06 - Avaliao Fsico-qumica e Anlise Microbiolgica Do Perfil de Susceptibilidade Antimicrobiana de Isoladas No Rio Coc

Introdução

O crescimento populacional aliado ao avançotecnológico tem colocado em risco o equilíbrio dosrecursos naturais. Além da urbanização que polui osrecursos hídricos com lançamentos de despejos

líquidos e sólidos de diversas origens, a intensificaçãoda agropecuária e industrialização também exerce umimportante impacto, com a destruição da vegetaçãooriginal, provocando problemas de erosão, salinização,assoreamento dos corpos d'água e contaminação comprodutos químicos e nutrientes (Magalhães et al.,2000).

Avaliação físico-química e análise microbiológica do perfil de susceptibilidade

antimicrobiana de isoladas no Rio CocóEscherichia coli

Regine Helena Silva dos Fernandes Vieira ;Darlyane Gadelha de Castro ; Fátima Cristiane Teles deCarvalho ; Edirsana Maria Ribeiro de Carvalho ; Norma Suely Evangelista-Barreto

1 1

2 2 3

1

2

3

Universidade Federal do Ceará. Laboratório de Microbiologia do Pescado e Ambiental. Av. Abolição, 3207, Meireles, CEP:60.165.081, Fortaleza, CE. E-mail: [email protected]

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE. E-mail: [email protected];

Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Campus Universitário.CEP: 44380-000, Cruz dasAlmas, BA. e-mail: [email protected]

[email protected]

Resumo:

Abstract:

O objetivo da presente pesquisa foi avaliar a contaminação microbiológica das águas do Rio Cocó,Fortaleza, CE, através da quantificação de coliformes totais (CT) e termotolerantes (CTe); verificar as inter-relaçõesentre esses fatores bióticos e os parâmetros físico-químicos (pH, temperatura e salinidade) e monitorar ocomportamento das cepas de isoladas desse ambiente aquático, frente a diferentesantimicrobianos. Os pontos P1 e P2 escolhidos para o estudo são distantes entre si por 6,5 km. Os valores obtidospara o Número Mais Provável de CTe das amostras de água variaram de 2,6 x 10 a 3,5 x 10 / 100 mL para o pontoP1 e <1,8 x 10 a 1,4 x 10 / 100 mL para o ponto P2. Dos pontos estudados, o que apresentou maior NMP de CT eCTe/ 100 mL foi o ponto P1. Das 90 cepas isoladas, 47 (52,2%) foram confirmadas como e dessas, 15 (32%)apresentaram resistência a pelo menos um dos antimicrobianos testados. Com isso, conclui-se que o Rio Cocóencontra-se impróprio para o uso primário, podendo apresentar risco à saúde dos frequentadores. A presença deestirpes resistentes a alguns antimicrobianos indica a propagação de genes de resistência.

Palavras chave: poluição fecal, resistência antimicrobiana, saúde pública

The aim of the present was to evaluate the microbiological contamination of the Cocó river wasters, atFortaleza county, Ceará State, as shown by estimates of total (TC) and thermotolerant (eTC) coliforms; to verify therelationship between the abundance of those organisms and local environmental factors (pH, temperature andsalinity); and to oversee the behavior of strains isolated from this environmental by differentantimicrobial. Points P1 and P2 chosen for study are far from each other by 6.5 km. The values obtained to MPN ofeTC of water samples ranged from 2.6 x to 3.5 x / 100 mL for the point P1 and <1.8 x to 1.4 x / 100 mLfor P2. Points studied, which showed higher NMP TC and eTC / 100 mL was the point P1. Of the 90 strains isolated,47 (52.2%) were confirmed as and of these, 15 (32%) were resistant to at least one antimicrobial used in theresearch. Therefore, Cocó river waters may be classified as Improper for primary utilization, so that they may turninto a health hazard to bathers. The presence of strains that have proved resilient to some antimicrobial couldindicate the propagation of resistance genes.

Key words: fecal pollution, antimicrobial resistance, public health

Escherichia coli,

E. coli

Escherichia coli

E. coli

3 4

0 4

Assessment of physical-chemical and analysis of microbiological profile of antimicrobial

susceptibility of isolated from Cocó RiverEscherichia coli

10 10 10 103 4 0 4

ISSN 2236-4420

Magistra, Cruz das Almas, v. 23, n. 4, p. 200-206, out./dez., 2011.

O Rio Cocó é o maior rio de Fortaleza, com 45 kmde extensão e uma área de 379 ha, que nasce na Serrade Aratanha e deságua no Atlântico, entre a Praia doFuturo e Sabiaguaba. Ao longo de seu percurso sofreuma série de agressões relacionadas ao despejo deesgotos domésticos e industriais (Vieira eFaçanha, 1994). A cidade que hoje possui 2.473.614habitantes apresentou um aumento de 88,9% em suapopulação urbana do período de 1980 a 2008, econsequentemente, um crescimento na demanda deágua e produção de dejetos, não sendo acompanhadoa implantação de infra-estrutura necessária (IBGE,2008).

As bactérias do grupo dos coliformes fecais outermotolerantes têm sido utilizadas mundialmentecomo parâmetros para se verificar a qualidade da água.Para Vieira et al. (2008) o estudo da poluiçãomicrobiológica do meio aquático reveste-se deimportância, uma vez que avalia a qualidade da águautilizada por uma determinada população. Emreservatórios cujos índices de coliformes totais etermotolerantes são elevados, há indícios da presençade patógenos, fato que concorre para a disseminaçãode doenças, como infecções diarréicas e cólera.

A bactéria é um dos principaisagentes etiológicos das infecções entéricas e quandopresente na água ou alimentos indica umacontaminação de origem fecal (Vieira, 2004). Amostrasde resistentes a antimicrobianos têm sidoobservadas em diversos reservatórios (Reinthaler et al.,2003; Vieira e Vasconcelos, 2006; Baquero et al., 2008;Schneider et al., 2009). A importância das substânciasantimicrobianas no aumento do fenômeno daresistência reside no seu papel selecionador dosexemplares resistentes, através da pressão seletiva noemprego clínico (humano e veterinário), industrial(conservação de alimentos), comercial (engorda deanimais) e experimental (Tavares, 2000).

Este trabalho teve como objetivo avaliar acontaminação microbiológica das águas do Rio Cocó,através da quantificação de coliformes totais etermotolerantes; detectar os parâmetros físico-químicos (pH, temperatura e salinidade); isolar cepasde e testar sua susceptibilidade adiferentes antimicrobianos.

Foram coletadas 15 amostras semanais de água,sempre pela manhã, no período de abril a agosto de2007, no Rio Cocó (Fortaleza-CE). As amostras eramcoletadas em vidros de cor âmbar, esterilizados e comcapacidade de 1000 mL. Os pontos escolhidos para oestudo foram Ponto P1 - na ponte que cruza a Av. Eng.

in natura

Escherichia coli

E. coli

Escherichia coli

Material e Métodos

Santana Jr. próximo ao e Ponto P2 -na foz do rio (praia do Caça e Pesca), distante 6,5 Km doprimeiro ponto.

No momento da coleta das amostras foi feita amedição da temperatura da água com termômetro decoluna de mercúrio, da marca Incoterm®. Em seguida,as amostras foram levadas, imediatamente, para olaboratório de Microbiologia Ambiental e do Pescado noInstituto de Ciências do Mar (LABOMAR) naUniversidade Federal do Ceará, onde foramprocessadas e realizadas as demais medições (pH esalinidade). O Número Mais Provável (NMP) decoliformes totais (CT) e coliformes termotolerantes(CTe) foi calculado usando a Tabela de Hoskins(Garthright, 2001), a partir da técnica dos tubosmúltiplos. Posteriormente, foram feitos o isolamento e aidentificação das cepas de segundo oBacteriological Analytical Manual - BAM (Feng et al.,2001).

Aclassificação dos locais estudados foi realizadasegundo o especificado pelas legislações vigentes(CONAMA, 2000, 2005). Também foram verificados osíndices pluviométricos (IP) dos dias imediatamenteanteriores à coleta fornecidos pela Fundação Cearensede Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) e osníveis de maré, obtidos pela tábua de maré (ref. Portodo Mucuripe, Fortaleza).

Após a identificação das estirpes de ,procedeu-se os testes de susceptibi l idadeantimicrobiana usando o método de difusão em placa,de acordo com a metodologia proposta pelo Clinical andLaboratory Standards Institute (CLSI, 2005). Para arealização dos testes, as colônias de foramrepicadas em placas de Petri contendo o meio TriptonaSoja Agar (TSA) e incubadas a 35ºC/24 h. Em seguida,três a cinco colônias de cada placa foram retiradas como auxílio de uma alça de níquel cromo (flambada eesfriada) e transferidas para um tubo contendo 9 mL desalina 0,85%, que, após agitação, foi comparado com otubo padrão 0,5 da escala McFarland. A densidadecorreta do controle da turbidez foi verificada usando-seespectrofotômetro (Micronal®), onde a absorbância dasolução padrão de MacFarland a 0,5 variou de 0,08 a0,10, a um comprimento de onda de 625 nm. Após oajuste do inóculo, mergulhou-se um de algodãoestéril na salina turva, pressionando-se firmementecontra a parede interna do tubo a fim de ser retiradoqualquer excesso. Em seguida, o foi espalhado nasuperfície da placa de Petri contendo ágar Mueller-Hinton, adicionado os discos do antimicrobiano e asplacas incubadas em estufa, a 35ºC/18 h. O perfil deresistência da bactéria foi observado medindo-se oshalos de inibição com um paquímetro. Osantimicrobianos usados foram: ácido nalidíxico (30 µg),ampicilina (10 µg), cefoxitina (30 µg), gentamicina (10µg), imipenem (10 µg) e tetraciclina (30 µg).

Shopping Iguatemi

E. coli

E. coli

E. coli

swab

swab

Vieira et al.201


Resultados e Discussão

Dentre os pontos estudados ao longo do curso dorio Cocó, o ponto P1 registrou um NMP/100 mL para CTmaior que o ponto P2, variando de 3,4 x 10 a 5,4 x 10 e<1,8 x 10 a 2,8 x 10 , respectivamente. Embora os CTnão sejam levados em consideração na Resolução n .274 do CONAMA (2000) e sim os CTe, razão porquenão foram dispostos em tabela, o grupo dos coliformestotais inclui micro-organismos capazes de fermentar alactose com produção de gás em 24 - 48 h a 35ºC eportanto servindo de bioindicador para avaliar aqualidade microbiológica da água. Neste grupo seencontram cerca de 20 espécies, dentre as quais,bactérias do trato gastrintestinal de humanos e outrosanimais de sangue quente, bem como diversos outrosgêneros, tais como a e (Silva et al.,1997).

Com relação ao NMP de CTe/100 mL dasamostras de água foi observado no ponto P1 valoresoscilando de 2,6 x 10 a 3,5 x 10 (Figura 1) e no pontoP2 uma variação de <1,8 x 10 a 1,4 x 10 (Tabela 1). Deacordo com a Resolução n 357 (CONAMA, 2005) quedispõe sobre a classificação dos corpos d'água, aságuas do ponto P1 (águas salobras) podem serclassificadas nas Classes 1 e 3 da seção II (águasdestinadas à aquicultura e à atividade de pesca (alíneac da Classe 1) e alínea b da Classe 3 (harmoniapaisagística). Para ser enquadrada nessas classes,80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadasdurante o período de um ano, com frequência bimestral,não podem ultrapassar o limite de 1.000 coliformestermotolerantes por 100 mililitros. Apesar dos dadosnão corresponder ao período de um ano, chama-se aatenção para o fato de que em todas as 15 amostrasestudadas os valores encontrados estavam bem acimado limite permitido pela legislação, consideradas assim,fora do padrão vigente (Figura 1).

3 4

2 4

o

3 4

0 4

o

Serrati Aeromonas

Vieira e Façanha (1994), estudando o mesmoambiente, relataram elevados valores de NMP de CTepara as águas sob a ponte da Av. Engenheiro SantanaJr.. Treze anos depois se observa que nada mudou e aságuas do rio Cocó nesse ponto continuam com umelevado índice de poluição bacteriológica. Nesse pontoo rio sofre com a poluição a montante provinda doComplexo Industrial de Maracanaú, através do rioTimbó e do “lixão” do Jangurussu, além da favela doLagamar, local conhecido pela falta de saneamentobásico e pela ocupação desordenada de diversasfamílias. Dessa forma, o rio a cada dia vai morrendo umpouco e o pescado que é capturado pelas famíliasribeirinhas para o próprio consumo e comercialização éde má qualidade.

Figura 1 - Número Mais Provável (NMP) de coliformestermotolerantes (CTe) no ponto P1 (Rio Cocó,Fortaleza - CE, ponte que cruz a Av. Santana Jr.próximo ao Shopping Iguatemi), no período deabril a agosto de 2007, classificadas segundocritérios da resolução n . 357 (CONAMA, 2005).o

Conjunto deamostras

Ponto P2Cte / 100 mL

CLMínimo Máximo Média1ª - 5ª 7,8 x 102 2,1 x 103 1,7 x 103 I2ª - 6ª 7,8 x 102 3,3 x 103 1,6 x 103 I3ª - 7ª 7,8 x 102 3,3 x 103 1,4 x 103 I4ª - 8ª 7,8 x 100 3,3 x 103 1,3 x 103 I5ª - 9ª <1,8 x 100 1,1 x 103 6,9 x 102 P6ª - 10ª <1,8 x 100 1,1 x 103 6,9 x 102 P7ª - 11ª <1,8 x 100 7,8 x 102 5,1 x 102 P8ª - 12ª <1,8 x 100 7,8 x 102 4,9 x 102 P9ª - 13ª <1,8 x 100 7,8 x 102 3,3 x 102 P

10ª - 14ª <1,8 x 100 1,4 x 104 3,1 x 103 I11ª - 15ª <1,8 x 100 1,4 x 104 3,0 x 103 P

Tabela 1 - Número Mais Provável (NMP) de coliformes termotolerantes (CTe) no ponto P2 (Rio Cocó, Fortaleza - CE,na foz do rio Praia do Caça e Pesca), no período de abril a agosto de 2007, classificadas segundo critériosde balneabilidade na resolução n . 274 (CONAMA, 2000).o

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Coletas

NM

P(C

T)

/ 100 m

L

Vieira et al.202


O ponto P2 próximo a praia atende à Resoluçãonº 274 (CONAMA, 2000), que dispõe sobrebalneabilidade (recreação de contato primário) e queestá dentro da Resolução 357, na Seção II, Classe 1,alínea a (CONAMA, 2005). Segundo essa resolução aágua é tida como satisfatória quando 80% ou mais deum conjunto de amostras obtidas em cada uma dascinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local,houver, no máximo, 1.000 coliformes termotolerantespor 100 mililitros. Esse ponto esteve impróprio parabalneabilidade apenas até o quarto conjunto deamostras. A partir de então, foi considerado próprio,com exceção do décimo conjunto de amostras, queapresentou na última coleta valores de 1,4 x 10 (Tabela1). Segundo o CONAMA (2000) as águas sãoconsideradas impróprias quando no trecho avaliado, ovalor obtido na última amostragem for superior a 2.500coliformes termotolerantes. Nesse período, houve umgrande aporte de água doce advindo da chuva, queinfluenciou a salinidade do local, diminuindo-a eaumentando o teor de matéria orgânica trazida pelacorrente do rio, influenciando positivamente noaumento do NMP de CTe. Nas semanas seguintes, pornão haver mais chuvas, a salinidade aumentou e o teorde matéria orgânica diminuiu, influenciando nadiminuição do NMP para CTe, fazendo com que a águado rio fosse considerada satisfatória (Tabela 1).

Vieira et al. (2007) ao analisarem diferentesáreas da orla, dentre elas a praia do Futuro,conseguiram, à imitação dos dados do presente estudo,

4

um máximo de CTe de 3,5 x 10 / 100 mL, corroborandocom Vieira e Façanha (1994), que relatarem baixosvalores de CTe, e na maioria das vezes, ausênciacompleta desses micro-organismos.

Os parâmetros físico-químicos da água para atemperatura, pH e salinidade estão dispostos na Tabela2. Para os pontos P1 e P2, os valores de temperatura daágua apresentaram pouca variação (28º - 30ºC).Temperaturas uniformes ou com poucas flutuações aolongo do ano são típicas de regiões tropicais. O risco depoluição das águas marinhas por ouenterobactérias patogênicas ao homem, é muito maiorem águas quentes e ricas em matéria orgânica(Gauthier et al., 1993).

O pH em todas as amostras apresentou umafaixa neutra, com tendência alcalina no ponto P2, áreapróxima à praia, principalmente nos dias de maré cheia.A média do pH nos pontos P1 e P2 foi de 7,4 e 7,8respectivamente. Os valores de pH na preamar semostraram, na maioria das coletas, superiores aosregistrados na baixa-mar.

A influência do pH sobre os ecossistemasaquáticos naturais está relacionada aos efeitos sobre afisiologia das diversas espécies. O efeito indireto émuito importante podendo, em determinadas condiçõescontribuir para a precipitação de elementos químicostóxicos tais como os metais pesados. Os critérios deproteção à vida aquática fixam o pH entre 6,0 e 9,0(CETESB, 2008).

5

E. coli

Tabela 2 - Parâmetros físico-químicos (temperatura, pH e salinidade) da água nos pontos P1e P2

no período de abril a agosto de 2007.

(Rio Cocó, Fortaleza -CE, ponte que cruz a Av. Santana Jr. próximo ao Shopping Iguatemi) (Rio Cocó, Fortaleza - CE, nafoz do rio Praia do Caça e Pesca)

Coletas

Parâmetros Físico-Químicos

Ponto 1 Ponto 2

Temperatura(ºC)

pH Salinidade(‰)

Temperatura(ºC)

pH Salinidade(‰)

1 29,0 7,11 0 28,5 7,30 52 28,0 7,00 0 28,0 7,55 103 29,0 7,18 0 30,0 7,40 124 28,8 7,44 2 28,0 8,22 355 29,0 7,43 3 30,0 7,99 346 28,7 7,53 3 29,0 8,04 307 28,0 7,43 2 29,0 8,08 408 28,0 7,48 3 29,0 7,63 359 27,0 7,38 2 28,0 8,05 40

10 28,0 7,60 3 28,5 7,88 3511 28,0 7,56 3 28,5 8,03 4012 29,0 7,43 0 29,5 7,67 3013 28,0 7,53 0 29,0 7,98 3814 29,0 7,39 0 29,3 7,62 1515 28,0 7,51 3 28,3 8,07 38

Média 28,4 7,40 1,6 28,8 7,8 29,1

Vieira et al.203


Com relação à salinidade no ponto P1 a variaçãofoi de 0 a 3,0‰ e no ponto P2 de 5 a 40‰. No primeiroponto a variação da salinidade é menor, por ser um localque recebe pouca influência de água salgada. Já noponto P2 local de intensa salinidade, os valoresestiveram elevados, exceto nas três primeiras e 14ºcoletas. Ressalta-se que nas três primeiras coletasrealizadas no mês de abril/2007, este é um período defortes chuvas na cidade, onde o aporte de água doceadvinda das precipitações contribuiu para a diminuiçãoda salinidade. Segundo a FUNCEME, o índicepluviométrico na ocasião foi de 9,6, 70,0 e 27,6 mm. Abaixa salinidade observada na 14º coleta é justificadapela ocorrência de chuva na noite antecedente à coleta.Outro fator que também influenciou na salinidade foi amaré, uma vez que as coletas eram realizadas semprepela manhã, sem observância de sua variação.

Das 90 cepas isoladas das amostras de águaestudadas, 47 (52,2%) foram confirmadas como ,demonstrando que durante o período da pesquisa, oRio Cocó recebeu contínuo aporte fecal. A presença de

na água tem importância para a saúde pública,visto que algumas estirpes dessa bactéria pertence aum grupo de cepas patogênicas conhecidas comoentero-hemorrágicas (EHEC) ou produtoras deverotoxina (VTEC). O157:H7 é uma dasprincipais causadoras de colite hemorrágica, sendoadquirida predominantemente, através da rota dedoenças veiculadas pela água (Chalmers et al., 2000).Por isso, a exposição e contato de pessoas com águasrecreacionais contaminadas têm sido frequentementeassociados a riscos a saúde pública, e por esse motivoo controle de águas destinadas a balneabilidadeenfoca, principalmente a qualidade microbiológica dasmesmas (Vieira et al., 2007). Apesar de não serconsiderada persistente, uma vez que a mesma élançada do trato digestivo através das fezes dosanimais, quando misturada ao solo, essa bactéria podepermanecer viável por vários meses (Reche et al.,2010).

(47) apresentou resistência antimicro-

E. coli

E. coli

E. coli

E. coli

E. coli

biana de 28% a tetraciclina (13/47), 19% a ampicilina(9/47) e 2% ao ácido nalidíxico (1/47). Resistênciaintermediária foi observada em 03 (6%) cepas para oácido nalidíxico. Todas as cepas apresentaramsusceptibilidade aos antimicrobianos gentamicina,cefoxitina e imipenem. Na Tabela 3, pode-se observarque o ponto P2 apresentou maior número de cepasresistentes a tetraciclina e ampicilina quandocomparado ao ponto P1, embora no ponto P1 pôde-seobservar cepas com perfil de resistência a trêsantimicrobianos de diferentes classes: tetraciclina,ampicilina e ácido nalixídico, caracterizando perfil demultiresistência.

Elevada resistência a tetraciclina foi relatada porVieira e Vasconcelos (2006). A tetraciclina é umantibiótico que tem sido usado na área médica durantedécadas e o aumento nas taxas de resistência tem sidoobservado tanto em bactérias Gram-negativas quantoem cocos Gram-positivos (Reinthaler et al., 2003).Resistência a ampicilina também tem sido relatada emdiversos trabalhos (Vieira et al., 1996; Reinthaler et al.,2003). A ampicilina é um beta-lactâmico, cujomecanismo de ação consiste em inibir a síntese deparede celular das bactérias em crescimento, causandolise osmótica (Tavares, 2001). Cepas deisoladas de uma estação de tratamento de água,apresentaram resistência a ampicilina e ácido nalidíxicode 18 e 15%, respectivamente (Reinthaler et al., 2003).

Quando analisado o perfil de susceptibilidadeaos antimicrobianos por classes de antibióticos(aminoglicosideos, betalactâmicos, tetraciclinas equinolonas) se observa 100% de susceptibilidade paraos aminoglicosídeos, 91,5% para as quilononas, 80,8%para os betalactâmicos e 72,3% para as tetraciclinas(Figura 2). Embora um elevado percentual de cepassensíveis aos antimicrobianos testados, tenha sidoobservado, não se deve esquecer a resistênciaencontrada às quinolonas (ácido nalidixíco) que temsido um dos antimicrobianos eficazes na diarréia deviajante causada por enterotoxigênica (ETEC)(Vila et al., 2000).

E. coli,

E. coli

Tabela 3 - Susceptibilidade antimicrobiana das estirpes de isoladas das águas do Rio Cocó, noperíodo de abril a agosto de 2007.

Escherichia coli

TET – tetraciclina; AMP – ampicilina; GEN – gentamicina; NAL – ácido nalidixico; CFO – cefoxitina; IPM – imipenem. P1e P2

– ponto de coleta.

(RioCocó, Fortaleza - CE, ponte que cruz aAv. Santana Jr. próximo ao Shopping Iguatemi) (Rio Cocó, Fortaleza - CE, na foz dorio Praia do Caça e Pesca)

Antibióticos

LocalP1 P2

Resistente Intermediário Sensível Resistente Intermediário Sensíveln % n % n % n % n % n %

TET 7 26 0 0 20 74 6 30 0 0 14 70AMP 4 15 0 0 23 85 5 25 0 0 15 75GEN 0 0 0 0 27 100 0 0 0 0 20 100NAL 1 4 3 11 23 85 0 0 0 0 20 100CFO 0 0 0 0 27 100 0 0 0 0 20 100IPM 0 0 0 0 27 100 0 0 0 0 20 100

Vieira et al.204


A resistência às quinolonas é cromossômica,sendo a transferência de resistência rara. A resistênciasurge da difusão de clones de amostras mutantes (Limaet al., 2006) que alcançam o ambiente através deesgotos de resíduos animais, bem como por excretashumanas (Reinthaler et al., 2003). Resistência atetraciclina tem sido observada em mais de 50% decepas de ETEC isoladas em países tropicais esubtropicais devido ao uso extensivo desse agenteantimicrobiano (Vila et al., 2000).

E. coli

A resistência antimicrobiana resulta da interaçãoentre os micro-organismos, os antimicrobianos e oambiente que os rodeiam (McDermott et al., 2002).Além disso, essa resistência ocorre principalmente pormecanismos de transdução e conjugação deplasmídios ou por mecanismos de transposição defragmentos de DNA (transposons) contendo genes deresistência (Tavares, 2001).

Os resultados do índice de Múltipla Resistência aAntimicrobianos (MAR) são apresentados na Tabela 4.Dos 47 isolados, 10 (21,3%) apresentaram índice MARigual ou superior a 0,3, ou seja, resistentes a dois oumais dos seis antibióticos testados. Quandoconsiderados os dois pontos de estudo, observou-seque ambos apresentaram o mesmo percentual deisolados com múltipla resistência (50%), no entanto, noponto P2 foi isolada uma cepa com índice MAR de 0,5,ou seja, resistência a três drogas (Tabela 4). A presençadessas bactérias resistentes potencializa o risco dedifusão de genes de resistência entre as populaçõesbacterianas de ambientes aquáticos, quer seja sob aforma de plasmídios ou por transposons (Hirsch et al.,2006).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Tetraciclinas

Betalactamicos

Quinolonas

Aminoglicosideos

72,3

80,8

91,5

100

27,7

19,1

8,5

0

Sensível Resistente

Figura 2 - Susceptibilidade antimicrobiana deisoladas no Rio Cocó para os principais grupos deantimicrobianos testados.

Escherichia coli

Tabela 4 - Ocorrência de múltipla resistência aantimicrobianos (MAR) das cepas de

isoladas em dois pontosno Rio Cocó, Fortaleza,Ce.Escherichia coli

TET – tetraciclina; AMP – ampicilina; NAL – ácido nalidixico.P1 e P2 – ponto de coleta

Cepa Origem Perfil de Resistencia Índice MAR

34 P1 NAL 0,1635 P1 NAL 0,1603 P1 TET 0,1636 P1 TET 0,1605 P2 TET 0,1613 P1 TET, AMP 0,3331 P1 TET, AMP 0,3332 P1 TET, AMP 0,3324 P2 TET, AMP 0,3325 P2 TET, AMP 0,3326 P2 TET, AMP 0,3328 P2 TET, AMP 0,3329 P2 TET, AMP 0,3312 P1 TET, AMP, NAL 0,5027 P1 TET, NAL 0,33

Conclusões

Referências

As águas do rio Cocó encontram-se poluídaspela ação antrópica representando um fator de risco àsaúde humana principalmente na zona urbana dacidade.

A falta de saneamento básico aliada ao despejode esgotos in natura e materiais no leito dos rios, sãofatores preocupantes e que comprometem a vida do rioalém de proporcionar a proliferação de insetos edoenças.

A presença de bactérias resistentes a pelomenos um dos antimicrobianos testados (32% dascepas estudadas), demonstra a necessidade daadoção de medidas que controlem a disseminação degenes de resistência no ambiente aquático, visto quebactérias de diferentes origens (humana, animal eambiental) são capazes de trocar informação genéticaatravés de genes móveis.

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Recebido em: 24/05/2010Aceito em: 21/11/2011

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06 - Avaliao Fsico-qumica e Anlise Microbiolgica Do Perfil de Susceptibilidade Antimicrobiana de Isoladas No Rio Coc