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  • REVISTA PILARES DA HISTRIA - DUQUE DE CAXIAS BAIXADA FLUMINENSE

    EditorialA Revista Pilares da Histria alcana seu nono nmero. Com seus textos e imagens retoma sua tarefa de discutir e socializar a Histria, a Cultura e o Patrimnio de Duque de Caxias e da Baixada Fluminense. Os artigos apresentados abordam questes de nossa cidade, de So Joo de Meriti, Mag e Belford Roxo, em um esforo de contemplar com amplitude os fios complexos que entrelaam socialmente nossa regio. Desde sua fundao, a Associao dos Amigos do Instituto Histrico, que junto ao Instituto Histrico organiza esta revista com o firme apoio do Legislativo Municipal, tem travado duras lutas pelo aprofundamento de pesquisas e a elaborao de polticas pblicas que contemplem nossos interesses culturais. Essa militncia, em parceria com outras entidades e pessoas, construiu ao longo dos ltimos anos importantes avanos como a consolidao do Conselho Municipal de Cultura e a iminente implementao de uma rede de museus em nossa cidade. A Revista Pilares da Histria e seus colaboradores tm sido os combatentes, na trincheira intelectual, que tentam levar adiante a necessidade de uma profunda reflexo histrica sobre as virtudes e os problemas da nossa regio. Nesse sentido, respiramos aliviados por mais esta batalha vencida e convocamos a todos para as prximas que viro.

    REVISTA PILARES DA HISTRIAISSN 1983-0963

    Edio conjunta:

    INSTITUTO HISTRICO VEREADOR THOMSIQUEIRA BARRETO / CMARA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS e ASSOCIAO DOS AMIGOS DOINSTITUTO HISTRICO

    PRESIDENTE DA CMDC:Dalmar Lrio Mazinho de Almeida Filho

    DIRETORA GERAL DA CMDC:Ingrid Junger de Assis

    DIRETORA DO INSTITUTO HISTRICO:Tania Maria da Silva Amaro de Almeida

    PRESIDENTE DA ASAMIH:Rogrio Torres da Cunha

    CONSELHO EDITORIAL:Alexandre dos Santos MarquesCarlos S BezerraNielson Rosa BezerraRogrio Torres da CunhaTania Maria da Silva Amaro de Almeida

    COLABORADORES:Alda Regina Siqueira Assumpo / Diego Lucio Villela Pereira / Fbio Ferreira de Oliveira / Leonardo da Silva Palhares / Manoel Mathias Thiburcio Filho / Roselena Braz Veillard / Suely Alves Silva / Luiz Felipe dos Santos Junior

    LOGOMARCA:Guilherme Peres

    FOTOS / CAPA:Igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceio e esttua em homenagem a Sra. Darcy Vargas, que se encontram no Complexo da Cidade dos Meninos, 2007. Acervo Instituto Histrico/CMDC

    CORRESPONDNCIA:Rua Paulo Lins, 41 - subsolo - Jardim 25 de Agosto - Duque de Caxias - RJCEP: 25071-140Telefone: 2784-6947e-mail: [email protected] site: http://www.cmdc.rj.gov.br/

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    O Instituto Histrico Vereador Thom Siqueira Barreto / Cmara Municipalde Duque de Caxais e a Associao dos Amigos do Instituto Histrico

    agradecem o apoio:

    Dos Autores

    CRPHCentro de Referncia Patrimonial e Histrico

    do Municpio de Duque de Caxias

    CEPEMHEdCentro de Pesquisa, Memria e Histria da Educao

    da Cidade de Duque de Caxiase Baixada Fluminense

    IPAHBInstituto de Pesquisas e Anlises Histricas e de Cincias Sociais da Baixada Fluminense

    PINBA / FEBF / UERJPrograma Integrado de Pesquisas e Cooperao Tcnica

    na Baixada Fluminense

    De todos que participaram direta ou indiretamente da produo deste trabalho e daqueles que seempenham no difcil processo da permanente construo e

    reconstruo da nossa histria.

    O Conselho Editorial est aberto ao recebimento deartigos para possvel publicao.

    As idias e opinies emitidas nos artigos e a reviso destes so da responsabilidade dos autores.

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    MENSAGEM DO PRESIDENTE DACMARA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS

    CULTURA: INCENTIVO E COMPROMISSO

    Ao assumir a Presidncia da Cmara Municipal de Duque de Caxias minha proposta em relao cultura da cidade vai de encontro ao compromisso de promover nosso patrimnio histrico, artstico e cultural, possibilitando seu acesso a toda sociedade. Apoiar a cultura no gasto, investimento. Apoiar o conhecimento e a preservao da cultura, ao meu ver, constitui ponto fundamental para mudanas contundentes na sociedade. Cultura componente de gesto sustentvel, assim como o respeito ao meio ambiente, cumprimento das leis, pagamento de impostos e outros fatores de responsabilidade social. A propagao da cultura e a preservao da histria da regio onde se encontra o atual municpio de Duque de Caxias elemento essencial de socializao. E respeito ao equilbrio social a mola mestra de sobrevivncia para a sociedade. Essa ao deve ser vista como uma ferramenta com grande potencial de utilizao tanto para as empresas privadas, como para o poder pblico. Infelizmente, aes voltadas para essas questes sempre estiveram na contramo dos polticos, na contramo da histria de nossa regio. Sou nascido e criado em Duque de Caxias, dedico parte de meu tempo leitura, gosto muito de histria e penso que todo cidado deveria conhecer suas razes. preciso que haja um trabalho permanente de humanizao, para que as vrias geraes tenham acesso arte e cultura, pois um povo ciente de seu papel na sociedade no passado tem mais possibilidades de agir conscientemente de forma cidad e com atitude no presente e no futuro. Ao apoiar a nona edio da Revista Pilares da Histria acredito estar contribuindo para que a nossa sociedade consiga ter acesso s informaes que tragam a conscincia de que somos um municpio jovem e que o cidado deve preservar sua histria, pois ela um bem de todos. Esta publicao j se tornou, ao longo dos anos, um significativo referencial de nossa rica memria histrica para pesquisadores e cidados que se interessam por ela. Devemos ter conscincia de que apenas conhecendo nossas razes e reconhecendo o valor dos bens culturais poderemos realizar escolhas atravs deste instrumento de cidadania e preservao da histria e da memria social.

    Dalmar Lrio Mazinho de Almeida Filho

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    SUMRIOBAIXADA FLUMINENSE ..................................................................................................................................................Tania Maria S. Amaro de Almeida

    AS LUTAS OPERRIAS NAS INDSTRIAS TXTEISEM MAG - RJ (1917-1919) .............................................................................................................................................Srgio Luiz Monteiro Mesquita

    A CARTOGRAFIA DOS CENTROS PBLICOS DE ACESSO INTERNET NO MUNICPIO DE DUQUE DE CAXIAS.Uma faceta da incluso dos Territrios. ...................................................................................................................Sidney Cardoso Santos Filho

    DOS LOTEAMENTOS AOS BAIRROS:A CONSTRUO DOS LUGARES EM DUQUE DE CAXIASNOS ANOS 40 E 50 DO SCULO XX ..................................................................................................................Antonio Augusto Braz

    O CORONEL ELYSEU E O SEU TEMPO ..............................................................................................................Elyseu Adail de Alvarenga Freire e Rogrio Torres

    O PRINCPIO DA GOMIA ..............................................................................................................................................Waldemar Alvarenga Neto

    JOO CNDIDO - HERI DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................................Guilherme Peres

    BELFORD ROXO TAMBM TEM HISTRIAS PARA CONTAR ...............................................................Rubens de Almeida

    VISES UNIVERSITRIAS ............................................................................................................................................A Baixada Fluminense como depsito humano: um estudo sobre o casode segregao scio-espacial da Cidade dos MeninosAlexandre Barros/Diego Villela/Eduardo AlencarEntre Rios, Trilhas e Estradas: a constituio da cidade de Duque de CaxiasBruna da Conceio Fernandes de Almeida

    SEO TRANSCRIO .....................................................................................................................................................Alexandre dos Santos Marques, Rogrio Torres e Tania Maria da Silva Amaro de Almeida

    SEO MEMRIA VIVA .................................................................................................................................................Antonio Augusto Braz e Tania Maria da Silva Amaro de Almeida

    SEO ICONOGRAFIA ....................................................................................................................................................

    ASSOCIAO DOS AMIGOS DO INSTITUTO HISTRICO .......................................................................

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    BAIXADA FLUMINENSETania Maria S. Amaro de Almeida1

    A Baixada Fluminense uma regio que vem se afirmando ao longo dos anos. Sua ocupao foi iniciada com a fundao da cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1565, esta que serviu de base para a expulso dos franceses que haviam ocupado a baa de Guanabara no sculo XVI. O conceito de Baixada Fluminense uma expresso polissmica que depende do interesse dos pesquisadores, da escala de observao, da atuao das instituies ou grupos polticos. A expresso pode assumir configuraes geogrficas, econmicas, polticas e culturais diferenciadas. Segundo o dicionrio Aurlio, baixada significa plancie entre montanhas, j fluminense origina-se do latim (flumen, que significa rio); esta denominao se aproxima da de iguassu que na lngua tupi significa muita gua. Esta designao j era utilizada pelos nativos da regio antes da chegada dos europeus e, provavelmente, pelo Rio Iguau contar, em seu entorno, com muitas reas alagadias. Aproximando-se destas concepes, a Baixada Fluminense seria uma regio de terras baixas, planas, recortadas por rios e, em boa parte, alagadias, que estaria compreendida entre as cidades de Campos, no extremo norte do Estado do Rio de Janeiro, e Itagua. Esta interpretao est ligada s anlises histricas que tratam da realidade regional at o sculo XIX, e aproxima-se de um conceito muito utilizado pelos gegrafos, o de Recncavo Guanabarino: rea de terras baixas entre a Serra do Mar e a Baa de Guanabara, estendendo-se de So Gonalo a Nova Iguau. Atualmente, a denominao Baixada Fluminense designa uma srie de municpios que, de acordo com o objetivo das pesquisas, pode relacion-la a uma rea mais prxima ao entorno da Baa de Guanabara ou ainda, a uma extenso que abranja municpios mais distantes. Aps a expulso dos franceses no sculo XVI, as reas do Recncavo da Guanabara desenvolveram-se atravs da doao de sesmarias, lotes extensos de terras concedidos pela Coroa portuguesa queles que deveriam ocupar esta parte da colnia e iniciar o processo de produo que atendesse s demandas da metrpole. Atravs dos rios que cortavam a regio do Recncavo da Guanabara Meriti, Sarapu, Iguau, Estrela-Inhomirim, Mag, Suru, entre outros , a ocupao portuguesa foi se implementando e dezenas de engenhos de acar, capelas e povoados foram surgindo.

    1Licenciada e bacharel em Histria pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Ps-graduada em Histria das Relaes Internacionais pela mesma universidade. Especialista em preservao de acervos. Scia titular da Associao Brasileira de Conservadores e Restauradores - ABRACOR. Scia fundadora e diretora de pesquisa da Associao dos Amigos do Instituto Histrico / CMDC. Professora da Unigranrio, Feuduc e da rede estadual de ensino. Diretora do Instituto Histrico Vereador Thom Siqueira Barreto, da Cmara Municipal de Duque de Caxias, onde supervisiona as atividades de pesquisa e preservao do acervo desse rgo.

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    A regio sempre teve uma posio estratgia e uma relao estreita e significativa com a cidade do Rio de Janeiro, sendo rea de produo de alimentos para a cidade, assim como, tambm, rea de passagem do ouro que vinha das Minas Gerais no sculo XVIII, em direo ao porto carioca. Com a necessidade do escoamento do ouro e o abastecimento da provncia mineira, a Baixada da Guanabara passou a ter importncia estratgica, pois se transformou em rea obrigatria de passagem, por conta de seus rios, bem como pelas estradas que foram abertas atravs das serras para que o trnsito de mercadorias se desenvolvesse melhor. O Caminho Novo ou do Pilar, aberto devido s necessidades oriundas da minerao, entre elas a necessidade de um caminho rpido, econmico e seguro, que ligasse o Rio de Janeiro regio mineira, intensificou as relaes daquela cidade com os portos da Estrela, Pilar e Iguau, promovendo a interao atravs da navegao no interior da baa. Durante o sculo XVIII, eram trs os caminhos oficialmente reconhecidos entre o Rio de Janeiro, atravs da Baixada da Guanabara, e a regio das Gerais. Entre 1699 e 1704, foi aberto o Caminho Novo do Pilar; no ano de 1724, o Caminho Novo de Inhomirim; e, em 1728; o Caminho Novo do Tingu. Todos esses caminhos, depois de subir a serra do Mar, se encontravam em Santo Antnio da Encruzilhada, pouco antes de atingir a margem direita do rio Paraba. A designao novo era aplicada a qualquer estrada que viesse a ser aberta, assim existiam vrios caminhos novos ao mesmo tempo. Ainda, no sculo XIX, as freguesias da Baixada da Guanabara, regio hoje conhecida como Baixada Fluminense, intensificaram ainda mais suas relaes com o Rio de Janeiro, abastecendo a ento capital com alimentos e madeira e passando a armazenar e escoar a produo do caf do Vale do Paraba, sendo tambm reas de investimento do capital privado alocado na abertura de estradas e na construo da Estrada de Ferro Baro de Mau (1854), principais vias de circulao de mercadorias do eixo Minas Gerais - Rio de Janeiro. No podemos deixar de citar a inaugurao da primeira estrada de ferro construda no Brasil, no ano de 1854, quando, no dia 30 de abril, o Baro de Mau concretizava projeto, que ligando o porto de Mau Estao da Guia de Pacobaba regio de Fragoso, em Raiz da Serra, na subida para Petrpolis, iniciaria a era ferroviria no Brasil e tornar-se-ia um marco histrico da ocupao urbana na regio do recncavo da Baa de Guanabara. Esse trecho da estrada de ferro era apenas o incio de um projeto mais amplo, que pretendia reduzir o tempo que se gastava com o escoamento da produo cafeeira do interior para o porto do Rio de Janeiro. Esta ferrovia provocou um impacto significativo no Rio de Janeiro, mas, sobretudo, na regio da Baixada da Guanabara. Depois dela, outras estradas de ferro foram inauguradas, como a Pedro II (1858) e a The Leopoldina Railway Company (1886), esta cortando a rea de Merity, atual municpio de Duque de Caxias. A partir daquele momento, as estradas de ferro tornaram-se um marco histrico da ocupao urbana, dando novo perfil ocupao da regio. Foi o incio do fim dos portos fluviais, da navegao pelos rios e dos caminhos dos tropeiros, modificando por completo as relaes comerciais e a ocupao do solo. Foi um momento de decadncia em vrias reas por onde o trem no passava, mas foi tambm o comeo do processo de surgimento de vilas e povoados que se organizaram ao redor das estaes ferrovirias, origem de muitos bairros e de cidades atuais da Baixada Fluminense. Portanto, a Baixada da Guanabara, ao longo dos sculos, constituiu-se como uma importante regio de passagem entre o interior e o litoral. Esta posio estratgica contribuiu decisivamente para transformaes tanto na cidade do Rio de Janeiro como na prpria regio, revelando uma estreita interdependncia econmica, social e cultural. A partir das dcadas que sucederam a II Guerra Mundial, os municpios que integram a Baixada tiveram um crescimento demogrfico acentuado, que foi resultado de processos migratrios de diversas reas do Brasil e de tantas outras naes do mundo. Esta populao, composta por povos de diversas origens

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    e identidades culturais, deu forma a um coletivo de tendncias que se manifestam nos comportamentos sociais, nas artes, na poltica, na economia e nos mais diversos campos da vida em sociedade. Apesar de envolvida com enormes conflitos ambientais devido a um desenvolvimento urbano desordenado, com problemas de poluio e violncia, a Baixada tem hoje um crescimento econmico acentuado, com a instalao de indstrias e arrecadao de impostos, o que deve ser olhado com um vis crtico. A BAIXADA hoje a segunda mais importante regio do Estado e uma das mais importantes microrregies do Pas. Com uma populao de mais de 3 milhes e meio de habitantes, possui vasto patrimnio histrico e cultural , alm de ser uma regio privilegiada pelos seus recursos naturais.

    De acordo com o IBGE e o TSE, a Baixada Fluminense tem o seguinte perfil:

    MUNICPIOBelford RoxoDuque de CaxiasGuapimirimItaguaJaperiMagMangaratibaMesquitaNilpolisNova IguauParacambiQueimadosSo Joo de MeritiSeropdicaTotal

    REA Km8046536127283386352351952417977352843.152

    POPULAO480.555842.68644.69295.35693.197232.17129.253182.495153.581830.67242.423130.275464.28272.4663.694.104

    ELEITORES293.346571.06033.55774.70062.032153.39522.825125.283117.908525.14730.24789.590343.56648.3872.491.043

    FONTE: IBGE Banco Cidades 2008 e TSE Quantitativo Eleitores (junho/2008)

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    AS LUTAS OPERRIAS NASINDSTRIAS TXTEIS EM MAG-

    RJ (1917-1919)

    Sergio Luiz Monteiro Mesquita1

    Este artigo relaciona-se a uma pesquisa, ainda incipiente, que desenvolvemos acerca da presena do movimento operrio nas primeiras dcadas do sculo passado na rea da Baixada Fluminense. O recorte temporal aqui utilizado tem como eixo a agitao em torno da insurreio anarquista de novembro de 1918, cujo apoio entre os trabalhadores foi dado pelo movimento sindicalista revolucionrio. Lembremos, num nvel mais amplo, que o mundo capitalista encontrava-se profundamente abalado pelos eventos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da Revoluo Russa de 1917. O proletariado internacional sofria as influncias do movimento socialista, num momento histrico que parecia promissor destruio das desigualdades sociais capitalistas e implantao de uma nova sociedade, mais justa e igualitria. J o nosso foco encontra-se no municpio de Mag, entre os trabalhadores de grandes fbricas de tecidos, instaladas na sede municipal, em Santo Aleixo e Pau Grande. Uma rea brasileira que, tal como as outras, ainda se estruturava econmica e socialmente no modelo agrrio-exportador herdado da colonizao, bem como ainda trazia as marcas sociais e culturais da escravido recentemente abolida. Sob influncia da modernizao e do desenvolvimento econmico da cidade do Rio de Janeiro, em cujas proximidades se encontrava, a regio de Mag acolhia naquele momento iniciativas de produo industrial, que embora no houvessem alterado significativamente o quadro scio-econmico local, apresentavam uma diferena em relao situao anterior. Uma observao importante, e que tem a ver com o carter preliminar deste trabalho, que, embora j se tenha comeado o levantamento nos jornais da grande imprensa da poca, utilizamos basicamente aqui, como fontes primrias, os veculos da imprensa operria, e principalmente um jornal, A Razo, apontado como de orientao populista2 . Evidente que ao nos atermos aos detalhes fornecidos por estas fontes, preciso consider-los luz do conhecimento j trazido pelas diversas obras sobre o tema. Por outro lado, no entanto, interessante termos acesso expresso de pontos de vista oriundos do meio operrio, outrora geralmente relegados ao silncio da historiografia. Nessas lutas de trabalhadores, empregados no ramo industrial da fabricao de tecidos, pretendemos acompanhar um caso ilustrativo, entre inmeros outros, dos processos histricos de formao da classe operria brasileira, numa poca inicial. Para definir sucintamente o que significa para ns esta formao, em termos gerais, tentamos nos basear na seguinte afirmao de E. P. Thompson, historiador britnico: A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experincias comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos

    1Mestre em Histria Poltica e Relaes Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pesquisador do Ncleo de Pesquisas Marques da Costa e professor da rede pblica estadual.2BANDEIRA, Moniz; MELO, Clovis e ANDRADE, A. T. O ano vermelho. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1967, p.181.

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    interesses diferem (e geralmente se opem) dos seus3. Grande parte das principais aes do movimento operrio brasileiro, quando de seu incio entre fins do sculo XIX e comeo do XX, ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. Afinal, sendo a capital do Imprio e em seguida da Repblica, alm de sediar a poltica nacional, era o principal centro financeiro e comercial. E tambm industrial, por algum tempo. Quanto indstria, a presena deste ncleo econmico dava suporte e estmulo para a instalao de fbricas nas suas proximidades, em locais da ento provncia e depois Estado do Rio (o atual Estado, menos o municpio carioca). Niteri, Petrpolis, Mag e outros pontos da Baixada Fluminense viram ento surgir indstrias e lutas dos seus operrios. Entre as categorias profissionais mais combativas contavam-se os trabalhadores txteis. Segundo a historiadora Maria Eullia L. Lobo, ao passo que no comeo do sculo passado os txteis ocupavam posio secundria no movimento operrio, no auge deste, de 1917 ao incio de 1920, apareceram como a categoria mais atuante na sua vanguarda4 . Fruto de uma militncia sindical independente das peias do Estado, e frontalmente insubmissa aos interesses do patronato, foi fundada a Unio dos Operrios em Fbricas de Tecidos (UOFT) em 1917, no Rio de Janeiro. Esta associao sindical surgiu em meio agitao operria que produziu a grande greve de 1917 no Rio de Janeiro. Seus componentes mais empenhados, majoritariamente orientados pelos princpios do sindicalismo revolucionrio, trataram de construir uma organizao potente. De acordo com declarao feita em fins de 1918 por um membro de seu conselho fiscal ao jornal A Razo, a UOFT reunia ento 27.000 associados, e alm da sede central tinha dez sucursais. Seus diretores visitariam, diariamente, tanto as sucursais da capital, quanto as de Niteri, Petrpolis, Mag, Santo Aleixo e Paracambi5. Nas pesquisas que empreendemos sobre essa atividade de mobilizao na rea de Mag, encontramos evidncias da dedicao com que ela era realizada, e da influncia capital que alcanou nas lutas operrias nesse ponto da Baixada Fluminense. Alis, antes mesmo da fundao da UOFT h registro disso. J em 1913, o jornal operrio A Voz do Trabalhador informava, sobre Santo Aleixo: Nesta localidade (...) h um grupo de companheiros que cuida com af da organizao dos trabalhadores do local. E fala da ida de dois companheiros do Rio, Orlindo Xavier e Santos Barboza, para fazer uma preleo sobre assuntos sociais6. Como foi dito, Mag, com sua sede municipal e suas localidades de Santo Aleixo e Pau Grande, fra escolhida como localizao para grandes fbricas de tecidos. Centenas e centenas de operrios trabalhavam nelas, ocupados nos diversos servios ligados produo dos panos. Os problemas que esta massa trabalhadora enfrentava eram os mesmos, em geral, com que os demais trabalhadores de sua categoria, e tambm os de outras, estavam s voltas: longas jornadas de trabalho, baixos salrios, ms condies nos locais de trabalho, superexplorao do trabalho feminino e infantil, opresso por parte de mestres, contramestres, gerentes e encarregados da segurana, hostilidade das empresas aos trabalhadores que reivindicavam e/ou se sindicalizavam, com o recurso a diversas punies etc. Vale lembrar, para melhor caracterizar o quadro destes problemas, que no Brasil da poca, a Repblica Velha, o Estado pautava-se por uma postura liberal diante da questo das relaes patres-empregados, praticamente deixando as decises sobre a organizao do trabalho e a forma de tratamento da mo-de-obra entregues aos critrios dos empregadores e seus prepostos. As foras repressivas do Estado costumavam intervir somente a pedido dos patres.

    3 THOMPSON, Edward P. Prefcio, in A formao da classe operria inglesa. Vol. I, A rvore da liberdade. So Paulo: Paz e Terra, 1987, p.10.4LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. A situao do operariado no Rio de Janeiro em 1930. In: LOBO, Eullia Maria Lahmeyer (org.). Rio de Janeiro Operrio: natureza do Estado e conjuntura econmica, condies de vida e conscincia de classe, 1930-1970. Rio de Janeiro: Access, 1992, p.24.5Jornal A Razo, 7/4/1919, p.2.6A Voz do Trabalhador, 1 de Maio de 1913, no. 30, p.6.

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    Notamos, no caso dos operrios txteis do municpio de Mag, um problema especfico, embora no exclusivo desta parte do operariado: a distncia em relao aos meios de acesso a um espao pblico mais amplo, no qual o conhecimento de suas queixas, reivindicaes e lutas lograria obter apoios. Tal distncia, geograficamente, era indicada pela sua posio perifrica em relao ao centro poderoso e influente da capital do pas7. Em parte devido localizao e configurao espacial da regio, as fbricas tendiam a se organizar como fazendas fechadas sobre si mesmas, com pouco contato com o meio circundante, com os trabalhadores habitando junto a elas, em casas normalmente fornecidas pelas empresas. Tal isolamento fsico da massa de operrios era inclusive aproveitado pelas direes das fbricas, para um maior controle e explorao da fora de trabalho de seus empregados. Um exemplo que evidencia tanto os mtodos de controle usados pelas empresas quanto as tentativas dos trabalhadores de contatar esse espao pblico est no breve relato de uma greve em Pau Grande, feito pelo pesquisador Edgar Rodrigues baseando-se numa notcia do peridico A Terra Livre de 11/07/1907. Teceles declararam-se em greve e conseguiram forar a empresa, entre outras coisas, a afastar um par de mestres que agiriam mal com os operrios. Porm, inconformada com a derrota, dias depois chamou foras militares ao local sob o comando de um tenente, as quais invadiram as residncias dos trabalhadores, prendendo e espancando. Vrios destes, os quais haviam construdo casebres por sua conta nos terrenos da fbrica, para morar com a autorizao do dono da tecelagem, receberam ordem de abandon-los no prazo de trs dias sob pena de serem despejados fora. Neste transe, alguns operrios conseguiram burlar o cerco feito e chegaram s redaes dos jornais, narrando o ocorrido. No dia do pagamento, com a polcia presente, tentaram obrigar os denunciantes a desmentir as notcias. Contudo estes trabalhadores negaram-se a faz-lo. Como resultado, a vingana dos interesses contrariados caiu sobre um operrio, Antonio Brucarti, o qual foi expulso de Pau Grande como indesejvel pela polcia8. Dessa forma, os principais problemas enfrentados por esses trabalhadores em suas demandas podem ser assim enumerados: dificuldade de acesso a um espao pblico mais amplo no qual pudessem obter apoios e alianas, potencializada pela distncia geogrfica e a dificuldade de comunicaes; um isolamento social em relao ao restante da populao de Mag e circunvizinhanas, por estarem constituindo um segmento social novo na regio, com vicissitudes e interesses diversos, estranhos a um meio ainda marcado pela secular economia agrrio-exportadora e at h pouco tempo atrs escravista; a reao arbitrria dos patres, no acostumados negociao com seus subordinados; a reao das autoridades, coniventes com os abusos das empresas e hostis menor manifestao de contrariedade dos trabalhadores. Entre as vrias providncias que a UOFT tomou, ao longo de sua existncia, para cumprir o papel a que se propunha de instrumento da unio e da articulao da categoria txtil, esteve o apoio mobilizao, conscientizao classista e, no caso de sua militncia mais engajada politicamente, perspectiva revolucionria dos seus associados. Quanto aos de Mag, isto no foi diferente, e tambm l, como em outras partes, uma militncia local correspondeu a estes esforos. As edies do jornal A Razo, por exemplo, apresentam numerosos exemplos do trabalho sindical conjunto dos delegados da UOFT com seus associados mageenses, prximo aos locais de trabalho destes ltimos. As sucursais do municpio buscavam manter a mobilizao, a qual era intensificada nos momentos mais agudos de luta operria, que no perodo enfocado foram constantes. No esforo de formao de uma conscincia de classe, tal como indicado por Thompson, que citamos no incio deste artigo, destacam-se as comemoraes

    7Dado (...) o carter frgil e subordinado da burguesia industrial nascente, a qual aparece, no Brasil, dentro dos quadros limitados de uma sociedade agrrio-mercantil, ocorreria a tendncia a um relativo isolamento da produo industrial (...). Esse processo de relativo isolamento da atividade fabril em determinados ncleos autnomos (...). (...) nucleao e isolamento de verdadeiros castelos-industriais (...) HARDMAN, Francisco Foot e LEONARDI, Victor. Histria da indstria e do trabalho no Brasil: das origens aos anos vinte. So Paulo: Global, 1982, p.175-176.8RODRIGUES, Edgar. Trabalho e conflito pesquisa 1906-1937. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1978, p.114.

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    do Primeiro de Maio, data internacional dos trabalhadores organizados. Realizadas ali, elas buscavam ressaltar o pertencimento desses trabalhadores ao proletariado mundial. Uma identidade construda pelas experincias histricas comuns, e atualizada atravs das prticas culturais assimiladas e adaptadas por eles. Esse proletariado, na poca, experimentava as dificuldades trazidas ou agravadas pela I Guerra Mundial (1914-1918) e as esperanas de transformao provocadas pela Revoluo Russa de 1917. E como parte dele, operrios brasileiros, incluindo-se os de Mag, envolveram-se nas lutas sociais daquele tempo. A greve deflagrada no Rio de Janeiro em novembro de 19189 envolveu vrias categorias, e nela a UOFT participou, conduzindo milhares de txteis paralisao do trabalho e s manifestaes na rua. No bojo desta greve, militantes anarquistas, incluindo-se entre eles lideranas dos sindicatos, com apoio de grande parte do operariado, tentaram desencadear uma insurreio. A tentativa foi sufocada pelo governo, e seguiu-se uma represso de grandes propores sobre trabalhadores organizados e intelectuais engajados no anarquismo. A represso se abateu com mais fora sobre os teceles e, no dia seguinte tentativa insurrecional, entre outras violncias, o operrio Manuel Martins foi assassinado pela polcia em frente fbrica de tecidos Confiana, em Vila Isabel. Em Mag, noticiou a imprensa, a sucursal da UOFT em Santo Aleixo teria sido assaltada pela polcia local, que revirara tudo e levara os livros de escriturao10. Ainda em dezembro, a comisso interina da UOFT (que assumira depois da tentativa de insurreio, pois a diretoria estava ento foragida das autoridades), denunciando abusos sofridos pelos txteis, informava que nas fbricas Mageense e Andorinhas, em Santo Aleixo, operrios eram demitidos em massa e as casas onde residiam, de propriedade daquelas, eram invadidas e reviradas11. Em 1919, a represso tentativa insurrecional amainava na cidade do Rio, com a soltura de vrios presos. Porm, as coisas no correriam assim no municpio da Baixada. Cinco sindicalistas presos por conta dos eventos de novembro continuavam na cadeia de Mag, por deciso do juiz de direito local. O comit pr-presos, organizado em favor dos perseguidos de novembro, continuou funcionando em prol destes cinco companheiros12. Assim, a UOFT mantinha seu apoio ao movimento em Mag, denunciando arbitrariedades, mas no apenas isto. Tambm enviava representantes regio, mesmo sob risco, para promover comcios, solenidades e debates, numa prtica tambm pedaggica e informativa. Em 03/05/1919, logo aps as comemoraes do dia dos trabalhadores, o mesmo juiz que mantinha o encarceramento dos cinco militantes efetuou a priso de Antenor Faria, 2 secretrio da UOFT, e mais dois companheiros, no porto de Piedade, quando j se encontravam embarcados no vapor em que retornariam ao Rio de Janeiro, e os remeteu para a sede municipal13. Em junho, houve mobilizao permanente em Mag, durante a greve ento realizada, em razo do trabalho conjunto dos delegados sindicais da UOFT e dos militantes locais. E mais represso: em junho, autoridades policiais prendem Antenor Faria e outro representante, Jos Torres, na prpria cidade de Mag. O caso foi mais longe: soltos separadamente de madrugada, conforme relataram os dois sindicalistas, foram abordados em locais diferentes da cidade e furiosamente espancados. Deixados prpria sorte e bastante machucados, ainda segundo os prprios relatos, ambos tiveram que seguir a p pela estrada de Raiz da Serra, a fim de se afastar da cidade, at que receberam ajuda de outras pessoas para chegar a Petrpolis. A repercusso dessa violncia contribuiu para acirrar os nimos na regio. O comrcio fechava s 18h. Os desmandos policiais prosseguiam, provavelmente com estmulo das empresas confrontadas pelos trabalhadores14.

    9Um relato e uma anlise do movimento de novembro de 1918 encontram-se em ADDOR, Carlos Augusto. A insurreio anarquista no Rio de Janeiro. 2. Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Achiam, 2002.10Jornal A Razo, 6/12/1918, p.2.11Jornal A Razo, 11/12/1918, p.3. Um recurso muito usado pelos patres era o de alojar os empregados em casas e vilas de sua propriedade, com o fito de reforar os controles sobre eles, inclusive pressionando-os com a ameaa adicional de despejo, em caso de demisso, como j mostrado aqui.12 BANDEIRA, Moniz; MELO, Clovis e ANDRADE, A. T. O Ano Vermelho. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1967, p.181. 13Jornal A Razo, 04/5/1919, p.2.14Jornal A Razo, 21/6/919; 26/6/1919.

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    Tal situao levou a uma manifestao violenta dos operrios em Santo Aleixo, ainda em 1919, que na crnica local deixou a recordao, embora tnue, de uma tentativa de levante, abafada pela chegada de um contingente policial de trinta praas15. Eis a, ento, uma exposio, ainda bastante incompleta, de fatos da histria da militncia sindicalista-revolucionria no pequeno municpio fluminense. Contudo, daquilo que foi visto e analisado, depreende-se a estreita ligao entre os militantes txteis da UOFT e seus colegas de trabalho das fbricas mageenses, no perodo mais intenso das lutas operrias no incio da industrializao brasileira. Temos a tambm um exemplo de como o sindicalismo revolucionrio, via suas associaes, assume o papel de promotor de uma prtica solidria entre os operrios, na linha dos princpios anarquistas de apoio mtuo e solidariedade classista. Vislumbramos tambm como os operrios dos tecidos de Mag estabeleceram vnculos para contrapor-se a um isolamento social e poltico, numa sociedade ainda predominantemente agrrio-mercantil, e assim constituir-se, lembrando o historiador Thompson, enquanto classe16.

    BibliografiaADDOR, Carlos Augusto. A insurreio anarquista no Rio de Janeiro. 2. Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Achiam, 2002.BANDEIRA, Moniz; MELO, Clovis e ANDRADE, A. T. O Ano Vermelho. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1967.FERNANDES, Antonio de Paiva. Mag, durante o Segundo Imprio e os primeiros tempos da repblica. A histria de uma abnegada mulher. Rio de Janeiro: ed. do autor, 1962.HARDMAN, Francisco Foot e LEONARDI, Victor. Histria da indstria e do trabalho no Brasil: das origens aos anos vinte. So Paulo: Global, 1982.LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. A situao do operariado no Rio de Janeiro em 1930. In: LOBO, Eullia Maria Lahmeyer (org.). Rio de Janeiro Operrio: natureza do Estado e conjuntura econmica, condies de vida e conscincia de classe, 1930-1970. Rio de Janeiro: Access, 1992.RODRIGUES, Edgar. Alvorada operria. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1979.

    . Os libertrios idias e experincias anrquicas. Petrpolis: Vozes, 1988.

    . Trabalho e conflito pesquisa 1906-1937. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1978.THOMPSON, Edward P. A formao da classe operria inglesa. V.1. A rvore da liberdade. So Paulo: Paz e Terra, 1987.

    15FERNANDES, Antonio de Paiva. Mag, durante o Segundo Imprio e os primeiros tempos da repblica. A histria de uma abnegada mulher. Rio de Janeiro: ed. do autor, 1962, pp.54-59.16THOMPSON, Edward P. A formao da classe operria inglesa. V.1. A rvore da liberdade. So Paulo: Paz e Terra, 1987, pp.9-12.

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    A CARTOGRAFIA DOS CENTROSPBLICOS DE ACESSO INTERNET

    NO MUNICPIO DE DUQUE DE CAXIAS.Uma faceta da incluso dos Territrios1.

    Sidney Cardoso Santos Filho2

    O presente artigo cumpre com o objetivo de contribuir para o estudo sobre os centros pblicos de acesso Internet no Brasil. A prerrogativa desta anlise parte do compromisso de entender uma das inmeras faces da incluso dos territrios, bem como o vislumbre da cartografia dos centros pblicos de acesso Internet, sobretudo dos programas de incluso digital, assinalada no recorte espacial selecionado, o municpio de Duque de Caxias.

    A face da incluso dos territrios

    Entendendo o territrio3 como matriz da vida social, podemos dizer, que a partir da reflexo de Haesbaert (2004, p. 313), a imbricao entre excluso social e desterritorializao parte do pressuposto em que ambas as noes incorporam um carter social multidimencional e que deve ser geogrficamente contextualizado. Sendo assim, a excluso social tambm um excluso socioespacial e, por extenso uma excluso territorial. O conceito de excluso social, neste sentido, absorve um outro tratamento, lembrado pelo socilogo brasileiro Jos de Souza Martins (1997). Para este socilogo o uso da expresso incluso precria em vez de excluso social, justifica melhor a multiplas faces da excluso social atualmente. No cabe a ns, neste artigo, aprofudarmos um debate sobre o este conceito, mas entender os seus desdobramentos contemporneos como, neste caso, a excluso digital, pois na medida que a sociedade atual segue envolto de um intenso processo de acumulao capitalista, e que esta vive um perodo de profunda interao da cincia e da tcnica, a esfera da excluso digital compem a esfera da incluso dos territrios. A incluso dos territrios no perodo hodierno, perpassa a incluso digital. Inmeros autores, entidades e grupos projetam metodologias para definir e dimensionalizar esta incluso, sobretudo, face da incluso dos territrios. Para Castells (2003), esta dimenso definida como dimenso geografia da Internet, concebida a partir de trs perspectivas: a) a geografia tcnica, que diz respeito infra-estrutura de telecomunicao de Internet (conexes, distribuio de banda larga, linhas telefnicas); b) a geografia dos usurios, tratada com base nas taxas de penetrao de usurios de Internet e c) a geografia econmica da

    1Fragmento da dissertao de mestrado em Geografia defendida em novembro de 2008 na UERJ.2Mestre em Geografia pela UERJ, professor substituto da UFRJ de Prtica de Ensino em Geografia e professor da FFSD de Geografia Regional. E-mail: [email protected] 3A palavra territrio deriva do Latim territorium que significa terra que pertence a algum (CORRA, 1995). O territrio fundamentalmente, um espao definido e delimitado por e a partir de relaes de poder (SOUZA, 1995, p. 78). Todo conceito tem uma histria, seus elementos e metamor-foses, o territrio um destes conceitos complexos, substantivados por vrios elementos, que segundo Haesbaert (2004) possui trs perspectivas principais: perspectiva materialista; perspectiva idealista e a perspectiva integradora.

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    produo da Internet, no que diz respeito produo cognitiva da Internet. Segundo o socilogo Bernardo Sorj (2003, p.60), o conceito de e-readiness (e-prontido) o que melhor permite avaliar a situao relativa dos pases dentro sistema internacional, quanto penetrao das novas Tecnologias da Informao e Comunicao TIC. O conceito de e-readiness definido segundo a The Economist Intelligence Unit4, entidade que publica o ranking da e-readiness anual desde 2000, avalia o impacto acumulativo das economias de informao, segundo o vis tecnolgico, econmico, poltico e ativos sociais de sessenta e nove (69) pases at o presente momento. O ranking do e-readiness apresenta a penetrao dos usos e equipamentos da Tecnologia da Informao e Comunicaes TIC em um pas, este mtodo utiliza quase 100 critrios quantitativos e qualitativos, organizado em seis categorias distintas para medir os vrios componentes da reunio social, poltico, econmico de um pas e desenvolvimento tecnolgico. O mtodo prescrito com base no conceito de e-readiness no possui uma relao direta com a excluso digital no interior dos pases, mas o provimento de polticas de incluso digital afeta diretamente na capacidade nacional em termo de e-readiness. Deste modo, prover polticas pblicas para incluso digital possibilitar uma maior insero dos territrios no tocante do mundo atual. necessrio compreender que possvel minimizar a pobreza e o analfabetismo com o uso das TIC, conseqentemente uma maior insero dos territrios (LEMOS, 2007). Segundo Santos (2000, pp. 164-165) jamais houve na histria sistemas tcnicos to propcios para isto.

    As famlias de tcnicas emergentes como o fim do sculo combinado informtica e eletrnica, sobretudo oferecem a possibilidade de superao do imperativo da tecnologia hegemnica e paralelamente admitem a proliferao de novos arranjos, como a retomada da criatividade. Isso, alis, j est se dando nas reas da sociedade em que a diviso do trabalho se produz de baixo para cima.

    O sistema tcnico atual tem o poder de irradiar aes que possibilitam a diminuio das diferenas sociais do momento contemporneo da sociedade. Deste modo, propiciar a incluso digital nos territrios, especialmente onde a disposio dos objetos tcnicos ocorre de maneira precria, permitir incluso de sua sociedade no mundo contemporneo. Cabe salientar que o governo brasileiro tem nos ltimos anos proferido uma certa ateno questo da incluso digital, usando de metodologias j existentes na tentativa de incluir digitalmente cada vez mais os territrios, sobretudo em funo dos alarmantes ndices de incluso digital.

    Os centros pblicos de acesso Internet no Brasil. As Lan Houses5, Telecentros6, Centros Comunitrios, Quiosques e Cabines Comunitrias e Cybercafs7 correspondem s terminologias utilizadas para definir os inmeros centros pblicos de acesso

    4Fonte: The Economist Intelligence Unit 2007 Ranking annual e-readiness de 2007Stio:http://www.eiu.com/site_info.asp?info_name=eiu_2007_e_readiness_rankings&rf=0# ltimo acesso em 02/08/2008. 5O que se entende por Lan House no est plenamente conceituado, v-se as Lans como um espao hbrido entre Cybercaf & Casa de Jogos Eletrnicos, a exemplo do que constata o trabalho que j apresentamos, Santos Filho (2008, p. 10), sobre a organizao espacial das Lan Houses em Nova Friburgo.6Os Telecentros tm, por definio, o objetivo de possibilitar as camadas menos favorecidas economicamente residente de reas perifricas de centros urbanos ou em reas mais distantes desses centros o acesso as TICs. Para Sorj (2003, p.67), os Telecentros constituem-se como o principal instrumento das polticas universalizantes de servios de Internet em pases em desenvolvimento, alm de serem uma resposta s necessidades de acesso de indivduos sem capacidade de custear o acesso Internet em seus domiclios.

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    Internet, espraiado em todo territrio nacional. Os centros pblicos so um meio de conectividade pela qual um indivduo comum pode acessar a Internet sem prover de equipamento domstico para conexo (computador: software e hardware, provedor, e linha telefnica) para isso. Os centros pblicos de acesso Internet representam 28% do acesso brasileiro8, ou seja, mais de 1/4 do acesso Internet em todo territrio nacional, totalizando 8.999.807 de brasileiros, que necessitam de tais centros para conectar-se. Quando analisado a relao do acesso Internet em centros pblicos e em residncias em todo territrio nacional, percebemos uma influncia territorial dos centros pblicos de acesso Internet, representando uma significativa fatia do acesso, podendo chegar at a 55% do acesso Internet em reas urbanas, como aponta a pesquisa desenvolvida pelo Comit Gestor da Internet no Brasil CGI.br, por meio do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informao e da Comunicao CETIC.br do Ncleo de Informao e Coordenao do Ponto Brasil NIC.br9 (ver quadro abaixo).

    Quadro 1 Percentual de usurios de Internet que utilizam os centros pblicosde acesso Internet e os que acessam Internet em casa no Brasil.

    Organizado por: SANTOS FILHO, Sidney Cardoso, 2008. Os centros pblicos de acesso Internet no Brasil comportam uma grande gama de usurios, e efetuam uma real distribuio do acesso Internet, evidenciando aspectos que perpassam anlises territoriais, comprovadas, sobretudo, com base na amostra da PNAD/2005 e pesquisa do CGI.Br sobre o uso das TIC/2007, de forma que, para muitos brasileiros, estes locais configuram-se como o principal ponto de acesso rede mundial de computadores. A territorialidade dos centros gratuitos Telecentros quanto as dos centros pagos Lans e Cibercafs propiciam o acesso Internet aos grupos sociais menos favorecidos economicamente, ofertando servios para um pblico jovem12 e acaba por reiterar o significativo papel desempenhado pelos centros pblicos de acesso Internet no processo de incluso digital brasileiro. Neste sentido, Sorj & Guedes (2005, pp. 03-04) lembram, que o mtodo para quantificar o percentual de includos digitalmente tem recebido crticas por no discutir a relevncia da presena dos centros pblicos de acesso:

    7Os Cybercafs, um exemplo desses centros pagos, oferecem a seus clientes acesso Internet mediante o pagamento de uma taxa, usualmente cobrada por hora e a preos relativamente mdicos.8Dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar PNAD de 2005 que mostra o acesso Internet e posse de telefone mvel celular para uso pessoal, desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE.9Terceira edio da pesquisa sobre o uso das Tecnologias da Informao e da Comunicao no Brasil TIC EMPRESAS e TIC DOMICLIOS 2007 Stio: http://www.cetic.br/usurios/tic/2007/ ltimo acesso em 15/07/2008.10TIC EMPRESAS e TIC DOMICLIOS, 2007 Tabela C.4 da TIC/200711PNAD, 2005 tabelas 1.17.1 e 1.17.2.12O perfil de seus usurios compe uma face da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios PNAD/2005 (Acesso Internet e Posse de Telefone Mvel Celular para Uso Pessoal), tabelas 1.24.2, 1.20.2 e 1.22.2.

    Dados do CGI.br de 200710 40% 55%

    Dados da PNAD 200511 50% 28%

    Taxa % do uso emresidncia

    Taxa % do uso em Centros Pblicos de acesso

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    Para identificar as pessoas includas, o critrio em geral utilizado o nmero de computadores por domiclio e/ou de computadores por domiclio, com acesso Internet. Esta metodologia j foi alvo de crticas, pois em certos pases, com um nmero relevante de pontos de acesso coletivo (comumente denominados telecentros ou cibercafs), a quantidade de pessoas que acessam a Internet por computador muito maior que a mdia de acesso por domiclio.

    Podemos assim dizer, que o papel dos centros pblicos de acesso Internet na incluso dos territrios tem sido cada vez mais presente. O municpio de Duque de Caxias configura-se com um dos tantos outros municpios, onde presenciamos a acomodao de inmeros projetos governamentais e iniciativas privadas para incluso digital.

    A cartografia dos centros pblicos de acesso Internet em Duque de Caxias

    O desenho territorial em anlise, o municpio de Duque de Caxias, um dos 92 (noventa e dois) do Estado do Rio de Janeiro, est inserido na regio metropolitana fluminense, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE. O municpio em questo apresenta-se tambm como um dos treze (13) municpios da baixada fluminense13, desenho territorial harmonizado pela Secretaria de Desenvolvimento da Baixada e Regio Metropolitana SEDEBREM14. O municpio em anlise regionalizado em quatro (04) distritos15. Segundo o decreto de Lei do ano de 1954, nos termos do 4 do art 24 da Constituio Estadual, o municpio desmembrou o ento segundo (2) distrito: Imbari passando-o para terceiro (3) distrito , em mais dois (02) novos distritos, com a denominao de Campos Elyseos, como segundo (2) distrito e a de Xerm, como quarto (4) distrito. Aps este decreto o municpio de Duque de Caxias tem caminhado at o presente momento com quatro unidades regionais (1 Duque de Caxias, 2 Campos Elseos, 3 Imbari, 4 Xerm), o decreto delimitou ainda os limites geogrficos de cada um dos distritos criados. A diferena populacional entre os distritos caxienses exemplifica o seu processo de ocupao. Segundos dados do censo do IBGE, do ano de 2000, a diferena populacional entre os distritos caxienses acentuada, principalmente se compararmos o primeiro (1) distrito que totaliza 338.542 habitantes, com os demais distritos. No segundo (2) distrito temos uma populao de 243.767 habitantes, no terceiro (3) 140.246 habitantes e no quarto (4) 52.901 habitantes. A exemplificao descrita acima se constri segundo Souza (2000, p. 52), no municpio16, imediatamente a sua fundao (31 de Dezembro de 1943), onde ele experimenta um vertiginoso crescimento populacional: em 1950, a populao estava estimada em 123.432 habitantes, em 1960, atingiu os 243.619 habitantes, em 1970, 431.348. Para autora isso ocorre justamente no perodo do desenvolvimento industrial fluminense, onde maior atrao de mo-de-obra para os grandes centros cominou num deslocamento dos trabalhadores mais empobrecidos para reas mais baratas da regio metropolitana, um processo que tambm ocorre dentro do municpio de Duque de Caxias, onde tambm presenciamos uma segregao scio-espacial.

    13Tratada por Oliveira (2004, pp. 29-40) como Baixada Poltica. 14Stio: http://www.cide.rj.gov.br/cide/index.php ltimo acesso em 15/08/2008.15Regionalizao prescrita na Lei Orgnica do Municpio. 16Em 14 de maro de 1931, foi criado, pelo Decreto Estadual N 2.559, o distrito de Caxias, com sede na antiga Estao de Meriti, pertencente ao ento municpio de Nova Iguau. Em 31 de dezembro de 1943, atravs do Decreto-Lei 1.055, elevou-se categoria de municpio recebendo o nome de Duque de Caxias.

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    (...) nos distritos de Campos Elseos, Imbari e Xerm, se instalaram bairros populares originrios de loteamentos ocupados recentemente, marcados pela precariedade de servios e habitados por uma populao de baixa renda. (...) Os bairros com a melhor qualidade de vida so, os mais antigos, prximos estao de Duque de Caxias e os de pior qualidade so as reas de favelas e os que se formaram de recentes loteamentos populares, localizados nos distritos de Campos Elseos, Xerm e Imbari (SIMES, 2007, pp. 229-230).

    A disposio dos centros pblicos de acesso Internet, de cunho governamental, ocorre de maneira pulverizada no municpio. A disparidade desta oferta de servio em escala distrital revela a prpria pulverizao dos pontos e a maior densidade de oferta destes servios no primeiro distrito e uma menor no quarto, apresentando uma relao direta com o nmero populacional, como veremos nos prximos pargrafos. Com base no mapa da incluso digital do Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnolo-gia IBICT, a partir de um cadastro acumulado disponibilizados online17 - o mais completo neste quesito e de outros programas de incluso digital que compem este artigo sobretudo por corresponderem a polticas pblicas municipais e federais, o municpio de Duque de Caxias apresenta um total de sessenta e dois (62) pontos de incluso digital PIDs, gerido por onze programas distintos (ver quadro abaixo).

    Quadro 2 Total de programas de incluso digital no municpio de Duque de Caxiase a sua distribuio geogrfica

    Fonte: Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia IBICT, Centro de Incluso Digital CIDe programa Casa Brasil. Organizado por: SANTOS FILHO. Sidney Cardoso, 2008.

    17Stio: http://marula.ibict.br/inclusao/mid/cadastro/cadastro.php ltimo acesso em: 23/07/2008.

    Programas no municpio

    Internet na Praa

    CID

    Casa BrasilTonomundo Telemar/OI

    McInternet Mcdonalds

    GESAC

    Faetec Digital

    EICs CDI

    Conecta Telemar/OI

    Proinfo/ Federal

    Telecentro Comunitrio -BB

    Total : 11 programas

    01 Ponto Todo 1 distrito

    01 Ponto Todo 3 distrito

    01 Ponto Todo 3 distrito

    08 Pontos

    13 Pontos

    Todo

    No tem

    1/ 03 pontos 2/ 04 pontos3/ 01 ponto1/ 09 pontos2/ 03 pontos4/ 01 ponto

    1/ 32 pontos2/ 17 pontos3/ 11 pontos4/ 02 pontos

    01 Ponto Todo 1distrito

    Total: 62 pontos Total Telecentros: 47 unidades

    05 Pontos Todo1/ 03 pontos2/ 02 pontos

    04 Pontos Todo1/ 01 ponto2/ 01 ponto3/ 02 pontos

    04 Pontos Todoalds 1/ 04 pontos02 Pontos No tem

    1/ 01 ponto3/ 01 ponto

    22 Pontos Todos1/ 09 pontos2/ 07 pontos3/ 05 pontos4/ 01 ponto

    Total de pontos por programa

    Os programas que tm unidades de Telecentros

    Pontos de incluso por distrito

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    Os programas imersos no recorte espacial de Duque de Caxias so:A) Internet na Praa18 O programa consiste na distribuio de acesso seguindo o modelo de Telecentro. O programa conta com apenas um ponto no centro do municpio. O mesmo utiliza-se de equipamentos mquinas caa-nqueis apreendidos pela polcia fluminense19, para confeco dos computadores. Uma estratgia positiva para dar fim a este tipo de equipamento ilegal utilizado pela contraveno.B) O Centro de Incluso Digital O centro de Incluso Digital CID configura-se como um Telecentro e distribudo geograficamente em quatro municpios da baixada fluminense: Duque de Caxias, So Joo de Meriti, Belford Roxo e Mag, totalizando vinte oito (28) PIDs20. No municpio de Duque de Caxias encontra-se a maior parte do programa: so vinte e dois (22) pontos. A presena de tal poltica para municpio por demais significativa, em primeiro lugar devido ao nmero de Telecentros; em segundo, pela identidade do projeto, que se resvala (apia) eleitoralmente na figura poltica do atual secretrio Estadual de Cincia e Tecnologia e Deputado Federal: Alexandre Cardoso21, que assina a autoria do projeto.C) Casa Brasil Este projeto equipado por um Telecentro, auditrio, biblioteca, sala de leitura, espao multimdia, oficina de rdio, laboratrio de divulgao da cincia, posto bancrio e mdulos de representao dos governos federal, estadual e municipal. Este programa conta com um ponto no terceiro distrito do municpio.D) Tonomundo O programa originrio de aes de responsabilidade social da empresa OI/TELEMAR, atravs da implantao de laboratrios de informtica com acesso Internet em escolas pblicas de ensino fundamental. O programa conta com dois pontos no municpio.E) McInternet do Mcdonalds O programa oferece gratuitamente aos seus clientes e funcionrios o acesso rpido rede mundial de computadores. O perodo de navegao varia de 15 minutos uma hora. Para utilizar o servio, basta apresentar o tquete de compra dos produtos McDonalds. O programa conta com quatro pontos no municpio.F) GESAC O programa do Governo Eletrnico Servio de Atendimento ao Cidado do Governo Federal, que tem como meta disponibilizar acesso Internet e mais um conjunto de outros servios de incluso digital a comunidades excludas do acesso e dos servios vinculados rede mundial de computadores. Atendendo prioritariamente s comunidades com baixo IDH (ndice de Desenvolvimento Humano) ou que estejam localizadas em regies onde as redes de telecomunicaes tradicionais no oferecem acesso local Internet em banda larga. O programa conta com dois pontos no municpio.G) FAETEC DIGITAL O Programa do governo do Estado, atravs da Secretaria Estadual de Cincia e Tecnologia SECT e da Fundao de Apoio Escola Tcnica FAETEC, oferece acesso gratuito Internet banda larga, para utilizao de servios pblicos, com o auxlio de um monitor, contendo de seis a 12 computadores por ncleo. O programa conta com um ponto no terceiro distrito do municpio.H) EIC CDI Programa das Escolas de Informtica e Cidadania foi criado 1995 pelo Comit para Democratizao da Informtica CDI, e compreende espaos informais de ensino que promovem no s a capacitao tcnica em Informtica, mas tambm distribuem acesso. O programa conta com cinco pontos no municpio.I) Programa Conecta O programa Conecta da OI/TELEMAR que atua em projetos (unidades de Telecentros) junto rede pblica de ensino. O programa conta com oito pontos no municpio.

    18Stio: http://cidsaracuruna.blogspot.com/2007/10/duque-de-caxias-ganha-primeiro-centro.html ltimo acesso em 21/07/2008. 19Sitio: www.duquedecaxias.rj.gov.br ltimo acesso em 30/07/2008.20Stio: http://www.baixadadigital.com.br/ocid.html ltimo acesso em 22/07/2008.21Nas eleies de 2006 obteve o quarto mandato como deputado federal, com mais de 102 mil votos. Stio: http://www.alexandrecardoso.com.br/site/index.php?p=dep ltimo acesso em 20/07/2008.

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    J) Programa ProInfo O Programa Nacional de Informtica na Educao tem por objetivo promover o uso da Telemtica como ferramenta de enriquecimento pedaggico no ensino pblico fundamental e mdio. Conta com nove pontos no primeiro distrito, trs no terceiro e um no quarto.L) Telecentro Comunitrio do Banco do Brasil um Programa de Incluso Digital do Banco do Brasil, criado com o intuito de fornecer componentes de Telecentros, com capacitao aos monitores e articulao de parceiras, fomento e desenvolvimento local. Conta com um ponto no primeiro distrito. Para o melhor vislumbre do total de pontos de incluso digital, utilizamos um recurso cartogrfico, ilustrando a espacialidade dos pontos de incluso digital no municpio de Duque de Caxias, segundo a sua diviso por distrito, que porventura segue espraiada de maneira desigual entre os quatros (04) distritos do municpio, como j comentamos (ver mapa abaixo).

    Mapa 4 Diviso distrital dos pontos de incluso digital no municpio de Duque de Caxias*

    Organizado por: Giselma Pessoa, 2008.

    A disparidade referida no mapa acima est diretamente relacionada densidade populacional subscrita para cada distrito, ou seja, a maior densidade de oferta de servios deve-se maior densidade populacional. No primeiro distrito contabilizamos um total de trinta e dois (32) pontos de incluso digital, distribudos para os 338.542 habitantes. No segundo (2) distrito, temos uma queda no nmero de pontos de incluso digital (17 PIDs), talvez no por acaso, o seu nmero de habitantes (243.767 hab) seja bem menor que o primeiro (1) distrito. O terceiro (3) distrito contabiliza onze pontos, distribudos para os 140.246 habitantes. No quarto h uma queda acentuada no total de

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    * Os dados presentes na tabela referem-se ao Censo de 2000.

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    pontos de incluso (02 PIDs) e tambm no nmero populacional, no distrito de Xerm temos (em relao aos demais distritos) apenas 52.901 habitantes. Com base na cartografia dos centros pblicos de acesso Internet proferida no mapa acima, podemos perceber que a espacialidade dos PIDs se d nas reas de maior densidade populacional, na medida que observamos uma maior concentrao de centros pblicos nos distritos mais adensados. Observa-se que a proviso de polticas pblicas ainda deficiente nos distritos mais afastados e/ou mais carentes. Nestes, a ao do poder pblico, no que tange s polticas de incluso digital, est aqum das demandas, sendo que o caso mais grave de precariedade da ao do poder pblico ocorre no quarto (4) distrito, o distrito de Xerm. Lembrando que a incluso dos territrios tambm se configura atravs da incluso digital, o provimento de polticas de incluso digital imprescindvel neste caso. Ora o municpio tem uma taxa de includos digitais de apenas 6,8%, - segundo anlises do mapa da excluso digital desenvolvido pela Fundao Getlio Vargas em 2003 dados de uma incluso bem abaixo da mdia nacional (21% da populao22). Ao levar em conta o levantamento feito por Sorj & Guedes (2005, p. 25), em pesquisa realizada junto com a Unesco e o ICA Institute for Connectivity Americas, em comunidades carentes do municpio do Rio de Janeiro, onde a taxa de includos digitais de 9%, o uso do computador pessoal em Duque de Caxias acaba por ser um aparato domstico ainda pouco presente nos lares caxienses, com ndices de includos digitais abaixo de reas perifricas do municpio do Rio de Janeiro. A ao do Estado, no tange a incluso digital, no municpio no suficiente para suprir a grande demanda por acesso, o que acaba por possibilitar neste sentido a presena de centros de acesso Internet privados, tambm chamados de Lan Houses e Cybercafs. No municpio, a Secretaria de Fazenda/Receita e a Secretaria de Fiscalizao de Tributos atribuem s atividades dos centros pblicos de acesso Internet pagos (Lan Houses e Cybercafs) ao cdigo de atividade n 50.15.00 a condio de estabelecimentos com Jogos de Diverso23, no setor e segmento: 07 Prestao de Servios. O quantitativo total de Lan Houses e Cybercafs pesquisadas (em Duque de Caxias) se baseou sob os preceitos supracitados, que fiscaliza estes estabelecimentos comerciais sobre um prisma legal. De forma, empreendimento que (estiver) alocado no cdigo geral de Servios Gerais n 41.99.00, no (ter sido) mapeado pela pesquisa, em primeiro lugar, por no se enquadrar no cadastro ao cdigo de atividade n 50.15.00 destinado a Lan Houses e Cybercafs24; e, em segundo lugar, por no atuarem em consonncia com a lei estadual n 4.78225. Os estabelecimentos regidos pelo cdigo municipal n 50.15.00, apontam a existncia de vinte e um (21) estabelecimentos no municpio (ver quadro seguinte).

    22Atualmente, os indicadores de acesso Internet no Brasil descrevem que 21% da populao brasileira tm acesso Internet, totalizando 32.109.939 de usurios no Brasil, dados da PNAD, 2005.23Foi desprezado da listagem geral do cdigo de atividade n 50.15.00 os estabelecimentos que se configuravam apenas como Fliperamas e demais atividades correlatas. 24A Lei municipal de n 1664/2002 legitima ao das Lan Houses no cdigo de atividade n 50.15.00.25A lei estadual n 4.782 do Estado do Rio de Janeiro probe a instalao e funcionamento de qualquer centro pago prximo s unidades de ensino da Educao Bsica.

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    Quadro 3 Listagem das Lan Houses e Cybercafs no municpio de Duque de Caxias Razo Social Tipologias UA

    1 L. R.L Servios de Informtica Lan House /Informtica / Fliperama 12 Carvalho e Otaviano Jogos Eletrnicos Lan House 13 R2 Parrinis Lan House Lan House /Convenincia / Fliperama 14 Virtua Family Jogos Eletrnicos Lan House / Fliperama 15 Jnior & Jaqueline Rios Lava Jato Lan House / Lava Jato 1

    6 A. Azevedo Maia Informtica Lan House 17 BILAC de Caxias Jogos Eletrnicos Lan House 18 Mauricio C Silva Jogos Eletrnicos Lan House 19 A.S. Penedo Games Locadora de Vdeo Lan House / Locadora de Vdeo 1

    10 Return Jogos Lan House 111 N L R 620 Lan House Lan House / Bar / Fliperama 112 Kamy Komy Bar Lan House / Bar 113 J E Estrela Jogos Eletrnicos Lan House 114 FYPPERAN Lan House / Fliperama 115 MJDV Informtica Lan House / Comrcio de Informtica 116 Gilberto Lan House Lan House / Fliperama 217 Coneco Total Internet e Jogos Lan House 218 BIG BROTHER Locadora de Filmes Lan House / Locadora de Vdeo 219 Alessandra da Silva Lan House 320 Blazer Lan House Lan House 321 Ceclia Izabel Lan House 3

    Fonte: Secretaria de Fazenda/ Receita Secretaria e fiscalizao de tributos de Duque de Caxias (Julho de 2008).Organizado por: SANTOS FILHO, Sidney Cardoso, 2008.

    Das vinte e uma (21) Lan Houses esto distribudas nos trs primeiros distritos do municpio (1 Duque de Caxias; 2 Campos Elseos; 3 Imbari), o primeiro distrito abarca o maior nmero de empreendimentos comerciais, total quinze (15) Lan Houses. O segundo distrito contempla um nmero bem menor que o apresentado no 1 distrito, totalizando trs (03) Lan Houses. O terceiro distrito contabiliza a mesma quantidade que o segundo distrito. O quarto distrito do municpio (Xerm) no apresenta nenhum estabelecimento registrado. Cabe salientar que a pulverizao das Lan Houses tambm ocorre de maneira desigual entre os distritos. O quadro acima, alm da atividade de Lan House, outras tipologias atuam mescladas com a atividade de Lan House. As tipologias mescladas s Lans aferidas pela pesquisa foram: a atividade de locadora de vdeo, bar, fliperama, lava jato, loja de convenincia, curso de informtica e comrcio de informtica. Dentre o total de Lans (21 unidades) pesquisadas, onze (11) apresentam mais de uma funo, demonstrando assim o seu carter voltil, conseqentemente um dos fatores que demonstram as mltiplas funcionalidades destes centros.

    Consideraes Finais

    A finalizao deste trabalho no significa o fim necessariamente da pesquisa, de forma que os resultados aqui obtidos o ponto de partida para o desdobramento de futuras pesquisas. Entendendo a incluso dos territrios com face de uma incluso social, devemos salientar que o municpio de Duque de Caxias dispe de grande nmero de iniciativas governamentais de incluso digital, presente nas trs esferas de governo, como foram os casos dos programas: a) federais: GESAC, Casa Brasil,

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    ProInfo e Telecentro Comunitrio do Banco do Brasil; b) estaduais: FAETEC digital, Centro de Incluso Digital CID; c) municipal: Internet na Praa. Mas tais iniciativas ainda no suprem as demandas do municpio, o que revela a necessidade de um maior empenho do poder pblico na incluso do seu territrio. Podemos perceber que o nmero de polticas de incluso digital ofertada pelos onze (11) programas no municpio insuficiente e no inibiu a mercantilizao do acesso Internet, promovida pelas vinte uma (21) Lan Houses registradas, Lans que tm atribudo cada vez mais novas funes sociais, como por exemplo, locadora de vdeo (A. S. Penedo Games & Locadora de Vdeo) e comrcio de informtica (MJDV informtica). Analisando a distribuio distrital dos centros pblicos de acesso Internet, constatamos que h uma maior atuao do poder pblico no primeiro distrito (Duque de Caxias) e uma menor nos demais. Um bom exemplo da pulverizao de polticas pblicas de incluso digital est no quarto (4) distrito de Duque de Caxias, neste o poder pblico no atua em consonncia com uma poltica de acesso Internet a altura da expresso territorial de sua populao, demonstrando a necessidade de uma maior atuao do Estado na elaborao de projetos de incluso digital.

    Bibliografia CASTELLS, Manuel. A galxia da Internet: reflexes sobre a Internet, os negcios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.CORRA, Roberto Lobato. Espao: um conceito-chave da Geografia.CASTRO,In Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa Gomes; CORRA, Robeto Lobato. Geografia Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 10 ed.GUEDES, Lus Eduardo; SORJ, Bernardo. Internet na Favela. Quantos, quem, onde, para qu. Rio de Janeiro: Gramma, 2005.HASBAERT, Rogrio. O mito da desterritorializao: do fim dos territrios multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.LEMOS, Andr. Cidade Digital: portais, incluso e redes no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007.MARTINS. Jos de Souza. Excluso Social e a Nova Desigualdade. So Paulo: Paulus, 1997.OLIVEIRA. Rafael. da S. Baixada Fluminense. Novos estudos e desafios. Rio de Janeiro: Ed. Paradigma. 2004.SANTOS FILHO, Sidney Cardoso. A organizao espacial das lan houses em Nova Friburgo. XV Encontro Nacional de Gegrafos, So Paulo: USP, 2008. ISBN 978-85-9859-86-11SANTOS, Milton. Por uma outra globalizao: do pensamento nico conscincia universal. Rio de Janeiro: Record, 2007. 14 ed.SIMES, Manuel Ricardo. A cidade estilhaada: Reestruturao Econmica e Emancipaes Municipais na Baixada Fluminense. Mesquita: ed. Entorno, 2007SORJ, Bernardo. Brasil @ povo.com: a luta contra a desigualdade na sociedade da informao. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.; Braslia, DF: Unesco, 2003.SOUZA, Marcelo Jos Lopes de. O territrio: Sobre Espao e Poder, autonomia e desenvolvimento. CASTRO, In Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa Gomes; CORRA, Robeto Lobato. Geografia Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 10 ed. SOUZA, Marlucia Santos da. Imagens da cidade de Duque de Caxias. Revista FEUDUC/CEPEA/PIBIC, n 02, setembro de 2000.WARSCHAUER, Mark. Tecnologia e incluso social: a excluso digital em debate. So Paulo: Senac So Paulo, 2006.

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    Antonio Augusto Braz1

    Duque de Caxias uma cidade de migrantes. De geraes de migrantes que foram se sobrepondo na medida em que chegavam levas regio desde as primeiras dcadas do sculo XX. Esses homens e mulheres lutaram penosamente ao longo das dcadas num esforo contnuo de construo de suas vidas, de seus projetos, de suas aspiraes construindo no suas histrias pessoais, mas tambm a Histria do prprio municpio. Transformaram ao longo do sculo um pobre, evitado e pequeno aglomerado urbano em um potente parque industrial, destaque econmico do estado e do pas. De Merity das febres Duque de Caxias, plo petroqumico e comercial. No entanto, os frutos desse desenvolvimento foram sendo desigualmente distribudos gerando progressivamente o enorme abismo social, uma das mais dramticas marcas da cidade. Esse abismo pode ser claramente notado no desequilbrio urbano de seus bairros, onde uns poucos bem servidos de equipamentos e servios contrastam com o conjunto maior, onde em menor ou maior escala, a populao luta por uma vida digna em meio a todo tipo de carncias e ausncia de poder pblico. Inserido na lgica da sociedade capitalista no poderia o municpio escapar imune das contradies sociais que so as marcas dessa formao econmica e social. Muitos dos elementos definidores de seu dramtico presente emergiram de sua trajetria histrica onde segmentos sociais protagonizaram esse processo de construo desigual. A cidade de Duque de Caxias foi construda a partir de uma formao desordenada gerada por uma economia prspera em meio a uma sociedade partida e fragmentada. O municpio de Duque de Caxias compe hoje em dia a regio perifrica do Rio de Janeiro que se convencionou denominar de Baixada Fluminense. Essa definio originria dos estudos geogrficos2 corresponde atualmente ao conjunto de municpios formado por Nova Iguau, Duque de Caxias, So Joo de Meriti, Nilpolis, Belford Roxo, Queimados, Mesquita e Japeri. Essa nova definio que utilizaremos constitui-se, a partir dos trabalhos da Fundao para o Desenvolvimento da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro (FUNDREM) que num relatrio produzido em 19793 aglutinou esses municpios no que viria chamar de Unidades Urbanas Integradas a Oeste (UUIO). Esse conglomerado urbano desordenado, caracterstica do municpio e da Baixada Fluminense, constitui-se a partir da dcada de 30 do sculo XX, poucas dcadas depois em que uma profunda crise demoliu a economia e a sociedade rural/colonial que havia caracterizado a regio nos sculos anteriores.

    DOS LOTEAMENTOS AOS BAIRROS:A CONSTRUO DOS LUGARES EM

    DUQUE DE CAXIAS NOS ANOS40 E 50 DO SCULO XX.

    1Mestre em Histria Social pela Universidade Severino Sombra - Vassouras - RJ. Professor da Unigranrio e da rede municipal de ensino. Scio fun-dador e membro do Conselho Deliberativo da Associao dos Amigos do Instituto Histrico. Titular da cadeira de Histria, Patrimnio Arqueolgico, Arquitetnico, Artstico e Cultural do Conselho Municipal de Cultura de Duque de Caxias.2Regio de plancies costeiras que se estendem do litoral at a Serra do Mar cobrindo de Norte a Sul do municpio de Campos ao de Itagua. VER: GEISER, P. Pinchas e SANTOS, Ruth Lyra. Notas Sobre a Evoluo da Ocupao Humana da Baixada Fluminense. RJ: IBGE, 1955: 292-293. 3FUNDREM (Fundao pra o Desenvolvimento da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro). Unidades Urbanas Integradas de Oeste. Plano Diretor, V. II Duque de Caxias. RJ: FUNDREM, 1979.

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    Essas terras recuperadas e entregues especulao imobiliria, tornaram-se alvo de uma forte migrao interna de contingentes populacionais ansiosos por tentar uma vida melhor na capital federal, o Rio de Janeiro, ocupando sistematicamente seu entorno. Essa avalanche populacional avolumou-se nas dcadas de 40 e 50 contribuindo para reconfigurar politicamente e administrativamente a regio. Em 1943, Duque de Caxias alcanaria sua autonomia tornando-se municpio. E em 1947, So Joo de Meriti e Nilpolis seguiriam esse exemplo desanexando-se de Caxias como esse havia feito de Nova Iguau. Ao longo desse perodo vrias aes de saneamento foram promovidas pelo governo federal. As terras, antes alagadias e insalubres, foram se tornando acessveis ocupao e intensamente retalhadas, foram sendo transformadas em loteamentos populares que passaram a brigar milhares de migrantes originrios do Nordeste do pas, de Minas Gerais, do Noroeste Fluminense e do prprio municpio do Rio de Janeiro. At os primeiros anos da dcada de 60 quase 80% do total de loteamentos que se constituram no perodo que vai de 1920 a 1980 j haviam se configurado4. Esses loteamentos, quase todos constitudo a partir de apropriaes ilegais, eram na sua maioria desprovidos de qualquer equipamento urbano prvio. O comprador na maioria das vezes localizava a duras penas seu lote no meio do mato e abria uma picada da at uma via de acesso mais prxima. Nos primeiros anos de formao dos primeiros bairros as tenses entre necessidades cotidianas e as enormes dificuldades em atend-las se fazia o tempo todo presente. Como construir e ampliar a modesta residncia aps a penosa compra do lote? Como se deslocar na lama ou na poeira at a estao ferroviria ou ponto de nibus mais prximo, na lama ou na poeira, e da dirigir-se ao trabalho, na maioria das vezes, na capital Rio de Janeiro. A gua e a luz, como as obter e usufru-las s residncias? Onde estavam as escolas para educar os filhos? E hospitais para a sade da famlia? E a segurana pblica? E o lazer? Era possvel ter esses direitos? No enfrentamento dessas condies durssimas, milhares de homens, mulheres, jovens, idosos e crianas foram construindo suas vidas lutando para sobreviver e projetando aspiraes. Construindo suas trajetrias pessoais construram a Histria da regio. Ao longo dos anos 40 e 50 os loteamentos vo se tornando bairros. A prpria estrutura administrativa da municipalidade recm constituda vai se consolidando. Os bairros mais centrais localizados no entorno das estaes ferrovirias vo adquirindo perfil comercial e recebem melhorias urbanas, principalmente o centro administrativo no entorno da estao de Caxias, enquanto os demais amargariam ainda longos anos de dificuldades. Era nessa cidade, nos anos 40 e 50, que a romaria migrante de milhares de homens, mulheres e crianas buscavam seu ponto final e que suas esperanas de construir vida nova se assentavam. Era nessas condies, que as primeiras geraes de caxienses emancipados encontraram seus desafios, desfiaram suas experincias e construram suas histrias, construindo a histria da cidade.

    Dos loteamentos aos bairros: A construo dos lugares.

    So vrios os seus ritmos de viver, de morar em cada bairro havendo em cho distinto, umar conforme a direo ou a extenso das ruasdos quarteires retangulares do 25 de Agosto;das transversais sem sada, do Santo Antnio;das ladeiras do Bela Vista e do Parque Lafaiete;

    4BELOCH, Israel. Capa Preta e Lurdinha: Tenrio Cavalcanti e o Povo da Baixada. Rio de Janeiro. Record. 1986. p. 26 e 27.

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    dos vales afunilados do Periquito e do Centenrioespaos recentes, agora, mas encontros antigosque as estradas e as guas separavam (...)em tantos destinos com novos nomes, hoje batizados:Gramacho, So Bento, Campos Elseos, Primavera,Saracuruna, Parada Anglica, Imbari (...)Tantas linhas, tantos fios, tantos ns... 5

    O poema do militante cultural Barboza Leite, migrante nordestino radicado em Duque Caxias na dcada de 50, exprime com lirismo a definio do que possa ser um bairro que a abordagem geogrfica busca apresentar mais objetivamente. Segundo Soares6, por exemplo, uma noo de bairro que a Geografia apresenta, seria de que um lugar caracterizado, ao mesmo tempo por certa paisagem urbana, por um certo contedo social e por uma funo, mas a prpria autora chama a ateno mais adiante que essa noo tcnica tomada pelo senso comum de quem vive no prprio bairro leva em conta um sentimento coletivo dos habitantes que tm a conscincia de morarem em tal ou qual bairro, gerando o sentido de originalidade e individualidade que destaca o bairro habitado em meio aos outros bairros que o cercam. Poeta e gegrafa concordam que as experincias socialmente vividas pelos moradores do a noo de bairro uma amplitude muito mais complexa do que a de apenas fronteiras espaciais, circunscries administrativas utilizadas pela municipalidade para controlar e gerir o territrio. no sentido de identidade e pertencimento que a formao desses lugares de vivncia sero analisados. Os atuais bairros de Duque de Caxias so desdobramentos dos primeiros loteamentos constitudos na regio desde as primeiras dcadas do sculo XX, majoritariamente nos anos 40 e 50, que por sua vez, originaram-se do caos fundirio que precedeu e acompanhou as obras de saneamento da regio. A transio de loteamentos para bairros no foi imediata, muitos empreendimentos fracassaram, outros tiveram sua ocupao realizada muito lentamente, o que propiciou durante anos a existncia de um ambiente intermedirio entre o rural e o urbano, com uma paisagem pouco habitada, cheia de terrenos baldios e com mnimas condies no que diz respeito aos equipamentos urbanos. No que diz respeito desordem fundiria da qual emergiram os loteamentos e depois os bairros. Fernandez7 afirma que, j na dcada de 10, ao longo das iniciativas de saneamento promovidas por Nilo Peanha, os proprietrios dos imveis situados no entorno das bacias hidrogrficas onde as obras seriam realizadas foram intimados pelas autoridades a apresentar seus ttulos, o que aconteceu com poucos. Segundo o autor, isso aconteceu possivelmente pelo fato de que a regio naquele momento tinha suas terras sob vrias formas de acesso (...) como arrendamentos e as parcerias distribudas em stios, pequenas e mdias propriedades. Os resultados positivos, no que diz respeito recuperao dessas terras alagadas e a forte demanda imobiliria tornaram as terras cada vez mais valorizadas, gerando um desenfreado conflito pela posse e pela propriedade dos terrenos com o objetivo de negoci-los em busca de um lucro relativamente fcil. Em 1938 visitando as obras executadas no rio Guandu-mirim, relativas implementao da Fazenda Nacional de Santa Cruz, Getlio Vargas chamava ateno para o que considerava uma grave questo que obstacularizava a maior necessidade de abastecimento da Capital Federal que seria:

    5LEITE, Barboza. Trilhas, Roteiros e Legendas de uma Cidade Chamada Duque de Caxias. Ed. Consrcio, 1986. p. 08. 6SOARES, Maria Therezinha de Segadas e BERNARDES, Lysia. Rio de Janeiro: Cidade e Regio. ed. SMC: RJ. Rio de Janeiro, 1995, p.1057FERNANDES, Leonardo Jferson. O Remdio Amargo: As Obras de Saneamento na Baixada Fluminense (1890-1950). Rio de Janeiro. Disser-tao de Mestrado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 1998. 1998, p. 154.

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    (...) a apropriao dos grileiros falsos proprietrios que exploram de maneira desordenada a terra, fazendo deserto, pela devastao vegetal e revendendo a gleba desnudada para a criao de gado, de maneira dispersiva, sem benfeitores nem qualquer espcie de aproveitamento racional. H indivduos que por meio de ttulos falsificados e da posse ilcita de terras do domnio pblico, usufruem verdadeiros latifndios de 2 e 3 mil alqueires.8

    Os interesses imobilirios e a grilagem se moveram em direo a apropriao de grandes propriedades abandonadas, contando com privilegiadas informaes de agentes governamentais transformados em scios desses empreendimentos.

    Segundo o exemplo do governo, grandes propriedades abandonadas adquiridas por empresas particulares, que aps os primeiros melhoramentos indispensveis, retalham as grandes reas e vendem os lotes, facilitando o pagamento a longo prazo. Vrias companhias j se acham organizadas com esse objetivo, obtendo resultados completamente satisfatrios .9

    Em 1937 uma mudana na legislao permitiu que as transaes relativas compra e venda dessas terras revalorizadas e judicialmente indefinidas pudesse acelerar essas transferncias de titularidade de maneira muitas vezes fraudulenta. Segundo a nova legislao, as terras lanadas no mercado imobilirio em forma de loteamentos deviam ter seus registros e projetos alocados junto s municipalidades da regio que, por sua vez, ficariam encarregadas da fiscalizao no s dessa burocracia como tambm das aes relativas aos melhoramentos bsicos que deveriam ser realizados nos loteamentos postos venda, como arruamento e sistema de esgoto. No entanto, a proximidade desses agentes imobilirios com as autoridades municipais geraram relaes promscuas que fizeram com que essas exigncias fossem solenemente ignoradas, mesmo porque no havia na lei nenhuma penalidade estipulada para esse tipo de omisso. Dentro dessas circunstncias o processo de loteamento da Baixada Fluminense e Duque de Caxias, ganhou enorme velocidade. Somente no municpio de 1910 a 1960 foram aprovados 228 loteamentos e at 1978 o nmero de lotes chega a 230.874.

    Lotes e rea Loteada 1940/1970Perodo N de Lotes rea Total rea Mdia dos Lotes

    At 1949 57.206 6.198 1.0831950-1959 85.642 7.001 8171960-1969 60.038 3.374 5451970-1978 27.988 1.376 492Total em 1978 230.874 17.849 773

    FONTE: Plano Diretor Urbanstico do Municpio ENGESUR 1992.

    Os loteamentos constituram-se prioritariamente nas proximidades das estaes frreas de Caxias, Gramacho e Actura (Campos Elseos) e ao longo da Av. Rio- Petrpolis. As casas localizavam-se

    8FERNANDEZ:1998, P.2139FERNANDEZ:1998, P.233

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    a princpio ao longo da ferrovia concentrando-se o mais prximo possvel das estaes e aos poucos, ruas secundrias foram abertas expandindo a rea ocupada na medida em que habitao, comrcio e servios se multiplicavam-se. Novos loteamentos, futuros bairros, expandiram-se a partir dos limites dos primeiros. Novas ruas foram traadas que levavam a populao ao entorno das estaes e ao comrcio de servio que tambm se desenvolvia e de onde tambm poderiam alcanar o Rio de Janeiro e seus subrbios. A concentrao da atividade loteadora deu-se a princpio no primeiro distrito, cujo centro comercial e administrativo desenvolvia-se no sentido de atender as demandas imediatas da populao que se instalava e, alm disso, o deslocamento da para o Distrito Federal era muito menos complicado do que outras partes do municpio.

    Naturalmente, a intensidade do loteamento e o preo dos lotes de modo geral decrescem com o aumento da distncia ao Rio ou a Niteri; desenvolvem-se mais ao longo das principais estradas, ferrovias ou rodovias (...) 10.

    Nas dcadas de 40 e 50 diversos loteamentos retalharam o municpio de Caxias, dos quais surgiram a maioria dos atuais bairros. O quadro abaixo procura dar um panorama dessa fase.

    BAIRROS FORMADOS A PARTIR DE LOTEAMENTOS NAS DCADAS DE 40 E 50.

    Bairro atual Loteamento de origem fundiria

    Data de loteamento Proprietrio

    Pantanal Vila Santo Antnio 1959 Tenrio CavalcantiParada Anglica Fazenda Tapera 1945 Gabriel F. de ResendeJardim Primavera Chc. Rio-Petrpolis 1947 Nlson Cintra

    Imbari Vila Ema 1942 Armando GenoveseGramacho Vila Leopoldina 1950 Cia. BrasileiraFigueira ___ 1943 Isaque Shalon

    25 de Agosto Fazenda Engenho Velho 1951 Emp. Melhoramentos Caxias LtdaParque Paulista Fazenda N. S. da Penha 1948 Banco Central Brasileiro

    Dr. Laureano Vila Caetano Madeira 1952 Comp. Propr. BrasileiraPilar Nossa S. do Pilar 1952 ___

    Engenho do Porto Fazenda Engenho do Porto 1956 Arnaldo de S MottaPaulicia Parque Paulicia 1943 Manoel G. VieiraLafayete Parque Lafayete 1953 Antnio Alves Campos

    Saracuruna Vila Vitria 1950 Braslia Turstica e ComercialFONTE: Instituto Histrico de Duque de Caxias. Mapas de Loteamentos.

    De uma maneira geral, com exceo de alguns bairros planejados destinados a compradores mais financeiramente qualificados,11 as condies de moradia estavam muito aqum das vantagens apregoadas nas propagandas e pelos agentes imobilirios. Com seus equipamentos urbanos inadequados ou inexistentes, esses futuros bairros populares exigiam de sua populao recm instalada uma atividade familiar e/ou comunitria na abertura e preservao das vias pblicas, na construo e desobstruo de valas e canais para a drenagem das guas fluviais e do esgoto domstico, assim como na instalao da

    10GEIGER. Pedro Pinchas e MESQUITA, Miriam Gomes. Estudos rurais da Baixada Fluminense. RJ. IBGE. 1956. p. 181.11Como foram as tentativas em Campos Elseos (1952), Jardim Primavera (1953) e mais tarde no Jardim 25 de Agosto (1961).

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    REVISTA PILARES DA HISTRIA - DUQUE DE CAXIAS BAIXADA FLUMINENSE

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    precria rede eltrica e no furo de poos para obteno de gua para o uso domstico. Tudo isso, claro, posterior e/ou concomitantemente aquisio do modesto lote e a penosa construo da residncia, por si s uma penosa epopia familiar.

    O termo adquirido em prestaes mdicas e a habitao muitas vezes erguida pelo prprio comprador, medida que suas pequenas economias permitem a compra de materiais essenciais. Freqentemente, o morador fixa residncia no lote com a casa semi-construda e vai concluindo a obra de acordo com sua disponibilidade de dinheiro e de tempo.12

    O processo de loteamento foi levado a cabo de maneira geral por empresas imobilirias como a Empresa Melhoramentos Caxias Ltda, loteadora do bairro 25 de Agosto; a Co