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1 A VELA E O PÁSSARO

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A VELA E O PÁSSARO

Ravi Zacharias cita em seu maravilhoso livro Do Coração de Deus, o ensaio do escritor inglês F. W. Boreham, que tem o lindo título The Candle and the Bird (“A Vela e o Pássaro”). Boreham diz que a Presença de Deus se assemelha, antes, a um pássaro do que a uma vela. “Quando a vela se extingue, a luz desaparece. Mas quando o pássaro se afasta, é apenas para cantar em outro ramo”. Com essa metáfora em mente, Boreham lembra o movimento poderoso de Deus através da História. Ravi cita o impacto dos Puritanos em seu mundo: “Quando este estava minguando, Milton lamentava-se sobre uma Inglaterra que precisava desesperadamente de um novo avivamento. A luz estava extinta? Não, apenas oito anos após a morte prematura de Joseph Addison, o estadista cristão inglês muito estimado, alguns jovens estavam reunidos para orar em Herrnhut, na Alemanha, na manhã de 13 de agosto de 1727. Ao ser conduzido pelo Conde Zinzendorf, de apenas 27 anos, ocorreu algo de enorme importância. Todos os presentes só se lembravam de que não sabiam bem se ainda estavam na terra ou se haviam ido para o Céu. Era o nascimento do movimento morávio”. Assim, no momento em que na Inglaterra secava a influência divina, os morávios surgiam na Alemanha. Ravi explica que: “Missionários desse movimento foram até aos confins do mundo”. Chegou o momento em que movimento morávio começou a abrir caminho para um novo tempo de avivamento. A luz ter-se-ia apagado? Não! O pássaro passou a cantar em outro ramo. Mais tarde, no mesmo século, William Carey chegou à Índia, no mesmo dia em que a cruz era queimada na França. Ravi conta que: “Enquanto Voltaire e outros filósofos hostis haviam concretizado sua obra maléfica, e a Europa ameaçava massacrar o Evangelho, William Carey, com uma Bíblia em uma das mãos e os anais das missões morávias na outra, ia tocar o coração da Índia.” Nos momentos finais do movimento morávio, o coração de Wesley estava em chamas. John Wesley é impactado pela influência de Zinzendorf, e o rio de Deus passa a correr por toda a Inglaterra. Mas, de novo, quando se extinguiam os avivamentos sob a liderança de Wesley, anos mais tarde, estaria também a luz se apagando? Não, “o pássaro cantava em galho diferente. Inspirado pelo pensador puritano Chalmers, líderes como W. C. Burns, Alexander Duff, Robert Murray McCheyne e Andrew e Horatius Bonar surgiam para trabalhar por Deus na Escócia. E quando a Escócia viu seus heróis desaparecerem, a voz de C. H. Spurgeon ecoou desde Londres para milhares de pessoas na Inglaterra e fora dela”. D. L. Moody e Charles Finney são levantados na América. “Não, a luz nunca se apaga. Como um pássaro, ela cantou sua canção em diversos lugares,” declara Ravi Zacharias.

Martyn Lloyd-Jones declara que: “O Avivamento é uma ação definida de Deus. Começa súbita ou gradualmente, expande-se até um grande clímax, e depois termina, talvez súbita, talvez gradativamente. Às vezes podemos citar a data exata quando ele começou.” Uma coisa é certa, porém, tudo começa com a oração, e tudo continua com a oração.

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A Fome por mais de Deus

A fome do Conde Zinzendorf pela Presença, levou-o ao Deus revelado na Presença. George MacDonald diz que: “A fome pode levar a criança fugitiva de volta para casa, e talvez ela não seja alimentada de imediato, pois precisa mais da mãe do que do jantar”. “A comunhão com Deus”, diz MacDonald: “É a necessidade da alma que está acima de todas as demais necessidades: a oração é o começo dessa comunhão, e certa necessidade é o motivo dessa oração. Assim tem início a comunhão, uma conversa com Deus, um processo de união com Ele, que é o propósito único da oração”. Mesmo tendo nascido em Dresden, na Saxônia, no ano de 1700, em uma família rica, nobre, Zinzendorf ansiava mais das águas profundas da Presença.

Lutero disse que todos nós somos famintos, que fomos convidados para um jantar no palácio com o rei, para sentar-se com ele à sua mesa. Uma cadeira é minha e a outra é sua. Apesar de estarmos tão famintos, porém, não conseguimos sequer olhar para o banquete. Só temos olhos para o Rei. Ficamos fascinados com tamanha compaixão, por tornar-nos participantes de sua companhia. Ao avançarmos para dentro do recinto interno, cada vez mais particular do nosso querido Rei, vai brotando um sentimento de gratidão e deslumbramento. Nosso coração se quebra diante da magnitude da Sua bondade. Rendemo-nos à grandeza da Sua compaixão, que nos cativa e nos atrai. Assim, neste ponto da jornada, não são as necessidades que nos levam à Presença mais, porém a companhia dEle.

A Tática do inimigo

Tommy Tenney diz, em seu livro Os Caçadores de Deus, que: “A tática de satanás é nos manter tão cheios de lixos, que não tenhamos mais fome de Deus, e isto funcionou muito bem durante séculos. O inimigo fez com que nos acostumássemos a viver materialmente prósperos, mas espiritualmente miseráveis, ao ponto em que apenas uma migalha da Presença de Deus nos satisfizesse”. Tenney explica que alguns, porém: “Não estão mais contentes com migalhas. Querem a Presença dEle e nada mais os satisfará. Querem um pão inteiro! As imitações não os convencem nem os interessam mais; eles precisam ter algo real. A maioria de nós, porém, mantemos nossas vidas tão abarrotadas de lanches rápidos para a alma e de diversões para a carne, que não sabemos o que é estar realmente famintos.” “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre

a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor” (Am 8:11). “A oração é o encontro da sede de Deus e da sede do homem”, diz Agostinho. Mike Bickle diz: “Deus dá a salvação aos necessitados e as coisas profundas do Seu coração em resposta à fome de quem se recusa a viver sem eles”.

O Encontro com Jesus

A. Knight & W. Anglin contam em História do Cristianismo, dos apóstolos do Senhor Jesus ao século XX, que o Conde de Zinzendorf, numa de suas visitas às cidades da Europa, quando ainda era jovem: “(como muitos ricos costumavam fazer, a fim de completar a sua educação), ele chegou a Dusseldorf, e, entrando numa galeria de arte, ficou muito impressionado com uma pintura de

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Cristo crucificado feita no século anterior, com as seguintes palavras embaixo: “Tudo isto Eu fiz por ti! Que fazes tu por Mim?” Isto produziu uma crise na vida de Zinzendorf, e voltou para casa com um desejo ardente de servir ao Senhor”. Como lema da sua vida, Zinzendorf adotou a seguinte frase: “Tenho uma única paixão: Jesus, Ele e somente Ele”. Tendo essa paixão tão acentuada por Cristo, pregava uma profunda devoção pessoal a Ele baseada em sua própria experiência.

Zinzendorf foi grandemente influenciado pelos escritos de Madame Guyon. Em seu livro

Experimentando as Profundezas de Cristo, ela diz: “A maioria dos cristãos não percebe que é chamada para uma relação mais profunda, interior, com o seu Senhor. Mas todos nós fomos chamados às profundezas de Cristo, tão certo como fomos chamados para a salvação”. Zinzendorf decidiu ir às águas profundas da Presença, e a sua influência trouxe um avivamento extraordinário. Brian Edwards disse: “Os homens que Deus usou em avivamentos sempre tiveram um elevado conceito de Deus e foram hipersensíveis ao pecado, muito antes do avivamento começar”.

Mergulhando em águas profundas

Primeiro Zinzendorf começou a dedicar tempo a sós com Deus. Ele passava várias horas mergulhado na Presença, diariamente. Zinzendorf era um homem de oração. Segundo, ele começou um movimento de oração, que gerou um dos maiores avivamentos de que se tem notícia na História. À medida que você adentra o coração de Deus, abre-se espaço para Ele em seu coração. O caminho que se encontra em território inexplorado no coração divino, irá sendo aberto para você, conforme a profundidade em que a poderosa Presença dEle for agindo em seu coração. Esta profundidade definirá o grau de mudanças que ocorrerá em você. O quanto Deus tem de você determinará o quanto você terá dEle. Conforme a profundidade na Presença de Deus aumentar, acontecerão mudanças silenciosas, porém extraordinárias, em lugares do seu coração, que são inalcançáveis e intocáveis por você. Os acessos maiores obtidos nesta Presença, também aumentarão o alcance que o Espírito Santo poderá ter em seu íntimo, provocando mudanças incríveis em seu caráter, cosmovisão, vida emocional, matrizes de pensamentos, e, fundamentalmente no modo como você ama ao Senhor. Como um grande rio que corre do seu interior, depois, isso vem à tona influenciando todos à sua volta, com ondas de avivamento.

O Lugar secreto

Em Mt 6:6, Jesus nos orienta a entrar num lugar a sós com Ele onde vamos, primeiramente, nos livrar de todas as ocupações e tensões. Se queremos, de fato, ter um encontro de profundidade com a Presença gloriosa de Deus, teremos então que nos desconcentrar e despreocupar de tudo. Deixemos tudo do lado de fora, fechemos a porta atrás de nós e nos banhemos nas águas purificadoras dos rios da Presença. Em Mateus 11:29, Jesus disse: “Tomai sobre vós o meu jugo, e

aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas

almas”. O encontro com a Presença lhe encherá do Espírito. Ser cheio do Espírito Santo é ser invadido pelo Céu e pela eternidade. É entrar no núcleo da nuvem da Glória. É se transportar da atmosfera da terra para a atmosfera do Céu. É mergulhar em águas profundas. É ser inundado pela Presença dEle. Somente depois de se esvaziar completamente e se curar da embriaguez, é que começa o processo do enchimento do Espírito, que ocorrerá em resposta à sua fome por Ele. A fome

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desesperada é a moeda do Céu. A fome move o Céu. É o que leva a nos esvaziar de compromissos, por mais urgentes que possam ser e criarmos uma insatisfação santa que nos faz ficar prostrados e, assim, dependermos de Deus e sermos plenos do Seu poder. O Conde Zinzendorf tinha fome pela Presença.

O Movimento de oração

A intimidade pessoal com Deus jorra pelas vias públicas da vida. A nascente dos grandes rios normalmente está ligada às águas subterrâneas que emergem para a superfície. Grandes rios nascem em profundidades. Do mesmo modo ocorre com os avivamentos: as suas nascentes estão no interior subterrâneo de corações profundamente apegados à Presença de Deus. O rio de avivamento que passou a correr na História à partir da época de Zinzendorf, brotou nos bastidores do lugar secreto. Um simples levantamento na vida dos grandes avivalistas comprova esta realidade. A profundidade das águas dos avivamentos está intimamente associada à profundidade do relacionamento dos seus líderes com Deus.

Wesley Duewel, em seu livro Fogo do Avivamento, diz: “Na história da Igreja, cada vez que veio um avivamento, primeiro houve um período prolongado de oração e busca da face de Deus por alguns dos seus filhos”. Zinzendorf começou então uma reunião de oração em 1723. Bastou soprar que o fogo acendeu, dando surgimento a um dos movimentos mais extraordinários da história da Igreja. Ele usou sua herança em Berthelsdorf, para fundar uma comunidade denominada Herrnhut, que significa: “Abrigo do Senhor”, em 1722, dando refúgio aos cristãos perseguidos da Morávia.

O Poder mobilizador da oração

Zinzendorf deu início a um pequeno grupo para orar com os morávios, e depois de intensa busca, enfim, o braseiro pegou fogo. Hernandes Dias Lopes conta em seu livro Panorama da História Cristã , que este grupo de morávios foi visitado com grande poder no dia 23 de setembro de 1723, às 11h da manhã. Eles estavam reunidos como de costume, porém, a fome espiritual já estava aumentando havia várias semanas. Houve vigílias de oração, confissão de pecados, estudo bíblico sincero e reinava um sentimento de expectativa. Parece que tudo que fervilhava eclodiu naquele dia. Depois que a bênção da confirmação foi pronunciada sobre as duas meninas, a igreja foi tomada por um grande quebrantamento. Alguns choravam, outros cantavam, muitos oravam. Não havia dúvida na mente deles sobre o que estava acontecendo: eles estavam sendo visitados pelo Espírito de Deus.

A partir de então iniciou-se uma reunião de oração ininterrupta de 24 horas por dia, que durou 100 anos. Pense bem: são cem anos de oração! Andrew Murray declarou que: “A oração é o poder mediante o qual acontece aquilo que de outro modo não aconteceria”. Por isso, ela é a chave do Avivamento. Trata-se de algo que somente Deus pode fazer. C. H. Spurgeon afirmava que quando a Igreja se coloca de joelhos, torna-se invencível. Gosto muito do que Sören Kierkegaard fala sobre a oração: “Na oração, a verdadeira relação não acontece quando Deus ouve aquilo pelo que se ora, mas quando a pessoa que ora continua orando até ser ela quem ouça o que Deus quer”. “A terra que tiver mais necessidade do Evangelho, essa é a minha terra”, dizia Zinzendorf.

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Oração 24/7

O Avivamento que nasce do movimento de oração pode mudar civilizações inteiras. Cidades se rendem a Cristo em arrependimento quando o avivamento chega. Veja o que ocorreu com Nínive. Lucas relata em Atos 28 que Paulo é usado para trazer um avivamento à Ilha de Malta, onde todos do lugar são curados. Todos foram incendiados com o grande amor de Deus, por meio da pregação seguida da operação de sinais e maravilhas. Quando ocorre um movimento de oração aliado à busca pela Presença no lugar secreto, que fica no subsolo dos acontecimentos, ondas de salvação jorram pelas vias públicas da História.

Quando se viaja na Caravana para Israel do Mergulhados na Presença, você tem a oportunidade de conhecer uma réplica da Torre de Vigia em Obede-Edom. São comuns, no ambiente bíblico, estas torres, onde sentinelas passavam a noite. Hoje, Deus tem levantado o movimento de oração 24/7 (24 horas de oração contínua durante sete dias da semana). Neste movimento são erguidos locais onde se fazem intercessões pela cidade e pela nação. Temos notícia de que Carrie J. Montgomery separou um quarto para a oração num salão desocupado na casa de seus pais, por volta de 1880, depois que ela leu um artigo sobre o assunto numa revista cristã. Posteriormente, Charles F. Parham, mentor de William Seymour, separou um espaço para oração contínua na Mansão de Stone, em Topeka (Kansas). Um dos quartos da mansão foi transformado numa torre de oração. Uma antiga missão em Los Angeles foi chamada de Cenáculo, e também fez o mesmo. Mais tarde, Aimée Semple McPherson também construiu uma, no seu Angelus Temple. Jesus também Se separou para vigiar com os apóstolos diversas vezes. Quando Ele estava no Monte da Transfiguração com outros três discípulos, uma nuvem de glória os envolveu, ouviu-se a voz do Pai, e a seguir, houve uma grande vitória sobre o inimigo (Mt 17). A torre de oração fará o mesmo em sua cidade. Seja parte deste movimento.

Oração extraordinária e a casa de oração

Simbolicamente, a ideia de ter uma torre de oração vem de dois relatos bíblicos sobre pessoas que oravam em lugares que eram mais altos do que o chão. Quando Elias hospedou-se com a viúva e seu filho (1 Rs 17), ele ficou num quarto no andar de cima da casa. Ali Elias orou para que Deus trouxesse de volta à vida o filho morto. Um segundo lugar está em Atos 2, no Cenáculo onde 120 pessoas oravam e esperavam o Dia de Pentecostes. Em Efésios 6 é revelado que a oração é a arma secreta de conquista aérea, nas regiões celestiais, e a Palavra é a estratégia secreta de nível solo. “Sobre a minha guarda estarei, e sobre a torre de vigia me apresentarei e vigiarei, para ver o que

falará a mim, e o que eu responderei quando eu for arguido”. Jonathas Edwards explica o significado de Zacarias 8.20-22 e exorta à prática da oração contínua por novos derramamentos do Espírito. Mas a oração que encoraja é de um tipo muito específico, ou seja, é a oração em unidade que demonstrará e revelará a união visível entre as igrejas. Não é somente a oração que é necessária, mas a: “oração extraordinária”. Deus levantou Mike Bickle, à semelhança do Conde Zinzendorf, para iniciar um movimento extraordinário de oração 24/7. E, em maio de 1999, nasceu a Casa Internacional de Oração de Kansas City (IHOPKC). Uma poderosa mobilização mundial, voltada para a oração contínua, que desde então tem estabelecido casas de oração em todo mundo.

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A força do avivamento

John Wesley citou o Conde Zinzendorf em um dos seus sermões, dizendo que: “Ele dava ênfase à vida cristã pura e simples e à fraternidade dos homens”. William Carey, muitas vezes considerado o pai das missões protestantes modernas, estava, na verdade, seguindo os passos dos missionários morávios. “Vejam o que os morávios fizeram”, comentou ele em determinada ocasião. “Será que não poderíamos seguir seu exemplo e, em obediência ao nosso Mestre Celestial, ir ao mundo e pregar o evangelho aos incrédulos?” Em 25 anos, eles enviaram mais missionários ao mundo do que toda a Igreja havia feito até então. Cada grupo de 25 morávios sustentava um missionário fora da Alemanha. Eles enviaram, ao longo dos anos, mais de 200 missionários para todos os continentes. Desencadeou grandes avivamentos na Europa. Surgir outros grupos na Holanda, Dinamarca, Inglaterra, América do Norte e em outras partes da Alemanha, segundo Howard F. Vos, em sua Breve Historia de La Iglesia Cristiana (Breve História da Igreja Cristã).

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O PODER DA ORAÇÃO

O Dr. Adam Clarke escreveu em sua autobiografia, que, quando voltava com John Wesley de navio para a Inglaterra, foi bastante atrasado por ventos contrários. Wesley estava lendo quando percebeu a confusão a bordo. Quando perguntou o que estava acontecendo, foi informado do problema com os ventos contrários. “Então”, disse imediatamente: “Vamos orar”.

Após o Dr. Clarke terminar a sua oração, percebeu que Wesley estava em meio a uma súplica fervorosa que mais se parecia com uma oferta de fé do que um simples pedido a Deus. Ele orava: “Deus Eterno e Todo-Poderoso, que controla todas as coisas e todas as coisas servem à Sua vontade. Senhor Deus, que detém o vento com a mão e barra a invasão das enchentes, e que reina como Rei para sempre. Controle estes ventos e estas ondas, para que Lhe obedeçam e nos levem em segurança para o porto ao qual pretendemos ir”. O poder daquele pedido pôde ser sentido por todos. Wesley, que estava de joelhos, se levantou, não disse qualquer outra palavra, pegou novamente o seu livro e continuou a lê-lo. O Dr. Clarke subiu até o convés e, para a sua surpresa, o navio estava de velas içadas, rumando no curso certo, permanecendo assim até a chegada em segurança ao porto. Quando o vento mudou a favor da embarcação, Wesley não fez qualquer comentário. Ele tinha tanta esperança de ser atendido que já havia tomado por certo que assim o seria.

A Inglaterra do século XVIII estava como este barco: envolta no mar tempestuoso do ceticismo e do racionalismo extremo do Iluminismo. Deus estava sendo colocado para fora da Grã-Bretanha. O ambiente nas igrejas estava inundado por incertezas teológicas. A sociedade estava afundando cada vez mais nos vícios, na criminalidade e no alcoolismo. A História apresentava um fim fatalista, lúgubre. A Inglaterra estava prestes a submergir nas águas movimentadas da História. O humanismo deixou a nação à deriva. Ela estava para sofrer uma revolução, semelhante à que ocorrera na França. Foi quando surgiram John Wesley, seu irmão Carlos Wesley e o grande pregador, George Whitefield. Foi em resposta às orações e a pregação destes homens, que o Avivamento visitou a nação, pondo fim à tempestade, e anunciando um novo tempo na História daquela nação. A Bíblia foi novamente reestabelecida como o mapa de navegação e a direção do Santo Espírito de Deus como a bússola que renorteou o seu trajeto na História.

O Mergulhador das águas profundas

John Wesley relata em seu diário que o interesse principal da sua vida não seria o seu intelecto, mas o coração: “Comecei a reconhecer que a religião verdadeira tem a sua fonte no coração... reservei duas horas, todos os dias, para ficar sozinho com Deus. Participava da Ceia do Senhor de oito em oito dias. Guardei-me de todo o pecado, quer de palavras, quer de atos. Assim, na base das boas obras que praticava, eu me considerava um bom crente”.

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Lloyd-Jones diz que: “Para Wesley, a fé cristã era uma vida de relacionamento com Deus por intermédio de Jesus Cristo. Wesley começava o dia em oração, normalmente às 4h30 ou 5h da manhã. Ele declarou que: “Deus não fez nada senão em resposta à oração”. No auge do Avivamento inglês do século XVIII, que afetou também os EUA, Whitefield, companheiro de John Wesley, chegou a pregar trinta vezes por semana. As suas orações, unidas às orações dos seus amigos, John e Charles Wesley, de Jonathan Edwards e de David Brainerd trouxeram a chuva do Espírito Santo sobre a semente da Palavra de Deus, pregada por ele para que germinasse. As lágrimas dos servos de Deus, derramadas em oração, são gotas de chuva do Avivamento. “Então te dará chuva sobre a tua semente, com que semeares a terra” (Is 30.23).

Investindo mais tempo em oração

Martyn Lloyd-Jones, assim como John Wesley, era um homem de oração. Ele encarava o lugar secreto como a oficina do Espírito Santo. Para ele: “Em todos os pontos de vista, o ministro, o pregador, deve ser um homem de oração. Wesley costumava dizer que tinha em bem pouco conceito o homem que não orasse quatro horas por dia. Por igual modo, nada se destacava tão claramente nas vidas de homens como outros jovens pregadores chamados David Brainerd e Jonathan Edwards, Robert Murray McCheyne e um exército de outros servos de Deus”. Conforme Wesley avançava sobre a Inglaterra pregando o Evangelho, o Avivamento se alastrava por toda a nação, e a igreja crescia de forma extraordinária.

O Poder da oração para a pregação

John Wesley não era considerado eloquente, do ponto de vista da oratória, como o era George Whitefield. Mas Wesley era um homem de oração. Ele era uma pessoa de fala mansa. E, por causa da sua vida de oração, seus sermões eram incendiados com o fogo de Deus, assim como o seu coração. Ele sempre afirmava: “Ponha fogo no seu sermão, ou ponha o seu sermão no fogo.”

James Hervey fala da mudança que foi visível em Wesley quando passou por um batismo de fogo ao ser cheio do Espírito Santo. Ele diz: “Antigamente, a pregação de Wesley era como o disparo de uma flecha: toda a sua velocidade e força dependiam da força do braço que retesava o arco. Agora, passou a ser como o disparo de um rifle: sua força estava no poder, precisando somente de um leve toque do dedo para ser liberada”.

A pregação alimentou o Avivamento, mas a sua origem se deu nas reuniões de oração. Tudo começou quando John e Carlos Wesley se uniram a George Whitefield e formaram o Clube Santo na Universidade de Oxford, em meados do século XVIII, inspirado nas reuniões de oração do Conde Ludwig Van Zinzendorf na Alemanha. A reunião de John e Charles Wesley com George Whitefield, em Oxford, se transformou num braseiro. Juntos passaram a buscar a Deus em oração, as chamas se acenderam e o fogo do Avivamento tocou toda a Inglaterra, trazendo uma colheita sem precedência. A Grã-Bretanha se tornou uma nação em chamas.

Se a oração acende o fogo do Avivamento, a reunião de oração é o braseiro. Em toda a História, a reunião de oração tem sido o útero onde os avivamentos são gestados. Martyn Lloyd-

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Jones disse: “A oração, sem sombra de dúvida, é a atividade mais sublime da alma humana. O ser humano alcança seu melhor e o patamar mais alto quando, de joelhos, fica face a face com Deus.”

Carlos Wesley tornou-se um excelente pregador e um músico extraordinário. Ele chegou a compor cerca de 9 mil hinos e chegou a participar de 46 mil cultos em sua vida. Ele era um jovem em chamas. As suas canções foram cantadas por toda a Inglaterra durante o Avivamento. John Wesley e Whitefield tornaram-se dois dos maiores jovens pregadores da História. Wesley dizia: “Temos um negócio na terra: salvar almas”.

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CORAÇÕES EM CHAMAS

E NAÇÕES INCENDIADAS

Um colega de ministério perguntou a John Wesley como ele fazia para atrair tantas pessoas para ouvi-lo pregar. Ele replicou: “Se o ministro queimar, outros aparecerão para ver o fogo”. Este homem tinha uma pregação poderosa, por isso, milhões de pessoas foram alcançadas através dela. A santidade foi o epicentro do grande furacão que varreu diversos países com o avivamento inglês. Wesley era um homem em chamas para Deus. Sua pregação era a sua vida, e a sua vida pregava a sua mensagem em santidade. Martyn Lloyd-Jones dizia que: “A pregação é lógica em fogo e precisa vir de um homem que está em fogo”. Ele explica que: “A pregação é a demonstração do Espírito e de poder. E o ministro precisa entender, depois de ter preparado seus sermões, que por mais perfeitos que sejam, tudo é inútil e sem sentido a não ser que o poder do Espírito Santo venha sobre ele e sobre as suas palavras”.

Demonstração de poder durante o avivamento do século XVIII

O livro de 2 Crônicas 7.1-2 fala do que aconteceu quando Salomão orou ao Senhor: “E

acabando Salomão de orar, desceu o fogo do céu... e a glória do Senhor encheu a casa. E os

sacerdotes não podiam entrar na casa do Senhor, porque a glória do Senhor tinha enchido a casa

do Senhor”. John Wesley relatou em seu Diário os acontecimentos que fizeram parte do Grande Avivamento Inglês que ocorreu nos seus dias, no século XVIII. No Diário existem anotações de vários casos que retratam a demonstração do poder de Deus que se deu durante as suas pregações e durante o Avivamento. Wesley registrou o que aconteceu em 25 de abril de 1739. Ele relata o que ocorreu enquanto pregava. As pessoas foram poderosamente tocadas por Deus: “Imediatamente uma, depois outra e outra caíram ao chão; elas caíam em toda parte, como que atingidas por um raio”.

Em outra parte do seu Diário , John Wesley registrou: “Uma, depois outra e mais outra foram lançadas ao chão, tremendo excessivamente na Presença do Seu poder. Outras gritaram, em voz alta e amargurada: O que devemos fazer para sermos salvos? ”. “A publicação dos seus Diários”, de acordo com Evans, E.: “particularmente dos de Whitefield e John Wesley, junto com a publicação dos seus sermões, tivera efeitos idênticos, como também os hinos impressos de Charles Wesley e William Williams”.

O Impacto da pregação

Neemias descreve como foi a reação do povo diante da exposição da Escritura Sagrada. “E

Esdras, o sacerdote, trouxe a lei perante a congregação, tanto de homens como de mulheres, e

todos os que podiam ouvir com entendimento, no primeiro dia do sétimo mês. E leu no livro diante

da praça, que está diante da porta das águas, desde a alva até o meio dia, perante homens e

mulheres, e os que podiam entender; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da lei. E

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Esdras, o escriba, estava sobre um púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim. E leram no

livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse. Então,

não vos lamenteis, nem choreis. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da lei” (Ne 8.2-4, 8-9). Esdras relata o efeito da pregação no coração do povo: “Então se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel por causa da transgressão dos do cativeiro; porém eu permaneci sentado atônito até o sacrifício da tarde. E perto do sacrifício da tarde me levantei da minha aflição, havendo já rasgado as minhas vestes e o meu manto, e me pus de joelhos, e estendi as minhas mãos para o Senhor meu Deus; e disse: Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a minha face, meu Deus; porque as nossas iniquidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem crescido até os céus”. “E enquanto Esdras orava, e fazia confissão, chorando e prostrando-se diante da casa de Deus, ajuntou-se a ele, de Israel, uma grande congregação, de homens, mulheres e crianças; pois o povo chorava com grande choro” (Ed 9.4-6; 10.1). O povo reagiu com grande quebrantamento diante da maravilhosa pregação da Palavra de Deus. Inúmeras manifestações como esta ocorriam enquanto Wesley pregava. O diferencial na sua pregação não era a eloquência, mas a unção. A pregação da Palavra era “acompanhada de poder e unções incomuns, e sua voz ‘não podia ser ouvida por causa do alarido daqueles que clamavam por misericórdia, ou louvavam o Deus de sua salvação’. ”

Por que então estranharmos se, em resposta à pregação, pessoas caírem prostradas em arrependimento, gritando e clamando: Misericórdia! Por causa dos seus pecados, tal como o fizeram quando Esdras e Neemias pregaram a Palavra de Deus? Não deveríamos estranhar o contrário?

O Poder de Deus manifesto

Arnold Dallimore conta que Whitefield, o grande pregador das multidões, contemporâneo de Wesley, o aconselhou a “não entrar em discussões” sobre estas manifestações. Dallimore relata que: “Sob o ministério de Wesley, em Bristol, homens e mulheres começaram a experimentar ataques semelhantes à convulsões e a deitarem-se no chão retorcendo-se e gemendo. Charles Wesley deu à experiência o nome de “espasmos”. Muitas das vezes, quatro homens não conseguiam segurar uma pessoa que estava tendo um ataque”. Depois de avaliar bem, Wesley se convenceu de que Deus o tinha separado e estava concedendo esses sinais sobrenaturais da Sua presença somente por meio dele.

Numa certa ocasião, enquanto Pedro pregava na casa de Cornélio, houve uma manifestação extraordinária do poder de Deus. O texto de Atos 10.44 declara: “Enquanto Pedro ainda estava

falando estas palavras, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a mensagem...” (NVI).

E. Evans relata que: “Um ministro da Holanda relatou cenas espantosas do reavivamento, experimentadas em Newkirk, perto de Amersfoort, no fim de 1749, sendo aparentemente o apogeu de uma obra gradual e progressiva do Espírito. O Espírito do Senhor começou a operar de uma forma espantosa durante um sermão sobre o Salmo 72.16, pregado em 9 de novembro de 1749. Tudo o que acontecera antes deu a impressão de ter sido uma preparação para coisas maiores e mais gloriosas... O estado geral era de emoções agitadas. Houve um grande lamento: rios de lágrimas

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jorraram, e alguns caíram ao chão tremendo e espantados, incapacitados de ficarem em pé, em virtude da agonia e agitação de seus espíritos, que surgiram da forte impressão que lhes sobreveio devido ao terrível estado e da gritante necessidade de suas almas.”

Numa determinada ocasião em que Wesley estava pregando, o poder de Deus veio sobre as pessoas, e mais de 1.800 pessoas caíram por terra, praticamente inconscientes. “Por haverem tido uma revelação da santidade de Deus; à luz desta santidade viam os próprios pecados, e, não podendo suportar, caíam por terra”.

O Dr. John Stott, considerado um dos maiores exegetas bíblicos do século XX, disse que: “Antes de mandar a Igreja para o mundo, Cristo mandou o Espírito para a Igreja. A mesma ordem precisa ser observada hoje”. A pregação requer uma resposta. Ela é espírito e vida. A pregação cristã requer uma decisão. Quando os Céus bradam, deve haver uma resposta na terra. Lutero dizia: “Diante da Palavra, todos precisam ceder”. Pregadores são comunicadores celestiais. São mensageiros divinos. São cooperadores de Deus. Paulo deixa isso claro em 1 Coríntios 3.9: “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus”.

A Ação vivificadora e santificadora do Espírito Santo

“Wesley faz uma observação em seu Jornal do dia 7 de julho de 1739: ‘Eu tive a oportunidade de falar com ele a respeito dos sinais externos que tão frequentemente acompanharam o trabalho interno de Deus. Descobri que as objeções dele se baseavam principalmente em interpretações errôneas e exageradas dos fatos. Mas, no dia seguinte, ele teve a oportunidade de informar-se melhor, pois logo depois de começar (na aplicação de seu sermão) a convidar todos os pecadores a crerem em Cristo, quatro pessoas caíram perto dele, quase que no mesmo instante. Um deles permaneceu imóvel e inconsciente; um segundo tremia excessivamente; o terceiro teve fortes convulsões em todo o corpo, mas não fez barulho, a não ser com gemidos; o quarto, igualmente em convulsão, clamava a Deus com fortes choros e lágrimas. Daqui em diante, espero que todos nós permitamos que Deus continue a Sua própria obra da maneira que Lhe aprouver. ’ Portanto, tais evidências da obra do Espírito que resultou em conversão e santificação, demonstram a intensidade do reavivamento e o poder irresistível do Espírito em trazer a verdade à mente com tanta realidade e força. A grande maioria dos acontecimentos dessa natureza só poderia ser atribuída à autoria divina”.

Martyn Lloyd-Jones dizia, ao se referir a um Avivamento: “E assim temos esta curiosa, estranha mistura, de grande convicção de pecado e grande alegria, um grande senso de temor do Senhor, ações de graças e louvor. Sempre, num Avivamento, há o que alguém definiu como uma divina desordem (...). Há ocasiões em que as pessoas estão tão convictas e sentem o poder do Espírito de tal forma que desmaiam e caem no chão, e têm até convulsões, convulsões físicas. E às vezes as pessoas parecem cair num estado de inconsciência, numa espécie de transe, e podem permanecer assim por horas”.

Lloyd-Jones conclui que estas manifestações do Espírito Santo, em tempos de Avivamento, é um tipo de estratégia divina para atrair os homens ao Senhor. M. Lloyd-Jones entende que: “Não há

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nada que atraia tanta atenção como esse tipo de coisa, e é usada por Deus na extensão do Seu reino para atrair a atenção das pessoas. Tenho certeza de que este elemento está envolvido”.

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JOHN WESLEY, AS CÉLULAS

E O AVIVAMENTO INGLÊS

O resultado do verdadeiro Avivamento sempre tem um impacto na sociedade. O fogo de Deus caiu sobre a Inglaterra, porque Wesley fez como Elias, ou seja: reparou o altar que estava em ruínas através da pregação da santidade. Então Elias disse a todo o povo: “Chegai-vos a mim. E todo

o povo se chegou a ele; e restaurou o altar do Senhor, que estava quebrado. E Elias tomou doze

pedras, conforme ao número das tribos dos filhos de Jacó, ao qual veio a palavra do Senhor,

dizendo: Israel será o teu nome. E com aquelas pedras edificou o altar em nome do Senhor; depois

fez um rego em redor do altar, segundo a largura de duas medidas de semente. Então armou a

lenha, e dividiu o bezerro em pedaços, e o pôs sobre a lenha. E disse: Enchei de água quatro

cântaros, e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha. E disse: Fazei-o segunda vez; e o

fizeram segunda vez. Disse ainda: Fazei-o terceira vez; e o fizeram terceira vez; de maneira que a

água corria ao redor do altar; e até o rego ele encheu de água. Sucedeu que, no momento de ser

oferecido o sacrifício da tarde, o profeta Elias se aproximou, e disse: O Senhor Deus de Abraão, de

Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que

conforme à tua palavra fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este

povo conheça que tu és o Senhor Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração. Então caiu fogo do

Senhor, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava

no rego. O que vendo todo o povo, caíram sobre os seus rostos, e disseram: Só o Senhor é Deus! Só

o Senhor é Deus! ” (1 Rs 18.30-39). Este texto é um retrato extraordinário do que ocorre em tempos de Avivamento.

O Poder de um grande Avivamento

Historiadores como William Lecky disseram que o Avivamento liderado por John Wesley no século dezoito ajudou a Inglaterra a evitar uma revolução sangrenta como aquela que assolou a França. Em 1814, os metodistas, como chamavam as pessoas que estavam sob a influência de John Wesley, estenderam-se à Guiana Inglesa, na América do Sul. Nesse mesmo ano, o da morte do Dr. Thomas Coke, contava com 31 missionários e 17.000 membros. E em 1911, contava com 109 missionários e 53.000 membros. A missão na Polinésia começou em 1815, estendeu-se à Tasmânia e, dois anos mais tarde, às ilhas de Toga, chegando à Nova Zelândia no ano seguinte. Depois de doze anos, estendeu-se às ilhas Fiji; três anos depois, iniciou-se no Sul da Austrália e expandiu-se até o Oeste desse país em apenas doze meses. As grandes vitórias que alcançou desde então, naquelas longínquas regiões do hemisfério Sul, são contadas como as mais brilhantes do movimento

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missionário dos idos da primeira década desse século. Os pregadores wesleyanos conquistaram para o cristianismo grupos inteiros de ilhas habitadas anteriormente por ferozes tribos canibais.

John Wesley e as sociedades wesleyanas

Como Wesley experimentou uma retenção tão grande de frutos no Avivamento Inglês, diferente de outros avivamentos? Earle E. Cairns declara em seu livro O Cristianismo através dos séculos que John Wesley organizou a igreja nascente em grupos pequenos. Wesley era metódico em tudo que fazia. O Avivamento mostrou a necessidade de organizar sistematicamente, e rapidamente, a igreja para que pudesse cuidar melhor dela.

Em 1741, Wesley foi para Gales do Sul, para o norte da Inglaterra em 1742, Irlanda em 1747, e Escócia em 1751. No total, ele foi à Irlanda quarenta e duas vezes e à Escócia vinte e duas vezes, além de viajar pelo território Inglês de leste a oeste, norte ao sul. Wesley retornou à algumas cidades várias vezes. Houve ocasiões em que ele retornava anos depois de sua última visita e registrava que a pequena sociedade que ele ajudara ainda estava intacta e fiel. Estas sociedades eram pequenos grupos, denominado nos dias atuais de células. Ele examinava cada membro de cada sociedade pessoalmente para buscar crescimento espiritual e de fé. As sociedades então formadas proviam a organização local para seu movimento.

O crescimento das células

Wesley se inspirou no movimento moravianos. Joel Cominskey declara que “quando John Wesley morreu em 1791, ele deixou uma igreja com 10.000 sociedades - células. As células foram tão importantes para a Igreja Metodista, que uma pessoa não podia participar do culto de celebração se não mostrasse um bilhete comprovando que esteve na célula durante a semana. Deus transformou pessoas por meio da estrutura de células, bandas e celebração de Wesley.”

De acordo com Tom Albin, que fez sua tese de doutorado na Universidade de Cambridge pesquisando o conceito dos pequenos grupos de John Wesley, o segredo do movimento Metodista foi a estrutura de trabalho com grupos pequenos. No século XVIII os Wesley eram notavelmente eficazes no seu método chamado “Classes de Trabalho”, que se tornaram quase uma cultura. Em cinco anos já havia inúmeros grupos que emergiam por todas as partes”.

Anderson Rogério de Souza comenta que afirma que “o método consistia em um grupo de 4 ou 6 pessoas que se reuniam semanalmente com um líder. Eles oravam, louvavam e sempre havia um momento de culto espiritual. Se tudo corresse bem no decorrer de dois ou três meses, eles recomendavam a inclusão no rol de membros de uma igreja. Dois anos era a média em que uma pessoa do grupo levava para ter uma profunda experiência com Deus”. “No método original de Wesley, se a pessoa faltasse mais de três vezes em um trimestre ela estava fora do grupo. Eles criaram um sistema em que os seguidores podiam receber facilmente instruções e assistência”.

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Uma visão estratégica

George Whitefield e John Wesley foram contemporâneos no século XVII na Inglaterra. Ambos dedicaram suas vidas ao trabalho do Senhor em um pequeno grupo na Universidade de Oxford. Ambos eram excelentes em pregações ao ar livre. Eles testemunharam milhares de conversões como fruto de seu ministério. John Wesley deixou para trás uma igreja com 100.000 membros enquanto que George Whitefield deixou seu rastro na história apenas como avivalista.

Seguindo o exemplo de John Wesley, Luis Salas tem um grande mapa, bem manuseado, pendurado na entrada de seu apartamento em Bogotá. Este “mapa de guerra” está repleto de nomes de membros de célula em potencial. “Eu estou sempre sonhando e orando sobre novas pessoas para convidar para a célula,” ele disse. “Todos os dias eu me lembro deles e, às vezes, faço um contato pessoal com eles.” Em apenas 18 meses, Luis multiplicou sua célula original 250 vezes porque ele está sempre procurando por membros em potencial. Mais importante do que isso, ele dá continuidade ao trabalho depois de sua visita. Alguns deles tornam-se membros e até líderes.

O fruto do Avivamento

Mateo Lelièvre diz em seu livro João Wesley, Sua Vida e Obra, que sete anos depois que Wesley partiu para o Senhor, o metodismo alcançou a cifra de 144.000 pessoas; em 1817, a de 224.000; em 1827, chegou a 381.000; dez anos depois, esse número subiu para 658.000. Nos dez anos que se seguiram, dada a separação provocada pelo movimento em prol da emancipação dos escravos, o número foi reduzido a 636.000; mas em 1857, subiu para 820.000; dez anos depois alcançou a marca de 1.146.000 membros; e em 1898, o número subiu para 2.675.035. No ano de 1866, celebrou-se o centenário do metodismo norte-americano, ocasião em que se estabeleceu um fundo especial para fomentar os diversos empreendimentos da Igreja, alcançando a soma equivalente a 43.500.000 pesetas. A Igreja Metodista Episcopal do Sul, que surgiu do cisma que houve na Igreja, contava com 5.837 ministros e 1.442.665 membros em 1898. “Calcula-se que as diversas igrejas metodistas que professam as doutrinas pregadas por Wesley e conservam as características de sua disciplina eclesiástica contam com 43.428 ministros e mais de 7 milhões de membros. Não é exagero afirmar que mais de 25.000.000 dos habitantes do globo terrestre achavam-se, em 1898, debaixo da influência religiosa dos discípulos de Wesley”.

Por que precisamos de um avivamento?

Muitos avivamentos, como aqueles ocorridos no País de Gales em 1905, no Zaire em 1976 e em Pensacola, Flórida (EUA), em 1995, causaram uma diminuição perceptível nos índices de criminalidade das suas comunidades. Outros avivamentos, tais como o Exército da Salvação, liderado por William Booth no século 19, contribuíram com avanços sociais decisivos, tais como: a abolição do trabalho infantil e a prostituição infantil na Inglaterra, e inspiraram outros pioneiros como o Dr. Thomas Barnado, que trabalhou com as crianças de rua de Londres, resolvendo o problema durante a sua vida.

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Orlando Boyer disse que: “Esse homem de físico franzino, ao completar 88 anos, escreveu: ‘Durante mais de 86 anos não experimentei qualquer debilidade de velhice; os olhos nunca escureceram, nem perdi o meu vigor’.” Lelièvre (1997) conta em sua obra sobre a vida de John Wesley, que certo dia, quando sua carruagem o fez esperar alguns minutos, alguém o ouviu dizer com impaciência: “Perdi dez minutos para sempre! ”. Um amigo disse-lhe, certa vez: “Você não tem necessidade de estar com tanta pressa”. “Com pressa? ”, respondeu ele. “Não tenho tempo para estar com pressa! ”. Com a idade de setenta anos pregou para um auditório de 30 mil pessoas, ao ar livre, e foi ouvido por todos. Aos 86 anos fez uma viagem à Irlanda, na qual, além de pregar seis vezes ao ar livre, pregou cem vezes em sessenta cidades. Certo ouvinte assim se referiu a Wesley: “Seu espírito era tão vivo como aos 53 anos, quando o encontrei pela primeira vez”.

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AÇÃO LIBERTADORA

DO AVIVAMENTO

O avivamento afeta profundamente a sociedade como um todo. A abolição dos escravos, na Inglaterra, é um resultado direto do avivamento inglês. Um homem chamado William Wilberforce se converteu através da ministração de John Newton, autor do hino Maravilhosa Graça (Amazing Grace), e discípulo de George Whitefield, grande avivalista e amigo de John Wesley. Desde o início da sua conversão, Wilberforce aprendeu sobre o valor de mergulhar na Presença, num determinado horário do dia, num lugar a parte para estar a sós com o Senhor.

As Primícias do dia para o Senhor

Wilberforce decidiu organizar sua vida de acordo com o padrão estabelecido por Jesus, e tirar os primeiros momentos do dia em oração. Ele escreveu em seu Diário: “(...) meu coração não pode ser mantido num estado espiritual em que não haja oração, meditação, leitura das Escrituras”. Em outra ocasião, ele escreveu: “Temo que não tenha estudado as Escrituras o suficiente. Certamente, nas férias de verão, devo ler as Escrituras pelo menos por duas horas todos os dias, além de orar, fazer a leitura de devoção e praticar a meditação. Deus irá me ajudar a prosperar melhor se eu confiar nEle”. Apesar de ter sido um homem de posição social alta, membro do Congresso Nacional, anunciou a sua conversão a todos os seus amigos por meio de uma carta, com o propósito de levá-los aos pés de Cristo. A influência desse homem de Deus pôs fim à escravidão na Inglaterra (Sl 1). “Nosso alvo deve ser um Cristianismo que, como a seiva de uma árvore, corra por todo o tronco e folhas de nosso caráter, santificando tudo”, declarou J. C. Ryle.

Homens que fazem a diferença

William Wilberforce, que foi discípulo de John Newton, se transformou no auge do avivamento, uma das principais vozes contra a escravidão no império britânico, ao tornar-se membro da Câmara dos Comuns. Em agosto de 1833, a Câmara dos Comuns votou a libertação dos escravos e a abolição de toda espécie de escravatura. Em seu livro Servos de Deus, Franklin Ferreira salienta que há homens que dedicaram não apenas a igreja, mas serviram a homens e mulheres de forma integral. “Fundaram escolas, universidades, hospitais, lutaram pela abolição da escravatura, traduziram Bíblias e alimentaram os pobres. Esta característica é retratada em Basílio, Melanchthon, Wilberforce e Kuyper”. A vida desses homens nos lembra que a Igreja é maior do que uma denominação. Na Escritura, o vocábulo igreja nunca é usado para designar um prédio, uma denominação ou a influência cristã na sociedade, mas grupos locais reunidos para ouvir a Palavra de Deus (At 8.1; Rm 16.16, 2 Ts 1.4); e a todo o povo de Deus, através dos séculos (Mt 16.18, 1 Co 15.9, Ef 5.25).

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A Carta da libertação

Antes da sua morte, John Wesley escreveu para Wilberforce, encorajando-o no propósito de Deus para a sua vida.

Balaan, 24 de Fevereiro, 1791.

A William Wilberforce

Prezado Senhor,

“Exceto, se o poder divino o levantou para ser como Atanásio contra o mundo, não vejo como você pode seguir com sua gloriosa iniciativa de opor-se a esta execrável vilania, que é escândalo da religião, da Inglaterra e da natureza humana. Exceto se Deus o levantou para esta mesma coisa, você irá desgastar-se pela oposição de homens e demônios. Mas, se Deus for por você, quem poderá ir contra? Todos os homens juntos são mais fortes do que Deus? Oh, não fraqueje em fazer o bem. Eu continuarei, em nome de Deus, e no poder de sua força, até que a escravidão americana (a mais vil que alguma vez viu o sol) seja varrida de diante dele”.

“Lendo esta manhã um tratado escrito por um pobre africano, fiquei particularmente chocado por esta circunstância, de que um homem que tenha a pele negra, e sido injustiçado ou ultrajado por um homem branco, não possa receber reparação; tem sido lei em todas as nossas colônias que o juramento de um negro contra o branco serve para nada. Que vilania é esta!”

“Que aquele que tem guiado você desde sua juventude, possa continuar a fortalecê-lo nesta e em todas as coisas, é a oração, querido senhor, de seu afetuoso servo”.

J. Wesley