molecular. Calmette

não testou a sua hipótese.

Coube ao médico brasileiro Vital Brazil Mineiro da Campanha dar continuidade aos

estudos de Calmette. Os experimentos de Vital Brazil sobre imunização de animais contra

o veneno de cobras foram iniciados em 1897, em São Paulo, num anexo do Instituto

Bacteriológico (posteriormente Instituto Serumterápico e atualmente Instituto Butantan,

Page 21: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

7

vinculado à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo). Vital Brazil foi quem

demostrou a especificidade do soro antiveneno e desenvolveu o soro monovalente contra o

veneno de Bothrops jararaca e Crotalus durissus terrificus (Hawgood, 1992; Vital Brazil,

1987; Raw & Sant´Anna, 2002).

Vital Brazil realizou vários estudos; no presente contexto destacam-se as suas

pesquisas sobre a catalogação das serpentes venenosas brasileiras, descrições da

morfologia dos dentes e glândulas de veneno, estudos sobre a toxicidade do veneno de

Crotalus durissus terrificus, Bothrops jararaca, B. alternatus e B. jararacussu para

determinar a dose letal (em microgramas) dos venenos e descrever os efeitos

fisiopatológicos dos envenenamentos (Brazil, 1901, 1901a). Num dos experimentos, ele

inoculou os venenos pelas vias gástrica (oral), hipodérmica, venosa, intramuscular e

intraserosa (intraperitoneal), utilizando pombos, cobaias, coelhos e cães. Ele distinguiu

dois fenômenos distintos das ações dos venenos sobre o organismo, os quais denominou

fenômenos locais e fenômenos gerais (sistêmicos), descrevendo também alguns sintomas

específicos.

Com relação à composição química dos venenos, Vital Brazil relatou a presença de

água, sais, materiais corantes e substâncias albuminóides, as quais considerou como partes

tóxicas do veneno. Após imunizar cães contra o veneno de cascavel e jararacas,

separadamente, ele verificou que o soro do animal imunizado contra o veneno da jararaca

não tinha ação sobre o veneno da cascavel, bem como o soro ativo contra o veneno

crotálico se mostrou inócuo sobre o veneno botrópico (Brazil, 1901b).

Atualmente o soro antiveneno ofídico é obtido de cavalos hiperimunizados contra o

antígeno correspondente � o veneno. Depois de aplicadas algumas doses, a concentração

de anticorpos é grande e o animal é sangrado. As hemácias são colocadas para decantar, o

soro é retirado e as hemácias devolvidas ao cavalo, para o animal não ficar anêmico. A

fração de imunoglobulinas é precipitada com sulfato de amônia e depois tratada com

pepsina para digerir as proteínas e remover o segmento Fc das moléculas de anticorpo;

estas neutralizam o veneno (Raw & Sant�Anna, 2002).

Vital Brazil abriu o caminho para os estudos sobre a toxinologia de venenos

ofídicos. A partir dos seus trabalhos no Instituto Butantan inicia-se uma nova fase (revisão

em Gutiérrez, 2002) na toxinologia de venenos de serpentes, com trabalhos cada vez mais

Page 22: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

8

voltados para estudos sobre a farmacologia e bioquímica dos venenos. Um dos trabalhos

pioneiros nesta área foi realizado por Slotta & Fraenkel-Conrat (1939), que purificaram e

cristalizaram a crotoxina, principal componente tóxico de várias espécies de Crotalus,

responsável pelas ações miotóxica e neutóxica do veneno crotálico. A descoberta da

bradicinina por Rocha e Silva, Beraldo & Rosenfeld (1949) inaugurou uma fase muito

importante na toxinologia de venenos ofídicos. A bradicinina, polipeptídeo isolado do

veneno de Bothrops jararaca, é liberada no plasma através da ação enzimática do veneno

botrópico e estimula a musculatura lisa, causando principalmente vasodilatação e aumento

da permeabilidade capilar.

Os trabalhos de Kondo et al. (1960) e Villarroel (1977) estabeleceram novos critérios

metodológicos das pesquisas sobre venenos de serpentes e soroneutralização cruzada. A

descrição da botroxina do veneno de Bothrops atrox, em 1976, por Stoker e Barlow, e os

trabalhos de Lomonte e Gutiérrez e colaboradores, nas décadas de 1980-2000, têm

contribuído com novas informações sobre os efeitos hemorrágicos causados pelo veneno

das viperíneas e crotalíneas, principalmente com relação ao estudo das miotoxinas

(proteínas com fosfolipase A2 da classe II) e metaloproteínas. Os trabalhos de Furtado e

colaboradores, realizados no Instituto Butantan nas décadas de 1980-90, estudaram vários

aspectos relacionados à variabilidade dos venenos de serpentes e propuseram

padronizações de métodos para verificar atividades indutoras de hemorragia, necrose,

edema e atividades caseinolíticas, bem como as atividades promotoras da coagulação do

fibrinogênio e do plasma.

A revisão mais recente sobre a toxinologia do veneno de serpentes foi realizada por

Gutiérrez (2002), a qual traz excelentes descrições dos principais estudos sobre a

composição química e mecanismo da ação das toxinas dos venenos de serpentes da

América do Sul. Gutiérrez descreveu as neurotoxinas dos venenos, as proteínas que afetam

a coagulação sanguínea, as inflamações e necroses musculares induzidas por toxinas dos

venenos, as metaloproteínas e fosfolipases. Além disso, ele analisou criteriosamente os

estudos sobre as novas terapias antiofídicas e estudos clínicos para compreensão da

fisiopatologia dos envenenamentos ofídicos, analisando também o desenvolvimento de

novas tecnologias para a melhoria da qualidade dos antivenenos produzidos nas

instituições sul-americanas.

Page 23: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

9

Plantas medicinais e ofidismo

O conhecimento sobre as plantas medicinais foi adquirido com base nas experiências

individuais e repassados pelas gerações através das representações populares. Os textos dos

babilônios, assírios e hebreus já traziam as utilizações terapêuticas de preparados com

plantas, mas foram os gregos quem sistematizaram o uso de plantas medicinais, através de

relatos contidos nas obras de Aristóteles (384-322 a.C.), Hipócrates (460-377a.C.) e

Teofrasto (370-285 a.C.).

Dentre os relatos importantes sobre fitoterapia, são relevantes as descrições de

Pedanius Dioscórides (século I d.C.), contidas no tratado �Matéria Médica� com cerca de

600 plantas medicinais conhecidas na época; as descrições do alquimista Celsius na obra

�De Medicina� que relata usos de plantas e demais preparados, inclusive algumas

prescritas como antídotos contra venenos de serpentes, e as descrições dos romanos Plínio

(61-113 d.C.) e Galeno (130-200 d.C.), as quais contêm diversos preparados de plantas

para tratamento de doenças, traumatismos e outras indicações, mais ou menos como

elaborados atualmente (Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000).

Durante a Idade Média houve uma sensível redução nos relatos sobre fitoterapia. Na

segunda metade do século XV e no final do século XVIII ressurgiram as obras sobre

plantas medicinais, com destaque para as idéias de Paracelso, explicadas na Teoria das

Assinaturas. De acordo com esta teoria, os deuses teriam colocado indicadores nas plantas,

como sinais para orientar os humanos a descobrir o valor curativo destas, os quais seriam

revelados por intuições e antropomorfias, através de tentativas e erros. Por exemplo,

poderiam servir como antiofídicas as plantas que apresentassem algum caráter que

lembrasse o zig-zag da locomoção de serpentes ou qualquer aspecto da planta ou dos

frutos e sementes que sugerissem alguma semelhança com cobras; as plantas que

apresentassem coloração avermelhada nos frutos, flores ou folhas serviriam como anti-

hemorrágicas, devido à semelhança com a cor do sangue (Otero, Fonnegra & Jiménez,

2000).

No Brasil, um dos primeiros relatos sobre o uso de plantas para inibir os efeitos de

envenenamentos por serpentes foi feito no século XIX, através das descrições das viagens

que os dois naturalistas bávaros Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Carl Friedrich

Page 24: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

10

Phillip von Martius (1794-1868) empreenderam por diversas regiões brasileiras entre

1817-1820, a convite da arquiduquesa Leopoldina, no contexto cultural da vinda de vários

naturalistas ao Brasil em meados do século XVIII (Vanzolini, 1996). Em 1818, Spix e

Martius relataram que no arraial do Rio Verde, Minas Gerais, usava-se uma planta

genericamente conhecida como cainca nos envenenamentos por Bothrops urutu

(Viperidae) (Sommer, 1953). Na caatinga e no cerrado a cainca é o nome comum que se dá

a várias espécies de plantas da família Rubiaceae, também conhecida como cipó-cruz e

caninana; na Amazônia é conhecida popularmente como raiz-preta (Chiococca anguifuga

Mart.) (= C. brachiata Ruiz & Pav.). Com a morte de Spix, seu fiel amigo Martius

prosseguiu o trabalho de catalogar os exemplares dele e descrever a flora brasileira em uma

coleção de 15 volumes, reunidos na �Flora Brasiliensis�, obra clássica publicada em 1882

por Martius, em Munique (Sommer, 1953; Vanzolini, 1996).

Os primeiros livros que descreveram as propriedades curativas das plantas

medicinais brasileiras foram �Ensaio sobre o cinchoeiro e sua influência nas virtudes da

quina�, escrito pelo português Bernardino Antonio Gomes em 1812, e o livro �Systema de

Matéria Medica Vegetal Brasileira�, escrito por Henrique Velloso D�Oliveira, em 1854

(Cardoso, 2003; D�Oliveira, 1854). Gomes cita a planta Aristolochia sp como antiofídica.

D�Oliveira comenta sobre o uso das plantas conhecidas pelas propriedades medicinais,

citando os nomes populares e científicos. Para acidentes ofídicos, ele relatou o uso da raiz

tuberosa da jararaca ou erva-de-santa-maria (Dracontium polyphyllum L., Araceae) (= D.

asperum C.Koch). Interessante é que o uso antiofídico desta planta era recomendado

devido à semelhança com a cor �sarapintada� das serpentes, de acordo com a Teoria das

Assinaturas, de Paracelso. As demais plantas citadas por D�Oliveira como tendo

propriedades antiofídicas foram: a raiz da Arisaema phythonium (= Zomicarpa phytonium

(Mart.) Schott, Araceae), planta da caatinga que os índios empregavam no local da picada

quando envenenados por cobras; a raiz de cipó-de-jarrinha ou milome (Aristolochia

antihysterica) (= A. triangularis, Aristolochiaceae); o alecrim-bravo (Hypericum

laxiusculum, Hypericineae); Eupatorium crenatum (= Mikania cordifolia, Asteraceae);

orelha-de-onça (Cissampelos ovalifolia Chodat & Hassl., Menispermaceae); a fruta-de-

pombo (Erythroxylon anguifugum, Erythroxylaceae); a erva-mular ou curraleira (Croton

sp, Euphorbiaceae) e o tuiuiá ou abobrinha-do-mato (Bryonia bonariensis ficifolio) (=

Page 25: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

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Cayaponia bonariensis (Mill.) Mart. Crav., Cucurbitaceae). D�Oliveira cita no seu livro a

análise que Thomé Rodrigues Sobral fez da planta Aristolochia sp (citada Aristolochia

antihysterica), em Coimbra. Sobral encontrou �um princípio volátil aromático solúvel em

álcool, um princípio oleoso resinoso, um amargo análogo ao gentianino, uma porção

pequena de mucilagem, cal, potassa e ferro�, combinação que teria ação antiofídica

(D�Oliveira, 1854).

Ainda no final do século XIX, o botânico Schindler publicou no Rio de Janeiro um

catálogo das plantas medicinais brasileiras, com descrições das propriedades terapêuticas,

usos e doses administradas (Schindler, 1884). Ele relatou o uso de seis espécies de plantas

antiofídicas: i) a raiz do cipó-de-cobra (Cissampelos glaberrima St.Hill.,

Menispermaceae), ii) a raiz da orelha-de-onça (C. ebracteata, Menispermaceae), iii) o suco

do guaco (Mikania guaco Humb. & Bonpl., Asteraceae), iv) o suco da erva-de-cobra (M.

opifera) (= M. cordifolia Wild., Asteraceae), v) a raiz do para-tudo (Gomphrena officinalis,

Amaranthaceae), vi) o paracari ou hortelã-branco (Peltodon radicans Pohl, Labiatae).

Em 1888, Theodoro Peckolt e Gustavo Peckolt, pai e filho, escreveram um livro

sobre a história das plantas medicinais no Brasil, no qual constam descrições botânicas e

etnobotânicas, partes da planta utilizadas, composição química, usos industriais e

fitoterápicos e as doses utilizadas (Peckolt & Peckolt, 1888). Oito espécies de plantas,

pertencentes a 5 famílias, foram por eles descritas como antiofídicas: i) família Isoetaceae,

representada por Isoetes martii A. Braum, conhecida popularmente como batatinha-

d�água; ii) família Ophioglossaceae, representada por Ophioglossum palmatum Plum, cujo

nome popular é língua-de-víbora, é citada principalmente contra a mordida de �víboras�

(lagartos do gênero Diploglossus, que no imaginário popular vira cobra), e por Botrichium

virginicum Swartz, a língua-de-víbora-do-campo, iii) família Zamiaceae, representada por

Zamia brongniartii Wedd, popularmente conhecida como salgueiro-da-terra, da qual se

utiliza a goma do tronco contra mordidas de cobras, iv) famíia Commelinaceae,

representada por Tradescantia geniculata Velloso (= Gibasis geniculata (Jacq. Rohweder),

conhecida como trapoeiraba-efêmera, v) família Araceae, representada por Dracontium

polyphyllum L. (= D. asperum C. Kock, Araceae), popularmente conhecida como jararaca-

mirim; e Staurostigma luschnathianum C. Kock, popularmente conhecida como jararaca-

do-rio. Na maioria das preparações citadas por Peckolt & Peckolt (1888) eles

Page 26: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

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recomendaram também o uso de cachaça com as plantas, cujas infusões deveriam ser

bebidas ou aplicadas no local da mordida da cobra. Em 1914, Gustavo Peckolt continuou o

estudo sobre a história das plantas medicinais e úteis do Brasil, que ele iniciou com seu pai

em 1888. Gustavo descreveu o uso das sementes do araticum (Annona furfuracea St.-Hill,

Anonaceae), cuja mistura com cachaça era indicada como um bom antídoto nos casos de

envenenamento por cascavel (Peckolt, 1914).

O brasileiro Manuel Pio Corrêa (1874-1934) foi naturalista do Jardim Botânico do

Rio de Janeiro e um dos pioneiros nos estudos sobre plantas medicinais. Todas as

informações relatadas por Pio Corrêa sobre a utilização das plantas foram reunidas em seis

volumes na clássica obra �Dicionário das plantas úteis do Brasil�, com a colaboração de

Leonam de Azeredo Penna. Cada espécie relatada apresenta uma diagnose, nomes

populares e informações sobre a utilização como alimento, aplicações industriais e

terapêuticas. As plantas citadas no dicionário como antiofídicas são (ver também Pio

Corrêa, 1909): a raiz do cipó-de-cobra (Cissampelus glaberrima St. Hil, Menispermaceae),

citada também por Shindler (1884); a erva-de-jararaca (Dracontium asperum C. Kock,

Araceae); as folhas de contra-cobra (Aegiphila salutaris H.B.K., Verbenaceae); a abutua-

miúda (Cocculus filipendula M., Menispermaceae); a contra-erva, calunga ou jarrinha

(Aristolochia trilobata, Aristolochiaceae); a batatinha-d�água (Isoetes martii, Isoetaceaea)

e o alecrim-bravo (Hypericum laxiusculum, Hypericineae). Estas duas últimas foram

também citadas por Peckolt & Peckolt (1888) e D�Oliveira (1854).

Silveira (1921) descreveu o uso do agrião-do-brejo, Eclypta alba (= E. prostrata (L.)

L. Asteraceae) contra picadas de serpentes, planta citada na literatura como antiofídica

desde 1882, quando Martius publicou a �Flora Brasiliensis�. Renato Braga escreveu um

também clássico trabalho sobre etnobotânica, �Plantas do Nordeste, especialmente do

Ceará� (Braga, 1960). Neste livro, ele relatou o uso de plantas indicadas nos casos de

envenenamentos por serpentes, como a raiz-preta (Chiococca anguifuga, Rubiaceae),

citada também por Martius em 1818; a milho-de-cobra (Dracontium asperum, Araceae),

também relatada como antiofídica por Pio Corrêa (1909); a língua-de-tiú (Casearia

sylvestris Swartz, Flacurtiaceae); a erva-de-cobra (Mikania cordifolia Willd, Asteraceae) e

o paracari ou hortelã-bravo (Peltodon radicans Pohl, Labiatae).

Page 27: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

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Na década de 1980, houve um expressivo avanço nos estudos sul-americanos sobre

plantas medicinais, principalmente as antiofídicas: em vez de citar os usos das plantas

apenas com base nas representações populares, como ainda hoje ocorre na maioria das

publicações, os efeitos das plantas começaram a ser verificados biológica, bioquímica e

farmacologicamente, através de experimentos controlados (e.g. Pio Corrêa, 1909; Vieira,

1992; Caribé & Campos, 1997; Simões et al., 1998; Agra, 1996). Inicia-se então uma nova

fase, com trabalhos cada vez mais voltados para estudos sobre a bioquímica e síntese de

produtos naturais das plantas, como, por exemplo, a descoberta das cabenegrinas I e II,

substâncias isoladas de uma planta supostamente amazônica, que inativaram o veneno de

Bothrops atrox (Nakagawa et al.,1982).

No Brasil, o trabalho de Calixto e colegas, realizado em 1985, foi um dos pioneiros

nesta linha de experimentos controlados com plantas medicinais antiofídicas (ver Martz,

1992). Eles trabalharam com o extrato bruto de Mandevilla velutina (Apocynaceae) e o

veneno de B. jararaca, utilizando útero isolado de rato e verificaram que o extrato teve

ação sobre a bradicinina, um peptídeo hipotensor liberado pelo veneno de B.jararaca,

descoberto por Rocha e Silva e colaboradores em 1949. Assim foram os estudos com a

atropina, extraída de Atropa belladonna L. (Solanaceae), que protege o organismo contra

as ações sinérgicas da toxina F7 do veneno da mamba Dendroaspis polylepis polylepis

(Elapidae) e os trabalhos do químico de produtos naturais Walter Mors, cuja equipe de

colaboradores isolou os compostos wedelolactona, sitosterol e stigmasterol da planta

Eclipta prostrata L. (Asteraceae), mostrando que o extrato protegeu as ações miotóxicas

do veneno de Crotalus durissus, inibindo as ações das cininas. O estudo de Mors e

colaboradores utilizou preparações de músculo esquelético (Mors et al., 1989).

As melhores revisões sobre plantas antiofídicas são as de Martz (1992), sobre os

extratos de plantas com potencial em neutralizar as toxinas dos venenos de cobras, na qual

ele relata o uso de compostos isolados de plantas com ação antiofídica; Pereira et al.

(1994), sobre compostos isolados de plantas e descreve alguns prováveis mecanismos de

ação, e os estudos realizados por Castro et al. (1999) e Otero, Fonnegra & Jiménez (2000),

os quais verificaram a neutralização das ações dos venenos por alguns extratos de plantas

da Costa Rica e da Colombia, além de citarem cerca de 85 espécies de plantas utilizadas

como antiofídicas com base nos relatos populares.

Page 28: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

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Materiais e Métodos

1. Epidemiologia

i) Coleta de Dados: Os dados para as análises epidemiológicas dos acidentes ofídicos

ocorridos em Sergipe foram obtidos nas fichas de notificação de acidente por animais

peçonhentos do Sinam Windows � versão 4.0\Documentação\Dicionário de

Dados\DICANIMAIS-DELPHI.doc 07/03/2002, os quais foram cedidos pela vigilância

epidemiológica da Secretaria da Saúde do Estado de Sergipe.

ii) Variáveis: Para as análises utilizei as seguintes variáveis: número de acidentes ofídicos

por ano, idade, sexo dos acidentados, tempo decorrido entre o acidente e o atendimento,

número de ampolas de soros antiofídicos (botrópico, crotálico, laquético e elapídico)

utilizadas durante o período e classificação quanto a gravidade do caso, segundo critérios

estabelecidos pela Fundação Nacional da Saúde (Brasil, 1999).

iii) Análise dos Dados: Para compor o quadro epidemiológico, inicialmente foram feitas as

distribuições de freqüências destas variáveis com relação ao município e mês de ocorrência

do acidente, tempo decorrido entre o acidente e o atendimento, partes do corpo atingidas e

às alterações locais e sistêmicas decorrentes dos envenenamentos ofídicos. Após verificar a

distribuição de cada variável, as seguintes análises foram feitas: i) a incidência dos

acidentes ofídicos (Rouquayrol & Almeida Filho, 1999) através do quociente entre o

número de casos ocorridos nas áreas rurais de Sergipe durante o período 1999-2002 e o

número de pessoas expostas, multiplicado pela população de referência, neste caso 10000

indivíduos, ii) as proporcões dos acidentes ofídicos com relação às diferentes regiões

ecológicas de Sergipe, idade e sexo dos acidentados e a sazonalidade dos acidentes, iii) os

sintomas (locais e sistêmicos) com relação ao tempo decorrido entre o acidente e a

soroterapia, iv) partes do corpo atingidas e gravidade dos casos. A estatística qui-quadrado

foi utilizada para verificar as hipóteses nulas de proporções iguais ou desiguais, conforme

o caso, e de homogeneidade entre as variáveis.

Page 29: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

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2. Parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca

Os seguintes testes foram realizados para analisar os parâmetros biológicos do

veneno: dose letal 50% (DL50) e dose mínima hemorrágica (DMH). Estes testes são

importantes para verificar as doses-desafios e a eficácia das plantas em inibir o veneno.

i) Veneno: Mistura de veneno liofilizado de B. jararaca, procedente da Seção de Venenos

do Instituto Butantan. A mistura foi estocada e mantida a -20ºC até o momento de uso.

ii) Animais: Camundongos Swiss, não-isogênicos, de ambos os sexos, pesando entre 18 e

22 g. Os animais foram fornecidos pelo Biotério Central da Universidade Federal de

Sergipe.

iii) Dose Letal 50% (DL50): A DL50 é a unidade tóxica do veneno, definida como a

quantidade de veneno capaz de em 48 horas provocar a morte de 50% dos animais

inoculados por via intraperitoneal (Vilarroel, 1977). Com base na DL50 foi determinado a

concentração da dose-desafio dos experimentos de inibição da letalidade do veneno pelos

extratos.

iv) Experimentos e concentrações DL50: Fiz seis experimentos em dias diferentes para a

determinação da dose letal do veneno de B. jararaca; destes, quatro foram utilizados para

análises porque apresentaram relação mortos/nº de animais inoculados proporcional ao

aumento das concentrações do veneno. Os dois primeiros foram descartados porque as

doses não estavam bem determinadas e ficaram muito baixas (sobreviveram todos os

animais) ou muito altas (morriam todos os animais). As concentrações do veneno em todos

os experimentos foram: 23.0, 27.6, 33.1, 39.7 e 47.6 µg. O intervalo entre as doses foi

estabelecido com base na DL50 do veneno de B. jararaca já determinado no Instituto

Butantan, por isso a menor dose de 23.0µg, menor do que a DL50 do veneno, foi

estabelecida como um dos extremos; a partir desta foram determinadas as demais doses

utilizando um fator de diluição de 1.2 (padronizado para estudos com veneno). Para cada

concentração foram utilizados seis camundongos, inoculados via intraperitonial (i.p.) com

0,5 ml de veneno dissolvido em NaCl 0,9%.

Page 30: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

16

v) Análise dos dados DL50: A dose letal 50% do veneno foi determinada com base na razão

entre os camundongos mortos e o número total de animais inoculados com o veneno,

valores que expressam a freqüência com que uma observação está acima do valor esperado

na distribuição normal, conhecida como valores probíticos (Fisher, 1949). Foram

utilizados dois métodos para encontrar os valores probíticos: o primeiro foi através do

programa de computador elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para

determinar a regressão linear e a dose letal 50%; o segundo foi através de regressões

lineares, utilizando a variável dependente (y) como probit e a variável independente (x)

como log da dose, o �b� é o aumento dos valores probíticos de acordo com o aumento do

log da dose. Nos ensaios biológicos com venenos de serpentes, geralmente a distribuição

de freqüência da dose letal individual não é normal, quando a dose de veneno é colocada

na abscissa; para torná-la normal ou aproximadamente normal a dose foi transformada em

unidades logaritmizadas. Estas doses transformadas são freqüentemente chamadas

dosagens (Sokal & Rholf, 1995). As comparações entre os dois métodos foram feitas para

verificar se os resultados eram iguais. A seqüência de análise dos dados foi: i) para cada

experimento determinei a regressão linear e a DL50 no programa, ii) depois as doses foram

logaritimizadas e substituídas nas respectivas equações da regressão (x), para encontrar o

valor probítico de cada dose (y), iii) para cada experimento fiz uma regressão para verificar

correlações entre as doses e os valores probíticos, iv) após determinar a regressão para

cada experimento, fiz uma comparação simultânea entre as 4 retas das regressões

(Vanzolini, 1993), v) por último fiz uma análise probítica conjunta para encontrar a DL50

de todos os ensaios. O resultado da análise probítica conjunta foi comparado com a

equação geral das 4 retas para verificar e confirmar as análises (Fisher, 1949; Fisher &

Yates, 1953; Zar, 1996).

vi) Dose Mínima Hemorrágica (DMH): A dose mínima hemorrágica é definida como a

menor quantidade de veneno (g) capaz de produzir uma área hemorrágica de 10 mm de

diâmetro em animais experimentais (Castro et. al., 1999; Furtado et. al., 1991, Bolaños,

1984). Com base na DMH foi determinada a dose-desafio utilizada para testes de inibição

da hemorragia local do veneno pelos extratos.

Page 31: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

17

vii) Experimentos e concentrações DMH: Fiz cinco experimentos para determinar a DMH

do veneno de B.jararaca. Apenas dois experimentos foram utilizados para análise por

apresentarem resultados mais coerentes, com diâmetros da hemorragia cerca de 10mm e

proporcionais às concentrações do veneno. Os demais foram descartados, porque as doses

utilizadas eram muito baixas (os animais não apresentaram hemorragia) ou muito altas

(hemorragia maior do que 10mm). Experimento 1: concentrações 0.10, 0.14, 0.18, 0.22 e

0.26 µg. Experimento 2: concentrações 0.14, 0.18, 0.22, 0.26 e 0.30 µg. Para cada

concentração foram utilizados 4 camundongos. Os camundongos receberam injeções

intradérmicas no abdome com doses crescentes de veneno (0,1ml/animal) dissolvido em

NaCl 0,9%.

viii) Análise dos dados DMH: Duas horas após injetados, os camundongos foram

sacrificados, a pele removida e esticada em placa de vidro, sobre a qual a mancha

hemorrágica foi copiada em papel milimetrado. Ao redor da mancha hemorrágica forma-se

um edema, não copiado no papel. O número de quadrículas contidas na mancha é a área

hemorrágica, inferida através da área da circunferência a = ð r², transformada para

diâmetro = 2 √a/ð (Bolaños, 1984). A determinação da dose mínima hemorrágica foi feita

da seguinte maneira: i) análise de regressão, tendo sido encontrado duas equações, uma

para cada experimento, cujas variáveis dependentes são os diâmetros das áreas

hemorrágicas (y) e as independentes são as concentrações do veneno (x), ii) substituição da

variável dependente (y) por 10mm (diâmetro padrão da DMH), que constitui a dose

mínima hemorrágica, iii) as doses mínimas hemorrágicas foram praticamente idênticas

(0.23g e 0.24g), por isso os experimentos foram somado e feita uma análise conjunta

dos experimentos para encontrar a dose mínima hemorrágica do veneno. As análises

estatísticas seguiram os protocolos e algoritmos usuais (Vanzolini, 1993; Zar, 1996).

Page 32: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

18

3. Verificação da eficácia das plantas

Os seguintes ensaios foram realizados para verificar a toxicidade das plantas e testar

a eficácia destas sobre o veneno de B. jararaca: DL50, análise da letalidade e testes de

inibição da hemorragia comparados com grupos de controle.

i) Material botânico: As plantas utilizadas para verificar as ações antiofídicas foram

coletadas na região de caatinga de Curituba, Sergipe (09o41�S, 37o53�W) (Figura 1) durante

2002/2003, com base nas informações de benzedores e moradores locais. Adicionalmente,

foi incluída nas análises uma amostra de plantas da região do cerrado de Peixe, rio

Tocantins, no Estado homônimo, indicada popularmente na região como antiofídica e

conhecida como batata-de-teiú.

Curituba, Se: batata-de-teiú (Apodanthera villosa C. Jeffrey, Cucurbitaceae).

cabeça-de-negro (Apodanthera glaziovii Glaziou ex Cogniaux,

Cucurbitaceae).

pinhão-bravo (Jatropha mollissima (Pohl) Baill, Euphorbiaceae).

Peixe, To: batata-de-teiú (Jatropha elliptica (Pohl) Muell. Arg., Euphorbiaceae).

As plantas foram coletadas e herborizadas com material fértil para identificação. O

restante do material foi coletado em quantidades suficientes para preparar os extratos

aquosos. As cucurbitáceas foram identificadas no Departamento de Botânica da

Universidade Federal de Goiás; as euforbiáceas foram identificadas no Instituto de

Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Figura 1. Localização da região de Curituba, Sergipe.

Curituba

Rio São Francisco

Oceano Atlântico

Page 33: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

19

ii) Preparação do extrato aquoso: As raízes tuberosas de A. villosa , A. glaziovii, J.

elliptica e o caule de J. mollissima tiveram o seguinte tratamento para preparar os extratos:

1. secagem a 40oC em estufa, 2. trituração em moinho até a obtenção do polvilho, 3.

preparação dos extratos brutos por decocção, durante 10 minutos, de 200 gramas do

polvilho, 4. filtragem do extrato bruto, 5. liofilização do extrato filtrado. O pó liofilizado,

pesado para cada concentração e diluídos em salina, foi utilizado nos experimentos.

iii) Animais: Camundongos Swiss, não-isogênicos, de ambos os sexos (18-22g). Os

animais foram fornecidos pelo Biotério Central da Universidade Federal de Sergipe.

iv) Dose letal 50% (DL50): A DL50 de cada extrato também foi determinada com base na

razão entre os camundongos mortos e número total de animais inoculados com o extrato,

após 48 horas de observação, como realizado para o veneno. A dose letal 50% de cada

planta foi encontrada para selecionar as doses de extrato utilizadas nos ensaios biológicos

de inibição da hemorragia e da letalidade. As concentrações dos extratos foram

determinadas por tentativa e erro até encontrar a relação entre animais mortos e inoculados

proporcional às concentrações dos extratos. Foram realizados dez ensaios com as plantas,

com os seguintes intervalos de doses:

3 ensaios com A. villosa; concentrações 0.008-0.04g,

3 ensaios com A. glaziovii; concentrações 0.001-0.011g,

3 ensaios com J.mollissima; concentrações 0.0003-0.04g,

1 ensaio com J. elliptica; concentrações 0.01-0.03g.

v) Análise dos dados DL50 das plantas: Para cada concentração foram utilizados seis

camundongos. A estatística utilizada para verificação da DL50 foi a análise probítica

(Fisher, 1949; Fisher & Yates, 1953). Em cada ensaio, a variação entre animais mortos

com relação à concentração do extrato foi muito grande, dificultando encontrar a DL50. Por

isso somei os 3 experimentos de cada planta para encontrar um valor probítico mais

ajustado. Isto foi feito para A. villosa, A. glaziovii e J. mollissima. Para J. elliptica fiz só

um experimento, cujo resultado foi proporcional às concentrações e não julguei necessário

fazer repetições.

Page 34: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

20

vi) Inibição da letalidade: Para verificar a neutralização do veneno pelas plantas (ou

antivenenos) há a necessidade de ser selecionada uma dose-desafio, definida como a dose

suficiente para apresentar o efeito subliminar e máximo do veneno (Gutiérrez et al, 1990).

A dose-desafio do veneno de B. jararaca utilizada para verificar a inibição da letalidade

pelos extratos das plantas foi de 2DL50 (74.2g). Foram utilizados dois grupos nas

comparações: i) grupo controle - animais inoculados com 74.2g de veneno dissolvido em

NaCl 0.9%, ii) grupo experimental - animais receberam a mesma dose-desafio de veneno

do grupo controle incubado a 37oC com diluições diferentes de extrato em NaCl 0.9%,

durante 30 minutos. Cada camundongo foi inoculado via intraperitonial (i.p.) com 0,5 ml

da solução. Os animais foram observados durante 48 horas, com intervalos de 1hora para

registro do tempo de sobrevida (em minutos). As concentrações de cada extrato foram

determinadas após encontrar as DL50 correspondentes:

Apodanthera villosa: concentrações 0.74, 1.00 e 1.48mg,

Apodanthera glaziovii: concentrações 1.00, 1.48, 3.0 e 5.0mg,

Jatropha mollissima: concentração1.0mg,

Jatropha elliptica: concentrações 0.74, 1.00, 1.48, 5.0 e 10.0mg.

vii) Análise dos dados da letalidade: No caso dos experimentos de padronização das ações

biológicas do veneno havia um resultado esperado. Nos testes de letalidade, que avaliam o

tempo de sobrevida, o que se esperava era que durante as repetições os resultados fossem

próximos, para poder confiar no ensaio. A análise foi feita da seguinte forma: i) os

experimentos com as plantas foram repetidos 2-4 vezes, ii) cada repetição foi considerada

uma amostra, iii) cada amostra teve um grupo controle, iv) verifiquei a homogeneidade

entre os controles, para confirmar os experimentos, v) os controles de cada planta foram

agrupados para análise estatística, vi) verifiquei também a homogeneidade entre as

amostras dos grupos experimentais, para cada dose de extrato � consideradas homogêneas,

os dados eram agrupados, vii) nas análises finais ficaram para cada planta um grupo

experimental com 1-5 doses (dependendo da planta) e um grupo controle. As estatísticas

utilizadas foram análise de variância com um fator e teste t (de Student) para verificar a

significância entre duas amostras (Vanzolini, 1993; Zar, 1996).

Page 35: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

21

viii) Inibição da hemorragia local: Para verificar se os extratos neutralizavam a

hemorragia local do veneno de B. jararaca a dose desafio foi de 5DMH (1.2g). Foram

utilizados dois grupos nas comparações: i) grupo controle � animais inoculados com 1.2g

de veneno, ii) grupo experimental � animais injetados com quantidade constante de veneno

(1.2g), o qual foi incubado com diluições diferentes de extrato, durante 30 minutos a

37oC. Os camundongos receberam injeções intradérmicas no abdome com doses de extrato

e veneno ou só de veneno (0,1ml/animal), dissolvidos em NaCl 0,9%. Duas horas, após

injetados, os camundongos foram sacrificados, a pele removida e determinado a área

hemorrágica como na metodologia descrita para determinar a dose mínima hemorrágica.

As concentrações dos extratos foram as seguintes:

Apodanthera villosa: concentrações 1.0, 3.0 e 6.0mg,

Apodanthera glaziovii: concentrações 1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg,

Jatropha mollissima: concentração1.0, 3.0 e 6.0mg,

Jatropha elliptica: concentrações 1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg.

ix) Análise dos dados da inibição da hemorragia: O extrato de cada planta foi testado 2-4

vezes, com 3-4 concentrações diferentes. Foram realizados 8 experimentos com as quatro

plantas, com duas repetições por dose de extrato. Cada experimento teve um grupo

controle para comparação. Para análise segui os seguintes passos: i) como havia duas

repetições por dose, fiz para cada planta teste de homogeneidade entre as doses �

consideradas homogêneas, os dados eram agrupados nas análises seguintes, ii) cada

repetição do grupo experimental teve um grupo controle, então verifiquei também a

homogeneidade entre os controles de cada grupo experimental � se homogêneos, os dados

eram agrupados, iii) nas análises finais ficaram para cada planta: um grupo experimental

com 3-4doses (dependendo da planta) e um grupo controle. As estatísticas utilizadas foram

análise de variância com um fator e teste t (de Student) para verificar a significância entre

duas amostras (Vanzolini, 1993; Zar, 1996).

Para verificar se as próprias plantas não estavam também contribuindo para as

hemorragias, fiz alguns ensaios com os extratos isolados (sem o veneno), utilizando as

mesmas concentrações e três animais em cada dose: os extratos não causaram hemorragia.

Page 36: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

22

Resultados

1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos

A maioria dos acidentes ofídicos em Sergipe ocorreu na zona rural. Até a década de

1980 as notificações eram feitas através de prontuários nas unidades de saúde; após esta

época, o Ministério da Saúde recomendou o registro em prontuários próprios � as

notificações de acidentes por animais venenosos. A partir de 1999 estas notificações estão

informatizadas no setor de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde.

Além da soroterapia, os tratamentos ocasionados por envenenamentos ofídicos em

Sergipe incluem as rezas e benzeduras, preparados de contra-venenos e os preparados com

plantas, principalmente nas formas de infusão e decocção. A combinação destes

tratamentos é comum em Sergipe, não só com relação aos envenenamentos por serpentes,

mas todas as afecções são de alguma forma tratadas com combinações de métodos.

Preparados Populares

Os preparados populares para tratar envenenamentos ofídicos na região de Sergipe

são misturas elaboradas principalmente a base de plantas e materiais orgânicos diversos,

conforme informado pelas pessoas que comercializam estes produtos. Os componentes dos

preparados são mantidos em segredo e os produtos podem ser encontrados nas barracas

que vendem plantas medicinais nas feiras livres, nas casas de produtos agropecuários ou

comercializados por vendedores que anunciam produtos milagrosos específicos, como a

pomada da gordura de sucuri (Eunectes murinus L., 1758) e choque de poraquê

(Electrophorus electricus L., 1758), ambas para dores e reumatismos.

Os produtos e preparados recomendados para envenenamentos de cobras são

encontrados sob diversas formas: infusões de plantas com cachaça, onde as partes das

plantas, secas ou verdes, são colocadas no líquido sem serem processadas � as doses

variam de acordo com a gravidade do caso; infusões mistas, a base de plantas e outros

materiais orgânicos mantidos em segredo; misturas feitas por decocção de partes das

plantas; dose pó-de-caboclo, um contraveneno para cobras (e insetos também), elaborado a

base de plantas e fabricado em Feira de Santana, Bahia; permanganato de potássio em

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Page 37: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

23

concentrações desconhecidas, que é vendido em pequenos frascos, cujas doses dependem

da gravidade do caso.

É comum também encontrar no comércio cobras conservadas na cachaça, cujo

conteúdo é indicado contra acidentes ofídicos. As espécies identificadas conservadas no

álcool são: as colubrídeas Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron & Duméril, 1854;

Leptodeira annulata L., 1758, Liophis poecilogyrus (Wied, 1825) a leptototiflopídea

Leptotyphlops sp e a elapídea Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820). O �Específico

Pessoa�, fabricado em Sobral, Ceará, com propaladas atividades antiofídicas, não é

comercializado na região de Sergipe.

As rezas e benzeduras também fazem parte dos tratamentos populares alternativos,

cujos ritos são praticados por benzedores locais, homens e mulheres. Fazem parte dos

rituais benzer as pessoas e partes vegetais que servem de amuleto contra picadas de cobras,

como a semente do cajú; rezar sobre a parte do corpo atingida pela serpente, benzer

líquidos (geralmente água) que devem ser bebidos de acordo com as prescrições, as quais

incluem doses certas e horários pré-estabelecidos que variam conforme o caso e o

benzedor. Humanos e animais, mais comumente eqüinos e bovinos, quando sofrem

acidentes ofídicos são tratados da mesma forma pelos benzedores.

Fitoterapia

Três plantas do semi-árido de Curituba e arredores são indicadas por benzedores e

moradores locais como tendo ações antiofídicas: batata-de-teiú (Apodanthera villosa

C.Jeffrey, Cucurbitaceae), cabeça-de-negro (Apodanthera glaziovii Glaziou ex Cogniaux,

Cucurbitaceae) e pinhão-bravo (Jatropha mollissima (Pohl) Baill., Euphorbiaceae). As

duas cucurbitáceas são muito semelhantes, ambas são trepadeiras, mas podem ser

encontradas também no chão, as flores são bem pequenas e têm raízes tuberosas, a da

batata-de-teiú é mais compridada. O preparado antiofídico com as cucurbitáceas é

elaborado com base na fécula da raíz, formando uma papa com a recomendação de ser

utilizada em doses baixas. O pinhão-bravo é um arbusto de 1- 3 metros de altura, bem

ramificado, casca do caule adulto acinzentado. Esta planta tem um látex muito branco, o

qual é indicado para beber direto da planta em caso de acidente ofídico.

Page 38: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

24

Estas foram as plantas da caatinga coletadas para verificação das atividades

antiofídicas. Em todas as feiras percorridas na região da caatinga de Sergipe e parte da

Bahia, até Feira de Santana, as plantas cabeça-de-negro e batata-de-teiú são conhecidas

como antiofídicas, mas várias espécies são confundidas sob estes nomes. Infelizmente não

foi possível coletar estas plantas para identificar, além do que o material fornecido pelos

feirantes estava preparado na forma de pó ou partes cortadas. Na região de Peixe, no rio

Tocantins, Estado homônimo, uma planta conhecida como batata-de-teiú (Jatropha

elliptica (Pohl) Muell. Arg., Euphorbiaceae) é indicada como antiofídica e foi também

testada a sua eficácia, juntamente com as plantas coletadas na região de Curituba.

Soroterapia

O soro antiofídico é, em Sergipe, aplicado na unidade regional de saúde mais

próxima de onde o acidente ocorreu. O caso é notificado e encaminhado para o setor de

vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde; posteriormente é arquivado no

setor de vigilância ambiental da saúde. No setor estadual de vigilância epidemiológica as

notificações dos acidentes ofídicos estão informatizadas de 1999 a 2002, de acordo com o

programa implantado em 2003 pelo Centro Nacional de Epidemiologia da Fundação

Nacional da Saúde � Sistema de Informação de Agravo de Notificação, Dicionário de

Dados � SINAN, Animais Peçonhentos. As informações anteriores a 1999 encontram-se

dispersas e de difícil acesso.

Em Sergipe funcionam seis regionais de saúde e uma metropolitana, com as

seguintes sedes: Regional Metropolitana � Aracaju, Hospital João Alves Filho; 1a Regional

� Estância, Hospital Regional Amparo de Maria; 2a � Itabaiana, Hospital Pedro Garcia

Moreno Filho; 3a � Maruim, Hospital de Maruim; 4a � Nossa Senhora da Glória, Hospital

João Alves Filho; 5a � Neópolis, Hospital de Neópolis; 6

a � Lagarto, Hospital Nossa

Senhora Conceição (Figura 2). São estes hospitais regionais que recebem os soros

antiofídicos da Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos

(Cenadi/Ministério da Saúde) através da Secretaria Estadual da Saúde de Sergipe, a qual os

repassa para as regionais de saúde onde os casos de acidentes ofídicos são encaminhados.

Page 39: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

25

Figura 2. Localização das regionais de saúde e os domínios

morfoclimáticos das regiões de Sergipe (segundo Ab�Saber, 1977). M =

Regional Metropolitana, Aracaju; I = 1a Regional, Estância; II = 2a

Regional, Itabaiana; III = 3a Regional, Maruim; IV = 4a Regional, Nossa Senhora da Glória; V = 5

a Regional, Neópolis; VI = 6a Regional, Lagarto.

De oeste para leste: caatinga (áreas hachuradas), agreste e mata atlântica.

Dentre os 95 casos de envenenamentos ofídicos registrados em Sergipe durante 1999

a 2002, observamos que: i) 61 dos acidentados (64%) receberam soroterapia, ii) foram

utilizadas 319 ampolas de soro antibotrópico, 46 de antibotrópico-crotálico, 6 de

anticrotálico e 10 de antielapídico, iii) 34 casos (36%) não estão notificados se receberam

ou não antivenenos, embora os sintomas estejam registrados, iv) em 6 casos a soroterapia

foi aplicada sem constar o gênero da serpente que causou o acidente, v) cinco registros de

acidentes ofídicos nas notificações não indicam se a soroterapia foi ou não utilizada. Nas

notificações também constam que em alguns casos de envenamentos por Crotalus foi

utilizado soro antibotrópico (4 ampolas) e antibotrópico-crotálico (3 ampolas); em outros

constam os registros de envenenamento crotálico, mas não informam a soroterapia

utilizada. Nas notificações dos dois casos de acidentes por Lachesis não constam se os

acidentados receberam ou não soroterapia. A Tabela 1 mostra a distribuição de freqüência

dos soros utilizados em Sergipe.

W

Oceano Atlântico

Rio São Francisco

Page 40: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

26

Tabela 1. Distribuições de freqüências do número de ampolas de soros antiofídicos utilizados em Sergipe.

1999 2000 2001 2002

ampolas f ampolas f ampolas f ampolas f

1 1 1 1 4 2 5 2 2 1 2 1 6 3 6 2 3 1 3 1 8 2 8 3 4 8 4 2 10 2 5 2 6 12 7 1 8 5

Ant

ibot

róp

ico

10 3

Soma 197 14 62 46

3 1 3 3 1 1 4 1 4 1 5 1 5 1 7 1 12 8 1 A

ntib

otró

pic

o-

crot

álic

o

Soma 27 18 1

2 1 4 1

Ant

icro

táli

co

Soma 2 4

Ant

iela

-pí

dic

o

10 1

Soma 10

Incidência dos acidentes ofídicos

Foram notificados 95 acidentes ofídicos em Sergipe entre 1999-2002; os

coeficientes de incidência anual variaram de 0,16 a 0,88 caso por 10000 habitantes da zona

rural (Tabela 2).

Dentre os casos registrados, em apenas 55 (58%) constam os gêneros das serpentes

nas notificações: 48 casos foram causados por Bothrops, 4 por Crotalus, 2 por Lachesis e

1 caso por Micrurus; quatro casos foram notificados como tendo sido causados por

serpentes não peçonhentas (Tabelas 3)

Page 41: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

27

Tabela 2. Coeficientes de incidência anuais dos acidentes ofídicos

em Sergipe (1999-2002).

1999 2000 2001 2002 Soma

43 8 23 21 95 (0,88) (0,16) (0,46) (0,42)

( ) coeficiente de incidência/10000 habitantes da zona rural. Média da população rural no período foi 493549 habitantes (IBGE, 2000).

Tabela 3. Distribuição anual dos acidentes ofídicos por gênero

de serpente.

1999 2000 2001 2002 Soma

Bothrops 26 4 7 11 48

Crotalus 1 0 3 0 4

Micrurus 0 0 0 1 1

Lachesis 0 0 2 0 2

Soma 27 4 12 12 55

Não-peçonhenta 2 0 1 1 4

Idade e sexo

A proporção dos acidentes ofídicos variou significativamente com relação à idade

dos acidentados; pessoas de ambos os sexos foram mais atingidas na faixa etária até os 20

anos (2 = 34.07; p<0.001). A proporção dos acidentados também foi diferente entre os

sexos; (2 = 20.59; p<0.001); os homens foram duas vezes mais acidentados do que as

mulheres (Tabela 4).

Tabela 4. Distribuições dos acidentes ofídicos por idade, sexo. (f

freqüência observada; (fi) freqüência esperada). Intervalos de Idade 1-20 21-40 41-60 >60 Soma

f 45 25 18 6 94 (fi) (23.5) (23.5) (23.5) (23.5) Hipótese nula: proporções 1:1:1:1 2 = 34.07; p<0.001 Sexo ♀ ♂ n f 25 69 94 f(i) (47) (47) Hipótese nula: proporção 1:1 2 = 20.59; p<0.001

Page 42: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

28

Sazonalidade

A proporção dos acidentes ofídicos entre os períodos seco e chuvoso foi

significantemente diferente (2=13.78; p<0.001); o predomínio dos casos foi durante os

meses secos (Tabela 5).

Com relação a uma possível associação entre sexo, período analisado (1999-2002) e

sazonalidade, as freqüências anuais de acidentes foram proporcionalmente iguais entre

homens e mulheres (2 = 1.15; p>0.05); a proporção de acidentes entre os sexos dos

acidentados e os períodos chuvoso e seco também não foi significantemente diferente (2 =

1.33; p>0.05; Tabela 6).

Tabela 5. Sazonalidade dos acidentes ofídicos: proporção entre períodos

seco (verão) e chuva (inverno). (fi, freqüência observada; (fi) freqüência

esperada). Período Verão Inverno Soma

f 65 29 94 (fi) (47) (47) Hipótese nula: proporção 1:1 2 = 13.78; p<0.001

Tabela 6. Acidentes ofídicos: associações entre sexo dos acidentados, período analisado e sazonalidade. Ano Sexo 1999 2000 2001 2001 Soma

♂ 30 7 16 16 69 ♀ 12 1 7 5 25

Soma 42 8 23 21 94

2 = 1.15; p>0.05

Sazonalidade Sexo Verão Inverno Soma

♂ 50 19 69 ♀ 15 10 25

Soma 65 29 94

2 = 1.33; p>0.05

Page 43: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

29

Regiões de ocorrência

A região de Sergipe, está situada nos domínios morfoclimáticos da Mata Atlântica e

da caatinga, separados por uma faixa de agreste, a qual é uma caatinga mitigada paralela à

costa (Vanzolini, 1972, ver Figura 2). Os acidentes ofídicos são atendidos nas regionais de

saúde mais próximas onde ocorrem. Os três ecossistemas foram comparados com relação

ao ofidismo; a freqüência de acidentes foi bem menor na caatinga (2 = 34.77; p<0.001);

no agreste e áreas de mata as freqüências de acidentes foram praticamente iguais. As

regiões de agreste que apresentaram mais casos durante o período analisado foram Nossa

Senhora das Dores (11 casos) e Lagarto (7 casos), na Mata Atlântica as regiões que

apresentaram maior freqüência de acidentes ofídicos foram Estância (10 casos) e Aracaju

(8 casos). As Tabelas 7 e 8 mostram as freqüências de acidentes ofídicos nos ecossistemas

Tabela 7. Proporção de acidentes ofídicos por região. (f, freqüência observada; (fi) freqüência esperada).

Caatinga Agreste Mata Atl. Soma

f 5 49 41 95

(fi) (31.6) (31.6) (31.6)

Hipótese nula: proporções 1:1:1 2 = 34.77; p<0.001

Tabela 8. Distribuições de freqüências dos acidentes ofídicos (1999-2002) por regiões. As populações são

citadas no Censo Demográfico, 2000, IBGE.

Caatinga Pop. rural f Agreste Pop. rural f Mata Atlântica Pop. rural f

Carira 8327 2 Areia Branca 8015 1 Aracaju* 461534 8 Frei Paulo 5643 1 Arauá 5745 1 Brejo Grande 3155 2 Monte A. de Sergipe 5119 1 Cristinápolis 7823 1 Carmópolis 1746 1 Porto da Folha 16952 1 Canhoba 2370 1 Estância 8148 10

Cumbe 1516 1 Indiaroba 8471 1 Gararu 8375 1 Itaporanga d�Ajuda 16323 2 Itabaianinha 19895 3 Neópolis 8092 5 Itabaiana 21341 5 Propriá 3818 3 Laranjeiras 2347 4 Rosário do Catete 1445 3 Lagarto 42807 7 S. Amaro das Brotas 2588 1 Moita Bonita 7125 3 Santa Luzia do Itanhi 11363 1 N. Senhora das Dores 8671 11 São Cristóvão 1531 3 Pedrinhas 2531 2 N. Senhora do Socorro 400 1 Riachão do Dantas 14932 3 Riachuelo 1630 1 São Miguel do Aleixo 1968 1 Telha 1575 2 Umbaúba 8279 1

Soma 5 49 41

* Em Aracaju consta a população total. f = freqüência

Page 44: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

30

Sintomas e tempo decorrido entre o acidente e a soroterapia

A dor local foi um dos sintomas mais freqüentes. Quando o atendimento foi feito nas

3 primeiras horas após a picada, a proporção de indivíduos que relataram dor

(envenenamento botrópico) foi de 3:1 em relação aos que não relataram (2 = 0.03;

p>0.05). A proporção aumentou de 7:1 ocorreu nos casos em que o atendimento foi feito

após três horas de o acidentado ter sido picado pela cobra (2 = 0.22; p>0.05).

O edema (envenenamento botrópico) também foi um dos sintomas mais freqüentes

relatado nas notificações. Até 3 horas do acidente, a proporção de indivíduos que

apresentaram edema foi de 1:1 em relação aos que não apresentaram este sintoma (2 =

0.13; p>0.05); após este período, a proporção de indivíduos que apresentaram edema

aumentou de 7:1 em relação aos que não apresentaram este sintoma (2 = 0.22; p>0.05),

indicando persistência e aumento do edema após as 3 primeiras horas.

Com relação ao eritema e sangramento local (características do envenenamento

botrópico), nas 3 primeiras horas entre a picada e o atendimento a proporção de

acidentados que apresentaram e não apresentaram eritema foi de 1:3 (2 = 0.34; p>0.05); a

mesma proporção de 1:3 ocorreu entre os acidentados que apresentaram e não

apresentaram sangramento local (2 = 0.01; p>0.05). Após três horas do acidente, a

proporção aumentou de 1:4 entre aqueles acidentados que apresentaram e não

apresentaram eritema (2 = 0.88; p>0.05) e aumentou de 1:6 entre os que apresentaram e

não apresentaram sangramento local (2 = 0.1; p>0.05). As distribuições dos sintomas

locais mais freqüentes nas notificações dos acidentes ofídicos de Sergipe podem ser

observados na Tabela 9.

A Tabela 10 mostra os demais sintomas relatados nas notificações: necrose,

equimose, abcesso e bolha, gengivorragia e tempo de coagulação alterado, oligúria e anúria

(envenenamento botrópico); mialgia, urina escura, ptose palpebral e diplopia

(envenenamentos crotálicos e elapídico) e urina escura (envenenamento crotálico).

Com relação à letalidade, não houve notificação de óbito durante o período

analisado.

Page 45: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

31

Tabela 9. Acidentes ofídicos, Sergipe (1999-2002): sintomas locais mais freqüentes nas três horas

do acidente e após este período. (f freqüência observada; (fi) freqüência esperada).

Até 3 horas Soma Após 3 horas Soma

Dor Dor Sim Não Sim Não

f 50 16 66 16 3 19

(fi) (44) (22) (12.66) (6.33)

Ho: a proporção é 3:1 Ho: a proporção é 7:1

2 = 0.03; p>0.05 2 = 0.22; p>0.05

Edema Edema Sim Não Sim Não

f 34 31 65 16 3 19

(fi) (32.5) (32.5) (12.66) (6.33)

Ho: a proporção é 1:1 Ho: a proporção é 7:1

2 = 0.13; p>0.05 2 = 0.22; p>0.05

Eritema Eritema Sim Não Sim Não f 14 50 64 4 14 18

(fi) (21.33) (42.66) (6) (12)

Ho: a proporção é 1:3 Ho: a proporção é 1:4

2 = 0.34; p>0.05 2 = 0.08; p>0.05

Sangramento local Sangramento local Sim Não Sim Não f 17 50 67 2 10 12

(fi) (22.33) (44.66) (4) (8)

Ho: a proporção é 1:3 Ho: a proporção é 1:6

2 = 0.01; p>0.05 2 = 0.1; p>0.05

Page 46: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

32

Tabela 10. Envenenamentos ofídicos, Sergipe: alterações locais e sistêmicas. 1999 2000 2001 2002 1999 2000 2001 2002 Abcesso Bolha

Sim 1 0 1 1 1 1 4 0 Não 38 8 22 17 38 7 19 19

Soma 39 8 23 18 39 8 23 19

Necrose Gengivorragia

Sim 0 0 1 0 1 0 0 1 Não 40 8 22 18 37 6 19 14

Soma 40 8 23 18 38 6 19 15

Tempo de coagulação alterado Diplopia

Sim 2 0 3 1 2 1 1 0 Não 37 6 13 15 37 6 18 20

Soma 39 6 16 16 39 7 19 20

Ptose palpebral Mialgia

Sim 0 0 1 0 5 0 5 2 Não 40 7 20 19 35 7 15 16

Soma 40 7 21 19 40 7 20 18

Urina escura Oligúria

Sim 0 0 2 1 0 0 0 3 Não 38 7 18 17 39 7 20 15

Soma 38 7 20 18 39 7 20 18

Anúria

Sim 0 0 0 1 Não 39 7 20 17

Soma 39 7 20 18

Partes do corpo atingidas e gravidade dos casos

As partes mais atingidas foram os pés e pernas (66 casos, aproximadamente 70%),

seguida das mãos e braços (15 casos), cabeça (2 casos) e tórax (1 caso). As proporções

entre as partes do corpo atingidas foi de 12:3:1:1; respectivamente, pés e pernas, mãos e

braços, cabeça e tórax (2 = 5.66; p>0.05).

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde de Sergipe, os acidentes ofídicos

ocorridos na região foram classificados em três categorias: leves, moderados e graves; a

maioria dos casos foi classificada como leve (Tabela 11).

Tabela 11. Classificação de acidentes ofídicos de Sergipe quanto

à gravidade dos casos . 1999 2000 2001 2002 Soma

Leves 34 3 13 16 66 Moderados 7 0 3 3 13 Graves 1 0 2 1 4 Soma 42 3 18 20 83

Page 47: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

33

2. Parâmetros biológicos do veneno de B. jararaca

i) Dose letal 50% (DL50)

Dados brutos experimentais: Os quatro experimentos realizados variaram com

relação à proporção de animais mortos e inoculados; no geral apresentaram proporção de

acordo com o aumento das doses, mas com variações extremas. Para diminuir as variações

os experimentos foram agrupados (Tabela 12).

Regressão linear e DL50: As análises mostraram valores diferentes para os

coeficientes das regressões (b), bem como para as constantes das regressões (a), devido às

variações nas proporções entre animais mortos e inoculados para as mesmas doses. As

DL50 de cada experimento variaram entre 32.8 a 44.1g e a análise conjunta entre os

quatro experimentos mostrou valores intermediários para os parâmetros da regressão e da

DL50, quando comparado com os valores dos experimentos (Tabela 13).

Valores probíticos das doses: As doses dos quatro experimentos foram

logaritmizadas e substituídas nas respectivas equações de regressões (uma para cada

experimento) para encontrar o valor probítico de cada dose (Tabela 14). As análises de

regressões dos valores probíticos (y) sobre as dosagens (x) também apresentaram variações

entre os coeficientes das regressões. Por isso foi necessário fazer uma comparação entre as

quatro retas, para encontrar uma equação geral que descrevesse os valores probíticos para a

dose letal 50% que representasse todos os experimentos, permitindo assim o

aproveitamento de todos os dados (Tabela 15).

As retas diferiram quanto ao paralelismo (F0.05(1)3;12=16.927; p<0.001) e afastamento

(F0.05(1)3;12=47.684; p<0.001) (Figura 3). A dose letal 50% da equação geral obtida através

da comparação entre as 4 retas dos experimentos foi 37.1g, valor próximo da DL50 da

análise probítica conjunta utilizando o método da OMS, que foi 37.09g. Os coeficientes e

constantes das regressões foram também semelhantes entre os dois métodos. Assumi então

que as doses letais 50% não são diferentes quando determinadas utilizando as comparações

entre as retas e o método probítico da OMS (Tabela 16).

Page 48: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

34

Tabela 12. Bothrops jararaca, proporção entre camundongos

mortos e inoculados, após 48 horas de observação.

Dose de veneno (µg) Experimentos

I II III IV Soma

23.0 0/6 1/6 1/6 0/6 2/24 27.6 0/6 0/6 2/6 0/6 2/24 32.1 1/6 4/6 2/6 0/6 7/24 39.7 0/6 5/6 5/6 3/6 13/24 47.6 5/6 5/6 5/6 6/6 21/24

Tabela 13. Bothrops jararaca, DL50 do veneno: programa probítico da OMS. b a y=a+bx Iy DL50 (µg)

Experimento I 9.0153 - 9.8323 - 9.8323+9.0153x 38.1272±67.9041 44.1810

Experimento II 8.076 - 7.2535 - 7.2535+8.076x 26.6044±39.5182 32.9051

Experimento III 6.6686 - 5.1133 - 5.1133+6.6686x 25.5320±41.6518 32.852

Experimento IV 13.0515 - 15.7375 - 15.7375+13.0515x 34.8539±45.1052 38.8054

Análise conjunta 8.283 - 7.9989 - 7.9989+8.283x 34.4318±40.4588 37.0962

b = coeficiente de regressão a = constante de regressão Iy = limite de confiança inferior e superior DL50 = dose letal 50 %, y=5

Tabela 14. Bothrops jararaca, valores probíticos do número de camundongos mortos (y) sobre a concentração de veneno (x): programa probítico da OMS. Dose de veneno (g) Experimento I Experimento II Experimento III Experimento IV

x y x y x y x y

23.0 1.36 3.44 1.36 3.74 1.36 3.96 1.36 2.03 27.6 1.44 3.15 1.44 4.38 1.44 4.49 1.44 3.06 33.1 1.51 3.86 1.51 5.02 1.51 5.02 1.51 4.09 39.7 1.59 4.58 1.59 5.65 1.59 5.54 1.59 5.12 47.6 1.67 5.29 1.67 6.29 1.67 6.07 1.67 6.15

x = log da dose y = probit

. Tabela 15. Bothrops jararaca, estatística da regressão do número de camundongos mortos (y) sobre a concentração de veneno (x): comparação entre retas

N b a y=a+bx F r2 DL50 (µg)

Experimento I 5 6.4809 -5.7809 -5.7809+6.4809 19.6354* 0.86 44.1810

Experimento II 5 8.2687 -7.5028 -7.5028+8.2687 5875.226*** 0.99 32.5091

Experimento III 5 6.8408 -5.3409 -5.3409+6.8408 5688.69*** 0.99 32.8520

Experimento IV 5 13.0594 -15.7445 -15.7445+13.0594 367020.3*** 0.99 38.8054

Comparação das 4 retas 20 8.5801 -8.4705 -8.4705+8.5801 16.9279* - 37.1509

N = amostras b = coeficiente de regressão a = constante de regressão F = Variância maior/variância menor r2 = coeficiente de determinação DL50 = dose letal 50%, y = 5

Page 49: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

35

Tabela 16. Bothrops jararaca, DL50 do veneno, comparação entre retas e programa probítico da

OMS.

Método b x y a Reta Probit (y=5) DL50

m retas, 4 experimentos 8.5801 1.5174 4.5489 -8.4705 y=-84705+8.5801x 1.5699 37.1509

análise conjunta, 4 experimentos 8.2830 - - 7.9989 y=-7.9989+8.2830x - 37.0962

b = coeficiente de regressão a = constante de regressão x = média do log da dose y = média dos probits DL50 = dose letal 50%, y=5

1.36

Figura 3. Regressão dos valores probíticos sobre as dosagens: comparações

entre as retas. Experimentos I, II, III, IV.

1.67 1.59 1.51 1.44

3.0

2.0

4.0

5.0

6.0

II y= -7.5+8.26x

III y= -5.34+6.84x

IV y= -15.74+13.05x

I y= -5.78+6.48x

log dose

probit

Page 50: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

36

ii) Dose mínima hemorrágica (DMH)

Dados brutos experimentais: Os diâmetros das áreas hemorrágicas dos dois

experimentos variaram entre 5.0mm a 13.2mm (Tabela 17). A dose mínima hemorrágica

para uma área exata de 10mm de diâmetro foi determinada através de regressão linear do

diâmetro da área hemorrágica (y) sobre a concentração do veneno (x), cujos coeficientes e

constantes das duas regressões foram próximos. Apesar destes valores próximos, optei por

fazer uma análise conjunta, cujo resultado da DMH foi 0.24g, praticamente igual às doses

mínimas hemorrágicas de cada experimento, que foram 0.23g e 0.24g (Tabela 18).

Tabela 17. Bothrops jararaca, diâmetro da área hemorrágica. Dose de veneno (µg) Diâmetro da área hemorrágica (mm)

Experimento I

0.10 - - - - 0.14 5.75 6.28 9.30 11.05 0.18 5.17 6.58 6.86 7.57 0.22 9.44 9.51 10.34 11.56 0.26 10.09 10.34 10.40 12.86

Experimento II

0.14 4.78 5.75 6.28 6.77 0.18 6.38 8.05 8.44 9.44 0.22 8.95 9.09 10.34 10.58 0.26 9.23 10.02 10.02 10.02 0.30 11.05 11.78 12.15 13.25

Tabela 18. Bothrops jararaca, estatística da regressão do diâmetro da área hemorrágica (mm) sobre a

concentração de veneno. N R (x) R (y) b a F r2 DMH (µg)

Experimento I 16 0.10 - 0.26 5.75 - 12.86 30.375 2.869 8.527 * 0.3785 0.23

Experimento II 20 0.14 - 0.30 4.78 - 13.25 35.175 1.380 84.131*** 0.8238 0.24

Experimento I e II 36 0.14 - 0.30 5.75 - 13.25 32.688 2.140 53.170 *** 0.610 0.24

N = amostras R = intervalos de x e y b = coeficiente de regressão a = constante de regressão r2 = coeficiente de determinação DMH = dose mínima hemorrágica, y = 10mm

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37

3. Eficácia das plantas

i) Dose letal 50% (DL50)

Foram feitos nove experimentos (três para cada planta) com os extratos da raiz de

Apodanthera villosa, Apodanthera glaziovii e Jatropha mollisima. A DL50 destas plantas

foi obtida através da análise conjunta de todos os experimentos, utilizando probites. As

doses dos extratos variaram de 0.008-0.004g; 0.001-0.011g, 0.0003-0.04g,

respectivamente. Para a análise da dose letal 50% da Jatropha elliptica utilizei apenas um

experimento, porque o resultado foi coerente com a relação entre os animais

mortos/inoculados, proporcional ao aumento da concentração do extrato, cujas doses

variaram de 0.01-0.03g. A tabela 19 mostra a dose letal 50% de todas as plantas utilizadas;

o Apêndice 1 mostra os dados brutos da proporção de animais mortos/inoculados com

relação à concentração de extrato.

Tabela 19. Dose letal 50% (DL50) dos extratos das plantas. Planta b a y=a+bx Iy DL50 (g)

Apodanthera villosa 3.358 10.797 10.797+3.358x 0.0150.023 0.018

Apodanthera glaziovii 3.596 12.722 12.722+3.596x 0.00590.0089 0.007

Jatropha mollissima 1.831 9.910 9.910+1.831x 0.00130.003 0.002

Jatropha elliptica 6.193 15.691 15.691+6.193x 0.0130.023 0.018

b = coeficiente de regressão a = constante de regressão Iy = limite de confiança inferior e superior DL50 = dose letal 50 %, y=5

Page 52: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

38

ii) Inibição da letalidade

Homogeneidade entre os grupos controle

Foram realizados seis experimentos com as plantas; para cada experimento havia um

grupo controle. As amostras controles foram homogêneas entre si (F0.05(1)5;27=1.436;

p>0.05; Tabelas 20 e 21 e Apêndice 2), mas para as análises foram agrupados somente os

controles de cada planta.

Tabela 20. Bothrops jararaca, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da

distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).

Experimento N A x s CV Ix

I 6 2.66-3.66 3.0750.166 0.406 13.20 2.6483.502

II 6 2.53-4.23 3.1750.274 0.671 21.13 2.473.88

III 6 2.26-5.93 3.3750.642 1.574 46.63 1.7225.028

IV 5 2.70-3.75 3.1840.233 0.522 16.39 2.5363.832

V 5 3.00-4.93 3.6240.377 0.844 23.28 2.5764.672

VI 5 3.46-5.13 4.3320.324 0.725 16.73 3.4325.232

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 21. Bothrops jararaca, homogeneidade entre grupos controle: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h).

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 5 5.721 1.144

Erro 27 21.52 0.7971 1.436ns

Page 53: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

39

1. Apodanthera villosa

O primeiro experimento com o extrato da batata-de-teiú, para verificar a inibição da

letalidade do veneno, foi um estudo piloto para determinar os intervalos entre as doses do

extrato (Apêndice 3). Foram utilizados três grupos para comparações: um grupo controle,

cujos animais receberam apenas a dose desafio de veneno (74.2g) e dois grupos

experimentais, cujos animais foram inoculados com veneno incubado com doses diferentes

de extrato (0.74mg e 1.48mg, respectivamente). O tempo de sobrevida dos camundongos

foi o mesmo entre os grupos (F0.05(1)2;12=1.859; p>0.05; Tabelas 22 e 23).

Desse modo encontrei o menor e o maior intervalo de doses do extrato da batata-de-

teiú (0.74-1.48mg), que não neutralizaram o efeito letal do veneno. Após determinar essas

concentrações foram realizados quatro experimentos utilizando a concentração de 1mg de

extrato - porque nesta concentração o extrato aumentou o tempo de sobrevida-, os quais

foram homogêneos (F0.05(1)3;42=0.857; p>0.05. Tabelas 24 e 25).

Como os grupos controles e experimentais foram homogêneos, agrupei os dados de

cada grupo, comparando-os através de um teste de t (Student): o resultado foi significante,

indicando que o extrato da batata-de-teiú (1mg) aumentou o tempo de sobrevida dos

camundongos (t0.05(1);45=2.084; p<0.05; Tabela 26 e Apêndice 4).

Tabela 22. Apodanthera villosa, estudo piloto: estatística da distribuição de freqüência do tempo de

sobrevida dos camundongos (h).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix

Controle 74.2 - 3 1.28-2.45 1.9930.361 0.625 31.35 0.43863.548

Extrato 74.2 0.74 6 1.46-3.21 2.270.229 0.562 24.75 1.682.86

74.2 1.48 6 0.75-2.15 1.650.213 0.523 31.69 1.1012.199

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança

Page 54: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

40

Tabela 23. Apodanthera villosa, estudo piloto: Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 2 1.156 0.5779

Erro 12 3.731 0.3109 1.859 ns

Tabela 24. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).

Experimento N A x s CV Ix

I 8 1.56-48.00 14.1547.391 20.905 147.6 -3.32631.633

II 16 1.66-48.00 5.8682.82 11.28 192.2 -0.14111.877

III 16 1.76-48.00 7.8693.917 15.668 199.1 -0.47716.217

IV 8 2.3-3.38 2.8180.158 0.388 13.76 2.4113.226

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 25. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 3 529.95 176.65

Erro 42 8650.7 205.97 0.857 ns

Tabela 26. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix t

Controle 74.2 - 23 2.26-5.93 3.2031.182 0.875 27.31 2.8253.581 2.084 **

Extrato 74.2 1.0 46 1.56-48.0 7.6092.106 14.283 187.7 3.36411.854

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Page 55: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

41

2. Apodanthera glaziovii

Foram realizados três experimentos com o extrato da cabeça-de-negro (1mg); as

amostras foram homogêneas (F0.05(1)2;31=2.872; p>0.05. Tabelas 27 e 28) e agrupadas nas

análises seguintes. Além desta dose de extrato foram também testadas as doses de 1.48mg,

3.0mg e 5.0mg, de acordo com a DL50 do extrato (ver tabela 19). Quando comparadas com

o grupo controle nenhuma dose alterou o tempo de sobrevida dos camundongos

(F0.05(1)4;63=0.544; p>0.05. Tabelas 29 e 30 e Apêndice 5).

Tabela 27. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da

distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).

Experimento N A x s CV Ix

I 6 2.13-48.0 10.7157.468 18.292 170.7 -8.48429.914

II 5 2.23 2.230.0 0.0 0.0 2.23

III 23 2.05-4.3 2.930.115 0.551 18.8 2.6913.168

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 28. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 2 311.20 155.60

Erro 31 1679.6 54.182 2.872 ns

Tabela 29. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos

camundongos (h).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix

Controle 74.2 - 16 2.26-5.93 3.6140.284 1.138 31.48 3.004.221

Extrato 74.2 1.00 34 2.05-48.0 4.2011.332 7.767 184.8 1.4896.912

74.2 1.48 6 2.16 2.160.0 0.0 0.0 2.16

74.2 3.00 6 1.35-3.45 2.0270.3 0..737 36.35 1.2532.8

74.2 5.00 6 1.06-1.56 1.2970.08 0.218 16.80 1.0681.526

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Page 56: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

42

Tabela 30: Apodanthera glaziovii, Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 4 69.532 17.383

Erro 63 2013.2 31.956 0.544 ns

3. Jatropha mollissima

Foram realizados dois experimentos com o extrato do pinhão-bravo (1mg), os quais

foram homogêneos (t0.05(2)10=0.991; p>0.05; Tabela 31) e agrupados para comparação com

o grupo controle. O extrato aquoso do pinhão-bravo não alterou o tempo de sobrevida dos

animais (t0.05(1)19=0.631; p>0.05. Tabela 32 e Apêndice 6).

Tabela 31. Jatropha mollissima, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de freqüência do tempo

de sobrevida dos camundongos (h).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix t

Controle 74.2 - 6 2.35-48.0 10.0187.597 18.608 185.7 -9.51229.549 0.991 ns

Extrato 74.2 1.0 6 1.55-3.33 2.4850.254 0.623 25.07 1.833.14

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 32. Jatropha mollissima: estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix t

Controle 74.2 - 10 2.70-5.13 3.7580.268 0.849 22.59 3.1514.365 0.631 ns

Extrato 74.2 1.0 16 1.55-48.0 6.5174.15 13.763 211.1 -2.72815.763

Page 57: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

43

4. Jatropha elliptica

Foram feitos cinco experimentos com o extrato da batata-de-teiú, com doses

variando entre 0.74-10mg (ver tabela 19 e Apêndice 7). Não houve alterações

significativas no tempo de sobrevida dos camundongos submetidos ao veneno mais o

extrato (F0.05(1)5;39=0.727; p>0.05. Tabela 34). A tabela 33 mostra a estatística da

distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos animais.

Tabela 33. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos

camundongos (h).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix

Controle 74.2 - 11 2.66-4.93 3.3250.202 0.670 20.15 2.8743.775

Extrato 74.2 0.74 6 2.25-3.26 2.9450.144 0.353 11.98 2.5743.316

74.2 1.00 6 2.00-3.53 2.8420.207 0.508 17.87 2.3083.375

74.2 1.48 6 1.63-3.38 2.730.247 0.605 22.16 2.0943.366

74.2 5.00 8 1.48-48.0 7.8415.74 16.236 207.0 -5.73421.417

74.2 10.00 8 1.4-2.68 2.0830.196 0.555 26.64 1.6182.547

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 34. Jatropha elliptica, Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 5 173.16 34.632

Erro 39 1855.6 47.580 0.727 ns

Page 58: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

44

iii) Inibição da hemorragia local

1. Apodanthera villosa

Foram realizados três experimentos de hemorragia local com o veneno e extrato da

batata-de-teiú (1.0, 3.0 e 6.0mg); para cada experimento havia um grupo controle. O

primeiro passo foi verificar a homogeneidade entre os grupos controles; as amostras foram

homogêneas (F0.05(1)2;7=3.273; p>0.05; Tabelas 35 e 36). Para cada dose de extrato, o

experimento foi repetido duas vezes; como as amostras apresentaram homogeneidade,

foram agrupadas nas demais comparações (ver Tabela 37 e Apêndice 8).

Com relação ao diâmetro da área hemorrágica induzida pelo veneno de B. jararaca,

os resultados mostraram diferenças significativas entre os camundongos do grupo controle

e dos grupos experimentais (F0.05(1)3;31=49.84; p<0.001; Tabelas 38 e 39). Comparado com

o grupo controle, o extrato aquoso de A. villosa nas concentrações de 1.0, 3.0 e 6.0mg

reduziu o diâmetro da área hemorrágica induzida pelo veneno (q0.05;4;31=6.078; p<0.05,

q0.05;4;31=12.349; p<0.05 e q0.05;4;31=15.887; p<0.05, respectivamente; Figura 4). Embora as

doses de 3.0mg e 6.0mg do extrato tenham apresentado reduções estatisticamente próximas

nos diâmetros das áreas hemorrágicas (q0.05;4;31=3.357; p>0.05), estas foram diferentes

quando comparadas com a dose de 1mg (q0.05;4;31=6.307; p<0.05 e q0.05;4;31=9.762; p<0.05).

A tabela 40 mostra estas comparações.

Tabela 35. Apodanthera villosa, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).

Experimento N A x s CV Ix

I 4 16.31-20.25 18.080.986 1.973 10.91 14.94121.219

II 3 16.62-19.61 18.1170.863 1.495 8.25 14.40321.831

III 3 12.91-17.44 14.4871.478 2.560 17.67 8.12820.846

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 36. Apodanthera villosa, homogeneidade entre grupos controle: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 2 27.355 13.678

Erro 7 29.249 4.178 3.273 ns

Page 59: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

45

Tabela 37. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de freqüência

do diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de

extrato/animal Experimento N A x s CV Ix t

I 5 9.77-14.45 12.1520.84 1.88 15.47 9.81814.486 1mg II 4 12.05-13.25 12.4530.273 0.547 4.39 11.58213.323

0.305 ns

I 4 4.06-9.77 6.6331.202 2.404 36.24 2.80710.458 3mg II 4 3.90-11.17 7.5631.531 3.062 40.48 2.69112.434

0.477 ns

I 4 4.65-6.48 5.5430.385 0.77 13.89 4.3166.769 6mg II 4 7.98 2.9701.906 3.81 128.3 -3.0969.036

1.323 ns

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 38. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica

(mm).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix

Controle 1.2 - 10 12.91-20.25 17.0130.793 2.508 14.74 15.21918.807

Extrato 1.2 1.0 9 9.77-14.45 12.2860.460 1.380 11.23 11.22513.347

1.2 3.0 8 3.90-11.17 7.0980.918 2.597 36.58 4.9269.269

1.2 6.0 8 7.98 4.2561.023 2.894 67.99 1.8366.676

Tabela 39. Apodanthera villosa, Anova, diâmetro da área hemorrágica

(mm). Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 3 856.91 285.64

Erro 31 177.66 5.731 49.84 ***

Tabela 40. Apodanthera villosa (E), teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm).

Comparação Média

Controle x E1 4.727 ***

Controle x E2 9.916 ***

Controle x E3 12.757 ***

E1 x E2 5.188 ***

E1 x E3 8.029 ***

E2 x E3 2.841 ns

Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg)

Page 60: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

46

Figura 4. Apodanthera villosa, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle (veneno).*** inibição significativa da hemorragia

1mg*** de extrato e 1.2g de veneno 3mg*** de extrato e 1.2g de veneno

6mg*** de extrato e 1.2g de veneno Grupo controle: 1.2g de veneno

Page 61: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

47

2. Apodanthera glaziovii

Foram realizados dois experimentos com o extrato da cabeça-de-negro. Em cada

experimento o extrato foi testado nas doses de 1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg e comparados com o

grupo controle (Apêndice 9). As amostras controles foram homogêneas (t0.05(2)5=0.015;

p>0.05; Tabela 41), assim como entre as doses de extrato (Tabela 42).

Os diâmetros das áreas hemorrágicas induzidas pelo veneno foram significantemente

diferentes entre os camundongos dos grupos controles e experimentais (F0.05(1)4;34=18.428;

p<0.001; Tabelas 43 e 44). O extrato aquoso de A. glaziovii nas concentrações de 1.0, 3.0,

6.0 e 10mg reduziu o diâmetro da área hemorrágica quando comparado com o grupo

controle (Tukey: q0.05;5;34=6.745; p<0.05, q0.05;5;34=6.932; p<0.05; q0.05;5;34=11.272; p<0.05

e q0.05;5;34=9.771; p<0.05, respectivamente; Figura 5). A significância das áreas

hemorrágicas foram iguais entre as concentrações de 1.0mg, 3.0 e 10.0mg (q0.05;5;34=0.194;

p>0.05, q0.05;5;34=3.133; p>0.05 e q0.05;5;34=2.938; p>0.05) e entre 6.0 e 10.0mg

(q0.05;5;34=1.553; p>0.05); mas foram diferentes entre as concentrações de 1.0 e 6.0mg

(q0.05;5;34=4.686; p<0.05) e 3.0 e 6.0mg (q0.05;5;34=4.492; p<0.05). A Tabela 45 mostra as

comparações simultâneas entre as médias de todos os grupos testados.

Tabela 41. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).

Experimento N A x s CV Ix t

I 4 12.91-16.89 14.4630.85 1.702 11.76 11.75517.170 0.015 ns

II 3 12.91-17.44 14.4871.478 2.56 17.67 8.12820.846

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Page 62: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

48

Tabela 42. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de

freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de extrato Experimento N A x s CV Ix t

I 4 4.51-12.26 9.5351.733 3.466 36.35 4.02115.049 1mg II 4 5.86-12.10 9.3431.442 2.884 30.86 4.75413.931

0.085 ns

I 2 8.66-8.95 8.8050.145 0.205 2.32 6.96310.647 3mg II 6 8.52-10.15 9.4630.267 0.655 6.92 8.77510.152

1.334 ns

I 4 4.65-6.58 5.2950.442 0.884 16.69 3.8876.703 6mg II 4 5.75-9.09 6.8250.763 1.527 22.37 4.3959.255

1.734 ns

I 4 5.64-6.77 6.390.257 0.514 8.04 5.5727.208 10mg II 4 5.17-12.91 7.971.73 3.46 43.41 2.46513.475

0.903 ns

N = amostras A = amplitude x = média erro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 43. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica

(mm).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix

Controle 1.2 - 20 12.91-22.20 17.1750.623 2.789 16.23 15.86918.48

Extrato 1.2 1.0 8 4.51-12.26 9.4391.044 2.953 31.28 6.96911.908

1.2 3.0 8 8.52-10.15 9.2990.225 0.637 6.85 8.7669.832

1.2 6.0 8 4.65-9.09 6.0600.500 1.416 23.36 4.8767.244

1.2 10.0 8 5.17-12.91 7.1800.862 2.441 33.99 5.1399.221

N = amostras A = amplitude x = média erro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 44. Apodanthera glaziovii, Anova, diâmetro da área hemorrágica

(mm). Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 4 306.60 76.651

Erro 34 141.42 4.159 18.428 ***

Page 63: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

49

Tabela 45. Apodanthera glaziovii (E), teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm).

Comparação média

Controle x E1 5.034 ***

Controle x E2 5.174 ***

Controle x E3 8.413 ***

Controle x E4 7.293 ***

E1 x E2 0.140 ns

E1 x E4 2.259 ns

E2 x E4 2.119 ns

E1 x E3 3.379 *

E2 x E3 3.239 *

E3 x E4 1.120 ns

Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg) E4 = veneno e extrato (10mg)

Page 64: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

50

Figura 5. Apodanthera glaziovii, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle (veneno).*** inibição significativa da hemorragia

1mg*** de extrato e 1.2g de veneno 3mg*** de extrato e 1.2g de veneno

6mg*** de extrato e 1.2g de veneno 10mg*** de extrato e 1.2g de veneno

Grupo controle: 1.2g de veneno

Page 65: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

51

3. Jatropha mollissima

Foram realizados quatro experimentos com as doses de 1.0, 3.0 e 6.0mg do extrato

do pinhão bravo (Apêndice 10). As amostras controles foram homogêneas e puderam ser

agrupadas para análise (F0.05(1)3;9=1.754; p>0.05; Tabelas 46 e 47), bem como o foram as

amostras de cada dose de extrato testada, as quais mostraram homogeneidade (Tabela 48).

Os diâmetros das áreas hemorrágicas induzidas pelo veneno mostraram diferenças

significantes entre os camundongos dos grupos controles e experimentais

(F0.05(1)3;39=25.712; p<0.001; Tabelas 49 e 50). Nas doses de 3.0 e 6.0mg o extrato reduziu

o diâmetro da área hemorrágica (q0.05;4;39=9.0; p<0.05 e q0.05;4;39=9.488; p<0.05; Tabela 40;

Figura 6). A dose de 1mg de extrato não foi significantemente diferente do controle

(q0.05;4;39=0.759; p>0.05; Tabela 51). As significâncias das áreas hemorrágicas foram iguais

entre as concentrações de 2.0 e 3.0mg (q0.05;4;39=0.192; p>0.05). As demais comparações

apresentaram variações com relação à significância (Tabela 51).

Tabela 46. Jatropha mollissima, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da

distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).

Experimento N A x s CV Ix

I 4 12.91-16.89 14.4630.85 1.702 11.76 11.75517.170

II 2 12.91-13.11 13.010.1 0.141 1.08 11.73914.281

III 2 14.93-16.43 15.680.75 1.061 6.76 6.15125.210

IV 5 12.10-14.67 13.7860.47 1.051 7.62 12.48115.091

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 47. Jatropha mollissima, homogeneidade entre os grupos controle: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 3 8.331 2.777

Erro 9 14.251 1.583 1.745 ns

Page 66: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

52

Tabela 48. Jatropha mollissima, homogeneidade entre os experimentos: estatística da distribuição de

freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de

extrato/animal Experimento N A x s CV Ix t

I 7 6.77-16.85 12.2391.408 3.724 30.42 8.79415.683 1mg II 4 13.82-17.48 16.0200.784 1.570 9.8 13.52318.517

1.901 ns

I 3 5.97-9.44 7.4831.026 1.777 23.74 3.06911.898 3mg II 6 4.51-10.03 7.1050.944 2.314 32.56 4.6769.534

0.246 ns

I 3 7.31-13.96 9.291.935 3.352 36.08 0.96217.617 6mg II 7 4.22-9.44 6.1260.686 1.816 29.64 4.4467.805

1.995 ns

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 49. Jatropha mollissima, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica

(mm).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix

Controle 1.2 - 13 12.10-16.89 14.1660.38 1.372 9.68 13.33714.995

Extrato 1.2 1.0 11 6.77-17.48 13.6141.07 3.564 26.17 11.22016.008

1.2 3.0 9 4.51-10.03 7.2320.68 2.042 28.23 5.6628.802

1.2 6.0 10 4.22-13.16 7.0750.83 2.652 37.48 5.1788.972

Tabela 50. Jatropha mollissima, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm). Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 3 487.04 162.35

Erro 39 246.24 6.314 25.712 ***

Tabela 51. Jatropha mollissima (E), teste de Tukey, diâmetro d área hemorrágica (mm).

Comparação Média

Controle x E1 0.5525 ns

Controle x E2 6.934 ***

Controle x E3 7.091 ***

E1 x E2 6.381 ***

E1 x E3 6.539 ***

E2 x E3 0.1572 ns

Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg)

Page 67: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

53

Figura 6. Jatropha mollissima, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle (veneno).*** inibição significativa da hemorragia; ns, não significante.

1mg ns de extrato e 1.2g de veneno 3mg*** de extrato e 1.2g de veneno

6mg*** de extrato e 1.2g de veneno Grupo controle: 1.2g de veneno

Page 68: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

54

4. Jatropha elliptica

Foram realizados quatro experimentos com as doses de 1.0, 3.0, 6.0 e 10mg do

extrato da batata-de-teiú (Apêndice 11). As amostras controles foram homogêneas e

puderam ser agrupadas para análise (F0.05(1)3;12=2.639; p>0.05; Tabelas 52 e 53), assim

como o foram as amostras de cada dose de extrato testada, as quais mostraram

homogeneidade (Tabela 54).

Os diâmetros das áreas hemorrágicas induzidas entre os camundongos dos grupos

controles e experimentais foram significantemente diferentes (F0.05(1)4;43=47.387; p<0.001;

Tabelas 55 e 56). O extrato nas doses de 6.0 e 10.0mg reduziu o diâmetro da área

hemorrágica (q0.05;5;43=14.988; p<0.05 e q0.05;5;43=15.560; p<0.05. Tabela 57; Figura 7). As

doses de 1.0 e 3.0mg de extrato não apresentaram diferenças significantes em relação ao

grupo controle (q0.05;5;43=4.024; p>0.05 e q0.05;5;43=3.071; p>0.05; Tabela 46). A

significância das áreas hemorrágicas foram iguais entre as concentrações de 1.0 e 3.0mg

(q0.05;5;43=0.677; p>0.05); 6.0 e 10.0mg (q0.05;5;43=1.014; p>0.05). As demais comparações

apresentaram variações com relação à significância (Tabela 57).

Tabela 52. Jatropha elliptica, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).

Experimento N A x s CV Ix

I 5 13.96-22.20 19.411.42 3.176 16.36 15.46923.355

II 5 16.31-20.25 18.5020.872 1.952 10.55 16.07920.925

III 3 16.62-19.61 18.1170.863 1.495 8.25 14.40321.831

IV 3 12.91-17.44 14.4871.478 2.560 17.67 8.12820.846

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 53. Jatropha elliptica, homogeneidade entre os grupos controle: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).

Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 3 48.276 16.092

Erro 12 73.162 6.097 2.639 ns

Page 69: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

55

Tabela 54. Jatropha elliptica, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de freqüência do

diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de

extrato/animal Experimento N A x s CV Ix t

I 5 13.61-20.09 15.9661.318 2.948 18.46 12.30619.626 1mg II 3 8.59-14.4 11.51.677 2.905 25.26 4.28318.717

2.093 ns

I 5 13.25-19.93 16.5141.255 2.806 16.99 13.03019.998 3mg II 2 8.37-14.27 11.322.95 4.172 36.85 -26.16348.803

1.620 ns

I 5 2.52-10.46 6.071.516 3.389 55.83 1.8630.280 6mg II 4 1.95-5.97 3.2330.927 1.855 57.37 10.2776.184

1.597 ns

I 4 2.76-6.38 4.190.777 1.555 37.11 1.7166.664 10mg II 4 2.76-3.9 3.3530.245 0.49 14.61 2.5734.132

1.027 ns

N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média

Tabela 55. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica

(mm).

Grupo Dose de

veneno (µg) Dose de

extrato (mg) N A x s CV Ix

Controle 1.2 - 16 12-91-22.2 17.9610.711 2.845 15.83 16.44519.477

Extrato 1.2 1.0 8 8.59-20.09 14.2911.261 3.567 24.95 11.30917.273

1.2 3.0 7 8.37-19.93 15.031.443 3.818 25.40 11.49918.561

1.2 6.0 9 1.95-10.46 4.8091.015 3.045 63.31 2.4697.149

1.2 10..0 8 2.76-6.38 3.7710.409 1.157 30.68 2.8034.739

Tabela 56. Jatropha elliptica, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm). Fonte da variação

Graus de liberdade

Soma dos quadrados

Quadrado médio

F

Grupos 4 1681.6 420.39

Erro 43 381.47 8.871 47.387 ***

Page 70: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

56

Tabela 57. Jatropha elliptica (E), teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm).

Comparação Média

Controle x E1 3.670 ns

Controle x E2 2.931 ns

Controle x E3 3.152 ***

Controle x E4 14.190 ***

E1 x E2 0.7387 ns

E1 x E3 9.482 ***

E1 x E4 10.520 ***

E2 x E3 10.221 ***

E2 x E4 11.259 ***

E3 x E4 1.038 ns

Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg) E3 = veneno e extrato (10.0mg)

Page 71: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

57

Figura 7. Jatropha elliptica, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle

(veneno).*** inibição significativa da hemorragia; ns, não significante.

1mg ns de extrato e 1.2g de veneno 3mg ns de extrato e 1.2g de veneno

6mg*** de extrato e 1.2g de veneno

Grupo controle: 1.2g de veneno

10mg*** de extrato e 1.2g de veneno

Page 72: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

58

Verificação da atividade hemorrágica dos extratos: Os extratos das plantas não apresentaram

atividade hemorrágica (Figura 8 e 9; Apêndice 12).

Apodanthera villosa (batata-de-teiú)

Apodanthera glaziovii(cabeça-de-negro)

Figura 8. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Apodanthera villosa e Apodanthera glaziovii.

1mg de extrato

1mg de extrato

3mg de extrato 6mg de extrato

3mg de extrato

6mg de extrato 10mg de extrato

Page 73: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

59

Jatropha elliptica (batata-de-teiú)

Figura 9. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Jatropha mollissima e Jatropha elliptica

6mg de extrato 10mg de extrato

1mg de extrato 3mg de extrato

Jatropha mollissima (pinhão-bravo)

1mg de extrato 6mg de extrato 3mg de extrato

Page 74: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

60

Discussão

1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos

Vital Brazil e a epidemiologia de acidentes ofídicos

O primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos no Brasil foi realizado por

Vital Brazil, em 1901, registrando o número de óbitos por picadas de serpentes no Estado

de São Paulo em 1897, 1899 e 1900 (Brazil, 1901). Vital Brazil produziu as primeiras

ampolas de soro antiveneno e as distribuía através do Instituto Butantan, juntamente com o

�Boletim para observação de accidente ophidico�, para ser preenchido com dados

referentes ao acidente com serpente. O soro era obtido de imunoglobulinas IgG de cavalos,

através da hiperimunização dos eqüinos com venenos específicos e para isso eram

necessários obter os venenos, principalmente de Crotalus e Bothrops. A técnica que ele

utilizava era simples e funcionava muito bem: estimulava o envio de serpentes de diversas

regiões para o Butantan, as quais eram transportadas por via férrea, e não só enviava aos

doadores laços e caixas, inventados por ele para capturar e manter as cobras, mas

principalmente, enviava também soros antibotrópico e anticrotálico aos doadores (Vital

Brazil, 1987; Raw & Sant´Anna, 2002).

Até 1945, foram realizados estudos epidemiológicos dos acidentes ofídicos apenas

nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o que pode ser explicado pela

localização dos Institutos públicos que produziam antivenenos: Instituto Serumterápico

(atualmente Instituto Butantan), em São Paulo, fundado em 1897; Instituto Vital Brazil, no

Rio de Janeiro, fundado em 1919; e a Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais, fundada

em 1907 (Raw et al., 1991; Bochner & Struchiner, 2003).

Entre 1946 e 1953 não foram publicados trabalhos sobre epidemiologia de acidentes

ofídicos; a maior concentração de estudos epidemiológicos foi durante 1986 a 1993,

possivelmente devido ao bom funcionamento do sistema de informação dos acidentes por

animais peçonhentos na época, que condicionava a distribuição do soro às notificações dos

casos (Nishioka & Silveira, 1992; Silveira & Nishioka, 1992; Ribeiro et al., 1993).

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Page 75: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

61

A revisão mais recente sobre epidemiologia de acidentes ofídicos no Brasil, durante

1901 a 2000, é a de Bochner & Struchiner (2003). Eles apresentaram um perfil

epidemiológico dos acidentes com serpentes de acordo com as principais variáveis

utilizadas nestes estudos, e concluíram que o perfil epidemiológico não havia mudado

substancialmente, ocorrendo ainda conforme descrito em 1911 por Vital Brazil no trabalho

�A defesa contra o ophidismo�.

Os métodos populares utilizados nos acidentes ofídicos

As representações populares, com seus métodos alternativos para tratar os diversos

males que acometem as comunidades carentes da caatinga, são ainda muito fortes, como

acontece também em todas as regiões da América Latina, envolvendo rituais e preparados

diversos (Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000; Grenand, 1977). Os ritos em todas as regiões,

no geral, têm em comum a finalidade de afastar entidades espirituais ruins, as quais estão

contidas no veneno. Na Amazônia, por exemplo, os índios yanomami não reconhecem as

serpentes nas categorias venenosas ou não, mas sim pelos espíritos que representam,

chamados Riori. As serpentes (e outros animais, como lagartos e sapos) têm espíritos que

o xamã tenta retirá-los quando em contato com algum yanomami, muitas vezes com

sucesso, mas deixa sempre seqüelas no local da picada, caso o contato tenha sido com

Bothrops, Bothriopsis ou Lachesis (Carvalho, com.pes.).

Os preparados contra envenenamentos ofídicos possuem as mais diversas misturas,

porém todas têm plantas como constituintes. Um dos mais famosos contravenenos é o

Específico Pessoa, fabricado em Sobral, no Ceará, elaborado com a raiz de uma planta

conhecida como cabeça-de-negro. Nakagawa et al. (1982) isolaram as cabenegrinas I e II

desta planta, relatando que estes compostos têm propriedades antiofídicas, porém eles

omitiram a espécie, citando apenas o nome popular. O contraveneno Pau X, produzido no

Pará, é indicado para envenenamentos de serpentes e também para insetos venenosos.

Outro específico (medicamento que tem ação especial contra determinada doença) utilizado

nos envenenamentos ofídicos é o composto P.Esser, produzido em Santa Catarina à base

das plantas jaborandi (várias espécies de Pilocarpus, Rutaceae), mucuracaá ou pipi

(Petiveria sp, Fitolacaceae) e caçau (Aristolochia sp, Aristolochiaceae). O Kutelak é

produzido no litoral norte de São Paulo, fabricado com base na planta pata-de-vaca ou

Page 76: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

62

mororó (Bauhinia sp, Leguminosae), recomendada para picadas de cobras, insetos,

escorpiões e aranhas (Cardoso, 2003).

Os produtos antiofídicos populares mais comercializados em Sergipe foram o �Pó

Contraveneno�, fabricado em Feira de Santana, Bahia e o permanganato de potássio,

ambos vendidos nas feiras livres e nas casas de produtos agropecuários. Durante a

execução deste estudo fui a Feira de Santana procurar o fabricante do contraveneno, mas,

ambos, produto e fabricante, são mantidos em segredo. Quanto ao permanganato de

potássio, é interessante notar que o método ainda existe popularmente, apesar de não ser

utilizado nas unidades de saúde desde a época de Calmette e Vital Brazil (Hawgood, 1992).

Fitoterapia e ofidismo na região de Sergipe

Muitas plantas têm sido citadas na literatura como antiofídicas, porém a maioria

destas são recomendadas com base apenas no conhecimento popular. Mors (1991) e Martz

(1992) encontraram na literatura 578 espécies de plantas, pertencentes a 94 famílias,

citadas como antiofídicas. Otero Fonnegra & Jiménez (2000) relatam que mais da metade

dos acidentes ofídicos das regiões de Antióquia e Choco, Colombia (aproximadamente

250-300 casos por ano) são tratados com fitoterápicos e benzeduras. Nestas regiões, eles

identificaram 105 espécies de plantas utilizadas como antiofídicas, a metade destas

administrada na forma de extratos associados com aguardente. As demais são aplicadas na

forma de vapores e banhos externos, muitas vezes mesclando estas formas de uso.

Durante a execução deste estudo visitei várias vezes a região de Curituba, com as

finalidades de coletar plantas para fazer os extratos e obter informações sobre o uso que se

fazem destas. Atualmente são poucos os benzedores naquela região; eles informaram

aproximadamente 30 plantas da caatinga que são utilizadas para tratar diversos males, a

maioria como antiinflamatórias. As três plantas utilizadas como antiofídicas na caatinga,

Apodanthera villosa (batata-de-teiú), A. glaziovii (cabeça-de-negro) e Jatropha mollissima

(pinhão-bravo) não são citadas na literatura especializada, apesar de os nomes populares

serem citados e recomendados em casos de picadas de cobras (Mors, 1991; Nakagawa et

al., 1972; Braga, 1960).

Outros aspectos sobre a fitoterapia, relacionados aos constituintes químicos das

plantas que atuam inibindo as ações sistêmicas e locais provocadas pelo veneno de

Page 77: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

63

serpentes são abordados mais à frente, juntamente com a discussão dos resultados dos

extratos, os quais inibiram a hemorragia causada pelo veneno de B. jararaca, mas apenas a

batata-de-teiú retardou os efeitos de letalidade.

Envenenamentos por serpentes e soroterapia em Sergipe

Os soros antiofídicos devem ser específicos, com exceção dos envenenamentos por

algumas espécies, como Bothrops jararacussu Lacerda, 1884, cuja mistura de venenos

botrópico e crotálico é importante para neutralizar a fração miotóxica do veneno (Dos

Santos et al., 1992). Desse modo, o soro antibotrópico neutraliza as ações proteolíticas,

coagulantes e hemorrágicas do veneno botrópico; o soro anticrotálico neutraliza as ações

neurotóxicas, miotóxicas e coagulantes do veneno crotálico; o soro antielaquético

neutraliza as ações proteolíticas, coagulantes, hemorrágicas e neurotóxica do veneno

laquético e o soro antielapídico neutralizam as ações das neurotoxinas NTX que atuam nas

junções pré e pós-sinápticas (Brasil, 1999; Soerensen, 1990; Pinho & Pereira, 2001). O

Ministério da Saúde recomenda ainda o uso do soro antibotrópico-laquético para acidentes

com Bothrops e Lachesis na Amazônia.

Com relação aos soros antiofídicos administrados nos acidentes que ocorreram em

Sergipe durante o período analisado, notei algumas contradições nas notificações,

infelizmente sem poderem ser esclarecidas. Na maioria dos registros consta o gênero da

serpente que causou o envenenamento e os sintomas apresentados pelo acidentado, mas

dentre os 95 casos notificados de envenenamentos ofídicos em Sergipe, aproximadamente

um terço não recebeu soro antiofídico. Os registros não esclarecem se o soro antiveneno

não foi aplicado porque os casos foram considerados leves ou se, na realidade, estes casos

foram atendidos com soroterapia, mas por qualquer razão não constam nas notificações. Os

registros também não esclarecem alguns casos nos quais a soroterapia foi aplicada, mas não

constam os gêneros das serpentes que causaram os envenenamentos. Outros registros

confusos notificam envenenamentos por Crotalus, mas constam que os acidentados

receberam soro antibotrópico e, ainda, há vários casos cujos sintomas descritos não

condizem com o tipo de envenenamento, confundindo os sintomas de acidentes crotálicos e

botrópiocs entre si. Há várias possibilidades para explicar essas falhas, no momento não há

como verificar a fonte de erro.

Page 78: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

64

A proporção de ampolas de soro utilizadas durante os quatro anos analisados foi de 7

antibotrópicos: 1 antibotrópico-crotálico: 0,3 anticrotálico: 0,6 antielapídico. Aqui notei

também outro problema nas notificações, que foi a utilização do soro antibotrópico-

crotálico em alguns casos de envenenamentos botrópicos: este soro deve ser utilizado

apenas nos envenenamentos provocados por algumas espécies de Bothrops que possuem

enzimas do tipo fosfolipases A2 (que têm ação miotóxica) na composição do veneno, cujas

enzimas são também encontradas nos venenos de Crotalus. Nos experimentos de Dos

Santos et al. (1992), eles mostraram que a associação de venenos para compor o soro

antibotrópico-crotálico é mais eficaz na neutralização de espécies cujo veneno tenha ação

miotóxica também, como B. jararacussu. Neste caso, o soro antibotrópico é eficaz contra

este tipo de veneno, devido às fosfolipases. Como será abordado mais à frente, as espécies

de Bothrops com provável ocorrência em Sergipe não apresentam venenos desta natureza.

O soro antibotrópico-crotálico foi administrado, segundo as notificações, em casos de

acidentes com cascavel, o que não é recomendável, entretanto fica a dúvida se o problema

foi na decisão ao administrar o soro ou no preenchimento das notificações.

O único acidente com cobra-coral no período analisado recebeu 10 ampolas de soro

antielapídico, como recomendado nos manuais (Pinho & Pereira, 2001). Devido às

conseqüências sistêmicas � parada respiratória � uma mordida de Micrurus deve sempre

ser considerado um caso grave. Nos dois casos de acidentes registrados como tendo sido

causados por Lachesis não constam se os acidentados receberam ou não soroterapia. Estes

registros nas notificações serão comentados a seguir.

Incidência dos acidentes ofídicos e as cobras venenosas da região de Sergipe

De um modo geral, embora tenham sido constatadas algumas informações confusas

nas notificações, o índice anual de incidência de acidentes ofídicos na região de Sergipe é

baixo, menos de 1/ 10000 habitantes. A maioria dos acidentes ocorridos durante o período

analisado foi causada por Bothrops, como também acontece em todas as regiões brasileiras,

seguido por acidentes com Crotalus (Feitosa, Melo & Monteiro, 1997; Nascimento, 2000;

Bochner & Struchiner, 2003; Pinho e Pereira, 2001).

De acordo com o setor de vigilância epidemiológica do Estado de Sergipe, muitos

acidentes não são notificados, sendo tratados com terapias alternativas. Estas omissões

Page 79: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

65

devem contribuir para o baixo índice de acidentes notificados. A forma de ocupação

humana da região e os ecossistemas que compõem a região de Sergipe também devem ter

contribuído para estes baixos índices: grande parte da vegetação natural de Mata Atlântica

de Sergipe não existe mais, numa área cuja presença de manguezais é forte. Junto com as

áreas antropizadas algumas populações de cobras devem ter diminuído por interferências

no nicho ou caça, como as populações de Bothrops; já os manguezais não constituem

hábitats para jararacas. Estes dois fatores juntos devem ter contribuído para diminuir a

presença de Bothrops em Sergipe e, conseqüentemente, diminuindo também a

probabilidade de ocorrer acidentes com indivíduos desta espécie. Com relação às cascavéis,

estas são de áreas abertas, caatinga ou agreste, ecossistemas que compõem mais da metade

de Sergipe, porém, por alguma razão, Crotalus não é freqüente na região, o que explicaria a

baixa freqüência de acidentes. Apesar de serem serpentes comuns, os acidentes com

Micrurus são os menos freqüentes em todas as regiões, inclusive em Sergipe, onde ocorreu

uma vez e os acidentes com Lachesis são mais comuns na Amazônia. Os dois acidentes

com surucucu registrados para Sergipe são duvidosos, além do que não constam nas

notificações nenhuma aplicação de soro antilaquético durante o período analisado.

Nas notificações de acidentes por animais peçonhentos, registrados pela Secretaria

Estadual de Saúde, as serpentes estão identificadas até gênero, mas não há informações

sobre como foram feitas as identificações (provavelmente através dos sintomas

apresentados pelos acidentados), como também são inexistentes na literatura informações

sobre a ofidiofauna da região.

Duas famílias de serpentes venenosas ocorrem na mata atlântica, agreste e caatinga de

Sergipe: Viperidae (subfamília Crotalinae, representada pelo gênero Crotalus e subfamília

Viperinae, representada por Bothrops; a ocorrência de Lachesis em Sergipe é duvidosa). As

espécies de Bothrops com possíveis ocorrências para a região são (Campbell & Lamar,

1989; Peters & Orejas-Miranda, 1980; Vanzolini et.al, 1980; Ferrarezi & Freire, 2001):

B.moojeni Hoge, 1966; B.erythromelas Amaral, 1923; B.neuwiedi piauhyensis Amaral,

1925; B.leucurus (Wagler, 1824); B.pirajai Amaral, 1923 e B.muriciensis Ferrarezi &

Freire, 2001. A cascavel de Sergipe pode ser Crotalus durissus cascavella Wagler, 1824; a

cobra-coral é provavelmente Micrurus ibiboboca Merrem, 1820 (Vanzolini et al., 1980).

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66

As identificações são fáceis, embora devam ser feitas por um profissional (Vanzolini

et al., 1980). Micrurus tem coloração característica, constituída por anéis vermelhos, pretos

e brancos, arranjados em tríades. A espécie que pode ser confundida com a cobra coral é

Oxyrhopus trigeminus, conhecida também como coral, mas é facilmente diferenciada de

Micrurus porque esta tem os anéis completos em volta do corpo. As corais são comuns em

Sergipe, principalmente na época das chuvas, quando aparecem mais (Carvalho, com.

pes.). Bothrops e Crotalus são semelhantes morfologicamente; Crotalus tem um

crepitáculo na ponta da cauda e as escamas internasais e prefrontais diferenciadas,

separadas por uma sutura transversal reta, subcaudais simples; Bothrops tem o topo do

focinho coberto por escamas irregulares, internasais arredondadas e subcaudais duplas.

Lachesis tem as escamas fortemente carenadas, lembrando a parte externa do sincarpo

(pseudocasca) das jacas, a qual apresenta numerosos �picos� (espinhos, bicos) quando

madura, daí seu nome surucucu-pico-de-jaca.

As duas notificações de acidentes por Lachesis foram para as regiões de Nossa

Senhora das Dores e Lagarto, ambas situadas no agreste. A forma de provável ocorrência

em Sergipe é L.muta rhombeata Wied, 1824, que se distribui na Mata Atlântica do Alagoas

até o Rio de Janeiro (Vanzolini, 1986; Hoge & Romano-Hoge, 1976-1977). Não existe

evidência da ocorrência de surucucu em Sergipe, sendo improvável a ocorrência desta

espécie em áreas de agreste. Nos trabalhos de campo para coleta de plantas e demais dados

para compor o trabalho, houve referências inequívocas de jararaca, cascavel e cobra-coral,

além de vários exemplares coletados, mas os moradores não souberam responder sobre a

presença da surucucu, uma cobra facilmente idenficável quando ocorre numa região,

devido ao seu porte, atingindo até 2 metros de comprimento.

Idade e sexo

A proporção dos acidentes variou significativamente com relação à idade dos

acidentados. Os casos mais freqüentes ocorreram entre 1-20 anos de idade (sexos

agrupados), indicando que este grupo etário foi submetido a maiores riscos durante o

período. A literatura cita que em São Paulo os acidentes ofídicos são mais freqüentes

entre10-20 anos de idade, 10-19 anos em Minas Gerais e no Ceará, 15-30 anos em Roraima

e 15-49 anos notificado pela Fundação Nacional da Saúde. Estes dados indicam que na

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67

faixa etária de maior concentração da força de trabalho no campo é onde ocorre a maior

freqüência de acidentes ofídicos (Silveira & Nishioka, 1992; Ribeiro et al., 1993; Brasil,

1999; Nascimento, 2000; Pinho & Pereira, 2001). Não existem informações sobre a

predominância da faixa etária na força de trabalho nas áreas rurais de Sergipe, mas o limite

da faixa etária onde ocorreram os acidentes ofídicos com maior freqüência foi de 20 anos,

situando-se entre São Paulo e Minas Gerais.

A proporção de acidentes ofídicos também foi diferente entre os sexos; os homens

sofreram mais acidentes, talvez por exercerem atividades fora das suas moradias com

maior freqüência do que as mulheres, expondo-se mais aos fatores de risco, conforme

relatado também para outras regiões (Acosta et al.,2000).

Sazonalidade e regiões de ocorrência

A proporção dos acidentes ofídicos entre os períodos seco e chuvoso foi

significantemente diferente, com a predominância dos casos durante os meses secos.

Possivelmente esta proporção esteja relacionada à maior duração dos meses secos na região

e, conseqüentemente, à maior exposição dos habitantes ao meio ambiente nesta época, que

se estende por oito meses na região de Sergipe (setembro a abril). Feitosa, Melo &

Monteiro (1997) relataram resultados diferentes quando analisaram no Ceará a

epidemiologia dos acidentes ofídicos de 1992-1995; os acidentes foram mais freqüentes no

período de maior pluviosidade, que vai de abril a setembro. A mesma relação com a

pluviosidade e envenenamentos por serpentes ocorre na região sudeste, onde os acidentes

ofídicos ocorrem principalmente nos meses quentes e chuvosos, provavelmente

relacionados com as épocas reprodutivas das serpentes e com a maior atividade agrícola,

durante a qual aumenta a exposição dos trabalhadores rurais ao meio (Ribeiro et al., 1993).

Sintomas e tempo decorrido entre o acidente e a soroterapia

Para aplicar o soro antiofídico adequado é necessário identificar a serpente que

causou o acidente. Na ausência do exemplar para reconhecimento da espécie, os sintomas

apresentados pelos acidentados constituem a única base para deduzir o tipo de

envenenamento, embora possam ser realizados testes Elisa, através de antígenos dos

venenos botrópico e crotálico, tempo de coagulação, tempo parcial de tromboplastina e

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68

testes de creatinofosfoquinase, desidrogenase lática e aspartase-alanino-transferase, o

último para diagnosticar envenenamento crotálico (Pinho & Pereira, 2001).

Em Sergipe a rotina parece ser o dignóstico através dos sintomas apresentados, como

também relatado para o Ceará (Feitosa, Melo e Monteiro, 1997). O envenenamento

botrópico causa sintomas locais e sistêmicos, os efeitos locais são os mais problemáticos,

devido à precocidade com que aparecem, 3-5 minutos após a picada. Os principais

sintomas, relatados até 3 horas após o acidente, são: dor, edema, hemorragia no local da

picada, hemorragia sistêmica e aumento do tempo de coagulação sangüínea. Outras

conseqüências podem aparecer na evolução dos casos, como equimoses, eritemas, oligúria,

bolhas, abcessos e anúria, acompanhado ou não de necrose (Raw et al., 1991; Brasil, 1999;

Soerensen, 1990; Pinho & Pereira, 2001; Araújo, 2003). As manifestações clínicas do

envenenamento por Lachesis são, no geral, semelhantes aos envenenamentos causados por

Bothrops. O envenenamento crotálico não provoca efeitos notáveis no local da picada. Até

3 horas após o acidente, os principais sintomas são decorrentes da atividade neurotóxica do

veneno crotálico, ocorrendo ptose palpebral e flacidez da musculatura da face (fácies

miastênico ou neurotóxico); outros sintomas do envenenamento crotálico são decorrentes

da miotoxicidade do veneno, ocorrendo dores musculares generalizadas e mioglobinúria

(consequência da necrose da fibra muscular). Dentre as complicações mais graves nos

acidentes crotálicos, que ocorrem após 3 horas, está a insuficiência renal aguda, que pode

levar o acidentado à morte (Raw et al., 1991; Lúcia, 2000; Pinho & Pereira, 2001). Os

acidentes com Micrurus são pouco freqüentes, mas potencialmente graves. Os sintomas

podem surgir em menos de uma hora após a picada, ocorrendo ptose palpebral, diplopia,

dificuldade de deglutição e insuficiência respiratória aguda (Vital Brazil, 1990; Soerensen,

1990; Brasil, 1999; Casais e Silva, 2001; Pinho & Pereira, 2001).

Nas notificações de Sergipe constam três casos de acidentados associados a

envenenamentos botrópico e laquético que apresentaram urina escura, mas este sintoma é

associado ao envenenamento crotálico, devido à lesão da fibra muscular esquelética que

libera mioglobina, a qual é excretada pela urina, daí a cor escura. Um caso de acidentado

associado a envenenamento elapídico apresentou abcesso local. Entretanto, é a ação

proteolítica do veneno botrópico que pode causar o desenvolvimento de infecções locais,

além do que, geralmente as manifestações locais, como edema, bolha e necrose decorrem,

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69

em parte, da liberação de mediadores da resposta inflamatória e da ação das hemorraginas,

características do envenenamento botrópico. Três casos associados a envenenamento

botrópico apresentaram diplopia, entretanto a diplopia é geralmente associada ao efeito

sistêmico decorrente da ação neurotóxica do veneno crotálico ou elapídico. Nove casos

associados a envenenamentos botrópico, laquético, elapídico e crotálico apresentaram

mialgia, porém a mialgia geralmente está associada à ação neurotóxica sistêmica do veneno

botrópico ou elapídico. Provavelmente estes sintomas foram associados por descuido aos

tipos de acidentes ofídicos, porém o fato é preocupante, visto que a aplicação do

antiveneno é feita em Sergipe com base nos sintomas apresentados pelo acidentado.

Partes do corpo atingidas e gravidade dos casos

As partes mais atingidas do corpo nos casos de acidentes ofídicos em Sergipe foram

os membros inferiores (66 casos, aproximadamente 70%); o mesmo observado em outras

regiões (Silveira & Nishioka, 1992; Ribeiro et al.1993, Saborío, Gonzalez & Cambronero,

1998; Borges, Sadahiro & Santos, 1999; Acosta et al., 2000). De acordo com a Secretaria

Estadual da Saúde de Sergipe, os acidentes ofídicos ocorridos na região foram classificados

como leves, moderados e graves. De um modo geral, a maioria dos acidentes com

serpentes peçonhentas foi notificado como leve (Tabela 11).

Nos acidentes botrópicos considerados leves os efeitos locais (dor, edema e

equimose) estão ausentes ou discretos, evoluindo para intensos nos casos graves; os efeitos

sistêmicos (hemorragia, anúria, oligúria e tempo de coagulação alterado) estão ausentes nos

casos leves ou moderados e presentes nos casos graves. Nos acidentes crotálicos a fácies

miastênica, mialgia, a presença de urina vermelha, oligúria e anúria estão ausentes ou são

discretos nos casos leves e moderados; estão presentes e são intensos nos casos graves. Nos

acidentes elapídicos os sintomas sistêmicos (principais) podem surgir em até menos de uma

hora após a picada e os casos devem ser considerados graves, devido ao risco de

insuficiência respiratória (Brasil, 1999; Soerensen, 1990; Pinho & Pinheiro, 2001; Araújo,

2003).

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70

2. Parâmetros biológicos do veneno botrópico

Efeitos sistêmicos e locais

Dentre os vários componentes dos venenos de serpentes (ânions e cátions,

aminoácidos livres e peptídeos, nucleotídeos e nucleosídeos, lipídeos, carbohidratos e

aminas biogênicas) três componentes são de extrema importância nos envenenamentos: i)

as enzimas, tais como a fosfolipase A2, proteases, enzimas proteolíticas, cininogenase

(liberadora da bradicinina), enzimas protocoagulantes e fibrinolíticas, ii) as proteínas e

polipeptídeos não enzimáticos, como as neurotoxinas (pré e pós-sinápticas), cardiotoxinas

capazes de provocar parada cardíaca e mionecrose, miotoxinas, responsáveis pelos eventos

que levam à necrose, iii) as hemorraginas, que são metaloproteínas dependentes de cátions

bivalentes, como Ca++, Mg++ e Zn++, cujas ações são inibidas pelo EDTA (Bolaños, 1984;

Kamiguti et al., 1996; Borkow, Gutiérrez & Ovadia, 1993; Gutiérrez, 2002).

Os efeitos dos venenos das viperíneas devem-se principalmente às proteínas e

polipeptídeos de alto peso molecular, que atuam sistêmica e localmente. As principais

ações farmacológicas sistêmicas causadas por envenenamento botrópico são os distúrbios

da coagulação sangüínea. Estas ações são causadas por neurotoxinas, cardiotoxinas e

enzimas, tais como a fosfolipase A, a fosfodiesterase e as proteases, as quais participam de

todo o processo localmente (Elliott, 1978; Bolaños, 1984; Mebs, 1978; Gonçalves &

Mariano, 2000). Uma boa revisão sobre os venenos de serpentes e os agentes

modificadores da coagulação sangüínea, foi feita por Meaume (1966). Ele discutiu a ação

de venenos de serpentes das famílias Hydrophiidae, Elapidae, Crotalidae e Viperidae sobre

a coagulação do sangue, ressaltando o papel do fibrinogênio e trombinas. Dez anos depois,

em 1976, Stocker & Barlow descreveram a �botroxina�, uma enzima tipo trombina isolada

do veneno de B.atrox, a qual afeta a coagulação sangüínea (Gutiérrez, 2002).

A miotoxicidade do veneno botrópico é um efeito local causado por miotoxinas. As

miotoxinas são proteínas com estrutura de fosfolipase A2 da classe II, que atuam nas

células musculares causando necrose do tecido muscular (mionecrose). As miotoxinas

podem ser caracterizadas em dois grupos, de acordo com o grupamento protéico: i) as que

apresentam lisina no resíduo 49 (Lis49), ii) ou aspartato (Asp49). Ambas atuam

diretamente na membrana plasmática das células musculares, originando um fluxo de

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71

cálcio no citosol, o qual induz uma série de eventos degenerativos que causam lesões

celulares irreversíveis (Gutiérrez, 2002). A primeira miotoxina do veneno de Bothrops foi

isolada em 1984 por Gutiérrez e colaboradores, utilizando o veneno de B. asper (Gutiérrez,

Ownby & Odell, 1984). Alguns anos depois, Lomonte et al. (1990) isolaram três

miotoxinas de Bothrops, duas do veneno de B. moojeni e uma de B. atrox, e descreveram a

composição química e atividades biológicas destes venenos.

A letalidade do veneno botrópico deve-se principalmente à ação coagulante do

veneno, que ativa o fator X e a protrombina, isolada ou simultaneamente. O veneno

botrópico possui também ação semelhante à trombina, convertendo fibrinogênio em

fibrina, formando coágulos de fibrinogênio. Como o fibrinogênio é um fator de coagulação

sangunínea, estas ações induzem às deficiências na coagulação sangüínea. A insuficiência

renal aguda pode ser causada pelos microcoágulos de fibrina nos capilares, desidratação e

hipotensão arterial, devido à ação da bradicinina. O choque decorrente dos casos graves de

envenenamento botrópico é decorrente da liberação de substâncias vasoativas, do aumento

de líquido na área edemaciada e perda de líquido por hemorragias (Meaume, 1966; Brasil,

1999; Pinho & Pereira, 2001).

As principais ações locais devido aos envenenamentos botrópicos são: i) edema,

devido ao efeito da fração cardiotóxica, cuja ação farmacológica é mediada pela ação de

adrenoreceptores (1 e 2) e, principalmente, por produtos da cicloxigenase e lipoxigenase;

ii) efeito hemorrágico e degenerativo das fibras musculares, principalmente devido à

fosfolipase A e iii) aumento da permeabilidade vascular, causado pela liberação de cininas,

fosfolipase A e histamina (Trebien & Calixto, 1989; Cury, Teixeira & Sudo, 1994;

Gonçalves & Mariano, 2000).

A bradicinina

Uma pesquisa importante na história da toxinologia foi realizada por Rocha e Silva,

Beraldo & Rosenfeld (1949), com implicações terapêuticas até hoje na utilização do

veneno de B. jararaca como agente hipotensor. Rocha e Silva e colaboradores descobriram

a �bradicinina�, um polipeptídeo de natureza endógena liberada no plasma, através da ação

enzimática do veneno, por um precursor protéico chamado bradicininogênio. As principais

ações farmacológicas da bradicinina incluem a estimulação da musculatura lisa,

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72

vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e dor. A bradicinina libera cininogenases

que interferem no mecanismo das cininas no sangue; a atividade das cininas sob a ação do

veneno de serpentes rapidamente inativa a bradicinina, devido à ação proteolítica do

veneno.

Outra importante contribuição derivada da descoberta de Rocha e Silva, Beraldo &

Rosenfeld foi a descoberta de Sérgio Ferreira e seus colaboradores na década de 1960, que

isolaram um princípio ativo do veneno de B. jararaca capaz de intensificar a resposta à

bradicinina. Ferreira e seus colegas chamaram este princípio de �fator potenciador da

bradicinina�. Este fator é formado por polipeptídeos que atuam inibindo as cininas e a

conversão da angiotensina-A na angiotensina-B (Mebs, 1978; Gutiérrez, 2002).

As variações dos venenos de serpentes

Furtado et al. (1991b) compararam os venenos de nove espécies de Bothrops

(alternatus, cotiara, erythromelas, jararaca, jararacussu, moojeni, neuwiedi, neuwiedi

paranaensis, neuwiedi pauloensis e neuwiedi urutu), obtidos de fêmeas adultas e suas

ninhadas. Eles estudaram as atividades proteolíticas, coagulantes e a ação letal destes

venenos, além de determinarem o conteúdo protéico e o padrão eletroforético dos mesmos.

Furtado e colaboradores concluíram que: i) as atividades da trombina, toxicidade e

amidolítica/fibrinolítica variaram com relação ao tamanho dos indivíduos, ii) B. neuwiedi

paranaensis e B. neuwiedi pauloensis possuem as atividades mais tóxicas, iii) a atividade

caseinolítica de todos os venenos das fêmeas e as atividades pró-coagulantes dos jovens

foram altas, iv) o veneno de B. erythromelas das fêmeas adultas e filhotes não mostraram

atividade amidolítica e apresentaram o mais alto nível de atividades do fator X e

protrombina, sem a ação da trombina, v) os venenos dos filhotes de B. cotiara

apresentaram as maiores atividades de trombina, enquanto B. jararacussu fêmeas não

apresentaram nenhuma atividade pró-coagulante específica, vi) os filhotes das espécies

estudadas apresentaram alta atividade pró-coagulante. Conforme observaram Furtado e

colegas, as atividades do veneno podem variar entre indivíduos da mesma população e até

mesmo a composição do veneno pode variar entre populações da mesma espécie.

Uma boa revisão sobre a variabilidade local e geográfica dos venenos de serpentes

foi realizada por Chippaux e colaboradores, cujas variações podem ser atribuídas a

Page 87: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

73

sazonalidade reprodutiva, dieta, hábitat, idade e dimorfismo sexual (Chippaux, Williams &

White, 1991). Eles enfatizaram a importância de se conhecer esta variabilidade, pois

venenos de indivíduos da mesma espécie podem apresentar diferenças na composição do

veneno, dependendo da região ecológica onde foram coletados e isto pode ter implicações

regionais na eficácia do antiveneno.

Outra pesquisa relacionada às variações dos venenos entre indivíduos da mesma

população foi realizada por Lomonte e colaboradores. Lomonte et al. (1983) estudaram as

variações ontogenéticas do veneno de Crotalus durissus terrificus, utilizando indivíduos

adultos e recém-nascidos. Eles verificaram a ação letal e as atividades proteolíticas,

hemolíticas, hemorrágicas, mionecróticas e edematogênicas. O veneno dos recém-nascidos

possui características bioquímicas diferentes dos adultos. É notável a alta letalidade dos

venenos de recém-nascidos. As análises imunoeletroforética e eletroforética mostram que

existem variações quantitativas e qualitativas na composição dos venenos. A atividade

hemorrágica aumentou com a idade e os recém-nascidos não produzem hemorragia e, com

relação a atividade proteolítica, esta foi maior nos adultos (Gutiérrez, 2002).

As vias de administração do veneno também são fontes de variação quando se estuda

a sensibilidade de venenos.Vários trabalhos descrevem as ações dos venenos de cobras

com relação às vias administradas, principalmente para estudar os efeitos hemorrágicos.

Bolaños (1984) foi um dos pioneiros nos estudos sobre a toxicidade de venenos de

serpentes da Costa Rica, inoculando camundongos através das vias intraperitoneal e

intravenosa; a via intravenosa apresentou maior sensibilidade ao veneno. O mesmo

resultado foi encontrado por Kawamura & Sawai (1984), os quais utilizaram o antiveneno

de Naja kaouthia (Elapidae) para mostrar maior eficácia quando administrado por via

intravenosa.

Sobre a determinação da DL50 do veneno

A dose letal 50% é a unidade tóxica de veneno definida como a quantidade de veneno

capaz de em 48 horas provocar a morte de 50% dos animais inoculados (Fisher, 1949).

Neste estudo, a DL50 do veneno de B. jararaca foi obtida através de: i) regressões dos

valores probíticos sobre as concentrações do veneno, utilizando o programa da OMS e ii)

comparação entre os coeficientes (b) e as constantes (a) das quatro retas de regressões dos

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74

experimentos. Os resultados da DL50 utilizando os dois métodos foram praticamente iguais,

embora as retas tivessem sido significantes quanto ao paralelismo e afastamento, devido às

variações do número de camundongos mortos com relação às doses de veneno.

Existem na literatura bons trabalhos sobre análise de dados experimentais (e.g.,

Sprugel, 1983; Bryant, 1986; Fisher, 1949), mas não encontrei nenhum trabalho ou citação

que discutisse como os experimentos entre repetições e réplicas são descartados e o

aproveitamento dos melhores dados � aqueles mais coerentes com relação às mudanças da

variável dependente (y) de acordo com a evolução da variável independente (x). Ao

agrupar os experimentos neste estudo, segui o princípio metodológico básico de que todos

os ensaios foram retirados da mesma população e portanto apresentaram os mesmos

comportamentos biológicos (Zar, 1996; Fisher, 1949; Hulbert, 1984). Desse modo todos os

dados puderam ser aproveitados, com exceção dos primeiros experimentos, os quais foram

realizados para treinamento.

Um trabalho relevante sobre os métodos quantitativos utilizados na pesquisa sobre

DL50 do veneno de cobras, foi o de Villarroel (1977), sobre probites e animais

experimentais. A metodologia desenvolvida por Vital Brazil utilizava pombos para

determinar a toxicidade de venenos botrópicos e Villarroel propôs a utilização de

camundongos como modelo animal para determinação da DL50. Seu método utiliza a via

intraperitoneal em camundongos para dosar antivenenos botrópicos. Ele verificou �in vivo�

a soroneutralização cruzada, utilizando antivenenos de B. jararaca, B. moojeni e B.

neuwiedi, para neutralizar os venenos de B. jararaca, B. alternatus, B. cotiara, B. neuwiedi,

B. pradoi, B. jararacussu e B. moojeni.

Dose letal 50% dos venenos botrópicos e variações experimentais

Neste estudo, a dose letal do veneno de B. jararaca, utilizando animais experimentais

provenientes do Biotério da Universidade Federal de Sergipe, foi 37.1g. As doses letais

50% citadas na literatura para outras espécies de Bothrops são: 58.8g para B. jararacussu;

92.3g para B. moojeni e 30.3g para B. neuwiedi (Dos-Santos et al., 1992; Furtado et al.,

1991a).

As doses letais 50% do veneno de B. jararaca variaram entre os experimentos do

estudo. Todos os ensaios realizados neste estudo foram padronizados; dois deles foram

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75

excluídos das análises, por terem sido realizados para treinamento. Com relação às

variações encontradas na determinação da DL50 entre os experimentos, a probabilidade de

erro experimental sempre existe, alguns experimentos podem apresentar variações

extremas ou discordantes, porém neste estudo as variações da DL 50 ocorreram em todos os

experimentos, apesar de terem sido padronizados.

Considerei então três hipóteses que pudessem explicar as variações: i) a primeira foi

com relação à possibilidade de erro experimental, apesar da atenção e planejamento para

padronizar todos os experimentos, ii) a segunda foi que as variações pudessem ter sido

causadas por fatores externos aos experimentos e independentes das padronizações, por

exemplo acondicionamento do veneno e iii) a terceira foi com relação à chance de que as

variações tenham ocorrido devido à biologia e manutenção dos animais experimentais.

Com relação a erro experimental, todos os ensaios foram padronizados, as metodologias e

os materiais foram os mesmos em todos os experimentos. Algum fator externo poderia ter

causado variabilidade nos experimentos; com relação ao veneno, este foi acondicionado e

manipulado sempre da mesma maneira. Com relação às próprias variações individuais nos

animais experimentais, sabe-se que o estresse dos animais pode causar variações nos

resultados e considerei esta hipótese a mais plausível para explicar as variações nas doses

letais encontradas nos ensaios (Araujo & Araujo, 1994).

Sobre a dose mínima hemorrágica (DMH)

A dose mínima hemorrágica do veneno de B. jararaca determinada neste estudo foi

0.24g, obtida através da análise de regressão do diâmetro da área hemorrágica (y) sobre a

concentração do veneno (x). Os estudos toxinológicos exigem a realização de experimentos

manipulativos que possam ser verificados; a verificação é feita através da utilização de

métodos quantitativos. Neste contexto foi relevante o trabalho realizado por Kondo e

colaboradores na década de 1960. Partindo do princípio que a hemorragia é o efeito

sistêmico mais importante causado por envenenamentos de viperíneas e crotalíneas, eles

propuseram um método quantitativo para determinar a atividade hemorrágica dos venenos.

Kondo et al. (1960) definiram a dose mínima hemorrágica como sendo a menor quantidade

de veneno capaz de produzir uma lesão de 10mm de diâmetro, após injeção cutânea em

coelhos. Eles também analisaram curvas log-dose para verificar as relações existentes entre

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76

as dosagem e respostas: encontraram para cada preparação respostas lineares e paralelas,

com manchas variando entre 10 a 18 milímetros de diâmetro.

A técnica de Kondo e colaboradores foi modificada por Ownby, Colberg & Odel em

1984 e por Gutiérrez et al. (1985), para ser utilizada em camundongos. Gutiérrez et al.

(1990) discutiram os métodos utilizados para estudo das atividades tóxicas dos venenos de

serpentes da Costa Rica. Eles estudaram as ações hemorrágicas, edematogênicas,

miotóxicas, necrosantes, coagulantes, a ação letal e os efeitos desfibrinante e enzimático

dos venenos, propondo a substituição do método in vivo pela técnica in vitro para estudar

os antivenenos. Um dos métodos discutidos por Gutiérrez e colaboradores foi a técnica

descrita por Kondo e colegas em 1960.

Furtado, Colletto & Dias da Silva (1991a) realizaram um elegante trabalho sobre

venenos de serpentes, envolvendo, entre outras análises, as determinações das doses

mínimas hemorrágicas e DL50. A pesquisa de Furtado, Coleto e Silva utilizaram uma

metodologia que é referência na pesquisa e na rotina do controle de qualidade na produção

de antivenenos do Instituto Butantan. Eles padronizaram os métodos de ensaios para

determinar as atividades dos venenos de várias espécies de Bothrops e Crotalus: i)

determinaram a DL50 em camundongos, ii) padronizaram os métodos para verificar

atividades promotoras da coagulação do fibrinogênio e do plasma e atividades indutoras da

hemorragia, necrose, edema e atividades caseinolíticas. A importância do trabalho de

Furtado e colaboradores foi que pela primeira vez no Brasil analisaram-se

comparativamente amostras de veneno liofilizado e seco a vácuo, como era

tradicionalmente preparado no Instituto Butantan; as amostras não apresentaram diferenças

entre as variáveis estudadas. A DMH dos venenos das serpentes do gênero Bothrops variou

entre 8-17g/rato.

As doses mínimas hemorrágicas dos venenos botrópicos

Comparações entre a DMH (bem como DL50) do veneno de B. jararaca utilizada

neste estudo e dados da literatura são difíceis de serem feitos, devido à utilização de

animais procedentes de diferentes biotérios; utilização de animais experimentais, como

ratos e camundongos, vias de inoculação do veneno e diferenças nas metodologias

utilizadas, como a determinação da DMH pela concentração de hemoglobina (Mebs, 1978;

Page 91: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

77

Furtado et al, 1991a; Gonçalves & Mariano, 2000) e pela menor dose capaz de causar uma

área hemorrágica de 10mm de diâmetro (Kondo et al., 1960; Furtado et al., 1991a). As

doses mínimas hemorrágicas citadas na literatura para outras espécies de Bothrops são:

B.asper 2.0g, B.jararacussu 8.25g, B.atrox 20.0g, B.godmani 5.0g, B.nasutus

30.0g, B.neuwiedi 8.0g, B.moojeni 5.0g (Dos-Santos et al., 1992; Neves-Ferreira et al.,

1997; Castro et al., 1999; Borges et al., 2001).

Ação hemorrágica local do veneno botrópico e as hemorraginas

Dentre as ações biológicas locais dos venenos botrópicos, a hemorragia é um dos

principais efeitos devido às hemorraginas, as quais causam degenerações microvasculares e

perda sangüínea, levando a degeneração muscular e de outros tecidos. Hemorraginas são

metaloproteínas, termolábeis e sensíveis a valores extremos de pH. O peso molecular

destas proteínas ácidas variam entre 20000 a 100000. As hemorraginas podem ser

classificadas em três grupos, dependendo do peso molecular: i) grupo I � pequenas (20000-

30000), não induzem hemorragia, possuem ação sinérgica; ii) grupo II � médias (30000-

60000), com ação hemorrágica; iii) grupo III � grandes (60000-100000), são as mais ativas.

As hemorraginas no grupo I e II não induzem à hemorragia, mas possuem ação sinérgica

com as hemorraginas do grupo 3; as três classes juntas contêm 50% das atividades

hemorrágicas do veneno.

A atividade hemorrágica das hemorraginas é reduzida por inibidores de

metaloproteínas, como o EDTA (ácido etilenodiaminotetracético), um agente quelante que

inibe as hemorraginas. Possivelmente o EDTA atraia alguns íons metálicos das

hemorraginas, inibindo assim os efeitos hemorrágicos do veneno botrópico (Isla, Malaga &

Yarlequé, 2003).

Existem pelo menos 43 hemorraginas isoladas de 15 espécies de Bothrops; algumas

espécies contêm as três classes de hemorraginas, como encontradas em B. asper da

América Central. As hemorraginas têm ação proteolítica sobre a membrana basal das

células endoteliais. Entretanto, se a proteólise da membrana basal é por si só suficiente para

induzir a hemorragia ainda é inconclusivo, porque ocorre lise das células endoteliais,

juntamente com a degeneração da membrana basal e o contato entre as células é também

destruído (Borkow, Gutiérrez & Ovadia, 1993; Kamiguti et al., 1996).

Page 92: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

78

O primeiro fator hemorrágico do veneno de Bothrops neuwiedi foi obtido por

Mandelbaum, Assakura & Reichl (1984), os quais isolaram duas proteínas ácidas do

veneno de B.neuwiedi (jararaca pintada), denominadas fatores hemorrágicos neuwiedi

NHFa e NHFb. O fator NHFb apresentou atividade hemorrágica vinte e três vezes maior do

que o fator NHFa, mas o segundo foi mais ativo em relação à atividade caseinolítica.

Paine et al (1992) purificaram, seqüenciaram e clonaram pela primeira vez a

�jararagina�, uma metaloproteína hemorrágica presente no veneno de B. jararaca. Em

1993, R.B. Zingali e colaboradores isolaram um componente inibidor de trombina,

�botrojaracina� do veneno de B. jararaca (Gutiérrez, 2002). Borkow, Gutiérrez & Ovadia

(1993) isolaram e caracterizaram três hemorraginas do veneno de B. asper, as quais foram

denominadas BaH1, BH2 e BH3. As doses mínimas hemorrágicas destas hemorraginas

foram 0.18g, 2.0 e 16.6g. A atividade hemorrágica dos três fatores foi inibida pelo

EDTA (ácido etilenodiaminotetracético).

Algumas metaloproteínas hemorrágicas dos venenos de serpentes foram estudadas

por Lomonte et al. (1994). Eles investigaram in vitro os efeitos de uma metaloproteína

hemorrágica (BaH-1) do veneno de B. asper nas células endoteliais de capilares e não

relataram um efeito citotóxico direto no endotélio capilar. Kamiguti et al. (1996)

discutiram o mecanismo de ação da principal metaloproteína hemorrágica do veneno de B.

jararaca, a jararagina, nas plaquetas e proteínas do plasma envolvidas na homeostase.

Eles sugeriram que metaloproteínas hemorrágicas além de causarem sangramento local,

podem também contribuir para a hemorragia sistêmica. Outra substância isolada do veneno

botrópico foi a botroalternina de B. alternatus, inibidora de trombina que forma um

complexo equimolar não-covalente com a botrojaracina (Castro et al., 1998).

Borkow, Gutiérrez & Ovadia (1997a) verificaram a capacidade de vários soros,

antivenenos e inibidores sintéticos em neutralizar a atividade hemorrágica causada pelo

veneno de B. asper. Em outro estudo (Borkow, Gutiérrez & Ovadia, 1997b), eles

selecionaram os seis melhores compostos anti-hemorrágicos e os testaram em

camundongos, para verificar a capacidade dos compostos em neutralizar a ação letal e as

atividades proteolíticas e hemorrágicas �in vitro� de crotalineas. Além disso, eles testaram

também uma mistura constituída por antiveneno polivalente produzido em cavalos, o

antídoto �natural� de B. asper e a atividade hemorrágica desse veneno.

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79

Continuando suas pesquisas com as metaloproteínas, Gutiérrez & Rucavado (2000)

propuseram uma hipótese para explicar o mecanismo �per rexis� de ação das

metaloproteínas hemorrágicas de venenos de serpentes da família Viperidae: os eritrócitos

atravessariam os vasos sangüíneos através de células endoteliais rompidas. Apesar da

hipótese de Gutiérrez e Rucavado ter suporte bioquímico e ultraestrutural, os autores não

descreveram como ocorrem as alterações na lâmina basal da lesão endotelial.

Gonçalves & Mariano (2000) estudaram as alterações morfológicas induzidas por

veneno de B. jararaca (via subcutânea) em ratos e a mediação da hemorragia local,

comparando-a com a mediação do edema de pata de rato. Eles observaram a

desorganização das fibras colágenas perivasculares e perineurais, degranulação de

mastócitos, além de alterações vasculares, como congestão e hemorragia. A hemorragia

ocorreu por diapedese, fenômeno no qual os eritrócitos atravessam o vaso sangüíneo

através da abertura de junções endoteliais. A hemorragia local foi parcialmente controlada

pela serotonina e por mediadores neurohumorais. Os produtos do metabolismo do ácido

araquidônico, principais mediadores do edema induzido pelo veneno de B. jararaca, não

participaram como mediadores da ação hemorrágica local.

O estudo mais recente sobre metaloproteínas do veneno de Bohrops foi realizado por

Isla, Malaga & Yarlequé (2003). Eles caracterizaram a hemorragina isolada do veneno de

B. brazili, relatando a presença de hexosas, hexosamina e ácido siálico. Neste estudo, eles

também verificaram que o soro antibotrópico polivalente (antiveneno crotálico mais

botrópico) reconhecia a fração hemorrágica do veneno e inibia a ação do veneno bruto, mas

não da hemorragina purificada.

3. Eficácia das plantas em inibir os efeitos do veneno de Bothrops jararaca

Os extratos das plantas como inibidores da letalidade e da hemorragia local

Dentre as quatro plantas testadas (A. villosa, A. glaziovii, J. mollissima e J. elliptica),

apenas o extrato (1mg) de A. villosa aumentou o tempo médio de sobrevida dos animais

inoculados com o veneno, as demais plantas não foram eficazes em neutralizar o efeito

letal do veneno. Embora todos os animais tenham apresentado os sinais clássicos de

envenenamento � constricção do abdome e prostração �, alguns não apresentaram

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80

alterações ou sinais de envenenamento após as 48 horas de observação. Estes camundongos

permaneceram vivos e aparentemente sem nenhuma seqüela.

Com relação à inibição da hemorragia local do veneno pelos extratos das plantas, os

animais experimentais (inoculados com plantas mais o veneno) apresentaram manchas

hemorrágicas significantemente menores do que os controles. As concentrações que

apresentaram efeito antihemorrágico foram: Apodanthera villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg),

Apodanthera glaziovii (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg), Jatropha mollissima (3.0 e 6.0mg) e

Jatropha elliptica (6.0 e 10.0mg).

Dentre as ações biológicas locais dos venenos botrópicos, a hemorragia é uma das

mais problemáticas devido às ações das hemorraginas, as quais causam pricipalmente

degenerações microvasculares, perda sangüínea e mionecrose. Observações microscópicas

do processo hemorrágico indicam que os microvasos se desintegram rapidamente cerca de

4-6 minutos após o contato com o veneno, e apresenta em camundongos uma cinética de

ação que atinge um máximo cerca de 3horas depois de inoculados, cujo quadro permanece

estável até 6 horas (Lomonte et al., 1994; Gonçalvez & Mariano, 2000). As ações locais

dos venenos não têm relações diretas com as ações letais sistêmicas das proteínas e

enzimas, mas certamente agravam os sintomas de coagulação e hemorragia interna,

conseqüências que podem levar ao choque e parada cardíaca, devido ao efeito hipotensivo

do veneno.

Vários processos são utilizados como coadjuvante à soroterapia para tratar os

sintomas locais dos envenenamentos botrópicos. Por exemplo, são utilizados tratamentos

com analgésicos para inibir os sintomas inflamatórios, profilaxia contra o tétano e às vezes

antibioticoterapia e aplicação de heparina no local da picada, que é um anticoagulante que

atua na dissolução de coágulos de fibrinogênio, causados pelas hemorraginas. Como

evidenciado neste trabalho, todas as plantas apresentaram forte efeito antihemorrágico, o

que as pode qualificar como base para tratamento coadjuvante à soroterapia, já que os

sintomas locais aparecem rapidamente, podendo ser atenuados com preparados à base de

plantas comprovadamente antihemorrágicas.

Os ensaios biológicos deste estudo validaram as representações populares que se dão

para o uso antiofídico de A. villosa, A. glaziovii, J. mollissima e J. elliptica. Não há relatos

na literaruta sobre a composição química destas plantas, nem estudos experimentais de

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81

efeitos antiinflamatórios (maioria dos usos das plantas medicinais em Sergipe e outras

regiões) ou verificações de efeitos antiofídicos. Possíveis mecanismos para explicar as

ações de inibição da letalidade do veneno botrópico por A.villosa e inibição da hemorragia

verificado nos extratos das quatro plantas testadas, podem ser as mesmas da literatura. As

hipóteses são: i) o extrato pode atuar como antagonista do veneno, por bloqueio de

receptores, ii) o extrato pode ligar-se às enzimas do veneno, formando um complexo

inativo, fornecendo assim uma proteção efetiva contra o veneno, iii) o extrato pode

apresentar uma ligação com as metaloproteínas do veneno, retirando cátions Zn++

(antagonismo químico) ou ligando-se às metaloproteínas, formando um complexo inativo;

esta hipótese é específica para as ações hemorrágicas, como verificado para o EDTA

(Rang, Dale & Ritter, 1995:13; Mors et al., 1989; Mors et al., 2000; Martz, 1992; Isla,

Malaga & Yarlequé, 2003; Pereira et al., 1994).

A literatura cita vários compostos de plantas com supostas ações antiofídicas, porém

são poucos os trabalhos que descrevem os possíveis mecanismos de ação dos compostos

isolados das plantas. Um trabalho pioneiro (e controverso) sobre plantas que inativam

venenos de cobras foi realizado por Nakagawa e colegas em 1982. Eles verificaram a ação

antiofídica do extrato hidroalcoólico da raiz de uma planta supostamente amazônica, citada

sob o nome popular cabeça-de-negro, mas omitiram a identificação (existem várias

espécies de famílias diferentes com este nome popular). Do extrato hidroalcoólico da

cabeça-de-negro eles isolaram duas substâncias, às quais denominaram cabenegrinas A-I e

A-II. O trabalho relata que o extrato inibiu o efeito cardiovascular do veneno de Bothrops

atrox (Viperidae) em cães e diminuiu a letalidade dos camundongos envenenados

experimentalmente (Nakagawa et al., 1982).

Os estudos experimentais de plantas medicinais tiveram um grande avanço na década

de 1980, com as pesquisas do químico de produtos naturais Walter Mors, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro. Mors vem trabalhando com várias plantas, em especial Eclipta

prostrata (L.) L (Asteraceae), depois de ver com sucesso o seu uso como antiofídica na

Amazônia. Mors et al. (1989) isolaram três substâncias do extrato etanólico de E. prostrata

(wedelolactona, sitosterol e stigmasterol) e verificaram que as substâncias foram capazes

de neutralizar a atividade letal do veneno de Crotalus durissus terrificus. Eles testaram

também a ação do extrato aquoso da planta contra a liberação de creatina-cinase no

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82

músculo esquelético de ratos expostos ao veneno; o extrato neutralizou, in vitro, o efeito

miotóxico do veneno, inibindo as ações das cininas. O estudo de Mors e colaboradores

utilizou preparações de músculo esquelético.

Um bom trabalho sobre a inibição de veneno ofídico por extrato de plantas é o de

Calixto e colaboradores, realizado em 1985. Eles trabalharam com o extrato bruto de

Mandevilla velutina (Apocynaceae) para verificar a inativação do veneno de B. jararaca,

utilizando útero isolado de rato, concluindo que o extrato teve ação sobre a bradicinina. É

muito ilustrativa a revisão que Martz fez em 1992, sobre os extratos de plantas com

potencial de neutralizar as toxinas dos venenos de cobras. Ele relatou o uso de preparações

de várias plantas utilizadas nos acidentes ofídicos, como é o caso do famoso preparado

�Específico Pessoa�, contra-veneno muito utilizado nas regiões norte e nordeste do Brasil.

Este preparado é feito em Sobral, Ceará, com a raíz da planta cabeça-de-negro, cuja

fórmula e identificação da espécie são mantidas em segredo pelos fabricantes. Borges et

al. (1996) realizaram um estudo com o �Específico Pessoa� para verificar a letalidade e a

eficácia deste específico em neutralizar as ações coagulantes, hemorrágicas e fosfolipásicas

do veneno de Bothrops atrox, concluindo que o produto foi ineficaz em todos os aspectos.

Nesta revisão de Martz de 1992, ele relatou também o uso de outros compostos com

ação antiofídica isolados de plantas, como o scumaniofosídeo, extraído da

Schumanniophyton magnificum Harms (Rubiaceae). Nos testes experimentais, este

composto reduziu a ação letal do veneno de Naja melanoleuca (Elapidae) quando

administrado um minuto após a inoculação do veneno; o mesmo efeito não ocorreu quando

o glicosídeo foi inoculado sessenta minutos após o veneno. Martz relatou o uso de outros

compostos isolados de plantas que neutralizavam a ação hemorrágica dos venenos, tais

como: i) a alantoína e o ácido aristolóquico da Aristolochia shimadai Hay.

(Aristolochiaceae); ambos foram eficazes em neutralizar os fatores hemorrágicos dos

venenos dos elapídeos Naja naja atra e Bungarus multicinctus, ii) o tanino de Diospyros

kaki Thunb. (Ebenaceae); testado contra os venenos de Laticauda semifasciata

(Hidrophiidae) e Trimeresurus flavoviridis (Viperidae), o tanino apresentou efeito

antihemorrágico, iii) a tripsina-da-soja de Soya hispida (Fabaceae), iv) e a wedelolactona

da Eclipta prostrata L. (Asteraceae). A literatura cita ainda vários compostos como tendo

possíveis ações antiofídicas, como triterpenos pentacíclicos, compostos fenólicos,

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83

derivados fenilpropanóides e flavonóides, porém sem citar os mecanismos de ação destes

compostos.

Em 1994, Melo e colegas verificaram a ação antihemorrágica e antimiotóxica de

E.prostrata sobre o veneno de cobras. Eles isolaram as miotoxinas bothropstoxina,

bothropsina e crotoxina dos venenos de B. jararaca, B. jararacussu e L. muta, e

verificaram a neutralização destas pelo extrato aquoso de E. prostrata e por três

constituintes isolados desta planta: wadelolactona, stigmaterol e stosterol. O extrato de E.

prostata, e seu principal constituinte, a wedelolactona, apresentaram efeito antimiotóxico e

antihemorrágico; os outros dois constituintes foram menos eficazes em neutralizar estas

ações (Melo et al., 1994).

O estudo preliminar sobre o efeito protetor do (-)-edunol, um pterocarpano isolado de

Brongniartia podalyrioides (Leguminosae) apresentou efeito contra o veneno de B. atrox,

reduzindo a mortalidade em camundongos. Estruturalmente o (-)-edunol está relacionado

com a (-)-cabenegrinas A-I e A-II, substâncias isoladas do extrato hidroalcoólico de uma

das espécies de plantas popularmente conhecidas como cabeça-de-negro (Reyes-Chilpa et

al, 1994).

Alguns compostos, como o EDTA (ácido etilenodiaminoteracético), são capazes de

inibir a ação das hemorraginas, possivelmente atraindo íons metálicos (principalmente o

zinco) desta proteína, inibindo a sua ação hemorrágica (Isla, Malaga & Yarlequé, 2003).

Pereira et al (1994) analisaram farmacologicamente as plantas utilizadas como antídotos de

venenos de serpentes na medicina popular. Eles isolaram compostos de diferentes plantas

que reduziram a letalidade do veneno de B. jararaca: i) triterpenos e esteróides de

Periandra mediterrânea (Vell.) Taub (Fabaceae) e Apuleia leiocarpa (Vogt) Macbr

(Caesalpiniaceae); ii) derivados do ácido cafeíco de Vernonia condensata Baker

(Compositae) e Cynara scolymus L. (Asteraceae); iii) cumarinas de Mikania glomerata

Spreng (Asteraceae) e de Dorstenia brasiliensis Lam. (Moraceae); iv) flavonóides de

Phyllanthus klotazschianus M. Arg (Euphorbiaceae), Citrus sinensis (L.) Osbeck

(Rutaceae), Apuleia leiocarpa e Derris sericea (H.B.K.) Ducke (Fabaceae); v)

lignoflavanóides de Silybum marianum Gaertn. (Compositae); vi) cumestanos de E.

prostrata, vii) saponinas de Bredemeyera floribunda Willd (Polygalaceae). Pereira e

colaboradores sugerem que algumas substâncias, como o ácido aristolóquico da planta

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84

Aristolochia sp, podem inibir as ações do veneno de B. jararaca, através da inibição da

fosfolipase (PLA2) do veneno. Esta enzima formaria um complexo 1:1 com o ácido

aristolóquico, porém não inibe totalmente as ações do veneno (Pereira et al., 1994). Martz

(1992) relata também que o ácido aristolóquico inibe parcialmente o veneno de

Trimeresurus flavoviridis (Viperidae), concluindo pela mesma ação do ácido com a

fosfolipase.

Batina, Giglio & Sampaio (1997) também estudaram a neutralização da ação letal do

veneno de C. durissus terrificus por extratos de plantas. Eles utilizaram o extrato aquoso da

casca de Peschiera fuchsiaefolia (Apocynaceae) e inocularam o veneno por via

intramuscular, relatando a neutralização do efeito letal do veneno pelo extrato de P.

fuchsiaefolia.

Castro et al (1999) verificaram uma possível neutralização da atividade hemorrágica

induzida pelo veneno de B. asper por 48 espécies de plantas da Costa Rica. O método

utilizado para verificar a atividade hemorrágica do veneno foi a técnica descrita por Kondo

e colegas (1960) e modificada por Gutiérrez et al. (1985). Castro e colegas também

analisaram a composição química dos extratos que apresentaram ação antihemorrágica

utilizando o veneno de B. asper: i) Phoebe brenessii (Lauraceae), ii) Clussia palmana e C.

torressii (Clusiaceae), iii) Pimenta dióica (Myrtaceae), iv) Bursera simaruba

(Burseraceae), v) Croton draco (Euphorbiaceae), vi) Sapindus saponaria (Sapindaceae),

vii) Persea americana (Lauraceae), (viii) Smilax cuculmeca (Smilacaceae) e ix) Virola

koschnyi (Myristicaceae). Eles relatam a presença de flavonóides, antocianinas,

protocianinas e taninos nas plantas, concluindo que estes compostos poderiam ter sido os

responsáveis pela inibição da hemorragia local.

Uma das melhores revisões sobre compostos químicos de plantas com supostas ações

antiofídicas, é a de Pereira e colaboradores, realizada em 1994. Após esta revisão, poucos

estudos com enfoque molecular de plantas sobre a ação dos venenos foram relatados. Uma

boa revisão sobre o tema foi publicada por Mors e colegas em 2000. Eles citaram várias

substâncias isoladas de plantas que neutralizam a ação letal do veneno de B. jararaca em

camundongos: corticosteróides, triterpenos, compostos fenólicos, ácidos hidroxibenzóico,

ácidos clorogênicos, curcuminóides, cumarinas, flavonóides, pterocarpanos, ácidos

aristolóquicos, taninos e polissacarídeos. Eles relataram que todas estas substâncias têm em

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85

comum o fato de pertencerem à mesma classe de �metabólitos secundários�, capazes de

interagirem com receptores e enzimas dos venenos.

Um excelente estudo sobre plantas da Colombia utilizadas como antiofídicas foi

realizado pela equipe de ofidismo da Universidade de Antioquia e Choco, coordenado por

Rafael Otero Patiño. Deste trabalho resultou o livro �Plantas utilizadas contra mordeduras

de serpientes em Antioquia y Chocó, Colombia�, o qual contém informações sobre o uso de

85 espécies vegetais relatadas como antiofídicas por curandeiros e xamãs (Otero, Fonnegra

& Jiménez, 2000). Eles também estudaram a neutralização do efeito hemorrágico do

veneno de B. atrox por 75 extratos de plantas da região da Colombia; 12 neutralizaram in

vitro o efeito hemorrágico do veneno: i) Brownea rosademonte Berg (Caesalpiniaceae), ii)

Pleopeltis percussa (Cav.) Hook & Grev. (Polypodiaceae), iii) Heliconia curtispatha

Petersen (Heliconiaceae), iv) Bixa orellana L. (Bixaceae), v) Trichomanes elegans L.C.

Rich (Hymenophyllaceae), vi) Citrus limon (L.) Burm. f. (Rutaceae), vii) Fícus

nymphaeifolia Miller (Moraceae), ix) Struthanthus orbiculares (H.B.K.) Blume

(Loranthaceae), x) Gonzalagunia panamensis (Cav.) Schumm (Rubiaceae), xi) Tabebuia

rosea (Ber Told.) DC. (Bignoniaceae) e xii) Sena dariensis (Br. & R.) I. & B.

(Caesalpiniaceae).

Nos experimentos in vivo realizados por Otero e colegas, apenas os extratos de

Brownea rosademonte, Bixa orellana e Ficus nymphaeifolia neutralizaram a hemorragia

causada por veneno botrópico. Os extratos de B. rosademonte e Pleopeltis percussa (Cav.)

Hook & Grev. (Polypodiaceae) também inibiram a atividade proteolítica do veneno de B.

atrox.

Borges et al (2000) verificaram o efeito do extrato aquoso de Casearia sylvestris

(Flacourtiaceae) sobre a letalidade, nas atividades da fosfolipase A2 (PLA2) e sobre as

atividades coagulante, miotóxica e edematogência dos venenos de várias espécies de

Bothrops. O extrato de C. sylvestris inibiu as seguintes ações: i) PLA2 miotóxicas, classe II,

isoladas dos venenos de B. pirajoi, B. neuwiedi e B. jararacussu, ii) a atividade

anticoagulante de várias PLA2, iii) a atividade miotóxica dos venenos de B. neuwiedi e B.

jararacussu, iv) o edema de pata-de-rato, induzido pelo veneno de B. moojeni e B.

jararacussu, bem como inibiu a atividade da miotoxina II isolada de B. moojeni e da

bothropstoxina I de B. jararacussu.

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86

Em outro estudo realizado com o extrato aquoso de Casearia sylvestris, Borges et al

(2001) verificaram a neutralização de proteases do veneno de várias espécies de Bothrops.

O extrato desta planta neutralizou a atividade hemorrágica causada pelo veneno de B.

asper, B. jararacussu, B. moojeni, B. neuwiedi e B. pirajai; além de ter neutralizado as

seguintes ações: i) atividade proteolítica sobre a caseína, induzida pelos venenos

botrópicos, ii) a degradação da cadeia -fibrinogênio causada pelo veneno de B.

jararacussu, iii) e aumentou o tempo de coagulação do plasma induzido pelo veneno de B.

jararacussu, B. moojeni e B. neuwiedi.

Ultimamente há poucos trabalhos sobre as ações de extratos de plantas capazes de

inibir alguns efeitos de venenos de cobras. Mahanta e Mukherjee (2001) relataram a ação

antiofídica do extrato de Mimosa pudica (Mimoseae) da India. O extrato aquoso da raiz

desta mimosácea indiana neutralizou in vitro as enzimas tóxicas do veneno de Naja kauthia

e antagonizou in vivo a letalidade e a miotoxicidade deste veneno. Borges et al. (2002)

realizaram uma análise química parcial de Musa sp (Musaceae) e mostraram a presença de

açúcar, saponinas e taninos capazes de interagir e neutralizar várias atividades dos venenos

de B. jararacussu e C. durissus terrificus. Foram neutralizadas as ações hemorrágicas,

além das atividades PLA2, miotoxicidade e coagulação do plasma. Esmeraldino et al.

(2002) relataram a inibição da atividade hemorrágica do veneno de B. jararaca por frações

(EA2MA e EA2MB) isoladas de Croton urucuruna (Euphorbiaceae). Mendes et al. (2002)

relataram o efeito do extrato aquoso das folhas de Schizolobium parayba (Caesalpinoideae)

de neutralizar as atividades proteolíticas e PLA2 do veneno de B.alternatus. Silva Júnior et

al. (2002) verificaram que o extrato aquoso de Kalonchoe brasiliensis (Crassulaceae)

reduziu a hemorragia e o edema induzido pelo veneno de B. alternatus.

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87

Conclusões

1. A epidemiologia dos acidentes ofídicos em Sergipe, analisada durante 1999-2002, não

foi diferente dos aspectos relatados por Vital Brazil em 1911: i) a maior freqüência foi

entre os homens, ii) os indivíduos com mais de 15 anos foram acidentados com maior

freqüência, iii) os membros inferiores foram os mais atingidos; iv) a maioria dos acidentes

foi atribuída a serpentes do gênero Bothrops, v) as manifestações clínicas mais freqüentes

foram: dor, edema, hemorragia local e hemorragia sistêmica, vi) e a soroterapia foi aplicada

em mais da metade dos casos; o tipo de soro mais freqüente foi o antibotrópico.

2. Além da soroterapia, os tratamentos aplicados nos envenenamentos ofídicos em Sergipe

incluem os métodos populares: rezas e benzeduras, preparados de contra-venenos e os

preparados com plantas, principalmente nas formas de infusão e decocção. As plantas da

caatinga de Sergipe conhecidas como antiofídicas (coletadas para verificação das

atividades antiofídicas) foram a cabeça-de-negro, a batata-de-teiú e o pinhão-bravo.

3. Quanto à gravidade, a maioria dos envenenamentos em Sergipe foi considerada leve.

4. Verifiquei algumas contradições nas notificações dos acidentes que ocorreram em

Sergipe, durante o período analisado, principalmente: i) confundindo os tipos de

envenenamento, ii) não informam como as serpentes foram identificadas para aplicação do

soro, iii) aplicação de soro crotálico com descrição de sintomas botrópicos, iv)

identificação de envenenamento por Lachesis, mas sem aplicação do soro antilaquético, v)

utilização de soro antibotrópico-crotálico em acidente causado por Crotalus

5. Os efeitos locais dos envenenamentos botrópicos são desencadeados rapidamente, em

menos de dez minutos após a picada da serpente, daí a importância de se estudar os efeitos

locais do envenenamento por Bothrops. As principais ações locais notificadas em Sergipe,

devido aos envenenamentos botrópicos foram: dor, edema, eritema e hemorragia.

6. As DL50 do veneno de B. jararaca apresentaram variações entre os experimentos. Os

coeficientes de regressões e as constantes de regressões também foram diferentes, mas os

dois métodos (análise probítica recomendada pela OMS e comparação entre as retas das

regressões) testados para verificar os experimentos agrupados apresentaram os mesmos

valores para DL50 (37.1g).

Page 102: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

88

7. A DMH do veneno de B. jararaca capaz de formar uma mancha hemorrágica de 10mm

de diâmetro no abdome foi 0.24g, determinada através de regressão linear do diâmetro da

área hemorrágica (y) sobre a concentração do veneno (x). Os coeficientes e constantes das

duas regressões foram próximos; a análise conjunta mostrou DMH igual às doses mínimas

hemorrágicas de cada experimento, 0.23g e 0.24g.

8. Foram encontradas na literatura cerca de 300 plantas citadas como tendo atividades

antiofídicas (inibição da letalidade e da hemorragia), a maioria delas com base apenas nas

representações populares.

9. Na maioria das plantas utilizadas popularmente como antiofídicas, citadas na literatura

com compostos químicos isolados, não foram realizados testes com veneno de cobras para

verificar as ações.

10. O extrato aquoso da Apodanthera villosa (1mg) inibiu a letalidade do veneno de B.

jararaca, as demais plantas não apresentaram efeito. As variações observadas entre os

experimentos foram minimizadas através de testes de homogeneidade (comparações

estatísticas múltiplas e pares); o agrupamento das amostras nas análises pôde ser utilizado

para aproveitar todos os dados devido à homogeneidade entre as repetições.

11. Os testes para verificação da inibição da hemorragia local também foram homogêneos,

permitindo agrupamentos nas análises. O extrato aquoso das plantas da família

Cucurbitaceae, Apodanthera villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg) e Apodanthera glaziovii (1.0, 3.0,

6.0 e 10.0mg), inibiram a ação hemorrágica do veneno.

12. As plantas da família Euphorbiaceae, Jatropha mollissima (3.0 e 6.0mg) e Jatropha

elliptica (6.0 e 10.0mg), também inibiram a hemorragia induzida pelo veneno, mas apenas

algumas concentrações apresentaram efeito significativo, quando comparadas com o grupo

controle.

13. Embora não tenham sido isolados compostos químicos das plantas estudadas, é

provável que os mecanismos de ações estejam relacionados às atuações específicas dos

seus componentes, os quais podem inibir as ações do veneno através de três mecanismos

descritos na literatura: i) o extrato pode atuar como antagonista do veneno, bloqueando os

receptores, ii) o extrato pode ligar-se às enzimas do veneno, como as fosfolipases,

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89

peptídeos e proteínas, formando um complexo inativo, iii) ou o extrato pode apresentar

uma ligação com as metaloproteínas do veneno, retirando os íons Zn++ ou ligando-se

diretamente a estas, formando um complexo inativo composto pelo extrato e hemorraginas.

14. O trabalho evidenciou significante efeito anti-hemorrágico nas quatro plantas testadas e

inibição da ação letal pelo extrato da batata-de-teiú de Sergipe, validando as representações

populares que se dão para o uso antiofídico de A. villosa, A. glaziovii, J. mollissima e J.

elliptica.

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98

Apêndices

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Page 113: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

99

Apêndice 1. Proporção de camundongos mortos/inoculados com relação à concentração de extrato.

Apodanthera villosa (batata-de-teiú)

Dose de extrato (g) Experimento I

0.002 0/6 0.004 0/6 0.008 0/6 0.015 1/6 0.03 5/6

Dose de extrato (g) Experimento II

0.005 0/6 0.01 0/6 0.02 3/6 0.03 5/6 0.04 4/6

Dose de extrato (g) Experimento III

0.005 0/6 0.01 0/6 0.02 6/6 0.03 5/6 0.04 6/6

DL50 da análise probítica conjunta = 0.018g

Jatropha mollissmia (pinhão-bravo)

Dose de extrato (g) Experimento I

0.001 0/6 0.004 0/6 0.009 6/6 0.01 5/6 0.04 6/6

Dose de extrato (g) Experimento II

0.001 3/6 0.003 5/6 0.005 6/6 0.007 6/6 0.009 6/6

Dose de extrato (g) Experimento III

0.0003 1/6 0.0005 1/6 0.001 0/6 0.003 5/6 0.005 4/6

DL50 da análise probítica conjunta = 0.002g

Apodanthera glaziovii (cabeça-de-negro)

Dose de extrato (g) Experimento I

0.001 0/6 0.003 0/6 0.005 2/6 0.007 1/6 0.009 3/6

Dose de extrato (g) Experimento II

0.003 0/6 0.005 0/6 0.007 2/6 0.009 2/6 0.011 6/6

Dose de extrato (g) Experimento III

0.003 0/6 0.005 2/6 0.007 5/6 0.009 5/6 0.011 6/6

DL50 da análise probítica conjunta = 0.007g

Jatropha elliptica (batata-de-teiú)

Dose de extrato (g) Experimento I

0.010 1/6 0.015 0/6 0.020 3/6 0.025 5/6 0.030 6/6

DL50 da análise probítica conjunta = 0.018g

Page 114: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

100

Apêndice 2. Homogeneidade entre os grupos controle: tempo de sobrevida (h).

Nº de controles I II III IV V VI

2.66 2.53 2.26 2.70 3.00 3.46 2.66 2.66 2.26 2.81 3.08 3.85 2.91 2.66 2.51 2.91 3.08 4.21 3.16 3.46 2.53 3.75 4.03 5.01 3.40 3.51 4.76 3.75 4.93 5.13 3.66 4.23 5.93

Apêndice 3. Apodanthera villosa, estudo piloto: tempo de sobrevida (h).

Extrato Controle

0.74mg 1.48mg

1.28 1.46 0.75 2.25 2.13 1.33 2.45 2.18 1.78

2.26 1.86 2.38 2.03 3.21 2.15

Page 115: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

101

Apêndice 4. Apodanthera villosa: tempo de sobrevida (h).

Controle Extrato (1mg) Experimento I

2.66 1.56 2.66 2.60 2.91 2.60 3.16 2.66 3.40 3.60 3.66 4.21

48.00 48.00

Experimento II 2.53 1.66 2.66 2.16 2.66 2.21 3.46 2.35 3.51 2.71 4.23 2.75

2.75 3.05 3.05 3.08 3.13 3.41 3.51 3.91 6.16 48.00

Experimento III 2.26 1.76 2.26 1.81 2.51 1.85 2.53 1.85 4.76 1.85 5.93 1.95

1.95 2.10 2.35 2.35 2.43 2.51 2.58 2.63 48.00 48.00

Experimento IV 2.70 2.30 2.71 2.58 2.91 2.63 3.75 2.96 3.75 3.06

3.38

Apêndice 5. Apodanthera glaziovii: tempo de sobrevida (h).

Extrato Controle

1mg 1.48mg 3.0mg 5.0mg Experimento I

2.26 2.13 1.35 1.06 2.26 2.83 1.66 1.15 2.51 2.83 1.81 1.15 2.53 3.50 1.81 1.30 4.76 5.00 2.08 1.56 5.93 48.00 3.45 1.56

Experimento II 2.70 2.23 2.16 2.81 2.23 2.16 2.91 2.23 2.16 3.75 2.23 2.16 3.75 2.23 2.16

2.16 Experimento III

3.46 2.05 3.85 2.08 4.21 2.60 5.01 2.60 5.13 2.60

2.60 2.60 2.60 2.60 2.60 2.60 2.68 2.76 2.88 3.15 3.15 3.15 3.33 3.48 3.48 3.66 3.83 4.30

Page 116: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

102

Apêndice 6. Jatropha mollissima: tempo de sobrevida (h).

Controle Extrato (1mg)

Experimento I 2.70 2.35 2.81 2.35 2.91 2.35 3.75 2.35 3.75 2.71

48.0 Experimento II

3.46 1.55 3.85 2.21 4.21 2.21 5.01 2.78 5.13 2.83

3.33

Apêndice 7. Jatropha elliptica: tempo de sobrevida (h).

Extrato Controle

0.74mg 1.0mg 1.48mg 5.0mg 10.0mg Experimento I 3.00 2.25 2.00 1.63 3.08 3.00 2.73 2.73 3.08 3.00 2.73 2.73 4.03 3.08 2.95 2.73 4.93 3.08 3.11 3.18 3.26 3.53 3.38 Experimento II 2.66 1.48 1.40 2.66 1.48 1.40 2.91 1.48 1.46 3.16 2.51 2.43 3.40 2.51 2.43 3.66 2.51 2.43 2.76 2.43 48.0 2.68

Page 117: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

103

Apêndice 8. Apodanthera villosa: diâmetro

da área hemorrágica (mm). Extrato

Controle 1mg 3mg 6mg

Experimento I 16.31 9.77 4.65 16.51 10.88 5.29 19.25 12.26 5.75 20.25 13.40 6.48

14.45

Experimento II 16.62 12.05 4.06 18.12 12.15 5.75 19.61 12.36 6.95

13.25 9.77 Experimento III

12.91 3.90 0.0 13.11 6.67 0.0 17.44 8.51 3.90

11.17 7.98 Apêndice 10. Jatropha mollissima: diâmetro

da área hemorrágica (mm). Extrato

Controle 1mg 3mg 6mg

Experimento I 12.91 6.77 14.00 7.57 14.05 12.56 16.89 13.11

14.36 14.45 16.85

Experimento II 12.91 13.82 13.11 16.12

16.66 17.48

Experimento III 14.93 5.97 7.31 16.43 7.04 7.40

9.44 13.16 Experimento VI

12.10 4.51 4.22 13.44 4.78 4.37 14.27 6.58 5.29 14.45 7.22 5.86 14.67 9.51 6.48

10.03 7.22 9.44

Apêndice 9. Apodanthera glaziovii: diâmetro

da área hemorrágica (mm). Extrato

Controle 1mg 3mg 6mg 10mg

Experimento I 12.91 4.51 8.95 4.65 5.64 14.00 10.09 8.66 4.78 6.48 14.05 11.28 5.17 6.67 16.89 12.26 6.58 6.77

Experimento II 12.91 5.86 8.52 5.75 5.17 13.11 8.13 8.88 6.18 6.07 17.44 11.28 9.44 6.28 7.73

12.10 9.70 9.09 12.91 10.09 10.15

Apêndice 11. Jatropha elliptica: diâmetro da área

hemorrágica (mm). Extrato

Controle 1mg 3mg 6mg 10mg

Experimento I 13.96 13.77 13.25 19.87 13.61 14.93 20.19 18.09 15.55 20.84 14.27 18.91 22.20 20.09 19.93

Experimento II 16.31 2.52 16.51 2.76 19.25 7.13 20.19 7.48 20.25 10.46

Experimento III 16.62 1.95 2.76 18.12 2.25 3.56 19.61 2.76 4.06

5.97 6.38 Experimento IV

12.91 8.59 8.37 2.76 13.11 11.51 14.27 3.19 17.44 14.40 3.56

3.90

Page 118: 04  ofidismo em sergipe- epidemiologia

104

Apêndice 12. Diâmetro da área hemorrágica com relação à concentração

de extrato. Dose de extrato (mg) Diâmetro da área hemorrágica (mm)

Apodanthera villosa (batata-de-teiú)

1.0 - - - 3.0 1.59 1.95 - 6.0 1.12 - -

Apodanthera glaziovii (cabeça-de-negro)

1.0 - - - 3.0 1.59 2.52 - 6.0 1.59 1.95 -

10.0 1.95 2.76 - Jatropha mollissima (pinhão-bravo)

1.0 - - - 3.0 3.90 - - 6.0 3.90 4.06 -

Jatropha elliptica (batata-de-teiú)

1.0 1.12 1.59 1.59 3.56 3.0 1.59 1.59 2.76 3.56 6.0 1.95 2.25 2.52 4.91

10.0 2.52 2.76 3.19 -

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105

Apêndice 13. Espécies de plantas citadas como antiofídicas na literatura.

Planta Família Composto (s) Autor (es)

Aegiphila salutaris (contra-cobra) Verbenaceae Pio Corrêa, 1909 Annona furfuracea (araticum) Anonaceae Peckolt, 1814 Apuleia leiocarpa Caesalpiniaceae -amirin, apuleína Pereira et al., 1994 Arisaema phythonium (=Zomicarpa

pythonium) Araceaea D�Oliveira, 1854

Aristoloquia antihysterica (=Aristoloquia triangularis) (cipó-de-jarrinha ou mil-homens)

Aristolochiaceae D�Oliveira, 1854

A. shimadai Aristolochiaceae alantoína, ácido aristolóquico Tsai et al., 1975; 1980; Martz, 1992

A. trilobata (calunga ou jarrinha) Aristolochiaceae Pio Corrêa, 1926-1978 Bixa orellana Bixaceae Botrichium virginicum (língua-de-víbora-do-campo)

Ophioglossaceae Peckolt & Peckolt, 1888

Bredemeyera floribunda Polygalaceae bredemeirosida Pereira et al., 1994 Brongniartia podalyrioides Leguminosae (-)-edunol Reyes-Chilpa et al., 1994 Brownea rosademonte Caesalpiniaceae Otero et al., 2000 Bryonia bonariensis ficifolio (=Cayaponia bonariensis) (tuyutá ou

abobrinha-do-mato)

Cucurbitaceae D�Oliveira, 1854

Bursera simaruba Burseraceae flavanoide e taninos condensados Castro et al., 1999 Cabeça-de-negro cabenegrina A-I e A-II Nakagawa et al., 1982 Casearia sylvestris (língua-de-tiú) Flacurtiaceae Braga, 1960; Borges, 2000, 2001 Chiococca anguifuga (=Chiococca

brachiata) (raiz-preta) Rubiaceae D�Oliveira, 1854; Braga, 1960

Cissampelos ebracteata (orelha-de-onça)

Menispermaceae Schindler, 1884

C. glaberrima (cipó-de-cobra) Menispermaceae Schindler, 1884; Pio Corrêa, 1909 C. ovalifolia (orelha-de-onça) Menispermaceae D�Oliveira, 1854 Citrus limon Rutaceae Otero et al., 2000 C. sinensis Rutaceae hesperidina Pereira et al., 1994 Clusia palmana Clusiaceae flavanóides (vitexina e epicatequina),

taninos Castro et al., 1999

C. torresii Clusiaceae flavanóides (vitexina e epicatequina),

taninos Castro et al., 1999

Cocculus filipendula (abútua-miúda) Menispermaceae Pio Corrêa, 1926-1978 Croton sp. (erva-mular ou curraleira) Euphorbiaceae D�Oliveira, 1854 C. draco Euphorbiaceae flavanóides (catequina), taninos

condensados Castro et al., 1999

C. urucuruna Euphorbiaceae EA2MA, EA2MB Esmeraldino, 2002 Cynara scolymus Asteraceae cinarina Pereira et al., 1994 Derris sericea Fabaceae derricidina Pereira et al., 1994 Diospyros kaki Ebenaceae tanino persimmon Okonagi et al.; Martz, 1992 Dostenia brasiliensis Moraceae bergapteno Pereira et al., 1994 Dracontium polyphyllum

(=Dracontium asperum) (milho-de-cobra, jararaca, jararaca-mirim ou erva-de-santa maria)

Araceae D�Oliveira, 1854; Peckolt &

Peckolt, 1888; Pio Corrêa, 1909;

Braga, 1960

Eclipta alba (agrião-do-brejo) Asteraceae Silveira, 1921 E. prostrata (erva-de-botão) Asteraceae wadelolactona, sitosterol,

stigmasterol Martz, 1992; Mors, 1989, 1994

Erythroxylon anguifugum (fruta-de-pombo)

Erythroxylaceae D�Oliveira, 1854

Eupatorim crenatum (=Mikania

cordifolia) Asteraceae D�Oliveira, 1854

Ficus nymphaeifolia Moraceae Otero et al., 2000 Gomphrena officinalis (para-tudo) Amaranthaceae Schindler, 1884 Gonzalagunia panamensis Rubiaceae Otero et al., 2000 Heliconia curtispatha Heliconiaceae Otero et al., 2000

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106

Apêndice 13. Continuação.

Planta Família Composto (s) Autor (es)

Hypericum irazuensis Clusiaceae Castro et al., 1999 H. laxiusculum (alecrim-bravo) Hypericineae D�Oliveira, 1854; Pio Corrêa,

1926-1978 Isoetes martii (batatinha-d�água) Isoetaceae Peckolt & Peckolt, 1888; Pio

Corrêa, 1926-1978 Kalanchoe brasiliensis Crassulaceae Silva Júnior et al., 2002 Mikania glomerata Asteraceae cumarina Pereira et al., 1994 M. guaco (guaco) Asteraceae Schindler, 1884 M. opifera (=Mikania cordifolia)(erva-de-cobra)

Asteraceae Schindler, 1884; Silva Junior et al., 2002

Mimosa pudica Mimoseae Mahanta & Mukherjee, 2001 Musa sp. Musaceae açúcar, saponinas e taninos Borges et al., 2002 Ophioglossum palmatum (língua-de-vébora)

Ophioglossaceae Peckolt & Peckolt, 1888

Peltodon radicans (paracari ou hortelã-brava)

Labiateae Schindler, 1884; Braga, 1960

Periandra mediterranea Fabaceae periandrinos Pereira et al., 1994 Persea americana Lauraceae flavonóide, monosacarídeo

(perseína), protocianidina, taninos

condensados

Castro et al., 1999

Peschiera fuchsiaefolia Apocynaceae Batina, Giglio & Sampaio, 1997 Phoebe brenesii Lauraceae flavanóides (quercetina), taninos

condensados Castro et al., 1999

Phyllanthus klotzschianus Euphorbiaceae rutina, quercetina Pereira et al., 1994 Pimenta dioica Myrtaceae flavanóides (quercetina e catequina),

taninos condensados Castro et al., 1999

Pleopeltis percussa Polypodiaceae Otero et al., 2000 Sapindus saponaria Sapindaceae flavonóides Castro et al., 1999 Schizolobium parayba Caesalpiniaceae Mendes et al., 2002 Schumanniophyton magnificum Rubiaceae scumaniofosídeo Akinyili & Akubue, 1986; Martz,

1992 Sena dariensis Caesalpiniaceae Otero et al., 2000 Silybum marianum Asteraceae silimarina Pereira et al., 1994 Smilax cuculmeca Smilacaceae antocianinas Castro et al., 1999 Soya hispida Fabaceae tripsina da soja Martz, 1992 Staurostigma luschnathianum (jararaca-do-rio)

Araceae Peckolt & Peckolt, 1888

Struhanthus orbiculares Loranthaceae Otero et al., 2000 Tabebuia rosea Bignoniaceae Otero et al., 2000 Tradescanthia geniculata (=Gibasis

geniculata) (trapoeiraba-efêmera) Commelinaceae Peckolt & Peckolt, 1888

Trichomanes elegans Hymenophyllaceae Otero et al., 2000 Vernonia condensata Asteraceae ácido clorogênico Pereira et al., 1994 Virola koschnyi Myristicaceae taninos condensados Castro et al., 1999 Zamia brongniartii (salgueira-da-terra) Zamiaceae Peckolt & Peckolt, 1888 Mais plantas em Mors et al. (2000), levantamento de substâncias isoladas de plantas antiofídicas.