1 a Critica Do Juizo

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    A Crtica do Juzo

    RONALDO CAMPOS

    Segundo Gadamer, Kant considerou como uma espcie de surpresa espiritual o fato de

    que no marco do que se refere ao gosto apareceria um momento a priorista que vai mais

    alm da generalidade emprica. E a partir dessa perspectiva que surge a Crtica do

    Juzo. No se trata simplesmente de princpios empricos que deveriam legitimar uma

    determinada forma dominante do gosto; pelo contrrio, busca-se um autentico a priori, o

    qual, deve justificar em geral e para sempre a possibilidade da crtica 1. Trata-se, de

    encontrar o acordo entre as duas Criticas. No se busca aqui um acordo entre os dois

    mundos o da natureza e o da liberdade, pois, segundo Kant, ainda que a Filosofia

    somente possa ser dividida em duas partes principais, a terica e a prtica; ainda que tudo

    aquilo que pudssemos dizer nos princpios prprios da faculdade do juzo tivesse que

    nela ser includo na parte terica, isto , no conhecimento racional segundo conceitos da

    natureza, porm ainda assim a crtica da razo pura, que tem que construir tudo isto antes

    de empreender aquele sistema em favor da sua possibilidade, consiste em trs partes: a

    crtica do entendimento puro, da faculdade de juzo pura e da razo pura, faculdades que

    so designadas puras, porque legislam a priori2. Isto , no se trata de acrescentar uma

    terceira parte ao sistema, pois, este no pode ter seno duas partes filosofia teortica

    1GADAMER,1977., p.752Kant, 1993,Introduo, III, p. 23

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    e filosofia prtica visto que os mundos so dois, natureza e liberdade. O que se busca,

    pelo contrrio, uma nova faculdade cognoscitiva, atravs da qual esses dois mundos se

    encontrem no sujeito. Deste modo, a passagem entre esses dois mundos no objetiva,

    mas subjetiva, no sentido que se busca um acordo de um objeto do entendimento humano,

    o qual uma faculdade da mente humana, com um conceito da razo, que tambm uma

    faculdade da mente humana. Assim, o entendimento fornece , mediante a possibilidade

    das suas leis a priori para a natureza, uma demonstrao de que somente conhecemos esta

    como fenmeno, por conseguinte simultaneamente a indicao de um substrato supra-

    sensvel da mesma, deixando-o no entanto completamente indeterminado. Atravs do seuprincpio a priori do ajuizamento da natureza segundo leis particulares possveis da

    mesma, a faculdade do juzo fornece ao substrato supra-sensvel daquela (tanto em ns,

    como fora de ns) a possibilidade de determinao mediante a faculdade intelectual.

    Porm, a razo fornece precisamente a esse mesmo substrato, mediante a sua lei prtica a

    priori, a determinao; e desse modo a faculdade do juzo torna possvel a passagem do

    domnio do conceito da natureza para o de liberdade3.

    O entendimento legislador a priori em relao natureza, enquanto objeto dos

    sentidos, para um conhecimento terico da mesma numa experincia possvel. A razo

    legisladora a priori em relao liberdade e causalidade que prpria desta ( como

    aquilo que supra-sensvel no sujeito) para um conhecimento incondicionado prtico 4.

    Neste caso, nem o entendimento, nem a razo pode realizar tal juzo; este ser ato de uma

    terceira faculdade: a faculdade de julgar. Lado a lado do entendimento que conhece e da

    3KANT, 1993, Introduo, IX, p. 404KANT, 1993, Introduo, IX, pp. 38-39

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    razo que pe fins, tem-se uma outra faculdade, a qual possui por funo ajustar um

    objeto do intelecto a um fim da razo, ou seja, temos aqui a faculdade de julgar. A

    faculdade de juzo esttica por isso uma faculdade particular de ajuizar as coisas

    segundo uma regra, mas no segundo conceitos. E no caso de ajuizar a forma do objeto (

    no o material da sua representao, como sensao) na simples reflexo sobre a mesma

    (sem ter a inteno de obter um conceito dele), como fundamento de um prazer na

    representao, este prazer julgado como estando necessariamente ligado

    representao, por conseqncia, no simplesmente para o sujeito que apreende esta

    forma, mas sim para todo aquele que julga em geral. O objeto chama-se ento belo e afaculdade de julgar mediante um tal prazer (por conseguinte tambm universalmente

    vlido) chama-se gosto5. Na verdade, como o fundamento do prazer colocado

    5De acordo com Gadamer, a longa histria do conceito de gosto - que precede a sua utilizao por Kantcomo fundamento da Crtica da Faculdade do Juzo - permite reconhecer que originalmente o conceito degosto mais moral do que esttico. Tal conceito descreve um ideal de humanidade autentica, e deve asua cunhagem aos esforos por se separar criticamente do dogmatismo da escolstica. Somente bemmais tarde, o uso deste conceito se restringir as belas artes. A sua origem se remonta a BaltasarGracin que considera que o gosto sensorial contem j o germe da distino que se realiza no

    julgamento espiritual das coisas. O discernimento sensvel que para o gosto no seno que j seencontra a meio caminho entre o instinto sensorial e a liberdade espiritual. O gosto sensorial secaracteriza precisamente porque com sua eleio o juzo logra por si mesmos distanciar-se com respeitoas coisas que formam parte das necessidades mais urgentes da vida. Desta forma, o gosto pode serconsiderado como uma primeira espiritualizao da animalidade e ponto de partida da formao social;representando no somente o ideal que delineia uma nova sociedade, mas tambm sob o signo desteideal (do bom gosto) se estabelece pela primeira vez o que ento receber o nome de boa sociedade.Esta se reconhece pelo fato de que acerta ao fundar-se por cima da estupidez dos interesses e daprivacidade das preferncias, estabelecendo a pretenso de julgar. Portanto no h dvidas de que como conceito de gosto esta dado uma certa referncia a um modo de conhecer. Entretanto, Terceira Crticarepresenta a ruptura com tal tradio e tambm a introduo de um novo desenvolvimento na histria dogosto, pois, o restringir o conceito de gosto ao mbito, no qual, pode afirmar uma validade autnoma eindependente na qualidade de princpio prprio da faculdade do juzo. A inteno transcendental (queguiou Kant) encontrou sua satisfao no fenmeno restrito do juzo sobre o gosto ( e sobre o sublime), e

    desprezou o conceito mais geral da experincia do gosto, assim como a atividade da faculdade de juzoesttica no mbito do direito e do costume. Isto reveste se de uma importncia que no convmsubestimar, uma vez que aquilo que foi desprezado justamente o elemento no qual viviam os estudosfilolgicos-histricos e do que unicamente houvera podido ganhar sua auto-compreenso plena quandofundamentaram metodologicamente sob o nome de cincias do espirito junto s cincias naturais.Agora, em virtude do planejamento transcendental de Kant, fechou-se o caminho que houvera permitidoreconhecer a tradio, cujo, cultivo e estudo ocupavam-se tais cincias na pretenso especfica deverdade. O que Kant legitimava e queria legitimar por sua vez com a Terceira Crtica era a generalidadesubjetiva do gosto esttico, no qual, j no h conhecimento do objeto, e, no mbito das belas artes, asuperioridade do gnio sobre qualquer esttica regulativa.(cf. Gadamer, Verdad y Metodo, p.66-74)

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    simplesmente na forma do objeto para reflexo em geral, por conseguinte em nenhuma

    sensao do objeto, tambm colocado sem relao a um conceito que contenha uma

    inteno, apenas a legalidade, no uso emprico do faculdade do juzo em geral (unidade

    da faculdade da imaginao com o entendimento no sujeito com que a representao do

    objeto na reflexo so vlidas a priori de forma universal. Tal princpio no pode ser

    derivado, nem demonstrado a partir de um princpio geral ; nem tampouco decidir-se por

    argumentao ou por demonstrao. Os modelos e exemplos proporcionam uma pista

    para sua prpria orientao porm no o eximem de sua real tarefa; pois, o gosto tem de

    ser uma capacidade prpria e pessoal. Entretanto, nas questes referente ao gostoesttico, as preferncias particulares no influem, a no ser que elevadas a pretenso de

    uma norma supra-emprica.

    Para Kant, tanto o prazer quanto o desprazer no so produzidos pelo conceito de

    liberdade, ou seja, atravs da determinao precedente da faculdade de apetio superior

    da razo pura, o sentimento de prazer nunca pode ser compreendido como provindo de

    conceitos, necessariamente unidos a representao de um objeto. Entretanto, pode sempre

    ser conhecido atravs da percepo refletida e ligada a esta,; consequentemente, no pode

    anunciar qualquer necessidade objetiva e exigir uma validade a priori. Todavia o juzo

    de gosto exige que seja vlido para todos, do mesmo modo que todos os outros juzos

    empricos. Deste modo nos diz Gadamer, a fundamentao kantiana da esttica sobre o

    juzo de gosto faz justia s duas faces do fenmeno, a sua generalidade emprica e a sua

    pretenso a priorista de generalidade6. Entretanto, o preo pago por esta justificao da

    6O Primeiro Momento o da generalidade emprica que convm ao gosto, efeito de livre ;jogo das nossascapacidades de conhecer. No est limitado a um mbito especfico como esto os sentidos externos.

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    crtica no campo do gosto consiste em que retira-se deste qualquer significado cognitivo.

    O sentido comum fica reduzido a um princpio subjetivo, isto , limita-se o conceito de

    senso comum ao gosto. Nele no se conhece nada dos objetos que se julga como belos,

    seno que se afirma unicamente que lhes corresponde a priori um sentimento de prazer

    no sujeito. sabido que Kant funda este sentimento na idoneidade que tem a

    representao do objeto para a nossa capacidade de conhecimento. O livre jogo entre

    imaginao e intelecto, uma relao subjetiva, que idnea para o conhecimento, o que

    representa o fundamento do prazer que se experimenta ante o objeto. Esta relao de

    utilidade subjetiva de fato idealmente a mesma para todos, pois, sendo comunicvel emgeral; fundamentando assim a pretenso de validade geral pleiteada pelo juzo de gosto.

    Para Gadamer, este princpio aqui lei para si mesmo. Neste sentido, trata-se de um

    efeito a priorista do belo, o termo mdio entre uma mera coincidncia sensorial emprica

    nas coisas do gosto e uma generalidade regulativa racionalista. No gosto no se conhece

    nada do objeto, porm, tampouco tem lugar uma simples reao subjetiva como a que

    desencadeia o estmulo do sensorialmente prazeroso. O gosto um gosto reflexivo.

    Portanto, a inteno transcendental de Kant se deve que a analtica do gosto tome

    seus exemplos de prazer esttico de uma maneira inteiramente arbitrria tanto da beleza

    natural quanto da representao artstica, pelo fato que a Terceira Crtica no pretende ser

    uma filosofia da arte, por mais que a arte seja um dos objetos da faculdade de julgar. O

    conceito juzo esttico puro uma abstrao metodolgica que se cruza com a distino

    No Segundo Momento, o gosto contem um carter comunitrio que segundo Kant abstrai de todas ascondies subjetivas privadas representadas nas idias de estmulo e comoo. A generalidade destesentido se determina assim em ambas as direes de maneira privativa segundo aquilo de que seabstrai; e, no positivamente segundo aquilo que fundamenta o carter comunitrio e que funda acomunidade

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    entre natureza e arte. Deste modo esta a razo pela qual convm examinar atentamente

    a esttica kantiana, ou seja, para devolver a sua verdadeira medida as interpretaes da

    mesma no sentido de uma filosofia da arte que enlaa sobretudo com o conceito de gnio7.

    7GADAMER, 1977, p.78.

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    PRIMEIRA PARTE

    A Teoria da Beleza Livre e Dependente

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    Para Kant, h duas espcies de beleza, a saber: Beleza Livre e a Beleza Simplesmente

    Aderente. A Beleza Livre aquela que no pressupe nenhum conceito do que o objeto

    deva ser; enquanto que a segunda pressupe um dado conceito e a perfeio do objeto

    segundo o mesmo. Os modos da beleza livre chamam-se belezas (subsistentes por si)

    desta ou daquela coisa; a outra, como aderente a um conceito (beleza condicionada),

    atribuda a objetos que esto sob conceito de um fim particular. Segundo Gadamer, Kant

    discute aqui a diferena entre o juzo de gosto puro e o intelectualizado, que

    corresponderia oposio entre uma beleza livre e uma beleza aderente ( que diz

    respeito a um conceito). Esta uma teoria importantssima para a compreenso da arte,pois, nela aparecem a livre beleza da natureza e a ornamentao - no terreno da arte -

    como a verdadeira beleza do juzo de gosto puro, uma vez que so belos por si

    mesmos. Por exemplo, as flores so belezas naturais livres. Que espcie de coisa uma

    flor deva ser, dificilmente, o saber algum alm do botnico; e mesmo este, que no caso

    conhecer o rgo de fecundao da planta , se julga a respeito atravs do gosto, no toma

    em considerao este fim da natureza. Logo, nenhuma perfeio de qualquer espcie,

    nenhuma conformidade a fins interna, a qual se refira a composio do mltiplo, posta

    no fundamento desse juzo. Muitos pssaros ( o papagaio, o colibri, a ave-do-paraso),

    uma poro de crustceos do mar so belezas por si, que absolutamente no convm

    nenhum objeto determinado segundo conceitos com respeito a seu fim, mas aprazem

    livremente e por si. Assim, os desenhos a la grecque, a folhagem sobre moldura ou

    sobre papel de parede, etc., por si no significam nada, no representam nada, nenhum

    objeto sob um conceito determinado, e so belezas livres. No ajuizamento de uma Beleza

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    Livre (segundo a mera forma), o juzo de gosto puro; no pressupe nenhum conceito

    de qualquer fim, para o qual o mltiplo deva servir ao objeto dado e o qual deva

    representar; mediante o que unicamente seria limitada a liberdade da faculdade da

    imaginao, que na observao da figura, por assim dizer joga8.

    As espcies de Beleza Simplesmente Aderente, so atribudas, como dependente a um

    conceito (beleza condicionada), a objetos que ficam sob o conceito de um fim particular.

    Somente, a beleza de um ser humano (e, dentro desta espcie, a de um homem, ou

    mulher, ou criana) ou de um edifcio (como igreja, palcio, arsenal, ou casa de campo)

    pressupe um conceito de fim, que determina o que a coisa deva ser, por conseguinte umconceito de perfeio; e , portanto, beleza simplesmente aderente 9. Neste sentido, de

    acordo com Gadamer, os exemplos apresentados no texto kantiano - homem, edifcio - ou

    so objetos naturais, tal como aparecem no mundo dominado por objetivos humanos, ou

    ento objetos produzido j para fins humanos. Em todos esses casos, a determinao

    teleolgica significa uma restrio do prazer esttico10

    A diferena entre beleza natural e

    beleza artstica no tem aqui maior importncia, de acordo com Gadamer, quando dentre

    os exemplos de beleza livre so includas no somente as flores como tambm os

    desenhos la grecque, as folhagens para molduras ou papel de parede, as msicas (sem

    texto ou sem tema) o que implica acolher indiretamente tudo o que representa um objeto

    sob um dado conceito, e portanto tudo aquilo que deveria vincular-se entre belezas

    condicionadas e no livres - todo o reino da poesia, das artes plsticas, da arquitetura,

    8 KANT, 1993, 16, p.759 KANT, 1993, 17, p.7810 GADAMER,1977, p.78.

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    assim como todos os objetos naturais que no fixamos somente em sua beleza (flores de

    moldura). Em todos os casos citados o juzo de gosto est confuso e restrito11.

    O comprazimento na beleza tal que no pressupe nenhum conceito; mas est

    imediatamente ligado a representao pela qual o objeto dado, e no pela qual ele

    pensado. Para Kant, um juzo de gosto, quanto a um objeto s seria puro de fins internos

    determinados se aquele que julga, ou no tivesse nenhum conceito desse fim, ou em seu

    juzo fizesse abstrao dele. Mas, nesse caso, embora emitisse um juzo-de-gosto correto,

    ao julgar o objeto como beleza livre, seria no entanto censurado pelo outro, que considera

    a beleza no objeto apenas como ndole aderente (tem em vista o fim do objeto) e acusadode um falso gosto, embora ambos, a seu modo julguem corretamente: um segundo, os

    sentidos; o outro, segundo pensamento; isto , o primeiro emite um juzo-de-gosto puro,

    enquanto que o segundo um juzo de gosto aplicado. Portanto o prprio Kant que acaba

    por concluir que possvel julgar um mesmo objeto a partir de dois pontos de vista

    diferentes: o da beleza livre e o da beleza dependente. Em suma, diante de um objeto da

    natureza possvel formular tanto um juzo teleolgico quanto um juzo esttico. Do

    juzo esttico pode ser formulado ou um juzo esttico puro ou um juzo lgico esttico.

    Um juzo de gosto seria puro com respeito a um objeto de fim interno determinado

    somente se o julgante no tivesse nenhum conceito desse fim ou se abstrasse dele em seu

    juzo12. A finalidade objetiva se torna inconsciente; restando, pois, a pura forma da

    finalidade formal, coincide com a finalidade subjetiva, isto , o acordo com o livre jogo

    das faculdades representativas. No juzo lgico esttico, tem-se uma finalidade objetiva,

    11 GADAMER, 1977, p.79.12Kant, 1993, 16

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    e, para que seja um juzo esttico, preciso que seja possvel a sua conciliao com a

    finalidade subjetiva. Entretanto, o arbtrio ideal do gosto parece continuar sendo o que

    julga a partir do que tem ante seus sentidos, e no segundo o pensamento. Neste sentido,

    Gadamer nos diz que os exemplos de beleza livre no devem evidentemente representar a

    autentica beleza seno unicamente confirmar que o prazer como tal no um julgamento

    da perfeio do objeto. Portanto, conclui Gadamer, possvel superar o ponto de vista do

    juzo de gosto ao dizer que seguramente no a beleza o que est em questo quando se

    busca fazer sensvel e esquemtico um determinado conceito do entendimento atravs da

    imaginao, seno unicamente quando a imaginao concorda livremente com ointelecto, ou seja, quando pode ser produtiva. No obstante, esta ao produtiva da

    imaginao no alcance sua maior riqueza ali onde completamente livre, como ocorre

    nos entrelaamentos dos arabescos, seno ali onde vive em um espao que instaura para

    ela o impulso do entendimento feito unidade, no tanto na qualidade de barreira como

    para estimular o seu prprio jogo.

    Seguindo esta mesma linha de pensamento Pareyson nos diz que: o haver distinguido

    o juzo teleolgico do juzo esttico manifesta, em Kant, o intento de distinguir a beleza

    da perfeio; mas esse assunto Kant resolve perseguindo, no fundo, duas vias distintas,

    que no se deixam facilmente conciliar, e que se manifestam na distino entre beleza

    livre e beleza aderente, entre juzo esttico puro e juzo lgico esttico.13. A beleza livre

    funda-se na finalidade formal e na coincidncia da finalidade subjetiva com a finalidade

    formal, sendo que a finalidade formal no seno o desconhecimento da finalidade

    13PAREYSON, 1968, p.150

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    objetiva - a indeterminalidade do conceito no outra coisa do que inconscincia do

    fim. No h seno uma s finalidade na natureza, e aquela reconhecvel pelo juzo

    teleolgico, isto , a finalidade objetiva material, a qual, quando permanece desconhecido

    o conceito de fim, ou por ignorncia ou por abstrao, se apresenta como formal. Deste

    modo, finalidade formal e finalidade objetiva so, no fundo, uma s coisa, e se

    diferenciam somente no modo diverso de serem consideradas; desta forma, a distino

    entre finalidade formal e finalidade objetiva tende a se elidir14. Portanto, a beleza livre

    final formal subjetiva, a saber, a finalidade da forma representativa do objeto com

    referncia ao livre jogo das faculdades representativas. Neste ponto, observa Pareysonque neste conceito esto ( no fundo) contidas duas distintas definies da finalidade

    esttica: entendida ora como finalidade formal (o acordo do mltiplo na unidade, sem que

    esteja determinado o conceito que fundamento dessa unidade), ora como finalidade

    subjetiva (o acordo do objeto com o jogo harmnico de imaginao e entendimento). Na

    beleza livre, as duas finalidades esto de tal modo unidas que uma no existe sem a outra:

    o fato de que a finalidade do objeto seja somente formal e aconceitual evoca,

    necessariamente , a representao que esta forma para o livre jogo das faculdades

    cognoscitivas, e inversamente com o livre jogo das faculdades pode ser conciliada s a

    forma do objeto. Finalidade formal e finalidade subjetiva acabam por se identificarem; se

    existe acordo entre objeto e conhecimento porque o objeto pura forma , e se o objeto

    pura forma, por isso mesmo, conciliado com o conhecimento do sujeito. S a formalidade

    da finalidade funda a sua subjetividade, e no pode existir subjetividade da finalidade

    14PAREYSON,1968., p.151

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    SEGUNDA PARTE

    A analogia entre arte bela e natureza bela

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    De acordo com Luigi Pareyson, a arte tem por fim o sentimento de prazer, sendo, deste

    modo, uma finalidade prtica que produz objetos belos que agradam por si. Essa

    finalidade consiste na realizao de objetos predispostos a satisfazer a necessidade do

    livre jogo das faculdades cognoscitivas; e, uma vez que a predisposio para o livre jogo

    das faculdades cognoscitivas final subjetivo, temos aqui uma verdadeira incluso da

    finalidade subjetiva internamente a uma finalidade objetiva, isto , o acordo com o livre

    jogo o fim de um processo de realizao. Aquilo que evidente para a arte tambm

    pode ser aplicado na natureza. A finalidade subjetiva dos objetos naturais belos pode ser

    interpretada como objetiva no sentido de que a natureza si interpreta como aquela que ,de per si, finalisticamente ordenadas s nossas faculdades cognoscitivas17. Deste modo,

    as belas floraes no reino da natureza organizada falam muito em prol do realismo da

    conformidade a fins esttica da natureza, j que se poderia admitir que na causa produtora

    base da produo do belo tenha jazido uma idia dele, a saber um fim favorvel a nossa

    faculdade de imaginao. As floraes e at as figuras de plantas inteiras, a elegncia das

    formaes animais de todas as espcies, desnecessrias ao prprio uso mas por assim

    dizer escolhidas para o nosso gosto; principalmente, a multiplicidade das cores, to

    complacente e atraente aos nossos olhos, e a sua composio harmnica (no faiso, em

    crustceos, em insetos e at nas flores mais comuns), que, enquanto concernem

    simplesmente superfcie e tambm nesta nem sequer figura das criaturas - a qual

    contudo ainda poderia ser requerida para os fins internos das mesmas - parecem visar

    inteiramente contemplao externa: conferem um grande peso ao modo de explicao

    17PAREYSON, 1968, p.157

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    mediante a adoo de fins efetivos da natureza para faculdade de juzo esttica 18. Nesse

    sentido, podemos falar que a natureza apresenta uma analogia com a arte. Pois, diante de

    um produto da arte bela tem-se que tomar conscincia de que ele arte e no natureza.

    Todavia, a conformidade a fins na forma do mesmo tem que parecer to livre de toda

    coero de regras arbitrarias, como se ele fosse um produto da simples natureza. Sobre

    este sentimento de liberdade no jogo de nossas faculdades de conhecimento, que, pois,

    tem que ser ao mesmo tempo conforme afins, assenta aquele prazer que unicamente,

    universalmente comunicvel, sem contudo se fundar em conceitos. A natureza era bela se

    ela ao mesmo parecia ser arte; e a arte somente pode ser denominada bela se temosconscincia de que ele arte e de que apesar disso nos parece ser natureza 19 Portanto,

    quer se trate de beleza natural ou beleza artstica, belo aquilo que apraz no simples

    ajuizamento, no na sensao e nem tampouco mediante um conceito.

    Por outro lado, para algo ser considerado enquanto um fim natural necessrio,

    primeiramente, que as suas partes (segundo a sua existncia e a sua forma, somente sejam

    possveis mediante a sua relao com o todo. Com efeito, a prpria causa um fim, por

    conseguinte apreendida sob um conceito ou uma idia que tem que determinar a priori

    tudo o que nele deve estar contido. Mas na medida em que uma coisa somente pensada

    como possvel deste modo, meramente uma obra de arte, isto , o produto de uma causa

    racional distinta da matria (das partes) daquela mesma obra, cuja causalidade (na

    constituio e ligao das partes) determinada atravs da sua idia de um todo tornado

    assim possvel (por conseguinte no mediante a natureza fora de si)

    18kANT, 1993, 58, P.19219KANT, 1993, 45, p. 152

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    Contudo, se uma coisa como produto natural deva conter em si mesma e na sua

    necessidade interna uma relao a fins, isto , ser somente possvel como fim natural e

    sem a causalidade dos conceitos de seres racionais fora dela, ento para tanto deve exigir-

    se em segundo lugar, que as partes dessa mesma coisa se liguem a unidade ou um todo e

    que elas sejam reciprocamente causa e efeito de sua forma. Pois, s assim possvel que

    inversamente ( e reciprocamente) a idia do todo, por sua vez, determine a forma e a

    ligao das partes: no como causa - pois que assim seria um produto da arte -, mas sim

    como fundamento de conhecimento da unidade sistemtica da forma e ligao de todo o

    mltiplo que est contido na matria dada, para aquele que ajuza essa coisa20

    Portanto,em um produto da natureza, cada uma das suas partes s existe mediante as outras,

    pensada em funo das outras e por causa do todo, ou seja, como instrumento, rgo21.

    20KANT, 1993, 65, p.215-621Com respeito a esta questo, Lukcs observa que com relao conformidade a lei contingente,daquilo que finalstico (o organismo), Kant no pensa absolutamente em eliminar a necessidade causale a conformidade lei, e sim conserv-la no seio da objetividade (possvel, no seu sistema) da

    causalidade concebida maneira mecnica. A exigncia de uma conformidade a leis dos organismostem mais peso na medida em que Kant tem a exata sensao de que qualquer modo fenomnicoconcreto e especfico da vida, considerado do ponto de vista da pura e simples conformidade s leismecnicas, deve ter um insuprimvel carter contingente: que a natureza, considerada como um meromecanismo, teria podido configurar-se de mil outras maneiras A persistncia de tal exigncia ocorreporque a concepo kantiana metafsica e a-historica do mundo torna impossvel uma justa compreensodo finalismo na vida orgnica. Kant define o finalismo do seguinte modo: uma coisa existe como fim danatureza quando causa e existe como fim da natureza quando causa e efeito de si mesmo (emboraem duplo sentido) Da resultaria, por um lado, que ela se produz a si mesma tanto como gnero quantocomo indivduo; e, por outro , que deve existir entre as partes uma conexo tal que a conservao daparte e a conservao do todo dependam uma da outra; que as partes (relativamente a existncia e aforma delas) s sejam possveis atravs de sua relao com o todo. Segundo Lukcs, ao invs de Kantdescobrir aqui uma nova forma superior dos nexos conformes a leis, ao invs de desenvolverdialeticamente daquilo que mecnico a fora formativa ( por ele contraposta fora unicamente

    motriz da mecnica), ainda uma vez mais o pensamento kantiano se prende a uma contraposio rgida,to metafsica quando agnstica, como vemos aqui: Falando rigorosamente, a organizao da naturezano tem, pois, analogia alguma com qualquer causalidade que conhecemos. O juzo esttico umaparticular faculdade de julgar as coisas segundo uma regra mas no segundo conceitos. Assim , emKant, a esttica se torna no s subjetivista como tambm formalista: o afastamento do conceito importana dissoluo do contedo. (...) Em suma: a esttica se transforma dessa maneira em um parquereservado da natureza, cuidadosamente isolado da esfera modo de considerao teleolgico, no possuinenhuma faculdade particular, mas simplesmente o juzo reflexivo em geral. um conhecimento porconceitos, porm tal que no pode haver nenhum poder objetivamente determinante. Deste modo, aobjetividade cientfica para a biologia simultaneamente requerida e negada(LUKCS, 1968, p.19-22)

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    Mas apenas isto no basta, pois, ela tambm poderia ser instrumento da arte e desse

    modo ser representado em geral somente como fim. Entretanto, quando um rgo produz

    as outras partes, - consequentemente, cada uma produzindo reciprocamente as outras -,

    no pode ser instrumento da arte, mas somente da natureza, a qual fornece toda a matria

    aos instrumentos (mesmo aos da arte). Somente ento e por isso poderemos chamar a um

    tal produto, enquantoser organizado e organizando-se a si mesmo, um fim natural.22

    A beleza da natureza pode com razo ser designada como um analogon da arte, j que

    ela atribuda aos objetos somente em relao sobre a intuio externa dos mesmos,

    consequentemente somente devido as formas superficiais. E a organizao, como fiminterno da natureza excede infinitamente toda a faculdade de uma apresentao

    semelhante atravs da arte23

    Uma vez que a natureza bela quando possui a aparncia de arte e a arte bela quando

    tem aparncia de natureza, ento o produto da arte no deve se apresentar enquanto

    resultado de um fim, mas sim enquanto algo casual e contingente, embora a finalidade no

    produto da arte bela na verdade seja intencional, ela contudo no tem que parecer

    intencional; isto , a arte bela tem que passar por natureza, conquanto tenhamos

    conscincia dela como arte. Um produto da arte, porm, aparece como natureza pelo fato

    de que na verdade foi encontrada toda a exatido no acordo com regras segundo as quais,

    unicamente, o produto pode tornar-se aquilo que ela deva ser, mas sem esforo, sem que

    transparea a forma acadmica, isto , sem mostrar um vestgio de que a regra tenha

    22KANT, 1993, 65, p.21623KANT, 1993, 68, p.226

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    estado diante dos olhos do artista e tenha algemado as faculdades de seu nimo 24.

    Portanto, o que a arte bela tem em comum com a bela natureza precisamente a

    impossibilidade de julg-la com base no principio do realismo da finalidade, pois, ou o

    ignoramos ou dele nos abstramos. A arte deve parecer um produto da natureza, o que

    implica em dizer que a bela arte deve derivas as suas regras basicamente da natureza do

    sujeito. E a faculdade pela qual a natureza do sujeito d regra arte e o Gnio; isto ,

    Gnio o talento (dom natural) que d a regra arte. J que o prprio talento enquanto

    faculdade produtiva inata do artista pertence natureza, tambm se poderia expressar

    assim Gnio a inata disposio de nimo pela qual a natureza d a regra arte25

    .Portanto, quando Kant nos diz que a natureza s bela quando possui aparncia de arte,

    ento, ele concebe a arte enquanto pura e simples intencionalidade (finalidade prtica e

    tcnica); em suma, a arte apreendida por Kant no seu significado geral de operao que

    procede segundo fins. Entretanto, ele no pensa em arte mecnica, sim na arte bela,

    naquele tipo de arte que possui aparncia de natureza. Contudo, quando fala de arte com

    aparncia de natureza, no se esta falando da natureza que produz organismos, mas na

    natureza bela (contingncia da natureza bela). Arte e natureza se identificam na beleza,

    conservando a nica intencionalidade compatvel com a contingncia da natureza, se faz

    arte bela, e a natureza, conservando a nica contingncia compatvel com a

    intencionalidade da arte se faz natureza bela: a intencionalidade da arte humana se

    tempera com a contingncia natural, a contingncia da natureza como organismos se

    funde com a intencionalidade da arte humana; o esprito se faz natureza, e a natureza

    24KANT, 1993, 45, p.15225KANT, 1993, 46, p.153

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    esprito; o esprito toma o carter da natureza, e a natureza toma o carter do esprito.

    (...)Se a arte fosse somente intencional, no seria bela, mas seria somente arte mecnica;

    se a natureza fosse somente contingente, no seria bela, mas seria somente organismo.

    (...)A coincidncia de contingncia e intencionalidade a espontaneidade, que um

    proceder ao acaso que conjuntamente procurar; inventar que emerge de um tentar, e

    tentar em vista de um inventar. Nesse sentido, o organismo se torna a obra de arte da

    natureza enquanto arte, e a obra organismo produzido pela arte enquanto natureza 26.

    Deste modo, os produtos da bela natureza e os da bela arte so, concomitantemente,

    intencionais e contingente, e desta maneira, so contemplveis. Natureza e arte soambas produtoras espontneas de formas, organismos dotados de uma espontnea, isto ,

    contingente e ao mesmo tempo intencional, finalidade interna, e precisamente por isso,

    contemplveis27. A produo enquanto produo de formas figurao intencional e

    26PAREYSON, 1666, p.187-827Pareyson estrutura a sua teoria da formatividade a partir da noo de forma, tomada de forma original

    da teoria de Kant. Forma compreendida enquanto organismo, que goza de vida prpria e que possui asua prpria legalidade interna, isto , totalidade irrepetvel em sua singularidade, independente em suaautonomia, exemplar em seu valor, fechada e aberta ao mesmo tempo, finita e ao mesmo tempoencerando um infinito, perfeita na harmonia e unidade de sua lei de coerncia, inteira na adequaoreciproca entre as partes e o todo. Alm disto, esta noo apreendida por Pareyson em seu carterdinmico, ou seja, enquanto resultante de um processo de formao, pois, a forma no pode ser vistacomo tal se v no ato de concluir e ao mesmo tempo incluir o movimento de produo que lhe dnascimento e a encontro o prprio processo.A beleza da natureza a beleza de formas e, por conseguinte, evidente a um olhar que saiba ver aforma como forma, depois de a ter procurado, indagado, perscrutado, interpretado para, enfim,contempl-la e desfrut-la. A viso e a apreciao do belo natural pressupem portanto esforo deinterpretao, exerccio de fidelidade, disciplina de ateno, concentrao de olhar, educao do modode ver, para poder um dia chegar aquela viso profunda e capaz de realmente ver o que , por um lado,viso de formas e, por outro, produo de formas. Pois, forma interpretada e imagem formada devem

    coincidir na adequao da prpria contemplao. Deste modo, a contemplao do belo natural aomesmo tempo viso de formas e produo de formas. (PAREYSON, 1993, p. 204)Do mesmo modo, a obra de arte enquanto tal essencialmente objeto de considerao dinmica: elarevela a sua perfeio somente a quem sabe consider-la como a concluso de um processo, a quemsabe consider-la como a concluso de um processo, a quem sabe captar e delinear seu processocriativo, a quem sabe captar e delinear seu desenho criativo, a quem sabe resgat-la da sua aparenteimobilidade para colh-las no movimento de onde nasceu; e, de fato, na contemplao o olho no imvel, mas percorre lado a lado, circula atravs da lei de coerncia que mantm unida numa estruturaperfeita e numa totalidade indivisvel, colhe a obra no ato de chegar a ser como ela prpria queria ser, deadequar-se consigo, e de aprovar-se tal como resultou(PAREYSON, 1983, p. ).

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    contingente, e o produto de tal figurao por si mesmo contemplvel 28. Neste sentido,

    Pareyson nos pergunta acerca da natureza esttica kantiana: A esttica de Kant uma

    esttica da contemplao ou da produo?; A esttica kantiana uma filosofia do belo por

    natureza ou uma filosofia da arte?; Qual o lugar da arte nosistema crtico kantiano?

    Diferentemente de Gadamer29, Pareyson conclui que a esttica kantiana,

    indubitavelmente, procura ser uma filosofia da contemplao esttica, entretanto, ela

    acaba por se tornar uma esttica da produo. Na verdade, o tratamento da

    contemplao inevitavelmente conduz Kant a falar de expresso, a propsito do sublime,

    e de identidade, ou pelo menos da analogia entre natureza bela e arte bela. No fundo, abem se ver, o prprio Kant tem conscincia dessa profunda tendncia da sua esttica, da

    qual procedem as estticas romnticas da produo, quando afirmam a centralidade do

    conceito de arte. Na esttica kantiana, o conceito central o conceito de arte,

    contrariando a quanto possa parecer, com base na interpretao, segundo a qual a esttica

    kantiana no pode seno justificar o belo por natureza30

    . Esta concepo pode ser

    justificada a partir de trs pontos. Primeiramente, natureza e arte to esto estreitamente

    ligadas na Terceira Crtica que no possvel separar juzo esttico do juzo teleolgico e

    juzo teleolgico do juzo esttico, como atesta a concepo de beleza aderente. Em

    28PAREYSON, 1964, p.18829Para Gadamer, a crtica do gosto uma preparao para teleologia. A Faculdade de Julgar representa a

    ponte entre o entendimento e a razo. Entretanto, o conceito de gnio no totalmente desprezado por Kant.Basta olharmos para o modo como o filsofo descreve o gnio: Gnio talento ( dom natural) que d arte aregra. J que o talento, como faculdade produtiva inata do artista, pertence, ele mesmo, natureza, poderamostambm exprimir-nos assim. Gnio a disposio natural inata pela qual a natureza d arte a regra. Desdemodo, o mximo que Kant consegue nivelar esteticamente os produtos das belas artes com a beleza natural.Tanto o belo na natureza quanto nas artes possui um nico princpio a priori, e este se encontra inteiramente nasubjetividade. A reflexo transcendental de Kant sobre um a priori, da Terceira Crtica, justifica a pretenso do

    juzo esttico, porm no admite uma esttica filosfica.

    30PAREYSON, 1968, p.189.

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